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João F. Aranha .......................................................................................................... 6 a

Aristóteles

Galileu - Frente a inquisição de Joseph Nicolas Robert Fleury Museu Rijksmuseum - Amsterdã - Holanda sárias e mobilidade ou estabilidade da Terra ou do Sol não é uma questão de fé nem contrária à ética. ” Bruno seria queimado vivo e Galileu, velho, cansado, doente, ameaçado de tortura e saudoso da família, nega seus princípios trocando a morte pela prisão domiciliar. Seria uma negação aparente, pois os anos que se seguiram seriam os mais profícuos do matemático italiano que terminou muitas de suas obras, cuidando para que as mesmas fossem levadas clandestinamente ao exterior. Galileu frente à Inquisição Decorridos 400 anos e após Galileu ser perdoado pela Igreja Católica, o século XXI volta a apresentar as mesmas questões do século XVII. Hoje a fronteira entre religião e filosofia ainda parece não estar sendo ultrapassada mas, com o surgimento da internet, voltamos à era da desinformação, das notícias falsas, do consumo sem qualidade, de discussões onde não há mediadores e onde a credibilidade não faz diferença. Para muitos a ciência só está certa quando concordam com o que pensam; são os tempos da pós-verdade. Já em 1920 os debates entre os criacionistas e os que defendiam a teoria da evolução estavam acirrados e ainda perduram até os dias de hoje. Cientistas questionaram o posicionamento da igreja nos processos que envolviam o combate à Aids e ao uso de preservativos e surgiram embates entre os que postulavam a supremacia dos genes e a influência que o meio ambiente exerce sobre nós. As notícias falsas e a desinformação levaram a um negacionismo que contraria as mais claras evidências científicas, como a ação do homem e os reflexos do clima no planeta, e a eficácia das vacinas, fatos que acabam por prejudicar políticas públicas que precisam de um mínimo de consenso coletivo. No Brasil existem inúmeros exemplos de atitudes governamentais anti científicas. Negadores da ciência ocupam cargos importantes e novas facções religiosas voltam a criar conflitos desnecessários entre ciência e religião, num país que se diz um estado laico. O menosprezo à ciência se reflete no corte de verbas para pesquisas e para as universidades. Preocupam-se em formar colégios militares ou religiosos, abandonando a educação científica e a formação de novos cérebros, o que tem levado a um descrédito e êxodo dos nossos melhores cientistas. O exemplo histórico fica aqui como alerta sobre a importância da liberdade de pensamento e uma lembrança de que a história não perdoará aqueles que se recusaram, em pleno século XXI, ouvir a ciência e os cientistas e se cercar de charlatães e oportunistas mal intencionados. Resta saber quem os perdoará, se é que vai haver perdão.

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Cohousing O morar no séc. XXI

Silvia Triboni Viajante Sênior e Repórter 60+

Projeto Across Seven Seas www.acrosssevenseas.com

Com o passar dos anos estamos vivenciando, na pele, o resultado das projeções que anunciavam o aumento de nossa expectativa de vida em até 30 anos em relação aos nossos avós. Além dos ganhos que a ciência e a medicina já nos colocam à disposição, implicações dessa vida longeva surgem a nos provocar questionamentos sobre o nível global de qualidade de vida que permeará o nosso futuro. Como estaremos daqui 10, 20 ou 30 anos? Saudáveis? Independentes? Com quem poderemos contar no caso de uma emergência? Não temos respostas para todas essas perguntas, entretanto, sabemos que podemos, hoje, planejar e governar o nosso futuro, pelo menos, quanto ao lugar, como e com quem vamos morar, e isso é já nos conforta. Ficou interessado? Vamos saber mais! A COMUNIDADE INTENCIONAL Em primeiro lugar, vamos imaginar um grupo de amigos, acima dos 50 anos que, ao passo em que envelhecem, e ainda que a mobilidade deles seja limitada, continuam próximos uns dos outros, vivendo e convivendo em espaços pensados por eles e para eles. Bom, não?! Isso é possível? Sim! Envelhecer tendo os seus amigos como vizinhos, e poder contar com eles no que for preciso em uma comunidade intencional, é possível, e é um jeito de morar que já virou realidade em muitos países. Chama-se Cohousing-sênior. O cohousing-sênior é reconhecido como um projeto de engenharia social, que tem por objetivo promover a qualidade de vida e a saúde dos moradores, por meio da maximização da interação social, da participação, da solidariedade e do apoio Munksøgård cohousings pioneiros na Dinamarca imagens do perfil

Munksøgård cohousings pioneiros na Dinamarca perfil Facebook mútuo, da cidadania ativa e do respeito ao meio ambiente.

O QUE É COHOUSING E COMO FUNCIONA Vamos saber mais sobre Cohousing – o Morar no Século XXI. Cohousing é uma habitação colaborativa, surgida como uma resposta social a um problema que afeta, sobretudo, grupos vulneráveis como os jovens ou os idosos. De acordo com Charles Durrett, “cohousing é uma comunidade intencional, formada por pessoas que decidem morar em um mesmo ambiente físico, no qual o terreno, as construções e as demais benfeitorias existentes constituem-se em meios de integração e convívio entre todos os moradores, permitindo e promovendo uma vida comunitária intensa, mas sem impedir que cada morador tenha uma vida familiar de forma privativa.”

Não se trata de um condomínio para idosos, mas de uma “comunidade residencial intencional, construída pelos próprios moradores”, conforme define Charles Durrett, o arquiteto americano que mais estudou as características das comunidades cohousing dinamarquesas. Além disso, projetou e acompanhou a construção de quase 60 comunidades cohousing nos Estados Unidos e no Canadá.

Charles Durret é um arquiteto norte-americano que introduziu o modelo de cohousing nos Estados Unidos. Toda cohousing possui, em comum, as seguintes características que definem este tipo de comunidade: 1. Processo participativo; 2. Projeto intencional de vizinhança; 3. Instalações comuns; 4. Gerenciamento pelos moradores; 5. Estrutura não hierárquica; 6. Recursos financeiros pessoais e independentes. “Todos projetam o espaço de acordo com as necessidades do grupo, com casas independentes e áreas compartilhadas como a cozinha, o refeitório ou as áreas verdes. Além disso, compartilham serviços essenciais como a limpeza, jardinagem ou cuidar das crianças.”

ORIGEM DO COHOUSING Esse sistema nasceu na Dinamarca nos anos 60, e combina diferentes soluções arquitetônicas com os princípios de vida comunitária, cooperativismo e propriedade coletiva. Munksøgård é um dos cohousings pioneiros na Dinamarca. Inicialmente era destinado para casais

jovens com filhos, devido ao seu caráter cooperativo. Assim, quando o pai e a mãe estivessem trabalhando os filhos poderiam ser supervisionados e cuidados, num sistema de revezamento pelos adultos. O revezamento de equipes para a compra de alimentos e preparação de refeições para todos os moradores, no refeitório da “Casa Comum”, é o outro grande diferencial dessas comunidades. Com o passar dos anos, os moradores mais velhos dessas comunidades multigeracionais resolveram optar pela vida em um cohousing-sênior, onde a idade mínima dos moradores costuma ser de 50 anos. QUEM MORA EM UM COHOUSING O Fórum Econômico Mundial (WEF) reconhece os benefícios sociais, econômicos e ambientais da habitação colaborativa, “um modelo mais inclusivo e sustentável que facilita a convivência, a cooperação e o uso responsável dos recursos naturais e energéticos. ” Viver em comunidade também é uma alternativa contra a solidão que afeta, sobretudo, às pessoas idosas e àquelas que sofrem discriminação. O cohousing para idosos é um dos modelos mais populares, mas não é o único uma vez que esse modelo é adequado para: - grupos de amigos que querem morar juntos e estabelecer um projeto comum, - pessoas que contam com recursos limitados, - pessoas com alguma deficiência ou com tratamentos crônicos, - grupos com necessidades específicas de espaço, iluminação ou acústica, etc. COMO O COHOUSING PODE SER CONSTITUÍDO A forma mais frequente de propriedade no cohousing é a cooperativa de habitações com concessão de uso. Isso significa que o imóvel pertence à comunidade, mas seus habitantes têm direito a morar nele e a utilizar os espaços comuns para o resto da vida. Este usufruto vitalício pode ser deixado como herança ou ser vendido através da cooperativa, facilitando assim a mudança de residência. O imóvel para a habitação pode decorrer de: • Aquisição do terreno e construção; • Aluguel de imóveis mediante acordos com os proprietários. Em ambos os casos a cooperativa assume todas as despesas originadas do projeto. COHOUSING - O MORAR NO SÉCULO XXI PELO MUNDO A teor do site da Iberdrola, grupo do setor energético global, no âmbito internacional existem modelos de habitações colaborativas que variam de acordo com o país e refletem as preferências de cada sociedade: Dinamarca - Prevalecem os cohousings com serviços comuns centralizados em um mesmo bloco, que pode ser independente ou estar integrado aos demais edifícios. Espanha - Predominam os cohousings para idosos com habitações que não superam os 80 m2 com quarto, cozinha e

banheiro. Estados Unidos - O habitual é que a vida comunitária decorra em um edifício independente e isolado dos demais. Reino Unido - A maioria das comunidades são mistas, seu tamanho varia entre 10 e 40 habitações e as áreas de uso coletivo se concentram em um edifício à parte. Suécia - É habitual que os espaços comuns ocupem um ou vários andares em blocos de diferentes alturas.

RESULTADOS DA VIDA EM UM COHOUSING-SÊNIOR O governo da Dinamarca, país de origem do cohousing, à medida que o tempo foi passando e o número de cohousings para adultos sêniores foi aumentando por lá, passou a registrar resultados e estatísticas confiáveis sobre o impacto da vida em uma comunidade intencional nas pessoas mais velhas. Alguns resultados: - Os moradores iam menos ao médico; - Tomavam menos medicamentos; - Vivam oito anos a mais que a média da população, e - baixíssimos índices de demências senis e de Alzheimer. A partir dessas descobertas, o número de comunidades-cohousing sênior, criadas na Dinamarca, superou o de multigeracionais. Charles Durrett afirma que, cohousing é a melhor alternativa àquela ideia que muitos adultos mais velhos têm de viverem na própria casa até não poder mais. É a opção para quem quer continuar se desenvolvendo, vivendo a vida plenamente e de maneira independente num ambiente que é mais prático, descomplicado, com certeza, mais econômico, mais divertido, mais interessante e mais saudável do que aquele que qualquer instituição poderia criar. Charles Durrett

COHOUSING - BRASIL Cohousing-sênior Vila ConViver. É uma proposta de comunidade intencional para professores, no bairro Jardim Alto da Cidade Universitária, em Barão Geraldo, Campinas. Destinada para docentes da UNICAMP aposentados ou com mais de 50 anos em vias de se aposentar. Com base em mais de dois anos de estudos e pesquisas sobre as alternativas de moradia para os adultos mais velhos, o grupo idealizador consolidou alguns dos principais conceitos sobre o modelo de cohousing-sênior que orienta todo o projeto. Citamos alguns: “Refletir e transformar – A proposta tem por objetivo levar os professores aposentados e aqueles que estão próximos da aposentadoria a refletir sobre as opções de moradia e inclusão social disponíveis atualmente, estimulando-os a criar um novo mundo para si. Nova arquitetura social – Essa proposta de arquitetura social, que incorpora os mais recentes avanços nas áreas da psicologia, geriatria, gerontologia, antropologia e sociologia, contribui de maneira inequívoca para uma vida mais longa, com muito melhor qualidade e muito mais segurança. A nova realidade do envelhecimento – É uma oportu-

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