Se não é a canção nacional, para lá caminha: a presentificação da nação na construção do samba e do

Page 164

portuguesa”. Esse formato encontrava “o seu propagandista no Barão do Rio Branco, o seu modelo no estilo de Rui Barbosa e a sua instituição simbólica na Academia Brasileira de Letras, ainda preponderante no decênio de 1920 apesar dos ataques dos modernistas (estes pareciam, então, uma excentricidade transitória)”.526 Nos anos 1930, observa-se uma aceitação das propostas formais e temáticas da primeira fase modernista através de um “alargamento das ‘literaturas regionais’ à escala nacional”, enquanto assistia-se ao “enfraquecimento progressivo da literatura acadêmica”. Para Candido, “foi como se a literatura tivesse desenvolvido para o leitor uma visão renovada, não convencional, do seu país, visto como um conjunto diversificado mas solidário”.527 Oswald destaca como “romancistas do Brasil novo” nomes como Jorge Amado, Graciliano Ramos, Erico Verissimo e José Lins do Rego, colocando-os ao lado de referências do pensamento sociológico como Caio Prado Júnior, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, e de pintores como Portinari.528

4.1.2. Não se deverá desprezar a documentação urbana: o projeto “nacional-eruditopopular” de música brasileira segundo Mario de Andrade

No Compendio de Historia da Musica, Mario de Andrade destacou como, depois da I Guerra Mundial, as artes assumiram uma “correspondência com a Atualidade”. Inseridos num movimento mais geral de se tornarem menos idealistas, afastando-se de tudo o que “cheirava a século-dezenove”, os artistas tomaram “consciencia mais profunda dos ambientes” e passaram a “circunscreverem no possivel” suas manifestações.529 Segundo ele, em meio a uma “exacerbação nacionalista” compreendeu-se “o que havia de russo em Stravinski, de ianque no jazz-band, de italiano no futurismo de Rússolo, de alemão no expressionismo de Schoenberg”. Naquele contexto, no qual ainda figuravam nomes como

CANDIDO, Antonio. “A Revolução de 30 e a cultura”, In: ______. A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 1989, p. 186. 527 CANDIDO, Antonio. “A Revolução de 30 e a cultura”, In: ______. A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 1989, p. 185-187. 528 Cf.: ANDRADE, Oswald de. “O divisor das águas modernistas”, In: ______. Estética e política. São Paulo: Globo, 1992. 529 ANDRADE, Mario de. Compendio de Historia da Musica. São Paulo: Eugenio Cupolo, 1929, p. 179. 526

164


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.