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Lairtes Temple Vidal .........................................................................................49 e

Em tudo que fazia ela brilhava e isso mexia com as pessoas, coisas e contextos. Nela as pessoas se inspiravam, esperavam, exasperavam. Quando chegava alegrava a festa de arromba. Sorria um sorriso diferente, para cada tipo de deleite, para todo tipo de gente. No andar a leveza da beleza, o desfile da passarela, o balanço da ginga, a cadência perfeita pra toda dança de qualquer baile. Seu toque era de midas. Seu olhar de diamante. Seu coração pulsante ecoava retumbante. Na escola era a primeira. Na fanfarra a baliza. Na formatura a oradora. Na gincana a vencedora. No concurso a miss. Na bandinha a cantora. Na serenata a declamada em cantata. No sorteio a premiada. Na seleção a artilheira. Na roda de “footing” sempre escolhida, eleita a preferida. Não conhecia a indiferença, a displicência, a inveja, a maledicência. Se der tempo, se sobrar, depois eu vejo, outra hora... para ela isso não havia. Sem demora Luísa reluzia. Até que um dia, em meio a uma ciranda, em um dado contexto de coisas e pessoas, um fiozinho de água verteu do solo e, devagarzinho foi alargando e, alagando fez uma poça. Todos que ali estavam formaram naturalmente uma roda em volta do singelo pequeno gêiser, deram um passo atrás, acompanhando o círculo que se ampliava, e olharam para baixo, cada um encaixando a cabeça na direção das próprias pernas, vendo a água límpida brotar do chão formando um claro espelho arredondado, e, admirados, admiravam cada qual seus rostos, cujas faces, todas elas, refletiam uma única tez, o semblante de Luísa. Luísa reluz em cada um. Não somos tudo. Mas, em cada pouco, um tanto. Somos pessoas capazes de brilhar na gincana, na passarela, no concurso, aqui e acolá. Quando quisermos. O necessário ou o suficiente, se possível ou desejável, o brilho reluzirá, principalmente se formos mais capazes em admirar o que de bom reluz no outro e nos deixarmos iluminar por essa irradiação, sem mazelas.

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Buscando palavras Profissão: Escritor

Vania Clares Escritora A.C.L

Sou paulistana, escritora, contista e poetisa e gestora da Sarasvati Editora e Comunicações. Licenciando em Filosofia e ativista cultural. Participei de vários encontros literários na Oficina Cultural Oswald de Andrade. Sou membro da ACL- Academia Contemporânea de Letras, tendo como patrono, Caio Fernando Abreu. Não precisei de muito tempo para entender que a poesia é a minha forma de expressão. Desde menina, quieta e tímida, meu refúgio era a biblioteca do colégio, onde uma abençoada bolsa me permitiu apreciar e aproveitar o conhecimento. Lia, pensava, observava e ensaiava sonetos, contos, histórias. Casei-me cedo, quatro filhos e com a viuvez precoce assumi o papel de provedora, educadora e sempre escrevendo, mesmo sem saber a que serviria. Com quase quarenta anos resolvi participar de algumas oficinas literárias, o que me deu a certeza do caminho a seguir. O primeiro livro aconteceu em 1992. Sem a escrita não existiria, tudo é motivo para registrar impressões, as minhas e as dos outros. O escritor, sem medo da fragilidade a que isso o expõe, é o retrato do seu tempo, escancara a alma e o pensamento. Doa generosamente as suas palavras e, às vezes, é só o que precisamos, a palavra e a poesia. Recentemente reli a biografia de Cora Coralina e toda vez me emociono. Uma mulher humilde, que estudou até a 3ª. série do primário, que fazia doces para sustentar quatro filhos, teve a sorte de ser descoberta por Carlos Drummond de Andrade e aos 75 anos conseguiu publicar o primeiro livro de poesias deixando uma obra belíssima. Alguns exemplos também me emocionam e incentivam: José Saramago foi autodidata, trabalhou como serralheiro, mecânico, desenhista industrial e também publicou na maturidade. Herman Hesse foi operário. Rui Barbosa, jurista. Carlos Drummond de Andrade foi funcionário público. Lya Luft, professora universitária. Vinicius de Moraes foi diplomata. Ignácio de Loyola Brandão, jornalista. Machado de Assis, de vendedor de doces fundou a Academia Brasileira de Letras juntamente com José Veríssimo e tantos outros ligados ao ofício da palavra, mas não tendo a profissão de escritor, que é uma profissão regulamentada, mas não reconhecida. Em 2008, o Deputado Antonio Carlos Pannunzio entrou com o Projeto Profissionalização do Escritor, projeto de Lei nº 4641, inspirado talvez em outros países como a Inglaterra, onde toda editora é obrigada a doar um livro de todos títulos publicados para as bibliotecas, como a Espanha, a Alemanha e a Argentina, onde os escritores recebem subsídios para sobreviver. Aqui no Brasil, há alguns anos, nosso Mário Prata lutou para poder preencher seu Imposto de Renda corretamente, escritor ao invés de assemelhado, enviando uma carta ao então presidente Fernando Henrique Cardoso, assim como lutaram Leila Miccolis, Urhacy Faustino e tantos outros. Algumas entidades e associações trabalham arduamente como é o caso de UBE, onde já aconteceu o Congresso Brasileiro de Escritores com a presença de

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