GOVERNO POLITIZA ESPORTE

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Esportes 14

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/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 18 DE ABRIL DE 2010

GOVERNO

/ ESTADO / A ESCOLHA DO NOVO SECRETÁRIO DA PASTA, EM SUBSTITUIÇÃO A MAGNÓLIA FIGUEIREDO, VEIO NO BOJO DAS MUDANÇAS FEITAS PELO GOVERNADOR IBERÊ FERREIRA DE SOUZA E NÃO REPERCUTIU MUITO BEM NO MEIO ESPORTIVO AMADOR DO ESTADO

POLITIZA O ESPORTE ARGEMIRO LIMA / NJ

BRUNO ARAÚJO MARCELO LIMA DO NOVO JORNAL

futebol, a mudança de técnico geralmente reflete em dispensas e contratações para a respectiva equipe, da mesma forma, com a chegada de Iberê Ferreira de Souza ao Governo do Estado, seu time de secretários passou por uma reformulação e a pasta de Esportes não ficou de fora deste processo; saiu a atleta Magnólia Figueiredo para a entrada do advogado e vereador Júlio Protásio. Confiante o novo secretário estadual de Esportes prometeu, com o menor orçamento do Estado, de R$ 3,2 milhões – reduzido em relação a 2009 em pouco mais de R$ 1,2 milhões e onde somente R$ 306 mil são para investimentos, já que o resto do dinheiro será para o pagamento de pessoal, – implantar uma série de programas em pouco mais de oito meses e dar visibilidade ao esporte. “Nosso objetivo é fomentar o esporte, estruturar as federações, o esporte escolar e universitário para que a cidade da Copa possa viver o esporte de ASSIM COMO NO

VENHO COM A VONTADE DE ACERTAR E ESPERO PODER CONTRIBUIR COM O CRESCIMENTO DO ESPORTE NO ESTADO” Júlio Protásio Secretário de Esportes do RN

maneira geral”, afirmou. Como experiência para a pasta Protásio conta com a vivência no esporte que teve na Câmara. Ele foi jogador de basquete na juventude e coordenava eventos esportivos na universidade onde se formou em direito. O novo secretário acre-

dita que a especialização em gestão pública também pode ajudar. De acordo com o secretário, a pasta passa por dificuldades por ser recente – foi criada em 2007. “Temos aqui seis cargos comissionados e servidores de outras secretarias que esTIAGO LIMA / NJ

ELEGANTE, MAGNÓLIA ACHA QUE INDICAÇÃO DARÁ FORÇA PARA A SECRETARIA Depois de um ano e meio à frente da SEEL, a atleta Magnólia Figueiredo voltará a sua rotina de treinamentos e competições aos 46 anos de idade. Ela também vai se dedicar aos projetos sociais que gerencia. Para a atleta, não há problemas na substituição que seguiu critério políticos. “O que nós precisamos nesse momento é que o segmento se organize e se consolide. Acho que esse tipo de indicação até ajuda, porque uma indicação política tem até mais peso, frente à questão da celeridade, por exemplo”, avaliou. A exoneração de Magnólia Figueiredo foi anunciada por Iberê Ferreira de Souza durante uma entrevista na televisão. Quanto a isso, ela disse que não houve constrangimentos, apesar de ter sido avisada por meio da imprensa. “O governador sabia que não teria problema nenhum, até pela nossa amizade. Ele só não esperava que a população reagisse mal a essa decisão”, comentou. Ela conversou com Júlio Protásio e percebeu que os projetos serão mantidos. Segundo Magnólia Figueiredo, as principais conquistas da sua gestão dizem respeito às políticas sociais de esporte e lazer. Os núcleos de esporte e lazer nas periferias e algumas cidades do interior, ações no para-desporto; projetos em organizações quilombolas, formação de agentes sociais e árbitros, além de projetos que beneficiam idosos. “Acho que conseguimos contribuir para o desenvolvimento humano do povo do Estado”, concluiu. Apesar disso, ela discorda que a pasta tenha se limitado à filantropia. Segundo Magnólia, no

▶ Júlio Protásio: experiência na Câmara e como atleta amador pode ajudar na tarefa de administrar o esporte no RN

ACHO QUE CONSEGUIMOS CONTRIBUIR PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO DO POVO DO ESTADO” Magnólia Figueiredo Ex-secretária de Esportes do RN

seu período esse trabalho da secretaria nas bases foi “motivacional”. No que diz respeito ao esporte de alto rendimento, um lamento. “Nesse momento, eu peço desculpas às federações por não avançar mais nos apoios. Nós só tivemos duas licitações para o esporte alto rendimento e os recursos foram pequenos”, disse. Com os recursos bastante reduzidos, a ex-secretária muitas vezes teve que escolher entre o patrocínio de eventos e do desenvolvimento da modalidade, como a compra de material esportivo e o pagamento de técnicos. “O evento ele se encerra em si. Nós preferíamos que as federações optassem pelo desenvolvimento do esporte”, declarou. Mesmo assim, a ex-administradora da pasta tem a convicção que maximizou o mínimo de recursos. Ainda segundo Magnólia Figueiredo, há uma confusão das atribuições das entidades e do poder público. “A nossa função é de apoio técnico”, enfatizou. Para ela, as agências de eventos e as entidades ligadas ao setor devem assumir esse papel. “Não se pode transferir a responsabilidade de grandes

eventos das confederações para as secretarias”, argumentou. Ela reconhece a importância do apoio governamental, mas acredita que, antes de atrair eventos esportivos nacionais e até internacionais, as federações devem captar recursos não só do governo para garantir a realização do evento. A ex-secretária também reconhece que não haver descentralizado os recursos para as federações. “Precisamos que elas tenham estruturas a altura da sua contribuição para o Estado, que é gratuita”, ressaltou. As federações já contam com a lei Piva, que determina uma renda para federações esportivas, com fonte definida em 2% da loteria federal. Ela também destacou a importância de “mecanismos de retenção do atleta”. O projeto Bolsa Atleta seria um desses mecanismos, visto que paga uma bolsa para que o esportista sem patrocínio dê prosseguimento à careira. Segundo Magnólia, o projeto estadual está com o Gabinete Civil e, para ser implantado, ainda precisa ser aprovado pela Assembleia Legislativa para que se efetive.

tão prestando serviço, mas venho com a vontade de acertar e espero poder contribuir com o crescimento do esporte no estado”, disse Protásio que confirmou a inexistência de servidores lotados oficialmente nos quadros da Seel (Secretaria Estadual de Esporte e Lazer).

UM ESTRANHO NO NINHO A ação de substituir a atleta Magnólia Figueiredo, em uma indicação meramente política, não agradou alguns presidentes de federações esportivas do Estado. Eles afirmam que o vereador Júlio Protásio (PSB) é um desconhecido nessa área. Para o presidente da Federação Norte-rio-grandense de Basquete (FNB), Raul Rodrigues Ferrer, o uso político-partidário da Secretária de Estado de Esporte e Lazer (SEEL) é prejudicial. “Acho que foi uma decisão precipitada tirar Magnólia. Tirar uma atleta conhecida mundialmente para colocar um político? Pelo menos eu não fiquei satisfeito”, avaliou. Júlio Protásio é desconhecido no meio esportivo do basquete. “Nunca vi pessoalmente, só o conheço pela televisão”, afirmou. Apesar desse posicionamento, ele espera que a gestão surpreenda nesses oito meses. Segundo Raul Ferrer, o orçamento reduzido da SEEL foi um dos complicadores para que a ex-secretária realizasse poucos avanços, situação que Júlio Protásio terá que enfrentar. “Pelo menos ela ainda tinha interesse pela questão do esporte”, amenizou. O presidente da FNB contou que o Estado deixou de ser sede do campeonato juvenil feminino ano passado, em função da falta de patrocínio. O investimento seria de R$ 40 mil. Entretanto a secretaria estadual iria entrar com um patrocínio de apenas R$ 10 mil; não o fez e inviabilizou o evento. A FNB planeja receber um campeonato mundial de basquete da categoria master – para atletas com mais de 35 anos – e já prevê que “se a prefeitura e o governo não ajudarem não vai ter”, concluiu o responsável. O presidente da Federação Norte-riograndense de Futsal (FNFS), Clóvis Gomes, é taxativo:

PEQUENA SECRETARIA, GRANDES PROBLEMAS Dentre as principais dificuldades que Protásio deverá enfrentar no comando da Seel, além do baixo orçamento e a falta de pessoal, está a ausência de uma comissão de licitação, ferramenta importante para que a HUMBERTO SALES / NJ

secretaria possa realizar os procedimentos de licitação para selecionar as empresas fornecedoras ou prestadoras de serviço, como por exemplo, para executar as reformas previstas pelo secretário em quadras da capital, obras que deverão exigir mais R$ 15 mil e que poderão necessitar de licitação. Vereador em segundo Protásio encara o convite do governador como um desafio e pretendo se dedicar, mas minimiza o desenvolvimento de ações de médio-longo prazo devido ao pouco tempo que terá pela frente. “Não posso fazer nada além do normal, pois não temos tempo para isso, mas quero dar visibilidade ao esporte e levá-lo para perto da população”, finalizou. Júlio Protásio é um dos acusados da Operação Impacto, investigação que teve como alvo principal 14 vereadores de Natal. Eles teriam recebido propina para beneficiar o setor da construçãocivil em 2007. Com a nomeação ao cargo de secretário, ele e os demais acusados, passaram a terão foro privilegiado no processo. HUMBERTO SALES / NJ

▶ Clóvis Gomes, presidente da FNFS

▶ José Vanildo, presidente da FNF

“ele [Júlio Protásio] não entende nada de esporte”. O comandante da FNFS não é um dos mais otimistas quando o assunto é política pública para o esporte. “Eles colocam um, colocam outro, mas nenhum quer fazer nada pelo esporte. Vejo isso há 25 anos. Para mim é uma secretaria de fachada”, acrescentou. Com essa descontinuidade administrativa, ele tem receio que as parcerias com o governo sejam abaladas. Clóvis Gomes também relatou que a principal dificuldade é para conseguir dinheiro para bancar as viagens das equipes em campeonatos regionais. “É uma dificuldade tremenda”. De acordo com o presidente da FNFS, em nível profissional, o Rio Grande do Norte conta atualmente com o sexto colocado da Taça Brasil de Clubes, o ABc/UnP/Art&C. No entanto, essa representatividade nacional não reflete o desenvolvimento do cenário do futsal local. Clóvis Gomes afirma que em todas as esferas do Poder Executivo no Brasil, as políticas públicas voltadas para o esporte estão em segundo plano. “O Ministério do Esporte também é o que tem menor orçamento de todos os ministérios”, expôs. O presidente da Federação Norte-rio-grandense de Futebol (FNF), José Vanildo da Silva, teve um tratamento diferente dos colegas da federações amadoras. Conforme José Vanildo, o novo secretário entrou em contato com ele para marcar uma audi-

ência na próxima segunda-feira. O Presidente da FNF não analisa a saída de Magnólia Figueiredo como um problema, pelo menos para o futebol potiguar. Para José Vanildo, a participação da SEEL para as ações de planejamento da Copa de 2014 pode até aumentar. “Era tão pouca a ação da secretaria, que eu acho que essa mudança pode até alavancar uma ação mais efetiva. Falo isso sem desmerecer o trabalho da secretária anterior”, completou. Ele acredita que os oito meses da administração de Júlio Protásio terão bons resultados, se houver trabalho e planejamento ao lado das federações esportivas. O presidente da Federação Norte-riograndense de vôlei, Igor Ribeiro, também vê com bons olhos a chegada de Júlio Protásio para a pasta do Esporte. “Tenho certeza que o esporte vai crescer bastante com a presença dele [Protásio] na pasta. Conversamos e ele tem boas idéias para transformar o esporte em nosso estado”, afirmou.

306 mil É quanto a Secretaria de Esporte tem para investimentos em 2010.


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