Se não é a canção nacional, para lá caminha: a presentificação da nação na construção do samba e do

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sambas evidenciam aquela passagem do samba de uma fase “folclórica” a outra “popular”, na qual o compositor surge elaborando canções autorais em busca de fama, reconhecimento e, se possível, algum rendimento que a música pudesse oferecer no ainda incipiente mercado fonográfico através da recolha de direitos autorais. Embora a noção de autoria fosse ainda pouco clara nesse momento de transição, a edição da Nova História da Música Popular Brasileira dedicada a Sinhô estampa um recibo, assinado por ele, no qual se lê: “recebi dos Snrs. Viuva Guerreiro & Cia. a importancia supra de dois contos, cento e oitenta e três mil, duzentos e cincoenta reis, referente ás músicas de minha autoria e em consignação na casa dos ditos senhores, vendidas até 31 de Maio de 1922”, data em que firmou o documento.149 Sinhô voltaria a se envolver em uma polêmica musical, desta vez com Cícero de Almeida, o “bahiano”, entre dezembro de 1926 e janeiro de 1927. Com composições publicadas no jornal Correio da Manhã, a disputa reforça os elementos já analisados até aqui e acrescenta outros, sobretudo no que diz respeito à reivindicação da “maternidade” do samba e do estabelecimento das características que buscavam estabelecer critérios de autenticidade ao gênero.

1.1.2. Cum o fio da Bahia: a polêmica com Cícero de Almeida, o “Baiano”150

Em 5 de dezembro de 1926, o jornal Correio da Manhã estampou o samba La Vae Madeira, letra e música de Sinhô, acompanhada de uma partitura, na qual se lê, no canto

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Nova História da Música Popular Brasileira. São Paulo: Abril Cultural, 1977, p. 10 (1 disco sonoro). A questão da noção de autoria e de direitos autorais será explorada em seguida, quando for analisada a polêmica de Sinhô com Heitor dos Prazeres e também no capítulo 3. 150 As canções que compõem a polêmica de Sinhô com Cicero de Almeida foram definidas através de levantamento das edições do Correio da Manhã publicadas entre novembro de 1926 e fevereiro de 1927, disponíveis na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional (https://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/). As datas de gravação, quando foi o caso, foram consultadas no acervo sonoro digital do Instituto Moreira Salles (http://www.acervo.ims.com.br/) e da Biblioteca Nacional (http://acervo.bn.br/sophia_web/) e na obra: SANTOS, Alcino [et. al.]. Discografia brasileira 78 rpm (1902-1964). Rio de Janeiro: Funarte, 1982, 5 v. 60


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