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Sérgio Frug 29 e
natureza tudo flui, para nada é necessário lutar. Na natureza vida e morte convivem naturalmente. A natureza não exalta a vida e condena a morte, início e fim são partes de um mesmo processo. Mas o nosso temor pelo fim faz com que vivamos em desgraça, sempre culpando ou condenando algo ou alguém que está fora, ou então admirando o que vem de fora, sem quase nunca nos conectar com o que vem de dentro, do nosso mundo interior, individual e pleno de vivências realizadas. Vivemos desligados da força primordial que nos fez aportar no planeta e assim deixamos a nossa alma, por nossa própria responsabilidade, confinada e encolhida dentro de nós mesmos até que a morte nos separe. E tudo então comece outra vez, numa nova oportunidade, que será provavelmente mais uma vez desperdiçada. Fluir é o contrário de estagnar. Na natureza tudo flui, não há desperdício nem carência. É como um jardim encantado, o êxtase de florescer e se desenvolver para finalmente se entregar, sempre em benefício da com-unidade. A nós cabe perceber as leis cósmicas e segui-las, o que não é o mesmo que entender. Entender é estático enquanto a natureza é fluida, perceber é fluido e nos leva naturalmente ao próprio desenvolvimento. Sem força, sem esforço, sem luta, sem heróis, sem ídolos, vencedores ou mártires, muitas vezes kamikazes em nome de ideais que não nos pertencem.
Não quero aqui negar a imensurável injustiça que existe neste mundo dos homens e das mulheres em busca de um destino convincente. E muito menos negar a maravilhosa disposição das pessoas empenhadas em fazer a sua parte na busca da harmonia planetária. Porém, essa harmonia não se realiza lutando, mas sim fluindo através das circunstâncias, boas ou más, com que o destino planetário desenvolve este projeto inédito. Fluindo nas atitudes, nos propósitos e principalmente nas crenças antigas ainda arraigadas em nossos corações. Tudo está mudando nessa inédita transição do caos vigente para o equilíbrio artístico e belo entre vida e morte, luz e sombra. E a cada passo encontraremos maior alegria e confiança em nossos corações. Luta gera luta, guerra gera guerra, dor gera dor, ódio gera ódio, vingança gera vingança, exclusão gera exclusão, cancelamento gera cancelamento.
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Só o Amor gera Amor.
magazine 60+ #37 - Agosto/2022 - pág.30
Papo Animal A importância da saúde dos animais de estimação
Saúde Única, sonhos coletivos
FMVZ - USP
A nossa saúde está intrinsecamente associada à saúde dos animais e como nossa convivência está cada vez mais próxima, com interações nos mais diversos ambientes, tem crescido a preocupação sobre a transmissão de doenças zoonóticas, pelo contato direto ou indireto com os animais ou pelo consumo de alimentos de origem animal. Zoonoses são doenças causadas por bactérias, fungos, vírus ou parasitas que, em algum momento, conseguiram “pular” de uma espécie animal e se adaptar na humana, diretamente ou usando uma outra espécie como intermediária. A Organização Mundial da Saúde contabiliza mais de 200 tipos de zoonoses no mundo e estima que cerca de 60% das doenças infecciosas humanas, bem como 75% das doenças infecciosas humanas emergentes tiveram origem em um animal, entre elas podemos citar o Ebola, o HIV, a Influenza e a Covid-19. Como nossa relação com os pets tem se tornado mais afetiva, próxima e diversificada, incluindo também animais silvestres e de produção, comumente chamados de pets não-convencionais, surgiu o termo família multiespécie. Esse fenômeno faz aumentar a preocupação das autoridades sanitárias com a ocorrência de surtos zoonóticos. Nesse cenário, é muito importante que estejamos atentos e procurar o médico e o médico-veterinário para prevenir a propagação dessas doenças. Vamos abordar, nesse artigo, algumas dessas zoonoses. A Psitacose, Ornitose ou Clamidiose é a doença causada pela bactéria Chlamydophila psittaci transmitida pelos Psitacídeos (Calopsitas, Periquitos, Papagaios, Maritacas e Araras, entre outros) mantidos como animais de estimação, mas também pode ser
magazine 60+ #37 - Agosto/2022 - pág.31
Foto: Freepik transmitida pelas aves Columbiformes, como os Pombos, que vivem próximos a nós. A transmissão ocorre pelo contato direto com secreções, pela ingestão ou inalação de poeira contendo fezes ressecadas em gaiolas, telhados, janelas ou outro ambiente. Aves infectadas transmitem a doença mesmo que sejam assintomáticas; os sintomas, que podem ser desencadeados por estresse como fome, sede, superlotação e maus-tratos, incluem penas arrepiadas, letargia, falta de apetite, desidratação, conjuntivite, dificuldade respiratória, má digestão e regurgito e até mesmo morte súbita. Em humanos os surtos são ocasionais e os sintomas aparecem entre 5 e 14 dias após o contágio: febre alta (39°C), calafrios, tosse seca, falta de apetite, vômitos, diarréia, dificuldade respiratória, coriza, dores de cabeça, musculares, nas costas e abdominais, podendo ocorrer comprometimento neurológico como meningite e confusão mental. O tratamento rápido evita a evolução para um quadro mais grave. A bactéria é de ampla ocorrência em aves silvestres, portanto, para reduzir o risco de adquirir um animal portador, é importante procurar por criadores confiáveis e autorizados pelo IBAMA, que atendam os requisitos sanitários e de bem-estar e evitar o contato dos pets com as aves silvestres. O vírus da Coriomeningite Linfocítica (LCMV) é facilmente transmitido através de poeira ou alimentos contaminados por hamsters e por camundongos cinzentos domésticos, que abrigam o vírus e o secretam na urina, nas fezes, no sêmen e em secreções nasais. Muitos desses roedores podem transmitir o vírus ao longo de toda sua vida sem nunca apresentarem algum sinal clínico. A maioria das pessoas infectadas são assintomáticas ou apresentam poucos sintomas, outros desenvolvem uma sintomatologia semelhante à influenza com febre, geralmente de 38,5 a 40° C, acompanhada por calafrios, mal-estar, fraqueza, dor lombar, dor atrás dos olhos, sensibilidade à luz, anorexia, náuseas e atordoamento. Podem apresentar também faringite e disestesia (sensação dolorosa de queimação, formigamento ou dor), mas isso ocorre com menos frequência. Os pacientes mais graves podem evoluir para o quadro de Meningite Viral, apresentando os sintomas descritos anteriormente e também rigidez na nuca (meningismo). A meningite é um quadro grave e, quando apresentado, deve-se procurar atendimento médico-hospitalar. Acredita-se que a doença seja subnotificada no Brasil. Esporotricose é uma micose zoonótica com alta prevalência no estado de São Paulo, causada pelo fungo Sporothrix schenckii que está naturalmente presente no solo, palha, vegetais, espinhos e tocos de madeira. A transmissão se dá pelo contato traumático com algo que contenha o fungo. Um dos principais vetores são os gatos infectados, que transmitem a doença por arranhadura ou mordedura, causando feridas infectadas pelo Sporothrix schenckii. A doença é bem séria e pode afetar a pele
magazine 60+ #37 - Agosto/2022 - pág.32
(quando manifestada na forma cutânea) ou órgãos internos (na forma extracutânea). No caso da forma cutânea, os sintomas aparecem pouco tempo após a contaminação da pele pelo fungo, provocando o desenvolvimento de uma lesão inicial que é muito parecida com uma picada de inseto. No caso da forma extracutânea, os sintomas dependem do órgão afetado, no caso do pulmão, por exemplo, é comum a apresentação de sintomas como tosse, falta de ar e febre; se acometer as articulações, os sintomas mais comuns são inchaço e dor ao movimentar. O tratamento é longo e se dá com o uso de antifúngicos, tanto para humanos quanto para os animais, que deve ser seguido à risca para que o quadro não evolua. No caso da Esporotricose humana, os medicamentos para o tratamento podem ser obtidos de forma gratuita pelo SUS e algumas prefeituras já estão fazendo o mesmo com os animais. A principal forma de prevenção é não permitir que os gatos saiam de casa, evitando se machucarem e entrarem em contato com o fungo. Devido ao grande crescimento das cidades e consequente aglomeração em áreas urbanas sem acesso a saneamento básico, outra zoonose importante é a Leptospirose. É causada por uma bactéria chamada Leptospira spp. presente sobretudo na urina de ratos e transmitida ao homem e outros animais pelo contato com a urina infectada. O cão infectado também pode transmitir a doença ao homem. Os sintomas costumam se confundir com os clássicos de Gripe e de Dengue, como febre, dor de cabeça, dores pelo corpo, e em alguns casos, vômito. Em casos mais graves observa-se Icterícia (amarelamento da pele e das mucosas dos olhos e da boca), sendo necessária a internação hospitalar para buscar evitar a evolução para hemorragia, insuficiência renal e até a morte. Para o tratamento, médicos e médicos-veterinários usam antibiótico, normalmente amoxicilina ou doxiciclina, O controle e prevenção da Leptospirose passa pelo saneamento básico, coleta e disposição adequada de lixo e o armazenamento correto de alimentos, sobretudo nas áreas mais pobres, buscando reduzir o contato de animais e pessoas com a urina de ratos. A Raiva se destaca por ser uma encefalite progressiva aguda com letalidade de quase 100%; raros são os casos de cura. A doença é causada por um vírus presente na saliva do animal, que infecta pessoas e outros animais principalmente por meio de mordedura, mas também pode ser pela arranhadura e lambedura de mucosas. Apresenta um ciclo urbano e um silvestre. As principais fontes de infecção no ciclo urbano são o cão e o gato, enquanto no silvestre são os morcegos, mas existem outros reservatórios silvestres, como a raposa, canídeos silvestres, gato-do-mato, jaritataca, guaxinim e macacos, que ganham importância no ciclo ur-