Periódico Para Rir e Aprender
Manaus, Abril 2014 – Edição 91 – Ano 8
MENSAGEIRO DAS TREVAS
Mensagem ao Leitor
N
Prezados Prevencionistas, Nesta edição teremos uma salada de informações: OHSAS 18001, EPIs, Ergonomia, e muito mais. Além disso, trechos dos três livros indicados neste mês. Então comece a degustar com toda a gula e sem medo, pois conhecimento alimenta, mas não dá indigestão. Prof. Mário Sobral Jr.
o mês de março, com o evento Caravana Proteção em Manaus, tive a oportunidade de conhecer o grande Prevencionista Cosmo Palásio Jr e rever o informadíssimo Eng. de Segurança Armando Campos. Na semana seguinte, mais uma grande presença de referência, o Médico e Ergonomista Hudson Couto. E nestes encontros não podemos deixar de aprender. Um conselho do Cosmo Palasio que achei valioso é relacionado à capacidade dos profissionais de Segurança do Trabalho, em boa parte do tempo, de se portarem como verdadeiros “mensageiros das trevas”.
Boa Leitura! Este mês foi de leitura intensa e não posso deixar de compartilhar estes três livros. O primeiro é do Cosmo Palasio com leitura que de tão agradável, parece um romance para nos fazer pensar em SST. Em seguida o livro do Armando Campos sobre CIPA. Sua qualidade pode ser percebida pelo número de edições, acabou de lançar a 22a edição. Por fim, um livro que vai fazer você mudar seus paradigmas e entender a importância do comportamento para ter resultados com a Segurança do Trabalho.
ANALISE OS RISCOS
Conforme comento no texto ao lado, a Caravana da Proteção em Manaus serviu para muitas reflexões e durante um bate papo no intervalo das palestras (sempre aproveite ao máximo os intervalos dos eventos, muito conhecimento é gerado nestes momentos) o Engenheiro Armando Campos destacou a importância de sólidos conhecimentos para se conseguir realizar uma Análise de Riscos e da tristeza ao perceber que o descaso sobre o tema é frequente entre os profissionais prevencionistas. Na verdade, é interessante o quanto damos valor para os conhecimentos em Higiene Ocupacional, Ergonomia, dentre outras disciplinas, mas em boa parte das vezes não colocamos, pelo menos, em um mesmo patamar os conhecimentos relacionados às Análises de Riscos. Precisamos ter em mente que apenas com Análises de Riscos bem feitas seremos capazes de identificar e consequentemente possibilitar um direcionamento para as análises quantitativas ou qualitativas, para posteriormente ser possível estabelecer um critério de prioridade e a gestão do sistema por meio de medidas adequadas, ou seja, este tipo de conhecimento tem o “poder” de evitar acidentes. Lógico que para conseguir realizar uma Análise de Risco adequada é preciso, além de conhecer a Higiene e a Ergonomia citadas, ter o domínio de todas as demais disciplinas e principalmente ter habilidade com a metodologia a ser utilizada para um levantamento adequado. Então acredito que um bom conselho seja: continue seus estudos, mas passe a dar uma atenção diferenciada para as análises de risco realizadas e aprofunde os estudos neste campo.
Autor: Mário Sobral Jr – Engenheiro de Segurança do Trabalho.
Contatos:
Dia a Dia da Prevenção - Ed. Senac Cosmo Palasio de Moraes Júnior Que é isso, professor? Faço minhas orações diariamente, não tenho nada com as trevas! Pense bem, meu filho. Quando vamos dar uma notícia à alta direção ou fazemos relatório sobre um ocorrido, o que em geral é esperado pela nossa chefia? Você acredita que ele espera boas notícias? Pode ter certeza de que ao ver você chegar, como por reflexo ele tem uma ligeira dor de cabeça e pensa de imediato: lá vem o cara que só me traz as desgraças. Isto acontece de forma quase generalizada, pois não temos o hábito de informar o que fazemos de positivo ou o que temos de positivo na empresa em que trabalhamos. Isto pode ser bem exemplificado nas atas da CIPA, um festival de sinistros e reclamações. Pense um pouquinho, o que custa solicitar para que os cipeiros, além dos problemas de segurança do trabalho, tragam situações positivas para que possam ser compartilhadas? Mas para que mesmo, professor? Meu filho, ao divulgar o positivo geramos bons exemplos que podem passar a ser seguidos, atenuamos a imagem de cavaleiro do apocalipse e de quebra, ainda conseguimos ajudar nas fiscalizações ou perícias, quando percebem que nem só de sinistros vive o SESMT e consequentemente a empresa.
Autor: Mário Sobral Jr – Engenheiro de Segurança do Trabalho.
www.jornalsegurito.com
Jornal Segurito
CIPA Uma nova abordagem – Ed. Senac a Armando Campo – 22 Edição
Mudança Cultural Orientada por Comportamento – Ed. Qualitymark José Luiz Lopes Alves e Luiz Carlos de Miranda Júnior
PIADINHA - Tenho uma boa e uma má notícia. - Qual a má doutor? - Vamos ter que amputar as suas pernas. - E a boa? - Tem uma cara lá fora que quer comprar o seu tênis.
jornalsegurito@bol.com.br
JORNAL SEGURITO
INVESTIMENTO SEGURO
PREPARADOS PARA SUBIR OS DEGRAUS
Apesar de ainda não termos os E mpresa responsável atrai investimentos profissionais de segurança do trabalho em e, também, quem diria, economiza. A ABNT publicou em dezembro de 2010 a norma NBR 18801 sobre Sistema de Gestão da Segurança e da Saúde no trabalho. A NBR foi criada a partir de outra norma internacional sobre o assunto, a OHSAS18001. A norma foi desenvolvida pelo BSI (British Standard Institute), em conjunto com organismos nacionais de normalização e algumas empresas certificadoras, uma vez que a ISO decidiu não fazer uma norma de saúde e segurança seguindo o modelo ISO 9001, como havia feito a ISO 14001 para a gestão ambiental.
Empresas interessadas em demonstrar ao mercado sua preocupação com a SST estão buscando a certificação do sistema implantado junto às entidades certificadoras da área da qualidade, de forma similar à certificação pela ISO 9000. O documento contém cinco seções principais: política de Segurança e Saúde Ocupacional, planejamento, implementação e operação, verificação e ação corretiva e análise crítica pela direção. A NBR 18801 foi estruturada para ser compatível com as séries ISO 9001 e ISO 14001. Dessa maneira, há uma série de requisitos que são comuns a estas normas, mas há também requisitos específicos da NBR, como: identificação de perigos, análise e controle de riscos, controles operacionais, preparo para emergências, investigação de acidente e incidente. Para dar um tempo para as empresas se prepararem para a implantação ficou decidido que a norma só vai entrar em vigor no ano de 2014.
uma posição de destaque em boa parte das empresas, ainda assim, podemos afirmar que houve uma evolução deste profissional. No início éramos apenas uma obrigatoriedade legal que as empresas tinham que engolir. Professor, aqui na minha empresa continua assim! É meu filho, apesar de saber que esta situação ainda é uma realidade em muitas empresas, acredito que atualmente não é uma situação generalizada. Em uma segunda etapa, passamos a ser contratados para sermos um cão de guarda de EPIs (e infelizmente muitos acreditam ser esta a nossa função). A visão acabou amadurecendo mais um pouco e passamos a ser vistos como os responsáveis para conseguir atender às Normas Regulamentadoras e demais legislações relacionadas. Na próxima etapa, começaram a perceber que para resolver os problemas de Saúde e Segurança do Trabalho da empresa não bastava apenas atender à legislação. Era necessário estabelecer procedimentos internos e boas práticas que complementassem as normas oficiais. E apesar de termos empresas espalhadas pelo Brasil, em cada um das etapas apresentadas, percebo que poucas estão
na etapa que é um degrau acima. Que seria o da Segurança do Trabalho como um setor estratégico para empresa em condições de igualdade com os demais setores. Com as empresas conscientes da importância deste profissional não apenas para a saúde dos funcionários, mas para a saúde financeira da empresa.
No entanto, tem um detalhe importantíssimo que é preciso destacar. Hoje boa parte dos profissionais não têm as condições necessárias para ser este profissional estratégico. Não adianta a empresa como por encanto perceber a necessidade dos prevencionistas, se boa parte destes profissionais continuam atuando apenas como inspetores de EPIs, ou decoradores de normas, sem a visão de gestores que precisam ter argumentos técnicos e financeiros para contribuir para a empresa e para manter a saúde do trabalhador.
Autor: Mário Sobral Jr – Engenheiro de Segurança do Trabalho.
MUDANÇA CULTURAL
O
s treinamentos têm sido feitos colocando as pessoas todas juntas no mesmo ambiente, com o mesmo instrutor, transmitindo as mesmas coisas, do mesmo jeito, para todas elas. Isto tem sido o paradigma dos treinamentos. No final da formação, o instrutor passa uma folha de avaliação na qual as pessoas marcam com um X em uma figura mais ou menos sisuda ou alegre. Em muitos questionários as pessoas dizem que faltou tempo. O que isto significa e o que fazer para melhorar?
Fonte: Marcos Oliveira, diretor da ISOQUALITAS – www.qualitas.eng.br, conselheiro da ABRH-BA.
E na palestina... Mesmo com uma infinidade de treinamentos, alguns incidentes se repetem, infelizmente. Muitos são causados pela ineficácia das recomendações, apesar do grande esforço para defini-las, das melhores intenções das equipes de investigação, e da própria diretoria das empresas. Isto causa uma profunda angústia. Ter a certeza de que se está investindo, mas sem conseguir os
resultados esperados, pelo menos não na velocidade sonhada. Aí entra o segundo ponto-chave: desenvolver os treinamentos levantando-se em conta as dinâmicas de funcionamento das pessoas. Os indivíduos aprendem, se desenvolvem, interpretam e seguem as atitudes dos líderes, constroem novos modelos mentais, se comunicam, trabalham em equipe, de forma bem diferentes. Alguns aprendem lendo. Outros muito mais ouvindo e muito menos lendo. Alguns precisam de um tutor ao lado. Outros preferem aprender no início solitariamente. Alguns apresentam uma taxa de ganho de conhecimento rápido no início, outros são mais lentos, apesar de atingirem o mesmo nível no final. Suas estratégias são diferentes. Contudo, sofrem normalmente com a carência de um processo mais inteligente, que tenha como centro o aprendiz e não o instrutor. O que sugerimos aqui é que, depois de identificados os eixos de ação , é preciso customizar os treinamentos e, mais, realizar um Plano de Desenvolvimento. Um processo de autoidentificação das “dinâmicas e diversidades de funcionamento” das pessoas pode ser uma boa alternativa.
Livro:
Mudança Cultural Orientada por Comportamento – Ed. Qualitymark - José Luiz Lopes Alves e Luiz Carlos de Miranda Júnior
JORNAL SEGURITO
CABEÇA NO TERCEIRO
Vez
por outra recebo uma ligação perguntando sobre como agir em relação aos terceiros, eles estão sem documentações, sem EPIs e já estão trabalhando na empresa, sou mesmo responsável por eles? A resposta é óbvia. Lógico que você é o responsável. Então precisamos parar de tratá-los como filhos bastardos e tentar educá-los como os nossos filhos. Ou seja, precisamos estabelecer regras.
O que é necessário ser fornecido pelos terceirizados? Vai depender do tipo de atividade e do tempo de realização do serviço, mas alguns dos principais documentos são os seguintes: ASOs, PPRA, Certificados de Treinamentos de acordo com a necessidade do serviço, como por exemplo: NR 35, NR 10 , NR 33 e etc. Isto deve fazer parte do procedimento de contratação, ou seja, caso seja realizado um serviço com terceiro é preciso que você estabeleça os documentos necessários e informe aos envolvidos que a empresa é responsável pela contratação e problemas relacionados à Segurança dos terceiros. Só um lembrete, se é um terceiro que permanecerá mais tempo na empresa ou mesmo é um terceiro fixo (vigilância patrimonial, cozinha, serviços gerais, etc) é importante que o cronograma do PPRA destes terceiros, faça parte das suas verificações mensais, para avaliar se eles estão realizando o programado.
Autor: Mário Sobral Jr – Engenheiro de Segurança do Trabalho.
Tolerância Zero Na frente do elevador da garagem do seu prédio e chega um que pergunta: - Vai subir? - Não, não, estou esperando meu apartamento descer pra me pegar. No banco com um cheque e pede pra trocar: -Em dinheiro? - Não, me dá tudo em clipes! Acaba de tomar banho e alguém pergunta - Você tomou banho? - Não, mergulhei no vaso sanitário!
ACABOU O EPI
Você
chega na empresa e lá vem o trabalhador se queixar que está sem luvas. De imediato você informa: “olha, o compras atrasou o pedido e o fornecedor acabou não entregando as luvas, mas acho que amanhã está aqui”. Mas precisamos tomar bastante cuidado com as informações. Primeiro devemos lembrar que o problema não foi do setor de compras, mas sim da empresa e é sempre bom ter em mente que você faz parte dela. Segundo, apesar de ser muito fácil passar a culpa para os outros é preciso verificar se não contribuímos para a situação. Como assim, professor? Passei o pedido na semana passada e eles é que não compraram! Ok, pode ser assim, mas vamos ver o que é possível fazer para que isto não ocorra de novo e que o trabalhador, e consequentemente a empresa, não venham a ser prejudicados. Nosso primeiro passo é ter o levantamento do consumo mensal, ou seja, você sabe quantas luvas são utilizadas em média no mês ou apenas faz o pedido quando está acabando? Quando você tem este controle e sabe quanto tempo em média demora para que o setor de compras consiga entregar um pedido fica mais fácil de estabelecer um estoque mínimo, o qual servirá de critério para que seja feita nova solicitação. Além disso, é importante especificarmos
adequadamente o EPI solicitado, desta forma o Compras tem como fazer um pedido com menor probabilidade de erro.
Caso seja possível, até fazer o levantamento com alguns fornecedores e já entregar os custos para o Compras, tenho certeza de que os atrasos diminuirão ou até irão cessar. Ahhh, professor, o senhor já está querendo muito. Tenho mais o que fazer e este serviço não é meu! Entendo o seu argumento, mas tente pensar em um time de futebol, se a zaga é mais fraca o pessoal do meio de campo ou os laterais não vão tanto para o ataque para dar um suporte. E é sempre bom lembrar que o nosso trabalho é manter a segurança dos trabalhadores e no caso de um acidente, tenho certeza de que o primeiro a ser chamado não será o setor de Compras e no final das contas, a culpa será da empresa da qual eu também faço parte.
Autor: Mário Sobral Jr – Engenheiro de Segurança do Trabalho.
TREINAMENTO PARA QUEM? U
m dos melhores momentos na atuação como consultor na área de Prevenção de Acidentes é quando encontramos aquele cliente que vai logo dizendo que deseja se livrar dos problemas da Segurança do Trabalho. Agora, depois que a vida nos ensinou uma porção de coisas, que o dia a dia nos fez mais tolerantes e compreensivos, acabamos entendendo que não estamos diante de uma pessoa má – como pensávamos tão simploriamente quando éramos mais jovens -, mas apenas de uma pessoa que certamente ainda não teve tempo para refletir sobre o verdadeiro significado da prevenção. Na verdade, essa pessoa, na sua ótica, tem lá suas razões. São anos e mais anos pagando caro por porções de papéis, dias e mais dias cumprindo normas que não entende. É cega para o assunto e reage como quem está cumprindo uma obrigação e não se interessa pelo assunto. Muitas vezes, o que impede que isso mude é a nossa crueldade de especialistas. Começa por nossa imaginação de que todas as pessoas sabem todas as coisas. Depois passa pela ideia de que todo empresário ou chefe é mau e deseja explorar os trabalhadores – as pessoas
podem até ir um pouco além, mas, com certeza, não desejam conscientemente adoecer, ferir ou matar pessoas. É interessante como repetimos o velho bordão da educação para a prevenção, mas equivocadamente, achamos que isso se aplica apenas aos trabalhadores.
Creio que apenas em nossa imaginação todos aqueles que têm seu próprio negócio ou mesmo aqueles que são chefes receberam informações e treinamentos quanto à prevenção – só mesmo na nossa imaginação, pois na realidade é provável que exista mais informação sobre prevenção de acidentes no chão de fábrica que nos escritórios e salas da direção.
Livro: Dia a Dia da Prevenção - Ed. Senac Cosmo Palasio de Moraes Júnior
JORNAL SEGURITO
DIFERENÇA PROFISSIONAL NO TRABALHO
O bservando
as diferenças profissionais dos colegas de trabalho, vou cada vez mais percebendo que somos parte de um grande quebra-cabeça, em que cada pequena peça tem a sua forma, mas que fica incompleta quando só... Assim sendo, podemos dizer que os Serviços Especializados em Segurança do trabalho, são espaços onde se trabalham com grandes diferenças. Cada um com suas possibilidades e limitações, com sua maneira de ver e sentir o mundo. Cada um precisando do outro para que o quebra-cabeça da vida seja montado e plenamente vivenciado.
Por isso, faz-se necessário reconhecê-las e valorizá-las, não ignorando ou segregando um indivíduo, mas orientando e oportunizando, pacientemente, meios para que ele aprenda na prática, sem massificar o que é ensinado. Assim, a aprendizagem será evidenciada de várias maneiras, mostrando que cada um aprende no seu ritmo e no seu tempo, mas que todos aprendem, porque na diversidade vivemos, crescemos e aprendemos a compreender o outro, mas sempre demonstrando interesse pelo serviço. Cada um, com sua experiência vivencial, constrói uma história junto ao outro; uma história de erros, acertos, certezas, incertezas, tropeços e firmezas que favorecerão novos caminhos, outros sonhos e tantas valiosas descobertas, pela experiência da diversidade funcional... Até porque a vida pessoal e profissional acontece de maneira diferente e que juntos podemos enriquecê-la a cada dia! Para todos aqueles que fingem não querer entender.
Autor: Márcio Santiago Vaitsman – Técnico de Segurança do Trabalho e criador do blog http://conselhoeseguranca.blogspot.com.br
+ Tolerância Zero Um amigo liga para sua casa e pergunta: - Onde você está? - No Polo Norte! Um furacão levou a minha casa pra lá! Quando você acaba de levantar, aí vem um e pergunta: - Acordou? - Não... Sou sonâmbulo!
INCLUSÃO PARA TODOS
N o mês de maio tive a oportunidade de
assistir o treinamento de uma das referências da Ergonomia no Brasil, Dr. Hudson Couto e entre os diversos ensinamentos, resolvi destacar um comentário sobre a necessidade de usar a Ergonomia como ferramenta de inclusão. Quando ele começou a falar sobre inclusão logo me veio à mente um cadeirante, rampas, sinalizações. Na verdade, o alerta dele era mais amplo. A inclusão citada não era direcionada à minha visão cartesiana de cadeirantes, trabalhadores com perda auditiva ou perda visual. Alertou sobre a tendência de a população trabalhadora estar a cada ano em uma faixa etária mais envelhecida. Como consequência, se as empresas continuarem direcionando as contratações das atividades para trabalhadores jovens, em função dos esforços necessários por falta de investimentos de melhorias em Ergonomia, dentro em breve, estes jovens estarão doentes e os mais velhos não terão condições de realizar as mesmas atividades em função das exigências do tipo de trabalho e das limitações físicas deste trabalhador. Além disso, como o professor Hudson nos faz lembrar a todo o momento, o ser
humano não é “filho de empilhadeira com guindaste”, ou seja, mesmo quando jovens não fomos concebidos para a força bruta, mas sim para pensar.
E as empresas que despertam para esta realidade, conseguem utilizar deste pensar em conjunto com a Ergonomia e fazer com que os postos de trabalho sejam realizados por todos, em qualquer faixa etária ou limitação e de “brinde” junto com estes dois braços mais aliviados ganham cérebros mais reforçados para contribuir para o próprio desenvolvimento. Este pensamento não é benéfico apenas para as empresas, mas também para o país, pois com postos “inclusivos” a população poderá permanecer trabalhando por mais tempo sem os adoecimentos precoces que cada vez mais sobrecarregam o sistema previdenciário.
Autor: Mário Sobral Jr – Engenheiro de Segurança do Trabalho
POR TRÁS DO ATO INSEGURO
O
paradigma de que o trabalhador é culpado, a partir de março de 2009, pela Portaria no 84, começa a ser mudado, pois foi retirado da letra “b” do item 1.7, da NR01, a referência ao ato inseguro, ou seja, este termo não consta mais da legislação trabalhista. Trata-se de um avanço, porque a cultura existente no país induzia os prevencionistas para longe do alvo das causas, raiz dos acidentes.
Todo acidente tem causas imediatas, causas básicas e principalmente causas gerenciais. Afinal, segurança não é prioridade (porque ela não acaba); ela faz parte do negócio da empresa. A causa gerencial existe porque segurança deve ser encarada de forma sistêmica contingencial, ou seja, um conjunto ordenado de meios de ação, tendente a um resultado, sempre pronto para prever ou atender um evento indesejável como o acidente ou doença (profissional ou do trabalho). As condições imediatas são o ato inseguro e as condições inseguras. O ato está relacionado com a violação de um procedimento seguro (ex: não usar
protetor auricular em ambiente ruidoso, ficar sob cargas suspensas, ou dirigir perigosamente, ou inutilizar dispositivos de segurança, etc.). A condição insegura é uma “armadilha” que existe o ambiente de trabalho e que pode comprometer a integridade física dos trabalhadores. Por exemplo: correias sem proteção, passagens de ambientes muito claros para ambientes escuros; poças de óleo no chão; ambiente com muito material espalhado pelo chão; vãos livres sem guarda-corpo em obras; pisos irregulares ou escorregadios, etc. Diante do exposto, temos a informar que o ato inseguro não deixou de existir, apenas se descobriu o óbvio: ele é a ponta do processo. Por trás do ato inseguro existem muitas variáveis (...) Para melhor compreensão apresentamos nove causas básicas. 1. Falta de conhecimento ou treinamento; 2. Posto de trabalho inadequado; 3. Falta de reforço em práticas seguras; 4. Falhas de engenharia (projeto e construção); 5. Uso de equipamento de proteção inadequado; 6. Verificações e programas de manutenção inadequados; 7. Compra de equipamentos de qualidade inferior; 8. Sistema de recompensa inadequado; 9. Métodos ou procedimentos inadequados.
Fonte: CIPA – Uma nova abordagem – a Armando Campo – Ed. SENAC – 22 Edição.