#10ANOSVISIBLES: Consciência Negra é nosso Legado

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FAZENDO DAS PERIFERIAS O CENTRO À luz dos anos, uma década sempre será pouco. Entretanto, Manos Visibles tem deixado já em seus primeiros dez anos, uma pegada crucial nas gerações de hoje, no Pacífico e em outras regiões excluídas. Sua marca mais significativa radica em que muitas pessoas da periferia entenderam que os líderes não deveriam ser outros, mas eles mesmos. Nesse processo, também compreenderam que uma liderança assumida desde a vocação, a decisão e com a intenção de construir, não consiste somente em ter poder; pelo contrário, isso se deve assumir desde uma autoridade ética e moral, igual que com uma estratégia eficiente destinada ao bem-estar das comunidades. Nestes dez anos ficou em evidência algo mais: que as possibilidades de acessar o poder são possíveis, porém que é necessário se preparar para assumir uma transição desde a resistência para chegar à transcendência. Essa substancial mudança de paradigmas, tem marcado uma década na qual se desenvolveram exercícios de inclusão eficiente que levaram a uma liderança de transição. Isso quer dizer que foi aberta a oportunidade de aprender a conquistar e ocupar espaços de poder, mas ainda fica pendente avaliar o que essas lideranças fizeram com o poder alcançado: se de fato, foram valorizados por suas comunidades, foi exercido com ética ou conseguiram fazer algo com ele. Muitos casos nos mostram que é válido a aprendizagem se olhamos a médio e longo prazo, porém isso também nos obriga a pensar na possibilidade de novos futuros, ainda mais específicos, nas transformações que esperamos. Os tempos mudaram significativamente e continuarão mudando. Manos Visibles chega a uma década em um momento de transição para o mundo, no que as realidades indiscutíveis começaram a desmoronar devido ao impacto de um vírus global. A pandemia tem mostrado, com nitidez, as desigualdades existentes que não pareciam importar para ninguém, acentuando as vulnerabilidades a ponto de nos forçar a todos a repensar novos modelos de desenvolvimento para não empobrecer e ampliar as brechas, que já eram amplas. Nesses momentos de transição a um novo modelo, todas as formas de inovação e as novas lideranças terão uma oportunidade de criar novas estruturas. Nesse espaço e retomando reflexões da Nobel estadunidense Tony Morrison, “o futuro será definido por aqueles que foram pressionados em direção às margens, aqueles que foram deixados de lado como se tratasse de excessos irrelevantes, almas que ainda hoje são concebidas como infelizes e marginais”. A história os tem visto assim até agora, porém as mudanças são irreversíveis, e acontecerão. Estamos ainda longe de que as periferias sejam o centro ou de que os problemas estruturais sejam solucionados. Ainda a liderança está aprendendo a exercer o poder. A história tem demostrado infinitas vezes: nenhuma estrutura antiga tem permanecido incólume e nenhum império tem dominado sem fim. Porém as vozes que se elevam e fazem ser escutadas, cedo ou tarde, modificam a história. E está chegando seu momento. Nesta crise existencial global, onde se somam a sustentabilidade ambiental e cultural, temas como equidade 6


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