Lona 962 (31/10/14)

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O único jornal-laboratório diário do Brasil

lona.redeteia.com

Ano XV > Edição 962 > Curitiba, 31 de outubro de 2014

MPF PR recebe denúncias por preconceito nas redes EDITORIAL Pela primeira vez, o empresário de 53 anos e CEO da Apple, Tim Cook, decidiu se abrir sobre o tema.” p. 2

Foto: Reprodução do Filme “Salt”

OPINIÃO

Machismo também está nas grandes telas do cinema

Pesquisa revela dados sobre a visão que a indústria cinematográfica tem das personagens femininas que apresenta ao público p. 4

“Treze casos de agressão a imigrantes haitianos foram relatados pela CASLA em Curitiba. “ p. 2

#PARTIU Homenagem a Luiz Gonzaga tem participação de Elba Ramanho e grupos de corda. p. 6

Foto: Asndré V. Ruas

Após a reeleição da candidata do PT, no domingo, usuários publicaram mensagens preconceituosas na internet; denúncias ao Ministério p.3 Público chegam a somar 31 por dia COLUNISTAS Lucas Karas “O Coritiba está rebaixado. Dizer isso pode parecer precoce, mas somente vencer em casa já não garanteo time na primeira divisão. E fora de casa, o p. 5 Coritiba nunca soube jogar.” Maria Luiza Lago “Não sei o que sinto quando vejo nas camisetas de jovens a logo dos Ramones estampada. Parece que outra banda punk, que não procurava o lucro, caiu para a indústria de consup. 5 mo de massa da música.”


LONA > Edição 962 > Curitiba, 31 de outubro de 2014

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EDITORIAL

Parabéns, Tim!

Nesta última quinta-feira, dia 30, o CEO da Apple, Tim Cook, escreveu um artigo para a revista norte-americana Bloomberg Businessweek afirmando que tem “orgulho de ser gay”. Pela primeira vez, o empresário de 53 anos decidiu se abrir sobre o tema. Cook escreveu que sempre valorizou sua privacidade, mas decidiu falar abertamente sobre sua opção sexual porque acredita que isso pode ajudar outras pessoas. “Se saber que o CEO da Apple é gay puder ajudar alguém na luta pela aceitação de quem ele ou ela é, ou ajudar a trazer conforto a alguém que se sinta sozinho ou inspirar as pessoas que insistem pela igualdade, então vale a pena abrir mão dessa privacidade”, diz ele no texto. Nos últimos meses, diversos artistas e pessoas de grande influência têm se aberto sobre suas opções sexuais. O ator Marco Nanini – o Lineu, da série A Grande Família, de 63 anos, assumiu recentemente que era homossexual. Daniela Mercury, Alessandra Maestrini, José de Abreu, Miguel Falabella e muitos outros famosos brasileiros e internacionais tem se assumido homo ou bissexuais. Além de atletasCom isso, pretendem incentivar outras pessoas e também tentar diminuir o preconceito, violência, etc. Tim Cook também falou sobre a violência contra os homossexuais: “Incontáveis pessoas, em especial crianças, encaram medo e abuso todos os dias por conta da orientação sexual”. Há algum tempo, ele já havia defendido a igualdade entre pessoas com orientações sexuais diferentes com um artigo no Wall Street Journal que apoiava uma lei federal que pretendia combater a discriminação sexual no trabalho. A atitude é admirável. E deve ser seguida por todas as outras pessoas que ainda não tiveram coragem de se assumir. A vergonha deve ser deixada de lado. A felicidade é que deve prevalecer. E assim, a sociedade vai ser obrigada a aprender a conviver com o assunto e aceitar as opções sexuais de cada indivíduo todos os dias. Quanto mais pessoas com grande influência demonstrarem sua opinião e promoverem o respeito às diferentes opções sexuais, menos espaço terá o preconceito e a discriminação.

OPINIÃO

O passado e agora Beatriz Moreira

Treze casos de agressão a imigrantes haitianos foram relatados pela CASLA em Curitiba. Quem sabe só um caso, por esse motivo tão xenfóbico, já seria o suficiente para abalar a fé na humanidade. Por sinal, é por essa mesma humanidade, auto-intitulada mas pouco observável na sociedade, que reclamava um dos treze agredidos enquanto recebia chutes e socos: não sou preto, sou humano. No fundo, esse é o cerne das agressões (das quais somente treze foram denunciadas para que tivéssemos conhecimento do problema). Na Copa, por exemplo, não observamos o mesmo medo de abraçar e beijar espanhóis, franceses e alemães que passaram por aqui. Além disso, de meus amigos estrangeiros brancos nunca relataram problema parecido. Reclamaram sim da eventual falta de simpatia dos curitibanos, mas nunca de um grito vexatório. A verdade é que nós, brasileiros, não gostamos de negros pobres, não é à toa que o Mapa da Violência 2014 mostra que matamos cerca de 30 mil jovens que se enquadram nesse perfil. Mas a situação atual tem sua origem em 2010, quando o Haiti foi devastado por um terremoto. O governo haitiano estima que tenham morrido cerca de 300 mil pessoas, além de 200 mil edifícios destruídos. Até hoje o país não se recuperou o suficiente para oferecer alimento e emprego para seu povo. Então é preciso compreener que o sujeito não sai do seu país para começar a vida do zero por escolha. Vir para o Brasil em busca de oportunidades foi a única opção para muita gente, já que o país solidarizou com a situação do Haiti e abriu suas fronteiras para esses imigrantes. Expediente

Reitor José Pio Martins Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto Diretor da Escola de Comunicação e Negócios Rogério Mainardes

Mesmo assim, o processo não é fácil. O Brasil tem uma lei antiquada, do tempo da ditadura civil-militar que governou o país, chamada Estatuto do Estrangeiro. Essa lei obriga qualquer estrangeiro a, no mínimo, ter um visto de trabalho para morar no país. Mas o visto só é concedido mediante apresentação de um contrato de trabalho ou proposta oficial trabalho por parte de empresa sediada no Brasil. É que haitianas e haitianos, por conta do desastre natural, têm direito a visto humanitário, que concede a elas o direito a trabalhar para se sustentar. Mas também para contribuir com a sociedade brasileira, tanto culturalmente, como pagando impostos, dentre outras obrigações, como qualquer cidadão. Aqui em Curitiba, chegam famílias inteiras que, sem orientação, sem casa especializada para imigrantes, são enviadas para abrigos da Fundação de Ação Social (FAS) para passarem a noite. Muitos deles são professores, médicos, mas a maioria não consegue sequer revalidar o diploma devido ao alto custo da burocracia. Acabam encontrando trabalho na construção civil, onde são mão-de-obra barata. Inclusive, um refugiado já me confessou que a adaptação está tão difícil que se tivesse dinheiro voltaria amanhã mesmo para o Haiti. Prefere o terremoto ao preconceito dos curitibanos. Esse é o preço de viver por aqui. Mas o curitibano desconhece o próprio passado. Além da conhecida história da migração europeia no estado, o Paraná também é fruto da escravidão sofrida pelas nações africanas e cuja bagagem sinistra é refletida em outros povos da pele negra. O professor Luiz Geraldo Silva, do departamento de história

Pró-Reitora Acadêmica Marcia Sebastiani Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadora Ana Paula Mira

da UFPR, conta, em uma pesquisa de acervo, a história de Pedro. Tal como outros escravos, Pedro fora separado de sua família e trazido ao porto de Paranaguá. Levado de Antonina até Curitiba, trabalhou sem salário e sem direitos em uma fazenda, desempenhando papel de trator – um objeto que não deveria sentir ou falar. Cinco anos depois, Pedro se torna “africano livre” e vira “problema social” para a Câmara de Vereadores. O “problema” chega até o Vice-Presidente Augusto Stellfeld, que cobra da Província que arque com custos de saúde do cidadão. Já Curitiba, por sua vez, determina que não é responsável por Pedro, pois ele não seria um cidadão. Assim, ele segue sem direito à Saúde. Essa é a verdadeira história da “libertação dos escravos” no Brasil. Foram batata-quente de um Estado que historicamente se recusa a resolver situações criadas por sua própria elite. A imigração não é um problema. O Brasil foi construído, de cabo a rabo, por imigrantes, até mesmo por imigrantes brancos, que hoje comportam a elite brasileira. Mas não podemos repetir com os imigrantes de hoje a mesma negligênia mortal cometida contra os africanos, índios ou qualquer nacionalidade que não possua pele branca pálida. Descolinizar o corpo e a mente significa mais do que reconhecer a soberania do país em economia crescente. É preciso também se solidarizar, incluir e empoderar todas as brasileiras e brasileiros, nascidas aqui ou não. Além de uma boa olhada no espelho pra lembrar que, de certa forma, você também é imigrante.

Coordenação de Projeto Gráfico Gabrielle Hartmann Grimm Editores Ana Justi, Alessandra Becker e Bruna Karas Editorial Da Redação


Curitiba, 31 de outubro de 2014 > Edição 962 > LONA

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NOTÍCIAS DO DIA

MPF no Paraná recebe 154 denúncias de preconceito Bruna Karas

la e “a falta de informação política e histórica”. Para ele, atitudes discriminatórias são inaceitáveis: “Se a gente não denuncia é como se estivéssemos aceitando esse tipo de ação como algo legítimo”, declara o estudante de jornalismo.

Segundo o Ministério Público Federal no Paraná, a maioria das denúncias é sobre preconceito étnico-racial contra nordestinos, mas ainda precisam ser analisadas pelos procuradores do órgão O Ministério Público Federal no Paraná recebeu, deste o último domingo, dia 26, 154 denúncias de preconceito étnico-racial na internet. Segundo a Assessoria de Imprensa do órgão, as denúncias são sobre publicações nas redes sociais nos momentos seguintes à divulgação dos resultados da eleição presidencial. “A maioria das denúncias está relacionada a nordestinos, mas é importante lembrar que não são 154 crimes nem 154 pessoas”, enfatiza a assessora Andrea Ribeiro. Desde que o resultado das eleições foi divulgado e a presidente Dilma Rousseff foi reeleita, centenas de usuários de redes sociais começaram a postar agressões contra nordestinos e pobres, alegando que eles foram os responsáveis por eleger a candidata do PT. As denúncias feitas no MPF-PR podem não ser procedentes. Elas ainda serão repassadas aos procuradores, analisadas e julgadas. Para a socióloga Eliane Basílio, a primeira explicação para essas atitudes é o desconhecimento histórico, social e político que os brasileiros têm a respeito do próprio país. “Isso mostra que temos uma lacuna muito grande na educação formal e na educação via mídia, que de certa forma influencia esse tipo de prática”, declara. Os conteúdos dos comentários são os mais variados possíveis: “Aos nordestinos, que estão e continuarão na merda, não vão para são Paulo em busca de vida melhor e nem pra rua fazer protesto, por favor”; “odeio o nordeste odeio esse nordestinos e se a dilma for reeleita eu mato um por um recado dado”; “a maioria que vai votar na dilma são nordestinos que na maioria das vezes não entendem uma frase que ela fala”; etc. São centenas de exemplos.

As duas denúncias foram feitas sobre a mesma pessoa. “Ele apagou a primeira postagem e, no dia seguinte, publicou novamente um texto de cunho preconceituoso”, conta.

Insultos também foram publicados no Twitter > Foto: Reprodução do Twitter

Uma das internautas, Regina Zouki Pimenta, escreveu em sua página no facebook: “(...) Desejo do fundo do coração que sejam tomados pela desnutrição, que seus bebês nasçam acéfalos, que suas crianças tenham doenças que os médicos cubanos não consigam tratar, que o ebola chegue ao Brasil pelo Nordeste e que mate a todos! Só outra arca de Noé pra dar jeito!”. O estudante Lucas Souza fez duas denúncias no site do Ministério Público no último domingo. Ele conta que o resultado das eleições tinha acabado de sair e, ao entrar no facebook, uma pessoa tinha escrito: “Ebola olhe com carinho para o Nordeste! Kkkkk”. Algumas pessoas, além de xingamentos e agressões verbais contra o povo nordestino, ainda exigiam que a região Sul do Brasil fosse separada do restante do país, que, para eles, elegeu o candidato Aécio Neves. Contudo, os números apresentaram uma realidade diferente. No Sul, Dilma Rousseff obteve 40% dos votos válidos, contra 60% dos votos do adversário do PSDB. Apenas 3,6 milhões de votos separaram os dois candidatos na região Sul. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a candidata do PT recebeu 47% dos votos. Foram 39% no Paraná, 36% em São Paulo e 35% em Santa Catarina – números que não justificam os pedidos de separação do país. Denúncias podem ser feitas pelo site da MPF > Foto: Bruna Karas

Segundo Eliane, há uma grande dificuldade do povo paranaense construir sua identidade. “Como a história do país começou no Nordeste e depois se deslocou para o Sudeste, o Paraná ficou muitos anos como província de São Paulo e até hoje tenta construir sua própria história”, conta a socióloga. Para ela, a falta de conhecimento das pessoas do Sul sobre a história do país afeta a capacidade de pensar em ações transformadoras. “Segregar as pessoas é um retrocesso do ponto de vista político, social e histórico”, finaliza. Ao denunciar os atos preconceituosos, Souza citou os milhares de africanos que morreram contaminados pelo vírus ebo-

Como denunciar Se você também leu alguma atitude racista na internet e quer denunciar, é necessário entrar no site do Ministério Público Federal e clicar em “Direitos do cidadão”, em seguida, em “sala de atendimento ao cidadão”. É preciso informar seus dados: nome completo, e-mail, CPF, endereço, telefone e ocupação. Você pode optar por fazer a denúncia anonimamente ou não. Em caso de denúncia anônima, é necessário escrever uma pequena justificativa.Após escrever o texto da denúncia contando o fato, o MPF pede uma indicação de como o caso deve ser julgado. “No meu caso, eu indiquei o art. 20 da Lei 7.716/89 que prevê pena de reclusão de um a três anos e multa”, explica Lucas Souza. A Lei nº 7.716 define os “crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor”. O art. 20 decreta: “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.


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GERAL

Sub-valorização da mulher é um problema do cinema mundial Vários problemas marcam a presença feminina em filmes, tais como a sexualização e a promoção do padrão de beleza ideal Victória Pagnozzi

No último século, as mulheres lutaram e conquistaram diversos direitos: o de votar, trabalhar, estudar... Mesmo assim, a desigualdade ainda está presente em vários espaços da sociedade contemporânea. Um deles é o cinema. Divulgada recentemente, a pesquisa “Personagens Femininas em Filmes Populares de 11 Países” da USC Annenberg School of Communication and Journalism, com orientação do Geena Davis Institute on Gender in Media, mostrou que muitos aspectos de como a mulher é representada nas telonas precisam mudar. O estudo analisou 120 filmes populares feitos na Austrália, Brasil, China, Estados Unidos, França, Alemanha, Reino Unido, Índia, Japão, Rússia e Coréia do Sul. O primeiro problema detectado foi o pequeno percentual de mulheres que apareceram: de um total de 5.799 personagens que tinham falas, 69% delas eram masculinas e 30,9% femininas. Perdendo apenas para o cinema britânico, as produções brasileiras foram as que mais tiveram a presença de mulheres: de um total de 423 personagens, 37% eram femininas. Mesmo assim, esse percentual ainda é pequeno.

tante promoção do “padrão de beleza ideal”: a mulher tem que ser magra a qualquer custo. “O cinema segue a lógica de mercado, que oferece inúmeros recursos, tratamentos e dietas que prometem resultados”, disse o psicólogo. Mas a divulgação da magreza extrema tem afetado muitas mulheres e crianças. Quantas garotinhas não veem uma artista e desejam ser iguais a ela? É aí que graves problemas de cunho psicológico aparecem, tais como a frustração, a anorexia e a bulimia.

Nos estúdios norte-americanos, o número de mulheres protagonistas cai para menos de 1% > Foto: Reprodução do Filme Avengers

estúdio norte-americano, o número não chegou nem a 1%. É como se os filmes de grande bilheteria preferissem homens na liderança do elenco. Para Marden, trata-se de uma questão cultural: “O chamado ‘cinemão’, aquele feito para as grandes massas, costuma nivelar tudo por baixo para ser entendido pela maioria da população. Já o cinema independente é mais focado na verdade social, e ao retratá-la, a mulher encontra espaço por ter um papel importante na vida real”.

“Háuma representação sexualizadada mulhernavidareal.”

E os números caem quando é feita uma análise sobre a “importância” dos papéis que as atrizes recebem. Dentre todos os filmes analisados, somente 28 mostraram uma menina ou mulher como personagem principal ou coadjuvante. O crítico de cinema Marden Machado disse que percebe essa discrepância: “É muito fácil constatar que existem mais filmes com protagonistas homens ao invés de mulheres.” O curioso é que 30% das produções independentes do Reino Unido foram protagonizados por mulheres, mas nos filmes britânicos que tinham a colaboração de algum

Mas além de verificar a presença pouco significativa das mulheres nos filmes populares, é preciso ver como elas são representadas. O estudo comprovou que a personagem feminina continua promovendo estereótipos e sendo “sexualizada”. Por exemplo, a mulher tem duas vezes mais chances de aparecer nua em cena do que o homem. Segundo o psicólogo Nei Ricardo de Souza, a lógica de funcionamento do cinema baseia-se nos fenômenos de identificação e reconhe-

cimento, ou seja, trata-se de um modelo que já está presente na sociedade e que confirma sua presença ao ser reconhecido como arte. A sexualização da mulher no cinema – e na mídia em geral -, faz com que os homens a vejam como um objeto. “Já há esta representação da mulher na vida real, e isso somente fica confirmado na tela”, disse Nei. A socióloga norte-americana Miriam Adelman, especialista em estudo de gênero, concorda: “Se as mulheres já estão colocadas de forma sexualizada pela vertente mais hegemônica da cultura, o cinema vai trabalhar com isso.” Este fator, juntamente com outros, pode inclusive contribuir para a incitação da violência sexual contra a mulher: “Uma cena de conflito e poder pode desencadear uma reação semelhante em quem vê”, opinou o psicólogo Souza. Outro problema muito aparente nos filmes de grande sucesso é a cons-

A pesquisa também analisou as personagens femininas nos ambientes de emprego. Enquanto na vida real as mulheres ampliaram sua participação no mercado de trabalho em grande parte dos países, parece que na indústria cinematográfica elas ficaram estagnadas. No Brasil, por exemplo, somente 43% das personagens mulheres trabalhavam fora. A socióloga Miriam disse que essa é uma questão que teve origem na literatura: “Eram os homens que escreviam sobre as mulheres antes, e eles construíram um mito sobre elas que foi engolido pela sociedade. E o cinema também incorporou esse discurso”. Fica claro que as mulheres – que são metade da população mundial – precisam de um maior espaço no cinema, assim como mudanças na forma como são representadas.

Pesquisa também avaliou como as mulheres são representadas na área de trabalho nas telas de cinema > Foto: Arquivo Wikimedia Commons


Curitiba, 31 de outubro de 2014 > Edição 962 > LONA

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COLUNISTAS

Futebol Cervejeiro Lucas Karas

O Coritiba está rebaixado Afirmar isso é precoce e um tanto quanto irresponsável. Afinal, muitos jogos ainda vão acontecer e muitas coisas podem mudar. Mas, se cegarmos os olhares esperançosos e compararmos os números do time alviverde, percebemos que o caminho do Coritiba é a segunda divisão. Afinal, somente vencer em casa já não garante, de acordo com as previsões, o time na primeira divisão. E fora de casa, o Coritiba nunca soube jogar. Além disso, vai pegar pedreiras: ou times que estão lá em cima ou que estão embaixo,

lutando com o Verdão. Ver o copo meio cheio, no Coritiba, já não é mais tão fácil. Cada vez mais o copo parece estar meio vazio. Colocar culpa em alguém é difícil. O time tem qualidade no papel, mas não traduz em campo. Marquinhos até vem fazendo um trabalho razoável, mas não deu o choque no elenco que era necessário. E a diretoria parece cada vez mais omissa. E por falar em diretoria, dá a impressão que se estabeleceu um acordo nos corredores do Alto da Glória desde a gestão de Cirino, em 2008: pegar o clube, fazer boa campanhas e,

pouco tempo depois, na hora de entregar para outra gestão, rebaixar o Verdão, para que o trabalho comece do zero.

tão criticado Petraglia acertou em cheio nesse quesito. Vilson poderia ter aprendido isso com o coronel...

Claro que não é assim, mas dá a impressão que os gestores se perdem no meio do caminho e começam uma derrocada que termina com o clube em uma fase sofrível, novamente. O por quê? Não sei, é difícil descobrir. O que o Coritiba precisa agora é lutar e ter a frente, em 2015, alguém que assuma o clube e possa levanta-lo, sem deita-lo novamente.

Paraná A temporada fria, morna e um tanto quanto perigosa do Paraná está chegando ao fim. Mais um ano na série B. Mais um ano em que o torcedor se encherá de esperança no inicio do ano para no final agradecer por ainda estar na série B? Uma pergunta que vem sendo respondida com um sim a cada término de temporada. O tricolor não tem forças para se reerguer e está lutando para não desandar o bonde de uma vez. Mas, quem sabe na próxima, né? É assim que o torcedor se motiva a continuar indo na Vila para acompanhar o time. Parabéns a eles...

Atlético-PR Já o Furacão está comemorando com Claudinei Oliveira, Coutinho, Guilherme e cia. A contratação do treinador deu vida nova ao clube, que já está perto de se livrar do fantasma do rebaixamento. Além disso, dá esperança ao torcedor para 2015 que, com o trabalho continuado, poderá resultar uma boa temporada para o Atlético-PR. A valorização da base está funcionando e o Rubro-Negro está dando uma lição aos rivais de como fazer o futebol “de casa” render e não gerar dívidas atrás de dívidas. O

Dica de cerveja Ó, quem curte uma cerveja mais adocicada precisa experimentar a Baden Baden Bock e a Klein Brown Ale. Duas cervejas muito boas, levemente tostadas e bem adocicadas. Com 6,5% e 5% respectivamente, são leves e lembram, ambas, tons de caramelo no sabor.

Alma do Punk Não sei o que sinto quando vejo nas camisetas de jovens a logo dos Ramones “Hey ho, let’s go!” estampada. Parece que outra banda punk, que não procurava o lucro, caiu para a indústria de consumo de massa da música. Joey Ramone, vocalista da banda, já cantava em na canção “All Screwed Up” que: “I love the music business but it makes me sick. Everybody is beautiful and full of it” (“eu adoro o mercado da música mas ele me dá nojo. Todos são bonitos e cheios de si”), que o foco da banda não era ser lembrado como algo “pop”, mas algo que realmente deixasse você se perder na música. O punk nos anos 70 era o estilo dos esquisitões, dos desajustados. Eram os anarquistas, que faziam suas próprias regras e acreditavam na ideologia do Do It Yourself (DYI). Com os Ramones, não foi nada diferente. Começaram suas primeiras apresentações numa pequena boate punk de Nova Iorque, a

CBGB. Suas letras eram muito básicas, muitas vezes toscas, os acordes, muito simples e fervorosos, contrastando com os infinitos solos de guitarra de bandas de glam rock, com seus saltos altos e maquiagem no rosto. Com os Ramones, a música era “o básico do básico”: sem fantasias muito elaboradas (jaquetas de couro pretas e jeans), músicas que duravam no máximo 2 minutos e quase nenhum solo de guitarra. Parecia uma combinação meio maluca para a época, mas foi justamente ela quem deu o pontapé inicial para o surgimento do punk nos Estados Unidos e durou incríveis 22 anos. Ela foi formada inicialmente por Joey Ramone (vocalista), Johnny Ramone (guitarrista), Dee Dee (baixista) e Tommy Ramone (bateirista). Houve vários conflitos durante a convivência desses quatro personagens: Joey e Johhny não se suportavam durante turnês, mal conseguiam olhar para a

What’s the story?

Maria Luiza Lago

cara do outro quando acabavam-se os shows, Dee Dee se afastou da banda por um tempo, mas continuava escrevendo músicas para os Ramones (como “Cretin Family”, “Família Cretina”, que no caso, era a família Ramones), Joey e Johnny brigaram por uma namorada, que acabou levando á “The KKK Took my Baby Away”, entre outras brigas, que se justificavam por os integrantes serem um misto de personalidades tão diferentes e estarem vivendo numa época em que tudo efervescia. Conhecer sua história é conhecer a alma do punk, cada música é um reflexo de situações por quais aqueles jo-

vens passaram e queriam compartilhar com o mundo, ás vezes de uma maneira simples e infantil, ás vezes de uma maneira dura e cruel, como “I Know Better Now”, “Eu Sei Melhor Agora” e “Poison Heart”, “Coração Envenenado”. Quando vejo a logo dos Ramones, penso em como essa banda marcou a minha visão do que realmente é a “música certinha”: introdução, refrão, segunda parte, refrão, uns “chorinhos” no meio e refrão de volta. Os Ramones, assim como todo o movimento punk, mostrou que a música não tem formato certo. E de maneira alguma, não tem em vista a moda.


LONA > Edição 962 > Curitiba, 31 de outubro de 2014

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ACONTECEU NESTE DIA

Surge a tradição do Halloween Segundo a religião Celta, o primeiro registro do termo “halloween” para a comemoração do dia 31 de outubro surgiu por volta de 2 mil antes de Cristo. Para eles, a “Noite Sagrada” (Hallow Evening, em inglês), indicava o início do Samhain, uma importante celebração que marcava três fatos: o fim da colheita, o ano novo e o início do inverno - estação da escuridão e do frio -, um período associado aos mortos. Outra hipótese sobre a origem da data vem do Cristianismo: na tentati-

va de acabar com os festejos pagãos, o papa Gregório III consagrou o dia 1º de novembro como a data para realizar a celebração de Todos os Santos, em 1745. Assim, surgia a palavra halloween, derivada do termo escocês “Allhallow-eve” (véspera do Dia de Todos os Santos). No século 20, o Halloween passou a ter influência dos filmes de terror, que hoje dão o tom da celebração tanto na Europa quanto nos Estados Unidos.

Entalhar rostos em abóboras é uma tradicção da data > Foto: Justin

#PARTIU Teatro

Rei do Baião é homenageado em Curitiba

Meu passado não me condena Local: Teatro Positivo (Grande Auditório) Data: 02 de novembro Horário: 18h Ingressos: variam de R$35 a R$90

“Cordas, Gonzaga e Afins” celebra a carreira do músico Luiz Gonzaga através da atuação e interpretação da cantora Elba Ramalho

Asa Local: Livraria da Vila (Shopping Pátio Batel) Data: 01 e 02 de novembro Horário: 18h Ingressos: R$30 (inteira) e R$15 (meia)

Shows Tihuana Local: Spazio Van Data: 31 de outubro Horário: 22h30 Ingresso: de R$35 a R$50 Cordas, Gonzaga e Afins Local: Teatro Guaíra Data: 31 de outubro Horário: 21h Ingresso: de R$25 a R$100

Exposições Protagonistas Local: Shopping Estação Data: até o dia 02 de novembro Horário: das 10h às 22h Ingresso: gratuito Reciclados dos Amigos da Arte Local: Centro Juvenil de Artes Plásticas Data: até o dia 29 de novembro Horário: das 8h30 às 18h Ingresso: gratuito

O espetáculo musical e artístico “Cordas, Gonzaga e Afins”, criado, roteirizado e dirigido pela produtora cultural Margot Rodrigues, chega à cidade de Curitiba nesta sexta – feira, dia 31, às 21h, no Teatro Guaíra, para a realização de uma única e exclusiva apresentação. O show foi produzido com o objetivo de prestar uma singela homenagem ao grandioso rei do baião, Luiz Gonzaga, um dos principais nomes da história da música brasileira. As interpretações das canções do músico são feitas com muito apreço pela cantora nordestina Elba Ramalho, e também pelo grupo instrumental SaGRAMA, pelo quarteto de cordas Encore, e pelo sanfoneiro carioca Marcelo Caldi, juntos eles auxiliam em vários momentos de composição do espetáculo. Mas para a famosa musicista Elba Ramalho, além de atuar como intérprete das canções de Luiz Gonzaga, essa turnê tem um sabor ainda mais especial, pois ela está comemorando 35 anos de carreira profissional na música. Ao todo sete capitais brasileiras receberam a turnê, e a cidade de Curitiba será a quinta delas há contar

Além de cantar, Elba Ramalho também atua nos palcos > Foto: Divulgação

com a apresentação do privilegiado “encontro musical”. As principais músicas de Luiz Gonzaga interpretadas por Elba Ramalho durante o espetáculo são “Braia Dengosa”, “Assum Preto”, “Sabiá”, “Qui Nem Jiló”, e “Algodão”. Canções de outros consagrados músicos brasileiros como Gilberto Gil, Caetano Veloso, e Chico Buarque, tem um espaço especial reservado dentro do espetáculo e também são interpretadas durante o show pela musicista.


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