Aristóteles
e a inquisição as Robert Fleury - Amsterdã - Holanda
sárias e mobilidade ou estabilidade da Terra ou do Sol não é uma questão de fé nem contrária à ética. ” Bruno seria queimado vivo e Galileu, velho, cansado, doente, ameaçado de tortura e saudoso da família, nega seus princípios trocando a morte pela prisão domiciliar. Seria uma negação aparente, pois os anos que se seguiram seriam os mais profícuos do matemático italiano que terminou muitas de suas obras, cuidando para que as mesmas fossem levadas clandestinamente ao exterior. Galileu frente à Inquisição Decorridos 400 anos e após Galileu ser perdoado pela Igreja Católica, o século XXI volta a apresentar as mesmas questões do século XVII. Hoje a fronteira entre religião e filosofia ainda parece não estar sendo ultrapassada mas, com o surgimento da internet, voltamos à era da desinformação, das notícias falsas, do consumo sem qualidade, de discussões onde não há mediadores e onde a credibilidade não faz diferença. Para muitos a ciência só está certa quando concordam com o que pensam; são os tempos da pós-verdade. Já em 1920 os debates entre os criacionistas e os que defendiam a teoria da evolução estavam acirrados e ainda perduram até os dias de hoje. Cientistas questionaram o posicionamento da igreja nos processos que envolviam o combate à Aids e ao uso de preservativos e surgiram embates entre os que postulavam a supremacia dos genes e a influência que o meio ambiente exerce sobre nós. As notícias falsas e a desinformação levaram a um negacionismo que contraria as mais claras evidências científicas, como a ação do homem e os reflexos do clima no planeta, e a eficácia das vacinas, fatos que acabam por prejudicar políticas públicas que precisam de um mínimo de consenso coletivo. No Brasil existem inúmeros exemplos de atitudes governamentais anti científicas. Negadores da ciência ocupam cargos importantes e novas facções religiosas voltam a criar conflitos desnecessários entre ciência e religião, num país que se diz um estado laico. O menosprezo à ciência se reflete no corte de verbas para pesquisas e para as universidades. Preocupam-se em formar colégios militares ou religiosos, abandonando a educação científica e a formação de novos cérebros, o que tem levado a um descrédito e êxodo dos nossos melhores cientistas. O exemplo histórico fica aqui como alerta sobre a importância da liberdade de pensamento e uma lembrança de que a história não perdoará aqueles que se recusaram, em pleno século XXI, ouvir a ciência e os cientistas e se cercar de charlatães e oportunistas mal intencionados. Resta saber quem os perdoará, se é que vai haver perdão.
magazine magazine60+ 60+#26 #24--Agosto Junho/2021 - pág.8