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Mário Bortolotto

Escreve para teatro desde 1981. Em 1982 fundou o grupo de teatro Cemitério de Automóveis. Vocalista da banda de blues “Saco de Ratos”. Montou 60 textos seus com o Cemitério de Automóveis e ganhou vários prêmios como autor, diretor, ator, sonoplasta e iluminador. Em 2000, recebeu o Prêmio APCA pelo conjunto da obra e o Prêmio Shell de Melhor Autor por Nossa vida não vale um chevrolet. Tem dez livros publicados pela Atrito Arte: Mamãe Não Voltou do Supermercado (romance), Seis Peças de Mário Bortolotto - Vol. I, Para os inocentes que ficaram em casa (poesia), Seis peças de Mário Bortolotto – Vol. II, Sete Peças de Mário Bortolotto, Gutemberg blues (compilação de matérias escritas para os Jornais Folha de Londrina e Correio Londrinense), Doze peças de Mário Bortolotto – Vol. IV, Atire no dramaturgo (coletânea de textos do blog), Um bom lugar pra morrer (poesia), Treze peças de Mário Bortolotto Vol. V. Pela Ciência do Acidente, publicou o romance Bagana na chuva. Mamãe não voltou do supermercado (2ª edição leva o selo da Editora Alaúde). Os anos do furacão (Editora Realejo). Esse tal de amor e outros sentimentos cruéis e O pior lugar que eu conheço é dentro da minha cabeça (Editora Reformatório).

Os dois

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Eles eram dois Mas nem sabiam que eram dois pois os dois eram sozinhos e se sentiam assim sozinhos os dois Às vezes ficavam abraçados testemunhando enchentes e dividiam segredos e riam das bobagens um do outro e telefonavam sempre um para o outro só numas de ouvirem

a voz um do outro Eles não eram felizes E falavam alto nos bares E contavam histórias estapafúrdias os dois Se encontravam no meio de tanta gente Eles sempre se encontravam e sorriam tímidos um para o outro porque eram sozinhos os dois

e por um momento já não era tão assim eles eram quase dois mesmo sozinhos assistindo filmes de madrugada e pegando no sono abraçando almofadas sozinhos bêbados tomando comprimidos pra dormir aviltados com a publicidade que cercava a solidão dos dois E eles queriam fugir E ele queria entrar dentro dela E ficar lá o resto de sua vida não pra ser um mas pra ser dois definitivamente de uma vez por todas os dois

Don’t let me be misunderstood

A tarde que parece inatingível Meu suspirar nervoso e quase insolente Quando a cozinha é quase um pântano Quando o coração ameaçar explodir no peito Quando o seu nível de apreensão te levar a completa exaustão Quando você brinca com frisbees pra passar o tempo Quando o tempo ameaça não passar Quando a música te levar pra um canto escuro atrás da cortina Quando toda a tristeza derrubar a sua porta E não há como dormir, não há como fugir Quando saio na noite incendiando bares Quando volto pra casa com a alma atormentada Me sentindo o mais solitário e infeliz dos caras Você saindo de dentro de um temporal Com o sorriso mais bonito do mundo

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