Revista Entrelinha 2014

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crack uma herança inevitável

Filhos de usuários de crack são os principais afetados pela escolha dos pais. Problemas no crescimento e convulsões estão entre as principais sequelas físicas desse mal

Geração Y: sem medo de mudanças, jovens comandam a sociedade.

Candomblé e Umbanda sofrem com a intolerância religiosa. Denúncias de preconceito sobem 600%.

Instinto materno é culturamente aprendido e não é um dom da mulher


sumário

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53 4 Amor incondicional?

14 Sem barreiras para estudar

Não é preciso gerar uma criança para ser “mãe”. Também não é toda gestante que tem instinto materno.

Crianças com leucemia contam com a ajuda de professores para não perderem o ano letivo.

8 Amor é remédio

Especialistas não concordam sobre os fatores que tornam alguém realmente inibido.

19 Por que tão tímido?

Crianças com câncer têm melhora na saúde com a visita dos voluntários no hospital.

23 Glamour apenas nos palcos

10 Educar, brincar, cuidar

À margem dos bastidores, colaboradores da quinta arte não têm acesso ao próprio meio em que trabalham.

A Educação Infantil é a etapa mais importante da vida escolar, na qual a criança aprende brincando. 3


27 Só um golinho

Temas para todos os gostos

Os primeiros passos para o alcoolismo são as pequenas doses que os pais dão para experimentar.

A Revista Entrelinha do curso de Jornalismo da Universidade Positivo traz nesta edição várias facetas das relações e interações humanas. Drogas, jovens, maternidade, cultura, gastronomia, saúde, educação. O caldeirão efervescente de informações, neste semestre, traz uma variedade bastante grande de assuntos e perspectivas.

31 Herdeiros do vício Sem escolha, filhos de usuários de crack sofrem com as consequências do vício dos pais.

37 Preconceito com Orun Intolerância religiosa no Brasil é impulsionada por estereótipos e falta de conhecimento das religiões.

Uma das premissas do curso de Jornalismo da UP é propiciar aos estudantes várias práticas condizentes com o mercado. Na Entrelinha, a busca pela reportagem de profundidade foi um dos principais nortes para o ecletismo da publicação.

43 Superiores por competência Geração atual de jovens é criativa, ágil e não se contenta com apenas uma habilidade.

Logo na capa, um tema que ultrapassou classes sociais e faixas etárias. O crack, considerado uma das drogas mais viciantes e destruidoras do século XXI, visto sob o olhar de inocentes: os filhos dos usuários.

46 De dar água na boca Da cerveja ao cachorro quente, Curitiba se tornou um centro gastrônomico para todos os gostos.

Também contemplada na publicação está a geração Y, os novos donos do futuro e suas características tão peculiares de ver o mundo. A mesma geração que também entra cada vez mais cedo no universo da bebida alcoólica.

49 Novos marginais da sociedade Sofrendo com maus tratos e disseminando doenças,14 mil cachorros vivem nas ruas de Curitiba.

Dois textos também merecem atenção, voltados à temática educacional. As mudanças pelas quais tem passado o ensino fundamental e como é a educação de crianças com câncer mostram que são vários os caminhos para o desenvolvimento, mas que o ensino e a informação são o que há de mais rico que se pode oferecer a uma criança.

53 Sonho de jogador Em contrapartida dos astros, 82% dos jogadores recebem menos dos que dois salários mínimos.

57 País do futebol? Campeonato Brasileiro tem elenco desqualificado, média de gols baixa e falta de interesse da torcida.

Na saúde, matérias sobre obesidade e cirurgia bariátrica trazem à tona o mal moderno de grandes cidades: o excesso e descontrole de comida, especialmente em pessoas cada vez mais jovens. As consequências não só para estado físico, mas também psicológico, são a tônica da matéria que também explora o bullying em torno do assunto.

61 Padrão de beleza Ficar acima do peso não é apenas um problema de saúde físico, mas também mental.

65 Cuidado para toda a vida

Boa leitura a todos!

A crirurgia pode ser uma forma mais rápida de emagrecer, porém exige cuidados a longo prazo. EXPEDIENTE

Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora Orientadora Ana Paula Mira Coordenação de Projeto Gráfico Gabrielle Hartmann Grimm Editora e diagramadora Isadora Nicastro

Reitor José Pio Martins Vice Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto Pró-Reitora Acadêmica Márcia Sebastiani 4


compor tamento

Ao contrário do que sugere o senso comum, maternidade está longe de ser expressão da natureza feminina – é obra social, criteriosamente inventada

instinto QUE SE APRENDE

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Por João Lemos Rosany de Moraes Fortuna, 45, é a autêntica representação da mãe ideal – amável, protetora, presente e preocupada. Seu lema é manter-se à disposição das duas filhas, garantindo a elas uma educação de qualidade, sustentada por alguns dos mais cultuados valores de uma sociedade: família, respeito e humildade. O comportamento de Rosany, que é também o de muitas outras mulheres ao redor do mundo, foi, em partes, inspirado naquela que, para ela, é o grande exemplo de mãe por excelência: dona Alice Xavier de Moraes, 71, sua própria mãe, com quem pôde compreender a noção de instinto materno, “uma ligação forte com o filho, que sugere um impulso de proteção”. “Ela é a melhor mãe do mundo, porque desde sempre se dedicou inteiramente a nós”, declara Amanda de Moraes Fortuna, 18, filha mais nova de Rosany. “O que sentimos é um amor incondicional, que só existe entre mãe e filha; não consigo imaginar a vida sem a rainha que tanto admiro”. Assim como acontece com Rosany, Amanda vê na mãe um grande exemplo de vida e uma assumida portadora do instinto materno. E, para simbolizar o amor que, segundo ambas, brota ingênito na alma, um kit de O Boticário como presente, em 11 de maio, Dia das Mães, para a “melhor do mundo”. A máxima “tal pai, tal filho”, adaptada à versão feminina (“tal mãe, tal filha”) nunca pareceu fazer tanto sentido. Mas, apesar de essa relação admirável ser encarada pela maioria das pessoas como consequência do tão pronunciado instinto materno, há indícios históricos que tendem a controverter a existência dessa natureza humana. No decorrer dos séculos, o próprio conceito de família sofreu variações que refletem o caráter cultural, tanto em dimensões sociais quanto temporais, das relações humanas. Na aristocracia do século XIX, por exemplo, enquanto a mãe ocupava-se da vida social da família, os cuidados com as crianças ficavam a cargo da vasta criadagem; e, em comunidades indígenas tradicionais, a maternidade mostra-se difusa, sendo praticada de forma coletiva. No livro A história social da criança e da família, de Philippe Ariès, fica evidente também a existência de períodos no desenvolvimento da humanidade nos quais a organização familiar sequer existiu e, de quebra, o investimento afetivo na relação com a criança. Na contemporaneidade, essas nuanças se mantêm, impostas, muitas vezes, por determinações de ordem social, como explica o sociólogo Nei Ricardo de Souza. “Famílias de classes baixas tendem a ter a prole mais numerosa, o que obriga a mãe a distribuir a atenção a todos os filhos e ao trabalho, nos casos em que é a única força produtiva da família; já em classes média-altas, revive-se a realidade das babás, que podem ser encontradas até nas viagens da família para a Disney”, defende. Segundo ele, o comportamento de mãe, assim como todas as outras representações humanas, é culturalmente aprendido e condicionado. “Basta lembrar que, quando a criança do sexo feminino nasce, ela é logo presenteada com uma boneca, o que já incute nela o papel de mãe”, completa o sociólogo, que acredita que a própria vivência da menina com a mãe, que lhe serve de modelo, contribui para esse processo. Já para a psicóloga Cláudia Cobalchini, mestre em Psicologia da Infância e da Adolescência, além das implicações sociológicas, há também fenômenos psíquicos envolvidos no processo de formação do comportamento materno. Ela ensina que, ao nascer, o indivíduo é apresentado a um mundo simbólico, por meio do qual constrói suas concepções, com base no que é valorizado pelo grupo em que está inserido e em suas experiências de mundo. “Nossa psique também é produto de uma interação intersubje“O QUE SENTIMOS É UM AMOR tiva e objetiva – com a realidade concreta e com a disposição INCONDICIONAL, QUE SÓ EXISTE diversa de elementos de construção, em uma perspectiva do ENTRE MÃE E FILHA ” materialismo histórico-dialético”, completa. AMANDA DE MORAES FORTUNA

INSTRUMENTO DE PODER

Contrariando os argumentos de Souza e Cobalchini, a Universidade de Oxford, na Inglaterra, anunciou em 2009 a descoberta de uma região no cérebro responsável pelo chamado instinto materno. Aquilo que antes parecia ser apenas uma

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compor tamento

?

Freud Explica

Já nos idos do século XVII, o médico neurologista e pai da psicanálise Sigmund Freud formulava um dos conceitos mais famosos em sua área de atuação: o Complexo de Édipo. Munido de conhecimentos originários da Grécia Antiga, registrados, em especial, no clássico Édipo Rei, obra-prima de Sófocles (496-406 a.C.), Freud estudou, com enfoque na temática da sexualidade, o desenvolvimento da personalidade humana, atribuindo ao estágio inicial da vida do indivíduo – do nascimento aos seis anos de idade – a responsabilidade por esse processo. Segundo ele, nesse período da infância, a criança experimenta sensações contraditórias, entre as quais o amor e o ódio em torno das relações estabelecidas com o pai e a mãe. Em determinada etapa dessa operação intricada, o menino, metaforicamente, passaria a hostilizar o pai, enxergando nele um rival na disputa pelo amor da mãe, e a menina a mãe, considerada também uma adversária na concorrência ao amor do

pai. No entanto, ao mesmo tempo em que são hostilizados, os “inimigos” são amados, admirados e venerados, uma vez que significam exemplos de vida. Assim, o Complexo de Édipo constitui a gênese do desejo humano, mas não apenas o sexual – o desenvolvimento da atenção libidinosa nas pessoas do sexo oposto, iniciada no ambiente familiar –, como também aquele que envolve qualquer outro aspecto da vida. Ou seja, as interações instauradas entre criança e pais representam, de acordo com Freud, as etapas fundamentais da formação do “eu”, que contempla o reconhecimento, pela criança, das diferenças entre ela e seus genitores, que passam a lhe impor limites e proibições, e a definição do comportamento na vida adulta. Como resultado dessa dinâmica, o sujeito deixa de agir pelo impulso e adquire atitudes mais racionais e coerentes, dentro de uma lógica de transformação do corpo meramente biológico em corpo simbólico e erógeno.

verdade inquestionável da natureza humana ganha o palco da ciência para adquirir contornos ainda mais verídicos. Mas, conforme já foi “cientificamente comprovado”, a ciência não se encerra em si mesma, isto é, permanece em constante renovação, em busca de algo cuja existência é ainda um enigma – inclusive científico: a verdade. Isso sugere que os estudos da renomada Oxford, desenvolvidos por meio de métodos precisos de coleta de dados, correm o risco de, um dia, cair no escoadouro. No artigo O “instinto materno”: uma discussão acerca da apropriação do Estado no “desejo” de amamentar, de Jaqueline Calafate e Temis Parente, evidencia-se como é fácil explorar a ideia de instinto materno como estratégia biopolítica de apropriação do corpo e do desejo da mulher. Nesse estudo, as pesquisadoras argumentam que a noção de maternidade consiste em um jogo de poder desde o século XVIII, por meio do qual o Estado associava o ato de amamentar à moralidade – era de interesse dele que os índices de mortalidade infantil fossem reduzidos, assim como o é nos dias atuais. De acordo com elas, um dos pilares de sus-

tentação dessa prática de poder era a ciência, corporificada, por exemplo, no pesquisador neozelandês Frederic Truby King, que comprovou a existência, no leite materno, de propriedades fundamentais que não estão presentes no leite da vaca. Isso, para ele, justificava a necessidade de amamentação como estratégia para reduzir as taxas de mortalidade infantil, indo na contramão dos ideais feministas, que defendem a autonomia da mulher em relação ao próprio corpo. Do mesmo modo, atribuía-se à mãe a responsabilidade pelo desenvolvimento de distúrbios psicológicos em seus filhos caso o ocorresse de forma inadequada, dentro de um processo cruel e dogmático de culpabilização. Do mesmo modo, a estudiosa Dora Porto considera, em O significado da maternidade na construção do feminino: uma crítica bioética à desigualdade de gênero, que a ideia de maternidade reflete a desigualdade de gêneros instalada na sociedade, advinda, por exemplo, das interpretações que se fazem das características sexuais e reprodutivas da mulher. “Como o ato sexual ocorre no interior do corpo da mulher e sendo o sexo feminino responsável pela maior parte do processo reprodutivo, a normatização de seu comportamento revelou-se, ao longo da história, condição sine qua non ao florescimento do patriarcado”, analisa. De acordo com ela, a assimetria de poder entre homens e mulheres, com destaque para a temática da maternidade, está registrada em peças arqueológicas de 10 mil anos atrás, com associações simbólicas entre mulher, maternidade e natureza. A concepção de instinto materno e amor espontâneo de toda mãe pelo filho integra a pauta de debates de movimentos feministas há décadas. A filósofa feminista Elizabeth Bandinter, por exemplo, descreve em suas obras que a amamentação, compreendida pela sociedade como uma prática natural, 7


consiste apenas em um hábito de contato regular com o filho, motivado pela necessidade da mãe de livrar-se do leite. É desse hábito que nasceria a ternura materna. Apesar disso, existem feministas que encaram o conceito de instinto materno com menos melindre. É o caso de Jussara Cardoso, que, desde 2012, participa da Marcha das Vadias em Curitiba. Para ela, o instinto materno está ligado ao genuíno desejo de algumas mulheres de perpetuar a espécie, desvinculadas de qualquer tipo de imposição social. “O papel materno tornou-se uma norma, ao ponto de uma mulher que diz não querer ser mãe tornar-se mal vista na sociedade”, diz.

afetivo materno, tão essencial para o desenvolvimento do indivíduo. Desenvolvimento esse determinado pelo chamado “desejo do outro”, a base da operação estudada pela psicanálise denominada Complexo de Édipo. De acordo com Cobalchini, as diferenças na vivência da maternidade resultam em categorias específicas de “mães” – não necessariamente progenitoras –, cujas características variam por conta, em especial, de fatores socioeconômicos, afetivos, simbólicos e de saúde mental. Não é nem preciso descrever as qualidades elementares que diferenciam o mundo humano do reino animal – apenas a existência de relações entre homens complexamente forjadas por meio de inteligências, reflexões e interpretações é suficiente para entender que instinto é privilégio de bicho. A maternidade e tantas outras manifestações humanas não constituem simples aptidões inatas ou orientações naturais advindas dos sentidos. Ao contrário: são todas formas de expressão construídas socialmente, nas quais exercem papel fundamental o inconsciente e a pulsão, atributos exclusivos da raça humana. Mas, se por ingenuidade coletiva, o instinto materno significa apenas a urgência em atender aos anseios da cria e protegê-la dos perigos do mundo, Rosany é, de fato, a coruja da fábula de Monteiro Lobato.

EM CADA HOMEM, UMA MÃE

Sendo o instinto materno uma construção social – por ingenuidade ou oportunismo, para o exercício do poder –, cabe a seguinte pergunta: seriam todos os seres humanos capazes de desenvolver comportamento materno? Para Cobalchini, a resposta é sim, uma vez que todos nascem candidatos à humanidade. “Nosso comportamento é fruto de uma complexa trama de fatores, que parte de uma condição biológica, mas não se resume a ela – a cultura orienta a forma de compreensão sobre os papéis sociais”, argumenta. Ela afirma que as determinações históricas e sociais incidem com mais força no exercício da maternidade do que condicionantes biológicos, levando em conta as diferenças entre homem e animal. Prova disso é o estudo desenvolvido pelo psicanalista austríaco René Spitz na primeira metade do século XX, movido pelo interesse em descobrir as causas da discrepância nos índices de mortalidade infantil registrados em dois ambientes completamente distintos: uma UTI neonatal e uma sala de presídio. Após diversas gravações em vídeo, Spitz percebeu que a ocorrência de mais mortes no hospital em comparação com o presídio era motivada pelo uso que as enfermeiras faziam da palavra. Ou seja, como até então os procedimentos adotados em hospitais exigiam das enfermeiras o atendimento apenas às necessidades fisiológicas dos bebês, ocorria neles uma espécie de regresso, provocada pela ausência da palavra. Já no presídio, as enfermeiras, que embebiam os bebês de sonhos e expectativas, empurravan-nos rumo ao desenvolvimento. Nesse sentido, elas exerceram o papel materno, de promover o crescimento da criança, como todo indivíduo poderia fazer. A pesquisa instigou debates acalorados na psicanálise para uma reformulação das práticas neonatais de UTIs. Do mesmo modo, é notável a grande quantidade dos novos modelos familiares, que, embora fujam ao formato tradicional “pai, mãe e filho”, “prosperam” como quais quer outros. Pais, avós, enfermeiras, freiras e babás, por exemplo, por vezes se veem na condição de mãe, desempenhando, com base em seu referencial e experiência de vida, o papel 8


saúde

OUTRO CAMINHO

para a cura

Como atitudes e doações ajudam no tratamento de crianças com câncer; ações voluntárias podem mudar a trajetória da doença O modo com que uma doença é enfrentada pode mudar o rumo até a sua cura. O caminho pode ser menos doloroso, e até mesmo mais curto, se for encarada de maneira positiva. Não é diferente com o câncer. O estigma que cerca a doença é assustador: seu nome é escutado com uma sentença sem chances de ser revertida. Mas a realidade é que o bem-estar, a autoestima e tentar viver da melhor maneira possível ajudam no decorrer da doença. Não existem até o momento estudos clínicos que mostrem em números o quanto os trabalhos voluntários com crianças diagnosticadas com câncer podem ajudar positivamente no tratamento. O resultado é visto na rotina desses pacientes, por seus familiares e médicos. A verdade é que há, sim, vida após o câncer. Presente na rotina dos pacientes com câncer, o hospital muitas vezes é mais frequentado por eles do que suas próprias casas. É um momento muito difícil para a criança, pois além dos procedimentos médicos, ficam longe de tudo que normalmente as cerca: brinquedos, escola, amigos. Segundo os dados da Organização Mundial da Saúde, no Brasil o índice de cura chega a 75%. A possibilidade de cura não exclui, porém, a necessidade de o paciente passar por procedimentos médico-hospitalares invasivos e, muitas vezes, dolorosos.

Por Jéssica Senna

Um exemplo é a quimioterapia, tratamento utilizado contra leucemia, o tipo de câncer mais comum em crianças, segundo os dados do Instituto Nacional de Câncer. Hospita(lar) A internação em um hospital causa grande impacto na vida do paciente. Muitas vezes, são meses vivendo dentro de um hospital. Nas crianças, os trabalhos voluntários podem ajudar a transformar este período menos doloroso possível. A psicóloga Renata Oliveira explica em seu artigo “A Importância do Brincar no Ambiente Hospitalar: da Recreação ao Instrumento Terapêutico”. No caso de crianças, a criação de estratégias como forma de atenuar o processo de hospitalização decorrente do estresse e ansiedade devido à doença, além do sofrimento físico, procedimentos médicos e rotina hospitalar desgastante, torna-se de fundamental relevância. Dessa forma, o brincar no hospital surge como um poderoso recurso que possibilita à criança o resgate da sua vida antes do processo de hospitalização”. O trabalho voluntário pode chegar de várias maneiras. Uma delas são os contadores de histórias. Por meio das palavras narradas, eles são capazes de levar a criança para um outro universo, completamente criado por sua imaginação. Para o voluntário José Jesus Silva, que toda sexta-feira doa um pouco do seu tempo e da sua voz para as crianças internadas no Hospital Pequeno Príncipe em Curitiba, é uma enorme alegria e prazer poder ter esse momento. “Participar de algo assim muda a vida das crianças, mas também muda a sua. É impossível sair ileso, você é tocado de diversas maneiras. É muito especial”. O retorno chega em sorrisos, agradecimentos e a melhora na qualidade de vida das crianças. Como ajudar: para ser um voluntário no Hospital Pequeno Príncipe é preciso ir à unidade preencher o cadastro.

DOE ALEGRIA

Um dos efeitos colaterais mais conhecidos da quimioterapia é a alopecia, nome que se dá à perda de cabelo. Essa fase do tratamento causa um grande dano na autoestima das pacientes, afetando seu bem-estar e a 9


resposta aos procedimentos médico-hospitalares. E foi a partir de pessoas que aceitaram doar seus cabelos que surgiu o projeto Cabelegria. A ação é totalmente sem fins lucrativos, que, a partir da arrecadação de cabelos, confecciona perucas para crianças que estejam em tratamento de quimioterapia. O Cabelegria nasceu em outubro do ano passado com a designer Mariana Robrahn e a publicitária Mylene Duarte. O projeto conta com a parceria da empresa Andrea Lopes Cabelos, onde as perucas são feitas e destinadas às crianças de maneira totalmente gratuita. “ Uma das primeiras a receber a peruca foi a Sabrina Nascimento, mais conhecida como Bibi. “Ela adorou a peruquinha. Por causa do tratamento, ela não pode sair de casa, mas toda vez que recebe visitas ela pede para colocar”, conta a tia de Bibi, Priscilla Nascimento. Diagnosticada com câncer em 2012, a menina tem apenas nove anos e passa por vários tratamentos invasivos contra a doença, inclusive quimioterapia e radioterapia. “Nós conseguimos perceber a mudança na autoestima dela, é muito visível. Quando está com a peruca ela faz pose, sorri e manda beijo. É uma alegria em um momento tão delicado”. Priscilla administra uma página no Facebook “Amigos da Bibi”, em que é possível saber mais sobre a história e ajudar com doações.”

“Me sinto gigante”

Dizem que o cabelo cresce, em média, 1cm por mês. O mínimo para doação é 10cm. Dá para calcular quanto tempo o cabelo vai levar para ser o mesmo de novo, mas o bem quem você vai fazer não. Quando tive a ideia de pauta para esta matéria e conheci o projeto Cabelegria, não pensei duas vezes e cortei. É maravilhosa a sensação de fazer algo que no na verdade é tão simples mas que vai gerar uma grande alegria. Sempre tive cabelo comprido, mas também sempre tive vontade de cortar. O possível arrependimento era o que me parava, mas assim que decidi que iria cortar para doação, o sentimento passou bem longe. Sentada na cadeira do salão de cabeleireiros, meu cabelo já amarrado em um rabo de cavalo, a tesoura passou e veio o susto: segundos depois ele estava praticamente todo ali, na minha mão. E com o susto veio o surto de consciência. É só cabelo. Mas para as crianças que recebem as perucas, é muito mais que isso. Significa poder sair sem ter que lidar com as pessoas encarando por serem diferentes. Significa um aumento na autoestima, poder por um laço ou uma tirara como as amigas da escola. Meu cabelo está menor, mas por dentro me sinto gigante.

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educação

ENSINO DE

brincadeira A etapa que pode ser considerada a base de todas as demais carrega muitas especificidades, até mesmo dificuldades, tudo para proporcionar conhecimento com muita brincadeira e paixão

Por Jucélia Chiquim

Hora de deixar o conforto do lar para começar uma jornada de aprendizagem com muitas descobertas e conhecimento. É assim que uma mãe deve pensar ao matricular seu filho na Educação Infantil (EI). A pré-escola tem muito a oferecer aos pequenos que irão iniciar sua vida estudantil. Pode não ser muito bem recebida no começo, mas, após o temível período de adaptação, a Educação Infantil se torna encantadora. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), no art.29, o objetivo da Educação Infantil é “promover o desenvolvimento integral, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”. Já a divisão acontece da seguinte maneira: creche para crianças de 0 a 3 anos de idade e Pré-escola para crianças de 4 a 5 anos de idade. Nas instituições privadas, normalmente, é dividido em berçário para crianças com idade abaixo de 2 anos e Educação Infantil para os demais. Uma mudança ocorrida junto com implantação do Ensino Fundamental de 9 anos foi que antes a Educação Infantil era ofertada a crianças de 0 a 6 anos de idade, agora a oferta é para crianças de 0 a 5 anos de idade. E é nessa faixa etária das crianças que a atenção deve ser redobrada, isso porque trabalhar com Educação Infantil é um grande desafio. A aprendizagem deve ser trabalhada de maneira lúdica. Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, essa etapa da vida escolar de uma criança deve ser dividida em três itens: educar, brincar e cuidar. Visando aos aspectos educar a cuidar, a professora dos cursos de Pedagogia e Psicologia, que é também mestre e doutora em educação, Maísa Pannuti, destaca que os pais devem


estar atentos ao escolher uma instituição que oferte o que é definido pelo Referencial: “Os pais devem observar tudo o que se refere a instalações (segurança; higiene; espaço suficiente; materiais adequados); corpo docente (formação; número de profissionais por crianças); número de alunos por turma; proposta pedagógica adequada à faixa etária”. A professora Evelin Baranhuk Saad Pereira, que atuou 8 anos na coordenação pedagógica de uma instituição de Educação Infantil, afirma que a EI pode ser considerada a etapa mais importante da vida escolar de uma criança e a base para todas as outras. Segundo ela, é nessa etapa que a criança, neurologicamente, faz mais sinapses e cabe aso educadores desenvolver habilidades e estimular potencialidades.

CHEGOU A HORA: E AGORA?

Essa é a pergunta que muitas mães fazem ao matricular seus filhos na Educação Infantil. E o desespero só aumenta quando a criança começa a chorar e não larga dos braços dos pais para ser recebida pela professora. Mas não é só nesse caso que as mães se desesperam. O que fazer quando o filho não chora, dá tchau e entra na escola sem nem olhar para trás? A mãe espera um choro, mas nada. É de “cortar” o coração. A adaptação é fase mais importante e mais difícil da Educação Infantil, já que é nesse momento que a criança irá criar a imagem do que é a escola e assim amá-la ou odiá-la de vez. O mais comum é que as crianças chorem ao entrar na escola, já que é um território novo muito diferente do que estava acostumado. A professora é uma pessoa estranha que está tentando tirar da mãe, o espaço é muito diferente da casa e as muitas crianças fazem com que o desespero só aumente. Evelin dá algumas dicas que podem ajudar nesse momento tão difícil, começando pela segurança dos pais. Segundo ela, qualquer desconforto dos pais é sentido pelos filhos, então, quanto mais seguros os pais estiverem, maior vai ser a chance de o processo de adaptação ser mais fácil. Despedidas rápidas sem o “tchau” verbalizado, são mais eficazes, ou seja, essa palavra soa para uma criança em adaptação como um adeus, um sinal de abandono, evitá-la é muito importante. Já a confiança nas pessoas é outro ponto a ser repassado para o filho, você escolheu essa instituição, mostre o porquê, desconfiança tende a deixar o ambiente mais tenso. Já para os educadores, a professora, destaca que a curiosidade da criança pode ajudar no processo de adaptação: “Às vezes, uma canção sussurrada ao ouvido pode acalmá-la, ou uma corrida pelo pátio, observar pássaros e insetos. Crianças são curiosas por natureza procurar, use esse fator ao seu favor”. Para a professora de Educação Infantil, Rosilene Schlotag, a adaptação começa em casa, ou seja, os pais precisam conversar com seus filhos sobre a escola antes. “Os pais têm o papel de esclarecer, explicar por que ele está indo para a escola, deixar claro que ele vai ficar sozinho lá depois de

alguns dias. Não criar falsas expectativas na criança. O melhor é dizer a verdade. Explicar que vai acompanhá-lo por um período, mas que, depois disso, vai voltar ao trabalho e ela vai ficar só com a professora e com os coleguinhas”. Diferente do que pensava a estudante Franciele Louise Duquesne, sua filha Lara Isis, de 3 anos, passou pelo processo de adaptação sem muitos traumas, na verdade, nenhum. “A Lara Isis nunca chorou no processo de adaptação, então posso considerar que ela nem teve fase de adaptação. Quando ela entrou na escola, que ela está, se comportou como se estivesse na escola já há alguns anos”. É por isso, que os pais não devem se desesperar, muitas vezes a adaptação acontece de maneira natural e não há problemas. E com as dicas das professoras, essa fase pode ser mais tranquila se o seu filho ficar um pouco mais inseguro que a Lara.

OBRIGATORIEDADE

Até 2015, a matrícula na Educação Infantil é uma opção, mas a Lei nº 12.796, sancionada pela presidente da República, Dilma Rousseff, torna obrigatória a oferta gratuita de educação básica a partir dos 4 anos de idade. Sendo assim, a partir de 2016 todas crianças com essa faixa etária deverão estar matriculadas regularmente em instituições de Educação Infantil. De acordo com o Ministério da Educação, essa etapa será organizada com carga horária mínima anual de 800 horas, distribuída por no mínimo 200 dias letivos, com atendimento à criança de, no mínimo, quatro horas diárias para o turno parcial e de sete para a jornada integral. Para Maísa, a mudança é algo positivo, já que dessa maneira a Educação Infantil ofertada de maneira gratuita poderá atender mais pessoas que de alguma maneira não podem pagar pela educação de seus filhos. “Acho fundamental, pois, a partir do momento em que se torna obrigatória a matrícula, é dever do Estado garantir vagas, o que permite que todas as crianças tenham acesso à escola e não apenas aquelas que podem 12


educação pagar ou que consigam uma vaga”, afirma.Evelin complementa: “Infelizmente no Brasil só quando é obrigatório, torna-se importante. Talvez isso garanta melhoras e investimentos para a Educação Infantil, pois atualmente, devido ao papel mais significativo das mulheres no mercado de trabalho, a maioria das crianças já está ingressando com essa idade nas escolas, porém, não há vagas para atender a demanda”.

PERÍODO INTEGRAL

Com a maior inserção da mulher no mercado de trabalho, muitas mudanças ocorreram e o caso das mães que podem ficar com seus filhos em casa o dia inteiro ou em um período do dia se tornou bem mais complicado, já que normalmente elas trabalham pela manhã e à tarde, e consequentemente precisam procurar alternativa de onde deixar os filhos. Umas optam por deixar com os avós da criança, outras com babás, mas a maioria escolhe a escola. E é aí que surge a dúvida: o que a escola oferece para uma criança que permanece em período integral? Ao contrário do que muitos pensam, a criança que fica em período integral na escola não deve passar o dia todo “estudando”, mas sim em atividades que contemplem o conhecimento de uma maneira diferente. Como já foi dito, a essência da Educação Infantil está na ludicidade, ou seja, o aprender brincando. No integral, essa ludicidade deve ser complementada com atividades diferentes das realizadas no período curricular, aquele em que são trabalhados os conteúdos. “Uma criança que fica o tempo todo [na escola] deve ter um tempo de ser ‘criança’, de brincar, correr, criar... A escola pode trabalhar com projetos de manhã em que as crianças estejam ocupadas com propostas prazerosas, mas que ao mesmo tempo possam fazer descobertas e desenvolver suas potencialidades”, destaca Evelin.

Na Educação Infantil conhecimento e brincadeira caminham juntos. Foto: Joel Rocha/SMCS (arquivo)

Lara Isis não passou por uma adaptação difícil e sempre gostou de ir à escola. Foto: Arquivo pessoal

ALFABETIZAÇÃO PRECOCE

ABC

Quando as crianças vão chegando nas fases finais da Educação Infantil, surge uma dúvida para os pais: a alfabetização faz parte dessa etapa? E a resposta dos profissionais é categórica: não! Porém, infelizmente algumas instituições estão alfabetizando na Educação Infantil, o que pode parecer bom agora, mas pode trazer muitos danos no futuro. Na EI, o conhecimento é proporcionado por meio da brincadeira e é nesse ponto que alfabetização deve ficar de fora, já que exige métodos diferentes para ser realizada. A professora mestre e doutora em educação, Maísa Pannuti, aponta que a Educação Infantil não tem o dever de alfabetizar, mas desenvolver a linguagem oral, escrita e a oralidade, trabalhando a função social da leitura e da escrita, assim como o desenvolvimento da oralidade. Ou seja, a escrita deve ser trabalhada, mas não com a mesma metodologia e exigência da alfabetização. Para a professora, Evelin Baranhuk Saad Pereira, outros objetivos devem nortear o trabalho da Educação Infantil e a alfabetização deve ser prioridade do Ensino Fundamental. “O brincar na educação infantil é cheios de significados e descobertas. A criatividade, o devaneio e a fantasia fazem parte de um aprendizado, tirar algo tão essencial de uma criança para obrigá-la a ler e escrever, certamente deixa lacunas”, finaliza.

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Local: Teatro Positivo – Jardim Ambiental Ingressos: retirada gratuita no local, antes do início de cada espetáculo.

No ano em que a Posiarte - a série de eventos artísticos do Colégio Positivo - celebra a união, o respeito e a paz entre os povos, a Mostra de Teatro traz, em 23 apresentações, a releitura de clássicos de várias nações, como uma comemoração pela imensa diversidade cultural do mundo. Do brasileiríssimo Monteiro Lobato ao britânico Shakespeare e ao francês Molière, a arte dos países encontra-se em cena, com passagens pelos universos de princesas, reis, vampiros e seres mitológicos. Você é convidado especial para esse passeio pelas artes das nações, em terras que vão de Oz à Nárnia. Envolva-se e deixe-se encantar pela diversidade cultural de tosos os povos, representada pelos alunos que praticam Teatro como atividade complementar no Colégio Positivo.

Programação 24 de setembro

28 de setembro

20h – O poço dos desejos

10h30 – Mágica de Oz 11h15 – A fantástica fábrica de chocolates 14h30 – Arlequim, servidor de dois patrões 15h15 – As três mosqueteiras 16h – Dom Quixote 16h45 – Barbies em O rapto de um amigo 17h30 – A pequena sereia 18h15 – Muito barulho por nada 19h – O poço dos desejos

25 de setembro 19h30 – Peter Pan 20h15 – The bourgeois gentleman

26 de setembro 19h30 – Drácula 20h15 – Alice através do espelho

27 de setembro 14h30 – Marcelo, marmelo, martelo 15h15 – O doente imaginário 16h – Volta ao mundo em 80 dias 16h45 – A bela adormecida 17h30 – Amores de pergaminho 18h15 – Rei Arthur 19h – Soldadinho de chumbo 19h45 – A bela e a fera 20h30 – Crônicas de Nárnia


educação

ELES QUEREM

aprender Professores fazem curso e dão aulas em hospitais para que as crianças não percam o ano letivo para a doença.


Por Isabelle Kolb

Era mais ou menos oito horas da manhã quando Larissa e sua mãe atenderam a porta com sorrisos receptivos. A casa aconchegante do Tatuquara tinha a parede da sala coberta por quadros religiosos e dizeres bíblicos. Sentada no sofá em frente a mim, Larissa Juliana de Azevedo me conta um pouco de sua história. Ela tem 16 anos e está no terceiro ano do ensino médio. É ano de vestibular e ela pretende prestar para Nutrição. Diz que por enquanto não tem nenhum sonho, mas sente falta de estar no meio de pessoas e de jogar futebol. No dia 2 de novembro de 2012, Larissa descobriu que estava com leucemia. Desde então sente que as pessoas começaram a tratá-la com mais cuidado, com mais atenção. Os remédios às vezes lhe causam enjoos e isso acaba fazendo com que não tenha forças para levantar da cama. Em razão da doença, não pôde mais frequentar o Colégio Estadual Tatuquara. Por morar em Curitiba, mesmo precisando ir ao médico toda semana, consegue fazer o tratamento em casa e não precisa passar seus dias internada no hospital. E para Larissa, isso é um ponto positivo também por parte da educação. Ela sente que é mais fácil aprender quando o professor destina toda a atenção para um único aluno.

conseguem exercer algumas funções das células sanguíneas normais. Já a Aguda não consegue desempenhar nenhuma função dos glóbulos brancos, por isso acumula-se mais rápido e a doença, consequentemente, evolui mais rápido também. A segunda classificação é baseada no tipo de glóbulo branco que as células leucêmicas atingem, as linfoides ou as mieloides. A leucemia que afeta as linfoides é chamada de linfoide, linfocítica ou linfoblástica. Já a que afeta as mieloides é chamada de mieloide ou mieloblástica. Se esses subtipos forem agrupados, há quatro tipos mais comuns de leucemia: • Leucemia linfoide crônica: afeta células linfoides e se desenvolve vagarosamente. A maioria das pessoas diagnosticadas com esse tipo da doença tem mais de 55 anos. Raramente afeta crianças • Leucemia mieloide crônica: afeta células mieloides e se desenvolve vagarosamente, a princípio. Acomete principalmente adultos. • Leucemia linfoide aguda: afeta células linfoides e agrava-se rapidamente. É o tipo mais comum em crianças pequenas, mas também ocorre em adultos. • Leucemia mieloide aguda: afeta as células mieloides e avança rapidamente. (Dados retirados do portal do INCA)

PROFESSORES

Larissa Juliana, de 16 anos, acha que aprende mais estudando em casa.

A DOENÇA

Assim como Larissa, muitas crianças precisam desse atendimento especial. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a estimativa de novos casos da doença no Brasil é de 11.370, sendo 5.050 homens e 4.320 mulheres. A leucemia é uma doença maligna que atinge os glóbulos brancos. Células jovens e anormais acumulam-se na medula óssea e causam alterações nas células sanguíneas normais. A leucemia é um dos 23 tipos de câncer. De acordo com o INCA, ela pode ser classificada de duas formas. A primeira diz respeito ao tempo de evolução e pode ser do tipo Crônica ou Aguda. A Crônica é a evolução geralmente mais lenta, pois as células leucêmicas que se desenvolvem mais devagar ainda

Rosiane Haas trabalha há 10 anos na escola regular como professora de Educação Física. Há dois anos, fez um concurso para entrar no programa de ensino hospitalar. Enquanto esperava ser chamada para dar aulas a crianças e adolescentes portadores de alguma doença, que passavam a maior parte do tempo de suas vidas nos hospitais, recebeu uma proposta para trabalhar com alunos que tinham as mesmas debilitações, mas que conseguiam fazer os tratamentos em casa, assim como Larissa. Rosiane é uma das atuais professoras da vestibulanda de 16 anos. Para ela, há dois pontos que diferenciam o ensino domiciliar do regular. Trabalhando com apenas um aluno, a professora consegue fazer render muito mais os estudos. Porém, todos os profissionais da área precisam estudar além de sua especialização. Para o projeto, é inviável disponibilizar o número de professores correspondente ao número de matérias. Cabe àquele professor domiciliar aprender um pouco das outras disciplinas. No caso de Rosiane, Português, Inglês e Artes. Mas é nesse ponto que mora uma das dificuldades enfrentadas pelos professores domiciliares. De acordo com a professora de Educação Física, alguns professores de escolas regulares muitas vezes não concordam com o fato de um profissional, formado em uma determinada área, ensinar conteúdos de outras áreas. Mas, para ela, é uma forma de dar um auxílio ao aluno que não pode frequentar a escola em razão de 16


educação suas debilitações. “É um jeito que a gente encontra de poder ajudar essas crianças a continuar estudando e se sentindo parte do meio social”, explica. Rosiane ainda diz que, quando sente que o aluno não está entendendo, ou que o método utilizado na atividade que foi passada pelo colégio não está funcionando, ela recorre à internet e busca saber mais sobre o assunto, procurar outros conteúdos e outras formas de ensinar. Para que o aluno acompanhe a turma da qual fazia parte antes de passar para o atendimento domiciliar, os professores ficam responsáveis por fazer contato com o antigo colégio e solicitar à pedagoga e a outros professores o conteúdo aplicado no momento. Esse trabalho é feito semanalmente para que não haja defasagem no ensino domiciliar e para que o aluno não perca nenhum assunto. Em 2013, Rosiane trabalhou com três alunos domiciliares ao mesmo tempo. Esse ano, como foi chamada para entrar pelo SAREH (Serviço de Atendimento a Rede de Escolarização Hospitalar) no Hospital Evangélico, dá aulas apenas para Larissa.

“EMBORA MUITAS DELAS JÁ

SAIBAM QUANTO TEMPO AINDA LHES RESTA DE VIDA, ELAS SE MOSTRAM INTERESSADAS” SIRLENE BARROS, PROFESSORA

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O QUE É O SAREH?

O Serviço de Atendimento à Rede de Escolarização Hospitalar (SAREH) foi criado em 2007 quando se sentiu a necessidade de dar atendimento escolar para crianças doentes que não podiam sair de casa ou dos hospitais, pois estavam em tratamento. Dessa forma, crianças e adolescentes que estão impossibilitados de frequentar a escola regular não perderiam o ano letivo e conseguiriam acompanhar o ritmo da classe da qual faziam parte antes de diagnosticar um problema de saúde. Os professores que querem fazer parte do programa precisam estar inseridos na rede estadual de educação e depois fazer outro concurso interno. Somente o professor que passa em primeiro lugar pode escolher o hospital que quer trabalhar. Para os que pegaramconquistaram outras colocações, o local será escolhido por sorteio. Os atendimentos domiciliares fazem parte do SAREH, mas não exigem uma seleção tão rígida. Nesse setor, tanto os professores concursados quanto os PSS (Processo Seletivo Simplificado) podem fazer parte. Quando o aluno está muito debilitado, ele permanece no hospital durante muitos dias e por isso os professores vão até o local para dar aula. Se o aluno ganha um atestado de 60 dias, ele passa a ter o atendimento domiciliar. Caso haja uma melhora, ele volta para casa e tem o atendimento integral dos professores. A professora Sirlene Barros, dá aula em colégio particular há 27 anos e no estado há 4. Em 2012, resolveu se inscrever no SAREH. Passou, e o local de trabalho escolhido para ela foi o Hospital Erasto Gaertner, onde permaneceu apenas durante o ano de 2013. A professora conta que foi uma das melhores experiências profissionais que já teve. “Além de o ambiente ser diferente, você sente que quase todas as crianças e adolescentes querem aprender de verdade. Embora muitas delas já saibam quanto tempo ainda lhes resta de vida, elas se mostram interessadas”, explica. Sirlene comenta que o trabalho vale a pena pois ela sente mais empolgação nos alunos hospitalares do que nos alunos de escolas regulares. E é nesse momento que ela lembra por que escolheu a profissão.


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Em 2015, a Universidade Positivo contará com duas novas unidades: Mercês - Catarina Labouré, com o curso de Enfermagem, e Praça Osório, com cursos de Graduação (Bacharelados, Licenciatura e Tecnólogos) e Pós-Graduação. Outra novidade é o curso de Engenharia de Energia, que atende à demanda por profissionais qualificados em uma área promissora. Agora, você tem mais motivos para estudar em uma das melhores universidades do país.

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compor tamento

AI, QUE

vergonha! Estudos indicam que a condição genética pode ser uma das causas da timidez. Além disso, o isolamento social na infância também contribui para tornar uma pessoa tímida

Por Andressa Turin

Quando você tem que apresentar algum trabalho ou falar para um grande público, sente-se incomodado? Não gosta de ser o centro das atenções? Fica nervoso em situações sobre as quais não têm total controle? Preocupa-se com o que os outros pensam de você e acha que está sempre sendo observado? Se você respondeu afirmativamente para a maioria dessas perguntas, possivelmente você se encaixa no perfil das pessoas tímidas. Mas não se preocupe, você não é o único. De acordo com o Instituto da Comunicação Humana, 56% da população brasileira é tímida, ou seja, mais da metade. Além disso, cerca de 75% a 95% das pessoas afirmaram sentirem-se tímidas em determinadas situações. A timidez é uma condição complexa e pode ser definida como um desconforto, inibição e até mesmo medo em situações de interação social. A psicóloga Fernanda Rossetto explica que o tímido apresenta dificuldade em interagir com o que não conhece bem. “Ele se sente inibido e com desconforto em situações específicas de interação social apresentando, na maioria das vezes, dificuldade para expressar o que pensa e sente”, diz. Eugênio Macedo, arte-educador, palhaço e ator se define como um “tímido desinibido”. Sua principal dificuldade por conta da timidez é em conversar com as garotas. “Uma vez tive que inventar uma esposa, sendo que nem namorada eu tenho”, conta. O bancário, Rômulo de Oliveira, também se considera uma pessoa tímida e acredita que a timidez atrapalha muito sua vida. ”Só consegui emprego aos 26 anos, quando passei no concurso da Caixa, pois não consigo passar em dinâmicas de grupo ou entrevistas. E no meu emprego não consigo ser promovido pelo mesmo motivo”. Além disso, Rômulo conta que sempre que pode deixa de sair. “Fora de casa me sinto meio perdido, então geralmente, quando consigo sair, fico ansioso para ir embora logo”, relata. 19


CAUSAS E SINTOMAS

O artigo “Aspectos cognitivos, emocionales, genéticos y diferenciales de la timidez”, escrito por A. Cano Videl e outros três autores, fala da existência de diferentes tipo de timidez. Quem distinguiu esses três grupos foi o professor da Universidade de Stanford, Philip Zimbardo. No primeiro grupo, estão os indivíduos que não têm medo da interação social, simplesmente preferem ficar sozinhos, sentem-se mais à vontade com suas ideias do que quando estão rodeados por pessoas. No segundo grupo, estão aquelas pessoas com baixa autoestima, que, pela falta de confiança em si mesmos, acabam evitando o contato com outras pessoas. No último grupo, estão os indivíduos que se sentem aterrorizados pela eventual possibilidade de não conseguirem atingir suas expectativas sociais e culturais. Em relação às principais causas da timidez, existem pesquisas que indicam que a hereditariedade é uma delas. Um estudo realizado com gêmeos idênticos constatou que a timidez está mais relacionada com a questão hereditária e genética do que com características da personalidade. Apesar de alguns estudiosos acreditarem que a timidez possa ser herdada, eles acreditam, também, que ela está diretamente relacionada com as interações que as crianças têm com os outros. A falta de experiências sociais e isolamento social na infância acabam atrapalhando muito e são as principais razões para a pessoa tornar-se tímida. As interações que as crianças desenvolvem na infância ajudam a superar ou pelo menos diminuir a timidez, contudo, mesmo que elas possam aprender a interagir socialmente, dificilmente crianças rotuladas como tímidas em seu primeiro ano de vida serão capazes de tornar-se extrovertidas até os 7 anos de idade. Para a psicóloga Fernanda Rossetto, não é possível afirmar se a timidez é algo intrínseco da pessoa ou se é adquirida com o tempo. Na verdade, ela acredita que é a junção desses dois fatores. “O indivíduo pode possuir a predisposição a ser mais retraído, ou seja, necessitar do desenvolvimento da habilidade social de comunicação e civilidade para superar a timidez ou não possuir tal predisposição, mas não estar inserido em ambiente que estimule

as habilidades sociais necessárias”, explica. Já a psicóloga Rosangela Cardoso acredita que a timidez vai sendo adquirida com o tempo. “A matriz afetiva, o lugar e ordem dessa criança na família, onde ela se desenvolve, os valores, regras e expectativas, tudo isso acaba contribuindo para que ela se torne ou não uma pessoa tímida”, diz. A timidez pode apresentar diversos tipos de sintomas: cognitivos, afetivos, comportamentais e fisiológicos. Entre os sintomas cognitivos, estão o pensamento negativo sobre si mesmo, perfeccionismo e medo de avaliação negativa. Os afetivos estão relacionados a vergonha, tristeza, depressão, baixa autoestima e solidão. Fernanda Rossetto explica que os sintomas fisiológicos estão relacionados com a ansiedade. Nesses casos, a pessoa pode apresentar sudorese, batimento cardíaco acelerado, falta de ar, tremores, dificuldade para falar, boca seca, gagueira e rubor. E, por fim, os sintomas comportamentais que são a inibição, passividade, baixo volume de voz e apresentação de comportamentos nervosos.

INTROVERSÃO X TIMIDEZ

Apesar de o tímido e o introvertido compartilharem muitas características parecidas, a timidez e introversão não podem ser tratadas como sinônimos. É importante alertar para o fato de que uma pessoa pode ser introvertida, mas não necessariamente tímida. A inibição está mais relacionada a situações específicas, enquanto que a introversão diz respeito a um comportamento mais generalizado. “Na timidez, a pessoa foge de situações que lhe causam alguma insegurança ou medo. Já o introspectivo pode ser mais quieto e silencioso, porém, quando solicitado, sabe se colocar, se apresenta e se mostra”, explica Rosangela Cardoso. No livro “Psicología Del Desarrollo: Infancia e Adolescencia”, os autores Ross A. Thompson e Kathleen Stassen verificaram que as características da personalidade introspectiva podem ser observadas a partir de 1 ano de idade, podendo inclusive aparecer nos primeiros meses de vida. Essas características continuam evidenciadas na infância, manifestando-se por meio de condutas inibitórias perante experiências desconhecidas.

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compor tamento SUPERAÇÃO

Trabalhar o desenvolvimento de habilidades sociais com um psicólogo em terapia individual ou em grupo também pode ser um recurso para superar a timidez, explica a psicóloga Fernanda Rossetto. Outra opção pode ser o teatro terapêutico. A professora de teatro, Léa Albuquerque, explica que o objetivo do teatro terapêutico é trabalhar os medos e a timidez sem a obrigação de enfrentar uma plateia. A professora conta que o curso tem bastante procura de pessoas que se dizem tímidas e que a inibição é trabalhada por meio da arte terapia. “O primeiro passo para a superação é a pessoa perceber que precisa de ajuda para algo que a incomoda, esse é o primeiro desafio”, acredita.

Eugenio Macedo encontrou no budismo uma maneira de superar a timidez. “Com o budismo me encontrei, achei uma forma de me valorizar, de me reformar diariamente, de procurar evoluir e ajudar os outros”, conta. Eugenio fez teatro pelo desejo de ser artista mesmo, mas afirma que o curso acabou ajudando-o a trabalhar a timidez, pois aprendeu a lidar com o público. Outra coisa que ajuda o ator é participar de grupos específicos para tímidos na internet. “Esses grupos são uma ótima oportunidade de pessoas como eu, que não têm com quem conversar, se abrirem”. Além disso, o sonho de aprender forró tem ajudado Eugenio a se soltar mais.

Quando a timidez deixa de ser saudável A timidez não é considerada doença, mas um mecanismo de defesa que faz a pessoa avaliar novas situações com mais cautela. Contudo, é importante ficar alerta, pois a timidez excessiva pode desencadear outras doenças, como depressão e fobia social. A psicóloga Rosangela Cardoso explica que deixar de sair, não se relacionar e viver perdas significativas por conta dessas condutas pode ser um sinal de fobia social. Essa fobia pode ser detectada quando o isolamento aumenta. “A pessoa evita situações básicas da existência, deixando de ir a lugares corriqueiros como mercado, escola, reuniões com amigos e familiares”, relata a psicóloga. Para esses casos, o tratamento mais adequado é a pessoa aceitar que tem um problema e buscar ajuda de um profissional. Ela pode ser atendida por um psicólogo ou psiquiatra e em determinados casos utilizar alguma medicação para auxiliá-la. Além da fobia social, um estudo realizado pelo Instituto da Universidade da Califórnia (UCLA) revelou que a timidez pode ser mortal. A pesquisa publicada na edição de dezembro da Revista Biological Psychiatry relata que pessoas tímidas são mais suscetíveis a infecções do que pessoas extrovertidas. Os cientistas da Universidade realizaram o estudo com 54 homens infectados pelo vírus do HIV e ficaram surpresos ao descobrirem que as drogas antirretrovirais quase não surtiram efeito nos pacientes mais tímidos, pelo contrário, o sistema imunológico dos tímidos replicou o vírus de 10 a 100 vezes mais rápido que nos demais pacientes.

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PÓS-GRADUAÇÃO UP.

ONDE OS ALUNOS SÃO REFERÊNCIA. Cursos de Especialização nas áreas de: Biociências Ciências Contábeis Computação Comércio Exterior Comunicação

INFORMAÇÕES: (41) 3250-3737 www.up.com.br/pos

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Saúde e Bem-Estar

REFERÊNCIA PARA SEU FUTURO.


compor tamento

vida real

EM CENA


Profissionais que permaneceram nas coxias do grande evento mostram como a quinta arte está distante do povo

Por João Lemos André Ferraz Rodrigues, morador do bairro Pilarzinho e dono da loja virtual Super Fly Sales, trabalhou como maquinista no Festival de Curitiba 2014. Resolver problemas inesperados, contribuir para a montagem e desmontagem de cenários e comprar maquiagem para os atores que ensaiavam a entrada em cena foram algumas de suas atribuições nas duas semanas do maior evento de teatro do Brasil, de 25 de março a 6 de abril. Imensa responsabilidade para quem nunca antes havia mergulhado nos encantos da quinta arte, tendo pisado poucas vezes em solo de plateia atenta aos movimentos de atores com ampla experiência – André vai ao teatro apenas três vezes por ano, uma média irrisória em comparação com a frequência ao cinema: uma por mês. “Tenho conhecimento zero de teatro e entendo pouco do festival, mas quebrei um ganho na bilheteria, por exemplo, porque na hora não tinha ninguém para vender os ingressos”, reflete o rapaz, sobre sua representatividade no grande evento. Mas, embora ele mesmo reconheça que desempenhou um papel importante no Festival de Curitiba, é certo que foram poucos os que pararam para pensar em toda a estrutura humana que esteve envolvida nos bastidores dos cerca de 400 espetáculos promovidos – prova disso talvez seja a queixa do próprio André, de que a quantia em dinheiro recebida pelo trabalho temporário não tenha correspondido à carga horária: “Teve uma vez que trabalhei das 9h às 1h30 do outro dia”. Na mesma situação de André, estiveram vários outros profissionais, entre os quais Ronaldo Cezário, que, há cinco anos guardião do Teatro Guaíra, trabalhou duro no evento para garantir a segurança do público. “Sei que meu trabalho foi importante para manter as pessoas confortáveis e protegidas de, por exemplo, incêndios e arrastões”, explica. Além disso, Ronaldo, que se considera um elemento essencial na organização do Guaíra, conta que se manteve sempre pronto para ajudar no acesso de pessoas com deficiência (PCDs). Do mesmo modo, a bilheteira do Teatro Regina Vogue, Mariana Moura Orthey, sabe que sua classe de profissionais foi fundamental para a realização das atividades que encantaram o público do Festival de Curitiba, estimado em 230 mil pesso-

as. “Sem ingresso ninguém entra e não há lucro”, argumenta. Apesar de trabalhar na entrada de um dos mais significativos teatros da capital, Mariana prefere consumir outros produtos culturais, em especial o cinema, assim como André. “Só assisto a peças quando consigo sair da bilheteria a tempo”, completa. Assim, além do fato de terem pertencido, de certa forma, a uma mesma hierarquia profissional dentro da grande indústria que é o Festival de Curitiba, houve um fator em comum na tarefa que André, Ronaldo e Mariana cumpriram, tornando-os ainda mais próximos: o pertencimento a um grupo alienado, cuja força-tarefa não foi reconhecida no produto final da cadeia produtiva, ou seja, nas encenações. Os três permaneceram limitados às funções que lhes foram delegadas, não por terem sido impedidos de assistir às peças – afinal, todos eles foram presenteados com a oportunidade de, nas horas vagas, fazer a vez de público -, mas, sim, por limitações de caráter sociológico.

HABITUS De acordo com o sociólogo Nei Ricardo de Souza, existe na sociologia um conceito que sugere que cada indivíduo é construído e moldado com base no conjunto de disposições presentes no grupo humano em que ele está inserido. Trata-se do habitus, por meio do qual, à medida que se concretiza o processo de interação, os padrões de escolha do grupo vão sendo perpetuados por uma ação orquestrada. “E é assim que preferências estéticas e o acesso aos produtos culturais podem ser entendidos como parte desse habitus, que será transmitido de geração a geração”, contextualiza. Para Souza, existe nesse processo esquemas de adaptação e mudança, mas, em essência, a tendência é de que o modo de funcionamento aprendido seja reproduzido. Isso pode justificar o fato de, em geral, camadas específicas da sociedade terem mais acesso a determinadas formas de arte, como o teatro. “Antigamente, o teatro, de influências europeias, era frequentado pelas famílias ricas, que nem sempre tinham a intenção de consumir a arte, mas apenas de socializar”, analisa a pesquisadora em Arte e professora de Teatro do Colégio Positivo, Rafaela Ricardo. Segundo ela, essa cultura de ver o teatro como um ambiente restrito a segmentos sociais repercute até hoje, o que, em partes, é comprovado pela concorrência desigual com o cinema, a chamada sétima arte. “O cinema é mais amplo – tomemos como exemplo as produções de Hollywood, que têm um conteúdo mais popular”, afirma. Para Rafaela, além do fator histórico, a popularidade do cinema em detrimento do teatro é também consequência da divulgação realizada pelos meios de comunicação, que alimentam o interesse do público por conteúdos específicos. No entanto, ela afirma que o que torna o teatro inacessível para muitos não é sua linguagem, mas as propostas cênicas, algumas das quais, por sinal, já são dirigidas a públicos bem diversificados. E essa estratificação da produção cultural, que 24


compor tamento abrange outros segmentos culturais, como cinema, literatura, shows e exposições, na concepção de Souza, tem ligação direta com as definições sociológicas do conceito de habitus. “Em dias de entrada grátis em museus, por exemplo, vemos as mesmas pessoas que compareceriam em dias normais, com entrada paga. Ou seja, quem não desenvolveu o habitus de frequentar exposições, não irá apenas por que não precisa pagar”, diz. Com o teatro, o mesmo acontece. Para o sociólogo, entre os condicionantes sociais que determinam as preferências culturais das pessoas está a escolarização, que, em tese, tenderia a reduzir diferenças sociais, oferecendo oportunidades de acesso a todos. “Na prática, contudo, o que se verifica é que mesmo o processo de escolarização acaba reproduzindo as desigualdades, no sentido de que alunos de classe baixa estudam em escolas de classe baixa, com materiais de classe baixa”, explica. Segundo ele, essa realidade contribui para a perpetuação das ideias vigentes nesse grupo de pessoas, dentro de uma lógica de estratificação não apenas de renda, mas também dos gostos.

TRABALHO ALIENADO

No artigo A gestão por competências: uma nova forma de segmentação do trabalhador e do trabalho, os pesquisa-

dores João Henrique de Miranda Neto, Lairton Lira Cruz Junior e Célia Cristina Zago afirmam que a essência do capitalismo, especialmente o que vigorou no século XX, está no padrão produtivo taylorista/fordista, que consiste no trabalho parcelado e fragmentado e na decomposição e racionalização das tarefas de um empreendimento. Isso tudo como estratégia para economia de tempo e dinheiro na produção, em uma dinâmica que suprimiu a dimensão intelectual do trabalho. Ou seja, nesse processo, o trabalhador ignora o todo da produção, tornando-se uma espécie de apêndice do maquinário que viabiliza a fabricação em larga escala, sem condições de identificar no produto final sua contribuição profissional – foi o que aconteceu, em outra ancoragem, com André, Ronaldo e Mariana durante o Festival de Curitiba 2014. A alienação e exploração que caracterizam o trabalho operário são muito bem retratadas no filme Tempos modernos, no qual Charles Chaplin satiriza o cotidiano em uma fábrica, criticando o sistema capitalista de produção o grande paradoxo da época: ao mesmo tempo em que a criação das máquinas traria o bem-estar de alguns grupos sociais, ela provocaria a humilhação e o sofrimento de tantos outros, por meio de condições desumanas de trabalho.

Festival de Curitiba e a popularização da quinta arte É evidente que o Festival de Curitiba não constitui uma autêntica representação da indústria capitalista atual, nem tampouco daquela que serviu de inspiração para uma das obras cinematográficas mais importantes da humanidade, estrelada por Chaplin. Afinal, ele é realizado, desde 1991, com objetivos admiráveis: espelhar e discutir as artes cênicas nacionais, valorizando a produção local, e contribuir para o desenvolvimento cultural de Curitiba e do Brasil como um todo. Para a professora Roselaine Telli, por exemplo, que assistiu à peça Pequenas caquinhas pela oitava vez no festival deste ano, o Festival de Curitiba é uma forma importante de levar ao público elementos importantes da linguagem teatral. Mas, será que o evento tem o apelo popular e o alcance que tantos amantes dessa arte desejariam? Para Franklin Sousa, que trabalhou como técnico de iluminação durante as duas semanas, certamente não. Ele, que já realizou diversos trabalhos como ator por todo o Brasil, afirma que o Festival de Curitiba tem, sim, caráter elitista, classificado como um dos eventos de teatro mais caros do país. Em Santa Catarina, por exemplo, explica Franklin, os ingressos das montagens de festivais custam bem menos, tornando as atrações mais acessíveis e populares. Mas, de acordo com ele, isso não quer dizer que o teatro como um todo seja restritivo: “a baixa adesão não tem a ver com as características do teatro. Trata-se de uma questão cultural – tem gente que prefere ver um Atletiba que custa R$ 60 do que assistir a uma peça”. Assim, o pensamento de Franklin converge

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com as explicações de Souza: ambos acreditam que, não apenas a estrutura de um festival de teatro deixe de atender às reais necessidades da população, mas também os fatores sociais, que determinam as preferências artísticas dos indivíduos. Mesmo assim, o público do Festival de Curitiba mostrou-se bastante otimista quanto à sua teórica popularidade. Tanto para a secretária Jully Anne Zink Moreno quanto para a professora Bruna Souza Silva, que levaram suas filhas para prestigiar a peça Patinho Feio, no Teatro Lala Schneider, no dia 5 de abril, discordam da afirmação de que o evento é restritivo do ponto de vista social, inclusive por constar na programação montagens mais “simples”, como as que foram encenadas na rua, e baratas. O fato é que a democratização da cultura em vários pontos do Brasil, especialmente os de colonização marcadamente europeia, como é o caso de Curitiba, ainda não se concretizou de forma plena. Mesmo assim, há casos interessantes que reacendem as esperanças de que o teatro, em particular, ganhará o povo brasileiro, em todas as suas diversidades. Souza dá dois exemplos, que, embora tenham ocorrido em caminhos opostos, promoveram o mesmo bem social: “a capoeira, que, bastante discriminada em um passado recente, alastrou-se pelas classes sociais e foi aceita; e a fotografia, que, originalmente patrimônio da elite, aproximou-se das classes baixas”. Isso sugere que, talvez um dia, novos Andrés, Ronaldos e Marianas sejam mais convidados a compreender o rico significado do teatro brasileiro.


O Grupo de Teatro da Universidade Positivo apresenta uma das mais aclamadas comédias de Oscar Wilde:

A Importância de Ser Honesto Entrada gratuita Elenco: Eduardo Ferraz, Flávia Gasparin, Guilherme Rodrigues, Jéssica Tonioti da Purificação, José Estevam, Patrícia Coffacci, Roberta Schwanke, Roderlei e Walmy Kauling Direção: Pamela Stival

Datas: 13, 14 e 15 de outubro | Horário: 20h30 Local: Teatro Positivo – Pequeno Auditório – Estacionamento E8 Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – Campo Comprido


compor tamento

O PERIGO DO

primeiro gole Pesquisas apontam que o índice de dependência do alcoolismo em adolescentes está se elevando, e a facilidade para comprar bebidas contribui significativamente para esse aumento

Por Alessandra Becker

Falar e escrever sobre problemas da sociedade não é nada fácil. A dificuldade é maior ainda quando se trata de adolescentes. Quando pensamos em dependência do alcoolismo, na maioria das vezes, imaginamos pessoas mais velhas, mas o fato é que, cada vez mais, os nossos jovens brasileiros estão se tornando dependentes do álcool. O assunto é delicado, mas é mais comum do que podemos imaginar. Uma pesquisa feita em 2013, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, avaliando adolescentes entre 13 e 15 anos, revela que mais da metade dos adolescentes brasileiros já ingeriram bebida alcóolica. Aprofundando os resultados, mais de 30% dos jovens afirmaram que tomaram a primeira dose aos 13 anos, ou até mesmo antes dessa idade, e mais de 20% afirmaram já ter bebido excessivamente chegando ao ponto de apresentar sinais de embriaguez. Números extremamente preocupantes, pois no Brasil o consumo de bebida alcóolica para menores de 18 anos é proibido por lei, mas na prática não é bem assim que acontece. Então, cabe à pergunta: como a bebida chega até os jovens? Segundo a pesquisa realizada pelo IBGE, em primeiro lugar os adolescentes responderam que é por meio das festas, depois com amigos, na sequência vem mercado, lojas, bar ou supermercado, e infelizmente em quarto lugar está à própria residência. A psicóloga Heloisa Carvalho, especializada em Psicologia para Adolescentes, fala que é inadmissível, pais e familiares fornecerem bebidas alcóolicas para os jovens menores de idade dentro da própria casa, pois os adolescentes que se tornam dependentes do álcool iniciam bebendo poucas quantidades. Tudo começa aos poucos, e de pouquinho em pouquinho o excesso vai tomando conta, até infelizmente alguns casos chegarem ao ponto do internamento”, declara Heloisa. Dados sobre alcoolismo Em 2004, uma pesquisa foi realizada pelo 27


Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) e pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad). Na época, o consumo de bebida alcóolica por adolescentes de 12 a 17 anos já era de 54% e, desses, 7% já apresentavam sinais de dependência. As pesquisas envolvendo o tema álcool x adolescência aqui no Brasil estão cada vez mais raras e escassas. Em 2001, a pesquisa já havia sido aplicada para adolescentes da mesma faixa etária, e os resultados obtidos não foram muito diferentes, ou seja, 5% deles já apresentavam sinais de dependência. Certamente, no ano de 2014, os índices devem estar muito mais elevados. Se calcularmos com base em ambas as pesquisas realizadas em 2001 e 2004, em que 5% e 7%, respectivamente, dos jovens já apresentavam sinais de dependência do álcool, temos que em 2014 o número seria aproximadamente de 13,6%. Outro estudo feito recentemente pela Organização das Nações Unidas (ONU), sobre consumo de bebida alcóolica entre os adolescentes nos países da América Latina, deixou o Brasil no pódio, alcançando o terceiro lugar. Foram entrevistados 347.771 meninos e meninas, de 14 a 17 anos, do Brasil, da Argentina, da Bolívia, do Chile, do Equador, do Peru, do Uruguai, da Colômbia e do Paraguai. Dos jovens brasileiros, 48% admitiram ter ingerido bebida alcóolica. Para a psicóloga Heloisa Carvalho, os índices das pesquisas são muito alarmantes, pois o alcoolismo é desenvolvido pela rotina excessiva de consumo da bebida e talvez muitos dos jovens nem se deem conta de que estão se tornando alcoólatras. “Eles nunca aceitam a hipótese, acreditam que nunca vai acontecer com eles, talvez não agora, mas sim no futuro, o que é bem mais complicado”, explica a profissional.

OS ADOLESCENTES

Para eles, a fase é de curtir a vida, aproveitar ao máximo, conhecer pessoas novas, mas infelizmente na grande maioria das rodinhas de amigos sempre tem alguma bebida alcóolica. Nem que seja um encontro para bater papo, jogar conversa fora, fofocar, a presença da bebida é quase certa. Quem pensa que o alcoolismo é um problema que só atinge os adultos está muito enganado. Os jovens também podem se tornar dependentes do álcool e os malefícios para o corpo e para a mente são extremamente maiores neles. O médico clínico geral, Altair Marques, alerta que, nos jovens menores de 18 anos, o uso excessivo do álcool pode se tornar mais grave que nos demais, levando a casos de demência. Além de problemas com intoxicação, o adolescente também pode desenvolver cirrose, problemas cardíacos e até mesmo câncer. “É preocupante, porque apesar de todos esses riscos eles continuam a beber abusivamente, hoje em dia beber é uma forma de os jovens mostrarem que são fortes aos seus colegas”, conclui o médico. Entre as várias consequências citadas acima que são adquiridas em longo prazo, também há as de curto prazo, não menos preocupantes, como dor de cabeça, tontura, comportamentos antissociais, vômito, enjoo, mal-estar e perda de controle.

“ERA DIVERSÃO. NA ILUSÃO EU ME SENTIA MELHOR QUE OS OUTROS, NA VERDADE ESTAVA ME PASSANDO POR BABACA” LUIZ AUGUSTO, ESTUDANTE

A REALIDADE

O começo foi igual ao de muitos, aos 12 anos de idade, pedindo alguns golinhos de cerveja para o pai nos churrascos de domingo, sem nenhuma malícia e não visando os problemas futuros o pai não negava. Na geladeira de casa nunca faltava bebidas, tinha para escolher. Nas visitas dos amigos a sua casa, sempre dava um pulo na cozinha para pegar um “pouquinho” de bebida escondido dos pais e compartilhar com os colegas; ficar embriagado era uma diversão. E foi de pouquinho em pouquinho que Luiz Augusto Alves se tornou um adolescente dependente do álcool. Sem ver nenhum problema na situação, quando completou 16 anos começou a sair para festas e fazer bebedeira atrás de bebedeira. Durante a semana deixava de entrar no colégio para ir beber com os amigos em um posto de gasolina próximo. O número de faltas foi aumentando, então o colégio entrou em contato com os pais para saber o que estava acontecendo. E então veio a surpresa, em uma reunião com os pedagogos do colégio e os pais, Luiz admitiu que faltava aula para ir ao posto com os seus colegas. A situação foi se agravando e o jovem não admitia que estivesse bebendo em exagero. “Para mim aquilo era diversão, na ilusão eu me sentia melhor que os outros, mais divertido, na verdade estava me passando por babaca”, conta Luiz. Quando Luiz Augusto estava com 18 anos de idade, o pai, Carlos Alves, e a mãe, Maria Clara Alves, notaram que a situação estava chegando ao limite. “Sexta, sábado e domingo era direto, alguns dias da semana também, a gente até pedia que ele não ingerisse tanta bebida alcóolica, mas não adiantava, toda vez era a mesma coisa, chegava em casa muito bêbado”, recorda a mãe Maria Clara. Com a repetição dos episódios semana seguida de semana, os pais resolveram levar Luiz Augusto a um psicólogo e ao médico, mesmo ele não concordando. O jovem afirmava que se embriagava só de vez em quando. “Eu não me dava conta que eu mesmo, tão novo, estava acabando comigo mesmo, na verdade eu não queria aceitar”, diz Luiz. Então, após as primeiras consultas, o diagnóstico, Luiz Augusto Alves, de 18 anos, estava com sinais de dependência da bebida alcóolica. Foi um baque para mim e minha esposa, nem imaginava que chegaria a esse ponto, mas chegou. A gente sempre pensa, com outro acontece, comigo não”, conta o pai Carlos Alves. 28


compor tamento No primeiro momento, houve a revolta do adolescente após saber do diagnóstico, reação considerada natural pelos psicólogos. “Eles não aceitam, acham que esse problema acontece apenas com pessoas mais velhas, o apoio da família nessa hora é imprescindível”, explica a psicóloga Heloisa Carvalho. E apoio da família foi o que não faltou para Luiz Augusto Alves, que iniciou um longo tratamento contra o alcoolismo, fez diferentes tipos de terapias e passou a acompanhar palestras sobre temas que envolviam bebida alcóolica. Hoje, com 24 anos, ele se considera livre do vício. Embora tenha sido descoberto no início, o tratamento foi difícil, é difícil aceitar que você é um “mini” dependente, mas com o apoio dos meus pais e dos profissionais que me auxiliaram, estou livre disso”, fala Alves. Na casa da família Alves, não entra mais bebida alcóolica nem nos churrascos de domingo e nem na geladeira. Com o problema do Luiz, resolvemos deixar esse mal de lado e a vida está sendo muito melhor, não faz nenhuma falta”, conclui a matriarca da família Maria Clara.

COMO DEVO AGIR COM MEU FILHO? Psicóloga dá dicas de como os pais podem alertar os filhos sobre esse mal

EFEITOS PREJUDICIAIS DO ÁLCOOL NAS ADOLESCENTES

A psicóloga Heloisa Carvalho, especializada em Psicologia para Adolescentes, conversou com a nossa equipe de reportagem, e deu dicas sobre como pode ser o diálogo de pais e filhos sobre o alcoolismo. Segundo ela, o assunto é tão delicado quanto o de drogas ilícitas, ou seja, proibidas por lei, e não deve ser deixado de lado pelos pais. Para a psicóloga, os pais precisam ser exemplos para os seus filhos, não devem beber excessivamente em casa e nem em eventos e em hipótese alguma dirigir embriagado. “Às vezes alguns pais infringem a Lei Seca e acabam dirigindo alcoolizados. Que exemplo eles poderão dar para seus filhos?”, questiona Heloisa. Eles devem sempre buscar informações sobre o alcoolismo e não ter receio de conversar com os filhos e mostrar os inúmeros malefícios da bebida. Levá-los a encontros do Alcóolicos Anônimos talvez seja uma boa válvula de escape. “Assim eles verão de perto como o álcool pode prejudicar a vida de um indivíduo, e terão consciência do tamanho mal que a bebida faz”, diz a psicóloga. Participar da rotina dos jovens, estimular hábitos saudáveis, mas, acima de tudo, procurar escutar os filhos, saber o motivo que os levou a experimentar a bebida, aconselhá-los sobre as amizades e ter a sensibilidade de entender os seus porquês é o que a profissional mais indica. “Não adianta querer ser rude, assim a situação só tende a piorar, os pais devem ter muita paciência para ouvir os filhos e não querer só falar e falar”, conclui a psicóloga.

Um grande equívoco é pensar que só o sexo masculino é quem tem problemas com a bebida alcóolica. Uma pesquisa divulgada em 2013 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, mostra que as meninas com idades entre 13 e 15 anos, lideram o resultado na hora de experimentar a droga lícita. 51,7% delas afirmaram já ter ingerido bebida alcóolica, enquanto a porcentagem masculina é de 48,7%. Mas será que os efeitos no sexo feminino e no sexo masculino são os mesmos? Nas meninas, as consequências são bem mais sérias. Segundo o médico clínico geral, Altair Marques, na mulher, o padrão enzimático de absorção do álcool é muito mais rápido que nos homens. “ O organismo delas têm menos água que o dos meninos, por isso a concentração alcóolica no sangue feminino será sempre maior”, explica Marques. Para o médico, essa alta no índice de consumo de bebida alcóolica das adolescentes é muito preocupante, pois elas estão começando a beber precocemente e ingerindo grandes volumes de bebida. No futuro, elas têm grandes probabilidades de apresentar sinais de dependência alcóolica, mas esse não é o único problema. “Lá na frente, quando já forem adultas, elas sentirão os grandes prejuízos biológicos, que beber na adolescência lhes causou”, finaliza o profissional.

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VI Conaenf Conclave dos Acadêmicos de Enfermagem 2014

nos diferentes cenários de atuação

24 de Outubro de 2014

Local: Universidade Positivo - Bloco Amarelo - Auditório 2 | Horário: das 8h às 18h | Investimento: R$ 45

Inscrições: de 01/08 a 17/10, pelo site up.edu.br/extensao/conclave-de-academicos-de-enfermagem

Informações: conaenf@universidadepositivo.com.br e 3317-3016 UNIVERSIDADE Graduação Enfermagem


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crack

O DRAMA DE UMA ESCOLHA


Cerca de 80% das crianças brasileiras são abandonadas por pais usuários de drogas. Doenças físicas, transtornos mentais e problemas sociais são apenas algumas das consequências comuns a essa “simples” escolha. Por Isadora Nicastro

Apenas um dia, uma oportunidade, um trago é o que precisa para o crack mudar a vida de alguém. E assim aconteceu com Maria*, de 31 anos. Uma mulher honesta, de família simples, se viu de frente com o crack, oferecido pelo homem que mais amava: seu marido. Anos depois, essa mesma mulher encontra-se uma situação de desespero: sem marido, sem dinheiro, surda, sem a capacidade de falar direito, sem a guarda dos três filhos, sem o apoio da família. São muitos “sem” para apenas uma frase. Isso foi o que o crack fez com a vida de Maria. “Até aquele dia, eu não sabia o que era droga e, depois, eu usava muita. Droga de dia, droga de tarde, droga de noite. Droga de dia, droga de tarde, droga de noite”. Mas foi com brilho nos olhos, sorriso simpático e abraço afetuoso que Maria me recebeu para a nossa conversa. Há quatro meses sóbria e internada em uma clínica de reabilitação, ela me pergunta, com dificuldade na fala: “Está vendo como estou bonita, forte? Quando eu entrei aqui estava só osso!”, comemora a vitória. A história de Maria é mais uma daquelas tristes que encontramos em qualquer viaduto das capitais brasileiras. Aos 18 anos, muito jovem, Maria engravidou de sua primeira filha, que desconhece o pai. Depois disso, casou-se com um homem, que era surdo. Ele era de São Paulo e segundo Maria, de uma família muito rica. Desolado por sua deficiência, passou a usar drogas e ofereceu à mulher, que, sem saber o que era, aceitou. Mesmo levando-a para esse mundo, Maria me conta: “Ele tem muito bom coração, sabia? Eu amo muito ele.”. A família de Maria, então, percebeu a mudança de comportamento dos dois, que fugiram de casa e deixaram com a avó a primeira filha de Maria e outro menino, fruto do casamento deles. Perambulando entre as marquises da Grande São Paulo ou de Curitiba, nos últimos quatro anos, Maria viveu na rua.

HERDEIROS DO VÍCIO

Desde que começou a usar drogas, Maria engravidou três vezes. Na primeira, fez uso de maconha, mas poucas vezes. Seu filho, no entanto, nasceu saudável. Sua segunda gravidez foi de gêmeos, que morreram antes mesmo de chegar ao hospital. A causa do aborto: o crack. Mas o que torna Maria a personagem dessa história foi sua terceira gravidez, de Camila*. Durante os nove meses de gestação, Maria usou o crack. Até o momento do parto, a gravidez não apresentava problemas. As consequências de usar droga na gravidez já se manifestaram após o parto: Maria precisou ficar dois meses no hospital para a sua recuperação e do bebê. Depois de sair com sua filha, continuou usando crack, mesmo amamentando. “Fumei muita droga quando estava grávida. Ela estava mamando no peito e eu continuei usando o crack. Eu sei que ela também usou porque ela puxou fumaça, o cheiro”, conta. Foi só depois de outros nove meses, que Maria percebeu algo errado com a sua filha e se apavorou: “Um dia eu estava amamentando e quando eu percebi ela estava toda mole, bem mole. Então fiquei desesperada!”. Essa situação choca, mas a história de Maria não é a única. Em uma pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com o Ministério da Saúde, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e o Ministério da Justiça, são 74 mil mulheres fazendo o uso de crack no país. Somente entre as mulheres usuárias de drogas que participaram da pesquisa, cerca de 10% relataram estar grávidas no momento da entrevista. Mais da metade delas já havia engravidado ao menos uma vez desde que iniciou o uso do crack ou similar.

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“UM DIA EU ESTAVA AMAMENTANDO E QUANDO EU PERCEBI ELA ESTAVA TODA MOLE, BEM MOLE. ENTÃO FIQUEI DESESPERADA! ”

todo que alguém entre em contato com sua mãe para que ela faça todos os exames necessários que possam comprovar a boa saúde da filha. De qualquer forma, com os cuidados da avó, a menina ganhou peso e já completou quatro anos. Maria se derrete pela filha: “Ela fala muito. Está forte e linda também. Diz que me ama e que sente saudades”.

MARIA, USUÁRIA DE CRACK HÁ 4 ANOS

O PODER DO CRACK

Para o Ministério da Saúde, esse número é preocupante devido às consequências do consumo do crack durante a gestação sobre o desenvolvimento neurológico e intelectual das crianças expostas. Segundo o médico neonatal Paulo Roberto Margotto, além de más-formações cerebrais, os recém-nascidos expostos à cocaína apresentam maior risco de más-formações cardiovasculares, alterações visuais e auditivas. “Os recém-nascidos expostos à cocaína intrauterina apresentam menor peso ao nascer, menor comprimento e menor perímetro cefálico. Tais efeitos são maiores com o uso de crack, do que com a cocaína”, explica. O médico também afirma que,nas crises de abstinência em recém-nascidos, 70% das manifestações são do sistema nervoso central: hipertonia, tremores, irritabilidade e inquietação, choro agudo, distúrbio do sono e convulsões. O restante das manifestações é do trato respiratório e gastrointestinal, como crises de apneia, diarreia, vômito e deglutição deficiente. Além dessas doenças, o psicólogo Lucas Mendonça Kafka, que trabalha em uma clínica de apoio, acentua a ocorrência de transtornos psicológicos e afirma que as crianças que nasceram de uma mãe “drogadita” desenvolvem uma pré-disposição a usarem a droga quando adultas. Hoje Camila, a filha da Maria, não apresenta nenhum problema de saúde, entretanto, Maria pede o tempo

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“Não queria deixar três filhos sem uma mãe. Mas não conseguia sair, só queria droga, droga, droga. Entrei em depressão, perdi meus filhos, fiquei muito culpada. Então usei mais droga, droga, droga!”. Maria se arrepende. Antes de engravidar de Camila, o Conselho Tutelar já havia retirado de Maria a guarda das outras crianças e dado a sua mãe. Logo depois, Camila também foi levada aos cuidados da avó quando completou um ano. Mas existem outras crianças que não têm a mesma sorte de ter uma avó para cuidar. Nas 2.754 entidades de acolhimento institucional, como abrigos, existem 30 mil crianças abandonadas. Mais de 80% delas foram encaminhadas pelo conselho tutelar por dependência química ou alcoolismo dos pais. Outro dado preocupante é que 47% dos adultos usuários de drogas já moraram na rua. Consequentemente, pelo menos 19,2% das crianças e adolescentes acolhidos nos programas do governo também não tinham casa. Esses dados foram apurados pelo Conselho Nacional do Ministério Público, na pesquisa “Um olhar mais atento aos serviços de acolhimento de crianças e adolescentes no país”, feita em 2013. Nela, também foi constatado que em 75% das entidades de acolhimento institucional existem crianças que não recebem visitas dos pais por mais de dois meses. Segundo a análise, trata-se de um quadro de extrema gravidade, já que, quanto menor a frequência das visitas, as chances de reinserção bem-sucedida da criança na família serão reduzidas. Isso resulta no aumento do tempo de permanência da criança, primeiramente provisório, no serviço de acolhimento. Os números brasileiros, mesmo que alarmantes, estão, porém, abaixo daqueles encontrados em outros países. Nos Estados Unidos da América, existe o maior número de crianças e adolescentes atendidos pelos serviços de acolhimento - 276.808. Na Inglaterra, o número é de 51.670. Mais próxima de nós, a Argentina, que tem população equivalente a cerca de 1/5 da população brasileira, registra 17.063 crianças atendidas. A força de Maria para encarar uma reabilitação está nos seus filhos. Durante a entrevista, não parava de falar quanto os amava e queria sair dessa vida para poder ser uma mãe dedicada. Para mim, Maria implorava: “Você vai me ajudar a convencer a justiça a devolver meus filhos, não vai? Me ajuda! Eu amo meus filhos e quero eles de volta.”. * O nome de Maria e Camila foram trocados para a preservação da identidade, por estarem em situação de risco


Principais motivos do acolhimento de crianças e adolescentes em abrigos. Brasil, 2013 81% Pais ou responsáveis dependentes químicos/ alcoolistas

81%

Negligência

78% Abandono pelos pais ou responsáveis

57%

Violência doméstica

44%

Abuso sexual praticado pelos pais ou responsáveis

35%

Vivência de rua

Pesquisa “Um olhar mais atento aos serviços de acolhimento de crianças e adolescentes no país”, Conselho Nacional do Ministério Público

A situação do crack no Brasil Segundo pesquisa da Fiocruz, as 26 capitais brasileiras e o Distrito federal somam 370 mil usuários regulares de crack ou de formas similares de cocaína fumada (pasta-base, merla e oxi). Esse número representa 35% do total de consumidores de drogas ilícitas, com exceção da maconha, estimado em 1 milhão de brasileiros. Somente em Curitiba, a Secretaria Antidrogas Municipal estima que, nas ruas da capital paranaense, existe cerca de 12 mil usuários de crack. Em relação ao número total de usuários no país, 14% têm idade inferior a 18 anos. Isso indica que aproximadamente 50 mil crianças e adolescentes usam regularmente essa substância nas capitais. Nas capitais do Norte, numa análise regional, o crack e/ou similares representam 20% do conjunto de substâncias ilícitas consumidas. Já no Sul e Centro-Oeste, o número se eleva, correspondendo a 52% e 47%, respectivamente.

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sem pais E SEM DESTINO

Existem 24 mil crianças brasileiras vítimas do abandono por pais usuários de drogas. A maioria delas, por estar fora dos padrões exigidos pelos casais que desejam adotar, permanece durante grande parte de suas vidas nos abrigos. A professora de direito da Universidade Positivo, Giovanna Milano, explica como funciona o processo de adoção dessas crianças em situação de risco.

“A SIMPLES FALTA DE CONDIÇÃO FINANCEIRA NÃO AUTORIZA A RETIRADA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DE SUA FAMÍLIA ” GIOVANNA MILANO, ADVOGADA


Qual o processo estabelecido pelo poder público para determinar se uma criança deve ser adotada por outra família? Em primeiro lugar, é preciso dizer que, em se tratando de matéria de adoção, cada caso deve ser observado em função de suas circunstâncias específicas e particularidades. Apesar disso, persiste a regra geral de que todo processo de adoção realizado contemporaneamente deve ser dirigido à garantia do melhor interesse da criança e da efetivação do princípio da proteção integral, ambos previstos no ordenamento jurídico pátrio. Além disso, o sentido geral é o de que o Poder Público (entendido em sentido amplo) deverá empenhar esforços para a manutenção da criança e do adolescente em sua família natural, assegurando o direito à convivência familiar. Tanto o é que, por exemplo, a simples falta de condição financeira não autoriza a retirada da criança e do adolescente de sua família natural, devendo o poder público incluir tal núcleo familiar em programas de assistência social que auxiliem a provisão da renda necessária. Quantos dias sem a visita dos familiares uma criança pode ser considerada abandonada? O Código Civil brasileiro, ao tratar das situações que ensejam a perda do Poder Familiar pelo pai ou pela mãe, apresenta o abandono como uma das hipóteses de cabimento. Não indica, entretanto, prazo definido para que tal situação seja caracterizada na medida em que o dever de cuidado, guarda e companhia dos pais em relação aos filhos é permanente, não admitindo interrupções. Dessa forma, tais situações de abandono devem ser tratadas pelos agentes da rede de proteção de crianças e adolescentes (Poder Judiciário, Ministério Público, Conselho Tutelar), que devem avaliar cada caso. Essas crianças, vítimas de pais usuários de drogas, podem ser adotadas? No caso de crianças cujos pais sejam usuários de drogas, o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê uma exceção à regra geral da permanência na família natural, permitindo a inserção da criança ou do adolescente nas chamadas famílias substitutas. Esta inserção poderá ocorrer por meio da adoção, mas também da guarda e da tutela, a depender da situação concreta. Em havendo situação de risco, as crianças poderão ser inseridas provisoriamente em unidade de acolhimento institucional, local em que deverão receber atendimento especializado, realizado por equipe multidisciplinar, com o objetivo de auxiliar em seu desenvolvimento físico, psíquico e social. Como uma pessoa deve proceder para adotar uma dessas crianças? Não existe um rito específico para adoção de crianças cujos pais se encontravam em situação de dependência química. Como nos demais casos de crianças em situação de risco (pais com abuso de autoridade, maus tratos, abandono, etc.), estarão vinculadas a um cadastro mantido pelo Poder Judiciário em âmbito municipal, estadual e nacional. Aqueles pais que desejem adotar deverão dirigir-se à Vara da Infância e da Juventude e ingressar com um pedido de habilitação para adoção. Diante da comprovação de cumprimento dos requisitos legalmente exigidos e aguardar a lista de espera, até que seja encontrada uma criança ou adolescente condizente com o perfil descrito na habilitação. Até que idade uma criança pode ser adotada? Qual a idade limite para permanecer em abrigos? Não existe idade limite para adoção de criança ou adolescente, que poderão permanecer nas unidades de acolhimento institucional até completarem 18 anos. Infelizmente quanto maior a idade da criança e do adolescente, mais difícil acaba sendo a realização do processo de adoção, em função do perfil de exigência dos pais adotantes. A discrepância entre o perfil desejado pelos futuros adotantes e as características das crianças e adolescentes disponíveis para adoção é hoje um dos maiores desafios a serem superados.

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comportamento


axé DA RESISTÊNCIA Por Beatriz Moreira e Viviane Menosso

Era um terreno grande, com muitos carros estacionados na frente. Havia bastante gente indo em direção ao casarão onde a gira ia acontecer. Perto da porta, havia um defumador bem grande, com um cheiro de incenso característico e difícil de esquecer, caso você já tenha passado perto de um terreiro antes. “Aqui é um lugar de paz”, explica José Carlos, um senhor vestido de branco com uma fita vermelha que lhe envolve a cintura. No terreiro do Pai Maneco, o culto é a Umbanda de 7 linhas. Assim como em um arco-íris, a Umbanda é ordenada por luzes que representam as divisões da consciência divina. Essas energias regem os poderes da natureza no universo. Por isso, no meio do grande octágono que é o terreiro, encontram-se ídolos das entidades que por ali passam. Por isso, as sete cores nas faixas, fitas e colares que enfeitam as roupas brancas dos médiuns identificam a linha de cada um. Antes de a gira começar, os tambores regem: “O rei da demanda é Ogum Mege”. O orixá representa o ferro e é responsável pelas lutas e guerras. Seus filhos, que carregam fitas vermelhas, são conhecidos por estarem sempre procurando novas demandas. A canção continua, explicando que “quem rola as pedras é Xangô Kaô”. Esse orixá é o Rei da Pedreira, que denota firmeza de caráter e a busca implacável por justiça - tanto da entidade quanto de seus filhos, que carregam a cor marrom. Já “a flecha de Oxóssi é certeira, é”. Responsável pelas matas, representa a energia que se preocupa com o equilíbrio e as pessoas, a natureza como um todo, por isso é representado pela cor verde. “É é é Oxalá é meu Senhor”, segue a música. Oxalá está para a umbanda como Jesus para o cristianismo. Representa a espiritualidade, a paz e a paciência. Oxalá é o único orixá que não atua diretamente em elementos da natureza, fazendo isso por intermédio dos outros orixás. O branco é sua cor. “Tem Oxum nas cachoeiras”, pois ela é a Rainha da Água Doce. Mãe de humanos e outros animais, ela traz à tona a empatia, a emoção e a pureza, além da cor amarela. Sem esquecer de “Iemanjá Deusa do mar”, mãe de água salgada,

Senhora do Mar. Representada por Nossa Senhora Maria no sincretismo com a religião cristã, ela cumpre um papel de guia, conselheira, protetora, mãe. O azul é sua cor. Ainda, temos “Iansã pra defender”. É o amarelo ouro a cor de quem representa a liderança, o gênio forte, a intransigência e, por vezes, a beligerância. Se Ogum vence demanda, foi Iansã quem chamou. E por que gira? Esse é o nome dado aos rituais na umbanda, em que as filhas e filhos-de-santo cantam e dançam ao som dos atabaques. As cerimônias geralmente acontecem à noite e se estendem madrugada adentro. Os espíritos que descem se incorporam nos fiéis que estão girando. A energia das entidades se locomove em espiral. Para que o preto velho, caboclo, cigano ou criança incorpore no fiel, é preciso que este esteja em sintonia espiritual e física, portanto a gira. Quem recebe o espírito é chamado de cavalo, pois este monta na pessoa, deixando-a inconsciente. É chamada de guia a entidade que mantém a consciência quando o cavalo está incorporado. A guia representa, por meio dos diferentes tipos de entidade, o orixá que está enviando a energia para interagir com os umbandistas. A gira de cada dia tem a ver com uma das sete linhas, mas não necessariamente as entidades recebidas são da linha “oficial” aquele dia, assim como usar a faixa de seu orixá não obriga o cavalo a incorporar somente energias daquela linha, me explicou Patricia Daquino, filha de Yomanja. Depois da gira, fui conhecer melhor o terreiro, guiada por José Carlos. Com muito cuidado, me levou até um jardim com diferentes imagens de santos católicos. Isso porque, desde os tempos da escravatura, as religiões de matriz africana foram perseguidas e, portanto, viram no sincretismo religioso uma forma de sobrevivência de sua cultura. Segundo Reginaldo Prandi, sociólogo e professor da USP, o processo de mudanças sofrido pelo candomblé (religião originária dos escravos africanos), em geral, iniciou-se com a mistura entre o culto aos orixás e o culto aos santos católicos. Aos poucos, apagaram-se o elementos da 38


comportamento cultura negra mais marcantes, como o sacrifício de animais. Atualmente, as mudanças são originadas pela necessidade de expansão e enfrentamento competitivo com as demais religiões. A maioria dos seguidores de religiões de matriz afro-brasileira nasceram católicos e adotaram outra religião em fase adulta, assim como em outros credos de maneira geral. É por isso que, para entrar no jardim de santos, José Carlos faz um sinal de triângulo no chão (representando a trindade base da umbanda e de outras religiões) e começa a me explicar qual é o orixá representado por cada estatueta de santo católico: Ogum é São Jorge, Oxóssi é São Sebastião, Iansã é Santa Bárbara, Xangô é São Jerônimo, Iemanjá é a Virgem Maria, Oxum é Nossa Senhora Aparecida e Oxalá é Jesus. Além disso, estão presentes figuras que representam os caboclos, as crianças, os marinheiros e os boiadeiros - todos espíritos sábios incorporados pela brasilidade da umbanda. Logo em seguida, José Carlos me pergunta: “você tem medo de conhecer o jardim dos Exús?”, já premeditando o preconceito generalizado com as giras de linha esquerda .

“A DECISÃO DO JUIZ FOI UMA GRANDE BRINCADEIRA DE MAU GOSTO” MANOEL ALVES DE SOUZA, PRESIDENTE DA FBU

somente pessoais, mas podem interferir na vida de outras pessoas. Assim, as oferendas ficaram conhecidas como macumba - que originalmente é o nome de um instrumento musical africano e também a brincadeira com tambores fora do horário de obrigação.

PRECONCEITO COM ORUN

EXÚ E A LIGAÇÃO ENTRE MUNDOS

Quando Olorun, Deus supremo que mora em Orun, decidiu criar o universo, forjou do ar um orixá todo branco e muito poderoso, foi chamado Oxalá. Logo em seguida, criou um outro orixá com o mesmo poder do primeiro, mas com uma essência feminina. Enquanto Oxalá passou a representar a essência masculina de todos os seres, tornando-se o lado direito de Olorun, Nanan teria a essência feminina, e representaria o lado esquerdo. Exú foi o terceiro elemento criado, para ser o elo entre todos os orixás, e deles com Olorun. Tornou-se costume prestar-lhe homenagens antes de qualquer outro, pois é ele quem leva as mensagens e carrega os ebós - oferendas. Exu é reconhecido apenas como entidade sem vínculo a uma ou outra linha. Quando incorporam, gostam de usar a capa preta e a bengala. Quando são mulheres, chamam-se pombagira. Exu sofre preconceito da sociedade conservadora, pois representa os desejos e necessidades naturais do ser humano, muitos dos quais são vistos como pecados e excessos. Inclusive, suas oferendas contêm pimenta, bebida alcoólica, cigarros, charutos e cigarrilhas. Também representam a figura do mensageiro, que comunica demandas de um lado para o outro, seja no plano material ou espiritual. O famoso Exu Caveira, por exemplo, trabalha nas profundezas da terra e tem um crânio como cabeça para passar desapercebido entre os mortos enterrados. Esse orixá representa o mesmo arquétipo que o arcanjo Lúcifer, que caiu às tentações terrenas e é fonte de parte da perseguição à umbanda e às religiões de matriz africana de maneira geral. Ambas as linhas trabalham com oferenda, mas, diferente da umbanda, o candomblé pratica a linha negra. Isto é, os pedidos aos orixás podem não ser 39

Os estereótipos e desacatos com as religiões de matriz africana se tornaram tão inerentes à nossa sociedade colonizada (e colonizadora) que perpassam discussões de instituições de cunho representativo e defensoras de direitos. Em abril, o Ministério Público Federal abriu um processo na Justiça Federal do Rio de Janeiro pedindo para que fossem retirados do Youtube alguns vídeos ofensivos às religiões afro-descendentes do Brasil. Nos vídeos, a Igreja Universal dá a sua opinião sobre a Umbanda e o Candomblé. Em um dos vídeos, cujo nome é “Ex-macumbeiro, hoje liberto pelo poder de Deus”, um rapaz diz estar salvo agora, pois antes “era pai de santo” e diz que os trabalhos que fazia com os Exus e Orixás eram coisas do “diabo”. Segundo o presidente da Federação Brasileira de Umbanda, Manoel Alves de Souza, tudo que está sendo falado nestes vídeos são absurdos e não condiz nem um pouco com a ideologia

Este vídeo é um envolvidos no processo de preconceito religioso.


das religiões afro-descendentes. “Esses vídeos não têm nada a ver com o que pregam nossas religiões, são ofensas muito grandes”, completa. No dia 24 de abril, o Juiz Federal da 17ª Vara Federal do Rio de Janeiro Eugenio Rosa de Araújo decidiu que não irá retirar os vídeos, pois para ele a Igreja Universal está exercendo a sua liberdade de opinião, reunião e religião. Ele ainda alega que a Umbanda e o Candomblé não podem ser considerados religiões, pois “ambas manifestações de religiosidade não contêm os traços necessários de uma religião a saber, um texto base, como o corão e a bíblia. Não têm também uma estrutura hierárquica e possuem ausência de um Deus a ser venerado.” Na sentença, o juiz afirmou que “as manifestações religiosas afro-brasileiras não se constituem em religiões, muito menos os vídeos contidos no Google. Eles refletem um sistema de crença e são de mau gosto, mas são manifestações de livre expressão de opinião”.

REPERCUSSÃO

A decisão do juiz – preconceituosa e ignorante – gerou polêmica e mobilizou religiosos e simpatizantes a protestarem. O presidente da OAB da Bahia, Luiz Viana Queiroz, se manifestou em nota oficial dizendo que “todas as religiões e crenças merecem respeito e proteção.” Segundo ele, o Estado brasileiro, por todos os seus órgãos, inclusive por meio do Judiciário, deve respeitar e defender a pluralidade cultural, étnica, religiosa e de gênero da sociedade, combatendo a intolerância religiosa e não desconsiderando jamais - no país com a maior população negra fora do continente africano - o papel histórico e as contribuições que as religiões de matriz africana tiveram e continuam a ter na formação da identidade e dos costumes do nosso povo. No dia 16 de maio, mais de cem adeptos de religiões afro-descendentes e simpatizantes se reuniram em frente à Assembleia Legislativa do Rio, no centro da cidade, com o intuito de questionar a postura do juiz. O ato foi organizado pelo Centro de Referência Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana. Depois desse, diversos protestos e manifestações foram realizados pelo Brasil contra a decisão do juiz.

JUIZ RECUA

No dia 20 de maio, o juiz Eugenio Rosa de Araújo decide voltar atrás e mudar a sua opinião. Ele destaca que o forte apoio dado pela mídia e pela sociedade civil demonstra, por si só, e de forma inquestionável, a crença no culto de tais religiões. “ Faço a devida adequação argumentativa para registrar a percepção deste Juízo de se tratarem os cultos afro-brasileiros de religiões, eis que suas liturgias, deidade e texto base são elementos que podem se cristalizar, de forma nem sempre homogênea”. O juiz manteve recusado o pedido de retirar os vídeos do Youtube. Para o presidente da Federação Brasileira de Umbanda, Manoel Alves de Souza, a decisão do juiz foi uma grande

Manifestação de Umbandistas e Candomblecistas de todo o Brasil no dia 10/06 em frente ao Congresso Nacional. Foto: Jéssica Lília.

“brincadeira de mau gosto”. Ele classifica a posição do juiz em falar que Umbanda e Candomblé não são religiões como “infeliz”. Essas religiões afro-descendentes são sérias, além de ser um estilo de vida. “São religiões enraizadas no país”, completa. INTOLERÂNCIA RELIGIOSA De acordo com dados do Censo de 2010, 407.331 pessoas do Brasil são umbandistas. Do candomblé, são 167.363 fiéis no país. Isso representa 1,1% da população, juntando as duas religiões. Este número, na verdade, pode ser bem maior. Segundo relatos de alguns fiéis, umbandistas e candomblecistas preferem algumas vezes não dizer que são destas religiões com medo do sofrer preconceito. A intolerância religiosa persegue o Candomblé e a Umbanda desde o princípio. Não respeitar a religião do próximo e demonstrar preconceito é crime. De acordo com a Constituição Federal, a lei máxima em nosso país, todos somos iguais perante a lei, não sendo admitidos preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade, ou quaisquer outras formas de discriminação. No Brasil, foi criado até o Dia contra a Intolerância Religiosa, no dia 21 de janeiro. Cometer atos de intolerância contra qualquer religião é proibido pela Lei nº 7.716, de 5

“11% DA POPULAÇÃO BRASILEIRA É DEVOTA DAS RELIGIÕES UMBANDISTA E CANDOMBLÉ”

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comportamento de janeiro de 1989, mais tarde alterada pela Lei nº 9.459, de 15 de maio de 1997. Essa lei considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões e consideram-se formas de preconceitos, por exemplo, “negar ou obstar emprego em empresa privada”, “recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador”, “recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau” etc. No entanto, a quantidade de denúncias de intolerância religiosa recebidas pelo Disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República cresceu. Com um aumento que chega a quase 600% do números de denúncias desde 2011, o número de casos saltou de 15 para quase 200. Porém, os dados podem estar subestimados já que o serviço telefônico gratuito da Secretaria não possui uma área específica para intolerância religiosa, assim nem todos os casos chegam ao conhecimento do Poder Público. Em um documento escrito no Facebook por uma das casas de Candomblé mais tradicionais da Bahia, localizada em Salvador - Casa de Oxumaré - existem vários exemplos de intolerância religiosa que eles candomblecistas e umbandistas vêm sofrendo. Segundo o relato, vinte e dois sacerdotes de matriz afro-brasileira foram assassinados nos últimos anos. Quinze deles apenas no estado do Amazonas. “Crimes de intolerância religiosa sequer são notificados como tal – seja pelas Polícias ou pelo Poder Judiciário. Para o Brasil, candomblecistas e umbandistas são invisíveis”, completam. A Casa de Oxumaré ainda fala: “Assistimos todos os dias um dos nossos perder um emprego, sofrer uma violência verbal, ter o terreiro incendiado, perder a guarda de um filho na Justiça... tudo porque o Candomblé e a Umbanda são religiões minoritárias, que jamais foram curral eleitoral de políticos, e que atuam sob a lógica da ancestralidade – que nos permite pensar uma unicidade diversa.” Eles completam dizendo que escolas expulsam as crianças deles, os hospitais não atendem os filhos e até mesmo vizinhos se sentem incomodados com os sons dos atabaques (mesmo que toquem de dia, respeitando a Lei do Silêncio). Segundo eles, eles precisam mostrar ao Brasil quem são.

de racismo e de intolerância religiosa. O Centro contará inicialmente com 15 profissionais para coordenar as ações desenvolvidas pela Rede. Além do acompanhamento do cumprimento de medidas judiciais dos condenados pelos crimes de injúria e racismo, a equipe prestará serviços de apoio psicológico, social e jurídico; cursos de capacitação e formação; debates, palestras, fóruns e oficinas; atuação nos casos noticiados pela mídia; pesquisas e projetos visando à garantia de direitos. Além disso, no último mês de maio, a Assembleia Legislativa da Bahia aprovou o Estatuto da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa do estado (Lei 20785/2014). O documento é uma tentativa de garantir à população negra igualdade de oportunidades, defesa de direitos individuais e o combate à discriminação e à intolerância racial e religiosa. O Estatuto é consequência da luta do Movimento Negro baiano, por meio de campanhas como “Na Fé e na Raça”, que com pressão popular desarquivou em 2011 uma série de reivindicações feitas à Assembléia Legislativa baiana. Além da cartilha sobre direitos e orientações para denúncia, é prevista a criação da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial -Sepromi, o Plano Estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, o Fórum Estadual de Gestores e Gestoras de Promoção da Igualdade Racial, a criação do Grupo Intersetorial para Quilombos e da Comissão Estadual para a Sustentabilidade dos Povos e Comunidades Tradicionais. Ou ainda, a Lei de Regularização Fundiária de Fundos e Fechos de Pasto e de Comunidades Quilombolas em terras públicas estaduais e devolutas, a instituição da Rede de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa, o Centro de Referência para Combate aos Crimes de Racismo e Intolerância Religiosa Nelson Mandela, a Política Estadual de Atenção à Saúde Integral da População Negra; além de documento-base voltado à elaboração da Política Estadual para o Incentivo do Empreendedorismo Negro.

MUDANÇAS POSITIVAS

Conhecido como o estado com maior número de adeptos às religiões de matriz africana, a Bahia recebeu em 2012 um grande presente: Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa Nelson Mandela, inaugurado em dezembro do ano passado. O intuito do centro é receber, atender, encaminhar e acompanhar todas as denúncias de discriminação racial e violência envolvendo racismo ou intolerância religiosa. Reivindicado pelo Movimento Negro baiano, o centro de referência homenageia o líder mundial na luta pela igualdade racial, Nelson Mandela. Instalado no Edifício Brasilgás, Avenida Sete de Setembro, Salvador, o equipamento social conta com profissionais especializados em psicologia, pedagogia, assistência social e jurídica para cuidar dos casos 41

Rito no Templo de Umbanda Xangô Sete Pedreiras, em Curitiba. Momentos antes de evocar o Exu Meia Noite. Foto: Viviane Menosso.



comportamento

OS NOVOS DONOS

do mundo De acordo com o último Censo do IBGE (2010), no Brasil existem cerca de 51.3 milhões de jovens com idade entre 15 e 29 anos, que pertencem à chamada geração Y ou geração do milênio.


Por Lis Claudia

A atual geração de jovens é alvo de críticas e desconfiança, mas é a grande influência do mundo. Graças à globalização (alavancada por eles), os jovens possuem um poder de influência que ultrapassa os limites regionais e modifica o mundo a cada dia. Segundo Pilar García Lombardia, consultora em administração e recursos humanos, a geração Y é a geração dos resultados. Filhos da Geração X, nasceram na era das inovações tecnológicas, da Internet, do excesso de segurança e do recebimento de estímulos constantes por parte dos pais. Para Lombardia, a Geração Y é motivada por desafios e interesse de ascensão rápida. Os jovens do milênio são considerados ambiciosos, individualistas e instáveis, porém, são preocupados com o meio ambiente e com os direitos humanos. As pessoas dessa geração também são esperançosas, decididas, coletivas, com um bom nível de formação, e poder de compra maior que os pais quando tinham a mesma idade. Sem medo de mudar de planos, é comum que esses jovens mudem de cidade, troquem os interesses e até mesmo de profissão. A arquiteta Danielle Bizinelli (28) conta que o casamento mudou os planos que tinha feito: “Eu planejava ter a área profissional mais consolidada e me dedicar mais a ela antes de me casar, mas acabou não acontecendo”. Um novo tipo de profissional Vandré Fernandes Camargo tem 29 anos e é diretor de criação e sócio-diretor em uma agência de propaganda. Ele fala que dinheiro não é a maior motivação para continuar nesse nicho: “Se o seu sonho de consumo é comprar um carro novo importado em vez de tirar as férias do seu sonho, é porque você faz do seu trabalho um instrumento de tortura, e assim será sempre dependente de resultados e escravizado pela rotina”. Em oposição à Geração X, os jovens do milênio não buscam trabalhar vários anos em uma mesma empresa e dessa forma conquistar níveis hierárquicos elevados. Eles desejam absorver o máximo de informação no menor tempo possível e seguir para uma nova experiência: “Ninguém começa sendo bom o bastante, aprendi a observar e extrair das pessoas que estavam acima, tudo que eu podia”, comenta Camargo. Os jovens da geração Y admiram superiores por competência e não necessariamente por causa do nível hierárquico. São criativos e ágeis já que não se limitam a uma única área de habilidade. A mesma pessoa é capaz de criar, promover e vender, por exemplo.

““ASSIM COMO A PERCEPÇÃO DE MUNDO MUDA DE ACORDO COM AS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS, OS CONCEITOS E VALORES TAMBÉM SÃO MUTÁVEIS” SHEILA MARA OLIVEIRA LEAL,

CONSUMO

Os jovens possuem hoje um poder de compra que é visto com grande interesse pelo mercado. Isso se deve tanto pela maior oferta de produtos, que em todos os setores possuem uma variedade maior de escolha do que no passado, quanto pelo avanço econômico do país, que oferece melhores oportunidades e salários aos jovens. Esse poder de consumo é positivo quando pensamos em acesso à informação e à cultura, por exemplo, porém, se torna negativo pela quantidade de lixo produzida todos os dias. Os celulares, computadores e eletrônicos em geral já ocupam os lugares antes pertencentes ao papel, porém, são mais resistentes quando é necessário descartá-los. Uma característica da geração Y é que não é preciso que um produto esteja em má situação de uso para inutilizá-lo; o lançamento de algo mais moderno ou com novas tecnologias é suficiente para a aquisição de um produto novo.

EDUCAÇÃO

A professora Sheila Mara Oliveira Leal, explica que, sendo uma mãe da geração X, com filhos Y e Z (nascidos após 2000), a educação é um desafio constante. “ Eduquei sendo também educada no mesmo processo”, comenta. “Assim como a percepção de mundo muda de acordo com as inovações tecnológicas e ideológicas, os conceitos e valores também são mutáveis”. Sheila fala ainda que se preocupa com os filhos e tem medo da insatisfação característica dessa geração: “Embora a

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comportamento inconformidade gere mudança, ela também gera estagnação, apatia e frustrações intensas”. Paulo Roberto Abreu, doutor em psicologia e especialista em análise do comportamento, fala que, quando se tornam pais, as pessoas da geração Y acabam produzindo nos filhos (geração Z) uma dependência que não é positiva. Com maior poder de consumo, esses pais acabam oferecendo aos filhos tudo o que estes desejam, assim como um cuidado que pode acabar sendo prejudicial – “como não deixar os filhos utilizarem transporte público, por exemplo”. O psicólogo explica ainda que, além do avanço tecnológico, outros fatores influenciam o comportamento dos jovens: “Essa geração passou por momentos de transição de grandes mudanças sociais, como a mudança do poder quando Lula assumiu a presidência do país e a abertura do comércio internacional”. Ele não concorda que o desinteresse seja característica da geração Y e cita como exemplo o envolvimento político que é muito maior que o das gerações anteriores: “Quando fazemos uma análise geral, percebemos que, na ditadura militar, por exemplo, muitos jovens nem sabiam direito o que estava acontecendo, apenas os intelectuais participavam”, comenta. “Essa geração tem um envolvimento muito maior”. As manifestações de junho mostram que os jovens da geração Y (e Z) estão muito interessados no futuro do país e a situação política atual. Segundo Abreu, a Copa do Mundo de 2014 será um “grande laboratório” para vermos como essa geração vai aproveitar o momento e mostrar o que deseja para o país.

MERCADO DO MILÊNIO

Com o avanço da internet, as novas tecnologias e o mundo em constante evolução, aqueles que não são capazes de acompanhar essa “roda-viva” da sociedade moderna acabam ficando estagnados em ideias e estratégias do passado. O mundo hoje é comandado pelos jovens. Seja por meio do ativismo político-social ou por meio da internet, as novas gerações têm um forte poder de infçuência na sociedade. Todos os dias, milhares de megabytes são compartilhados nas redes sociais, nicho que é dominado pelo público jovem. Segundo a consultora de marketing e análise de mercado Marielle Rieping, o mercado sofreu mudanças nos últimos anos e o novo perfil de consumidores é um dos motivos dessa mudança. Além disso, fazem parte desse sistema o avanço da tecnologia, a política, o crescimento da econômico do país, a abertura de novos negócios e a inovação nos processos de desenvolvimento de novos produtos. Rieping explica que nem todos os mercados encontram-se no mesmo nível de adaptação para o público jovem: “Tem mercados que estão muito mais avançados com a linguagem jovem, o novo perfil, as novas necessidades e desejos, e um mercado que cito como exemplo é o de TI. Perceba o crescimento do mercado, a entrada de novos aplicativos. Isso é uma influência do novo comportamento de consumo”. Rieping fala que o consumismo desenfreado - que é característico dos jovens-deve ser evitado. A analista completa: “O mercado capitalista não pensa dessa forma. Pensa de que 45

forma podemos ampliar a venda com essa ‘oportunidade’”. O mercado tem buscado meios de abraçar essa oportunidade. Já existem agências especializadas no público jovem, nas quais as grandes empresas lançam seus produtos conforme o estilo de vida. Antigamente, essa análise era feita por faixa etária, sexo, idade e classe social. Hoje, quanto maiores as informações psicológicas ou de estilo de vida sobre o público de determinado produto, maior é a probabilidade de alcançar este consumidor.

Gerações em conflito A estudante Tarsila Delgado tem 21 anos e vive com os pais. Filha única, recebe todas as atenções da casa e nem sempre está satisfeita com isso: “Eles não têm mais ninguém para vigiar, então estão sempre atrás de mim”, fala sorrindo. Os pais não compreendem algumas escolhas de Tarsila. Segundo a mãe Marisa Delgado, as inconstâncias da filha são causas de frequentes discussões: “Ela começou a faculdade e no terceiro ano queria mudar de curso, nós não deixamos”. Para Marisa, Tarsila não ouve seus conselhos porque não pensa no futuro, para Tarsila, os pais não deixam que ela viva sua própria vida. O que a família não sabe é que cada um deles enxerga o mundo de uma forma. Enquanto Marisa e o marido Gilberto Delgado valorizam a estabilidade e os planos bem traçados para o futuro, Tarsila deseja “provar” o que o mundo tem a oferecer e devolver a ele tudo o que puder produzir nesse tempo. O fato é que tanto Tarsila quanto seus pais precisam aprender dia a dia a respeitar e conviver com as diferenças ideológicas e psicológicas um do outro. E processo de aprendizado pode nunca chegar ao fim, pois a mente e os desejos de Tarsila estão em constante mudança. A globalização e a tecnologia seguirão impulsionando essa jovem aos mais diversos caminhos, afinal, o mundo é dela, e não para de girar.


O NOVO CENÁRIO

gastronômico em curitiba Atualmente, a capital paranaense possui um total de 4.340 estabelecimentos de gênero alimentício, dentre outras opções gastronômicas.


gastron omia Por Bruna Bozza

Curitiba é considerada hoje a capital mais desenvolvida do país e, além das ótimas opções para lazer, a cidade vem crescendo no cenário gastronômico. A capital paranaense conta hoje com um total de 4.340 estabelecimentos destinados ao gênero alimentício. Destes, 1.451 são classificados como restaurantes e 530 como bares. Existem ainda outros gêneros de classificação, como explicou a assessoria de imprensa do Sindicato de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de Curitiba. Ainda segundo a assessoria esses números podem ter algumas alterações, já que o cadastramento deve ser feito pelo contador da empresa e alguns não o fazem. A cidade conta com seis feiras gastronômicas ao ar livre, regularizadas pela prefeitura e que acontecem semanalmente. São elas a Feira do Largo da Ordem – não só gastronômica, mas também de artesanato - Feira Gastronômica do Batel, Feira Gastronômica do Tarumã e do Cristo Rei, Feira Noturna do Batel, Feira Noturna do Champagnat e a Feira Noturna do Hugo Langue. A Feira do Alto Juvevê também está no roteiro gastronômico ao ar livre. A feira gastronômica que já faz parte do calendário oficial de eventos da capital paranaense é realizada trimestralmente, oferecendo preparos exclusivos de restaurantes, bares, cafés e confeitarias da cidade. Além dos empreendimentos curitibanos, alguns destaques da primeira edição da Alto Juvevê Gastronomia foram os chefs Rodrigo Martins, chef executivo dos restaurantes Vino! (SP) e La Varenne (Curitiba); e Reinhard Pfeiffer, ex-chef do Spa da Lapinha e do Resort Costão do Santinho, especialista em gastronomia ovo-lacto-vegetarianos. Outro ponto forte são os eventos gastronômicos de maior porte. O Brasil a La Carte aconteceu em março, na Expo Renault, contou com barraquinhas de vários restaurantes locais e de outras cidades, além de aula show e apresentações musicais. Outra grande atração foi a participação dos chefs Carlos Bertolazzi, Dalton Rangel e Guga Rocha, apresentadores do programa Homens Gourmet exibido em canal fechado. O chefs ficaram encantados com a cidade e apresentaram alguns pratos na feira. Guga Rocha ainda brincou: “É, está difícil, esse povo aqui de Curitiba não gosta muito de falar”. Evento importante no calendário curitibano é o Restaurant Week, que a cada edição atrai ainda mais público. No pe-

“CURITIBA É UMA CIDADE EM QUE PIZZA CONCORRE COM SUSHI. QUEM NÃO SE DESTACAR E FIZER MELHOR, NÃO VAI GANHAR O MERCADO ”

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ríodo de realização, os restaurantes têm preço fixo, incluindo entrada, prato principal e sobremesa, tanto no almoço quanto no jantar. “Muitas vezes uma pessoa deixa de frequentar um bom restaurante com receio do valor final da conta. Como durante o festival ela já sabe exatamente o que vai pagar, aproveita para conhecer o cardápio e rever seus conceitos”, explica Fernando Reis, responsável pelo Restaurant Week no Brasil. Ainda esse ano, Curitiba recebeu a feira Mundo Gastronômico, que aconteceu entre os dias 13 e 16 agosto. A feira contou com área de exposição, dentre outras atrações, como a Cozinha Show, com aulas e palestras ministradas por profissionais da área e chefs de renome nacional. Outro grande sucesso é o CWBurguer Fest. O evento gastronômico dedicado ao hambúrguer, uma das iguarias mais consumidas e festejadas do mundo, deverá contar com mais de 40 hamburguerias, lanchonetes e bistrôs da capital paranaense. Os empreendimentos oferecem, em seu próprio estabelecimento, uma opção especial do hambúrguer com acompanhamento, que é vendido por valor único.

CERVEJA E GASTRONOMIA

Reunir cervejas incríveis e chefs de cozinha de destaque nacional em uma grande celebração gastronômica. Esse é o objetivo do Saturday Way, evento que é promovido pela cervejaria paranaense Way Beer. Durante o Saturday Way, o público pode saborear seis preparos exclusivos, desenvolvidos por grandes nomes da gastronomia brasileira. Os pratos são harmonizados com rótulos de destaque produzidos pela cervejaria paranaense (WayDog, Sour Me Not Morango, IPA Brett, Amburana, Irish Red Ale e Avelã Porter). Com a curadoria do chef Rodrigo Martins, do restaurante Vino! (SP), o último evento contou com a participação dos chefs Dalton Rangel (Homens Gourmet - SP), Manu Buffara (4sí Brasserie e Restaurante Manu - PR), Marcelo Amaral (Lagundri - PR), Lênin Palhano (Ce La Vie - PR), Ivan Lopes (Mukeka - PR), Schay Tokarski (DPC - PR), Claudia Krauspenhar (DPC - PR) e Bruna Marinoni (DPC - PR). O cardápio do Saturday Way será composto por pratos de diferentes estilos gastronômicos, com destaque para ingredientes como polvo, bacalhau, costela, porco e pato. “O Saturday Way será um evento fantástico para quem ama gastronomia e cerveja, e quer conferir de perto o trabalho de grandes chefs da culinária brasileira. Conseguimos reunir nomes de destaque nacional e que estão contribuindo muito para esse importante momento do mercado gastronômico brasileiro”, conta Alejandro Winocur, sócio-proprietário da Way Beer. Além dos chefs convidados, que são responsáveis pelo


cardápio do evento, o Saturday Way conta com a participação de outros empreendimentos de destaque no segmento da gastronomia na cidade de Curitiba, entre eles a chocolateria Cuore di Cacao e o Café Lucca.

CACHORRO QUENTE COM DUAS “VINAS”

Não é preciso andar muito para escutar algumas palavras que só existem em Curitiba, uma delas é a clássica vina. Sim, para os curitibano, a salsicha, aquela que vai no tão famoso cachorro quente, é “vina”. Não foi em vão que foi criada na cidade a “Vinada Cultural”, realizada no Passeio Público. São mais de dez barraquinhas oferecendo seus lanches. Além disso, quem estiver por lá poderá aproveitar as atrações culturais com amigos e família. No ano passado, foram vendidos dez dos mais famosos cachorros-quentes da cidade a preço único e o evento atraiu milhares de pessoas. A Vinada é uma das ações do movimento “Ocupe o Passeio Público” que começou nas redes sociais.

CAPACITAÇÃO

Nem só de eventos e feiras vive a capital paranaense, ela ainda conta com cursos renomados na área para quem se interessar. Um deles é o do Centro Europeu, localizado na Alameda Princesa Isabel, 1300, que oferece a quem se interessar pela área o curso de “Chef de Cusine e Restaurateur”. O curso é anual com uma carga horária de 592horas/aula. Pedro Mainardes, chef formado pelo Centro Europeu, explica: “Nasci e me criei na barra da saia da minha avó, uma cozinheira de mão cheia. Porém, nunca achei que isso poderia um dia se tornar uma profissão. Atuei como publicitário por exatos 10 anos, até que, numa brincadeira de cozinhar para alguns amigos, eles disseram que eu deveria focar nisso. Em poucos dias estava cozinhando, pelo menos, 5 horas por dia. Foi inevitável resolver me aprimorar mais na área e estudar (de verdade) gastronomia”. Segundo Pedro, é uma profissão difícil e tem que se trabalhar muito. “A rotina é estressante e exaustiva. Ninguém me falou isso quando fui me matricular. O trabalho exige muito mais que uma habilidade com duas ou três panelas esquentando ao mesmo tempo. Exige lidar com público, com equipes, com equipamentos, com logística, com prazos”. Para ele a profissão está ganhando muito valor, mas não a vê como a “profissão promessa”. Apesar de ser a profissão mais antiga do mundo, ela é ingrata. Ele ainda dá alguns conselhos para sobre o ramo: ”Se quiser investir nessa área, tem que saber que a lei que vale é a da meritocracia - tem que merecer para receber. O mercado de trabalho não anda tão aquecido assim, e os salários dependem 100% do retorno que você vai gerar - nada mais justo” explica. Ao falarmos sobre o mercado em Curitiba, o chef explica que, como em qualquer lugar do mundo, há espaço para todos. “Só os fortes sobreviverão”. “Agora, temos também muitas feiras e, possi-

velmente, em pouco tempo, teremos os Foods Trucks - verdadeiros caminhões restaurantes - liberados. Vai ter espaço para quem quiser ganhar”. Mesmo com todo esse mercado, ele alerta que muitos estabelecimentos abrem sem propósito e um estudo prévio, e que isso pode acabar com o negócio. “Não existe mais o termo “todo mundo sempre vai comer” ou “vender, comida é fácil”. Isso é mentira. Curitiba é uma cidade em que Pizza concorre com Sushi, que concorre com Hambúrguer. Quem não se destacar e fizer melhor, não vai ganhar o mercado que está aí brilhando pra todo mundo”.

FOOD TRUCKS

A Food Truck surgiu nos Estados Unidos por volta do ano de 1866 com a ideia de “caminhão de alimentos” ou chuckwagon. Após a Guerra Civil Americana, o mercado da carne no Texas foi expandido. Alguns criadores de gado moravam em áreas do país que não tinha ferrovias, o que significaria que eles ficariam na estrada por meses. Foi a necessidade de alimentar esses pecuaristas que resultou na criação do Food Truck. Versões posteriores desses caminhões foram as cantinas móveis, criadas em 1950. Cada vez mais comuns, esses caminhões começaram a ser vistos nas grandes cidades dos EUA, oferecendo um serviço “on-the-go”, em que as pessoas fazem lanches rápidos e de baixo custo. Atualmente Chicago é a única cidade dos Estados Unidos que não permite as Foods Trucks. No Brasil, o sucesso das Food Trucks é recente, em São Paulo eles vivaram mania e após um abaixo-assinado foi formulado o projeto de lei 311, que regulamenta a venda de comida de rua na capital. Apesar de aprovada, a lei precisa ser regulamentada. Questões como quais comidas serão permitidas, regras de higiene e condicionamento ainda têm que ser definidas. A prefeitura ainda precisa estabelecer o local onde as Food Trucks poderão estacionar. Em Curitiba, o projeto de lei foi enviado à Câmara Municipal pelo Helio Wirbiski (PPS). E passou pela análise da Comissão de Legislação, Justiça e Redação, que deu seguimento à proposta. O vereador explicou que a ideia surgiu com o objetivo de espalhar uma gastronomia mais requintada e que tem recebido muitos elogios quanto ao projeto. “Acredito que a aceitação será boa porque, como disse na primeira resposta, a intenção é beneficiar todos: o consumidor, a cidade e os empresários”, explicou. Segundo Hélio, o projeto foi aprovado na Comissão de Legislação, Justiça e Redação da Câmara de Curitiba e também está em análise no Conselho de Segurança Alimentar (Consea) do município. “Em breve será colocado em votação no plenário e acredito que passará sem muitos problemas já que só beneficia os consumidores, a cidade e os empreendedores”.

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saúde

MELHOR AMIGO

abandonado Além de causar malefícios para os próprios animais, situação de abandono pode prejudicar a população por causa do risco de contaminação com doenças caninas

Por Jaqueline Baumel

Aquele seria apenas mais um domingo na vida de Mariana Ferla. Mas não foi. Naquele dia, Mariana decidiu adotar um amigo. Durante a manhã, ela estava caminhando próximo a um museu, quando avisou uma feira de adoção de cachorros de rua. “Eu sempre gostei de cachorro, mas nunca tinha pensado em adotar. Quando vi aquele cachorrinho, não resisti. Peguei e não soltei mais!”, conta. O cachorrinho era Chico, de quase um ano de vida, que foi resgatado de uma favela de Curitiba. Quando Mariana o adotou, ele estava muito doente. Ela precisou levá-lo ao veterinário e chegou até a mudar de casa para dar a ele uma vida melhor. Hoje, ela até escova os dentes do cachorro todos os dias e o leva para passar pelo menos duas vezes ao dia. “Eu levo ele pra onde quer que eu vá. Ele é maravilhoso!”, diz. Mas não é todo cachorro de rua que tem a mesma sorte de Chico. Atualmente, cerca de 14 mil cachorros vivem nas ruas de Curitiba, segundo estimativa da Prefeitura Municipal. Este fato pode ser considerado consequência do comportamento das pessoas em relação aos animais e também da condição socioeconômica da população, conforme explica a médica veterinária Larissa Runcos. “A quantidade de animais nas ruas tem relação com a condição socioeconômica das pessoas, que não têm como sustentar um cachorro e acaba o abandonando. E também tem a ver com a falta de conhecimento da população em relação à guarda responsável de animais”, explica. Essa situação traz malefícios não apenas para os animais, mas para a população também. Além da falta de afeto e carinho, por não receberem cuidados de saúde necessários, como vacinação, esses cachorros estão sujeitos a contrair doenças caninas e a se contaminar com patógenos. As pessoas correm o risco de contraírem doenças e de serem vítimas do comportamento agressivo desses animais. Exemplos de doenças transmitidas por cachorros são a raiva, que é letal ao ser humano, verminoses, leptospirose e sarna. 49


CÃES COMUNITÁRIOS E A SAÚDE PÚBLICA

Por se tratar de um problema de saúde pública e por conta do aumento de animais nas ruas das cidades, o poder público, por muito tempo, buscou alternativas para diminuir essa população. Curitiba, por exemplo, por muito tempo, optou pelo método de eliminação sistemática e indiscriminada, mais conhecido como “carrocinha”, recomendado pelo 6º Informe Técnico da Organização Mundial de Saúde, OMS, de 1973. Neste informe, a OMS indica a captura e sacrifício de animais soltos nas ruas como forma de controlar o aumento da população canina. Em 1992, depois de analisar a aplicação do método em vários países, a OMS concluiu, conforme o 8º Informe Técnico do mesmo ano, que esse método era ineficaz, já que se percebeu que “a renovação das populações caninas é muito rápida e a taxa de sobrevivência delas sobrepõe facilmente à taxa de eliminação”. Desde 2005, Curitiba não utiliza mais a “Carrocinha”. Um novo método, utilizado há um ano, é o Projeto Cães Comunitários, que monitora, por meio da Rede de Proteção Animal da prefeitura, 30 cães que vivem em 13 terminais da cidade. Veterinários da Rede tratam desses animais sem retirá-los das ruas. Eles realizam coleta de sangue para exames laboratoriais, dão medicamentos para controle de pulgas e de endoparasitas e colocam coleiras com identificação. Segundo a veterinária Larissa Runcos, esse método pode ser considerado eficiente, pois inibe a procriação de cães e ao mesmo tempo evita a transmissão de doenças caninas. “Os cães são territorialistas, têm como comportamento natural defender o seu território. Manter o cachorro cuidado na rua é como uma barreira para fluxo de vários cães em um só lugar, o que evita a procriação. Além disso, o cão deixa de ser uma ameaça do ponto de vista de saúde pública por estar vacinado e saudável, não tendo risco de passar doença para as pessoas”, explica. Outro ponto positivo do método é o fato de que os cães monitorados pelo projeto têm um mantenedor voluntário, que fornece água e alimentação, faz vistoria diariamente e tem a responsabilidade de informar a prefeitura sobre problemas de saúde do animal. Muitos desses cães acabam sendo adotados. Ano passado, dos 43 cães monitorados, 13 foram adotados, segundo a prefeitura. O objetivo do projeto é alcançar todos os cães dos 22 terminais de ônibus de Curitiba.

ONGS

Existem ONGs que, por se preocuparem com a situação dos cachorros de rua, os recolhem em abrigos. Depois, destinam os cachorros à adoção, como a ONG Amigo Animal,

Chico, o cachorro que Mariana Ferna adotou.

que mantém 1500 cachorros em uma chácara em Campo Magro, a 35km de Curitiba. Os cachorros acolhidos pela ONG são desverminados e castrados, para evitar a procriação, e depois, são encaminhados à adoção por meio das feiras realizadas pela ONG todo mês em Curitiba. A Amigo Animal visita os cachorros doados periodicamente para ter certeza de que não estão sendo maltratados pelos novos donos. Atualmente, a ONG não recolhe mais animais por causa da falta de espaço. “Mesmo assim, as pessoas insistem em deixar cachorros abandonados no portão da chácara”, conta a responsável pela adoção dos cachorros da ONG, Karina Awer.

MORADORES DE RUA

É comum encontrarmos moradores de rua que adotam cachorros. Exemplo disso foi Antônio Ribeiro Cordeiro, mais conhecido como Bocão, que morou nas ruas de Curitiba por 20 anos. Ele adotou um cachorro de rua e deu a ele o nome de Polaco. Mauro Welter, que morava próximo à Praça Santos Andrade, admirava a relação dos dois. “A relação que ele tinha com esse cachorro era de amizade pura, de um cuidar do outro. Eram grandes parceiros”, conta. “O polaco era o cão de guarda. Se um estranho se aproximasse, ele avançava na pessoa defendendo o Bocão”, lembra. Para o psicólogo Tonio Luna, essa relação entre cachorro e morador de rua faz bem para o animal “O cachorro se sente importante, se sente cuidado, olhado, mesmo sendo animal de rua”, explica. Para ele, tendo em vista o alto número de cachorros nas ruas, estes que estão sendo cuidados por moradores de rua “são privilegiados”. “A gente não ama alguém pelo que ele nos provém, mas 50


saúde porque a gente gosta da pessoa. Um morador de rua pode não ter recursos pra dar a alimentação mais adequada para o cachorro, mas ela dá carinho, afeto”, explica a médica veterinária Larissa Runcos. Bocão foi morto a pedradas no dia 24 de janeiro deste ano. Polaco foi adotado por outros moradores de rua da Praça Santos Andrade.

CANIS CLANDESTINOS E LARES SOLIDÁRIOS

A lei municipal de Curitiba Nº 13.914, de 2011, proíbe a criação comercial de animais, já que não existe área rural no município. Mesmo assim, muitos canis clandestinos já foram apreendidos na cidade pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, em parceria com a Rede de Proteção Animal e Polícia Civil. Esses canis mantêm os cachorros em situação precária. Normalmente, os animais são maltratados e mantidos em ambientes extremamente pequenos, sem receberem nenhum tipo de cuidado. Quando acontece a interdição desses canis, algumas pessoas se solidarizam e oferecem suas casas, chamadas de “lares solidários”, para abrigar os cachorros. Esse foi o caso de Elisabeth Anderson, 50, que abrigou duas cadelas de um canil clandestino interditado no bairro Cajuru, de Curitiba, no ano passado. “Eu sempre quis adotar um cachorro. Quando fiquei sabendo da interdição do canil, me ofereci para cuidar de duas cadelinhas”, conta. Segundo ela, as duas estavam muito assustadas e tinham medo de qualquer barulho. Foi com muito carinho e amor que ela conseguiu mudar essa situação. “Hoje elas correm pela casa, brincam. Estão bem diferentes de quando eu as conheci”, conta. Maltratar animais também é proibido por lei em Curitiba. Quem pratica maus-tratos a animais está sujeito a sanções e penalidades administrativas.

COMO ADOTAR Um cão de rua está habituado a correr e andar a longas distâncias. Por isso, ele pode, de início, estranhar o confinamento. Para adotar um cachorro de rua é preciso saber lidar com essa situação. Confira, a seguir, um passo a passo feito pela médica veterinária Larissa Runcos, sobre como adotar um cachorro de rua: 1 º) Aproximação amigável Não se deve capturar o cão da rua e logo levar pra casa. Primeiro você tem que tentar formar um vínculo afetivo com o cão. Tente chamar o cachorro com alimento, fazer com que ele se aproxime de você. Existe uma compatibilidade que pode acontecer ou não entre as personalidades do cão e da pessoa. 2 º) Leve-o para perto de sua casa Uma dica é colocar comida para ele na frente da sua casa, depois dentro. Você precisa habituá-lo a entrar na casa. O cachorro precisa se sentir livre, então, não deixe a casa fechada. É importante que sua casa tenha espaço para o cachorro. 3 º) Passear diariamente A princípio, habitue o cão na guia. Tem cão que não sabe, mas não é difícil de ensinar, em poucos dias você consegue. Passeie com ele todo dia, permita que ele continue andando pelo ambiente que ele costumava estar, interagindo com os cães que ele já conhecia. 4 º) Acompanhamento veterinário Os cachorros devem tomar vacinas anualmente. É importante que você leve o cão para fazer um checkup no veterinário frequentemente.

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• Engenharia Civil • Engenharia da Computação • Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia • Engenharia de Produção • Engenharia Elétrica • Engenharia Mecânica

DATA

25 equipes

Dia 4 de outubro (sábado), das 8h às 18h Bloco do Bosque - Prédios de Engenharia Mecânica e de Engenharia Civil


esporte

“NÓS, QUE ATUAMOS EM GRANDES CLUBES, NÃO REPRESENTAMOS NEM 5% DOS JOGADORES PROFISSIONAIS QUE ESTÃO POR AÍ.” ALEX, JOGADOR DE FUTEBOL

o futebol INVISÍVEL


Movimento do Bom Senso tenta mudar a realidade dos jogadores profissionais, no Brasil.

Por Lucas Karas Empate entre Coritiba e Internacional por 0x0, em jogo válido pela 17ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2013, não teve nada de especial. Poucas chances de gol e um jogo morno marcaram o confronto entre coxas e colorados. Contudo, foi nessa partida que surgiu o maior movimento já feito em prol do futebol brasileiro: o Bom Senso Futebol Clube. Em uma simples troca de camisetas, Alex, do Coritiba, e Juan, do Internacional, começaram a articular o movimento. A pequena conversa que tiveram ali foi suficiente para motivar um novo papo e assim sucessivamente, até chegar ao movimento que hoje se articula para mudar o futebol brasileiro. A adesão aumentou aos poucos e foi crescendo, até chegar aos mais de mil atletas vinculados hoje em dia ao Bom Senso FC, que luta em vários pontos para mudar o futebol brasileiro atual. Entre as lutas do movimento, estão a mudança do calendário futebolístico brasileiro e o chamado Fair Play Financeiro, proposta que busca criar uma consciência maior dos clubes na hora de gastar, passível de punição aos times que excederem os valores de suas receitas, por uma Entidade Reguladora. Ambas as propostas buscam ajudar um público específico: buscam ajudar os jogadores profissionais de futebol.

De acordo com dados da própria CBF, no Brasil existem 15.285 jogadores profissionais cadastrados. Segundo o Bom Senso, 82% destes atletas profissionais recebem menos de dois salários mínimos e podem ficar desempregados por pelo menos seis meses, devido à construção do calendário. Estes estão espalhados pelos mais de 684 clubes profissionais existentes no Brasil. Clubes estes que, muitas vezes, não dispõem de estrutura mínima para a realização do esporte profissional. Um exemplo dessa dificuldade envolvendo clubes e jogadores vem de Prudentópolis, do time homônimo que este ano disputou a primeira divisão do Campeonato Paranaense. Em uma partida contra o Coritiba, o time do interior parou em um posto, durante a viagem, para comer um lanche, trazido lá de Prudentópolis. Diz a lenda que era pão com bife, mas tal informação não chegou a ser confirmada. Ou seja, todo o glamour do futebol fica para trás quando se olha para uma realidade que não é vista e que é o dia a dia da maioria dos jogadores profissionais, no Brasil. Outra história vem do próprio Alex. Ele conta que o irmão tentou virar jogador, mas não teve sucesso, passou por dificuldades até desistir de virar jogador. “Ele (o irmão) tentou, mas não teve sucesso. Teve uma época que ele ganhava trezentos reais. Aí, quando viu que não ia conseguir crescer, desistiu de virar jogador. Mas o que acontece é que muitos outros não abandonam assim como meu irmão fez e continuam nessa realidade, não sei se pelo prazer de jogar bola ou se pelo sonho de entrar na minoria.” O próprio Alex passou por dificuldades, no início da carreira. De origem pobre, ele tinha dificuldades até para pagar o ônibus, como conta Rui Wisniewski, supervisor de futebol do J. Malucelli, que à época (meados dos anos 90) era supervisor do Coritiba. “Ele ganhava R$30 reais por mês

VERDADE DA MAIORIA

O salário dos jogadores de futebol sempre gerou polêmica, devido aos valores astronômicos que envolvem as transações e os holerites dos artistas da bola. É um dinheiro incomparável com o que recebe a maioria dos brasileiros no final ou começo do mês – cerca de R$2 mil reais, em média. É por isso que, para muitos, o movimento do Bom Senso FC não tem sentido, por lutar por uma categoria tão enriquecida e tão “bem de vida”. Mas, para Alex, a luta do Bom Senso não é pela minoria, que, como afirma ele, recebe sim muito dinheiro. De acordo com o capitão do Coritiba, a luta do movimento é pelos jogadores que não são mostrados pela TV, mas que mesmo assim são profissionais, com registro na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). “Nós, que atuamos em grandes clubes, não representamos nem 5% do total dos jogadores profissionais que estão por aí. É por esses 95% que lutamos, é por eles que o Bom Senso existe”, afirma Alex. 54


esporte e tiveram várias oportunidades que ele chegava para mim e falava que não ia conseguir vir treinar, por não ter dinheiro para a passagem. Aí, eu pegava e dava meu vale-transporte para ele, para tentar ajudá-lo.” Mas Alex conseguiu crescer no Coritiba e, apartir daí, entrou para a minoria. Hoje, junto com outros atletas, luta pelos jogadores que talvez sejam o reflexo dele, quando jovem. O Bom Senso FC surgiu “por um futebol melhor para todos”.

PROPOSTAS

As propostas do Bom Senso para o calendário do futebol brasileiro são a criação de uma série E (atualmente existe até a série D), envolvendo 432 times. Além disso, as séries C e D seriam modificadas, para receber 48 e 144 times, respectivamente. Também seriam modificados os números de jogos, tendo, como máximo, 38 jogos para ambas as séries. Já a E teria no máximo 34. Esta seria dividida em 36 grupos de 12 equipes cada. Os 36 melhores clubes subiriam para a D. Já na D, os 36 piores desceriam à E e os 12 melhores subiriam para C, que por sua vez ascenderia as 4 melhores equipes para a série B e despacharia as quatro piores para a C. De acordo com o Bom Senso, essa fórmula poderia desafogar o calendário dos clubes das séries A e B, além de

possibilitar aos clubes restantes um ano cheio, o que pelo menos daria a oportunidade de os jogadores atuarem e receberem por isso, sem ficar desempregados. Já as propostas para o Fair Play Financeiro são motivadas pelo endividamento dos clubes brasileiros, que chegou a R$4,7 bilhões em 2012. A ideia é uma adaptação do que a UEFA, federação responsável pelo futebol europeu, tem aplicado em ligas da Europa. O monitoramento do órgão busca ver clubes que gastam mais do que têm e puni-los por isso, eliminando-os de competições, pelo menos, temporariamente. De acordo com o Bom Senso, a iniciativa tem dado resultado. “Houve uma redução de 47% nas dívidas aos funcionários, à segurança social e de verbas em atraso, relativas a transferências”, informa o documento do Bom Senso. O movimento busca instaurar essa proposta no Brasil e vê que , começando no ano de 2014, é possível que em 2016 o Fair Play esteja implementado. Ambas as propostas visam dar aos jogadores uma condição melhor. Uma, possibilitando que ele consiga trabalhar o ano inteiro. A outra, que ele consiga receber por isso, ou seja, que não tenha seu salário atrasado devido a dificuldades financeiras causados por voos maiores que a asa. Seja para os jogadores ou para quem for, o Bom Senso surge para criar um paradigma de mudanças já tardio no país que já foi conhecido como o do futebol.

GLASGOW RANGERS Usado como exemplo do Bom Senso para a implementação do Fair Play Financeiro, o Clube foi à falência devido a dividas milionárias que possuía Tradicional clube da Escócia, o Glasgow Rangers era uma das maiores equipes do país. Fundado em 1873, também é um dos times mais antigos do futebol. Conquistou 54 vezes o título do Campeonato Escocês (a Premier League Escocesa) e dividia com o Celtic a maioria da torcida escocesa. Contudo, depois de um desenfreado descontrole de suas dívidas, o clube teve que declarar falência, após o governo escocês cobrar uma dívida, que girava em torno de 21 milhões de libras. Charles Green, um empresário britânico, comprou o clube a até tentou renegociar a dívida, mas não teve sucesso. Teve então de trocar o nome do clube para “The Rangers Football Club” e iniciar uma nova fase na equipe, que teria que disputar a quarta divisão do futebol escocês. Este é um dos exemplos usado pelo Bom Senso, para implantar o Fair Play financeiro no Brasil. De acordo com o movimento, um sistema de controle de finanças dos clubes, com regras passíveis de punição se transgredidas, garantiria a sustentabilidade financeira dos clubes e do futebol, como um todo.

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esporte

ABISMO

DA BOLA

O futebol brasileiro estรก muito distante do futebol mundial; faltam planejamento e pensamento a longo prazo


Por Igor Castro

O futebol brasileiro está passando por um momento nada bom. Times com elencos desqualificados e com a qualidade técnica dos clubes altamente ruins. Isso é um reflexo do que está acontecendo nas últimas edições do Campeonato Brasileiro. Um bom exemplo disso é o campeonato que aconteceu em 2013, quando a média de gols marcados foi considerada o menor da história, em torno de 2,46 por jogo, totalizando 936 gols ao longo do certame nacional, que é disputado por pontos corridos e tem ao todo 38 rodadas com 380 jogos. Além disso, o número de gols marcados por um mesmo jogador, o famoso artilheiro do campeonato, teve um relativo declínio na quantidade de gols. No campeonato brasileiro de 2004 o atacante Washington que atuava pelo Atlético Paranaense conseguiu a proeza de marcar 34 tentos para o time rubro negro, tornando-se o maior artilheiro de uma só temporada do campeonato brasileiro, ultrapassando o atacante do Goiás Dimba, que marcou 31 gols no campeonato anterior. Contudo, a média de gols marcados pelos atacantes artilheiros diminuiu, como exemplo pode-se destacar o atacante Souza que pertencia também ao clube esmeraldino que três anos antes tinha Dimba até então como o maior artilheiro do campeonato brasileiro. No fatídico ano de 2006, o atacante do Goiás marcou apenas 17 gols, um pouco mais da metade do que Dimba. O artilheiro do campeonato passado foi o Ederson do Atlético Paranaense, que marcou 21 tentos. Mudando de cenário, os campeonatos da Europa têm médias de gols muito superiores com relação à do Campeonato Brasileiro. O Campeonato Alemão, mais popularmente conhecido por Budesliga, teve como média de gols na temporada 2013-2014 3,16 gols por jogo, tendo marcado 967 gols ao longo do campeonato. E olhe que lá o campeonato tem duas rodadas a menos do que o nosso campeonato brasileiro, 36 rodadas. Outro muito importante e que deve ser destacado é a Premiere League, ou simplesmente Campeonato Inglês. Na última temporada, o certame inglês teve média de 2,77 gols por jogo, tendo marcados 1052 gols. Vale ressaltar que esse campeonato segue os mesmos moldes do Campeonato Brasileiro, com 38 rodadas e dois turnos. E com relação aos números de gols marcados pelos artilheiros, isso fica mais

“O CALENDÁRIO, MÁ GESTÃO DO CAMPEONATO E A QUEDA NO NÚMERO DE TORCEDORES NOS ESTÁDIOS É ALGO ASSUSTADOR.”

evidente. Enquanto o artilheiro do Campeonato Brasileiro do ano passado Ederson marcou 21 gols, o artilheiro da Premiere League, o uruguaio Luís Soares, marcou 31 gols atuando pelo time da cidade dos Beatles, o Liverpool. E se for fazer uma comparação com a artilharia do Campeonato Espanhol, a La Liga, isso fica ainda mais bizarro. Os três primeiros artilheiros, Cristiano Ronaldo do Real Madrid com 31, Diego Costa do Atlético de Madrid com 28 e Messi com 28 também marcaram mais do que o único artilheiro do Campeonato Brasileiro da temporada passada Ederson.

Edição do Campeonato Brasileiro na era dos pontos corridos 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Média de gols marcados

Total de gols marcados

2,89 2,78 3,12 2,71 2,76 2,72 2,88 2,57 2,68 2,47 2,46

1592* 1536* 1448 1030 1047 1035 1034 978 1017 980 936

*Os campeonatos de 2003 e 2004 ainda tinham 24 e 22 clubes respectivamente. Somente em 2005 é que o formato atual do Campeonato Brasileiro se consolidou, com 20 ao todo.

CAMPEONATO DEFICIENTE

O Campeonato Brasileiro esta com deficiências gritantes com relação aos elencos dos times, organização, desunião dos clubes, calendário, falta de interesse das torcidas em comparecer ao estádio e, por fim, os clubes que estão endividados e ficam sem saída para contratar nomes de peso para trilhar o caminho do time a um título importante. Com enorme endividamento dos times, a qualidade do campeonato cai significamente. Dos cinco grandes times que têm maior torcida, Flamengo e Vasco estão com a situação mais crítica em seus orçamentos. Um balanço feito pela Consultoria de Marketing e Gestão Esportiva Amir Somoggi ranqueou os treze clubes que têm as maiores dívidas, e são três clubes cariocas que encabeçam as três primeiras colocações: Flamengo em primeiro com R$ 757,4 milhões de reais; Botafogo com R$ 699,3 milhões e Vasco com R$ 518,4 milhões. Mas uma questão é sempre levantada no meio futebolístico: qual será o melhor jeito de se gerir um clube? Gastar mais e contratar melhores jogadores que estão no mercado e conquistar títulos ou controlar o orçamento, evitando fu58


esporte turas dívidas, porém com jogadores menos qualificados e sem perspectivas de grandes conquistas? Podem-se destacar dois casos distintos de gestão: os dos dois Atléticos, o Paranaense e o Mineiro. O Galo, como é popularmente conhecido em Minas Gerais, teve duas divisões em sua história: com Kalil e sem Kalil. Alexandre Kalil é o atual presidente do Galo mineiro, e mostrou que não tem medo de gastar para ter os melhores jogadores. O presidente do clube mineiro só contratou o meio de campo Ronaldinho Gaúcho, o atacante Diego Tardelli, o goleiro Victor e tinha no comando do time, o técnico Cuca. Com esses jogadores em campo o Atlético Mineiro conseguiu fazer o seu melhor Campeonato Brasileiro desde a mudança da disputa do campeonato que saiu do mata-mata para os pontos corridos, chegado em segundo lugar em 2012 com 72 pontos, cinco pontos a menos do que o campeão daquele ano, o Fluminense. No ano seguinte, os títulos vieram. O primeiro deles foi o Campeonato Mineiro, quando derrotou o rival Cruzeiro em dois jogos levantando a taça depois de alguns anos sem ter o gostinho da conquista. Contudo, a disputa na Libertadores da América estava em pleno vapor e o Galo estava vivo, conseguiu chegar à final da competição, e em dois jogos contra o Olímpia do Paraguai conquistou o troféu mais importante da sua história, levando assim o clube para a disputa do Mundial Interclubes ao final daquele ano. Porém, todas essas conquistas têm um preço, e segundo o mesmo levantamento da Consultoria de Marketing e Gestão Esportiva Amir Somoggi, o time mineiro é o quarto que tem maior dívida entre os clubes mais endividados, com R$ 438,4 milhões de reais.

Diferentemente do clube mineiro, o Clube Atlético Paranaense teve equilíbrio em seu orçamento e não teve um número expressivo de dívidas contraídas, porém o investimento em contratações de jogadores de peso foi expressamente deixados de lado. Contudo, apesar de ter um time de acordo com as finanças do clube, ou seja, um time mediano, o time paranaense conseguiu importantes feitos. Após retornar da segunda divisão em 2011, o furacão conseguiu com méritos abocanhar a última vaga para Libertadores no Campeonato de Brasileiro de 2012. Outro motivo que deve ser ressaltado para tamanha façanha é que o Atlético Paranaense ,diferentemente dos outros clubes, disputou o Campeonato Paranaense com um time alternativo preservando o time titular que apenas jogou amistosos

Campeonato

Média de Público 2012

Média de Público 2013

Paulista Carioca Mineiro Paranaense Gaúcho Pernambucano Cearense Goiano Catarinense Baiano

6.122 3.058 3.581 2.481 2.284 9.134 2.717 6.220 4.012 4.121

6.217 2.422 6.451 3.002 2.219 5.339 2.005 4.449 3.519 3.155

*Dados da Pluri Consultoria em um levantamento feito em 2012 e 2013

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Variação de Porcentagem em relação a 2012 2% -21% 80% 21% -3% -42% -26% -28% -12% -23%


e se preparou melhor fisicamente, já que o Campeonato Brasileiro terminou no começo dezembro e o Paranaense teve seu início na metade de janeiro, o que impossibilitaria a melhor preparação do time. O calendário, má gestão do campeonato e a queda no número de torcedores nos estádios são assustadores. O calendário brasileiro nunca foi algo questionado pelos clubes e jogadores, mas, devido à evolução ao longo dos anos do futebol, o desgaste físico e técnico aumentou. O número de jogos praticamente é o mesmo, porém o tempo para descanso e melhor preparação dos times diminuiu. Diferentemente do calendário europeu que começa ao fim de agosto de um ano e termina em maio do ano seguinte, o calendário do futebol brasileiro é totalmente diferente, começa em janeiro com os campeonatos estaduais e termina em dezembro com o Campeonato Brasileiro.

em média 43.496 torcedores por jogo. Levando em consideração que a maior parte dos estádios tem capacidade entre 45 mil e 60 mil torcedores, os jogos das Budesliga tiveram quase que presença maciça de seus torcedores. Mas não para por ai, campeonatos de menos expressão estão tendo mais público do que o nosso Brasileirão. Um bom exemplo disso é a Major League Soccer, a liga americana de futebol. A média de torcida lá na terra do Tio Sam foi de 18.845 pessoas por jogo, isso em 2012, além de ter 91% de ocupação de todos os estádios da competição. Vamos ver se médias de público, de gols e qualidade do Campeonato Brasileiro irão melhorar ao fim da Copa do Mundo quem sabe deixando um legado para o futebol brasileiro.

PÚBLICO Contudo como na vida uma coisa puxa a outra, com o calendário com seu formato atual, tendo estaduais, Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro, Libertadores da América e Copa Sulamericana, a média de público nos estádios vem diminuindo drasticamente. Vamos tomar duas frentes para destrincharmos tudo isso. Tomemos como base os campeonatos estaduais e Brasileirão. A média de público desses campeonatos vem diminuindo a cada ano. Isso se reflete em um levantamento feito pela Pluri Consultoria, que fez um ranking com todos os campeonatos estaduais. Vamos focar nos mais populares: Carioca, Paulista, Mineiro, Paranaense, Gaúcho, Pernambucano, Cearense, Goiano, Catarinense e Baiano. No Campeonato Brasileiro não é muito diferente. Desde que houve a mudança nas regras do campeonato, do mata-mata para pontos corridos, os públicos começaram a deixar de frequentar os estádios. Os motivos são vários, desde a violência praticada pelas torcidas organizadas até o preço do ingresso. Para ter uma ideia, São Paulo e Fluminense nas últimas rodadas do Brasileirão colocaram o preço dos seus ingressos lá embaixo, sendo que o ingresso mais barato é de R$ 10,00, algo bem acessível ao torcedor. A prática esta se repetindo esse ano. A discrepância na média de torcida no Campeonato Brasileiro é algo a ser revisto por todos os times e entidades ligadas à organização do futebol. A média de público nos estádios brasileiros, e se for levar em consideração somente os times que disputam a série A, não passa de 14 mil pessoas por jogo. Fazendo uma mera comparação, o campeonato alemão, a Busdesliga, teve 60


saúde

medidas

QUE VÃO ALÉM Atualmente, a obesidade já se alastrou pela metade da população brasileira; subindo na balança, é possível contabilizar o peso físico, porém, as consequências psicológicas por ela deixadas são imensuráveis em muitos casos Por Kawane Martynowicz Qual o maior motivo que leva uma pessoa a emagrecer? O sentimento de inferioridade em relação às pessoas consideradas dentro do padrão e o estereótipo negativo que o gordo tem na sociedade fizeram com que o estudante de Administração Matheus Boutin resolvesse mudar, não só na forma física, mas na maneira de agir e pensar. “O que me motivou a emagrecer foi o descontentamento comigo mesmo em termos de estética, comportamento, saúde, disposição, enfim, num todo fui atingido negativamente. Me sentia triste, mal, deprimido com tudo isso. Me sentia feio, me sentia um lixo”, desabafa. Desde pequeno ele já estava acima do peso, mas ainda não sofria nenhum tipo de impasse na sociedade, pelo contrário, as pessoas o consideravam uma “criança fofa”. Foi no início da adolescência, lá pelos seus 13 ou 14 anos, que Matheus sentiu o peso, literalmente, que teria que carregar a partir dali. Pesava 124 kg com 1,90 m de altura. Seu índice de massa corporal (IMC) era de 34, sendo acima de 30, segundo o médico Drauzio Varella, caracterizado como obesidade de grau 1, cujo risco de desenvolver diabetes é de 20%, e o de hipertensão ultrapassa 25%. Há risco maior de outras doenças cardiovasculares, articulares, distúrbios psiquiátricos, apneia do sono e até certos tipos de câncer. Quando completou 17 anos, Boutin já não aguentava mais os amigos lhe chamarem de Shreck, Faustão, Roberto Barros, Raul Gil, Biarticulado e Monstros S.A., e percebeu que não era isso que queria para a sua vida. Decidiu procurar uma endocrinologista, que lhe pesou e o orientou em uma dieta de dois meses, a qual lhe rendeu 15 quilos a menos à base de caminhadas no Parque Barigui, e redução rigorosa na alimentação. “Daí em diante fiz tudo por conta própria, segundo os meus projetos para alcançar o peso ideal. Decidi realizar, no mínimo, 12 km obrigatórios por dia,

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e se possível até mais, e comia de tudo um pouco - sem exageros - e assim continuo mantendo”, afirma ele. “Eu me acho bonita quando eu me arrumo para ficar bonita. Não sou bonita o tempo todo. Acho que ninguém é, e independente de ser gordo ou magro, cada um tem a sua beleza. O problema é que quando as coisas estão fora dos padrões não são consideradas bonitas. Eu, sinceramente, acho isso ridículo, porque o fora do comum sempre me atraiu”, revela Fernanda Steiniav, estudante de jornalismo, que não encara a obesidade como um problema, pelo contrário, se sente muito bem. Não é a pessoa mais feliz do mundo, mas é feliz sendo assim, extravagante, usando roupas pretas, piercings, tatuagens e cabelo colorido, exatamente como é. Aprendeu a conviver bem com isso, pois acredita que todos os gordinhos já sofreram preconceito. No seu caso, era mais quando criança, aquelas brincadeirinhas normais que todos fazem. “Na época de colégio, pré-adolescência, o bullying era mais comum. Apelidos como “gorda baleia saco de areia”. Mas eu nunca me importei mesmo, nunca deixei isso me magoar. Se os outros me ofendiam, eu tratava de me vingar na mesma moeda. Mas naquela época ninguém sabia direito como a vida funcionava, e provavelmente o cara ou a guriazinha que praticavam bullying adoidados pode ser que hoje estejam numa pior. É tudo muito relativo”, diz, em tom malicioso. O bullying e o preconceito na infância podem influenciar nos sentimentos de autoestima e autoconfiança da vida adulta, segundo a psicóloga Mariana Sartor. “Mas isso vai depender de muitos fatores, por exemplo, o ambiente familiar. Só o bullying pode não ter esse efeito sozinho. Um indivíduo que cresce ouvindo desqualificações sobre ele pode ter dificuldade de reconhecer valor em si mesmo, ou de achar que ele sempre é inadequado”, mostra. Boutin também conta que quando começou a agir e se comportar de maneira diferente, as pessoas o viram diferente, e lhe trataram de tal forma. “Isso altera o nosso comportamento, nos tornamos pessoas chatas, indispostas e completamente desinteressantes. Aquele gordo que só falava besteira, dava uma de louco e chorava por tudo, ficou na dele e parou de se importar com coisas pequenas. Emagreci, me senti mais bonito, fiz com que a minha autoestima se elevasse de forma extremamente significativa e me tornei uma pessoa disposta em todas as esferas - estudos, tarefas, até mesmo levantar cedo, não há o que comparar”, afirma, com ar de satisfação. Para Mariana, o indivíduo obeso nem sempre apresenta queixas e problemas decorrentes deste quadro. “Algumas pessoas procuram atendimento psicoterápico e a queixa tem relação com os prejuízos causados pela obesidade, outras não. Um objetivo da psicoterapia é o autoconhecimento. Assim, a pessoa pode compreender melhor seu funcionamento, seus padrões de comportamento e ficar em uma melhor condição de fazer escolhas coerentes com o que é importante para ela. O tratamento caminha para a aprendizagem de reconhecer e lidar melhor com as emoções, focando no desenvolvimento de novos jeitos de agir no mundo”, ressalta a especialista.

“ DEPOIS DE TOMAR REMÉDIOS E FAZER MIL DIETAS ABSURDAS, EU ACEITEI QUE A OPÇÃO MAIS SAUDÁVEL PARA MIM ERA A CIRURGIA.” AMANDA BACILA, ESTUDANTE

MUDANÇA RADICAL A princípio, a estudante de jornalismo Amanda Bacilla queria emagrecer pela saúde. Subir escadas ou andar por algum tempo era uma tarefa árdua para ela, então, optou pela cirurgia bariátrica. Apesar disso, a decisão foi também pela estética. Nunca tinha sido magra na vida, e queria saber como o mundo iria vê-la em um corpo magro. Fez um tratamento por cinco anos com o médico que lhe operou, e durante este tempo não teve coragem de operar. Até que em 2013 ela decidiu, e enfrentou toda a burocracia do plano de saúde para realizar seu sonho. “O gordo sempre tem a esperança de emagrecer com academia e dietas loucas, mas o que é difícil de aceitar é que a obesidade é uma doença séria e precisa de tratamento. Depois de tomar remédios e fazer mil dietas absurdas, eu aceitei que a opção mais saudável para mim era a cirurgia. Algumas pessoas veem a cirurgia bariátrica como um caminho fácil para o emagrecimento, mas só quem operou sabe o quão difícil é equilibrar os níveis de nutrientes após inutilizar parte do intestino responsável pela absorção dessas substâncias. Hoje eu tenho que comer frutas e verduras todos os dias, tomo no mínimo, quatro litros de água por dia para manter a hidratação, tomo suplementos alimentares e não sei o que é uma coxinha há mais de um ano, e mesmo assim meu nível de ferro está abaixo do ideal. Mas foi a melhor iniciativa que tomei na vida. Não me envergonho ao dizer que passei de 120 kg para 66 kg, e hoje consigo correr, fazer exercícios

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saúde sem cansar, e sou uma pessoa feliz com meu corpo”, expõe. Já Fernanda revela que nunca foi fã de dieta. “Eu sempre fui assim, desde que nasci. E na verdade eu tenho fases: tem dias que eu como bastante, tem dias que não. Nunca liguei muito para isso. Já pensei na hipótese de fazer a cirurgia, mas descartei. Primeiro por questão financeira. Eu não faria uma cirurgia desse tipo no SUS, e não é só isso, tem toda aquela questão estética que vem depois como plástica e etc. E segundo, não que eu condene quem faz, mas eu acho que isso é mais para uma situação desesperadora, tanto física como psicológica”, esclarece. De acordo com Cristina Aquino, especialista em cirurgia bariátrica, a indicação deste tipo de cirurgia é para obesos com o IMC acima de 35, ou 30 com doenças associadas (diabetes, hipertensão, apneia do sono, problemas cardíacos), e que já tentaram métodos tradicionais (dieta, exercício e medicamentos) durante cinco anos e não conseguiram emagrecer, como Amanda. “Quando a gordura coloca em risco a saúde, a cirurgia está indicada. Além disso, existem diversos tipos de cirurgia bariátrica. Dependendo do método, existem mais ou menos riscos”, explica. DADOS QUANTITATIVOS A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, revelou em 2012 que o percentual de pessoas com excesso de peso superou, pela primeira vez, mais da metade da população brasileira: 51% da população acima de 18 anos estaria acima do peso ideal, sendo que em 2006 o índice era de 43%. O aumento atingia tanto a população masculina quanto a feminina; entre os homens, o excesso de peso atingia 54%, e entre as mulheres 48%. O estudo inédito também revelou que a obesidade cresceu no país, atingindo o percentual de 17% da população. Em 2006, quando os dados começaram a ser coletados pelo Ministério, o índice era de 11%. Na primeira edição da pesquisa, 11% dos homens e 11% das mulheres estavam obesos. Em, 2012, 18% das mulheres e 16% dos homens estariam obesos. Os dados retratam os hábitos da população, e é um importante instrumento para desenvolver políticas públicas de saúde e estimular os hábitos saudáveis. Nesta edição, foram entrevistadas 45,4 mil pessoas em todas as capitais e no Distrito Federal, entre julho de 2012 e fevereiro de 2013.

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Um dado animador é que, depois de oito anos, o número de pessoas com excesso de peso parou de crescer no Brasil. Um levantamento do Ministério da Saúde aponta que 50,8% da população brasileira estava acima do peso em 2013, e 51% em 2012. A pesquisa do Vigitel ouviu cerca de 23 mil brasileiros maiores de 18 anos que vivem em todo o país. Um dos fatores que podem ter colaborado com a queda nos números é a reeducação alimentar. De acordo com o Ministério da Saúde, o número de pessoas que fazem o consumo recomendado de hortaliças e frutas estava em 22,7% em 2012, e passou para 23,6% em 2013.

OBESIDADE PELO MUNDO

Porém, atualmente, o índice mundial de pessoas obesas igualou o de pessoas subnutridas, fato que ocorreu pela primeira vez na história da humanidade, segundo a OMS. Enquanto países em processo de desenvolvimento estudam estratégias para acabar com a fome, outros países tratam a obesidade de seus cidadãos como um problema a ser combatido e enfrentado. Países desenvolvidos como Japão e Estados Unidos enfrentam uma verdadeira epidemia de pessoas obesas que desenvolvem as mais variadas doenças, decorrentes de uma alimentação hipercalórica e do sedentarismo. Nos EUA, um recente levantamento mostra que 30% dos americanos são obesos, mas esse número provavelmente deve ser maior, cerca de 50%, porque eles possuem critérios avaliativos pouco rígidos, diferentemente dos europeus. Na Europa e Japão a obesidade atinge 20% da população. Na China, país mais populoso do mundo, pesquisas revelam que o índice de obesos já atingiu 15% da população, enquanto que o de subnutridos é de 11%. O agravante é que à medida que diminui o percentual de subnutridos, aumenta o de obesos. No Brasil, a porcentagem de obesos atinge 11% da população adulta, número bastante superior ao de subnutridos, que é de 4%. Entre o grupo de países emergentes formados por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, apenas Índia e China têm índices de obesidade menores que o Brasil. No início de 2010, o governo da África do Sul decidiu que não ia mais tolerar policiais acima do peso. Eles teriam que caber nos uniformes que usavam quando foram treinados para entrar para a polícia. Os que fizessem pedidos de ajustes e alargamento das fardas teriam seus pedidos negados e, em vez dos ajustes, receberiam um plano de perda de peso que duraria um ano, para que suas antigas roupas voltassem a servir. Aqueles que não conseguissem perder peso depois deste programa seriam demitidos. Já no México, o governo também incentivou seus policiais obesos a emagrecer, com apelo positivo da recompensa. Algumas cidades mexicanas prometeram um prêmio de 100 pesos por quilo perdido. Haveria uma forte orientação para que os policiais praticassem mais esportes e vigiassem seu peso, o que não surtiu resultados esperados. As principais causas da obesidade, mundialmente falando, são o alto consumo de alimentos não saudáveis, o sedentarismo e o consumo de alimentos industrializados.


Para atingir seu objetivo de reduzir em 10% nos próximos quatro anos, e em 25% nos próximos sete anos a população com excesso de peso, uma lei nacional, que entrou em vigor no início de 2010, obriga que empresas e governos realizem a medição das cinturas dos japoneses com idade entre 40 e 74 anos, como parte de seus exames anuais de saúde. Isso representa mais de 56 milhões de cinturas, ou cerca de 44% da população do país. O governo penalizará financeiramente as empresas e governos que não conseguirem cumprir as metas específicas. Aqueles que excederem os limites prescritos pelo governo - 85 centímetros para os homens e 90 centímetros para as mulheres (norma estabelecida em 2005 pela Federação Internacional do Diabetes), poderão apresentar riscos de saúde. Aqueles que estiverem sofrendo de doenças relacionadas ao excesso de peso receberão orientação dietética, caso não percam peso no prazo de três meses. Se não houver resultado, as pessoas serão encaminhadas a novos programas de reeducação depois de seis meses. O Ministério da Saúde japonês argumenta que a campanha ajudará a manter sob controle a expansão de doenças como o diabetes e as circulatórias. No entanto, estima-se que o maior objetivo da redução de peso dos japoneses é reduzir os custos dos serviços de saúde. Caso os japoneses continuem a engordar, poderão aumentar os custos de consultas, internações e o uso excessivo de medicamentos que elevam os custos de saúde no país. Aqueles que não alcançarem as medidas estipuladas perderão os benefícios dos planos públicos de saúde, passando a arcar integralmente com os custos de planos de saúde privada. O perigo desta campanha, iniciada no Japão e radicada em outros países, é desenvolver uma fobia social contra obesos, que passam a ser vistos de maneira negativa. Empresas japonesas estão obrigando seus funcionários a cumprir as metas de emagrecimento, correndo o risco de pagar uma multa de até US$ 19 milhões ao governo.

SOCIEDADE ESTARRECEDORA

Em uma pesquisa realizada com empresários brasileiros, foi revelado que, a cada sete donos de empresa, três não querem contratar gordos para trabalhar em seu estabelecimento, algo que muitos já sabiam ou, pelo menos, desconfiavam. Consultores do setor de recursos humanos (RH), entrevistados pelo programa Bom Dia Brasil, da Rede Globo, afirmaram que há empresários que acreditam no estereótipo de que os gordos têm baixa autoestima, e que ter um funcionário acima do peso seria ruim para a imagem da empresa. No entanto, os entrevistados rejeitados por esse motivo não sabem qual a verdadeira razão da recusa. Não contratar uma pessoa por causa da aparência é proibido por Lei no Brasil. Ainda assim, consultores de RH afirmam que a aparência tem um peso entre 25% e 30% na triagem inicial, que costuma eliminar 90% dos candidatos em uma oferta de emprego. Assim, dizer que o motivo da obliteração não foi a aparência é mais fácil, pois é mais difícil de provar que tenha sido essa a razão. R.S, um dos sócios e proprietário de uma empresa automobilística

“MUNDO NÃO É PROJETADO PARA PESSOAS GORDAS, ENTÃO, OU VOCÊ SE ADAPTA A ISSO OU SIMPLESMENTE NÃO SAI DE CASA.” FERNANDA STEINIAV, ESTUDANTE

aqui de Curitiba, afirma que por ele não há problemas, mas já aconteceu esse tipo de situação. “Outros sócios e funcionários já questionaram isso, e até foi encaminhado para o RH, mas eu não concordo”, declara. “O mundo vê com maus olhos o gordo. Gordo na sociedade é estereótipo de pessoa preguiçosa ou que não tem força de vontade para emagrecer. Vindo de uma pessoa que nunca sofreu com a obesidade, isso é algo que machuca demais, pois só quem esteve acima do peso sabe que as coisas não são fáceis. A vida é bem mais fácil para quem segue os padrões que a sociedade impôs, desde conseguir emprego até uma gentileza é mais fácil para o magro, e digo isso com propriedade”, indigna-se Amanda Bacilla. “O mundo não é projetado para pessoas gordas, então, ou você se adapta a isso ou simplesmente não sai de casa. Eu escolhi viver como qualquer pessoa vive, e não dou muita bola para a opinião alheia. Acho que uma pessoa não precisa só ter um corpo esbelto para ser “alguém” ou ter um lugar na sociedade. Quem gosta de mim, gosta do jeito que eu sou, então, exterior não importa muito”, se expressa Fernanda Steiniav. Em denúncia através de uma reportagem da Folha de São Paulo, realizada em 2011, que ouviu reclamações de cinco docentes de três diferentes cidades da região metropolitana de São Paulo, essas professoras foram reprovadas em um concurso da rede estadual de ensino por serem obesas. Todas afirmaram que seus exames não apontavam problemas sérios, mas que, ainda assim, o Departamento de Perícias Médicas do Estado as considerou “inaptas”. O concurso do qual participaram visava selecionar 9.304 professores que começariam a dar aula já naquele ano. Elas passaram na prova teórica, participaram de um curso de formação e foram aprovadas numa segunda prova. O problema veio na hora do exame médico obrigatório. Segundo o estatuto do funcionário público, um dos critérios para aprovação no concurso é a “aptidão física”, embora não fique claro exatamente o que isso seria. Segundo padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade pode ser considerada doença em alguns casos, mas, de acordo com a lei, a exclusão de um candidato por causa de sobrepeso é discriminação, sendo contrária à Constituição. A respeito disso, Matheus Boutin ironiza a questão da obesidade em diferentes sociedades. “A figura do gordo? Por acaso o gordo cabe dentro da figura? Piada de gordo que agora é magro”, finaliza, aos risos. 64


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caminho

MAIS FÁCIL?

Desde que atendam aos requisitos do Sistema Único de Saúde (SUS), brasileiros têm o direito de fazer a cirurgia bariátrica gratuitamente. Apesar de muitos acharem o caminho mais rápido para emagrecer, cirurgia exige cuidados para toda a vida. Por Klarissa Henke

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A obesidade é um índice que vem aumentando na casa das famílias brasileiras. Segundo dados do Ministério da Saúde, mais da metade da população brasileira está acima do peso ideal. A pesquisa revela que o índice dos brasileiros acima do peso cresceu 18,6% em seis anos. Diante disso, a única solução na maioria dos casos é a cirurgia bariátrica ou popularmente conhecia como a redução de estômago. Existem três procedimentos básicos de cirurgia bariátrica: videolaparoscopia (menos invasiva e mais confortável ao paciente): Restritivos (diminui a quantidade de alimentos que o estômago é capaz de comportar); Disabsortivo (reduz a capacidade de absorção do intestino); Técnica mista (pequeno grau de restrição e desvio curto do intestino). A cirurgia é permitida para pessoas entre 16 e 65 anos de idade e mais frequente em mulheres cerca de 80% recorrem à cirurgia. O motivo é que as mulheres possuem mais facilidade de engordar que os homens e são mais corajosas para enfrentar a cirurgia. Para que a pessoa esteja apta para realizar o procedimento, recomenda-se que tenha um Índice de Massa Corporal (IMC) maior ou igual a 35kg/ M². E com doenças associadas a hipertensão arterial, diabetes, melito, colesterol alto, apneia de sono, doenças osteoarticulares etc. Ou ainda que o paciente esteja com obesidade em tratamento sem sucesso por no mínimo 5 anos. A preparação da cirurgia requer diversos exames de sangue e imagem. Além disso, são feitas avaliações com profissionais de diversas áreas: psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, endocrinologistas e cardiologistas. De acordo com a psicóloga e especialista em obesidade e transtornos alimentares, Luciana Kotaka, a psicologia é essencial para o paciente se preparar para a cirurgia. “Através do processo de terapia, o paciente conseguirá identificar os gatilhos emocionais e alimentares que o fazem comer em excesso, além de desenvolver comportamentos mais assertivos em relação ao seu comportamento alimentar”, destaca Luciana. A terapia auxilia o paciente a aprender a se responsabilizar por seu comportamento pós-cirúrgico, como alimentar-se de forma saudável. As pessoas que buscam a cirurgia já estão cansadas de tentar todos os meios para emagrecer, por isso carregam a sensação de impotência, fracasso e baixa autoestima. Porém, mesmo com a cirurgia, precisam aprender a cuidar da alimentação, pois a cirurgia por si só não é a garantia do corpo magro. Em alguns casos, a cirurgia pode gerar complicações, como infecções, tromboembolismo (entupimento de vasos sanguíneos), obstrução intestinal, hérnia no local do corte, infecções internas e até pneumonia. Além disso, sintomas gastrointestinais podem aparecer após as refeições.

“QUEM BUSCA A CIRURGIA JÁ ESTÁ CANSADO DE TENTAR TODOS OS MEIOS PARA EMAGRECER, POR ISSO CARREGA A SENSAÇÃO DE IMPOTÊNCIA”

pós-operatório chega a ser de moderada a intensa. Entre 2010 e 2013, o SUS teve um aumento de 45% de cirurgias, chegando a fazer em torno de seis mil cirurgias, representando uma redução na lista de espera. Os recursos investidos pelo SUS chegaram a R$38,1 milhões em 2013 segundo o Ministério da Saúde. O sistema também auxilia o paciente no pós-operatório. Segundo a Portaria nº 492, de 2007, o sistema fez um incremento de 100% a 277% no valor pago em cinco exames ambulatoriais pré-operatórios necessários. Para que o paciente consiga realizar a cirurgia pelo SUS, precisa passar por avaliação clínica e cirúrgica e ter acompanhamento com equipe multidisciplinar durante dois anos. Durante esse tempo, o paciente é submetido a uma dieta e, se os resultados não forem positivos, a cirurgia é recomendada. Aos pacientes com obesidade grave, o acompanhamento médico inclui exames clínicos preparatórios para a cirurgia e o atendimento pós-operatório (se necessário, o SUS cobre a cirurgia plástica). Além disso, oferece orientação nutricional e psicológica aos pacientes. O SUS não cobre a cirurgia quando o paciente tiver um quadro de transtorno psiquiátrico não controlado, incluindo o uso de álcool ou drogas ilícitas. Pessoas com doenças cardiopulmonares em situação grave, hipertensão portal, doenças imunológicas ou inflamatórias do trato digestivo superior que venham a predispor o sangramento digestivo. Exemplo de paciente A estudante universitária Enemércia Gonçalves (20) conta que a cirurgia bariátrica foi a sua última opção para emagrecer, porque estava com depressão e em um nível descontrolado de aumento de peso. Enemércia fez a cirurgia bariátrica pelo método videolaparoscopia em uma clínica particular (plano de saúde). Ela conta que fez acompanhamento psicológico durante três meses

SUS É OPÇÃO

O Sistema Único de Saúde (SUS) cobre somente um tipo de cirurgia bariátrica, conhecida como a convencional (corte grande); o método de cirurgia videolaparoscópica (furinhos) possui um material muito caro e o sistema não cobre. O método convencional é mais demorado, o paciente leva em torno de 30 a 60 dias para conseguir voltar à rotina normal e a dor 66


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ALIMENTAÇÃO PÓS-CIRURGIA

““MUITAS PESSOAS COMO EU TENTARAM OUTRAS FORMAS PARA EMAGRECER, MAS POR MOTIVOS PSICOLÓGICOS É FÁCIL CHEGAR À OBESIDADE.” ENEMÉRCIA GONÇALVES, ESTUDANTE

pós-cirurgia, mas parou porque não sentiu mais a necessidade do tratamento. Sobre as mudanças que a cirurgia trouxe para a vida, a estudante conta que primeiramente é a quantidade de comida. Antes da cirurgia tinha crises compulsivas e comia muito, mesmo estando satisfeita. Após a cirurgia, percebeu que, se comesse demais, iria passar muito mal. Outra adaptação foi comer de três em três horas corretamente e ter que diminuir a ingestão de açúcares por causa do dumping (efeito colateral conhecido como síndrome do esvaziamento rápido gerando enjoos, tontura e suor frio). A estudante conta que indica a cirurgia, porque fez muita diferença em sua vida, tanto esteticamente como fisicamente. “Muitas pessoas como eu tentaram outras formas para emagrecer, mas por motivos psicológicos é muito fácil chegar à obesidade mórbida. Por isso indico a cirurgia, para que as pessoas não sofram tanto e consigam mudar para um estilo de vida mais saudável”, conta Enemércia.

IMPORTÂNCIA DO EXERCÍCIO

A prática de exercícios físicos pode prevenir muitos problemas, entre eles a obesidade e o sedentarismo. Segundo o fisiologista de exercício, Guilherme Souza, as atividades mais indicadas para a perda de peso são as aeróbicas. O organismo se utiliza da gordura como maior fonte de energia e esta é gerada quando existe certo consumo de oxigênio. A cada litro de oxigênio, a pessoa gasta cinco calorias; quanto maior seu consumo, uma maior quantidade de calorias será gasta. Outro fator importante é a intensidade do exercício, estudos recentes mostram que uma atividade em maior intensidade gera um maior consumo de gorduras no pós-treino, tendo duração de até 72 horas. Segundo a Organização Mundial da Saúde, cinco vezes por semana em 30 minutos diários já seria o suficiente para manter uma rotina saudável. O corpo humano utiliza várias fontes de energia e, dependendo da intensidade, uma será mais utilizada do que a outra. A faixa ideal de queima de gordura seria entre 65% e 75% da frequência de reserva. Nesta faixa, a prioridade na utilização de energia vem da gordura, porém somente durante a atividade. Para pessoas sedentárias ou iniciantes não é recomendado um treino muito intenso, principalmente para obesos, porque a exigência cardíaca é alta e pode trazer alguns riscos. A alimentação deve andar junto com a atividade física, porque dependendo do balanço enérgico a pessoa pode emagrecer mais ou menos com a mesma quantidade de exercícios.

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Segundo o cirurgião bariátrico e doutor em cirurgia pela UFPR, Giorgio Barreta o período pós-operatório é o mais importante, já que o paciente tem uma dieta evolutiva e hipocalórica especial. A alimentação pós-cirurgia começa com líquidos, depois é liquidificada, pastosa, branda e por último uma dieta sólida geral. O paciente precisa comer de duas em duas horas ou de três em três horas para evitar hipoglicemia e excesso de apetite. Lembrando que os alimentos ingeridos devem ser em pequenas calorias por porção e evitar a ingestão de líquidos durante as refeições. Existem muitos casos em que os pacientes voltam a engordar. Segundo Barreta, 20% dos pacientes reganham peso em virtude da perda do acompanhamento com a sua equipe médica. Muitos não mudam os hábitos dietéticos (dietas muito calóricas) e retornam para o sedentarismo. A psicóloga Luciana Kotaka destaca que o tratamento psicológico também irá fortalecer o paciente, trabalhando com questões que surgirem em relação ao novo do corpo. Na maioria das vezes, trabalha o desejo de comer, já que a cirurgia não cessa este desejo, mas limita as quantidades a serem ingeridas. Começar a terapia é essencial antes da cirurgia, porque muitos pacientes acreditam que após o procedimento cirúrgico irão se controlar (são obrigados a comer menos), mas isso não acontece na realidade. E é nesta ilusão de que irão se controlar que o sofrimento chega e as compulsões acontecem, fazendo com que muitos utilizem o vômito para esvaziar o que ingeriram para não passarem mal. Outra questão que pode ser tratada através da psicologia no pós-operatório é a imagem corporal. Os pacientes emagrecem e sentem-se ainda obesos, sendo necessário trabalhar a nova imagem corporal adquirida no processo de emagrecimento.



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