Inurban de setembro , edição nº19 - 2016

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SETEMBRO 2016 Nยบ 19

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CONTEÚDO

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CRÓNICA_Sónia Machado

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PSICOLOGIA_Sandra Cunha

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O MUNDO DE SOFIA

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POR DETRÁS DO PANO_by Eduarda Andrino

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CRÓNICA_Vera Soares

30_

CINEMA

36_

ARTES PLÁSTICAS_pintura de Xicofran

44_

ENTREVISTA_Livro: “Terra D´Encontros”

50_

MODA_ARMÁRIO SEM CHAVE

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ARTIGO

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SPAZZIO VITA

60_

SPA_SPAZ D´ALMA

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ARTIGO DE OPINIÃO_Futebol-A minha visão

66_

4HEALTHY_Saúde e Bem-Estar

72_

FITNESS_FITNESSHUT

CANCRO

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EDITORIAL Nem sempre a vida nos permite viver longe de obstáculos, de desafios e de lutas próprias que só a nós estão destinadas. Somos guerreiros em campo de batalha desde que nascemos. Todos os dias as leis da natureza nos desafiam a ser melhores, maiores e mais fortes. Resistentes. Nem sempre ganhamos batalhas, nem sempre ultrapassamos os obstáculos, nem sempre vencemos. Por vezes, cedemos.

Manuela Pereira

A edição deste mês fala-nos do cancro, de uma das lutas mais desiguais, da maior prova de resistência humana. Uma realidade que mofa nos nossos mais escondidos cantos de pensamento. Tentamos não falar, mencionar e até esquecer que este bicho papão existe, na esperança que nunca nos toque essa moeda de troca: a vida pela luta contra a morte sentenciada. Viaje connosco pelas próximas páginas e consciencialize-se sobre o mundo para lá do nosso campo de conforto. Boas leituras!

EQUIPA Manuela Pereira, Tiago Barreiro Luís da Costa Pedro Ana Sofia Bexiga, Áurea Venceslau, Beatriz Dâmaso, Denise Machado, Diana Oliveira, Dinora Bastos, Fitness Hut, Eva Xavier, Eduarda Andrino, Manuela Pereira, Marisa Melo, Miguel Ferri, Porto Editora, Sandra Cunha, Spaz D´Alma, Spazzio Vita - Maria Leitão, Sonia Machado, Tiago Vaz Osório, Vera Soares.

ISNN - 2183-704X

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CRÓNICA_Sónia Machado As vitórias à sombra do fim Simplicidade de saber Ser Grande

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“Questionei por algum tempo se esta de amor… e aceitação. doença seria um castigo. “Porque estarei eu triste? Porque chorarei eu Questionei se teria algo a prender ou se por esta doença? Sorte tenho eu por ela me estaria somente a seguir o meu destino. ter escolhido a mim em vez dos demais que Questionei-me até ao dia que entendi o me rodeiam e que tanto amo. Por longos anos, quanto abençoada sou.” vivi curvada no meu umbigo, não sabia, nem entendia a dimensão da palavra família e hoje Ela era uma mulher admirável que tive a eu sei e sinto e vivo cada minuto a aproveitar sorte de conhecer, não tivemos uma ami- essa tamanha sorte. zade longa e muito menos com direito a uma caixa lotada de vivências e momen- Tenho a melhor família do mundo!” tos captados por uma máquina fotográfica. Porém, tive eu a sorte de ter com ela con- É preciso ser grande para ver e sentir assim a versas, aparentemente de mesa de café, doença, é preciso ser dotada de uma capacidade subtis e corriqueiras, mas que ficaram para quase de super-herói para aceitar desta forma e sempre guardas em mim. ser capaz, mesmo quando o corpo se consome Foi ela que me ensinou sobre a doença, e mirra, se retorce em dores e lamentos, para que a revirou do avesso diante dos meus evoluir e crescer. É preciso muito, mesmo que olhos. isso pareça a lógica básica da nossa existênFoi ela e só ela que me despertou para cia, para reconhecer o que temos, valorizar e uma grandiosidade muitas vezes esquecida aproveitar ao máximo. ou simplesmente de difícil acesso às de- Ela conseguiu! mais criaturas da terra. “Sabes, teve dias que queria fazer tudo, queria Ela falou-me de consciência, de existência, abraçar o mundo e a minha liberdade num só


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CRÓNICA As vitórias à sombra do fim Simplicidade de saber Ser Grande

esticar de braços. Só eu importava e as minhas vontades. Houve coisas que fiz, sem me incomodar quem ficava pelo caminho e outras mais que não fiz, porque tive condicionantes maiores. Hoje, a minha liberdade está no respeito do outro, na certeza que trago no coração de como isso é importante e como isso retorna a nós. E sabes, hoje posso atingir aquela liberdade que tanto desejei outrora, mas a doença já não me permite… e isso faz-me pensar…”

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parecia-me tão importante… e de repente, tudo fica pequeno quando o corpo já não é mais capaz de aguentar tais luxos e nem o tempo nos deixa saborear a continuidade…”

Ela morreu. A verdade, é que esse maldito cancro sempre vence no campo de batalha, visível a todos. Sempre vence para aqueles que reduzem a vida ao seu fim. Mas para quem tem a capacidade de a sentir numa amplitude superior e aprende a valorizar cada pedra que faz o seu caminho sabe… que há legados que permanecem e amores que se tornam eternos no tanto que E foi assim, que tantas vezes, ela me levou deixam nos outros. nos seus pensamentos. É tão verdade. Quando o caminho se faz reto e soalheiro E por tantas outras “elas” e “eles” fica o meu teimamos em fechar os olhos ao essencial, pedido especial: sejam gratos, aceitem os desafiesquecemos em demasia as importâncias os da vida e em vez de lamentos ou revoltas… da vida e por vezes, é preciso esbarrar de aproveitem, evoluam e saiam campeões! frente para acordar, mas nem todos o conseguem, nem todos têm tempo. Esta até pode não ser a única vida que temos, E ela teve! mas na dúvida… não a desperdice! “Hoje posso ir passar férias para o Algarve com direito a estadia em hotel e todas as Seja grande diante de qualquer obstáculo e mordomias da mesma… e para quê? Antes mesmo que o fim não seja o esperado, tenha


presente que o pode premiar de muitas vitórias… Afinal, elas só dependem de si! (E a ti… o meu muito obrigado! Prometo dar o meu melhor, sempre! Até já)

Sónia Machado 7


PSICOLOGIA_Sandra Cunha

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7º piso: o piso dos mini guerreiros

Há serviços nos nossos hospitais que são autênticas fortalezas de emoções. No IPO do Porto todos eles são mas há um serviço que é uma fortaleza de mini guerreiros. O 7º piso.

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nos corrói por dentro. Ali naquele piso luta-se, luta imenso, todos lutam sem excepção, médicos, enfermeiros, auxiliares, técnicos, pais, irmãos, amigos mas acima de tudo e mais que todos estes aquelas crianças, lutam de uma forma surreal, muitas Gosto de lhe chamar o piso dos mini gue- vezes com um sofrimento físico enorme, elas rreiros. No 7º andar estão crianças a lutar lutam. São verdadeiros guerreiros. segundo a segundo pela vida, é o piso da pediatria oncológica. É um mundo à parte, é uma realidade que por Durante muito tempo subi naquele eleva- mais que se queira imaginar só quem lá vai a dor, e à medida que o elevador vai subindo entende verdadeiramente. Sempre que imagicomeçamos a sentir-nos pequeninos, do namos o que ali se passa, acreditem, ficamos tamanho de uma barata, porque assim que a léguas de distância da verdadeira realidade a porta se abre no 7º andar deparamo-nos daquele piso. com pequenos gigantes com uma força e garra de viver imensas e sem saber bem Mas nem sempre esta luta termina da forma como vão buscar forças para lutarem con- que queremos, e há pais que ali vão deixando tra um monstro chamado cancro. um pouquinho de si, que percebem que a luta não está a ser vencida e tentam, tentam semNaquele serviço vive-se cada minuto, pre acreditar que vão ganhar. Porque lutam, tal cada segundo com uma intensidade bru- como os seus meninos e meninas até ao último tal, sente-se no ar as milhentas emoções segundo. E quando o último segundo chega é que por ali andam. Sente-se esperança, aterrador, é lacerante a dor que se sente por fé, amor, carinho, união, mas também se dentro. sente uma dor imensa, uma tristeza pro- Mas mesmo no último segundo estes meninos funda, um cansaço emocional e físico que e meninas são guerreiros, porque não desisti-


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PSICOLOGIA

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7º piso: o piso dos mini guerreiros

Há serviços nos nossos hospitais que são autênticas fortalezas de emoções. No IPO do Porto todos eles são mas há um serviço que é uma fortaleza de mini guerreiros. O 7º piso. Gosto de lhe chamar o piso dos mini guerreiros. No 7º andar estão crianças a lutar segundo a segundo pela vida, é o piso da pediatria oncológica.

nos corrói por dentro. Ali naquele piso luta-se, luta imenso, todos lutam sem excepção, médicos, enfermeiros, auxiliares, técnicos, pais, irmãos, amigos mas acima de tudo e mais que todos estes aquelas crianças, lutam de uma forma surreal, muitas vezes com um sofrimento físico enorme, elas lutam. São verdadeiros guerreiros. É um mundo à parte, é uma realidade que por mais que se queira imaginar só quem lá vai a entende verdadeiramente. Sempre que imaginamos o que ali se passa, acreditem, ficamos a léguas de distância da verdadeira realidade daquele piso.

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Durante muito tempo subi naquele elevador, e à medida que o elevador vai subindo começamos a sentir-nos pequeninos, do tamanho de uma barata, porque assim que a porta se abre no 7º andar deparamo-nos com pequenos gigantes com uma força e garra de viver imensas e sem saber bem Mas nem sempre esta luta termina da forma como vão buscar forças para lutarem con- que queremos, e há pais que ali vão deixando tra um monstro chamado cancro. um pouquinho de si, que percebem que a luta não está a ser vencida e tentam, tentam semNaquele serviço vive-se cada minuto, pre acreditar que vão ganhar. Porque lutam, tal cada segundo com uma intensidade bru- como os seus meninos e meninas até ao último tal, sente-se no ar as milhentas emoções segundo. E quando o último segundo chega é que por ali andam. Sente-se esperança, aterrador, é lacerante a dor que se sente por fé, amor, carinho, união, mas também se dentro. sente uma dor imensa, uma tristeza pro- Mas mesmo no último segundo estes meninos e funda, um cansaço emocional e físico que meninas são guerreiros, porque não desistiram


da sua luta, apenas seguiram um outro caminho, um caminho de luz. Sabem, quem visita o 7º piso, seja por voluntariado, seja por trabalho, seja por uma situação pessoal, vem de lá com uma certeza, que a vida é para ser vivida ao segundo, que muito do nosso tempo é desperdiçado com coisas que não valem a pena, que no nosso dia a dia nos esquecemos de dar valor ao tempo, mas também aprendemos que na vida vamos buscar forças sabe-se lá onde quando confrontados com a possibilidade de perder alguém. Por isso vamos viver intensamente, vamos viver a valorizar o que é importante e vamos aprender com os meninos do 7º piso que mesmo nas dificuldades desistir não é opção.

Sandra Cunha 11


O MUNDO DE SOFIA Entendo que o corpo fala connosco, ele dá-nos todos os sinais do que vai dentro, há que estar atento e respeitá-lo.

A doença passou a ser uma dádiva para reequilibrar o Ser. De facto, o corpo físico não é a causa das doenças. Por si mesmo, nada pode. A vida que o mantém vem da alma, do espírito.

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Esta doença manifesta-se numa pessoa que sofreu uma ofensa importante na infância (com um ou os dois progenitores) e que a viveu no isolamento.

As ofensas emocionais importantes que podem O corpo é muito simplesmente o reflexo do causar doenças graves são: rejeição, abandono, que se passa no interior da pessoa. humilhação, traição ou injustiça. Assim, o corpo doente é um corpo que Certas pessoas podem mesmo viver várias dessas procura reequilibrar-se porque o estado ofensas durante a infância. natural do corpo é a saúde. Isto é igualmente verdadeiro para os cor- A pessoa que sofre de cancro é do género de pos emocional e mental. querer viver tanto em amor que recalcou completamente, desde há muito, o rancor, o ressenO cancro representa simultaneamente uma timento ou o ódio que pode ter vivido em realteração da própria célula e um desvio lação a um dos progenitores. considerável do mecanismo de reprodução de todo um grupo celular. O cancro indica-nos que há ou houve uma


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O MUNDO DE SOFIA

mágoa profunda, um ressentimento de longa data, uma tristeza ou segredo profundos que corroem o Eu.

O seio esquerdo está ligado aos filhos e à nossa criança interior e a linha de pensamento é igual à do seio direito.

Consoante o local do corpo onde o cancro se desenvolve, consegue-se entender melhor a mensagem que ele nos traz.

Neste seio há também a hipótese de se culpar os filhos por ocuparem muito o tempo da pessoa doente e por serem os responsáveis pela pessoa não ter tempo para si própria.

Pegando no cancro da mama e porque os seios estão ligados á forma como nutrimos a família, os filhos e o conjugue, podemos tirar algumas elações.

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O seio direito está ligado ao conjugue, se o cancro desenvolver no lado direito, indica que de alguma forma não estamos a lidar bem com o nutrir dessa pessoa, ou porque se está a nutrir de mais e acabamos por estar a fazer o papel de mãe e não de mulher, ou porque a pessoa doente acha que podia nutrir mais e culpa-se porque não o consegue fazer.

Sem dúvida que cada caso é um caso, e quem passou ou está a passar por uma fase difícil de doença, vai entender os sinais do seu corpo, das suas emoções, do que deu de mais ou de menos e a forma como lida com isso ou se responsabiliza por isso. Ter consciência e conseguir renascer sem medos é a cereja no topo do bolo para uma nova vida, após uma lição difícil como a doença de nome “cancro”.


Ana Sofia Bexiga 15


POR DETRÁS DO PANO by

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Quando lancei o desafio ao meu querido amigo o medico cirurgião Dr. Gentil Martins, para integrar a minha rubrica Por detrás do pano by Eduarda Andrino na Revista Inurban, recebi prontamente um resposta positiva. Confesso que o Dr. Gentil Martins sempre foi um homem daqueles que tenho particular carinho e apresso pelo seu percurso profissional, mas acima de tudo pela maneira humilde como leva a sua vida e a simplicidade como gere o sucesso da sua carreira. Poucos são os que se aproximam deste homem no seu percurso profissional, chego mesmo a arriscar chamar-lhe de “Anjo branco”, e fundamento com testemunhos que recolhi ao longo da minha pesquisa sobre este profissional de saúde. Existem pessoas que estão seriamente marcadas na sua vida pelos encontros que

Eduarda Andrino

travaram com ele e que jamais o esquecerão. Falar de Gentil Martins e complicadíssimo, é mesmo arriscar muito, mas gostando de desafios, arrisquei e aqui estou eu a partilhar convosco talvez um dos meus maiores orgulhos, a entrevista a este mito! A 10 de Julho de 1930, nasce em casa, uma criança de nome António Gentil da Silva Martins, mais propriamente na Rua dos Navegantes 62 1º, na Freguesia da Lapa, António Gentil da Silva Martins, filho de António Augusto da Silva Martins (Cirurgião e o mais completo atleta português de todos os tempos), e de Maria Madalena Gentil da Silva Martins (Esposa e Mãe exemplar). Quando iniciei a minha viajem para escrever sobre Gentil Martins, solicitei o seu curriculum vitae, embora o Google estivesse carregado de informação, mas senti que a mesma seria mais


fidedigna se fosse cedida pelo próprio. Quando chegou ao meu email 10 páginas de texto carregadas de formação, prémios, livros, percurso profissional exemplar, senti um frio no corpo... Foi assustador! Quando iniciei a leitura do seu CV, foi como se estivesse a viajar para um outro mundo, e o meu corpo despregou-se da terra numa alucinante viajem para outra dimensão. Cada linha estava carregada de tanta dedicação ao próximo, tanto empenho e um lindíssimo caminho feito com amor a profissão. O texto foi devorado em segundos e a ansiedade em escrever ao mundo, e falar de um homem que não vestia apenas a bata branca, mas imanava uma aura de luz tao nítida como um anjo branco, era agora uma prioridade. O seu percurso começa, quando se licenciou em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina de Lisboa em 1953, foi bolseiro no Reino Unido nos primeiros anos de profissão, onde se especializou em cirurgia pediátrica. Dividiu a carreira entre o Instituto Português de Oncologia, criado pelo seu avô materno Francisco Gentil, e o Hospital D. Estefânia. Foi presidente da Ordem dos Médicos por três mandatos, entre 1977 e 1986, e presidente da Associação Médica Mundial. Separou com sucesso o primeiro par de siameses em Portugal, em 1978, e desenvolveu diferentes técnicas cirúrgicas inéditas. Foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique em 2009. Recebeu em 2001 a Medalha de Ouro do Ministério da Saúde, entre outras distinções nacionais e internacionais. Na juventude sagrou-se campeão em Portugal em espingarda de guerra e carabina livre e participou nas Olimpíadas de 1960, em Roma, na modalidade de pistola automática a 25 metros.

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POR DETRÁS DO PANO by

Eduarda Andrino um médico invulgar”, o cirurgião pediátrico fala das inspirações e lutas que marcaram toda a sua vida, não só enquanto médico, mas também como ser humano. Um testemunho arrepiante.

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Católico, Apostólico, Romano. Fala fluentemente Inglês, Francês, Espanhol, Português e algum Italiano. Para além da sua carreira como médico escreveu vários livros entre os quais o mais mediático “Ser bom aluno não chega – Os grandes desafios e emoções da vida de

Desde o pai multifacetado que nunca conheceu mas sempre quis imitar aos ensinamentos da mãe, Gentil Martins recupera nestas páginas o legado do avô fundador do IPO, as lembranças da participação nas Olimpíadas de 1960 e as arriscadas cirurgias que conduziu. A família, a relação com Deus, as histórias que viveu com os doentes e as lutas pelo acesso à saúde em Portugal integram igualmente este conjunto de memórias onde perpassa um enorme amor à Medicina e uma imensa humanidade enquanto homem e enquanto médico. “O fazer companhia, o mostrar interesse, o dar a mão, são tudo formas de suavizar os momentos mais difíceis e, infelizmente, na saúde, como no resto, por vezes falta humanização. Há quem diga, e até muitas vezes com razão, que uma boa palavra é mais impor-


tante do que um comprimido”, escreve António Gentil Martins. “Com a leitura deste livro autobiográfico, verdadeiro e frontal, muitos mais portugueses vão poder conhecer o homem, o médico e o cidadão.” (Daniel Serrão, no prefácio).

Gentil Martins

em exclusivo para a REVISTA INURBAN by Eduarda Andrino Eduarda Andrino denominada Xeroderma Pigmentoso, que faz surA medicina foi uma escolha sua ou uma influência gir cancros na pele quando esta é exposta ao sol. familiar? O rapaz tinha cancros em toda a pele da face e a única solução que encontrei (nunca tinha sido feiGentil Martins ta no mundo, nem voltou a acontecer), foi retirarFoi seguramente uma escolha pessoal, pois hesi- lhe, de uma só vez, toda a pele da cara, substitava entre engenharia e Medicina (apesar de ter tuindo essa pele com enxertos estrategicamente tido um pai médico, um avô e um irmão profes- colocados para minorar as obvias cicatrizes. sores de Medicina, um tio e padrinho Médico e, A verdade é que ficou “aceitável “ (como se um penta-avô médico da Corte em 1850 e funda- tivesse tido uma grande queimadura), e viveu dor da Sociedade das Ciências Médicas). Queria depois mais de 20 anos, acabando por falecer fazer qualquer coisa que tivesse concretização e com um tumor craniano. foi a sensação de impotência perante um homem atropelado no Largo do Rato e a sangrar (não E.A sabia se vivo se morto ….), que com uns 12 anos Presentemente ainda exerce a sua profissão a e ao dirigir-me para o liceu Pedro Nunes, decidi o tempo inteiro? meu futuro profissional. Como não me contentava com comprimidos e G.M injeções, optei pela cirurgia. Continuo a exercer a profissão a tempo inteiro, e é o que continuarei a fazer enquanto me sentir útil E.A e capaz, aliás o código ético dos médicos é nisso Como médico-cirurgião plástico, e ao longo do muito rigoroso: só devemos fazer aquilo que, em seu percurso, qual o caso clínico que mais o consciência, consideremos ser capazes de fazer marcou e se possível saber um pouco sobre a corretamente. Quando assim não for, resta-me história? deixar a Cirurgia e fazer qualquer outra coisa útil. Como é óbvio, depois dos 70 anos, tive de deixar G.M de ser professor da Faculdade de Ciências MédiO caso clínico que mais me marcou foi uma criança cas e de ser diretor do departamento de cirurgia jovem adolescente com uma doença hereditária, do Hospital de D. Estefânia. Apenas me manten19


POR DETRÁS DO PANO by

ho como consultor no Centro de Lisboa do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil, onde criei (a nível mundial), a primeira Unidade Multidisciplinar para tratamento do cancro na criança. E.A O seu curriculum e longo e sempre associado em termos familiares a medicina. A escolha da vertente pediátrica foi algo escolhido por si, ou uma influência do percurso familiar de outros membros da sua família? G.M A escolha foi fundamentalmente minha por gostar muito de crianças, por me encantar a variedade das situações a resolver e também pela satisfação de melhorar o que estava mal, conjugando assim a cirurgia pediátrica com a cirurgia plástica, dois dos títulos que possuo, como especialista pela Ordem dos Médicos. Mas também o factor familiar ajudou à decisão, pois a minha irmã Alice era professora de enfermagem pediátrica na Escola Técnica de Enfermeiras do Instituto Português de Oncologia, em Lisboa, e o marido era pediatra no Hospital de Santa Maria.

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Eduarda Andrino

irmão Francisco, um excecional cirurgião, que foi diretor do Instituto Português de Oncologia (que hoje tem o nome do fundador, o meu avô materno, o Professor Francisco Gentil. Dividíamos o mundo ao meio: doentes até aos 16 anos era comigo, com mais de 16 anos era com ele. Como senti que a Cirurgia Pediátrica no estrangeiro estaria mais avançada do que em Portugal, passei 3 anos e meio em Inglaterra a especializar-me. Ao regressar passei a trabalhar no Hospital de D. Estefânia e no Instituto Português de Oncologia, em Lisboa, onde cabei por criar, a nível mundial (1960), a primeira Unidade Multidisciplinar (Médica e Cirúrgica) para o tratamento do cancro na criança. E.A Ao longo do seu percurso como médico cirurgião e estando ligado a crianças, teve casos em que pouco ou nada conseguiu melhorar e provavelmente ate perdeu vidas na sua mão. Como conseguiu superar esses momentos menos felizes?

G.M Como é evidente custa imenso, e ao falecer-me o primeiro doente, um caso de tétano, quando era “Interno” dos Hospitais Civis de Lisboa, esNa Cirurgia dos adultos limitava-me á tive quase para desistir de ser médico. Valeu-me cirurgia plástica, procurando transfor- então o meu avô, com o seu apoio e conselhos. mar o feio em bonito, pois tinha o meu É fundamental ter consciência de que não po-


demos fazer milagres e que o mais importante é procurado ter feito tudo pelo melhor, até porque, infelizmente, muitas vezes nada mais podemos fazer do que aliviar o sofrimento E.A Como consegue limpar a mente quando se confronta com uma situação que não terminou da melhor forma, direi mesmo perder uma vida nas suas mãos? G.M Fico particularmente preocupado ao pensar se poderia ter tido outra opção, e se assim fosse o resultado teria sido diferente. A dúvida é o pior que nos pode suceder e que nos angustia dias seguidos. Mas a infalibilidade não é própria de qualquer de nós, o que nos ajuda a ultrapassar as situações. E.A O caso separação de 7 pares de gémeos Siameses, com 9 sobreviventes, foi muito mediático e o seu nome esteve na origem de todo esse processo de sucesso com uma inovadora técnica de cirurgia original. Fale-me por favor de todo o processo e respectivo êxito. G.M As primeiras siameses operadas foram as que mais me preocuparam, pois pouco havia escrito sobre o assunto, os textos eram curtos e pouco explicativos e cheguei ir a Inglaterra ver um filme sobre “separação de siameses” (o que nada adiantou, pois é impossível explicar pormenores de uma intervenção de várias horas num filme de 15 minutos…..!). Essa primeira intervenção, em 1978, foi extremamente preocupante, pois tinha a noção de que um passo em falso poderia representar a

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POR DETRÁS DO PANO by morte de uma das duas gémeas. Tinha que avançar com extrema cautela e assim levei 12 horas a operar. Nas doentes seguintes, também ligadas frente a frente, pelo abdómen e tórax, levei apenas 4 horas (já sabia como era). O caso seguramente mais difícil e complexo, foi o último, dos irmãos siameses moçambicanos, intervenção que demorou 13h30. Muitas vezes a nossa acção tem que se limitar a respeitar as decisões da

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natureza e por outro lado, mesmo com as mais modernas tecnologias, podem surgir surpresas durante o ato cirúrgico. Agora, chegados à puberdade, necessitam ser reavaliados, mas continuo a aguardar que de Moçambique me mandem notícias.

Eduarda Andrino

E.A Tem noção que e um dos melhores especialistas se não mesmo o melhor que Portugal tem na área da Cirurgia Oncológica Pediátrica? O que sente em relação a esse tipo de responsabilidade? G.M Não é a mim que compete avaliar se sou ou não melhor que qualquer outro. Certamente serei o que tem maior experiência pelo simples facto de a isso ter dedicado toda a minha vida clínica, e de ter fundado e dirigido o Serviço de Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil, em Lisboa, felizmente internacionalmente prestigiado. Sinto que fiz o que devia ter feito e o que era necessário, juntando toda uma equipa com pediatras e cirurgiões, devidamente apoiados nos serviços de uma grande instituição para tratamento de doentes oncológicos como é o Instituto. E.A No seu percurso conta com vários êxitos na medicina, são mais de 12.000 intervenções cirúrgicas efetuadas, sobretudo nas áreas da Cirurgia Pediátrica e da Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética (incluindo Cirurgia Geral, Cirurgia Torácica, Cirurgia Vascular, Gastrenterologia Cirúrgica, Cirurgia Ginecológica, Urologia, Cirurgia Oncológica, Cirurgia Maxilo-Facial, Cirurgia da


Mão, Cirurgia Plástica, Neurocirurgia e Ortopedia). Qual foi o caso que dentro destas especialidades, considera como de maior sucesso para si? G.M Diria que são dois e não um, pois tenho dificuldade na escolha. Um foi a substituição total da pele da face, num só tempo, numa criança com uma doença genética (caracterizada pelo aparecimento de cancros da pele, se esta é exposta ao sol.) Nunca tinha sido realizada no mundo e foi a primeira vez que vi, num congresso médico internacional, surgir uma ovação em pé. O outro foi a separação dos irmãos siameses moçambicanos, de enorme complexidade. O seu caso, como os restantes 7 (todos já adultos ….), demonstram bem o erro grave que é a tendência atual, nos países onde se pratica e bem, a ecografia pré-natal, de provocar o aborto sistemático nessas grávidas. E.A Paralelamente ao seu percurso na medicina, praticou varias modalidades desportivas. O tiro, equitação, ténis e até mesmo badmington, como conseguiu arranjar disponibilidade, tendo uma vida com tanta responsabilidade e ocupação? G.M Tive um exemplo extraordinário, o meu pai, que faleceu quando eu tinha 3 meses. Tive porém também uma mãe excecional, que me educou e transmitiu a figura dele e os princípios que defendia. A minha participação no desporto foi sobretudo mais na juventude, antes de iniciar a profissão de médico, muito embora tenha ido aos Jogos Olímpicos de 1960, em Roma (já com 30 anos). Tinha uma vida saudável, não fumava, não bebia, não me drogava, deitava-me cedo pois tinha

jogos aos domingos de manhã e fazia parte de uma equipa, talvez por isso com 86 anos ainda me sinta bem, pois é certamente na infância e juventude que começamos a construir a saúde que iremos ter em fim de vida. Fiz o curso de Solfejo e toquei violino até começar a estudar anatomia (aos 17anos, no primeiro anos da faculdade), como sempre gostei de música, ela tinha de ser bem tocada e assim preferia ouvir os outros. A nossa conversa estava terminada, mas fui surpreendida com umas últimas palavras, que me tocaram particularmente. Posso mesmo dizer que...os meus olhos se encheram de lágrimas, afinal o homem que me encantou durante toda esta conversa, ainda tinha algo muito especial... para me surpreender. Com uma forma doce e com um olhar único proferiu: “ Falta aqui uma pergunta. (faça-a e coloque-a como e quando quiser), que eu dou já a resposta: Casei já tarde, com 33 anos, com uma mulher excecional, Maria Guilhermina Ivens Ferraz Jardim tive 8 filhos (5 raparigas e 3 rapazes), António Vasco, Inês Maria, Luís Carlos, Teresa Maria, Ana Maria, Rita Maria 43 anos, Sofia Maria 39 anos e João Manuel 32 anos, e tenho já 25 netos (13 rapazes e 12 raparigas), o que hoje em dia está fora de moda.” Era a cereja em cima do bolo. Fiquei rendida. Obrigado Dr. Gentil Martins, por todas estas partilhas de vida e de alma! Bem haja.

Eduarda Andrino 23


CRÓNICA_VERA SOARES O cancro pediátrico é a primeira causa de morte não acidental na população infanto-juvenil. Com cerca de 350 novos casos por ano, o cancro em crianças e jovens é uma realidade dura e angustiante que exige toda a atenção por parte de todos.

A Fundação Rui Osório de Castro tem como objetivo principal apoiar e proteger as crianças com cancro e os seus familiares, informando, esclarecendo e promovendo a investigação nesta área. Apesar dos progressos significativos no tratamento do cancro na criança ao longo dos últimos anos, para Cristina Potier Directora-Geral da Fundação Rui Osório de Castro, a área da investigação continua a constituir um enorme desafio.

por ano são confrontadas com um diagnóstico de cancro infantil. E a tendência é de crescimento, em cerca de 1% ao ano. Isto faz do cancro pediátrico a primeira causa de morte não acidental na população infanto-juvenil. Os números são dramáticos e demonstram a importância de dar continuidade ao nosso trabalho. O saber que facilitamos a vida destas famílias fornecendolhes a informação necessária para melhor aceitar, conviver e compreender a doença é por si só uma enorme alegria para nós. Inurban Quais as principais áreas de atuação da Fundação?

C.P. A Fundação Rui Osório de Castro tem como objectivo principal apoiar e proteger as crianças com cancro e seus familiares concentrando a sua actividade em duas grandes áreas: INFORInurban Cancro e Crianças são duas palavras que MAR, esclarecendo os pais e as crianças sobre não deveriam nunca estar associadas. questões relacionadas com o cancro infantil e Como é trabalhar tão de perto com esta PROMOVER a INVESTIGAÇÃO contribuindo assim para o avanço da medicina nesta área. realidade?

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Inurban C.P. Por ano cerca de 350 / 400 famílias que Que tipo de apoio a Fundação presta às famílias


e crianças com cancro?

cos à frente não sabem o que perguntar. Chegam a casa e as perguntas surgem. As pesquiC.P. sas pela internet começam, os “conselhos” dos Quando os pais e as crianças são confrontados amigos surgem criando ainda mais confusão e com um diagnóstico de cancro o mundo parece instabilidade. A nossa forma de os apoiar é dardesabar à sua volta… Na altura e com os médi- lhes informação séria, credível para que saibam 25


CRÓNICA_VERA SOARES

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exactamente o que significa, os tipos de tratamento que existem, os cuidados que devem ter, permitindo-lhes passar por este período de uma forma muito mais tranquila. Sendo uma das áreas de actuação da Fundação Rui Osório de Castro INFORMAR, o nosso projecto principal nesta área é um portal online sobre oncologia pediátrica www.pipop.info. Neste portal encontra-se reunida e disponibilizada informação, rigorosa e actual, relacionada com o cancro infantil, facilitando, assim, o acesso à informação a quem lida com esta problemática. O portal encontra-se dividido em duas áreas distintas, Pais e Amigos e Crianças e Jovens, utilizando um formato e linguagem adaptados a cada destinatário, de forma a conseguir transmitir a informação o mais adequadamente possível. O rigor da informação é absolutamente determinante, por isso todos os conteúdos são revistos e aprovados por um Conselho Científico, composto por médicos pediatras oncológicos. Adicionalmente, e ainda na área informativa, a fundação promove a edição ou reedição de publicações relevantes sobre a temática da oncologia pediátrica, que se encontram disponíveis nos vários serviços de oncologia pediátrica do país e que são entregues aos pais pelos próprios médicos, e que constituem um importante contributo para as famílias, pessoas e profissionais de saúde que lidam diariamente com esta

realidade. Algumas destas publicações estão disponíveis também no PIPOP. Também com o intuito de informar o mais recente projecto são os vídeos explicativos sobre os tipos de cancro mais comuns no universo infantil com uma linguagem científica adaptada às crianças. O primeiro que lançámos foi sobre a “Leucemia”, estando neste momento em produção um segundo filme sobre os “Tumores do Sistema Nervoso Central”. A Fundação promove também anualmente a realização do Seminário de Oncologia Pediátrica, que já vai na sua segunda edição, orientado para pais e amigos das crianças com cancro. Inurban Como evoluiu o tratamento do cancro infantil nos últimos anos? C.P. Hoje em dia um diagnóstico de cancro não pode ser encarado como uma sentença de morte. Nas últimas décadas verificou-se um progresso significativo no tratamento do cancro na criança. Deixo o exemplo da leucemia linfocítica aguda onde nos anos 60 a taxa de sobrevivência era de 10%. Neste momento ronda os 80%. É por isso que para a Fundação Rui Osório de Castro é tão importante o avanço através da investigação e da inovação. Apenas assim se consegue evoluir e melhorar as actuais taxas de sobrevivência. A Fundação apoia a promoção e desenvolvimento da investigação científica, na área da oncologia pediátrica, mediante o financiamento


das apólices de seguro de responsabilidade civil profissional médica inerentes, de forma a assegurar a inscrição e participação de crianças em estudos de investigação, e assim contribuir para uma melhoria efectiva da realidade oncológica pediátrica nacional. Recentemente, no 2.º Seminário de Oncologia Pediátrica, foi anunciado o Prémio Rui Osório de Castro/ Millennium BCP, que tem como objectivo desenvolver projectos e iniciativas inovadoras na área do cancro infantil. A Fundação pretende atribuir, anualmente, a partir de 2017, um prémio no valor de 15 mil euros. Queremos, assim, contribuir com recursos para o desenvolvimento e/ ou manutenção de projectos capazes de incentivar e promover a melhoria dos cuidados prestados às crianças com doença oncológica. Inurban Quais os principais desafios na área da oncologia pediátrica? C.P. Ao contrário dos adultos nas crianças a prevenção praticamente não existe. É, sim, importante que seja diagnosticado precocemente, pois aumenta a sua taxa de sobrevivência. Pais e médicos devem ser sensibilizados para isto e devem estar alerta para possíveis sintomas. Outro desafio que posso referir nesta área é a investigação. Em Portugal, apesar de existir desenvolvimento científico, existe margem para desenvolver mais esta área. Notam-se entraves, quer ao nível dos recursos financeiros – muito poucas verbas disponíveis para investigação -, quer ao nível dos recursos humanos - devido à escassez de tempo dos profissionais dos serviços de oncologia pediátrica do país se dedicarem à investigação.

dos adultos? C.P. Os protocolos de tratamento seguidos pelos médicos são específicos para crianças e adolescentes.

Inurban Inurban O tratamento oncológico nas crianças é igual ao Como os pais lidam com o infortúnio de ter uma 27


CRÓNICA_VERA SOARES

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criança com cancro?

isso aconteça é preciso que os pais a percebam.

C.P. Um diagnóstico de cancro abala profundamente uma família, é um choque, especialmente quando se trata de uma criança. Mas cada família é uma família e cada uma tem a sua própria forma de lidar com a doença. É fundamental que compreendam o que se está a passar e o impacto que esta vai ter e as alterações que vai provocar no dia-a-dia não só da criança mas em toda a família. Sentimentos de culpa, de medo e de raiva são muito comuns. O apoio psicológico não deve ser descorado e deve ser solicitado sempre que necessário. É preciso muita força.

Inurban Considera que existe pouca ou má informação relativamente à oncologia pediátrica? C.P. A Fundação Rui Osório de Castro trabalha diariamente para que os pais destas crianças tenham acesso a informação credível sobre o tema. Vivemos numa era em que existe muita informação dispersa, alguma boa mas muita de qualidade duvidosa. Inurban Quer destacar algum projeto ou referenciar alguma atividade em agenda?

Inurban C.P. Como é a orientação que a família recebe Sim. O Prémio Rui Osório de Castro / Millenpara falar sobre a doença com a criança? nium bcp. Com um valor de 15.000€, este prémio pretende contribuir com recursos para o C.P. desenvolvimento e/ou manutenção de projetos No PIPOP temos uma área que aborda capazes de incentivar e promover a melhoria precisamente este tema: Como contar ou dos cuidados prestados às crianças com doença o que contar. Vai depender da idade da oncológica. criança. Quanto mais velha a criança for A fase de candidatura teve início no dia 1 de mas facilmente irá compreender o que se junho e termina a 31 de Outubro de 2016. está a passar mas a angustia e o medo Podem candidatar-se ao Prémio Rui Osório de também poderão ser maiores. A atitude Castro/Millennium bcp pessoas singulares, grudos pais tem muita influência pelo que é pos de trabalho ou instituições sem fins lucraimportante a sua tranquilidade. É defendi- tivos que apresentem a concurso um projeto do que se deve falar abertamente sobre a relevante na área da oncologia pediátrica, nodoença com a criança, numa mentindo so- meadamente, estudos científicos, projetos de bre a gravidade da situação mas para que investigação, assim como formação específica


ou projetos com impacto psicossocial. O projeto a apresentar deverá ser realizado em Portugal ou, tratando-se de um estudo internacional, terá obrigatoriamente que envolver crianças portuguesas com doença oncológica. Os projetos serão apreciados por um júri de cinco elementos que se especializam nas diferentes vertentes da área da oncologia – Professor António Gentil Martins, Dr. Nuno Farinha, Presidente da SHOP (Sociedade de Hematologia e Oncologia Pediátrica) e médico pediatra oncologista do Hospital de São João do Porto, Dra. Maria de Jesus Moura, Diretora da Unidade de Psicologia IPOFG de Lisboa, Engª. Maria Karla de Osório de Castro, Presidente do Júri e Presidente do Conselho de Administração da Fundação Rui Osório, e a Dra. Margarida Cruz Directora Geral da ACREDITAR. A apresentação do projecto vencedor será feita em fevereiro de 2017, no 3º Seminário de Oncologia Pediátrica.

Par mais informações os interessados poderão consultar o nosso site:

www.froc.pt

ou contactar-nos através do:

info@froc.pt ou:

217 915 007

Vera Mendes Soares 29


CINEMA Suicide Squad: Esquadrão Suicida

A sucessão de filmes de super-heróis parece ter começado a saturar os espectadores. Depois do sucesso da Marvel com Deadpool eis que DC Comics lança o seu primeiro-filme anti-heróis com um grupo de vilões que vai chegar para salvar o dia: o Suicide Squad – Esquadrão Suicida.

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CINEMA Suicide Squad: Esquadrão Suicida A acção de Suicide Squad passa-se depois da Batman vs Superman: Dawn of Justice e depois da morte de Super-Homem os Serviços Secretos Americanos vêem-se forçados a criar uma equipa de intervenção para o caso do surgimento de um novo meta-humano que venha por em risco a Humanidade. Amanda Waller, interpretada por Viola Davis, é uma alta patente dos Serviços Secretos e é a responsável por juntar um grupo dos criminosos mais perigosos do planeta que se vão aventurar em missões suicidas com o objectivo de verem as suas penas reduzidas. Liderado por Rick Flag (Joel Kinnaman), com o auxílio de Katana (Karen Fukuhara), o Esquadrão é composto ainda por Deadshot (Will Smith), Harley Quinn (Margot Robbie), Enchantress (Cara Delevingne), El Diablo (Jay Hernandez), Captain Boomerang (Jai Courtney) e Killer Croc (Adewale Akinnuoye-Agbaje).

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CINEMA Suicide Squad: Esquadrão Suicida A grande vilã da história é interpretada por Cara Delavigne que encarna a personagem Enchantress uma das criminosas recrutadas por Waller mas que fugiu ao controlo dos Serviços Secretos e que obedecendo aos clichés de Hollywood planeia dizimar o mundo. Uma das criticas

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à personagem é a falta de coerência nas suas motivações bem como o exagerado recurso aos efeitos especiais para a construção da sua personagem. No Esquadrão o principal destaque vai para a personagem de Will Smith, Deadshot. Além de


mais coesa e de antecedentes mais sólidos a sua personagem consegue estabelecer uma forte ligação emocional com o espectador. Harley Quinn, interpretada por Margot Robbie é outro dos destaques. Além da estética e de todos os trejeitos característicos desta personagem na bandas desenhada o que torna esta uma interpretação exímia. Katana é uma personagem bastante irrelevante na história e o Captain Boomerang tem como principal função trazer uma parte cómica à trama do filme. Apesar de ser uma personagem secundária que serve principalmente para contar a história de Harley Quinn, Jared Leto não desiludiu na sua recriação de Joker. É até pena que depois de tanto marketing à volta de Joker este tenha um papel tão reduzido no filme. Os grandes momentos são aqueles onde a loucura toma conta do set com brilhantes contracenas de Joker e Quinn. Certo é que Jared Leto voltará certamente a encarnar a

personagem nas próximas aventuras de Batman, agora interpretado por Ben Affleck e que também aparece no filme em alguns momentos. Esquadrão Suicida era um dos filmes mais aguardados do ano e apesar das críticas habituais a verdade é que cumpriu e é certamente um dos blockbusters da temporada de Verão.

Tiago Vaz Osório

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ARTES PLÁSTICAS

XicoFran já é conhecido como o Pintor do Jazz, mas a exposição que será inaugurada a 15 de Setembro, no Palácio do Egipto, em Oeiras, sob o título “Jazz a 360º” irá colocar definitivamente o pintor no mapa nacional e internacional dos pintores contemporâneos mais conceituados.

apesar de à partida ser um sonho, mas tinha a convicção de que iria atingi-lo! Hoje sinto essa dicotomia de quase “dupla personalidade” no bom sentido, é claro. Diria que tenho dois Eus, Francisco e XicoFran.

Conversámos com o pintor a propósito desta exposição, onde podemos observar o cruzamento das duas artes, música e pintura. Quisemos saber quem é este homem que retrata o jazz com toda a sua sensualidade, vibração e cor, e como se iniciou nesta aventura jazzista.

Pergunta quase sempre colocada aos artistas! Resposta simples: chamamento interior, algo intrínseco, é como se uma luz nos perseguisse e vice-versa. Desde muito jovem senti este chamamento! Mas, para que ele se desenvolvesse, tive alguém que me influenciou. Nunca poderei esquecer a minha professora primária, Henriqueta.

Como surgiu o seu interesse por pintar?

Quem é XicoFran?

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XicoFran não deixa de ser o Francisco Fernandes, uma pessoa como tantas outras, apaixonado pela vida, pelas pessoas, pelos amigos, pela música, pela arte, por tudo o que é belo. Mas o nome XicoFran, que me honra imenso, é um nome que, com muita perseverança, esforço, trabalho e paixão ao longo dos anos, chegou ao patamar de “Pintor do Jazz”. Na verdade, sempre pensei que um dia iria conseguir chegar aqui,

Ainda hoje está diariamente no meu pensamento como se de uma madrinha se tratasse, como se fosse um sininho, nos momentos menos bons ou nos momentos de desânimo, e que me segredasse ao ouvido “vá, arrebita, vamos em frente, pois sem muito trabalho nada se consegue!”. Uma senhora extraordinária, que chegava à escola antes de todos. Conforme o tema e matéria desenhava num grande quadro de ardósia a giz o tema que iria abordar com os alunos. Uma vertente cénica, que me influenciou profundamente. Quando entrava


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ARTES PLÁSTICAS na sala de aulas, os meus olhos e interior deslumbravam-se com todos aqueles desenhos maravilhosos executados pela professora, porque ela desenhava muito bem. Eram desenhos cheios de cor, com cheiro intenso a giz, e quando entrávamos na aula a própria professora ainda tinha as mãos sujas do giz. Para mim um sumo, um bálsamo para a alma. Vivências que até hoje perduram, pois influenciaram-me a 100%, procurando fazer algo de diferente, e sempre relacionado com as artes.

mestres no início da sua carreira? Tive a sorte de ter vários mestres, com os quais privei e que foram muito importantes para o meu percurso artístico. Não não posso de deixar de mencionar a minha professora da Faculdade, Dora Iva, o Mestre Artur Bual, o Mestre António Inverno e o Mestre Ernesto Neves. Durante o seu percurso artístico conheceu certamente muita gente, outros artistas. Há alguém que o tenha marcado de modo especial?

O Mestre António Inverno Sem dúvida. Quais foram os grandes mentores ou Quando pensamos que sabemos tudo, que saí-

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mos da Faculdade e ninguém nos segura, porque temos a sabedoria toda, é precisamente o contrário! Com o Mestre António Inverno aprendi muitas das técnicas que ainda hoje emprego nas minhas obras. Não me posso esquecer dos momentos que passei com ele, quando ele vivia em Serpa. Durante vários fins de semanas eu ia de Lisboa a Serpa carregado de telas por acabar e, em conjunto, ficávamos várias tardes no seu atelier a trabalhar num ambiente surreal. Tão depressa estávamos à volta de uma tela, como de repente entravam uns amigos do Mestre com um lanchinho de chouriço alentejano e queijos de Serpa.

E, sem eu dar por isso, o mestre utilizava a tela que estávamos a pintar e improvisava com ela uma mesa. São momentos inesquecíveis e vivências que, para um jovem como eu na época, eram totalmente transcendentais! Mas são estes mesmos momentos que nos fazem crescer não só como artistas mas como homens, no que há de melhor dos valores mais simples, mas mais importantes do ser humano, tais como humildade, companheirismo, amizade e sabedoria. O Mestre passou-me todos esses valores e muitos outros, enquanto eu apenas o observava. Sim, a observá-lo!

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ARTES PLÁSTICAS O Mestre dizia: “Nada te ensinarei, observa apenas o que faço! E o tempo ensinar-te-á a perceber por que o faço? Serás tu próprio a criar as tuas técnicas e ferramentas!” Qual foi a obra que mais gostou de pintar? Difícil de escolher uma só obra! De várias obras gostei muito do seu momento final, porém, sem dúvida, fui marcado até hoje pela obra“A ceia de Jazz”. O nome diz tudo, pois desde o início era uma obra polémica, não só por ser um

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tema religioso e por tudo o que isso poderia implicar, mas também porque é baseada na grande obra intemporal de Leonardo Da Vinci “A Última Ceia de Cristo”. A Última Ceia de LV provocou em muitos artistas um revivalismo contemporâneo das suas personagens. Eu, XicoFran, achei que teria toda a notoriedade como o pintor do Jazz, agregando a minha marca de Jazz reflectida nessa obra icónica. Quando a terminei, hesitei, ou melhor, senti-me sem coragem de a apresentar ao público em geral. Não porque tivesse receio pela estrutura da tela e pela parte técnica (nesse sentido estava confiante), mas sim pela carga emocional, afectiva


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ARTES PLÁSTICAS e de desconforto que poderia provocar nas pessoas! No entanto, quando a apresentei em público na minha exposição individual de Jazz na Galeria LM (Luís Madureira), a receptividade do público foi fantástica e unânime. Conclusão: a arte é algo sentido, feito com respeito, podendo provocar lindos sentimentos e reflexões. A arte não é uma brincadeira.

Mas há outros temas que gosto igualmente de pintar, Fado, mulher, natureza, entre outros. Em que corrente se insere? Sem dúvida numa corrente Modernista, contemporânea, talvez um neo-realismo, mas é muito difícil catalogarmo-nos ou incidirmos numa corrente específica, quando conseguimos encontrar um próprio estilo! Deixo essa parte para os críticos e para os “estudiosos e entendidos” em arte.

É assim que eu vejo hoje a arte. Qual o seu público-alvo? Qual a temática que mais gosta de pintar? Jazz? Lisboa? Outra? Tenho a sorte de ter um público muito variado! O que me regozija, pois não pinto para uma Gosto de brincar com essa pergunta, e cos- faixa etária ou grupo específico! Tento chegar a tumo responder que gosto de pintar tudo, um público, o mais abrangente possível. porque essencialmente gosto de pintar! Como surgiu esta exposição? O que espera o É como um médico, todos eles tem a visitante de “Jazz a 360º”? mesma base, mas depois especializam-se numa ou mais vertentes da medicina de De um sonho. Sempre foi o meu objectivo conque mais gostam. cretizar e materializar uma grande exposição Assim se passa comigo e acredito que se de pintura Jazz individual, num espaço nobre passa com muitos outros pintores! como é o Palácio do Egipto. Adoro pintar Lisboa, é uma cidade linda, O visitante vai encontrar o empenho de um com uma luz muito própria e um encanto artista à temática do jazz, e pictoricamente único. poderá encontrar cerca de 40 trabalhos em teMas o Jazz faz parte de mim, não consigo las. passar muito tempo sem o pintar! É como Muitas outras surpresas irão encontrar, mas uma marca conhecida de um carro, em que como deve imaginar nada vou revelar agora. o público está sempre à espera do próximo modelo a ser lançado. O Jazz é algo que Visitem a exposição que estará patente entre tento ao longo dos anos superar em mim! 15 de Setembro e 8 de Outubro! 42


Como consegue gerir vida profissional, familiar e artística? Qual o segredo para o equilíbrio? É simples, o sonho é grande, o caminho da superação e do prazer da arte é uma aspirina vitaminada. Não é fácil, mas sem esforço e trabalho para alcançar os fins não se consegue nada. O futuro será XicoFran.

Filomena Martins e Odete Sousa 43


ENTREVISTA

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Terra D’Encontros nasceu a partir de que Português da ESEB, no sentido de escrever uma sentimento ou ideia? obra a duas mãos, em jeito de homenagem à minha terra de afetos, Lagoaça-aldeia natal, loLídia: calizada em Trás-os-Montes, na fronteira entre Terra D’ Encontros nasce da junção de mui- Portugal e Espanha, banhada pelo Douro. tas histórias vividas através da imaginação porque foram contadas por quem de fac- As tradições são, deveras, necessárias para a to as viveu e/ou presenciou. Embora fic- permeabilidade dos costumes. Sente-se isto cionadas, todas as personagens existiram ao longo desta obra de ficção de 200 páginas? efetivamente, assim como os lugares, as ansiedades, as vidas, os olhares, o cruza- Lídia: Sim. Aliás esse era um dos nossos objemento de mentalidades e de errâncias… tivos: deixar o cunho dos costumes que funciona Carla: como o molde daquilo que o Planalto foi e ainda é. Nasce de um desafio proposto à minha Carla: As tradições, corporizadas nas diferentes amiga e colega do Departamento de personagens, são a essência desta obra.


Como foram geradas as personagens? Quais os seus objetivos? Lídia: As personagens foram geradas sobretudo através de memórias. Algumas delas já quase nuvens a esfumarem-se juntamente com o tempo, mas, ainda assim, memórias de um tempo que de facto existiu, memórias de pessoas que ainda vivem para contar o que viram e ouviram. Estas personagens são muito reais. Afirmam-se na narrativa. Têm presença e são bem representativas da Lagoaça de finais do século XIX. Carla: As personagens são baseadas em pessoas

e situações verídicas e outras do meu imaginário, com base nas minhas vivências de infância e juventude e das muitas histórias ouvidas à minha avó materna e aos meus pais. Quanto tempo demorou a nascer a obra? Lídia: Foi um namoro longo… precisávamos de investigar, conversar com as pessoas, ir aos lugares. 45


ENTREVISTA Carla: Escrever é de per si um desafio e tanto! A adicionar a este facto, escrever com outra Carla: Foi um pouco uma “odisseia”! Entre pessoa requer um esforço adicional de “nivelamuito trabalho na Escola Superior, outros mento” e equilíbrio de registos de escrita. projetos conjuntos e muitas exigências fa- O mais interessante, porém foi que as personagens é que tomaram conta da ação e levaram miliares passaram dois anos! E assim se passaram quase dois anos…

Mas acreditamos que o esforço valeu a a “nossa” história para onde muito bem entenderam! pena! Tal como numa obra se lança a primeira peFoi uma obra feita a quatro mãos. É mais fácil a construção de um argumento dra, num livro a primeira palavra é fundamental? literário, desta forma? Lídia: Talvez! Por um lado sentes apoio em todos os aspetos da construção que estás a empreender, por outro as decisões também têm de ser tomadas a dois. No nosso caso, a maior dificuldade foi conciliar as nossas vidas, já terrivelmente cheias, com este projeto. 46

Lídia: Sim… bem, quando começámos a escrever já sabíamos qual o trajeto que iriamos seguir. É claro que os ajustes, os recuos, as pausas, enfim, foram muitos… Mas sim, a primeira palavra, melhor, a primeira linha é fundamental porque mesmo que mais tarde não te sirva de nada, no momento do arranque funciona


como um marco, como uma bandeira na terra de ninguém mas que tu queres conquistar! Carla: A primeira palavra, a primeira frase funciona, obviamente, como um “desbloqueador” de escrita. Com efeito , por casualidade, nesta obra, a primeira frase coincide com o início do primeiro capítulo, mas nem sempre tal coincide necessariamente com o início de um livro.

Qual a ambição que a obra pretende atingir?

com que mais me identifico é, “nunca é tarde para mudarmos o que parece ter sido estabelecido por alguém ou pelo passar do tempo e que se tornou lei embora sem o menor sentido”! Carla: Este é um livro de múltiplas mensagens…O leitor terá um papel fundamental na “reescrita” e interpretação destas mensagens. É uma história, em que confluem múltiplas histórias, cada uma com sua mensagem. Pretendemos abordar: o respeito inter-religiões, a questão judaica no Trás-osMontes de inícios do séc. XX, os usos e tradições rurais e domésticos e sua importância na vida da população rural nordestina, o amor paternal, o amor a terra, enfim…Só lendo!

mação inédita, decorrente da investigação subjacente à escrita do livro sobre a época histórica em que se passa a ação (Nordeste trasmontano em inícios do séc. XX).

Lídia: Tal como os meus outros livros, (Os Filhos do (In)Fortúnio e Maggy, a Fada!) gostaria muito que chegasse a muitas casas e não estou apenas a referir-me a casas transmontanas…entretanto, há ainda outros caminhos para explorar. Este é só o primeiro! Carla: A minha maior ambição é que chegue aos Qual a principal mensagem deste livro? leitores (trasmontanos e não) e seja apreciado, esteticamente e em termos de conteúdo. TamLídia: Eu diria “as mensagens”… mas aquela bém é importante para nós partilhar muita infor-

O público alvo é restrito? Ou é um livro para e do mundo? Lídia: É definitivamente um livro para e do mundo pelas personagens nele contidas, pelos ideais e pelas experiências, pelo cruzamento de muitos outros cruzamentos com séculos de existência, enfim… Carla: É claramente, um livro do e para o mundo, 47


ENTREVISTA que fala de sentimentos intemporais: amor, Carla: Mais do que um encontro de gentes, será ambição, respeito, carinho, coragem.. uma verdadeira celebração. Pretendemos partilhar a nossa satisfação com a qualidade final O lançamento está previsto para o dia 7 deste trabalho-para a qual contribuíram grande setembro, em Bragança. demente os queridos amigos fotógrafos, Lina Quem poderemos ver e ouvir neste en- Caetano e Filipe Lopes que ilustraram magnifi-

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contro de gentes? Lídia: Estamos a preparar uma verdadeira festa de lançamento para os nossos amigos do distrito de Bragança e para aqueles que não fazem parte do nosso círculo de amizades mas que de alguma forma se sentirão envolvidos em alguma das estórias / histórias que contamos, daí que, gostaríamos de contar, também, com a presença autárquica deste grande distrito. Teremos similarmente música de raiz mosaica assim como finger food e uma apresentação certamente irrepreensível por parte do prefaciador do livro!

camente a obra e o profissionalismo e excelência da Editora-com uma verdadeira festa de sons, paladares e palavras que nos ajudem a recriar os ambientes descritos na obra. Quem ler Terra D’Encontros vai ficar mais rico. A inspiração para cada alinhavar destas páginas foi tirada da terra ou da alma daquela gente? Lídia: Bem, estás a falar com alguém que tem um respeito enorme pela terra e por tudo o que ela representa e nos brinda… ah… Creio que as nossas páginas foram retidas da junção,


por sua vez justa, de riquezas e saberes entre a terra e a alma daquelas gentes… Carla: Em Trás-os-Montes, Terra e gentes mantêm uma simbiose. A paisagem tem tanto de agreste, como de cativante, genuíno… único. Assim são as gentes trasmontanas. Ser escritor e apenas escritor é um dos vossos sonhos? Porquê? Lídia: Não me imagino viver exclusivamente da e para a escrita, pelo menos a médio prazo, porque

há um nunca mais acabar de outras coisas que me atraem e que estou a fazer ou que ainda quero experimentar e que por sua vez me enriquecem continuamente e consequentemente à minha escrita. Carla: Ser escritor é certamente uma devoção, não necessariamente um sonho para viver em exclusivo. Adoro o que faço: sou professora há 23 anos e espero continuar a sê-lo até que deixe de poder fazê-lo com o maior brio possível. Esse sim é o desafio da minha vida! A escrita surge como um complemento, isso sim muito importante!

Manuela Pereira 49


ARMÁRIO SEM CHAVE

Usar um Choker São um dos must-have deste verão e existem em variadíssimos modelos. Estão para ficar… Quem foi uma ‘pré-adolescente’ ou adolescente nos anos 90 com certeza se lembrará daquele famoso

colar preto coladinho no pescoço que imitava uma tatuagem. Usar um choker nos anos 90 é como usar uma body chain nos dias de hoje. Estão na moda, são sensuais e prometem não nos deixar tão cedo. 50


Foi isto que aconteceu durante toda a década de 90 que trouxe aqueles colares de plástico entrelaçado juntamente com pulseiras e anéis. Hoje, a tendência tornou-se bastante mais abrangente e existem chokers de vários materiais e cores. Aliás, basta ter um lenço de tecido muito fino (tipo cetim), dar uma

volta ao pescoço e fazer um laço atrás para estar usar esta tendência. Hoje temos várias opções diferenciadas e ajustadas para dar aquele toque cool em nossos looks. Do super carregado ao clean, elas tem surgido de maneira imponente e ganhado o coração das fashionistas e adeptas a novas tendências. 51


ARMÁRIO SEM CHAVE A chamada ‘coleira’ Choker, que significa ‘gargantilha’ em inglês, pode ser usada sozinha, em combinação com outros colares mais longos, ou até com um lenço por baixo para as que querem ousar mais. Para esta estação, marcas como Balmain, Christian Dior e J.W.Anderson apostaram nesta peça que promete marcar os próximos meses de calor. Apesar de agora ser uma das principais tendências de moda, os choker já são centenários e têm

histórias que talvez possa não conhecer. Por exemplo, em 1869, Édouard Manet pintou o famoso quadro Olympia que mostrava uma prostituta com um colar preto à volta do pescoço. Acontece que durante esta época, estes colares muito finos e pretos eram sinal de que uma mulher era prostituta. 52


Pouco tempo mais tarde, em 1874, os chokers ganharam um significado totalmente diferente. Quem usava esta peça eram bailarinas e mulheres com algum estilo e sentido de moda. Durante o século XIX, foram chamados de “coleiras” mas não tinham necessariamente uma conotação negativa. Isto porque membros da realeza, como Alexandra, Princesa de Wales, usavam-nos repletos de diamantes, pérolas e veludos e todos eles eram feitos à medida para assentarem na perfeição. O choker é uma peça que carrega algumas centenas de anos e que prova que a moda é, sobretudo, cíclica. Hoje, it girls de

todo o mundo— como a blogger Chiara Ferragni e as modelos Kendal Jenner e Gigi Hadid— já os usam e nós aprendemos com elas uma coisa: o decote e os ombros devem estar bem à mostra.

https://www.facebook.com/armariosemchaveforman/ 53


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ARTIGO Eu planto, tu plantas, ele planta…

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Diz-se que uma refeição bem apurada e suculenta é capaz de operar maravilhas no que toca à boa disposição. Ora, que poderes não encerrará, por exemplo, um arroz de galo repleto de suculências e perfumado com um enigmático pé de carqueja?

Ali, sentada, é impossível não abrir microgavetas dentro da memória que me trazem lembranças da sequência quase simétrica de canteiros recheados de hortícolas da Teresinha ou do regozijo incomensurável da Mara quando diz que o pimento, a cebola e os pêssegos cresceram no metro quadrado da sua horta!

Abro as portas da memória e vejo-me sentada à mesa da dona Anabela, no recôndito, mas maravilhoso Montesinho, onde tudo é natural. Entre mimos, indagações sobre os sabores e a satisfação do apetite dos comensais, conversas fugidias, (porque é preciso encaminhar os passos miudinhos e lestos para a cozinha e colher os pedidos mesmo à saída das mãos da cozinheira), uma explicação breve sobre a marinada dos frutos, enfim, um esclarecimento sobre as alfaces acabadas de chegar da horta ou a compota de bagas de sabugueiro ainda a escaldar nos frascos, não é difícil deixarmos voar o nosso pensamento para outras paragens, outras hortas, outras aromáticas para o chá que, sabemos, chegará no final da refeição e destronará os sobejamente conhecidos saquinhos de venda fácil.

E enquanto continuo a remexer em todas essas gavetas, vem-me à tona o dia em que subi a serra à procura das ervas da Natália. Encontrei-a, nesse dia de primavera embrulhada ainda em muita roupa, a olhar esbugalhadamente para a horta semiplantada, mas já a florir na sua mente. “Aqui estão as couves que plantei há umas três semanas. Vês? São minúsculas e já a florir!... Não sei o que se passa este ano! Deve ser o excesso de humidade que obriga todas as plantas a desabrocharem num tempo que não é o seu!” Mais dois passos em frente e parava para colher um punhado de ervas aromáticas para a infusão da tarde. “Eu gosto de as misturar. O chá fica mais saboroso.” De repente, uma dobra de joelho para me mostrar uma plantinha a tentar lutar pela vida: “E esta? Sabes o que é?” Não, eu não


sabia. Arrisquei “alfazema” e logo recebi um trejeito de boca como que a dizer-me: “não distingues a salsa da hortelã, rapariga”! “É salva! Mas está com dificuldades em vingar.” E erguia de novo o olhar para o espraiar pela terra replantada e já com planos para novas primaveras…enquanto continuávamos a caminhada pelos espaços tortuosos designados para os pés pelo meio das plantações. Fecho as gavetas por agora. Mais uma vez percebo as ramificações que se estabelecem à minha volta. São como teias entrelaçadas, emaranhadas e infinitas que a Natureza teimosamente estabelece para nos devolver o que nunca deveríamos ter abandonado e, em muitos casos, esbanjado e ultrajado.

Lidia Machado dos Santos 57


SPAZZIO VITA

 sivos que atuam nas células cancerígenas, provocando lesões nos folículos, e consequente queda do cabelo. No caso da radioterapia em que o tratamento é aplicado localmente, poderá ser mais agressivo e provocar lesões irreversiveis nos foliculos pilosos. A queda dá-se após as duas primeiras sessões de quimioterapia, pelo que é Porque cai o cabelo? Tanto a quimioterapia como a ra- aconselhável começar a pensar numa dioterapia são tratamentos agres- solução para o seu cabelo, antes de iniUm dos efeitos secundários dos tratamentos oncológicos é a alopecia (ou queda do cabelo). Aparentemente não é o aspeto mais importante da doença, mas a nível psicológico causa um grande impacto.

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ciar os tratamentos. Após os tratamentos, o cabelo voltará a crescer, mas dadas as alterações hormonais, poderá ter uma tonalidade ou textura diferente.

O que fazer? Durante o tratamento, pode optar pelo uso de perucas, que existem em cabelo natural e manter o mesmo look, ou usar lenços e turbantes, que estão super na moda e dão um look bastante fresco. 

Maria Leitão/ SPAZZIO VITA 59


SPA_SPAZ D´ALMA

Imagine um espaço em branco. Com as paredes, as montras e nada mais. Uma tela pronta a receber a criatividade e o sonho da fundadora de um dos poucos SPA’s de topo em Lisboa. Agora, imagine esse espaço a ser preenchido de pormenores que fazem a diferença. Pormenores sim – pequenos detalhes que faltam em muitos

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outros espaços premium e que escapam á vista mimadas :) fomos descobrir o que a equipa do de toda a gente, menos de quem mais interessa Spaz D’Alma anda a preparar para Setembro. Depois da promoção louca de Agosto, com todo o – os clientes e frequentadores do SPA. SPA em promoção e as técnicas sem mão a medir, Por fim, imagine que todos este pormenores fo- imaginávamos nós que para setembro a Equipa ram condensados num só sonho, e foram tidos Spaz D’Alma iria acalmar um pouco. Bem…não… em conta ao criar um espaço de raiz. Cada banco, mas sim. Confusas? É facil, vão ver. Passamos a explicar, da cada tonalidade, cada textura… É disto que fazemos o nosso dia-a-dia: trazer o mesma forma que a responsável pelo espaço nos que de melhor se faz nos SPA á volta do mundo, explicou a nós: com pormenores que fazem toda a diferença. E fazê-lo de forma acessível, para que todos pos- “Setembro é o mês do final das férias, do regresso ás aulas e do inicio das azáfamas dos livros sam ter acesso a este mundo só vosso! Por isso…não espere mais! Venha visitar-nos…e escolares e do regresso ao trabalho. Voltamos energizadas das férias que foram sinta-se a flutuar! fantásticas, mas a vida começa a acontecer de novo e sem darmos por isso, chegamos ao final Porque o verão ainda não Acabou! Como já é hábito para nós ( pois é, somos umas de Setembro com a sensação que todo um verão

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SPA_SPAZ D´ALMA

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inteiro nem passou por nós. Assim, a equipa reuniu-se a pensar de que forma poderiamos ajudar as nossas clientes a passar este mês. E surgiram-nos duas ideias para promoções que, como não conseguimos escolher, decidimos lançar ambas! (risos)”

o tempo dos egípcios que usavam incenso na sua máscara rejuvenescedora.” Saímos do Spaz D’Alma a flutuar, como já é hábito. Depois de um momento destes, também só poderia ser assim, não é? E vamos aproveitar a promoção da massagem parcial para um dia em que estejamos a correr aqui na redação, pois tem Pois é: para que nós tenhamos direito a acabar a uma duração de 30 minutos e torna-se ideal para silly season de forma calma, as profissionais do esses dias mais atarefados! Spaz D’Alma lançam promoções a dobrar! Por isso o dificil vai ser escolher! Queríamos ter experimentado as duas promoções mas não tivemos tempo, por isso optámos pela massagem Meditar, que teve a duração de 60 minutos e custa apenas 29,50€. É uma massagem criada especificamente para o relaxamento e descanso, que inicia na parte posterior do corpo com incidência nas zonas onde habitalmente acumulamos mais tensão. A junção Toda a info aqui: dos oleos essenciais de avelã, cipreste e insenso aliam-se ás mãos da técnica responsável por nós, www.spazdalma.com para completar todo um momento fantástico

https://www.facebook.com/spazdalmalx/

“ Usamos o oleo de avelã devido ás suas proprie- https://www.instagram.com/spazdalma/ dades hidratantes. Por muitos cuidados que tenhamos tido durante o verão, queremos manter a pele hidratada para manter o bronzeado o maior tempo possivel. E lembrámos-nos de juntar a este dois aliados de peso: o óleo de cipreste pelas suas propriedades relaxantes e o oleo essencial de incenso. O incenso é considerado desde os tempos antigos como o “ fumo sagrado”, que era disposto em honra dos deuses e é muito propício à meditação, exerce uma influência positiva sobre o equilíbrio mental. O incenso fortalece a resistência natural do organismo. Exerce um efeito suavizante nas vias respiratórias e quando usado sobre a pele, o óleo essencial de incenso é apropriado para prevenir o seu envelhecimento. A sua acção anti-envelhecimento é já conhecida desde 63


ARTIGO DE OPINIÃO FUTEBOL - A MINHA VISÃO DE ANTÓNIO OLIVEIRA ORGULHO NACIONAL

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somos mais fortes, pois a qualidade está instituída no nosso país em todos os sectores Como relatei no artigo anterior a emoção da nossa sociedade. pairou no nosso país durante 1 mês. Foi um período que permitiu-nos esquecer nem O caneco tão almejado e desejado por 32 que seja por momentos, todos os problemas e seleções que participaram no EURO 2016 todo um período conturbado que o nosso país realizado em França aterrou no nosso país. atravessa envolvendo nos de forma séria e Tudo isto apenas foi possível pela perse- patriótica num desafio em que poucos acrediverança, pela paciência, pela humildade, tavam. Aquela nação que só se lembra que o pela solidariedade, pela capacidade de é quando há futebol. Facto é que, os dias que sacrifício, pelo poder de superação, pela sucederam esta enorme conquista só se viorganização, pela estratégia, pela am- ram os pulos dos senhores contentes, os abraços bição e pelo talento de 23 atletas e de entre desconhecidos, os gritos a uma só voz, os mais um staff que os acompanhou de cachecóis e as bandeiras erguidas. grande competência que tornou possível que esta viagem durasse até ao dia 10 de A alegria por este feito foi extensiva a todo um Julho. Uma palavra especial para o nosso povo sedento de vitórias, mas sobretudo ansiselecionador que veio demonstrar feliz- oso por festejar a conquista num evento desta mente, claramente e inequivocamente importância como forma de credibilização e de de que, quando se olha para um treina- um assumir de um país, de um povo perante dor não se deve ter em conta a sua idade todo o Mundo, devido ao impacto desportivo e mas sim deve ser avaliado pela sua com- social que teve o EURO 2016. Mas permitam-me petência, pela ambição desmedida, pela realçar de uma forma ternurenta a alegria extainteligência, pelo poder de comunicação, siante de um grupo restrito de portugueses, os pela maneira e formas de ser e de estar e imigrantes, que vibraram e apoiaram de forma pela extraordinária qualidade nas relações ostensiva e constante a nossa seleção. Gente que por diversas razões fora obrigada a ausenhumanas. tar-se do nosso país na procura de melhores Este êxito apenas veio provar que tudo condições para as suas vidas e dos seus demais. é possível quando acreditamos, quando Estes festejaram de uma forma ainda mais esrealmente queremos, e que todos juntos pecial funcionando como um incentivo, como


um motor para continuarem a enfrentar todas as dificuldades e adversidades com que se deparam todos os dias, muita das vezes em condições adversas longe das suas origens. A conquista do Euro 2016, foi também um enorme passo para ressuscitar o orgulho nacional de um povo e de uma cultura que a Europa tanto tem marginalizado e, por vezes, humilhado. Podemos hoje dizer com um orgulho e uma felicidade enorme que somos campeões da Europa de Futebol, teremos sempre este campeonato para nós, para cada um de nós, para todos nós, para o resto das nossas vidas.

VIVA PORTUGAL!!!

António Oliveira Treinador de Futebol Licenciado em Educação Física e Desporto no Ramo de Treino Desportivo na especialidade de Futebol

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A corrida é um das atividades desportivas de lazer mais praticadas a nível mundial com o objetivo de melhorar a condição física e promover um estilo de vida mais saudável, sendo praticado por pessoas de todas as idades. A corrida de rua surgiu na Inglaterra no século XVIII, onde se popularizou e expandiu pelo resto da Europa e Estados Unidos. Atualmente a prática de exercícios de corrida de rua tem ocupado um espaço significativo dentro dos programas de atividade física. Usualmente associado ao bem-estar dos seus praticantes, a corrida apresenta-se com uma das modalidades com grande número de adeptos, devido: à facilidade da sua prática, a possuir benefícios para a saúde, ser altamente versátil e o seu baixo custo para o praticante, pois não é necessário material específico muito sofisticado. No entanto apesar dos possíveis benefícios ao nível da saúde que uma prática adequada promove, existem também os riscos de incidência de lesões, nomeadamente quando não existe um correto planeamento e adequação individual do volume e intensidade do treino. A falta de orientação profissional para a prática e a falta de acompanhamento de um profissional especializado, pode contribuir para o aumento do número de lesões no aparelho locomotor. O aumento das lesões desportivas devem-se a fatores intrínsecos e extrínsecos. Os fatores extrínsecos têm relação com as condições ambientais e a maneira como as atividades são planeadas: o treino, o tipo de atividade e as condições climáticas, calçados, solo, entre outras. Os fatores intrínsecos são decorrentes das características pessoais, físicas e psicológicas, que distinguem os indivíduos entre si, destacando-se a idade, o género, a experiência, a aptidão, entre outros aspetos. Os fatores de risco para o desenvolvimento de lesões variam nos estudos epidemiológicos, mas podem ser classificadas em três grandes categorias: treino, anatomia e biomecânica. Nos fatores de treino destacam-se a alta intensidade e o volume de treino acima do aconselhado. Nos fatores anatómicos destacam-se as diferenças no comprimento de membros e excessiva pronação, supinação do pé, pés varos, valgos ou planos. Os fatores biomecânicos envolvem a força muscular, movimento corporal e o controle neuromuscular e um treinador poderá através da observação destas variáveis, executar um plano de trabalho adequado, ajustado e preventivo.

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Os problemas mais frequentes no corredor são:

1. Flictenas Mais conhecidas por bolhas, constituem empolamento da epiderme com formação de uma vesícula com serosidade e, mais raramente, com sangue. Mais de 40% dos corredores de maratona sofrem deste problema. Os calcanhares, a base dos dedos dos pés e as respetivas extremidades dos dedos são as zonas mais afetadas. Estas devem-se à fricção prolongada que provoca forças de cisalhamento entre as camadas da pele, que ao se separarem ficam preenchidas por sangue ou edema, resultando numa flictena dolorosa. A prevenção destas lesões passa por sapatos de tamanho adequado, não se devendo utilizar sapatos novos numa prova ou num treino longo, mas sim utiliza-los progressivamente ao longo do tempo.

2. Síndrome da banda Iliotibial 68

ou Runner´s Knee

O Síndrome da Banda Iliotibial é tão frequente em corredores que a condição é conhecida por “Runner´s Knee” e atinge até cerca de 10% dos corredores. Por regra a dor localiza-se na face externa do joelho, podendo irradiar pela coxa ou pela face anterior da perna exacerbando-se com a corrida. A dor é de origem mecânica estando presente durante a atividade e desaparecendo com o repouso, podendo ser no entanto extremamente desconfortável quando subindo e descendo degraus. Esta condição resulta do sobreuso, agravada pelo treino excessivo. É importante para prevenir esta situação, aumentar gradualmente a carga de treino, uma vez que o aumento súbito pode sobrecarregar os tecidos. A tensão da banda iliotibial está normalmente presente pelo que o alongamento do Médio Glúteo e do Tensor da Fáscia Lata constituem uma medida preventiva útil. Da mesma forma a pronação do pé (abatimento não controlado do arco longitudinal) pode provocar um aumento da tensão na banda Iliotibial durante a corrida. A utilização


de uma palmilha que suporte o arco longitudinal pode ajudar a controlar a pronação excessiva.

3. Periostites ou “canelites” Referem-se à presença de dor na região anterior ou posterior da “canela” e são mais frequentemente conhecidas entre os desportistas por canelites, termo que engloba várias condições clínicas e o qual os profissionais de saúde evitam utilizar. As dores são originadas por uma inflamação do principal osso da perna, a tíbia, ou dos tendões e músculos que nela se inserem. É uma lesão comum em atletas que praticam futebol, ténis, ciclismo, ginástica desportiva e atletismo, principalmente em atletas de fundo e meio fundo. Em casos mais graves esta lesão pode ter como causa uma fratura de stress na tíbia. Um corredor entusiasta que tenha por hábito correr frequentemente tem mais hipóteses de ser obrigado a interromper a sua rotina devido a uma destas lesões, características desta modalidade desportiva. A prevenção passa por não aumentar exageradamente o volume de treino, intercalar a corrida com atividades sem impacto (ex: natação ou ciclismo) alongar convenientemente a sua musculatura do membro inferior e a escolha de ténis com boa absorção de impacto e controlo de pronação, ou preferencialmente umas palmilhas individualizadas para correção do seu apoio plantar.

4. Fasceíte Plantar A fasceíte plantar consiste numa inflamação, com dor, da fáscia plantar, uma banda espessa de tecido que corre ao longo da planta

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do pé e liga o calcanhar aos dedos. Esta banda está recoberta por uma camada de gordura que ajuda a absorver os impactos do pé contra o solo. Em condições normais, a fáscia plantar funciona como um elemento de absorção de choques, suportando o arco formado pelo pé. Quando ela é muito curta, o arco do pé é mais acentuado; quando é longa, o arco é mais achatado, correspondendo ao vulgarmente designado “pé chato”. Se a tensão for demasiado grande, podem ocorrer pequenas roturas na fáscia. A repetição desse processo provoca irritação e inflamação deste tecido. A fasceíte é a causa mais comum de dor no calcanhar. Trata-se de uma dor aguda manifestada logo nos primeiros passos de manhã após o acordar e que se acentua após longos períodos de pé ou na passagem da posição de sentado para a de pé. A dor é normalmente referida na parte interna do calcanhar e ao longo do arco interno na planta do pé. O excesso de peso e o uso de calçado

inadequado são fatores de risco sendo mais comum entre os 40 e os 60 anos de idade e no género feminino. Ao longo da vida, a fáscia perde a sua elasticidade e a camada de gordura torna-se mais fina, reduzindo o seu efeito protetor. As atividades que implicam tensão sobre o calcanhar, como a corrida de fundo contribuem para um início mais precoce da fasceíte plantar. A presença de “pé chato” ou de um arco plantar muito acentuado, um pé que biomecanicamente apresente maior pronação ou um padrão anómalo de marcha são outros fatores que afetam a distribuição de peso e aumentam o stress sobre a fáscia plantar e tendão de Aquiles. O uso de calçado adequado e palmilhas que suportem o arco interno e limitem o excesso de pronação vão diminuir a tensão sobre a fáscia plantar e tendão de Aquiles. Estudos recentes sugerem que um tendão de Aquiles tenso e pouco flexível tende a promover um aumento do stress na fáscia plantar.

5. Tendinopatia do Tendão de Aquiles


Esta condição caracteriza-se normalmente por alterações degenerativas do tendão, o que significa que este não possui a força tênsil, histologia e matriz de suporte características de um tendão saudável, estando mais suscetível a desenvolver pequenas lesões estruturais com a manutenção da atividade desportiva. Esta condição clinica tende a ser de instalação progressiva, sendo mais comum a partir dos 40 anos de idade. Tem como sintomas a dor que agrava com a atividade e áreas focais de alterações degenerativas que são sensíveis ao toque. O tendão tende, frequentemente, a apresentar-se rígido nos primeiros passos ao acordar e a desenvolver progressivamente um aspeto espessado em comparação com o contra lateral (não afetado). A prevenção passa por evitar erros de planeamento das cargas de treino, nomeadamente a intensidade, duração e frequência das sessões devem ser monitorizadas e aumentadas gradualmente evitando aumentos bruscos destas variáveis. A avaliação biomecânica, nomeadamente da postura estática e dinâmica por um profissional de saúde habilitado pode ajudar a estabelecer estratégias de tratamento. O excesso de pronação, caso exista, deve ser corrigido com recurso a palmilhas, ajudando a corrigir o problema.

Telmo Firmino (Fisioterepeuta) Professor Assistente na Escola Superior de Saúde do Alcoitão; Fisioterapeuta Coordenador do Futebol Profissional do Sport Lisboa e Benfica Doutorando na Faculdade de Motricidade Humana na Especialidade de Comportamento Motor

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Lisboa, 26 de julho de 2016 – Com uma alimentação equilibrada e um estilo de vida activo, qualquer quilo a mais começa a ir ao ar! Marta Baleizão, Personal Trainer do Fitness Hut Olivais e Mariana Ramos, Nutricionista BodyConcept são da opinião que para uma perda de peso sustentada é importante aliar o valor calórico e a qualidade dos alimentos, com atividade física diária. Para aumento da massa muscular é essencial uma ingestão adequada de proteína, necessária no processo de manutenção e recuperação muscular. No pré-treino é importante combinar*: • Hidratos de carbono de baixo impacto glicémico • Proteína • Teor moderado de lípidos • Baixo teor de fibra (*Nota: quantidades variáveis de acordo com os valores de composição corporal de cada indivíduo) Sugestões Pré-treino: • 150g batata-doce esmagada + 1 c. sopa manteiga amendoim + 1 c. chá canela pó • Banana esmagada + aveia + mel (http://receitasdagi.blogs.sapo.pt/) • Trufas Energéticas tipo paleo: 1 taça frutos secos + 1 taça passas + 1 taça alperces secos + 2 a 3 colher de sopa sumo limão + 2 a 3 c. sopa chia (http://paleomoderna.com/) • Barritas de sésamo e cacau: 1 chávena sementes sésamo + 1 chávena de arroz puf + 1 colher sopa rasa de cacau em pó + 50g chocolate preto + 3 colheres de sopa de sultanas + 1 colher sopa coco ralado + 4 colheres sopa de geleia arroz + raspa de 1 limão 1. Lave as sementes e toste durante alguns minutos em lume brando, mexendo sempre. Reserve. 2. Toste ligeiramente o arroz puf. Reserve. 3. Numa frigideira, leve a geleia ao lume. Quando começar a ferver, adi cione todos os ingredientes, deixando o chocolate para último. Envolva tudo muito bem e desligue o lume quando a geleia de arroz tiver sido absorvida. 4. Deite a mistura sobre papel vegetal, cubra com outra folha e espalhe bem com a ajuda do rolo da massa, até obter a espessura desejada.

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5. Deixe arrefecer e corte em barritas. Nota: para diminuir o doce, pode reduzir a quantidade de chocolate - pode apenas introduzir umas raspas ou pepitas. Livro “Cozinha da Marta” de Marta Horta Varatojo No pós-treino é importante*: • Priorizar proteína de alto valor biológico • Teor moderado de hidratos de carbono Baixo teor de lípidos Líquidos e eletrólitos (*Nota: quantidades variáveis de acordo com os valores de composição corporal de cada indivíduo) Sugestões Pós-treino:

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• Mousse: 1 banana + 1/2 abacate + 1 scoop proteína chocolate + 1 c. sopa cacau magro + 1 c. sopa manteiga amendoim (http://mastermusculos.blogspot.pt/)


• 7 barras proteína (http://www.musculacao.net/) • Barras proteicas (http://www.ladolcerita.net/) • Barras proteicas Nuno Feliciano (https://www.youtube.com/ watch?v=vFBjujpyteI) • Barra proteica chocolate e banana (http://dicasdemusculacao.org/)

Dicas de snack’s para a meio da manhã ou tarde, pequeno almoço, antes de deitar: • Granola (nunca antes de deitar) • Panquecas para comer como snack (também serve para pequeno al moço): 230g de brócolos cozidos no vapor bem picados e passados, tipo puré + 150g de queijo cottage + 3 ovos + óleo de coco 1. Numa tigela misture os brócolos, queijo e ovos. 2. Leve ao lume médio numa frigideira e adicione 1 colher de sopa de óleo de coco. 3. Deite a massa da panqueca na frigideira – deixe-a dourar cerca de 2 min de ambos os lados. 4. Faça 3 doses. • Gelatina de caseína para comer antes de deitar quando dá a fome, • Hambúrguer de grão e batata doce (nunca antes de deitar)

Fonte: Marta Baleizão Personal Trainer @ Fitness Hut Olivais e Mariana Ramos, Nutricionista BodyConcept

Mais informações em:

http://www.fitnesshut.pt

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