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Laerte Temple 67 e
Foto: Blog Portal da Educação Porém, 2 meses após o casamento ela teve uma recaída e as atitudes antipáticas e antissociais retornaram ainda mais fortes. Juan tentou de tudo para agrada-la, sem sucesso. Se era atencioso, era frouxo. Se não era gentil, era grosseiro. Se a chamava por apelidos carinhosos, perguntava se era assim que tratava as outras. Se a chamava por Jaima, era frio e distante. Se chegava cedo, estava sufocando. Se chegava tarde, estava galinhando. Se elogiava, era mentiroso. Se criticava, não a amava mais. Se trazia presentes, tinha feito algo errado. Se não trazia, tinha uma amante. Num descuido, Jaima engravidou e o que era ruim, piorou de vez. Ela se tornou ainda mais irritante, chata, fria e distante. Os pais e os sogros pediam paciência a Juan. São os hormônios, diziam. Ela é gentil, e quando a criança nascer, tudo vai ficar bem. Juan dizia que ele, e não ela, sofreu os enjoos da gravidez. Foram 9 meses de muita irritação e fazendo de tudo para manter a calma e dar aos pais e sogros a descendência que tanto desejavam. A notícia se espalhou e algumas das antigas namoradas infelizes nos casamentos passaram a dar em cima de Juan, que continuava bonito e forte. Ele ainda mantinha fama de ser o cara mais viril da cidade e sentia saudades da fuleiragem. Percebeu que para se dar bem teria de posar de marido fiel e conquista-lo tornou-se um desafio para elas, que antes o evitavam. Ele adorou a aparência de homem sério e difícil e a expectativa de voltar ao mercado. A criança nasceu, cresceu e Jaima em nada melhorou. Juan compensou a relação fria e distante com as escapadas com suas antigas paixões. Jaima não estava nem aí com a coisa, mas Juan se preocupava com a filha, agora com 16 anos. O que o futuro lhe reservava? Seria um iceberg como a mãe ou galinha como o pai? A segunda opção era apavorante. Certa tarde, ao ouvir vozes no quarto da filha, aproximou-se em silêncio e atento: - Caiu outra vez! - De novo? O que está acontecendo? - Não sei. Nunca aconteceu antes. - Eu ia falar isso agora. Sempre deu certo! - É, mas hoje está difícil. Vamos tentar outra vez? - Vamos lá. Relaxe, acalme-se e tente de novo. - Agora vai, agora vai. Está quase lá! - Ah! Caiu de novo. Melhor deixar para amanhã.
- O que está acontecendo aqui? – perguntou Juan ao abrir a porta. - Sei lá, pai. Tem algo errado com o roteador. O sinal cai toda hora. Vamos ter de fazer o trabalho da escola amanhã. É tarde e o namorado do Thiago já ligou duas vezes. Juan sentiu-se aliviado. Expectativa de galinha descartada. A filha aparenta mais um iceberg
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‘Causos’ do Nordeste Poço das Pedras e as lavadeiras de Mossoró
Tony de Sousa Cineasta
No Brasil existem vários lugares com o nome “Poço das Pedras”. No Ceara, na Paraíba, em Minas Gerais, em Pernambuco, no Rio de Janeiro... mas, o Poço das Pedras sobre o qual iremos falar fica no Rio Grande do Norte. Raimundo Nonato, escritor, historiador, memorialista, até publicou um romance com esse nome. O curioso neste livro de Raimundo Nonato é que ele faz a ligação desse “Poço das Pedras” com as “Lavadeiras de Mossoró”. O respeitado poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade, publicou no Jornal do Brasil, no final dos anos 70, uma crônica intitulada “As lavadeiras de Moçoró”. Mossoró com “Ç”. Essa crônica diz o seguinte: “As lavadeiras de Moçoró, cada uma tem sua pedra no rio; cada pedra de bater é bem de família, passando de mãe para filha, de filha para neta, como vão passando as águas no tempo. As pedras têm um polimento que revela a atividade de muitos dias e muitas lavadeiras. Servem de espelho a suas donas. E suas formas diferentes também correspondem de certo modo a figura física de quem usa. Estas são arredondadas e cheias, aquelas magras e angulosas, e todas têm o seu ar próprio, que não se presta a confusão. A lavadeira e a pedra formam um ente especial, que se divide e se reúne ao sabor do trabalho. Se a mulher entoa uma canção, percebe-se que a sua pedra acompanha em surdina. Outras vezes, parece que o canto, baixinho, vem da pedra, e a lavadeira lhe dá volume e continuidade. Na miséria natural das lavadeiras, as pedras são uma riqueza, joias que elas ostentam ao sol e não precisam levar para casa. Ninguém as rouba, nem elas, de tão fiéis, se deixariam seduzir por estranhos. ” Já no livro de Raimundo Nonato, essa visão poética que existe em Drummond é traduzida com uma grande dose de realismo, trazendo à tona aquele lado sombra do ser humano, como podemos perceber no seguinte trecho: - Mas que sabão desgraçado é este de Vicente Badóia, que não faz um pingo de escuma? - Tá qui só este fumo, concorda a mulher do carcereiro. Foto: cedida por www.omossoroense.com.br