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Entrevista - José Batista de Oliveira
ENTREVISTA José Batista de Oliveira – Presidente da ABIP
Revista Panifi cação Brasileira - A Pandemia do Covid-19 assustou todos os países e de igual modo, o Brasil. Olhando pelo "retrovisor", o momento foi de incertezas e falhas na comunicação. Algumas ações pretendendo preservar as vidas, foram tomadas, dentre elas o isolamento social. Isso afetou diretamente as padarias no Brasil. Como enti dade nacional, a ABIP respondeu rapidamente ao momento que as padarias estavam passando. Quais medidas foram tomadas?
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José Bati sta Oliveira - Sim a ABIP tomou várias iniciati vas. O primeiro movimento foi a criação do grupo de prevenção de crise. Deste grupo parti cipam os diretores das cinco regiões brasileiras e tem como objeti vo acompanhar os acontecimentos da PANDEMIA e em conjunto construir alternati vas para enfrentamento deste momento. Já na primeira semana da quarentena, fi zemos um comunicado às nossas enti dades e a autoridades mostrando que a padaria é um serviço essencial e como tal tem que permanecer aberta. Este comunicado gerou informações para a ABIP de que uma cidade do sul do país e do interior de São Paulo, o prefeito ti nha determinado o fechamento das padarias. Fizemos um comunicado do diretor ao Prefeito e conseguimos reverter esta proibição de funcionamento. Realizamos várias vídeo conferências com consultores, diretores da ABIP, especialistas e fornecedores e levamos a diversas cidades brasileiras muita informação e exemplos práti cos, que ajudaram a esclarecer ati tudes e ações pró ati vas que pudessem ajudar as padarias a terem um impacto menor nesta crise. Foram criadas diversas carti lhas com conteúdo de orientação quanto a não contaminação e higiene, minimizando os riscos da equipe das padarias e clientes. Outras carti lhas foram focadas na organização e implantação do delivery e ampliação para o bairro dos produtos e serviços das padarias. Todo este material está disponível no site da ABIP. Fizemos ainda uma parceria com a epadoca, um aplicati vo de venda remota e sabemos que ajudou muito as padarias. Destacamos a atuação dos nossos máster
consultores EMERSON AMARAL e MÁRCIO RODRIGUES que deram grande contribuição ao setor de panifi cação neste momento. Destaco ainda, as diversas informações que os diretores da ABIP de todo o país postaram no WhatsApp de forma a disseminar os aprendizados e assim ajudar as padarias. Destacamos aqui o empresário JOÃO GALDINO de Recife que deu uma grande show com resultados diferenciados na sua operação de venda e entrega delivery. Nosso setor trocou muita informação e a ABIP e as enti dades de panifi cação fi liadas ti veram uma fantásti cas ação pró ati va.
Revista Panifi cação Brasileira - Nesse primeiro momento, quais reinvindicações a ABIP levou para os órgãos governamentais e qual foi a posição tomada? José Bati sta Oliveira - Foram muitas as reinvindicações da ABIP, feitas à CNI, ao Ministro da Economia Paulo Guedes e seus assessores, ao Presidente da República e também à ABITRIGO e à Ministra da Agricultura. Foram elas: •Desoneração de encargos sociais e tributos sobre a folha de pagamento. •Suspensão por maior tempo da cobrança do SIMPLES e FGTS, criando REFIS específi co. •REFIS para todos os impostos que esti verem em dívida ati va. •Linha de fi nanciamento urgente e de fácil acesso ao crédito, com juros subsidiados. •Aplicação da Lei LAY OFF. •Reti rada da TEC e do Fundo da Marinha Mercante. •Redução de salário ou da jornada de trabalho, com remuneração proporcional, em até 50%, por um período de 6 meses, sem necessidade de instrumento coleti vo de trabalho (ACT ou CCT) ou acordo individual. •Desobrigação da multa do FGTS. •Liberação do FGTS. • Parcelamento em até 10 vezes das rescisões contratuais de trabalho, sem a necessidade de instrumento coleti vo de trabalho (ACT ou CCT) ou acordo individual de trabalho. •Dispensa de Exame Demissional. •Suspensão por 90 dias da cobrança das Concessionárias de serviços públicos de Água, Eletricidade e Gás com pagamento posterior em seis parcelas. •Linha de crédito com taxa SELIC. •A disponibilidade de dez bilhões de reais para o setor de panifi cação e confeitaria. •Aval do fundo garanti dor do Tesouro Nacional. •Sem exigência da CND. •Carência de 24 meses para começar a pagar. •Parcelamento em até 60 meses. •Tratamento diferenciado no preço do saco de 25 quilos de farinha de trigo, comercializado para pequenas empresas até novembro, tendo em vista a grande alta do preço do trigo no mercado e câmbio do dólar. •Criação de uma políti ca de triti cultura no Brasil e assim cortar nossa dependência da Argenti na na compra de trigo. Algumas dessas reinvindicações foram atendidas e outras precisam ainda de resposta, a exemplo da criação de uma políti ca efi caz de triti cultura.
Revista Panifi cação Brasileira - De maneiras diferentes em cada estado e cidade, o processo de fl exibilização está sendo aplicado. Quais orientações a ABIP está dando aos panifi cadores brasileiros? José Bati sta Oliveira - O papel das Enti dades de panifi cação estaduais neste momento são imprescindíveis, pois elas conhecem com profundidade a realidade das padarias nas diversas cidades pelo interior do pais. A ABIP já preocupada com este momento da fl exibilização e pós pandemia, criou junto com o SEBRAE NACIONAL uma carti lha visando esta orientação às enti dades e principalmente às padarias. Esta carti lha foi fi nalizada e será disponibilizada às enti dades de panifi cação e às padarias de todo o pais.
falado do "novo normal". Como você faz a leitura desse tema e como ele afeta a panificação brasileira? Temos a clareza que o mundo será diferente e o comportamento do consumidor irá mudar de uma forma expressiva. As padarias precisarão observar esse novo comportamento e hábitos de consumo e terão que fazer sua adequação ao novo momento. Iremos assistir a ampliação de produtos panificados e vendidos embalados, às restrições ao self service, a ampliação do comércio on-line e do delivery, a procura por produtos pré-assados e congelados, produtos com Shelf Life ampliado. A Quebra da fidelidade a marcas tradicionais. A concorrência ampliada com MEI, famílias se reinventando para sobreviver financeiramente, vendendo produtos feitos a partir de receitas de família. Tudo isto irá colocar as padarias em um processo de reinvenção para adaptar-se ao novo normal.
Revista Panificação Brasileira - As padarias estavam começando a sentir melhoras nos negócios, ou seja, ainda não estavam tendo a melhor condição de mercado para atuarem. Com o surgimento da pandemia, as padarias foram impactadas no faturamento. Quais caminhos os panificadores podem tomar para atuarem nesse "novo normal" e recuperarem o faturamento? José Batista Oliveira - Algumas estratégias são focais para uma recuperação mais rápida do faturamento. Uma redução do mix de produtos, focando na fabricação de produtos que mais vendem de acordo com a curva ABC. É preciso ampliar a produtividade ganhando no volume de produção X mix menor. A revisão de todos os custos, a implantação da gestão de perdas. O setor de panificação terá que voltar a fazer conta de perdas pequenas que vão desde a chegada da mercadoria, passando pela estocagem, acondicionamento, pré-pesagem e gestão minuciosa entre o volume de produção X a venda na loja. Aqui é importante ressaltar que as padarias que têm a tecnologia do frio irão ganhar não só na produtividade, mas principalmente na redução de perda, ao gerenciar adequadamente seu estoque de produtos congelados enviados para assar, Revista Panificação Brasileira - Hoje quais linhas de crédito estão disponibilizadas pelos bancos e governos? Os panificadores estão conseguindo acessar essas ofertas de crédito? José Batista Oliveira - Sabemos que embora tenha se falado muito sobre a urgência e necessidade de acesso a linhas de crédito, principalmente para o micro e pequeno negócio, isto não aconteceu da forma que de fato atendesse aos pequenos. Existem muitas linhas de credito, mas todas elas com muita dificuldade de ser acessada. Em alguns bancos que são do próprio governo, os empresários não conseguem ter acesso ao gerente, quanto mais acesso ao crédito. Reivindicamos ao governo acesso à linha de crédito, disponibilização de 10 bilhões para nosso setor, tendo um fundo garantidor de crédito às essas empresas em situação de risco. Nossa preocupação no primeiro momento era o capital de giro, que permitisse manter as padarias em operação e pagando seus funcionários. O governo atendeu em parte às empresas brasileiras, mas demorou a trazer clareza. Hoje ainda temos muita resistência dos bancos em emprestar dinheiro aos pequenos e é essa a realidade do setor de panificação em sua grande maioria.
Revista Panificação Brasileira - Várias padarias se mostraram solidárias com os desassistidos, com os profissionais da área de saúde e com pessoas que perderam seus empregos. A ABIP incentivou, promoveu alguma campanha de solidariedade? Ela está em andamento, como funciona e quais resultados alcançados? José Batista Oliveira - Criamos o projeto AJUDA DO CORAÇÃO que está em nosso site. Este projeto nasceu de uma iniciativa da Associação das padarias da Bahia e a ABIP apoiou como sendo também um projeto da ABIP. Consiste na Entidade de panificação estadual solicitar aos moinhos doações de farinha de trigo, para a entidade de panificação, que irá identificar padarias que possam fabricar pães franceses e distribuir para entidades de ajuda a pessoas em situação de vulnerabilidade, além de
pessoas em situação de rua. Naturalmente que as enti dades estão identi fi cando também famílias que passam por difi culdade e estão fazendo doações. O projeto da Bahia saiu na frente e está dando belíssimo exemplo ao país, mas outros estados estão alavancando também essas solicitações e fazendo doações. A ABIP está apoiando a campanha da BUNGE APÃOXONADOS, fazendo divulgação em nosso setor e com isto, a própria Bunge gerencia as doações em função dos resultados desta campanha, com doação de pães para insti tuições sociais.
Revista Panifi cação Brasileira - Nessa fase do "novo normal" como você vê a necessidade de parcerias entre as padarias e os fornecedores. José Bati sta Oliveira - Essa necessidade de parceria é total, ganham os fornecedores, ganham as padarias, ganha o cliente fi nal. Até mesmo essa relação precisará ser revista, novos produtos, matéria prima, novas tecnologias, inovação e principalmente, uma relação de confi ança mais consistente entre todas as partes. Acredito que o óbvio poderá ser mais vivenciado, onde essa relação de interdependência entre os fornecedores e padarias criem um ciclo virtuoso de venda e crescimento. Poderá ser o momento de muito mais união e fortalecimento entre as partes. As padarias dependem dos fornecedores e esses não sobrevivem com crescimento, sem as padarias.
Revista Panifi cação Brasileira - A experiência com o delivery foi um impacto para muitas padarias, mostrando que a transformação digital é algo que deve ser priorizado pelas padarias. Quais a vantagens e desvantagens que a transformação digital pode trazer as padarias? José Bati sta Oliveira - A transformação digital veio para fi car, não tem mais a escolha eu quero ou não quero. As padarias que não compreenderem a força das rede social, do delivery com aplicati vos, de um trabalho digital divulgando produtos e a padaria, perderão muito. O mais impressionante é que a ABIP e as enti dades de panifi cação estaduais, precisarão trabalhar a inclusão digital das padarias, pois existem milhares em todo o país, que precisam de fato, passar pela inclusão digital e chegarem rapidamente às rede sociais e todas as estratégias de marketi ng para chegar ao consumidor. A grande dúvida hoje é se haverá tempo sufi ciente para que essas padarias passem por toda esta adequação digital sem perder o fôlego. A vantagem é colocar as padarias em um novo patamar, em linha com este novo mercado onde a transformação digital trará novos patamares. A desvantagem é afastar o consumidor de dentro da loja e é uma situação preocupante pois quando o consumidor está na padaria, sabemos existem compras por impulso e neste aspecto perdemos, principalmente porque os produtos panifi cados vendem com sua apresentação, com o desejo despertado.
Revista Panifi cação Brasileira - Qual a sua recomendação da necessidade da inovação pelas padarias? José Bati sta Oliveira - Acredito que a palavra de ordem é criati vidade, reinvenção ou inovação, o panifi cador e sua família precisam ampliar sua percepção. A limpeza, organização da loja, layout, produti vidade, novas formas de venda e estratégias de venda, novos serviços e produtos. Minha recomendação é o empresário panifi cador sair de sua loja e conhecer novas realidades, novas forma de atuação, observando a concorrência, quando possível viajar para outros estados ou até mesmo para outros países, parti cipar de congressos, feiras, cursos, palestras e lives. A informação e o conhecimento neste momento de reconstrução do negócio padaria, são fundamentais. Todo o nosso setor vai passar por um momento de descobertas e criação e o panifi cador não pode perder “esse bonde” de redefi nição e criação. Portanto, venham juntos. ......
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