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Ano XV > Edição 966 > Curitiba, 06 de novembro de 2014
Confusão na Assembleia Legislativa deixa feridos EDITORIAL “Os professores protestavam e foram retirados à força pela equipe de segurança da Alep.” p. 2
OPINIÃO
Foto: Hidrafil
Violência assume diversas formas dentro das escolas
Problema vai além do bullying e exige uma postura diferenciada para cada episódio que ocorre dentro do ambiente escolar p. 4
“O episódio da ALEP só reflete o despreparo de todos aqueles que deveriam zelar pela segurança coletiva.” p. 2
#PARTIU Capital paranaense recebe exposição do renomado fotodocumentarista Sebastião Salgado. p. 6
Foto: Arquivo ALEP
Durante protesto na sessão plenária, professores foram retirados do local à força pela equipe de seguranças da Assembleia Lesgislativa do p.3 Paraná e sofreram ferimentos leves COLUNISTAS Luis Izalberti “Mesmo que para alguns pareça um comodismo ineficaz clicar no botão ‘assinar’ o que importa nesse caso é a mobilização causada. Uma petição é efetiva por p. 5 conseguir expor um problema.” Priscilla Fontes “Se nem uma mulher branca, magra, famosa, rica e privilegiada está livre dos ataques malucos e inconvenientes dessa sociedade preconceituosa e cheia de rótulos, quem de nós está? “ p. 5
LONA > Edição 966 > Curitiba, 06 de novembro de 2014
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EDITORIAL
Rossoni acha que somos cegos
Na última terça-feira, quatro professores foram agredidos na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), quando acontecia a votação do projeto de lei que prorroga o mandato dos atuais diretores das escolas estaduais do Paraná por mais um ano. No local, os professores protestavam contra a aprovação da proposta e foram retirados à força pela equipe de segurança da Alep. O presidente da Assembleia, deputado Valdir Rossoni (PSDB), foi quem solicitou a retirada de um dos presentes que, segundo ele, estariam “ofendendo os senhores deputados”. Quando um grupo de pessoas se colocou à frente do homem citado para impedir sua retirada, os seguranças os agrediram. As imagens registradas pela RPC TV mostram os seguranças indo até as galerias e dando socos e cotoveladas nos educadores. Quatro professores precisaram de atendimento médico, passaram a noite em observação e já foram liberados. Entretanto, uma das professoras, atingida no braço e nas costas, passará por novas avaliações médicas por suspeita de danos na coluna. Segundo a APP, sindicato que representa os professores, uma ação solicitando o afastamento dos responsáveis pela agressão será requerida nos próximos dias. O presidente da Casa disse que não houve excesso por parte da equipe de segurança, que agiu apenas para manter a ordem. Casos como esse mostram que o desrespeito aos professores por parte das autoridades ainda é grande. E pior, é negligenciado. Muito pior que a situação acontecer, é o presidente da Casa negar que houve excesso de violência no caso. As imagens mostram claramente que os seguranças partiram para a agressão quando elas eram desnecessárias. A violência gratuita acontece diariamente em diversos locais e em inúmeras situações, mas ignorá-las e negá-las só piora a situação. É necessário mostrar para as pessoas que as coisas podem ser resolvidas pacificamente e é necessário também combater as agressões que são, frequentemente, consideradas “normais” ou “justificáveis”.
OPINIÃO
Despreparo e insegurança Ana Justi
Quatro professores foram feridos ao serem retirados da Assembleia Legislativa do Paraná (a ALEP), durante a votação do projeto de lei que aumentaria em um ano o mandato dos diretores das escolas públicas do estado. Os ferimentos foram leves, mas mesmo assim muitos comparativos foram feitos com a situação em que Álvaro Dias, então governador do Paraná, não queria negociar com os docentes em greve, e houve uma reação truculenta por parte da polícia.
da internet, às trocas de farpa via facebook e - pasmem - até viraram arma de deboche na briga Aécio vs Dilma que tomou conta da vida social durante essas eleições. Na prática, nada. Nenhuma proposta discutida com seriedade, nenhuma fora de conscientização e a mesma atuação de sempre, vista ano após ano. O episódio protagonizado na ALEP só reflete o despreparo de todos aqueles que deveriam zelar pela seguran-
ça coletiva, pelo bem de todos nós. Enquanto não nos levarmos a sério as atitudes de nossos governantes, e as ferramentas que estes utilizam, apenas refletirão nosso desinteresse. E a Guarda Municipal seguirá armada e despreparada, a polícia agindo com base no pânico de ser ferida, e os seguranças - de todo e qualquer estabelecimento - acreditando estar no seu direito de agir de maneira bruta e desnecessária frente a ameaça que é a indiferença de um povo.
Esse artigo não é para falar de política, ou fazer comparativos entre Richa e Dias. Cada situação guarda, ao meu ver, a sua devida proporção de absurdo. O cerne do problema, no entanto, é exatamente o mesmo. Não raro vemos estampados nas capas de jornais de todo o país as consequências das ações truculentas de policias brasileiros. Foi assim em diversas situação durante o primeiro mandato de Alckmin (quem não se lembra do que foi feito no Pinheirinho?), e assim se sucedeu durante (quase) todas as manifestações de julho do ano passado. As vítimas de cada caso perdem um olho, ficam hospitalizadas, chegam às manchetes. Políticos foram culpabilizados pelas ações de uma ferramenta do Estado. Mas nada muda. O projeto de desmilitarização veio, alguns foram contra, outros a favor, fez-se o buzz sobre o assunto. A onda de repúdio às ações policiais durantes as manifestações levantaram a bola, mas faltou fôlego para o povo brasileiro cortar. As discussões ficaram restritas ao âmbito Expediente
Reitor José Pio Martins Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto Diretor da Escola de Comunicação e Negócios Rogério Mainardes
Ilustração: Arquivo Pixabay
Pró-Reitora Acadêmica Marcia Sebastiani Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadora Ana Paula Mira
Coordenação de Projeto Gráfico Gabrielle Hartmann Grimm Editores Ana Justi, Alessandra Becker e Bruna Karas Editorial Da Redação
Curitiba, 06 de novembro de 2014 > Edição 966 > LONA
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NOTÍCIAS DO DIA
Sessão da Assembleia Legislativa do Paraná termina em confusão Projeto de lei que amplia o mandato dos diretores causa polêmica e gera protestos de professores Alessandra Becker
A sessão plenária dos deputados realizada na Assembleia Legislativa do Paraná, a Alep, na última terça – feira, dia 04, foi bastante movimentada devido à aprovação de um projeto de lei do governo que estende por um ano o mandato dos atuais diretores das escolas estaduais.
em relação à confusão na Assembleia Legislativa. Segundo a professora do APP Sindicato, Janeslei Albuquerque, na parte médica todas as providências já foram tomadas, como a realização dos encaminhamentos médicos, logo após o acontecido, os exames de corpo de delito, e os registros de boletins de ocorrência.
Essa foi à terceira discussão dos parlamentares sobre o tema, que foi aprovado em todas as oportunidades, logo após as opiniões impostas por cada político em defesa ou contra o projeto, foi realizada a votação oficial que terminou com um resultado final de 32 votos a favor e 13 contra. O resultado gerou protestos e revoltas de alguns professores que estavam acompanhando a sessão plenária nas dependências das galerias que fazem parte do ambiente interno da Alep, justamente por esse motivo. As manifestações dos presentes contrários às decisões do plenário foram iniciadas com gritos de palavras contra os deputados que votaram favorável ao projeto.
Confusão aconteceu durante plenária da ALEP > Foto: Arquivo ALEP
envolvendo também outros manifestantes que ali estavam. Os seguranças do local acataram o pedido do parlamentar e entraram em confronto direto com alguns dos manifestantes, alguns deles foram até agredidos fisicamente por se negarem a se retirar das galerias. Inclusive, um desses manifestantes que estava com a camiseta de um partido político, o PSTU, foi arrastado pelas pernas para fora do local público pelos seguranças. O departamento de comunicação da Alep informou, apenas, que os seguranças do local não agiram com excessos diante dos protestos dos professores, e que essa ação só foi necessária para dar continuidade e manter a ordem durante a sessão plenária realizada na Alep.
“Foi um dia de derrota para os trabalhadores paranaenses.”
Um dos mais hostilizados na série de manifestações foi o deputado Valdir Rossoni, do PSDB, que atualmente exerce a função de presidente da Alep. O político foi chamado por um longo período de “golpista” pelos participantes do protesto.
Após os clamores dos professores com palavras de ordem contra os deputados, o presidente da Alep, Valdir Rossoni, ordenou que os seguranças que estavam trabalhando no local retirassem alguns dos indivíduos que se faziam presentes nas galerias da sessão plenária. O ato do pedido por parte do parlamentar foi o que bastou para promover o estopim da situação e tornar a confusão totalmente generalizada,
Mas, o resultado de toda a confusão generalizada envolvendo professores manifestantes e os seguranças da Alep, foi o de que, quatro docentes tiveram de ser encaminhados para o Hospital Evangélico
devido aos ferimentos espalhados pelo corpo que sofreram durante o “conflito”. O Sindicato dos Trabalhadores da Educação Pública do Paraná, o APP Sindicato, informou que todos os professores já tiveram alta do hospital, três deles ficaram em observação médica e na mesma noite do acontecido foram liberados.
Quanto a medidas judiciais a professora do APP Sindicato, Janeslei Albuquerque, declarou que a instituição encaminhará o mais rápido possível uma denúncia a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná, a OAB-PR, cobrando ações e medidas do órgão em relação aos episódios acontecidos. A mesma denúncia será encaminhada para a Comissão de Direitos Humanos da Alep. A professora do APP Sindicato, Janeslei Albuquerque, declarou ainda que também será providenciada por parte da instituição uma denúncia contra o deputado e presidente da Alep, Valdir Rossoni, para o Departamento Nacional de Direitos Humanos, com o intuito de encerrar o autoritarismo político imposto por vários políticos. A professora do sindicato considera ainda que a confusão na Alep foi um “dia de derrota para todos os trabalhadores paranaenses”.
A situação mais delicada foi a de uma docente de Paranavaí, que foi diagnosticada com “compressão do nervo ciático” e precisou ficar em observação até a manhã de hoje. A professora teve alta por volta das 8h, e voltou para a sua cidade com transporte aéreo oferecido pelo sindicato, lá ela deverá dar continuidade ao acompanhamento médico necessário, devido as escoriações corporais e a intensidade das dores musculares. Na manhã da última quarta-feira, dia 05, a direção do APP Sindicato se reuniu para definir quais medidas seriam tomadas O deputado estadual Rossoni foi quem pediu a retirada dos professores > Foto: Arquivo ALEP
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ANÁLISE
Violência nas escolas ainda é um problema social O bullying é apenas mais uma forma de praticar a violência nas escolas que é usado como um modo de intimidação Sacha Sanches
A violência vista nas escolas nada mais é do que a reprodução da violência presente na sociedade. Os ambientes escolares deixaram de ser lugares protegidos e muitos pais perderam a tranquilidade ao levar os filhos à escola. A ausência de regras claras de convivência entre alunos e professores é uma um problema que contribuiu para o aumento da violência nesses locais. A violência em si é um problema social que está presente nas diversas ações dentro das escolas, e se manifesta de diferentes formas entre todos os envolvidos no processo educativo, juntamente com os alunos. A escola é um lugar de formação da ética e da moral das pessoas envolvidas e que constituem o corpo da instituição, sejam eles professores ou alunos. A psicóloga educacional do ensino médio do Colégio Positivo, Fernanda Vieira, explica o papel das instituições de ensino. “O papel das escolas quando se trata de violência, em um primeiro momento, é fazer com que esta acabe. Mas não somente isso, porque com isso você não resolve. É tentar entender o que está acontecendo, o que está gerando aquilo”, afirma Fernanda.
tornando-se assim um dos diversos aspectos dessa violência. “No caso do bullying, no momento, a única solução que os alunos conseguem ver é a reação concreta e física porque ainda não conseguiu desenvolver uma capacidade simbólica de lidar com uma determinada situação”, comenta Fernanda Vieira. “Às vezes são problemas familiares ou problemas com relação à própria instituição, então não tem como definir o que causa a violência nas escolas, exatamente”, completa.
A violência nas escolas deve ser vista com responsabilidade > Foto: Ajari
Nas escolas os envolvidos no processo educional estão se relacionando todos os dias. Essas relações precisam transmitir respeito ao próximo por meio de atitudes que levem à amizade e integração das pessoas, visando atingir os objetivos propostos no meio político pedagógico da instituição em questão.
violência como um desrespeito à integridade da pessoa”, explica a psicóloga.
O combate à violência é muito comentado, mas o conceito proposto ainda não é o ideal para resolver as situações que aparecem. Além de momentos de reflexão e discussões, os professores devem propor soluções e realizar análises sobre determinados problemas com o objetivo fazer os alunos perceberem sua própria capacidade para agir como cidadãos.
A violência nesses ambientes torna-se preocupante pelo fato de que o espaço da instituição é toca em um aspecto de importante do desenvolvimento da educação do indivíduo. Sendo a escola um processo social de desenvolvimento intelectual e filosófico do estudante.
“Existem várias formas de como essa violência acontece e vai do repertório de cada aluno a forma de lidar com a situação. A violência verbal e física é percebida em várias situações. Existe também o cyberbullying no qual o aluno se sente ofendido. Nós encaramos a
A prática do bullying, um termo estrangeiro, é apenas mais um modo de praticar a violência nas escolas como uma forma de intimidação,
“Vai do repertório de cada aluno lidar com a situação.”
“É um bullying que dura um dia ou que está acontecendo há algum tempo e que o aluno não se sentia à vontade para comentar o assunto. É uma questão de relacionamentos também. Tentar entender a origem daquilo para dar um encaminhamento. A escola, às vezes, não consegue lidar com isso sozinha. Sendo assim, os pais são chamados e a escola passa uma orientação para saber se o aluno vai necessitar de acompanhamento, seja psicológico ou até mesmo fisioterápico”, acrescenta.
É evidente que se deve considerar o fenômeno da violência a partir de uma perspectiva social e política, também. Alguns especialistas consideram a violência na escola como um processo que se formou no espaço e no tempo escolar, baseado em um histórico.
Não é difícil encontrar casos em que esse tipo de violência tenha originado graves consequências no Brasil. Alguns dados recentes mostram uma disseminação do bullying por todas as classes sociais, e ainda apontam uma tendência para um rápido aumento desse comportamento. Em uma sociedade violenta, a escola deve se contrapor abertamente à expansão das agressões. Situações que acontecem em ambientes escolares internos devem ser tratadas em conselhos de classe, acentuando uma formação e identificando responsabilidades. Os pais dos envolvidos nos episódios de violência também deve ser informados e orientados, tanto por parte de quem agride, quanto por quem é agredido.
Violência física é uma das formas de reação frente a outras violências > Foto: Diego Grez
Curitiba, 06 de novembro de 2014 > Edição 966 > LONA
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COLUNISTAS
Facepalm
Luis Izalberti
Petições online funcionam? Cada vez mais frequente, as petições online dominam as caixas de entrada dos e-mails e até mesmo as redes sociais. Mobilizações pelo clima, repúdios à sonegação de impostos ou a matança de baleias, soluções para o conflito Israel-Palestina e para a cura do Ebola - são vários os temas contemplados e as solicitações de assinaturas online. Mas até que ponto tudo isso funciona? As petições on-line servem principalmente para reclamações direcionadas a um alvo específico, chamando sua atenção para uma mudança desejada por
muitas pessoas. O número de assinaturas que uma petição precisa para alcançar o sucesso depende do contexto da reclamação e, a princípio, nada garante o sucesso de uma petição online além do esforço de seu criador. Existem inúmeras plataformas dedicadas às petições online, sendo a principal delas o Avaaz: parte de uma organização internacional de ativistas que conta com mais de 39 milhões de membros em 194 países, dos quais 8 milhões são brasileiros. Há ainda algumas plataformas específicas para
um determinado motivo, como a “Não foi acidente”, que busca punição mais severa para aqueles que dirigem sob efeito de álcool, além de outras que servem para as mais distintas causas possíveis como a Change.org, peticaopublica.com.br e a petitiononline.com. O grande crescimento desses documentos é totalmente legítimo e, no geral, positivo. A Constituição Federal diz que todo o cidadão tem o direito de criar uma petição sobre o tema que desejar e de expressar e recolher assinaturas em prol de uma causa que aflija um grupo. O grande problema desses movimentos, no entanto, é legitimidade. Petições virtuais não são juridicamente legítimas pois não há como garantir a autenticidade de que cada participante “assinou” apenas uma vez o documento. A única maneira de ter uma autenticidade confirmada seria com o uso de certificado digital por parte de internautas, mas o recurso é pago e geralmente usado por advogados e especialistas da área. A alternativa encontrada por essas plataformas é o uso do e-mail como forma de autenticação, mas nada impede
que uma pessoa crie diversas contas com diferentes endereços de e-mail, embora alguns sites aleguem possuir mecanismos que evitem a fraude. É inegável que essas petições vêm ganhando cada vez mais visibilidade e têm sido cada vez mais persuasivas. Mas é claro que um grande fenômeno traz também grandes imbecilidades. Ultimamente esse tem sido um forte meio de repúdio à reeleição de Dilma Rousseff, apelando por medidas drásticas como o processo de impeachment ou a intervenção militar. Foram registradas, inclusive, inúmeras petições no site oficial da Casa Branca, pedindo intervenção do governo americano e até ridicularizando a situação. Mesmo que uma versão impressa no papel ainda passe mais credibilidade, a petição online é uma forma genuína de fazer democracia e apresenta grande poder perante suas reivindicações. Mesmo que para alguns pareça apenas um comodismo ineficaz clicar no botão ‘’assinar’’ o que importa nesse caso é a mobilização causada. Uma petição já é efetiva por conseguir expor um problema a alguém que tem o poder de solucioná-lo.
Liberdade pra quem? Pensar e discutir sobre a aceitação da sociedade, que só se dá quando as pessoas (principalmente as mulheres) se encaixam nos padrões culturalmente estipulados, é extremamente fundamental. Há quem diga que a igualdade chegou, que a corrida para alcançarmos nossos lugares de direito não é mais necessária. Mas aí uma mulher negra e acima do peso socialmente aceito escreve anonimamente para o site Blogueiras Negras, e narra uma situação absurda pela qual passou. Para quem é adepto do “isso é exagero”, o relato mostra que a diferença ainda existe – e é gritante. A moça conta que foi fazer uma entrevista para a loja AREZZO, e que preenchia todos os requisitos para a vaga, incluindo experiência no cargo. Na ficha de inscrição havia a pergunta: cor e peso. Por que diabos essa informação é necessária, posto que não interfere na capacidade de trabalho da candidata em questão? Mesmo descrevendo todas as expe-
riências em outros locais, ela não foi aceita na vaga. Faltou-lhe o inadmissível: ser branca e magra. Se a cor incomoda os clientes ou se o peso desagrada quem a vê, não sabemos. Conhecemos, apenas, a realidade de uma sociedade padronizada na qual quem foge do considerado “belo” quase não está no nosso campo de visão. Precisamos, imediatamente, mudar a forma que enxergamos as lojas com funcionárias estereotipadas e o tratamento de péssimo gosto que atinge quem não se enquadra no padrão. E não acaba por aí: a atriz Grazi Massafera também não escapou da ditadura da beleza (e olha que ela se encaixa perfeitamente em tudo o que é estipulado: loira, magra, rica, cabelos lisos, traços finos). Ela esteve em um evento em São Paulo como garota-propaganda de um remédio contra cólicas. A “notícia” do Ego mostrava: “Apesar do look sexy e poderoso, a atriz acabou
Inquietação Explícita
Priscilla Fontes
chamando mais atenção por outro motivo: ela estava com a depilação um pouco vencida nas axilas. Mas não tente fazer em casa: isso é pra quem pode!”. Ó, gente, a Grazi Massafera tem pelos, que absurdo! E desde quando depilação tem prazo de validade? Nem todo o remédio do mundo pode aliviar as cólicas que sinto quando leio uma “notícia” dessas. O que está vencido é o bom senso. Essa stiaução com alguns pelinhos aparecendo pode até ter sido sem buscar engajamento em causa alguma, mas seria bem legal que a Grazi se pronunciasse dizendo que os braços erguidos foram pra mostrar que
ela não se depilou mesmo – e que ninguém tem nada a ver com isso. Se nem uma mulher branca, magra, famosa, rica e privilegiada está livre dos ataques malucos e inconvenientes dessa sociedade preconceituosa e cheia de rótulos, quem de nós está? Os padrões continuam pressionando e aprisionando cada dia mais; a mídia julga e cria leitores mais julgadores ainda; e assim o ciclo continua interminavelmente opressor. O patriarcado – e tudo o que ele carrega consigo – agradece. Se você pretende ser livre, vá em frente: tente fazer em casa. Isso é só pra quem pode, e todas nós podemos.
LONA > Edição 966 > Curitiba, 06 de novembro de 2014
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ACONTECEU NESTE DIA
Morre, aos 92 anos, o ator Jorge Dória Enfrentando problemas de saúde durante muitos anos, em setembro de 2013 Jorge Dória foi internado em estado grave. Pouco mais de um mês depois, no dia 6 de novembro, morreu vítima de complicações cardiorrespiratórias e renais, aos 92 anos. Em 2005, Jorge Dória se afastou dos palcos e da TV por problemas de saúde, decorrentes de um AVC. Seu último papel foi no programa Zorra Total, da TV Globo. O ator estreou no teatro em
1942, e no cinema em 1948, com o filme Mãe. Atuou em peças como A Gaiola das Loucas, seu maior sucesso como protagonista no teatro brasileiro. No cinema, foi também roteirista, além de ator premiado em filmes como Maior que o Ódio e A Dama do Lotação. A partir de sua criação de Lineu, na primeira versão de A Grande Família, em 1972, Jorge Dória se tornou presença constante em novelas e programas humorísticos da TV.
O ator Jorge Dória > Foto: Arquivo Estadoce
#PARTIU Shows
Curitiba recebe exposição de Sebastião Salgado
Ira! Local: Teatro Positivo Data: 8 de novembro Horário: 21h15 Ingressos: variam entre R$65 e R$260
O fotodocumentarista estará na capital para uma palestra realizada hoje, no MON, marcando a abertura da exposição
Tiago Iorc - Voz + Violão Local: Teatro Positivo Data: 16 de novembro Horário: 20h Ingressos: R$100 (inteira) e R$50 (meia)
Artes Visuais Genesis Local: Museu Oscar Niemeyer Data: de 6 de novembro até 15 de março de 2015 Horário: das 10h às 18h Ingressos: R$6 (inteira) e R$3 (meia) Hermanoteu na Terra de Godah Local: Teatro Positivo Data: 15 de novembro Horário: 22h Ingressos: R$40 (inteira) e R$20 (meia)
Em Cartaz Interestelar Ficção científica > 169 min > 12 anos Tim Maia Biografia > 140 min > 16 anos November Man - Um Espião Nunca Morre Ação > 108 min > 14 anos A Mansão Mágica Animação > 85 min > Livre
A exposição “Genesis” do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado chega ao Museu Oscar Niemeyer (MON) nesta quinta-feira. A mostra é resultado de oito anos de trabalho fotográfico do autor que percorreu 32 países diferentes e fica em exposição na capital paranaense até março de 2015. O objetivo do trabalho foi retratar lugares e povos de difícil acesso que permanecem com suas culturas intocadas, apesar do desenvolvimento da tecnologia. O resultado do trabalho foram as 245 fotografias que integram a exposição e o livro lançado pelo brasileiro. A exibição tem curadoria de Lélia Salgado, esposa do fotojornalista, e traz fotografias de montanhas, florestas, tribos, animais, desertos e aldeias; que reforçam o trabalho do fotógrafo focado na temática social. Com 70 anos, Salgado já recebeu mais de 10 prêmios por seu trabalho. Atualmente, ele é embaixador da UNICEF e membro honorário da Academia de Artes e Ciências dos Estados Unidos. Nesta
Fotografia presente na exposição > Foto: Sebastião Salgado
quinta-feira, Sebastião Salgado estará em Curitiba para uma palestra sobre o trabalho e vida do fotógrafo no Centro de Convenções de Curitiba. Além de “Genesis”, o Museu Oscar Niemeyer está com as exposições “IDEA/Brasil”, “Frida Kahlo – As suas fotografias”, “João Turin – Vida, obra, arte”, “As origens do fotojornalismo no Brasil - um olhar sobre O Cruzeiro (1940-1960)”, “Museu em Construção” e outras, abertas para visitação.