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Cidália Aguiar 35 e

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Cida Castilho 79 e

Cida Castilho 79 e

A Estação São Bento por dentro e por fora Maria não foi exceção. No local do convento, estava planeada a construção da nova estação de comboios da cidade. O que significou uma espera assaz longa, pois a última abadessa do Convento morreu cerca de 58 anos após a extinção da ordem. Conta-se que os engenheiros encarregados do projeto da estação se dirigiram ao convento, em 1888. A abadessa teria feito frente aos homens, defendendo a entrada, pois não o permitiria enquanto ali existissem freiras. Com a sua morte iniciaram-se os trabalhos. A linha ferroviária foi inaugurada em 1896 e em1900 iniciaram-se as obras da estação. O edifício foi inaugurado a 5 de outubro de 1916, com pompa e circunstância e com grande alegria da população. O que faz com que, atualmente, este seja um dos edifícios mais visitados da cidade do Porto? O edifício atrai os visitantes de imediato: A atenção foca-se nos 20.000 azulejos únicos e deslumbrantes, da autoria de Jorge Colaço. Em azul e branco, os painéis ilustram episódios da História de Portugal, e costumes do Norte. A gare, coberta, possui uma arquitetura do ferro belíssima, com pilares de suporte em ferro fundido que traz à memória a arquitetura industrial. São muitos os prémios atribuídos a esta estação: classificada como Imóvel de Interesse Público, foi eleita, por diversas vezes, como uma das mais belas estações do mundo e galardoada com prémios de intervenção de conservação e restauro. https:// www.ippatrimonio.pt/pt-pt/estacoes/estacao-de-porto-sao-bento

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Por entre os azulejos, a sombra do fantasma

Todas estas maravilhas, são apreciadas no meio do bulício característico. Quando, durante a noite, está em silêncio absoluto, reza a lenda que se se ouvem as rezas e resmungos da última abadessa do convento a soar pelos corredores. Há quem garanta ter visto o seu vulto a pairar. Ainda assim, o fantasma de S. Bento, considerado sereno e nada assustador, parece pouco convencido a deixar o local onde viveu. Porque os fantasmas são muito teimosos e persistentes! Outros blogues da autora: https://www.facebook. com/Aguiar.momentos https://www.instagram.com/ aguiar.pela.arte/ http://urbanscidalia.blogspot.com/ https://www.pinterest.pt/cidaliaaguiar/ https://www. facebook.com/cidalia.aguiar/

Literatura e Vida “Disciplina liberta” e “ler civiliza”

Sonia Fernandez

A vida anda esquisita, o tempo cinzento e a literatura morna. Será mesmo? Não li ainda As doenças do Brasil, de Walter Hugo Mãe, que acaba de sair. Literatura morna? Saberei.

No entanto, depois de ler La novela de Perón (1985), do argentino Tomás Eloy Martínez (1934-2010), venho pensando em quanto das ideias, dos propósitos desse homem Perón, que faleceu em julho de 1974, ainda domina a vida dos argentinos, mesmo depois de tanta ditadura declarada, enrustida, malograda e disfarçada. Literatura e história entranhadas, porque o livro consiste em uma complicada ficção que, ao mesmo tempo que entretém, porque a vida da personagem é realmente curiosa, exige do leitor uma atenção extraordinária, devido às inversões e alterações da cronologia, no plano narrativo. Procedimento que garante a ficcionalidade da obra. Por outro lado, se compararmos a figura pública de Juan Domingo Perón (1895-1974) com a de Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954), não se pode dizer o mesmo. Pois, que eu saiba, faz muito tempo que ninguém usa o nome de Getúlio em vão como o fazem reiteradamente e, por décadas, com o nome de Perón, os argentinos. Ainda que algo do nosso ex presidente e ditador correspondesse historicamente ao político e ex presidente argentino, respeitadas as datas de seus mandatos, coincidentes, apenas, em parte do segundo mandato de ambos: (1946-1952) e Getulio (1951-1954). Segundo entendi, não só pelo romance de Eloy Martínez, mas por outros argentinos historiadores do Pós Colonialismo, Perón foi muitíssimo mais que (ia dizendo) um ditador, quando atentei para o fato de que ele teve efetivamente três mandatos e ainda que exercesse uma liderança política para além de sua presença física no país (pois passou quase vinte anos no exílio) nunca deu um golpe apesar dos jogos de poder e artimanhas políticas que o caracterizaram. O certo é que os mandatos de Perón vieram pelas urnas, talvez até por isso, seu nome

Foto: Presfoto - freepik

seja evoque toda classe de manifestações orais e mentais dos argentinos. Este senhor é o que se pode denominar um autêntico mito. Suas ideias estão tão impregnadas nas ilusões dos argentinos que é difícil considerar apenas o político. Ele foi um pensador das condições coloniais e grosso modo tinha uma visão organizadora da nação, entretanto, a realidade lhe mostrou que tudo é mais complexo na prática do que no pensamento. Fiquei com essa impressão, em contraste com o mal, que dizem, ficou de herança. Faz parte das contradições que caracterizam os mitos, imagino. De modo que a ficção criada por Martínez, de morna, não tem nada. A personagem Juan Domingo Perón vive dentro e fora do romance a inquietar a brasileira que sou, curiosa das questões latino-americanas, por mais que essa palavra já não convença, ou o conceito, já não sirva. Contudo, quem se importaria com a expressão ibero-americanos, que somos, se considerados os luso-americanos e os hispano-americanos, uma vez que latino-americanos já se tornou uma generalização que nos uniformiza, mas, sequer nos une. Facilita para as metrópoles nos tratarem de modo homogêneo e garantir o colonialismo com nova expressão: pós colonialismo. Este agora dará conta da complexidade e diversidade desse amplo espaço geográfico, visto que a Martinica ou qualquer ex colônia francesa pouco tenha a ver conosco. Recentemente acompanhei as conferencias sobre o tema, explicadas pelo professor Juan Francisco Martínez Peria, da Universidad de Buenos Aires, que podem ser acessadas no YOUTUBE, as quais oferecem um olhar atualizado da questão. E, a que vem essa divagação? Ah era para falar do humor argentino e de Los mitos de la historia argentina (2004), de Felipe Pigna (1959- ), que ando lendo (sempre com atraso, como podem constatar). Trata-se de manter certa disciplina quanto às leituras, porque, segundo meu filho mais novo, que é atleta, a disciplina liberta. Acredito que sim. Especialmente quando se considera um livro por terminar de escrever que é o meu caso. Sem disciplina, o livro nunca ficaria pronto. A disciplina, porém, pode impedir-me de ver a lua cheia, ou as luas cheias que se sucedem umas às outras. Com os olhos metidos na escrita, muitas luas passarão sem que eu dê atenção a todas ou a alguma em particular, mas garanto a disciplina. Espero que ela também me garanta o produto. Como podem comprovar, desde Galileu (1564-1642), pelo menos, todas as coisas têm, no mínimo, duas maneiras de serem interpretadas (a Terra não é plana e o Sol é o centro do sistema solar). Ou, seja, temos que lidar com a relativização das impressões, das sensações e das opiniões. O que deveria tornar o fanatismo algo muito fora da ordem, porém, tragicamente, tanto para os argentinos quanto para nós, não é. Vejam vocês, a divagação virou tema central. Perón entrou na história, sem pedir licença, e agora tenho que

me haver com ele para seguir unindo pontas ou para desatar alguns nós. Pois, o humor argentino pode ter tido origem no Perón que, segundo entendi, era incansável no que respeita a endireitar o país e colocar a elite agrária no trilho da civilização. O país, sem Perón há anos, apesar de duas sombras terem sobrevivido a ele, o que de certa forma, o multiplica, parece não ter conseguido, ainda, nem uma coisa nem outra. Que pese o peronismo ser a onipresença da qual os argentinos não queiram desapegar-se, conforme explicou-me um desses especialistas em pós colonialismo. Os brasileiros, por sua vez, preferem o velho travestido de novo, seja lá de que cor, desde que prometa qualquer vidrinho em troca de ouro, como já faziam os indígenas, quando da chegada dos portugueses. Somos um país de crianças que não gostam de ler e se, Miami estiver ao alcance, está tudo bem. Eu vivo estudando, e há tanto para estudar, refletir, tirar conclusões e quando olho para nossas escolhas e sobre os fatos que insistimos em repetir sinto uma certa desilusão. A mesma, quem sabe, que declara sentir todo correspondente internacional que se apaixona pelo Brasil. Muitos decidem vir morar aqui, desfrutar do nosso sol e colaborar para que possamos nos compreender dentro do “desconcerto” das nações e, ao final de vinte, trinta anos, admitem que não entenderam nada sobre nós. Ou entenderam, porém cometem o erro de comparar este país com os seus e daí advém a desilusão. De minha parte, entendo e não entendo, porque tenho dificuldade em aceitar o que compreendo. Problema meu. A elucidação desse problema tem vários caminhos e, atualmente, me valho do conceito de descolonialização, como chave de interpretação da realidade brasileira e ibero-americana. Mas, será que isso existe como movimento que se opõe à inércia, tão mais evidente? Mário de Andrade diria que progredir, progredimos, mas qual a consistência desse progresso quando se coloca atenção na lira que soa nos palanques? Feitas as contas, o passado colonial pode até iluminar o presente peronista sempiterno, porém, as contas não batem, pois das invasões espanholas à independência política, a história argentina é tão brutal e tão anti indígena como a nossa. Fraude, corrupção e negociatas ou índios, capitães e traidores, alguém riscaria uma dessas palavras da lista? Trocaria uma delas? Nisto estamos juntos. O colonialismo está iberoamericanizado de forma inconteste. Fazemos parte do quintal de um mundo que nos olha, mas, não nos vê. Um quarto de despejo. E neste ano da graça de 2022, comemoramos 200 anos de Independência. Uma coisa é certa, somos independentes de Portugal. Outras independências estão por fazer-se. Diante disso, minha questão passa a ser mais de tom do que de som. Pois a pergunta que segue entoada é “de dónde son los cantantes”? Essa expressão tem origem em uma canção popular cubana que, por sua vez, serviu de título à obra de Severo Sarduy (1937-1993), publicada em 1967. Mais um exemplo de mistura de africanos, espanhóis e chineses que aportaram três visões distintas da cidade de Havana, oferecendo-nos mostras exuberantes dessa complexa colonialidade que constitui a América Central. A mesma colonialidade interpretada por Perón. Os combates dos brasileiros dessa praga têm aspectos distintos, realizados nos campos de batalha da Academia, que não vem ao caso explicar agora. Entretanto, o fato em si explica, de certo modo, porque a descolonização da Iberoamérica não vinga. Uma singularidade a mais que inviabiliza a generalização. Talvez, por causa mesmo das especificidades sem correspondência de cada uma das partes, evita-se o termo, o que estaria mais próximo da realidade, porque o termo tem a ver com o espaço e não com a idiossincrasia das gentes, como sugere o conceito “Latino-américa”.

Nossas particularidades então. Walter Hugo Mãe (1971- ), escritor português afeiçoado ao Brasil, afirmou que os

magazine 60+ #37 - Agosto/2022 - pág.39

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