EDUCAÇÃO INFANTIL - NOÇÕES SOBRE O TEMPO

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Noções sobre

Releitura feita pelas crianças do quadro A persistência da memória, de Salvador Dalí 10

Revista do Professor

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Fotos: Arquivo da escola

NOÇÕES SOBRE O TEMPO

Num projeto repleto de experimentações, produções artísticas, contato com a natureza e muitas brincadeiras, crianças constroem saberes sobre o conceito de tempo

Cláudia Tricate *

o tempo

A

s estações do ano, o dia, a noite, as horas, os minutos, os segundos: tudo isso ajuda a entender a sucessão de momentos que en-

volvem a noção de presente, passado e futuro. Trata-se de um conceito muito abstrato, mas muitas crianças têm curiosidade em conhecer mais sobre o que é o tempo. No Colégio Magno/Mágico de Oz, em São Paulo, SP, a equipe pedagógica elaborou um projeto para que as turmas da educação infantil aprendessem sobre esse tema. Um questionamento deu nome ao projeto e serviu para instigar meninos e meninas: “Quanto tempo o tempo tem?” Desenvolvido no segundo semestre de 2014, o projeto foi elaborado com o objetivo de promover experiências significativas para a aprendizagem integral das crianças. Buscou-se, assim, realizar atividades, dinâmicas e pesquisas que contemplassem os aspectos cognitivo, motor, sensorial, alguns tipos de linguagens e conhecimentos sobre ciências.

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Enquanto o dia do adulto é dividido em horas e minutos, para a maioria das crianças o tempo é marcado pela rotina: hora de acordar, de dormir, de tomar banho, de ir à escola, de jantar etc. Numa roda de conversa, meninos e meninas foram incentivados a pensar no próprio cotidiano, conforme a ordem em que os fatos acontecem pela manhã, na parte da tarde e à noite. Estimulados pela professora, eles contavam as diferenças percebidas em dias de sol e nos dias de chuva, por exemplo. Em seguida, foram apresentadas as unidades convencionais de tempo, de forma a permitir que as crianças encontrassem sentido e significado para os marcadores, representados por relógios de vários tipos. A partir daí, o projeto foi avançando. Respeitando a faixa etária de cada turma, todas as crianças fizeram experiências científicas, brincaram, dramatizaram, exercitaramse, exploraram o meio ambiente, resolveram problemas, expressaram ideias e tiveram contato com a natureza para compreender as noções de tempo de diferentes formas. Ao final, expuseram suas produções para a comunidade escolar, mostrando os saberes construídos.

Desenvolvimento motor e sensorial Segundo o documento Orientações Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010), as práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular dessa etapa do ensino devem ter como eixos norteadores as interações e as brincadeiras, promovendo o conhecimento de si e do mundo por meio de experiências sensoriais e corporais que possibilitem a movimentação ampla e a expressão da individualidade. Nas práticas, é preciso levar em consideração o respeito pelos ritmos das crianças e os desejos delas. A dança das cadeiras foi uma das brincadeiras que fizeram parte do projeto: ela se baseia na ideia de parar e movimentar de acordo com a música, que funciona como um marcador temporal. Para organizar essa atividade, é preciso dispor as cadeiras em círculo, sendo necessário haver um assento a Analógico ou digital? Pesquisa sobre relógios 12

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menos que o número de participantes. Enquanto a

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música toca, todos os jogadores caminham e dançam em volta das cadeiras. Quando a música para, cada um deve tentar ocupar um lugar. A criança que não consegue se sentar sai do jogo levando consigo uma cadeira. O vencedor é aquele que consegue ficar no último assento. Outra brincadeira foi com o bambolê. O professor de educação física estimulou as crianças a ficarem o maior tempo possível com o aro girando em volta da cintura. A turma se divertiu muito tentando superar o desafio proposto. Na sala das crianças de 2 e 3 anos, as professoras arrumaram o espaço com pequenas tendas e barracas, lençóis e lanternas para explorar a parte sensorial. Todos brincaram de claro e escuro, simulando o dia e a noite. A diversão foi geral. Depois, desenharam no escuro, usando uma lanterna.

Multidisciplinar A pesquisa sobre o tempo permite trabalhar com as crianças de maneira multidisciplinar. O estudo das profissões diurnas e noturnas, os seres vivos de hábitos noturnos e diurnos, o funcionamento do sistema solar, as diferenças climáticas e as estações do ano são alguns exemplos disso. As crianças de 4 anos de idade receberam explicações de um astrônomo sobre as questões do tempo no sistema solar. Elas observaram o céu usando um telescópio e, assim, perceberam o movimento dos astros. Com a mediação da professora, também conversaram sobre conteúdos de ciências. Para trabalhar a língua escrita, as professoras incentivaram as crianças de 5 anos a fazerem registros do que foi trabalhado no projeto. Elas construíram um banco de palavras relacionadas às questões do tempo, enriquecendo o vocabulário. Foram instigadas a refletir sobre palavras como “nunca”, “sempre”, “jovem”, “velho”, “quase”, “amanhã”. Isso rendeu muitas conversas. Pesquisaram sobre calendários e elaboraram diários para contextualizar a aprendizagem, tornando-a, de fato, significativa.

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Brincadeiras marcadas pelo tempo

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Núcleo ambiental

Ainda segundo esse documento,

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (PCN), é importante as crianças ob-

o reconhecimento do papel transformador e emanci-

servarem e explorarem o ambiente com atitude de curio-

patório da educação ambiental torna-se cada vez mais

sidade, percebendo-se cada vez mais como integrantes,

visível diante do atual contexto nacional e mundial em

dependentes e agentes transformadores do meio am-

que se evidencia, na prática social, a preocupação com

biente. Os PCN recomendam ainda a valorização de ati-

as mudanças climáticas, a degradação da natureza, a

tudes que contribuam para a conservação da natureza.

redução da biodiversidade, os riscos socioambientais

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação

locais e globais, as necessidades planetárias (p. 542).

Infantil (BRASIL, 2010) explicam que a educação ambiental No colégio, há um núcleo ambiental com algumas envolve o entendimento de uma educação cidadã,

espécies de animais, plantas, frutas e verduras. Esse es-

responsável, crítica, participativa, em que cada sujeito

paço possibilita atividades enriquecedoras no dia a dia

aprende com conhecimentos científicos e com o reco-

de meninos e meninas. Com o projeto “Quanto tempo

nhecimento dos saberes tradicionais, possibilitando a

o tempo tem?”, as crianças foram convidadas a pensar

tomada de decisões transformadoras, a partir do meio

sobre o tempo na natureza, o período que as frutas le-

ambiente natural ou construído no qual as pessoas se

vam para ficar maduras. As professoras estimularam as

integram. A educação ambiental avança na construção

crianças a observarem uma bananeira e os cachos com

de uma cidadania responsável voltada para culturas de

frutas verdes e maduras e explicou também sobre a im-

sustentabilidade socioambiental (p. 535).

portância do clima nesse processo.

Aprendizagem: tempo de amadurecimento das frutas

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Preparando barrinhas de cereal Depois dessa etapa, elas fizeram experiências na

metáfora para a liquidez do tempo, o que é mui-

cozinha da escola para observar como o tempo é im-

to complicado para as crianças, uma vez que elas

portante no preparo de alguns alimentos. Junto com as

ainda têm pensamento bastante concreto. Mesmo

professoras, usaram as bananas para fazer barrinhas

assim, vale a tentativa de reflexão, pois há muitos

de cereais. Atentos às orientações, observaram a or-

elementos ricos para a imaginação, como a própria

dem para adicionar cada ingrediente, o tempo neces-

forma inesperada dos objetos.

sário para misturá-los e para assar as barrinhas. Ainda

As crianças também observaram o funcionamento

na cozinha da escola, prepararam gelatina e percebe-

da ampulheta. Depois, confeccionaram marcadores de

ram que é preciso colocar a mistura na geladeira para

tempo com material reciclável.

ganhar consistência.

A professora enviou um bilhete aos pais explicando o projeto e solicitando o envio de fotos dos filhos

Artes

em diferentes fases para um trabalho em sala de aula.

A maioria das atividades desenvolvidas no pro-

As crianças fizeram um cartaz com suas fotos desde

jeto rendeu produções artísticas. Ao estudarem os

os primeiros dias de vida até a idade atual, montando

tipos de relógios, as professoras convidaram as

uma linha do tempo.

crianças a fazer uma releitura dos “relógios derre-

A organização das fotos, em papel kraft, ajudou

tidos” de um quadro de Salvador Dalí (1904-1989),

meninos e meninas a observarem o desenvolvimento

pintor espanhol conhecido por suas obras surrea-

do próprio corpo, as mudanças na aparência. Numa

listas. O quadro pode ser interpretado como uma

roda de conversa, a professora estimulou-os a falar

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Montagem da linha do tempo sobre suas percepções e o que tinham notado de

a criatividade, a ludicidade e a liberdade das crianças.

diferente em suas fases de vida. Pediu também que

É nessa perspectiva que o Colégio Magno/Mágico de

enumerassem o que já haviam aprendido a fazer ao

Oz vem elaborando projetos cuja proposta pedagógica

longo dos anos. Alguns falaram que já sabiam escovar

busca garantir a construção de diversos saberes.

os dentes sozinhos. Outros disseram que estavam aprendendo a organizar o lanche na merendeira.

Referências

Ainda nas aulas de artes, foi desenvolvido um trabalho de confecção de bichos com hábitos noturnos, como a coruja e o morcego, com material reciclável. Depois de uma roda de conversa sobre esses animais, as crianças soltaram a imaginação e confeccionaram os bichinhos usando rolinhos de papel higiênico e tinta. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010) reforçam que as propostas pedagógicas dessa etapa do ensino devem estimular 16

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BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC, 1997. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2010. * Cláudia Tricate é psicóloga, pedagoga e diretora do Colégio Magno/ Mágico de Oz, São Paulo, SP. www.colmagno.com.br ctricate@colmagno.com.br

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