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Felipe Pauluk

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Samantha Abreu

Samantha Abreu

Curitibano residente em Londrina, jogou na loteria da vida e numa quina, tirou o menor prêmio, a literatura. Lançou seu primeiro livro, “Meu Tempo de Carne e Osso”, em 2011). “Hit The Road”, Jack, romance em 2012. Em 2015, foi lançado o romance “Town”. “Comida di butequim” e “Tórax de São Sebastião” foram seus dois livros de poemas publicados em 2016. “Manual Prático de Perna Mecânica para Cantores” foi lançado pela BAR EDITORA, em 2018. Após um hiato de 3 anos, Pauluk lançou “Heartbreak Hotel, livro que mistura prosa e poesia. Felipe também é roterista.

meia-noite

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. um demônio pousou sobre minha testa

um demônio pálido como o dente velho de uma criança pobre

& através dele eu puder ver a cidade & os semáforos apagados

os carros amontoados empilhados como corpos-nudes em uma vala comum

e o pico do everest era meu dedo cromado como o quadro da bike do bandidinho da meia-noite

toda solidão é um meteoro romântico e silencioso

peso

. sonhei esta noite com uma grande índia desnuda no centro da cidade e ela me chamava de amante e eu a chamava de destruição tomamos cerveja juntos em um quiosque de praia e o mar era uma avalanche de pedras como prédios implodidos então eu abri minha pequena bíblia do gideões arranquei a folha de um salmo & limpei a sua linda & macia boca carnuda & ela disse “eu te amo”, enquanto abria as pernas & eu nadei dentro dela como um menino que encontra um rio como um homem que se apaixona pelo caos acordei assustado e você dormia no meu peito era o peso dos teus olhos era a tonelada do teu amor sobre mim

. morrem sobre os cavalos e apinhados sobre os poços

silenciosos como as tumbas abaixo de uma avenida empanadas pelos esgotos-chiques de uma bolsa de valores qualquer

os cristos caminham cabisbaixos procurando pedras polidas peras podres & dentes-de-leão

não usam arma de fogo ou alcorão no máximo uma faca pra sangrar peixe no máximo um talher de rasgar bocas

morrem crucificados em semáforos as tripas piscam verde-amarelo-vermelho

silenciosos como o grão de areia cruzando o oceano humano

Cristos

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