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Herman Schmitz

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Samantha Abreu

Samantha Abreu

Iniciou a sua carreira artística nos anos 1980 atuando, dirigindo e escrevendo para teatro. É músico diletante e montou a banda de música & poesia Radicais Livres para divulgar a sua produção poético-literária. Desde que se fixou em Londrina participa ativamente no cenário artístico da cidade, trabalhando como design gráfico, editor e produtor cultural de importantes publicações. Publicou o seu primeiro livro de poemas Os Maracujás em 2007. Produziu e participou do projeto Poesia in Concert contemplado com a Bolsa Funarte de Circulação Literária em 2012. Em 2014 lançou o seu livro de contos de ficção científica Terrassol, pela Atrito Arte. Também mantém o blog de ficção científica literária marcianoscomonocinema.blogspot.com. br. Participa do Projeto Um Dedo de Prosa desde a sua criação. É mestre em Literatura comparada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Micro Invasão

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Ainda é difícil de acreditar que a invasão começou no meu próprio quintal, num fim de tarde de domingo, tranquilo e aprazível, por volta das cinco horas. Mas o pior é saber que utilizaram meu corpo para localizar a Terra e invadi-la.

Tudo começou quando estava cortando as unhas do meu pé esquerdo, e avistei na ponta do dedão umas manchas esbranquiçadas que logo tomaram a forma de algo metálico, como se fossem diminutas embarcações flutuando no espaço. Elas estavam saindo do meu dedo em formação alinhada, ordenada de duas em duas, o que me pareceu visivelmente artificial e engraçado.

A princípio duvidei daquilo tudo, minha mente ociosa se recusava a aceitar as tais naves minúsculas como sendo algo mais que uma agradável ilusão de ótica provocada pelos raios oblíquos do sol.

Mas a insistência daquele voo de insetos sem nenhum zumbido me fez sair lentamente de minha letargia para dar um piparote ao acaso em uma das naves mais próximas.

Imediatamente recuei horrorizado pela dor lancinante em meu dedo e pela constatação de que a nave não se movera com o esperado recuo de um inseto abalado, e pior, abriram umas escotilhas na fuselagem e delas emergiram pequeninas canhoneiras negras que logo abriram fogo, me fazendo estremecer de dor ao ser atingido por agulhadas em diversos pontos do meu corpo.

Levantei-me depressa e ainda tonto pela surpresa percebi que as naves se reposicionavam, cercando-me por todos os lados. Ao nível dos meus olhos mantinha-se a nave que me atingira tão duramente.

Havia tensão nessa abordagem, pareciam esperar só mais um passo meu para ativarem novamente seus canhõezinhos.

“Leve-nos ao seu líder! ” – Pensei eu sem saber por que, e a frase se repetia salmodiada em minha mente como se fora implantada por aquela diminuta nave de guerra e por seus misteriosos ocupantes.

Dei um passo para trás e as naves me acompanharam. Agora sim estou frito – pensei. Estou sendo feito prisioneiro por alienígenas em meu próprio quintal. Feche os olhos, respire fundo e relaxe, essa alucinação passará sem dúvida.

Mas no íntimo algo já me dizia que não era um delírio, já sabia que isso não passaria, que havia ali uma terrível verdade: eu havia sido abduzido!

Sim, meus caros compatriotas, fui eu mesmo quem chegou em frente ao Congresso na segunda-feira de manhã e provocou todas aquelas reuniões de emergência a portas fechadas.

Fui eu quem sofreu o descrédito dos militares, até eles virem seus charutos destroçados pelos pequenos mísseis do inimigo, seus tanques violados pelo laser alienígena e suas frotas desbaratadas pelas pequenas naves que se introduziam em qualquer fenda, infiltrando-se nos controles e os destruindo com facilidade e precisão.

Eles usaram a minha voz como emissária dos seus interesses – eu estive presente em todas as reuniões. Não eu, mas sim o farrapo humano que era arrastado de sala em sala, exigindo rendições e armistícios.

O planeta foi derrotado, enfim.

E hoje, que já não sou mais útil e fui descartado como todos os outros, acabamos prisioneiros desse exército e trabalhamos sob a guarda de suas micronaves, aqui nessas minas de urânio e cobalto de onde são retirados os elementos para a fabricação da ponte interestrelar – por onde virão os verdadeiros conquistadores.

Ainda penso naquela tarde domingueira e vejo que minhas unhas precisam novamente de um corte…

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