LUÍSA LUZIA Em tudo que fazia ela brilhava e isso mexia com as pessoas, coisas e contextos. Nela as pessoas se inspiravam, esperavam, exasperavam. Quando chegava alegrava a festa de arromba. Sorria um sorriso diferente, para cada tipo de deleite, para todo tipo de gente. No andar a leveza da beleza, o desfile da passarela, o balanço da ginga, a cadência perfeita pra toda dança de qualquer baile. Seu toque era de midas. Seu olhar de diamante. Seu coração pulsante ecoava retumbante. Na escola era a primeira. Na fanfarra a baliza. Na formatura a oradora. Na gincana a vencedora. No concurso a miss. Na bandinha a cantora. Na serenata a declamada em cantata. No sorteio a premiada. Na seleção a artilheira. Na roda de “footing” sempre escolhida, eleita a preferida. Não conhecia a indiferença, a displicência, a inveja, a maledicência. Se der tempo, se sobrar, depois eu vejo, outra hora... para ela isso não havia. Sem demora Luísa reluzia. Até que um dia, em meio a uma ciranda, em um dado contexto de coisas e pessoas, um fiozinho de água verteu do solo e, devagarzinho foi alargando e, alagando fez uma poça. Todos que ali estavam formaram naturalmente uma roda em volta do singelo pequeno gêiser, deram um passo atrás, acompanhando o círculo que se ampliava, e olharam para baixo, cada um encaixando a cabeça na direção das próprias pernas, vendo a água límpida brotar do chão formando um claro espelho arredondado, e, admirados, admiravam cada qual seus rostos, cujas faces, todas elas, refletiam uma única tez, o semblante de Luísa. Luísa reluz em cada um. Não somos tudo. Mas, em cada pouco, um tanto. Somos pessoas capazes de brilhar na gincana, na passarela, no concurso, aqui e acolá. Quando quisermos. O necessário ou o suficiente, se possível ou desejável, o brilho reluzirá, principalmente se formos mais capazes em admirar o que de bom reluz no outro e nos deixarmos iluminar por essa irradiação, sem mazelas.
magazine magazine60+ 60+#26 #24--Agosto Junho/2021 - pág.50