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Edson Covic 45 a

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Ebe Fabra 93 a

Ebe Fabra 93 a

- Mais ou menos isso. O esforço desses homens gera produtos que interessam ao trabalho de outros homens. A realização desse esforço acontece quando os homens resolvem trocar produtos que um precise por produtos que sejam necessários aos outros. Esse ambiente de troca chama-se mercado. E a transação de um produto por outro produto sem envolver dinheiro chama-se escambo. - Troca de produtos sem troco? Isso dá certo? - Não demorou muito para esses homens descobrirem que não é fácil a troca de um bem por outro. Tem gente que deseja carne, mas só tem caneca. Eu acho que não devo trocar um boi por uma caneca. Foi para resolver essa dificuldade que se inventou a moeda. A moeda é um meio de troca, um facilitador de trocas que requer aceitação de todos, que possa ser quantificada em unidades monetárias e que mantenha uma reserva de valor para acumular poder de compra no futuro. - Senhor, se os trabalhadores eram escravos, quem cuidava de decidir sobre o que comprar, o que vender, para quem vender e por quanto vender? - Muito bem, meu rapaz. Você já está pensando como um bom economista. Para responder essas perguntas, você precisa pensar em Economia Política que estuda as relações sociais de produção, como os bens produzidos circulam na sociedade e de que maneira são apropriados pela sociedade para atender a satisfação das necessidades humanas. A Economia Política busca entender como acontece a apropriação de bens e do trabalho nas diversas classes sociais. - Complicado isso, né? E a Política Econômica, o que é? - São ações que os governos devem realizar no planejamento para atender as necessidades econômicas e o desenvolvimento de um país ou de uma região. A Política Econômica é realizada por meio de instrumentos macroeconômicos, próprios da gestão pública, quais sejam: Política Fiscal - que trata sobre as receitas de governo (impostos) e as despesas; Política Externa – são decisões com finalidade de manter o equilíbrio do balanço de pagamentos protegendo setores do comércio exterior; Política Monetária – trata da disponibilidade de moeda em mãos dos agentes econômicos que podem alterar a disponibilidade de crédito incentivando ou restringindo o crescimento econômico. Você compreendeu? - Sim. Acho que mais ou menos eu entendi. Mas ainda preciso saber como todas essas coisas acontecem. Como o governo decide qual deve ser a melhor Política Econômica para uma adequada Economia Política? - Ahhhh!!! Estou vendo que o bichinho das políticas o contagiou!!! Se você está interessado em saber como essas coisas acontecem, é bom pensar em fazer um Curso de Economia porque a nossa conversa mal começou e a estação está chegando. - Tem mais, Senhor? - Tem muito mais. Pense agora, que esses trabalhadores deixam de ser escravos e pretendem ir ao mercado oferecer seu trabalho e comprar parte do que produziram. Qual deve ser o valor do trabalho? Pense que os custos de produção podem ser reduzidos pela inovação tecnológica. O que a inovação tecnológica representa na relação de trabalho e renda? Pense também que quanto maior for a produção, maior será a extração de matéria prima que a exemplo da árvore frutífera, reduz a oferta dos bens “in natura” fundamentais a produção. Temos um problema novo que é a sustentabilidade, tanto do meio ambiente, da biodiversidade, do clima, mas também do uso equilibrado dos bens naturais. - Quanto mais difícil, mais os homens brigam para se apropriar de parte dessas reservas. É isso? Perguntou Pedro. - Também! Um pensador iluminista chamado Rousseau disse que os homens são bons por natureza, mas a luta pela propriedade do bem escasso os corrompe. - Cheguei em meu destino, Senhor Edson. Obrigado! Eu gostaria de continuar essa conversa. Retorno no trem da próxima sexta-feira. - Está bem! Nos encontraremos na próxima sexta-feira neste mesmo vagão. Até

lá.

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Até lá, Senhor. Bom fim de semana!!

magazine 60+ #40 - Novembro-Dezembro/2022 - pág.47

Uma sopa por uma pedra

Como a partir de uma simples pedra se pode originar uma substancial sopa? E que outros tesouros estão guardados numa cidade ribatejana de Portugal?

Cidália de Aguiar Bióloga, professora, repórter 60+

Viemos procurar as lendas e sabores guardados em Almeirim, na planície fértil do rio Tejo, de saborosos vinhos, belas praças e mansões esquecidas nas brumas do tempo. Terra com história e tradição, foi fundada em 1411 pelo rei D. João I. Há muito para descobrir nesta “Sintra de Inverno”, como foi apelidada no século XVI, devido às suas magníficas coutadas de caça, que se estendiam por uma grande extensão. Estacionamos junto da Praça de toiros, parte do património cultural, de acordo com as grandes tradições taurinas da terra. Foi inicialmente construída em madeira, no ano de 1938 e demolida mais tarde para dar lugar a uma moderna construção, inaugurada em 1954. Desde 2019, este espaço pertencente à Santa Casa da Misericórdia de Almeirim, sendo agora um polo comercial situado bem “no seio da Sopa da Pedra”. Debaixo das bancadas nasceram 12 espaços comerciais com esplanadas. Na Arena de Almeirim poderão ter lugar touradas, concertos, feiras, festivais, assim como outros tipos de eventos. Em volta, numa pequena feira, pode adquirir ou simplesmente admirar produtos artesanais da região. Perto do local, começamos a sentir o cheirinho gostoso dos restaurantes e, como não podia deixar de ser, da iguaria da região, a famosa “sopa da pedra”. Mas antes, quisemos visitar alguns locais emblemáticos, enquanto se fazia o apetite para o almoço. Jardim da República À chegada, de carro, um frondoso jardim já nos tinha chamado a atenção. Voltamos, portanto, ao local agora num percurso a pé, onde foi em tempos o Terreiro do Paço Real.

Desaparecido o Paço, o terreno foi então transformado em Praça do Comércio, onde se comerciava e se realizavam festas populares. As grades foram colocadas primeiro em muro de tijolo e grade de madeira em 1891, para depois serem substituídas por ferro forjado em 1896. A ideia de ajardinar o espaço nasceu em 1930, com o aparecimento do turismo. Admiramos as moradias elegantes e o seu revestimento de belos azulejos existentes neste espaço. Esta “sala de visitas” não nos defraudou as expectativas e a frescura da vegetação proporcionou-nos o descanso merecido, antes de novo percurso à procura da Igreja Mariz. Uma igreja do século XVI Depois de alguns erros no percurso, avistamos finalmente a frontaria simples, de características barrocas da Igreja Matriz de S. João Baptista, encimada por uma cruz em ferro. Apresenta um belo baixo-relevo em pedra sobre a porta principal e uma única torre sineira. Já dentro, podemos contemplar, a famosa imagem do Senhor Jesus dos Passos, do século XVIII. Com uma única nave, e desprovida de abóbodas. O teto de madeira é em estuque pintado e apresenta uma fantástica pintura representando o Santo Orago da Freguesia, São João Batista, que se diz ser da autoria de Carlos Reis. Destaca-se o coro, feito em madeira e a fonte de água benta do século XVI. Pesquisas sobre o historial desta igreja indiciam que a sua construção remonta, pelo menos, ao ano de 1925. Atendendo ao traçado arquitetónico da sua frontaria é de se considerar que sofreu alterações: durante as obras de recuperação feitas no século XVII e, posteriormente nos anos cinquenta do século XX, tendo as paredes laterais sido revestidas de azulejos em tons de azul e com motivos diversos. Chama a atenção, no altar, o brasão real em madeira pintada e com a forma oval, sugerindo a época de D. João IV. Um frade e uma sopa de pedra Não podíamos deixar de procurar a estátua do frade sentado na frente de uma panela, atestando a lenda mais famosa de Almeirim. Lá está, ostentando na mão a famosa pedra, que “milagrosamente” originou uma saborosa sopa. Reza a história que o frade, certo dia, chega a uma localidade, cansado e com a fome a apertar. Orgulhoso, não pretende simplesmente pedinchar comida e usa um estratagema. Bate à porta de um de um lavrador, mostrando uma pedra, dizendo que gostaria de fazer uma sopa com ela. Incrédulos, os donos da casa perguntam: — Com essa pedra? Sempre queremos ver isso. Foi o que o Frade quis ouvir. Lavou a pedra muito bem e pede uma panela com um pouco de água. — Não, para ficar melhor, deve levar um fio de azeite e deixarem-me pô-la ali naquele brasido. Sempre pedindo os condimentos necessários, o frade vai compondo a sopa, que liberta um aroma delicioso. Depois do frade a comer, os donos da casa, perguntam ao manhoso frade: - Então e a pedra? — A pedra lavo-a e levo-a comigo para a próxima sopa! Na rota do vinho Condutora responsável, o repasto foi acompanhado com água,

magazine 60+ #40 - Novembro-Dezembro/2022 - pág.50

um sacrilégio que mereceu o merecido reparo ao servirem-nos o almoço. Mas já lá vamos. É que Almeirim, com os seus solos aluviais junto ao rio Tejo e o seu clima quente, é uma das regiões do Ribatejo DOC, com os famosos tintos, brancos, rosés e espumantes. Nem só de sopa vive o viajante Tal como o frade da lenda, também já o nosso estômago ruminava por sustento, pelo que nos encaminhamos para o merecido almoço. O difícil é escolher porque há muitos restaurantes onde a sopa característica, e não só, são facultadas aos visitantes. Atraídas pelos odores apelativos, podemos finalmente saborear, além da sopa, um prato de carne que correspondeu na totalidade às nossas exigências. Para sobremesa, resolvemos experimentar uma talhada/fatia do famoso melão de Almeirim, fresco, doce e suculento, produto tradicional e singular, que não nos desiludiu. Melão com raça Com a sua casca escura e de textura bem definida, cresceu temperado de sol e água nos campos férteis da lezíria ribatejana. Proveniente de técnicas tradicionais de cultivo, tem raízes na época islâmica e caracteriza-se por apresentar forma oval, casca intensamente alinhavada de cor esverdeada mesmo quando maduro. O peso médio é variável, entre 2 a 6 kg e de polpa carnuda, sumarenta e doce. É plantado entre abril e junho e são utilizadas sementes de variedade própria, adaptadas às condições da região. O processo de melhoramento foi feito por produtores locais, que ao longo dos últimos anos têm vindo a selecionar as melhores sementes. O objetivo é conservar as caraterísticas regionais, preservando as variedades de qualidade tardia, com boa apresentação comercial e diferenciadora. O método de obtenção desta iguaria exige o saber-fazer, acumulado em muitos anos de dedicação, pelo facto de o fruto ser sensível ao calor. As temperaturas elevadas que se fazem sentir na região podem, se não forem tomadas medidas preventivas, danificar o exterior. Para o evitar é necessário, a determinada altura do processo, tapar o melão com palha. A avaliação da necessidade e do momento de colocar a palha assim como a forma de a colocar são importantes. Curioso/a para saber os ingredientes que o frade usou e como preparou este delicioso prato regional? Saiba a receita da Sopa da Pedra e como prepará-lo passo a passo. Ingredientes 500g de feijão encarnado 600g de batata nova 800g de carne de porco (toucinho magro, orelha, pés) 60g de Chouriço de Almeirim 60g de morcela de Almeirim 1 farinheira 2 dentes de alho picados 1 cebola picada 1 folha de louro 1 ramo de coentros Sal, pimenta e calda de tomate q.b. Lave muito bem o feijão, que de preferência deve ser novo (ou então se for seco, deve ser demolhado) e coza-o juntamente com o louro, a cebola e os alhos picados. À parte coza as carnes e os enchidos (a farinheira deve ser cozida em separa-

do).

À medida que as carnes vão cozendo, corte-as em pedaços pequenos. Descasque as batatas e corte-as em cubos, também pequenos. Depois de cozido, separe 1/3 do feijão e reserve, ao restante junte as batatas, leve a cozer o conjunto retificando de sal. Usando a varinha mágica, reduza a puré o feijão cozido que separou. Junte o puré ao preparado já cozido, retifique o sal, adicione os coentros picados e um pouco de pimenta.

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