Brasil
É preciso ocupar o medo
Marcos Santos | USP Imagens
martina cavalcanti revista@cidadenova.org.br Um país sob o olhar da fraternidade
segurança Diante dos alarmantes índices de violência no país, a sensação de insegurança cresce a cada dia entre os brasileiros. Mas trancar-se em casa não vai resolver o problema e pode até piorá-lo
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ma semana após a rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, as ruas do centro da cidade estavam desertas em ple na sexta-feira à noite. “Antes era 4 da manhã e o samba ainda estava correndo solto. Agora todo mundo tem deixado de sair por medo”, me conta o garçom de um tradicional bar manaura. “Inclusive o dono do bar está fechando mais cedo, por que o negócio sofreu um arrastão na s emana passada.” Depois de procurar em vão por um lugar aberto, eu e meus amigos
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Cidade Nova • Maio 2017 • nº 5
engolimos nossa vontade de sair para nos divertir. Voltamos ao hotel sem conhecer propriamente a vida noturna da região e alarmados pelo clima de insegurança. Essa é apenas uma dentre as mui tas mudanças de comportamento provocadas pelo medo da violência. É cada vez mais comum deixar de sair à noite, apertar o passo quan do um estranho se aproxima, evitar circular por certas ruas e bairros e até trocar de residência ou mudar os filhos de escola. Sete em cada dez brasileiros já tomaram algum desses cuidados,
deixando de aproveitar aspectos da cidade e da vida nos últimos três anos, segundo pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indús tria), publicada em março deste ano. Não é por menos. De acordo com o estudo encomendado ao Ibo pe, oito em cada dez cidadãos foram expostos a pelo menos uma situa ção causadora de insegurança, ape sar de um número inferior – quatro a cada dez – ter sido vítima direta de atos violentos. A criminalidade no 15° país mais violento do mundo assusta e, en quanto o medo nos une, este mes