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Apresentaça~o
Poucos têm se atentado para o fato de que a literatura é muito mais que o leitor isolado folheando as páginas de um livro. A literatura é sempre um encontro, sendo que a vida literária reserva várias situações e contextos nos quais os encontros acontecem.
A etimologia da palavra “encontrar” traz uma certa curiosidade: ela origina-se no latim tardio “incontrare”, que ao pé da letra significa defrontar-se com o oposto, estar diante do contrário. Um encontro, a partir desta perspectiva, pode tanto refletir um ágon, isto é, uma disputa, uma competição, como também a tensão de algo que se opõe devido ao enfretamento de ideias contrárias. A arte, entendendo aí a arte literária, é em sua natureza e essência o lugar de tensão e, por tal motivo, trabalha com os opostos.
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A linguagem artística deve inquietar, provocar a alteridade, encenar a diferença, levar o outro a pensar. Em suma, a linguagem artística opera-se por meio de um confronto de ideias. Por exemplo, a comédia na Antiguidade era considerada a verdade que se desvelará mediante o ágon, sendo o confrontar o nascedouro da riqueza do encontro.
Competir e confrontar não é o mesmo que cultivar a inimizade. Pelo contrário, a competição e o confronto fertilizam desapercebidamente o terreno onde poderá ser plantada a melhor amizade. A presença dos contrários é afeita à
amizade quando pessoas buscam trazer os sentimentos dos outros para si e, também, dividir suas inquietações. Nessa perspectiva, o encontro torna-se um espaço para a interlocução, para a criação do projeto coletivo, para o fazer verdadeiramente político. O encontro aí transcende a etimologia de oposição e antagonismo que o criva.
“Um dedo de prosa”, o título deste livro não poderia ser mais apropriado, é uma expressão popular que significa uma pausa para uma conversa entre amigos. Um encontro entre escritores londrinenses ou que desenvolvem/desenvolveram trabalhos literários na cidade, numa conversa propícia à amizade, com um fundo falsamente despretensioso, pois cercado de uma atmosfera de convergência e dissentimento.
Trata-se de um projeto que promove o encontro de escritores com estudantes do ensino médio, tendo aí a grande função de política. Provoca a amizade pois faz da literatura uma performance que, além de estender o texto impresso para a voz, reúne pessoas para o exercício da sensibilização, para sentir com o outro.
O livro é um dos resultados deste projeto, cujos poemas, crônicas e contos aqui presentes trazem, por meio do atrito das ideias, uma verdade sobre o mundo.
Frederico Fernandes Professor de Teoria Literária na UEL Pesquisador CNPq