Coletânea - Parte 1

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Encontros de Leitura e Escrita Criativa

Programa USP 60+

Coordenação Professora Fabiana Natália Ilário

Coletânea de trabalhos da Vigésima Turma

PARTE 1

Segundo Semestre 2022 h

ESTA PUBLICAÇÃO NÃO TEM FINALIDADE COMERCIAL E NENHUMA VANTAGEM ECONÔMICA ESTÁ ASSOCIADA A SUA

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TODOS OS AUTORES CITADOS ESTÃO CIENTES E DE ACORDO COM ESSA PUBLICAÇÃO.

TODOS OS DIREITOS DE AUTORIA DEVEM SER RESPEITADOS.

MAIO - 2023

Criação livre inspirada em títulos da obra de Manoel de Barros:

O Guardador das Águas

Fazedor de Amanhecer

Gramática Expositiva do Chão

Compêndio para Uso dos Pássaros.

COMPÊNDIO PARA USO DOS PÁSSAROS – Versão dirigida aos pássaros - Márcia Moretti

O compêndio “A vida dos homens”, lá estava para que os pássaros adquirissem conhecimento sobre os seus predadores. Sozinho ao relento, com o tempo o compêndio virou fragmento. Por sabedoria ou sem tempo para inutilidades serviu a pousos e decolagens, às vezes para imundices, outras para descanso ou conversas em encontros fortuitos ou pausas nas rotas migratórias. A indiferença a este pequeno manual fez o azul infinito virar gaiola, balas perdidas, ou perseguição durante a caçada.

Lá não estava escrito que a alma era imortal e poderiam ser livres em outros portais, mas nós seres racionais a cada dia mais sozinhos nos encontrávamos e sem manuais para sobrevivência do espírito

COMPÊNDIO PARA USO DOS PÁSSAROS – Versão dirigida aos homens - Márcia Moretti

Utilidades :

⁃ Deitar na grama e imaginar que o céu esta em baixo e nós acima observando do alto o azul do precipício com pássaros voando … ou as avessas nós em baixo e eles acima , aeroplanos da natureza;

⁃ Ler o tempo pelo seu canto , sem interferências civilizatórias;⁃

Entrar sem licença pelas janelas abertas e sair quando a luz do dia se acende; Acalmar pensamentos quando não param de pensar , ao ⁃ olhar o voo de asas a planar;

⁃ Divertir os acompanhantes do chá da tarde na varanda, quando eles deixam caquices de passagem na cabeça de algum convidado… Eu juro que já presenciei;

⁃ Rezar e meditar apreciando o céu de brigadeiro e a liberdade a ultrapassar todas as possibilidades.

h Inspiração

O FAZEDOR DE AMANHECER – Eurídice Carvalho

O sabiá o galo o sol que espreguiça. Inda tão cedo…

Quem me atiça?

COMPÊNDIO PARA USO DOS PÁSSAROS – Laerte Temple

As crianças sempre brincam no terreno baldio após o almoço, menos Aninha, filha de um catador de recicláveis e uma diarista, ignorada pelo grupo. A criativa menina se diverte com livros e brinquedos velhos que o pai encontra nas catanças. Certa tarde, quando pulavam Amarelinha, as crianças notaram a sombra de um crucifixo se movendo pelo chão. Olharam para o alto e viram Aninha voando sobre suas cabeças. Após o susto, correram até a casinha onde ela mora e encontraram o livro: “Compêndio para uso dos pássaros”. Aninha “aterrizou” radiante ao ver as 8 crianças em sua casa. Tânia, 11 anos, a crítica líder do grupo, quebrou o silêncio:

- Você é maluca? O que pensa que está fazendo?

- Eu estava voando, oras.

- Esse livro é para pássaros. É impossível um humano voar como as aves.

- Li muitas vezes e juro que não está escrito que é impossível. Então voei.

O FAZEDOR DE AMANHECER – Laerte Temple

- Bom dia! Linha manhã de sol! Aves voam e folhas se agitam ao vento.

Arildo ouve vozes, sente dores, não enxerga e não consegue falar. Tempos depois soube que está internado. Dirigia após a festa, o carro capotou e atropelou pessoas. Teve várias fraturas, cirurgia nos olhos e talvez volte a enxergar.

- Bom dia! Mais um amanhecer! Pássaros cantam e logo o tempo se abrirá.

Sem poder ver o amanhecer, adora ouvir a bela descrição. O tempo passou, a fala e a memória voltaram, mas ele sentia falta de algo.

Então perguntou à enfermeira:

- Por que não ouço mais o bom dia e a linda descrição do amanhecer?

- Era a jovem Dalva, mas na unidade semi-intensiva não tem janelas!

- Quem é Dalva? Onde ela está?

- Foi uma de suas vítimas. Ficou tetraplégica, cega e morreu há 3 dias.

GRAMÁTICA EXPOSITIVA DO CHÃO – Laerte Temple

Chico, Tião, Mané e Rochinha não podiam treinar para o jogo decisivo por causa da constante chuva que enlameou o gramado. Rochão, irmão mais velho, disse que resolveria o problema. No dia seguinte, telefonou ao Rochinha e pediu para levar o time até o largo da Figueira. Uma grande faixa amarrada nos postes indicaria o caminho. Os garotos encontraram a faixa, mas não entenderam nada: Gramática Expositiva do Chão. Rochinha telefonou para o irmão, que disse

- O vento deve ter enrolado a faixa. É só esticar. Estou esperando vocês.

Eles esticaram a faixa e leram: “Grama Sintética Exportiva do Rochão”. Seguiram a seta e chegaram a um campo de grama artificial.

- Obrigado mano. Só uma dica: Esportiva é com S e não com X.

- Nunca fui bom em gramática. Meu negócio é solução de problemas.

MANOEL DE BARROS - ReginaMariass

Não importa: seja vendo um episódio da nova série “A Casa do Dragão”, ou mirando para as nuvens que rodopiam figuras no azul de diversas matizes me esbarro questionando o que é voar no dorso de um dragão, se posso flutuar nas asas de uma borboleta. É que o efeito borboleta, ao bater de asas, me possibilita alcançar voos infinitos.

BENDITO SHOW DO BITUCA - ReginaMariass

O show me fez vadiar nas folhas verdes que divagavam na obra de “Os Gêmeos. As músicas que a gente amou estavam lá, brincando sobre o palco iluminado de cores tão impetuosas, quanto o manto que o cobria, quase sagrado, inspirado em Bispo do Rosário. Os tons e sons saltitavam nos baixos, bateria, guitarra, teclado, nas mãos e na voz límpida do Milton Nascimento, ora inventando um cais, um trem, uma esquina, uma travessia, ora uma caçada, uma bola, um sonho, guardando águas, assim assim, um pouco à moda de Manoel de Barros.

GUARDIÃO – Eduardo Henrique

Tão menino era quando cismou de esconder as coisas no porão de casa. Primeiro vieram os assobios furtados dos garotos na vizinhança. Depois foi a vez dos choros estridentes da petizada apanhados na noite mais longa de um ano bissexto. Levou também para o porão os beijos estalados das tias e madrinhas da rua de cima.

Insatisfeito, passou a surrupiar as sombras furtivas dos adultos desassossegados nas esquinas. Na madrugada de um outono qualquer decidiu guardar no porão as águas vertidas dos olhos, no entanto, se esqueceu de cavar um buraco para escoadouro e ao se ver encharcado de tantas alheias lágrimas, não pode se conter nem refrear que ora em diante fluíssem vorazes todos os rios sobre a Terra.

MANHÃ OCULTA – Eduardo Henrique

Persisto nos encalços, vago sobre pés descalços fazendo de conta que amanheço ou entristeço no avesso do fígado indigesto que aqui das entranhas enxerga a manhã travessa penetrada entre os vãos, insistente em abrir janelas que eu mais-quero cerradas.

PRIMAVERA – Sandra Rodrigues

Há um perfume de sândalo no ar as árvores se derretem generosas frente a beleza das rosas que se espalham pelos caminhos

O céu mostra seu azul mais límpido, as nuvens se recolhem deixando o clima mais ameno

Há uma luz radiante pairando entre as sombras

O sol se despede tardio no horizonte

As pessoas vestem coloridos no rosto um sorriso de esperança quase maroto no olhar uma demonstração de benevolência

Amorosas celebram o divino nas mudanças do tempo É primavera.

DO FAZEDOR DO AMANHECER - Márcia Barrozo

Era o amanhecer…

Esgarçando - inevitável - o horizonte.

Fazendo renascer luz... Sombra.

Lambendo o vidro, o concreto.

Atravessando os ramos.

Resplandecendo o barraco. O esgoto.

Era o amanhecer.

Nas dobras da cortina

No avesso do sono.

Nos ocos da fome.

Ossos. Óvulos. Ninhos.

Por sobre os montes de lixo.

E era Amanhecer

Cada segundo de resistência

Cada novo mínimo início.

E ainda que não visto

Porque gestado na carne do mistério

Na sequente grandeza do Mundo

Entremeado de sonho, antinomia

Do fortuito dia, anunciador…

Era o amanhecer que não finda:

O amanhecer do seu próprio Fazedor.

MENINA...AO MODO DE MANOEL! - Márcia Barrozo

Pra ter ares de menina perfumada

Guardou no vento, água de cheiro

Guardou água do lago na tigela

Querendo ter ninho pra libélula

E guardou azul de céu no travesseiro

Prum anjo bom ouvir o seu queixume...

Guardou, por fim,

Luz do sol numa garrafa

À noitinha, bebeu tudo...

E foi brincar de vaga-lume.

O FAZEDOR DO AMANHECER – Jacyra Carneiro Montanari

O fazedor do amanhecer

Era assim que o chamavam

Do nada fazia nascer

Vida, onde seus pés andavam.

Este era o seu destino

Fazer o amanhecer

Mostrando no seu ensino

Que se pode renascer.

Todos temos a chave

De cada amanhecer

Basta tirar o entrave

Para a vida acontecer.

O MENINO E SER POETA – Yara Pinaffo

Ser poeta é carregar água na peneira para sempre. Há um vazio a ser preenchido, vazio na alma, vazio na vida, vazio que chega a doer. Sim, vazio que dói. A alma necessita buscar algo que lhe preencha o vazio, que seja como perfume que entra pelas narinas, como um beija-flor que chega e vai embora.

As palavras estão perdidas na mente esperando o tempo de se juntarem e virar poema, virar prosa, virar conto.

Manoel de Barros, neste poema, é um belo exemplo da arte de expressar emoções e pensamentos através da poesia. A comparação do ato de ser poeta com carregar água na peneira ilustra perfeitamente a sensação de tentar capturar algo fugaz e intangível, como as ideias e os sentimentos que inspiram a criação artística. O vazio que é mencionado pode ser interpretado como uma busca por significado e propósito na vida, algo que muitas vezes é difícil de encontrar. A arte nasce no vazio, lá mora a criatividade. Seja a arte de pintar, de interpretar, de escrever. A poesia pode ser uma forma de preencher esse vazio, de dar voz aos nossos anseios e inquietações mais profundas.

As palavras, por sua vez, são as ferramentas que o poeta utiliza para expressar essa busca, transformando pensamentos e emoções em poesia, prosa ou conto. A poesia é uma forma de arte que nos ajuda a dar sentido ao mundo, a nós mesmos e às nossas experiências.

hInspiração

Criar um causo, poesia, diálogo a partir de quadrinho em que se lê:

- Fico me perguntando como seria minha vida se eu tivesse feito outras escolhas.

- Você estaria se perguntando como seria sua vida se tivesse feito outras escolhas.

O DILEMA DE JOÃO DONATO – Jacyra Carneiro Montanari

João Donato estava quase na casa dos seus 40 anos. Não chamava muita atenção das mulheres pela sua compleição física. Tinha 1,70m de altura e era mais para franzino do que atleta.

João Donato morava só em seu apartamento e gostava muito de viajar. Ele trazia com ele um defeito: levava muito tempo para tomar decisões. Um domingo, passeando na praça do bairro em que morava, conheceu as irmãs Dora e Alice, que faziam suas caminhadas nos finais de semana. Sentiu-se atraído por elas, até talvez pela polarização que apresentavam: Dora era belíssima, inteligente, porém, de fala estridente, que às vezes irritava quem estava perto dela. Alice não era muito dotada de beleza, mas, também era inteligente e sua voz era firme, sem ser dominadora.

Nos finais de semana, João Donato passou a se encontrar com elas e a visitá-las com frequência. Conheceu a família e viu que possuía uma afinidade com o grupo familiar.

Começou a pensar em se casar com uma delas, mas tinha um sério dilema: escolheria pela razão ou pelo tesão? Se escolhesse a Alice teria uma excelente esposa, dona de casa e uma boa mãe para os filhos que viessem ter. Se escolhesse a Dora, seria invejado pelos amigos, por ter conseguido tal monumento por esposa, mas com um futuro duvidoso pela frente...

Quando dormia, lá vinham os sonhos eróticos com as duas irmãs, que o faziam acordar suado e angustiado.

Como a situação começou a sufocá-lo, decidiu procurar as irmãs, expor seus sentimentos e ver qual das duas teria interesse nele.

Chegando ansioso na casa delas, tocou a campainha, a mãe foi atendê-lo e ele já foi perguntando:

-Onde estão as meninas?

-Ah! Dora fugiu com o circo. Apaixonou-se pelo trapezista.

-Nossa! É? Puxa!

- E a Alice está em casa?

- A Alice foi se encontrar com o Mário, seu chefe na empresa onde trabalha e agora seu noivo. Ficou noiva no sábado passado.

- Ah! Que pena!

Chegando ansioso na casa delas, tocou a campainha, a mãe foi atendê-lo e ele já foi perguntando:

-Onde estão as meninas?

-Ah! Dora fugiu com o circo. Apaixonou-se pelo trapezista. -Nossa! É? Puxa!

- E a Alice está em casa?

- A Alice foi se encontrar com o Mário, seu chefe na empresa onde trabalha e agora seu noivo. Ficou noiva no sábado passado.

- Ah! Que pena!

João Donato tristonho despediu-se da sogra, que não chegou a ter, jurando para si mesmo que não se apaixonaria mais por mulher alguma e nem se casaria. Decidiu mudar de onde morava, arrumou suas tralhas, vendeu o apartamento e foi embora para o Pantanal. Lá iria pescar, passear de barco, ver pássaros exóticos, cobras, jacarés e onças. Quando sentisse necessidade de mulher, daria uma passada no bordel, que segundo seus amigos, valia a pena conhecer.

E foi assim que ele fez. Viveu lá por alguns anos, até que numa madrugada, após sair do bordel e ir para a sua casa, desapareceu e nunca mais se ouviu falar nele. Alguns amigos acreditam que ele deve ter encontrado uma onça pelo caminho.

E SE... - Sandra Rodrigues

Raimundo, o contínuo da escola, era um homem comum. Era considerado excêntrico, por seus amigos, pelo fato de se relacionar com 3 mulheres e, ao mesmo tempo.

Detalhe: as três se chamavam Ana. Mulheres com o mesmo nome, facilitavam a convivência. Podemos chamar também de um preventivo para evitar ser descoberto por sua família.

Naquele tempo, as escolas ainda tinha telefonistas. Uma delas, ao perceber que diferentes vozes de identificavam como Ana, quis saber: E aí

Raimundo? Como é que você consegue lidar com tantas mulheres?

Raimundo, tranquilo, respondeu: é que eu nunca me importei com o " e se..."

hInspiração

Leitura da crônica de Otto Lara Resende, “O Olhar

OLHAR E ENXERGAR – Laerte Temple

Tenho andado muito distraído e meio despombalizado, o que quer que isso signifique. Onde foi parar aquela pessoa que vivia em mim, observadora, criativa, feliz? Então eu estudei apenas para chefiar um Call Center, ouvir reclamações de clientes e me desculpar pelos erros que não cometi? Isso não é justo! Saí do trabalho, andei distraído até o Metrô, passei da estação e voltei tentando lembrar onde errei. É incrível como a gente olha as coisas e não enxerga! No trem, uma jovem sentou ao meu lado, desculpando-se pelos pacotes enormes, cheios de coisas espetadas. Pareciam saquinhos de batata frita. Respondi com um sorriso amarelo. Ela puxou conversa, disse que se chama Soraia, comprou guache, cadernos, cartolina, argila e pincéis. Faz arte terapia com idosos, para resgatar a alegria de viver. Perguntei se aceitam idosos com menos de 40. Ela riu e eu disse que não sinto prazer algum desde que minha vida foi fagocitada pela rotina Ela levantou, pensei que ia descer, mas era para dar lugar a uma idosa. Como não notei aquela idosa? Insisti que ficasse no meu assento. Depois levantou de novo, mas era mesmo para descer, uma estação antes da minha. Desci também,  carreguei uns pacotes e ofereci um café na padaria. Ela se livrou dos pacotes como quem descasca cebola. O garçom ajudou com volumes, ela o chamou pelo nome e perguntou se a esposa esta melhor. Que mulher atenciosa. Soraia me enfeitiçou!

Pedimos sopa e torradas. Ela disse que ao acordar, abre a janela, saúda o novo dia, canta com os pássaros, observa as nuvens e os cheiros da manhã. Quis saber o motivo e ela citou Bernard

Shaw: Alguns homens veem as coisas como são e perguntam “Por quê?” Eu sonho com as coisas que nunca foram e pergunto “Por que não?” Senti inveja. Como eu gostaria de ver a vida com os seus olhos!

Despedimos e passei a prestar atenção nas pessoas: moça com o gato no colo, crianças brincando, chafariz, o pedinte a quem dei 1 real. Eu só ando de carro, não conheço meus vizinhos e não reparo no que há em volta. O jornaleiro atendia alguém e por sorte não me viu, pois não sei o seu nome. Observei o lago, carpas, gramado, Ipê amarelo, decoração para o Dia das Bruxas.

Nossa! Já é outubro! Ando muito desligado. Tanta coisa bela que nunca reparo! No hall de entrada, um vaso de Renda Portuguesa e uma bicicletinha. Entrei, fechei os olhos e inspirei para sentir o ambiente. A Soraia, quando vai à na praça, fecha os olhos, inspira e analisa cheiros e ruídos, sua outra forma de “ver” a vida. Senti perfume de rosas e 2 sons distintos: o rosnar nervoso de um cão e uma doce voz feminina: Rui, é você querido?

Opa! A adrenalina na corrente sanguínea me alertou: Renda Portuguesa? Cão nervoso? Ipê amarelo? Rosas? Bicicleta infantil? Moro só, não tenho cachorro, não tenho filhos, ninguém me chama de querido e meu nome não é Rui! Abri os olhos e vi uma bela mulher assustada, recém saída do banho, enrolada na toalha. Gesticulei pedindo calma, abri a porta e dei de cara com o provável Rui. Simulei um desmaio e tentei cair com alguma dignidade enquanto assimilava que entrei na casa errada. Ando mesmo muito distraído, pois moro em apartamento!

UMA MANHÃ NO CAFÉ – Jacyra Carneiro Montanari

- Oi, bom dia!

- Bom dia! - Quem é você? Não te conheço, conheço?

- Meu nome é Olhar. Nem todos me conhecem. Você também não. –Posso me sentar?

- É, pode, sente-se. - O que você quer? Você disse que nem todos te conhecem, inclusive eu. O que você faz?

- Eu promovo mudanças.

-Mudanças como?

- Mudança interior e mudança exterior.

- Não entendi!

-É simples. Na mudança interior eu tiro o que impede a visão. A exterior é consequência da interior.

-Puxa! Bonito o seu trabalho. Ainda bem que eu tenho visão.

- Que bom! Dê uma olhada no jardim da Praça. Veja como está florido.

- Nossa é verdade! Não tinha reparado!

- Você viu aquele senhor sentado no banco? Ele está com frio e fome. Agora estão dando alguma coisa para ele comer e se esquentar

- Não reparei. Eu fico aqui no café com o meu celular, o resto não vejo. Não dá para fazer as duas coisas ao mesmo tempo.

- É não dá mesmo, por isso muitas pessoas não me conhecem. Para me conhecer é preciso parar. Para poder parar é preciso querer tirar de dentro de si, aquilo que incomoda e impede de ver. Quando isso acontece, vem paz e com ela, a gente consegue sentir e olhar para o que

está ao nosso redor. É um salto quântico que se dá na vida, mas difícil de fazer.

-Olhar, bonito o que você falou, mas agora eu preciso enviar as minhas mensagens.

- Ok, até mais ver, boa sorte.

- Obrigada pra você também. “Nossa, ele parece um doido! E que nome é esse? Olhar! Não entendi nada!”

O PSIQUIATRA QUE AMAVA SUA PROFISSÃO – Lígia Lucchesi

Aquele psiquiatra amava muito sua profissão. E em um grupo de estudos no qual discutíamos o valor da Psiquiatria, ele foi convidado para falar do que constituía esta carreira para ele. E encantou a todos quando contou que sua netinha havia perguntado para ele: - Vovô, o que você faz para ganhar a vida? – Eu converso com as pessoas, respondeu a ela... - Mas só isso? ela insistiu. Você ganha dinheiro só conversando? Sim, respondeu! Foi uma experiencia tão poética a que nos passou e nós alunos ficamos enlevados… Tempos depois ficamos sabendo que uma paciente, que se tratava com esse psiquiatra há quatro anos entrou no consultório dele, uma manhã e o matou com dois tiros. Ela alegou que tinha uma paixão telepática por ele e não era correspondida.

Talvez ele fosse bom no tratamento pela conversa, mas tinha dificuldades no tratamento telepático…

NICOLAS, UMA MANEIRA DIFERENTE DE OLHAR – Márcia Moretti

Após engolir um belo hambúrguer, diz:

⁃ É tão bom, tão bom, que eu não gostei.

⁃ Como assim ? pergunta a avó.

⁃ É piada !!! diz sorrindo.

A avó sabe que ali tem muita verdade. Lembra de pequena de um ursinho de brinquedo, tão feio e mal tratado, olhar triste, que ficou seu brinquedo favorito, o mais bonito.

OLHAR E VISÃO - Leonardo Levy

Ela dedicou o semestre ao olhar. Foram filmes, poesias, crônicas, músicas conversas para encantar a todos. Alunos deleitavam-se com as reuniões. Mas houve um problema técnico: em uma das aulas: a professora não cuidou de sua própria visão e nada enxergava. Havia esquecido os óculos em casa.

Moral da história: cuide do olhar, mas não esqueça a visão. Ela permite todos os olhares.

OLHAR - Jacyra Carneiro Montanari

O meu nome Olhar

Quase ninguém me conhece

Porque preciso parar Para ver o que acontece.

Eu sempre trago mudanças

É preciso pra dentro focar

Em si encontram-se lembranças

Que podem te fagocitar

Como cebolas somos

Com camadas pra destacar

De cada uma que nos livramos Construímos um novo olhar.

Um novo olhar para a vida

Um novo olhar para o mundo

A felicidade pretendida

Depende do quanto se vai ao fundo.

No posso me despedir

Minha misso junto ficar

Daquele que decidir

Ir em busca de um novo olhar.

POLARIZAÇÃO - Sandra Rodrigues

Polarização rima com, democratização ?

Não !

O que precisamos é de mais união e educação.

Democratização rima com armas ?

Não!

O que precisamos é de menos vaidade e mais verdade.

Polarização rima com retrocesso.

E o que mais precisamos é de progresso.

PALAVRAS E DESVARIOS - Yara Pinaffo

Palavras são sementes

Nascidas no vazio da gente

Que brotam em nossas mentes

Como um desvario eloquente.

Palavras são despropósitos

Que vêm com força absurda

Geradas em tempos esquisitos

Que às vezes nos confunde.

Palavra vem, acontece

Sai da alma pedra bruta

Do nada, ela aparece

Seiva primária, pura fruta.

Palavras chegam como inundação

A cabeça não mais delimita

Dá dor, faz revolução

E traz à tona o que nos excita.

hInspiração

“Homens imprudentemente poéticos”

Título de um livro de Valter Hugo Mãe

HOMENS IMPRUDENTEMENTE POÉTICOS - Sandra Rodrigues

Saiam às ruas nus de crenças e medos. Estavam à procura da poesia das coisas e das ações humanas. Poderiam ficar horas contemplando a natureza e os transeuntes.

Transformavam em poesia o que os afetava . As palavras se espalhavam pela cidade, despertando seres adormecidos com seu suave perfume.

DESEJO - Eurídice Carvalho

Só queria

Um dia

Uma noite de lua

Despida de beleza

Andar nua em tua rua.

UM POEMA COM INÍCIO EM WALTER HUGO MÃE – Márcia Barrozo

Um homem imprudentemente poético

Lava a louça diária

Sentindo por entre as mãos

O fluir da água fria.

Recolhe do varal as roupas mornas

Acarinhando-as como vento.

E com a diligência leve das abelhas

Organiza a casa.

Um homem imprudentemente poético

Dança com seu filho em meio sala

Doa-se Tempo. Retira-se Domínio.

Tem fascínio pelo manso e impreciso...

Um homem imprudentemente poético

Sabe bem ouvir todos os silêncios.

AMOR DANADO - ReginaMariass

Esse meu amor é danado. Mesmo do outro lado, ele me quer poeta. A cada abraço dado, a cada pito entoado, a cada perdão pranteado, a cada momento cantado, ele me quer poeta.

Lá bem do outro lado, continua danado.

DOIS POEMAS - Laerte Temple

Alceu um poeta nascente

Sem filtro e muito imprudente

Numa certa festa de noivado

Declarou após ser acomodado:

Tremenda sorte a minha

Sentarei em frente a galinha.

Um amigo notou o deslise

E tentou contornar a crise

Mostrou-lhe que, em frente onde estava

Era a noiva que se sentava

Mas que noiva, que nada Apontei para esta, a assada Desta vez no foi falha minha

Eu falava de outra galinha.

Ao rever uma velha amiga do colégio Sem reconhecê-la, tratei-a por tia Ela se ofendeu com o sacrilégio

Perdi a amizade, mas não a poesia.

POEMA IMPRUDENTE – Eduardo Henrique

Na infância era desastrado, mas não derrubava louças ou vidros. Vivia pelos cantos deixando caírem letras e algumas palavras, sobretudo rimas.

Adolescente, tornou-se pior e esquecia nas gavetas frases inteiras, versos e estrofes.

Na fase adulta derramava trovas e sílabas variadas e concretas pelo chão.

Um dia, com idade bastante, resolveu esquecer de si mesmo e se foi alameda acima abraçado a dois singelos haicais, levando a tiracolo o alforje recheado de muitas e minúsculas livrarias com o mais saboroso olfato dos livros antigos.

ADÁGIO – Eduardo Henrique

Houve um dia uma menina que cresceu até virar imprudente de tão poeta.

Quando decidiu morrer de tanto carregar palavras, deixou cada uma delas nos poços, nas crateras, nos buracos dos dentes e dos desertos.

***
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HOMENS IMPRUDENTES POÉTICOS - Leonardo Levy

Ah! Aquele tempo!

Amou tanto, Viveu um grande amor, Emocionava-se ao vê-la.

Entregava-se por inteiro, Viveu a vida dela, Sofreu com suas dores, Sorriu com seus sorrisos.

Exploraram o mundo juntos, De mãos dadas, Corações entrelaçados, Juntos, sempre juntos.

Os dois eram um, Hoje é um sem ninguém, Amou demais, Nada mais tem. hInspiração

“O olho vê, a lembrança revê e a imaginação transvê. É preciso transver o mundo” Manoel de Barros.

Leitura de “A crônica ao rés do chão”, de Antônio Cândido Criação de personagens, causos e crônicas.

NO PAÍS IDEAL – Sandra Rodrigues

No país ideal

Tem educação pra todo mundo

E ninguém precisa viver no submundo

No país ideal

Os índios são cuidados

As florestas são preservadas

E não se permitem queimadas

No país ideal

A saúde universal

E todos fazem parte

Do programa social

No país ideal

Todo ano tem carnaval

Dança junto negro, branco, rico

Pobre, homossexual

É um verdadeiro festival

No país ideal

Os políticos promovem a

Inclusão social

E acabam com o lucro desigual

No país ideal

No se matam Marielles

Sem dó nem piedade

Elas andam livres pela cidade

No país ideal

Milicianos com fuzil na mão

No se escondem no matagal

Quem é do bem é que é o tal

E ponto final.

ANTÔNIO - Eurídice Carvalho

O carinho que reside em certas pessoas. É carinho, nada mais. Receber esse carinho como retorno de algo seu que ficou numa pessoa, é um presente.

Seo Antônio, pai de quatro filhos- duas moças e dois rapazes. Casado com Giovana, da família dos Guerra - magrinha, trabalhadora, gosta de cuidar das flores, dos porcos e galinhas e do cachorrinho que vinha me visitar, quando morei por lá.

Seo Antônio herdou o nome do pai. Dos cinco irmãos é o mais velho. Calado, como os outros. Mas um silêncio diferente. Os irmãos por serem assim, da roça, do lidar com as plantas, com os animais. Mas Seo Antônio é funcionário público - cuida de manter as estradas de terra. Veio me pedir pra tirar uma foto da Araucária que secou. Que eu mostrasse ao pessoal da Defesa do Meio Ambiente. Que não era por gosto que queria derrubar, mas pelo perigo dela cair sobre o telhado de sua casa. Falava comigo como se eu fosse uma autoridade - cheio de respeito e argumentos. Não sei como descobriu que eu fazia parte do grupo ambientalista, cujo responsável acabou sendo ameaçado de morte. Nem todos na roça pensavam como seo Antônio. Mas não via graça em ir à missa aos domingos, como a esposa. Nem em passear na praça da Vila. Deu de beber, o que deixou  Giovana muito brava, e os filhos entristecidos.

Uma noite, em que eu voltava de S.Paulo pra casa, subindo a Serra, encontrei o Chevette da Giovana que saíra da estrada e batera numa pedra. Seo Antônio machucado, com um corte na orelha havia bebido. Desci com ele ao Pronto Socorro da Vila, e fui avisar a família. Muitos anos se passaram desde que decidi entregar acasa onde vivia na Serra e voltar para a cidade grande. Um dia, a convite de uma amiga, fui passear por lá.  Visitando aqueles que havia deixado, fui tomar um café com a Giovana. Contou-me dos filhos, dos netos hoje crescidos, e do seo Antônio..." que está muito satisfeito. Foi chamado na Prefeitura para ensinar aos novos funcionários cuidadores de estradas de todos os bairros!" Ele apareceu, braços abertos, agora com cabelos brancos como os meus. Eu brinquei - " quer dizer, então, que o senhor agora é professor!" Ele me deu um abraço (coisa que não é comum na roça) e foi a primeira vez em que o vi sorrindo.

CRIAÇÃO DE UM PERSONAGEM E SUA HISTÓRIA - Márcia Moretti

Surgiu o personagem Minhoca Voadora, com o coletivo Avó, que aqui estou, 66 anos Benjamin, 6 anos, e Nicolas, 4 anos.

Características :

⁃ Era um menino pequenino, aparentemente com uns 8 anos, cabelos verdes despenteados e revoltos, olhos verdes neon, um metro de altura.

⁃ Clonava boas lembranças, pensamentos, copiava em sua mente para levar para o futuro.  O objetivo é recolher  no passado exemplos de amor, paz e acolhimento, pois o futuro andava muito desanimado.

⁃ Voava e como dormia enroladinho no cobertor, parecia um charutinho de folha de uva ou uma minhoca.

O aparecimento do Minhoca Voadora

EPISÓDIO I

Era uma vez uma casa bem quentinha e cheia de brinquedos pelo chão. Era nas alturas de um edifício, e lá moravam Ben e Nico e seus pais.

Naquela noite, os meninos pegaram seus copinhos com água , levaram para o quarto e foram dormir. As portas já trancadas, luzes apagadas e os anjos do silêncio chegaram, sempre a proteger quem morava ali.

Na sala havia uma escada que ia para o andar de cima, e era aberto para o céu, porque ficava no último andar e era chamada a Casa da Nuvem .

Na manhã seguinte, sempre a mesma história, as preguiças acordavam no corpo dos meninos , acordar, vestir, escovar os dentes, era sempre dolorido, com bicos e protestos. Por que não, já dormir com uniforme?!  Foram se arrastando para a sala … rumo a escola … quando !!! ….

Ali, no vão da escada encontraram um menino de cabelos verdes, para o alto, enroladinho como charutinho de folha de uva no cobertor marrom da sala. Parecia uma minhoca de olhos lilás neon de tão embrulhado. Minhocas tem olhos ? Não sei. Estava lá junto com os gatos, Nadal e Lua. Os três meninos tomaram um susto, olhos arregalados, e paralisados

O Ben, muito corajoso tentou se aproximar devagarinho do Minhoca e sempre protegendo o Nico que já queria conversar com o desconhecido. Mas medo mesmo teve o Minhoca, que nem sabia onde havia caído. Os irmãozinhos puseram o saco de dormirem baixo da escada, água, balas, um lanchinho e foram par a escola.

EPISÓDIO II

No retorno das aulas, lá estava o Minhoca no mesmo lugar, medroso , esperando o que aconteceria. Mas Ben e Nico foram se aproximando, e outro susto : ele tinha asas !  Eram fininhas como de uma borboleta, transparentes como papel bolha, e grandes. O Ben logo concluiu que o menino só poderia ter chegado pelo céu , voando … e poderia ser do futuro ou saído de algum game do celular, da tela para nossa realidade para fazer amigos. Foi aí que passaram a chamá-lo de Minhoca Voadora, que na realidade era um menino de cabelos verdes arrepiados, magrinho, parecia ter uns oito anos, com asas e muito curioso.

O Ben de olhar pensativo tudo analisava e o Nico pulava e ria e fazia graça o tempo todo.

EPISÓDIO   III

Foram se conhecendo e se gostando, e se comunicavam por pensamentos e palavras. Tinham um segredo para o resto do mundo, que só o papai e a mamãe sabiam e resolveram ajudar. O Minhoca contou que veio do futuro, conhecer os meninos do planeta Terra, e ver como era o nosso tempo. Como ele tinha o poder de ler e clonar bons pensamentos e dias alegres entre as pessoas, soube que ali morava uma família feliz. Iria levar este sentimento para o futuro e para o espaço e transformar em pozinho para contaminar de contentamentos as pessoas que lá andavam tristes. Logo reconheceu nos meninos a capacidade de fazerem o bem, e transformar o mundo. Ben e Nico eram muito divertidos e tinham muitas histórias. Ele adivinhou que entre as memórias felizes do Ben, uma delas era quando a mãe cantava “ Leãozinho” para ele dormir desde bebê. E o Nico gostava de dormir agarradinho a mãe, que era linda como uma princesa. E sabia que o pai fazia um tal de “corre-corre” que o Minhoca não entendeu bem o que significava. Foi um dia muito diferente.

EPISÓDIO IV

A noite chegou e o Ben ensinou o menino a jogar UNO, mas como o primeiro tinha pensamentos rápidos, o Minhoca perdeu. O Ben tinha o

!!!

super poder da velocidade.

Já no Bingo, onde o Nico era o bingueiro divertido, os números se embaralharam e deu a maior confusão. Não teve vencedores. Teve foi muita palhaçada. Ninguém podia saber que o Minhoca voava e de seus super poderes ou de onde vinha, então tiveram que planejar a partida .

EPISÓDIO V

Na hora de irem para a cama, o Minhoca avisou que deveria voltar para sua casa em outra dimensão, no futuro ou no metaverso quem sabe. Os pais o esperavam para ouvir suas aventuras, mas prometeu voltar um dia para brincar. Pela manhã ele já não estava mais lá, mas deixou um presentinho para os amigos, uma almofada de leão para o Ben, e para o Nico um travesseirinho de sonhos. O Nico não gostou muito do presente, mas o Ben dividiu o leãozinho com ele.

Agora os irmãos tinham mais uma memória boa pra guardar  “ A visita que veio do espaço “. Quando o Minhoca voltasse ,iria saber. Era o encontro de mais um amigo. Eles já estavam planejando outra brincadeira. Era a contação das histórias horripilantes, que eles gostavam de fazer com as primas, e ao contrário do medo, saía muita gargalhada.

UM PERSONAGEM - ReginaMariass

Alto, magro, de uma elegância discreta. Senhor de poucos fios, sorriso contido, longas pernas e caminhar que pressupõe uma certa decadência emocional. Nada que impeça de ser apreciado. Ele vai pensando que faz de conta que caminha, quando na verdade acabou de cair feito abóbora, de um flamboyant carregado de flores avermelhadas e alaranjadas, procedente de Madagascar.

Ele não sabe o que se passa nesse faz de contas momentâneo. Mas sabe que passou uma garota que sem nenhum constrangimento, colocou ele na mochila, porque gosta de poesia e ficou intrigada com a beleza bruta de uma simples vagem no meio do caminho.

No aconchego da mochila, ele tenta ter bons pensamentos para diminuir a angústia de não ser, mas sonhos não são bem dramas. Quisera fosse.

CRÔNICA DE ALGUM MOMENTO - ReginaMariass

Nesses dias ficaram estreitos os caminhos entre a alma e o coração.

Parceirinho, explodiu um big bang sem explicação. Eu não sei se foi a semana anterior que derreteu de calor absurdo as esquinas de Niterói. E continuou se espalhando na Tijuca de Maria Helena, três meses de pura fofura, da última geração de bebês da família, ou a insistência da água que cai em gotas que choram uma chuva intermitente para arejar os dias

quentes de um verão abafado. Ou o agito das ondas macaenses que não querem caber dentro do mar. Só sei que a saudade apertou demais dentro de mim e como o vendo, provocou uma ressaca de sentimentos agitados, aumentando o meu vendaval.

SEMBLANTES - Eduardo Henrique

Na Ilha Veneza, Península de Maraú, sul da Bahia, as paredes sem telhados das casas muito velhas fincadas no meio da trilha mostram que lá longe já viveu gente, talvez pouca, mas suficiente um tanto para se escutar ganidos tristes da cachorraria e ainda, quem sabe, a estridência dos meninos debaixo das árvores.

O guia albino Jeferson, dono da pequena embarcação, acompanhado do filho Quévim Lucas, que se dizia ajudante com apenas cinco anos de idade, me levou também às demais ilhas próximas.

Na região do Sapinho comi no bar de seu irmão também albino e quando perguntei a um funcionário se era parente da dupla, negou com veemência dizendo que "Deus é mais!"

A Cachoeira do Tremembé é considerada a única no Brasil que deságua no mar e por lá os moleques se amontoam para guiar as pessoas através dos caminhos das águas, sempre ao lado das lavadeiras acocoradas junto aos poços, esfregando nas pedras a sua lida de todos os dias.

Rostos afundados na magreza e nas tediosas tardes de sol que exibem o contraste que há entre a ausência da viveza nos olhos daquela gente mais antiga e o riso manifestado de deleite na face do pequeno ajudante Quévim Lucas.

Afinal, prosseguimos carecendo dessa inquietante aceitação que é conhecer mais de nós mesmos sempre impregnados nos semblantes de todos os outros.

APESAR DOS PESARES - Sandra Rodrigues

Agora vamos ao banho, disse ela. Ele já havia se alimentado e dormido um pouco depois.

Ele não respondeu. Apenas a obedeceu. Após um tempo , desceu as escadas já limpo e barbeado.

Na vizinhança já estava espalhado o boato de que o tão esperado marido havia voltado. A guerra havia terminado. Aos que perguntavam: voltou? Ela respondia: voltou. Não é mais o mesmo.

Não é ele mesmo. Mas, após ter servido no fronte, como poderia? Apesar dos pesares, resolvi honrá-lo como merece.

CACOS PELO CAMINHO - ReginaMariass

A franja crespa ajeitada pela adolescente. Espanto O short curtíssimo e apertado nas abundantes coxas da moça tatuada. Inquietação. A mão da mãe no ombro a jovem cega e falante. Sobressalto A lua redonda, branca e iluminada no entardecer borrado de rosa azulado. Admiração O clarão de luzes em velas acesas para iluminar algum momento de dor. Choque. O incenso perfumando as narinas em fumaças no altar dos amores. Surpresa. O cãozinho que aguarda a senhora, para cruzar o sinal em factível segurança. Fascínio.

AINDA SOBRE CACOS PELO CAMINHO - ReginaMariass

Hoje um salsichinha (raça Dachshund preto e canela), bem velhinho se dirigiu a mim e lançou um olhar de desdém. Já tive um animalzinho igual a esse, que viveu ao nosso lado por 15 anos e vê-lo, me alimentou a memória de tanta beleza que nem me importei com o olhar de descaso.

EPISÓDIO DO PRÊMIO DO CONGRESSO EUROPEU DO SONO EM PORTUGAL OU “O MICO DE RECITAR UMA POESIA PARA UMA PLATEIA DE CONGRESSO DE SONO” - Lígia Lucchesi

Minha amiga Helena, grande estudiosa de sono na mulher, resolveu participar de um concurso de melhor artigo no Congresso Europeu de Sono em Lisboa com seu trabalho. Ganhou. Mas já sabia que ao receber o prêmio deveria recitar um poema de Florbela Espanca, escritora preferida de uma das organizadoras do congresso, a Professora Tereza Paiva. Aliás o nome do prêmio era o nome da escritora. Alguns consideraram que ganhar o prêmio era uma honra, mas recitar o poema “um mico”. Durante a viagem a Portugal, mais especificamente no Porto, Helena resolveu falar de seu problema conosco: como recitar para uma grande plateia, se nunca havia feito isso? Resolvemos então ajudar e minha filha opinou: que tal treinar?

O começo do treino já provou que toda a expertise de Helena em declamar resumia-se a “ Batatinha quando nasce"... mas algum tempo depois começou a melhorar.

Já em Lisboa, congresso cheio, plenária, entrega de prêmios, só o papel tremia, Helena limpou a garganta. Recitou “ Ser Poeta” de Florbela Espanca. E foi um sucesso.

O DIA EM QUE LULA GANHOU DE BOLSONARO (2022) - Lígia Lucchesi

Estávamos na reunião de cinema, on-line, tentando ficar calmos: quatro mulheres e um homem, todos torcendo por Lula. Eu queria mesmo era focar no filme que íamos discutir: “Farrapo Humano” de Billy Wilder (1945, ganhou quatro Oscars). Mas ninguém queria falar do filme- todos grudados nas notícias! O nosso “professor de cinema”, chamado assim pois é o que mais estuda, começou a chorar e a ficar pálido. Eu estava vendo a hora em que teria que chamar uma ambulância para a casa dele...

De repente, começou a gritaria na minha rua- foi a hora em que a contagem de votos começou a virar para Lula... A torcida na rua se inflamou cada vez mais, o professor se animou e gritava e as mulheres tinham cada vez mais chiliques…

Na hora em que foi conclamada a vitória, ficamos tão cansados que não aguentamos mais discussão nenhuma- só quisemos apreciar a gritaria na rua… Vai ficar sempre essa alegria com a gente.

E por coincidência, estávamos na véspera do “Dia das Bruxas”.

O ENCONTRO DE MARIA LUIZA E JORGE AMADO - episódio na ladeira do Pelourinho - Lígia Lucchesi

Um dia a Maria Luíza, respeitável senhora de Guaxupé, Minas Gerais, estava flanando na Ladeira do Pelourinho, em Salvador. Tinha um sorriso no rosto, pois se lembrava divertida, da incrível cena de “dona Flor e seus dois maridos” em que esta passeia com os dois. Um sério, composto, muito elegante em seu terno bem passado, de braço dado com a gentil senhora e o outro, nu, com um sorriso maroto e passando a mão em sua bunda.

Foi quando Maria Luíza se encontrou com Jorge Amado, todo sorridente que também passeava por lá. Vencendo sua timidez, ao ser apresentada a ele por um amigo comum, disse que gostava muito de suas histórias. Mas tinha vergonha de confessar isto aos outros, pois uma senhora deveria apreciar histórias mais respeitáveis e carolas e pedia perdão a ele por isto…

Jorge Amado não teve dúvidas: “pode dizer que sou um desavergonhado, sem moral, etc, contanto que continue a se divertir com o que escrevo”.

E assim ficam combinados- uma amizade secreta e por toda a vida…

O ENGANO - Laerte Temple

A digital influencer Letti publicava no Insta quando o interfone tocou. - Dona. Letti, é o Josimar, da portaria. O motoboy trouxe uma encomenda. Ele estava com pressa e eu mesmo assinei o recibo.

-Tudo bem, Josimar. Obrigado. Logo mais eu pego. -O dr. Leonardo, seu vizinho, se ofereceu para levar. Ao citar o nome Leonardo, o ginecologista gatíssimo, ela arrepiou dentro da calcinha. Léo é seu namorado há mais de um ano, só que ele ainda não sabe. Letti ajeitou o cabelo, soltou 1 botão do robe, ficou atenta ao corredor e abriu a porta quando o vizinho colocava a encomenda junto à soleira. Ele se ergueu lentamente e conferiu o corpo que bem conhecia, pois toda semana ela inventava um problema e pedia um exame ginecológico minucioso.

- Oi Léo. Bom dia! Desculpe o incômodo. – disse fingindo-se encabulada. -Bom dia Letti. Incômodo algum – respondeu com sorriso maroto seguido de uma piscadela. Tchau!

Letti pegou o pacote da Shopee, suspirando por Léo e tentando se lembrar da compra. Abriu, estranhou o conteúdo e deixou no sofá para pesquisar o cartão de crédito. Os Pets, curiosos, se aproximaram. Dongo, o rato, cheirou e voltou para a toca. Astor, o cão SRD, cheirou, lambeu, fez careta e se afastou. Penélope, a gata angorá, continuou o banho de sol junto à janela. Do poleiro, Ariel, papagaie Queer, balançava a cabeça negativamente.

A blogueira localizou a compra e conferiu a embalagem. Não era da Shopee, mas de uma Sexy Shop e era tamanho “P”. Por isso o sorriso maroto do Léo. O que será que ele pensou de mim? Que mancada! Assim que saiu da sala, ouviu-se:

-Alexa, bom dia!

-Bom dia Letti. Bela manhã de sol.

-Não é a Letti. É Ariel. Miga, sua lôca, eu encomendei um vibrador à pilha chinês tamanho “P”, de pássaro e você me mandou um para humanos!

-Desculpe, Letti, Ariel ou quem quer que seja. Não reconheço a expressão “tamanho P de pássaro”.

CRÔNICA EM GRUPO COM

PERSONAGENS CRIADOS EM SALA - Laerte Temple, Leonardo Levi, Márcia Moretti, Paulo Roberto

Alceu Dispor foi ao cemitério depositar flores no jazigo da esposa. Com hiperplasia prostática, passou no WC para aumentar a autonomia fisiológica. Deixou as flores na pia e abriu a braguilha para liberar o fluxo:

-Que nojo. Vira isso para lá.

-Quem falou? – perguntou girando o corpo em direção à fonte sonora, esquecendo que o jato a atingira a potência máxima. -Vira isso prá lá, cara. Tá me molhando todo – disse um minúsculo guri. Alceu finalizou com a tradicional sacudidela e perguntou quem era o nanico. A resposta foi fluente e segura: o nome é Minhoca Voadora, vive no futuro e viaja pelo tempo procurando descobrir quando a terra tornou-se inóspita. Alceu convidou o menino para tomar suco e falar sobre suas vidas. Na falta de composto alimentar líquido de folhagem, o guri aceitou Coca-Cola e Alceu pediu um expresso.  Minhoca disse que vive no futuro. O planeta tornou-se inóspito, quente e as pessoas muito pequenas. Algo aconteceu no passado e transformou o ecossistema. Estudos mostram que durante milênios a terra foi aprazível. Alceu, pasmo, pensou que alguém drogou sua gemada matinal de Caracu com ovo, e relatou ao coisas como mudança climática, nova ordem mundial, teoria da conspiração etc.  Nisso, a esotérica Ruanda Além entrou na cafeteria, recém chegada da Convenção das Bruxas de Salem. Ela é candidata ao Parlamento pelo CUB – Central Única dos Bruxos, partido que defende que só a bruxaria pode exorcizar o mal feito ao planeta. Esbarrou em Eva Dias, blogueire alienade e digital influencer, também candidate, mas pelo PDT – Partido Digitalização Total, que defende a robotização do governo para eliminar a corrupção.

Seguiu-se um ríspido bate-boca, choque de ideias ou ausência delas. Alceu Dispor e Minhoca observaram a troca de farpas, uma defendendo o sobrenatural nos destinos da nação e a outre adepte da anarquia digital para a libertação do povo. Por pouco o colóquio flácido não descambou para as vias de fato.

Alceu Dispor pagou a conta, pegou as flores e saiu com o mini guri.

-Não entendi aquela discussão, senhor Alceu – disse Minhoca Voadora.

-Faltam poucos dias para a eleição, nada está definido e a disputa é dura.

-Como são os outros candidatos?

-Igualmente malucos. Nenhuma proposta sensata. Só maluquice.

-Não é à toa que a qualidade de vida na terra degradou.

-Você não viu nada. É só guerras, combustível fóssil, aquecimento global, desmatamento, pandemias, fome, desemprego, enchentes e por aí vai.

-Você parece ser um cara honesto e sensato. Por que não se candidata?

-Tentei, quando era jovem. Pensava que apenas as pessoas de bem e preocupadas com o país deveriam concorrer ao Parlamento.

-Não conseguiu votos suficientes?

-Nem consegui me candidatar. É jogo de cartas marcadas, só para quem é  do esquema. De 2 em 2 anos os contribuintes votam para eleger os privilegiados que ganharão muita grana para explorá-los.

-Viajei por diversas épocas e garanto que não encontrei nada igual a este século. Não sei dizer se vocês são avançados ou completamente imbecis. Confesso que estou pirando. O que você fará?

-Votar nos menos ruins e depois seguir a vidinha: ver reprises de novelas e programas de culinária na TV, cuidar do jardim e tentar viver do INSS até encerrar a temporada terrena e vir fazer companhia à Judite. E você?

-Vou retornar ao tempo futuro e apresentar o relatório ao líder.

-E o que dirá sobre o que viu no século XXI?

-Direi para não voltar no tempo, tentar corrigir as coisas erradas e salvar a humanidade. Melhor deixar que se explodam e reinicializar o planeta.

-Falou!

LOURDINHA PÉ-DE -CANA - Maria de Lourdes e Lígia Lucchesi Inspirado propaganda política da Lourdinha Pé-de-cana

A filha, super preocupada com a mãe, encontra na fila do banheiro do cinema a Lourdinha Pé-de-Cana. Ela explica que é candidata a deputada federal pelo PDP (Partido Dos Pinguços). Vai lutar para que no falte cachaça e cerveja neste país.

A filha fica mais preocupada ainda quando encontra essa figura, a Lourdinha. Sua mãe está demorando muito no banheiro e essa candidata só vai atrapalhar com sua esdruxula propaganda política. Diz que seu importante programa de governo promete preço menor da cerveja e da pinga e folga no trabalho todas as segundas feiras para todos poderem apreciar a ressaca com calma De repente, tudo se encaixa e a mãe sai do banheiro dançando carnaval com a Lurdinha, em um frevo sem fim.

SEM ESCOLHAS - ReginaMariass

A Márcia Moretti ficou se perguntando se ao invés do número um , ela escolhesse o número 2, ela não estaria no número 3, escolhido pela Regina, que não teve escolha e acabou optando pelo número 1, não escolhido pelo Eduardo. Na dúvida, escolhemos criar o grupo de número 4 e fomos o único grupo que estavam em três.

A categorização determinada pela Fabiana nos deixou sem escolhas, pois se contrário fosse, escolheríamos o número 6, que poderia ser uma outra escolha. (texto criado pelo grupo que pode escolher ninguém).

hInspiração

Leitura da “Ode à Cebola”, de Pablo Neruda

Criação de Odes

ODE AO PEQUENO VERSO - Eurídice Carvalho

Me fascinas

Pequeno verso

Ao trazeres

Num clarão

Quase todo o universo

Embutido em um grão

Me embalas

Pequeno verso

Ao trazeres

Da canção

Alegria

Dor

Sentimentos

Toda a música

Num refrão

Surpreendes

Pequeno verso

O limite da imaginação

Do sentido das palavras

Sua face

Alma

E intenção

És da fruta

A semente

Da flor

Pequeno botão

Do amor guardado em segredo

A primeira

Fruição.

ODE AO SOL - Leonardo Levy

Você é tudo para nós, Sem você nada enxergamos. A vida depende de seu calor. Para nós você é o amor.

Nos abraça, nos aquece, Nos ilumina, nos domina. És dona do dia e da noite, Sempre estas conosco

Mesmo na metafísica, És mais que tudo. Todos querem alcançar, Sua radiante sabedoria.

Pode transformar-se em relógio, Pode ser energia, Pode ser fogo, Pode bronzear e queimar.

Não tem Limite, Não tem controle. Assim como clareia, Também queima.

Curvo-me diante de ti, Luminar da natureza.

Faz o dia ser dia, Enche o mundo de beleza.

Ilumina tudo durante o dia, Refletido é a luz da noite, Maior que todas as estrelas.

Reinas no céu.

ODE A ORQUÍDEA – Márcia Moretti

Senhora estranha era aquela. Atenta, sempre a me observar. Será que lê pensamentos ? Dizem que é de nobre e muito antiga linhagem. Oitenta milhões de anos ! Calada, postura elegante, beleza forte. Essa mistura de silêncio e altivez. Pura sabedoria, assim evoluiu.

Não é parasita, não suga, não prejudica. Às vezes fica aérea, nem de pés no chão necessita. São as Vandas , nativas das terras distantes.

Misteriosa, O que enxerga e que segredos tem a bela flor?

Quero ser assim um dia, impassível, só a contemplar.

ODE A SOLITUDE (PARA A DESPEDIDA DO PÂNICO) – Márcia Moretti

Não raro, Até frequente, Alguém precisa de refúgio. … também eu … Fechar a porta, ouvir o silêncio, o cheiro da casa, olhar os cantinhos de descanso , acalmar a alma.

Calma para desenlouquecer, olhar desacelerado, parada para o incessante movimento das mãos , tempo de escuta.

No silêncio, a batida do relógio se incorpora . A casa pulsa e acolhe. É santuário.

Hora de equilíbrio, lucidez, desvario, devaneio.

Hora de refúgio e paz, Liberdade, Alívio, Voo livre.

Solitude.

ODE A TODAS ELAS – Laerte Temple

Na infância, elas não me seduziam.

Adolescente, pensar nelas me excitava.

Comecei cedo, com 14 anos, às escondidas.

Paixão instantânea por uma negrinha popular e caliente.

Era robusta, mas e daí? Era gostosa!

Contei para a turma. Todos aprovaram.

Tem gente que não gosta da coisa.

Não sabem o que estão perdendo.

Inexperiente e ingênuo, quase me compliquei.

O meu pai: Calma! Você é jovem. Vai conhecer outras.

Os amigos: Vai fundo, cara! A vida é curta.

Confesso que não fui fiel.

Desejei todas que conheci.

Loiras, ruivas, mulatas, daqui e de fora.

Às vezes, simultaneamente.

É impossível desejar apenas uma.

Ser fiel a uma só, é trair todas as outras!

Agora, falando sério.

Amo todas, qualquer que seja.

E viva o povo Sumério.

Os inventores da cerveja!

ODE AO MILHO – Jacyra Carneiro Montanari

Salve! Belo milho tão dourado!

Com rubra madeixa que deleita

Por sua verde casca é abraçado

Protegido e que também o enfeita.

É por sua polivalência

Que se torna tão apreciado

Poucos pratos têm sua ausência

Seu sabor não se deixa de lado.

Com a espiga pode ser comido

Mas também pode vir amassado

Como pamonha e curau é comido

Ou em flocos com leite tomado.

Como farinha podemos te ver

Para o arroz com feijão complementar

No sorvete és de enlouquecer

E no bolo cremoso espetacular.

Salve! Salve! Milharal

Salve!Salve! Milharal

Terra onde o milho vai florescer

Que a mão do homem seja o sinal

Do respeito que a ele se deve ter.

ODE À INDIVIDUALIDADE Eduardo Henrique

Por natureza, espaçoso

Não me ajeito dividindo lugar

Acho que beira o cúmulo.

Nada me faz mais raivoso

Que o fato de um dia imaginar

Repartindo com outro o meu túmulo.

ODE BANANA Maria de Lourdes

Banana, essa palavra me deixa meio lele da Cuca, Sempre achei que esta fruta era brasileira.

Seu gosto é saboroso, sacia a fome e a ansiedade.

Originária do sudeste da Ásia.

Ouvir dizer do boca a boca que no futuro será extinta.

Nós brasileiros consumimos direto e reto

Mas por motivos políticos, inflação, mudanças de temperaturas

Ela não está mais como se dizia antigamente : a preço de banana.

Sua roupa é um charme: de cor amarela ou verde ...Cores desse imenso país.

BANANA d'água, ou banana nanica

Banana da terra, banana ouro banana maçã.

Rica em potássio, regula os batimentos cardíacos. Garantindo o o funcionamento dos músculos, nervos e coração.

Olha a banana? Olha o Bananeiro?

Ate nossa Carmem Miranda fez muito sucesso

Estrelando filme Banana da Terra.

Que linda fotografia!

E na cozinha: Banana Frita. Crocante. Cozida. Assada.

Lhe acrescentam fragrância com bocado de açúcar.

Cartola no Pernambuco.

Caramelada na China. Flambada com sorvete.

Ou no Virado a Paulista.

Fruta que nasce em qualquer lugar…

Mas que é tão rica!

ODE A DEMOCRACIA Yara Pinaffo

Democracia

Na Grécia nasceu

Um governo de sábios

Moderação, sapiência sofocracia.

Democracia

Governo do povo

Nação, sociedade

O povo não silencia.

Democracia

Muito tempo a construir

Tantos dolos e intolerância/ Dentro da autocracia.

Democracia

Sobreviveu por milagre

Foram às ruas, avenidas

Recuperar a hegemonia.

ODE AO AÇÚCAR - Márcia Barrozo

Sucre. Sukkar

A doçura sem abelha

No talo da planta verde.

No tacho da rapadura...

Breve socorro

Ao melancólico...

Mas se branco

Outra heroína?

Açúcar. Sarkara...

Caminho pro Nirvana?

Ou só Maya repetindo

Amiúde seus Samsaras.

ODE À BANANA, com início em um verso de F.Gullar – Márcia Barrozo

O queria pêssego

Sumoso. Sibilante

Veludo em drupa

Pubescente.

Porém, Nasalizou-se em enes.

Sementes

Ausentes.

Branda resta assim

A musa mais suprema_

Singela banana!

Cheirosa. Arrebitada. Pequena.

ODE - ReginaMariass

Rosa e amora.

Folha e botão.

Vida e morte.

E no entre, o Presente

hInspiração

Uma estrela do mar que deseja ser artista

STELLA, A ESTRELA DO MAR – Laerte Temple

Stella nasceu Estrela do Mar, mas identifica-se como grande cantora e quer se consagrar nos palcos do mundo inteiro. Compõe, tem voz melodiosa e afinada, mas faltam-lhe músicos e um back vocal, além de acústica amplificada.

O Tubarão Martelo, sabendo de seu desejo, intimou outros seres marinhos a ajudá-la e formou-se a banda com Cação Viola e canto de Sereia, amplificados pela acústica das conchas.

Quis o destino que todo o grupo fosse apanhado numa rede de pesca, mas o capitão de um enorme navio de cruzeiro comprou todos e instalou-os no gigantesco aquário junto ao palco principal. Final feliz para Stella, que se apresenta com seu grupo todas as noites para as mais variadas plateias do mundo enquanto o grande navio singra os 7 mares

A ESTRELA CADENTE QUE ERA UMA ESTRELA DO MAR E QUERIA

BRILHAR NOS PALCOS DO MUNDO – Márcia Moretti

Como meteoro invertido, saiu do mar para o firmamento. E pequena desconhecida, fez se ver em todo o planeta. Teve quinze minutos de fama. Depois voltou para o Oceano. Se apagou até nas lembranças .

CONSELHOS PARA A ESTRELA DO MAR QUE QUERIA SER ARTISTASandra Rodrigues

Estrela do Mar, se exponha, saia das profundezas. Não se deixe levar pelas ondas. Faça seu próprio caminho. Procure conhecer a alma dos homens e o modo como vivem. Leia os clássicos. Exercite seu corpo e sua voz.

O palco exige muitas formas de expressão. É possível flutuar? Aos artistas tudo é possível. Ouse !

A ESTRELA QUE QUERIA SER QUENTE - ReginaMariass

Meu sonho são as profundezas do oceano, onde o colossal colorido das espécies fornecem o clarão que quero brilhar.

Vou sorvendo o cada pedacinho desse furta- cor até me sentir uma baleia azul nesse imenso cosmo aquático. E assim vou cintilando entre os trópicos e as águas polares, feito a estrela mais brilhante na mais escura noite.

hInspiração

Vídeo Buraco Negro

A OCASIÃO FAZ O LADRÃO? – Laerte Temple

Cida e Zé são faxineiros num escritório, após as 19h, depois do expediente. Tudo tem de estar limpo e brilhando porque o pessoal começa cedo no dia seguinte. Eles não conhecem quem trabalha lá, mas sabem que é gente importante.

Conversam o tempo todo imaginando como deve ser a vida dos grã finos. Quando tem reunião até tarde, escutam conversas, mas não sabem do que se trata. Ambos têm apenas o ensino fundamental e não entendem os assuntos do escritório.

-Zé, alguém esqueceu esse molho de chaves sobre a mesa.

-Que chaveiro esquisito!

-Olha, tem um botão preto, uma luz verde e uma vermelha.

-Deve ser controle remoto. O que será que abre?

Apertaram o botão e a porta atrás da mesa do chefe destravou. Apertaram de novo e fechou. Luz verde, aberta. Luz vermelha, travada.

-Deviam ter deixado isso com a gente.

-Pra que?

-Assim a gente podia limpar essa sala também.

-Vamos caprichar na limpeza. O pessoal vai ficar surpreso amanhã cedo.  Dentro da sala havia faixas, cartazes, xícaras de café e copos sujos, além de garrafas abertas de whisky, vinho e champanhe. Os restos de bebidas e as bitucas de cigarro produziam um cheiro horrível. No chão e no sofá, alguns preservativos e uma calcinha. Recolheram o lixo, limparam e lavaram tudo, inclusive a calcinha. O controle também abriu um depósito com caixas abarrotadas de dinheiro. Na manhã seguinte, o Assessor encontrou a sala secreta limpa, o lixo recolhido e tudo lavado, inclusive a calcinha. O depósito também estava limpo, intacto e arrumado. Chamou imediatamente a Secretária.

-Não sei o que houve, Abílio. Eu não tenho o controle remoto da porta.-O controle do doutor Hamilton estava sobre a mesa dele. Esqueceu de levar para casa, alguém encontrou, abriu a porta e limpou tudo

-Vamos ver o vídeo das câmeras de segurança. Abílio e Jussara assistiram o vídeo atônitos. Mesmo diante de tanto dinheiro, os faxineiros não pegaram nada. Assessor e Secretária se olharam sem trocar uma só palavra, mas não foi preciso. Comunicaram ao líder do Partido Político o furto de R$ 2 milhões, muito pouco perto imensa fortuna guardada. Não houve Boletim de Ocorrência para não terem de explicar a origem do dinheiro. Os faxineiros foram demitidos, por quebra de confiança.

-Bem, querido, pusemos a culpa nos faxineiros e ninguém desconfiou. -É, meu amor, como diz o ditado, a ocasião faz o ladrão.

-Discordo, querido. O ladrão é preexistente. A ocasião faz a oportunidade. -Mais uma taça?

-Demorou!

AO RITMO DA MÁQUINA QUE COPIA – Márcia Barrozo

Dia

Após dia

Copio

E copio

Sem apreço

O mesmo

O mesmo.

Mas súbito

O avesso?

Passagem?

Caminho?

De início

Estremeço

Mas tento

Inda lento...

Repito

E repito

E sorrio.

Meu intento

Ladino

Ultrapasso. Outro passo

E a meta Amplio Amplio.

Embaraço?

Sorrio Sorrio

E mais quero

Mais quero

Desatino

E me lanço

E alcanço.

Mas o susto!

Armadilha?

Em revés

O reverso?

E o mesmo

O mesmo

O meu peso

O meu preço

Assim preso

Assim preso

Escureço

Escureço

Escureço...

Marinês teve um péssimo dia no trabalho e no caminho de casa, o Metrô atrasou. Tomou chuva e um carro jogou água suja nela. Decidiu não se aborrecer e recompor-se no tranquilo ambiente familiar. Comprou lasanha e um saco de pães fresquinhos. Entrou pela cozinha, colocou a lasanha do forno e os pães num cesto. Arrumou os cabelos, suspirou, botou um sorriso no rosto e entrou na sala de estar em grande estilo, dizendo: mamãe chegou! Mas aí seu mundo desmoronou. O gato assustou. O cachorro rosnou. O boleto chegou. A diarista faltou. A luz acabou. O ar-condicionado parou. A TV pifou. O calor aumentou. A nona vomitou. A filha escorregou. O vaso quebrou. O neto chorou. O marido peidou. O forno apitou. A lasanha queimou. O sossego acabou. Marinês respirou fundo, abriu a janela, inflou o saco de pães e gritou dentro dele: Xô patrão, xô Metrô, xô carro, xô chuva, xô marido, xô filha, xô nona, xô gato,  xô cachorro, xô boleto, xô diarista. Pôs as mãos para fora, estourou o saco e disse bem alto: Xô problemas! O filho entrou na sala e gritou:

-Mãe, silêncio! Estou no celular com a Camila.

-Você fica quieto, se não eu ponho seu nome dentro do saco!

hInspiração

Vídeo “Mãe, quando eu vou ser branco?

A HISTÓRIA DE LEO – Jacyra Carneiro Montanari

Leo, hoje, um homem de 35 anos, advogado e um grande lutador pelos direitos humanos.

Sentou-se na praça, onde precisamente, há 25anos atrás, estava debaixo de uma árvore chorando, quando alguém sacudiu seu braço. Era sua professora que logo foi perguntando:

- Leo por que está chorando? O que aconteceu?

- Eu quero ser branco, professora. Falei para minha mãe e ela disse que não posso porque nasci negro e vou morrer negro.

- Ela tem razão Leo, mas por que você quer ser branco?

- Porque meus colegas na classe dizem que eu sou feio, negro e pareço um cocô.

- Quem está fazendo isso? Espero que não sejam os meus filhos.

- Não professora, são os outros.

-Eu não quero mais voltar para a escola. É muito ruim professora.

- Você vai voltar para a escola sim. Eu vou falar com o diretor e vamos falar com todos os alunos sobre isso. Vamos acabar com essa estupidez.

UM DIA PARA IR PRO SACO – Laerte Temple

Passou um filme na cabeça de Leo. Ele lembrou que ninguém falava nada, ninguém era culpado de nada. O “bullying” acabou dentro da escola, mas na rua, continuavam a maltratá-lo, recordou Leo.

Leo sorriu ao fazer o seguinte comentário para si mesmo: “A professora não desistiu de mim, foi isso que me ajudou.” Leo acabou indo para as artes marciais com os filhos dela. Foram fazer karatê. O marido da professora frequentava uma academia de karatê. Levou seus filhos e levou

Leo também.

Leo se lembrou de uma fala da professora:

- Todos nós temos uma força interior, só é preciso liberar. Você também tem Leo. Só você pode fazer isso, mais ninguém. Eu apenas estou mostrando um caminho. Existem outros caminhos que você pode procurar. Pode ser na religião, na ioga, na terapia etc.

- Professora eu já vou pra igreja com minha mãe. Eu quero de fazer karatê com seus filhos.

E foi assim que Leo começou a entrar em contato com a sua força interior. Não faltava nos treinos e aos poucos foi aprendendo a importância de saber usar a sua força não para acabar com o outro, mas aprender a conviver com o outro, aceitando-o como ele é. Conforme mudava de faixas no karatê, mudava também o respeito por si próprio e passou a perceber que tinha o respeito do outro.

O modelo na construção da sua vida foi Nélson Mandela, que prezava pelo ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas possam viver juntas em harmonia e com iguais oportunidades. Com esse pensamento, Leo se formou em direito e hoje luta por isso, sem sangue, mas com amor e com respeito ao outro.

QUANDO SEREI BRANCO? – Jacyra Carneiro Montanari

Quando eu serei branco?

Um menino perguntou

Branco não serás nem no tranco

Sua mãe, sem sorrir, o olhou.

Filho! Você negro nasceu

Sua cor vai ter que aceitar

Você já agradeceu

De nesta vida estar?

Filho olhe para você

Você andar e pode ver

Olhe o céu: o que se vê?

A beleza do anoitecer.

Ligue o seu celular

Além de ver, pode ouvir

E também até falar

Quantos estão sem conseguir!

Veja o quadro como é belo

Suas cores estão a vibrar

É o negro sem paralelo

Que o finaliza para brilhar.

Lute pela sua cor

Para o branco amadurecer

Uma luta com muito amor

Vá em busca do humano ser.

TEM COISA PIOR QUE PRECONCEITO? – Laerte Temple

Mauricinho, 11 anos, foi chamado à sala da Diretora mais uma vez e pelo mesmo motivo. Na antessala, viu a patota reunida e deu um “salve” debochado ao Jerson Cocô, Rita Rolha de Poço, Takeo Pario, Ari Ferrugem e Eva Rodapé. A Assistente Social Rosa, a Mona Enrugada, o recebeu de cara amarrada e disse que a conversa seria gravada. Ela ligou a câmera, disse data, hora, nome dos dois e perguntou por que ele apelida e goza os coleguinhas. Mauricinho explicou sorrindo:

• O Jerson, com “J”, é negro, feio e tem cara de cocô. A Rita, se cair num poço, entala na boca. Ela parece uma rinoceronte prenhe. O Takeo, japinha, 4 olho e com esse nome, que apelido teria? O Ari tem a cara pintada e cabelo cor de água de salsicha. É ferrugem ou zarcão. Eva é tão nanica que nem precisa se abaixar para pintar rodapé.

• Por que eu sou a Mona Enrugada?

• Bem, a senhora já foi Monalisa há uns 30 anos.

• Eu tenho apenas 29, seu mal educado.

Rosa disse que apelidar e zoar os colegas é bulling. Ofende as pessoas. Só porque ele é loiro, alto e de família rica, não pode ofender os demais. Após a última reunião com pais, professores e alunos, várias famílias procuraram a Diretora, que pediu para ouvi-lo e tentar a convivência pacífica. Gostamos de todos vocês. Ela parou de falar quando viu o garoto se afundar na poltrona, com lágrimas nos olhos. Ele disse que tem muita raiva de toda a patota.

• Raiva, Mauricinho? Por que? O que eles fizeram?

• Eles têm pais carinhosos e atenciosos. Eu vim com o motorista da família que ficou o tempo todo no celular vendo foto de mulher pelada.

• Por que sua irmã não veio com você?

• A Pat e a Marta só pensam no tal açúcar instável.

• Acho que você quer dizer União Estável.

• Isso mesmo. E as duas brigam comigo o tempo todo. Eu tenho brinquedos caros, computador, celular, roupas boas, mas quem cuida de mim é uma babá asquerosa e um motorista galinha. Eu invejo porque eles têm pais sempre presentes e eu não.

• Seus pais trabalham em Brasília, né? Parece que são importantes.

• Meu padrasto é empreiteiro e foi enrolado na Lava Jato.

• O termo certo é Arrolado.

• Isso. Ele até foi preso. Minha mãe é Deputada e envolvida em duas CPIs por corrupção. Tenho vergonha deles e desconto nos colegas.

• O que você espera do futuro?

• Quero ser órfão de pai e mãe!

• Nossa, Mauricinho. Até arrepiei. É tão ruim assim?

• É senhorita Rosa. Isso é tão ruim quanto sofrer bulling. Rosa abraçou e chorou com ele. Quando deixou a sala, olhos marejados, encontrou a patota que acompanhou a conversa pelo circuito de TV.

Mauricinho recebeu um carinhoso e demorado abraço coletivo, pediu perdão e jurou se comportar. Agora ele tem muitos irmãos, de diversas cores e tamanhos.

A VIDA TEM… – Márcia Barrozo

A vida tem dessas coisas.

Coisas que não devia ter.

Tem gente que não entende gente.

Tem gente que machuca gente.

Tem gente tão infeliz que faz o contrário

Do que devia fazer.

Filhinho... Vem pro meu colo!

E chora o quanto te for preciso

A tristeza tanto dói e a gente chora.

A gente conta o que ao coração aflige...

Me diz, então, meu pequeno

O que te faz assim sofrer?

A vida tem dessas coisas.

Coisas que não devia ter

E o que fazer dia e outro com isso?

Não! Não é fácil se proteger

Mas falar e pensar é um bom começo

Pra aos poucos mais forte a gente ser.

Quem desanda a machucar

Entenda, não teve este carinho.

Não teve este colinho

Não aprendeu consideração.

Quem agride e não sabe ser amigo

Coloca em perigo o próprio coração!

E, agora, que tal outro consolo?

Vamos lá pra cozinha

Fazer um bolo gostoso?

Pega a tigela, farinha, açúcar e ovo.

E tá vendo como fica a mistura

Quando se põe o chocolate?

Mamãe! Mamãe! Agora entendi!

Já sei duas coisas importantes:

Quero comer esse bolo com meus amigos...

E se alguém falar de novo

Que eu sou da cor do cocô

Eu sei o que vou dizer…

Cor de cocô que nada!

A mais pura verdade

É que eu sou da cor

Do bolo de chocolate!

A vida tem dessas coisas.

Coisas que precisa ter.

Gente que entende gente.

Gente que acolhe gente.

Gente que faz justinho

O melhor que pode fazer.

PRÉ-CONCEITO OU PRECONCEITO - Yara Pinaffo

Nelson Mandela, um ícone da luta pelos direitos civis, afirmou que o

ódio não é uma emoção inata, mas sim aprendida. Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor de sua pele, sua origem ou religião. Ao invés disso, o preconceito é algo que é ensinado e pode ser desaprendido.

Isso significa que podemos ensinar o amor, a empatia e a compaixão, em vez do ódio e do preconceito. Infelizmente, muitas pessoas ainda são vítimas de preconceito por causa de sua cor de pele, sua origem ou sua religião. Nascer preto e pobre já é um fardo, e a luta para superar os preconceitos é constante.

A sociedade olha de forma diferente para o preto e o branco, e isso muitas vezes resulta em desigualdades na vida cotidiana.

Embora vivamos em uma sociedade que se diz democrática, ainda existem barreiras para a igualdade. As oportunidades não são iguais para todos, e as pessoas são rotuladas pela cor de sua pele, gênero, orientação sexual, ou pela forma como se vestem. Isso pode resultar em discriminação e exclusão, e muitas vezes pode impedir as pessoas de alcançar seu pleno potencial.

Mesmo com leis antirracismo e o reconhecimento de que as pessoas não devem ser julgadas por sua aparência externa, ainda há um muro de preconceito que persiste em nossa sociedade.

Precisamos nos unir para derrubar essas barreiras e lutar por uma sociedade verdadeiramente justa e igualitária, onde todas as pessoas possam prosperar e alcançar seus sonhos, independentemente de sua cor de pele, origem ou religião. Somente então poderemos alcançar a verdadeira liberdade e igualdade para todos.

AO MENINO - Leonardo Levy

Você é muito mais do que pensa, Muito, mas muito mais do que os outros dizem.

Você é humano, Pedaço de Deus, Abençoado.

Fazendo a diferença, Veio para mudar o mundo, Ensinar o bem aos outros,

Desmascarar o racismo.

Filosofa aos 5 anos, É um poço de bondades.

Profundo e perspicaz, Ama sua escola.

Denuncia os desajustados.

Você está pronto, Para viver na nova sociedade.

Chega de discriminação!

Chega de ´preconceitos! Obrigado por existir, Já fez a diferença, onde muitos se arrastam.

FIM DA PRIMEIRA PARTE

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