MECAJournal # 21 - Junho/2018

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para além da noite, viva a cultura queer em 08 lugares de sp — pág. 19

o que conhecer, ouvir e assistir este mês, no brasil e no mundo — pág. 04

05 músicas para ouvir em uma noite de climão, por letrux — pág. 05

the biggest smallest cultural platform

MECAJournal Distribuição g ratuita

Número #021 — Junho, 2018

uma voz de respeito

Musa da música pop e convidada especial do MECAInhotim, Pabllo Vittar carrega no corpo e na voz um manifesto por liberdade. pág. 13

[A]

as novas cores do queer ESPECIAL — Para celebrar o mês internacional do orgulho LGBTQ+, o MECA traz uma série de conteúdos dedicados à diversidade sexual — pág. 14 [B]

só as rainhas —

A multiartista Glamour Garcia indica 04 clubes para assistir a performances de drag queens em SP pág. 05

os “imperfeccionistas”

TRENDS — Em parceria com a WGSN, o MECA mapeia, em uma série de matérias e talks, as tendências do comportamento contemporâneo — pág. 08 [C]

MECAInhotim: um guia com todos os shows que vão rolar no festival de 2018 pág. 09

www.meca.love

mecaintro: david galasse mecaradar: 07 artistas para ficar de olho festivais de verão


WELCOME

Programação gratuita no MECASpot

MECATalks toda quinta-feira no Spot Em maio, o MECASpot contou com rodas de bate-papo gratuitas como: “O Boom da Astrologia”, com a rainha dos memes astrológicos Br000na; “Diversidade no SPFW”, com o coletivo Mirrorage e os curadores da semana de moda; “Identidade de Gênero”, com Carolina Del Bue, do Gradient Project e “Dear MECA People — Racismo 101”, com Letícia Guedes e Vagner Soares. Acompanhe a nossa programação semanal de talks no perfil do Instagram: @mecaspot

MECACrew

MECASpot

Andrea Soares, Camilo Raesh, Carol Goulart, Dimas Henkes, Felipe Seffrin, Guil Salles, Helder Ferreira, Fernanda Lensky, Fernanda Branco Polse, Kelly Kimie, Letícia Ippolito, Lucas Pexão, Luisa Dantas, Luisa Martini, Maíra Miranda, Maurício Barcellos, Matheus Barros, Nanda Miranda, Paula Englert, Roberto Martini, Rodrigo Peirão, Rodrigo Santanna, Rony Rodrigues, Thaís Tolentino, Thum Thompson, Wilaize Lenud

Rua Artur de Azevedo, 499 Pinheiros – São Paulo – Brasil, CEP 05404-011 +55 (11) 2538-3516

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Assine o MECAJournal e receba, mensalmente, um exemplar em sua casa. Envie um e-mail para: contato@meca.love

FOTOS CAPA: [A] FERNANDA TINÉ; [B] LUCA WEINGÄRTNER/FEARLESS MAG; [C] BRANDON BARCELLOS/JACARÉ MODA

Vários projetos movimentam a nossa sede em São Paulo ao longo de 2018. O MECASpot se transformou em um mini espaço cultural e educacional, com programação gratuita de palestras, exposições de arte, pocket shows, DJ sets e feirinhas. A casa também recebe regularmente editoras e selos de música independentes, além de especialistas em café e coquetelaria. O objetivo é incentivar a cena da cultura local, desenvolver o mercado, preparar novos profissionais e ajudar na construção de um futuro melhor. Em todos os eventos e palestras, os convidados chegam cerca de 40 minutinhos antes para conversar com o público, trocar contatos profissionais, compartilhar experiências e ideias sobre carreira.


MECAINTRO

david galasse

TEXTO: LUCAS PEXÃO

Em exibição no MECASpot durante todo o mês de junho, o trabalho do artista paulistano parte da precisão do design gráfico para chegar à arte abstrata, com rastros de imperfeição O MECAIntro, série de primeiras exposições individuais de artistas contemporâneos, chega à terceira edição, apresentando o paulistano David Galasse. As pinturas em grande formato são originadas do seu trabalho como designer gráfico, mas se desconectam desse universo projetual para mergulhar no campo da abstração. As obras com formas gráficas em cores chapadas são minimalistas, diretas e, ao mesmo tempo, cheias de detalhes sutis ­— rastros entre o analógico e o digital. E é exatamente esse o não-lugar que elas ocupam. Cada imperfeição, desencaixe geométrico e falha das composições de David são previamente projetados em software com precisão vetorial, para então serem pintados sobre a tela pelo artista. O gosto pelo mundo tangível e imperfeito também está na paleta de cores, diretamente inspirada por impressos de tons comumente utilizados em antigas gráficas de cartazes. Esse processo de criação contemporâneo surgiu como uma válvula de escape para as maratonas de trabalho em agências de publicidade. Entre projetos e layouts, David passou a se interessar pelo que sobrava: camadas descartadas, pesquisas paralelas sem utilidade ou desvios de briefing. Os primeiros experimentos escoaram pela internet e logo chamaram a atenção de plataformas criativas como It’s Nice That e WeTransfer. Entre as primeiras materializações estão os zines lançados pelas editoras Acerca e Meli-Melo Press. Durante o período de sua exposição no MECASpot, o artista vai lançar, em paralelo, um novo zine 1 pela Livros Fantasma.

MECAIntro David Galasse De 2/6 a 1o/7/2018 R. Artur de Azevedo, 499, São Paulo Visitação: de quarta a sexta, das 17h às 22h Sábados, das 11h às 22h Domingos, das 11h às 20h

Sem título

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AGENDA CULTURAL (SÃO PAULO) andar, o restaurante serve pratos da cozinha oriental. Já o sexto e o sétimo andares resgatam a obsessão nipônica com salas de karaokê, coletivas ou privadas. Para os cinco primeiros andares, está prevista a ocupação por projetos de economia criativa. Como o Japão é do outro lado do mundo, vale conferir. R. Major Sertório, 110.

NOITE – Nove

andares de ocupação

Em junho vamos levantar a Bandayra do Brasil rosa e celebrar o orgulho LGBTQ+, além de curtir quermesses, karaokê e bons drinks DRINK IT O drink de Adriana Marto

Sopro de arte

EXPO – Galeria foca no olhar feminino Quem passa na Rua Wisard nem imagina que a portinha do número

397 leva para duas galerias, uma de arte e outra de joias. Em funcionamento há um ano, a Aura foi criada por Bruna Bailune, arquiteta com especialização em montagem de espaços expositivos, a partir do mapea-

Inspirado na cultura japonesa, o projeto Tokyo levou para outro nível a ocupação de prédios do Centro, já realizada por espaços como Balsa e Trackers. Os nove andares do Edifício ABC, de 1949, foram reformados e abertos ao público com muitas luzes neon e visual inspirado em filmes como “Blade Runner” e “Encontros e Desencontros”. O terraço do prédio abriga uma pista de dança com vista para a cidade e abaixo, no oitavo mento da nova produção de arte contemporânea brasileira. Este ano, todas as exposições serão de artistas mulheres, como a mostra “Barco sobre Lona”, de Paula Scamparini, em exibição até o dia 8

de junho. Com curadoria de Fernanda Lopes, a exposição traz uma série de fotografias que misturam realidade e ficção, além de uma instalação com um colchão de concreto de 200 quilos. R. Wisard, 397.

“Amo bloody mary, porque é quase uma refeição. Se acompanhar bacon ou camarão, melhor ainda. Adoro o do Ramona em SP”

Que diferença você percebe de quando a Banda Uó surgiu para agora? A realidade era outra, a gente ainda não discutia empoderamento, não discutia visibilidade. Não tinha uma trans em uma campanha de cosmético ou uma drag com tanto destaque. É um momento importantíssimo de desconstrução.

Estandarte poético

ARTE – Por um Brasil gay-friendly

No mês dedicado ao orgulho LGBTQ+ em todo o mundo, nada mais justo que hastear a Bandayra da diversidade. Com um arco-íris no lugar de “Ordem e Progresso” e um

Ingredientes • 1 e ½ partes de Absolut Vodka • 4 partes de suco de tomate • ¼ de parte de molho inglês • 2 dashes de limão-siciliano • 2 dashes de Tabasco • 1 pitada de pimenta-preta • 1 pitada de sal • 1 palito de aipo Preparo Mexer todos os ingredientes em um copo misturador e despejar em um copo alto com cubos de gelo. Decorar com aipo.

O cantor e compositor goiano Mateus Carrilho, exBanda Uó, acaba de lançar o single “Privê” e fala sobre arte e política, além de comentar os planos da carreira solo.

Festa da diversidade

PARADA – Representatividade LGBTI+ nas eleições de 2018 O que já era a maior Parada do Orgulho LGBT do mundo ficou ainda maior: em 2018, o evento desfila com um “I+” em sua sigla, representando pessoas intersexuais e outras identidades. Com o slogan “Poder para LGBTI+, Nosso Voto, Nossa Voz”, a

22ª edição do evento chama a atenção para as eleições de outubro. A passeata acontece no dia 3, a partir das 10h, e tem nomes como Pabllo Vittar, Preta Gil, Mulher Pepita, Lia Clark e April Carrion entre as principais atrações. Av. Paulista, 1578.

Direto de 1862

BAR – Foco em drinks esquecidos Uma entrada discreta, com luz baixa e um clima intimista: assim é o Bar Fel, locali-

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rosa-claro em vez do predominante verde, a bandeira do Brasil foi ressignificada. A releitura é um manifesto singelo e poderoso por mais diversidade. “Sem liberdade, ordem é castigo e progresso é fardo”, afirma o criador Frederico Costa. Em São Paulo, a peça está à venda na Banca Tatuí. R. Barão de Tatuí, 275. zado no Copan, no centro da cidade. A carta de coquetéis propõe uma viagem no tempo, por meio de receitas esquecidas no passado, como o drink “Saratoga”, datado de 1862. Assinado pela bartender Michelly Rossi, o menu tem opções de drinks com sabores para todos os gostos: encorpados, frutados, amargos ou ácidos. Para acompanhar, a casa serve petiscos, como tábuas de frios e embutidos. Av. Ipiranga, 200.

Como é fazer entretenimento e ocupar um espaço político? Quando a gente ocupa os espaços mostrando quem a gente é, e falando a verdade, já se torna um ato político. Como gay assumido, espero conseguir brilhar muito! Quais os novos passos da sua carreira solo? Vou lançar um clipe e depois lanço meu EP. Começo a mostrar a minha cara agora e estou muito feliz de fazer esse trabalho. Espero fazer todo mundo se divertir bastante.

É o nome da bebida que redefiniu o conceito de vodca premium e revolucionou a criação de drinks, lançando uma série de sabores jamais vistos no mercado. Nesta página, a Absolut dá sabor a uma receita clássica da coquetelaria.

TEXTO: FELIPE SEFFRIN | FOTOS: DIVULGAÇÃO; [A] RODOLFO MAGALHÃES/DIVULGACAO; [B] MAÍRA ACAYBA/SUPERLIMÃO STUDIO; [C] NANA MORAES /DIVULGAÇÃO; [D] NATALIA LIMA CASTRO

O Japão é aqui


AGENDA CULTURAL (SÃO PAULO)

Da terra da rainha

INSIDER TIPS turn the music on

FESTIVAL – Arte

com sotaque britânico

by Letrux

— Uma das principais atrações musicais do MECAInhotim de 2018, a cantora e compositora Letrux revela cinco músicas para ouvir em uma noite de climão.

Em sua 22ª edição, o Festival da Cultura Inglesa volta a apostar em ídolos pop teen. No dia 10, a carioca Iza canta músicas próprias e, na sequência, o britânico George Ezra faz seu primeiro show no Brasil, no Memorial da América Latina. Compondo a experiência multicultural do festival, espetáculos de teatro e dança integram a programação, como a peça “Incógnito”. A entrada é gratuita. Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664.

[A]

[D]

Pop-up minimal

DESIGN – Muji

temporária na Japan House

A TUA PRESENÇA — Maria Bethânia

“Não tem pra ninguém. Bethânia começa a cantar e ergue-se o climão. É uma coisa inexplicável.”

EU TE ODEIO — Carne Doce

“Essa música é muito profunda, é ‘eu te odeio’ e não ‘eu te amo’. Mas é um odeio ardendo muito. Que coragem!”

[B]

A partir do dia 19, existe mais um motivo para visitar a Japan House. O centro de cultura nipônica, na Paulista, abrigará uma loja temporária da Muji, gigante japonesa que é sensação na Europa e nos EUA pela

infinidade de produtos com pegada minimalista, feitos com matériasprimas recicladas. A pop-up store vai funcionar até o dia 22 de julho e irá oferecer artigos de papelaria, utensílios domésticos, objetos para viagens, roupas e móveis. Tudo com design e embalagem clean, sem marcas nos rótulos. Av. Paulista, 52.

Multiartista e militante da causa Trans, Glamour Garcia indica 4 clubes para assistir performances de drag queens em SP. Heteronorma Diva “A festa acontece em diferentes lugares e tem performances louquíssimas. É onde acontecem os shows de drags mais interessantes em SP hoje em dia.” @hetero normadiva

[C]

O CHAMADO — Marina Lima

“Essa música prenuncia que vai acontecer um climão. É uma música que deixa uma sensação de suspense no ar.”

Tem arraiá, sim sinhô

FESTA – As quermesses vêm aí

Para matar a saudade, chegou a temporada do quentão e do arrastapé. Uma das festas juninas mais tradicionais da cidade acontece na igreja em frente à Praça Benedito Calixto, de 8 de junho a 8 de julho, e reúne mais de 50 mil pessoas de todas as idades para quadrilhas, comidas típicas e — vai entender — até temaki de salmão. A entrada custa R$ 15 e a festa só aceita dinheiro. Menos badalada (e com menos filas), a Quermesse da Consolação é grátis, com arrastapé ao vivo e todos os quitutes de uma boa festa junina de raiz. A festa acontece aos sábados e domingos de junho, das 17h às 23h, coladinha na Praça Roosevelt. R. Cardeal Arcoverde, 950 e R. da Consolação, 585.

XINGU — No Porn

“A Liana tem uma voz, uma prosódia, um timbre que me leva para muitos lugares. Posso ouvir e tanto dormir como ficar com tesão ou dançar.”

Pizzas múltiplas

GASTRONOMIA –

Bráz Elettrica abre filiais

A mistura entre três escolas de fazer pizza — São Paulo, Nova York e Nápoles — caiu tanto no gosto do paulistano — apaixonado confesso pelo prato — que a Bráz Elettrica se expandiu pela capital, ganhando mais três endere-

ços. Para cada um deles, um novo sabor exclusivo no menu, como a pizza de gorgonzola, mozarela de búfala, alho e limãosiciliano, servida na unidade dos Jardins. E, para quem deseja experimentar os

ROMANCE ESPACIAL — Mãeana

sabores improváveis, a casa na Alameda Campinas já está em funcionamento. Dia 19 é a vez do Shopping Higienópolis receber a nova filial. E, até julho, a pizzaria se instala na R. Antônio Carlos. brazelettrica.com

“Essa música tem um baixo muito perturbador, parece que tem um disco voador te puxando da Terra e você quer ficar por amor. Me falta ar.”

Quadrinhos e bate-papo

CULTURA – Sala Aberta recebe exposição

Iniciativa da artista paulistana Juliana Russo, a Sala Aberta é um aconchegante espaço para exposições, cursos e

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Provocação urgente

TEATRO – Espetáculo “Preto” dá voz à mulher negra Depois do sucesso em São Paulo e até de uma turnê na Europa, a peça “Preto” volta à capital. Mas é preciso correr: serão apenas três apresentações no Sesc Avenida Paulista, do dia 1º ao dia 3 de junho. O espetáculo da Companhia Brasileira de Teatro conta com a premiada atriz e dramaturga Grace

Passô e com Renata Sorrah, que dispensa apresentações. Provocadora e urgente, a peça levanta temas como racismo, invisibilidade e a falta de diálogo diante do diferente. O texto de Grace, Nadja Naira e do diretor Márcio Abreu é um soco no estômago, bemvindo e necessário. Av. Paulista, 119.

debates sobre artes — em especial pinturas e ilustrações. No dia 9, o local recebe a presença da aclamada quadrinista equatoriana Powerpaola, para a inauguração da exposição “Um Tempo Para Tudo”, com desenhos inéditos da autora.

Paralelamente, a quadrinista realiza uma oficina no Sesc Consolação e lança sua primeira obra no Brasil, “Qp”, pela editora Lote 42. A graphic novel tem prefácio do brasileiro Fabio Zimbres e é composta por 13 histórias inéditas. R. Bartira, 1409.

Blue Space “Não dá para falar de cultura drag sem falar da Blue Space, que é o santo palácio da arte drag no Brasil. O espaço está há muito tempo na cena e é de lá que saem as novas tendências do nicho.” R. Brigadeiro Galvão, 723. Festa Amem “Essa é uma festa que pensa a bandeira e a luta LGBTQ+ de uma maneira interseccional, alinhando militância negra, cultura drag e música foda. É babado certo.” @festaamem Club Yacht “Existe há quase uma década e sempre tem projetos com artistas drags envolvidas. Vale conferir a programação, porque a curadoria é muito boa. Amo-barra-sou!” R. Treze de Maio, 703.


AGENDA CULTURAL (BRASIL) RIO DE JANEIRO Rebel na noite de 12 de junho. Deb Demure e Mona D. apresentam as canções do elogiado "The Demonstration", disco lançado em 2017. A abertura fica por conta da banda de rock argentina Altocamet. A partir de R$ 20. R. Visconde de Silva, 55.

Realeza dark

Tudo sobre Agnès

CURSO – Cinema francês é analisado

SHOW – Um som que toca na Audio Rebel

Agnès Varda, a única mulher participante do movimento de cinema Nouvelle Vague e uma das precursoras do filme ensaístico, tem sua obra analisada em um curso da Estação NET Botafogo. De 12 a 14 de junho, a pesquisadora Patrícia Machado esmiúça as contribuições da cineasta de 89 anos que ajudou a revolucionar o cinema francês dos anos 1960. R. Voluntários da Pátria, 88.

Para encerrar a turnê pela América do Sul, o duo de darkwave Drab Majesty sobe ao palco da Audio

[A]

SHOW – Criolo e Mano Brown na Fundição

Clássicos renovados

BAR – Cobre tem pizzas e gimtônicas como carros-chefes Aberto recentemente em um casarão histórico revitalizado, o bar e pizzaria Cobre Humaitá tem um cardápio baseado na releitura de receitas clássicas napolitanas. A casa serve nove sabores de pizzas de longa fermentação — três dos quais veganos —, além das grandes taças de gelato para

Dupla drama

Depois de passarem por São Paulo, Criolo e Mano Brown apresentam seu show conjunto na Fundição Progresso, no dia 23 de junho. Descrito pelos rappers paulistanos como uma celebração de músicas e trajetórias, o projeto teve estreia em Belo Horizonte no começo do ano. Ingressos a partir de R$ 60. R. dos Arcos, 24.

sobremesa. Somados à tradição italiana, sabores de outras nacionalidades também compõem o menu: diferentes versões de gimtônica, que vão de chá de hibisco a tangerina com alecrim e pimenta rosa, além de porções bem brasileiras como dadinho de tapioca. R. Visconde de Caravelas, 149.

PORTO ALEGRE

Eixo sulista

Olhar de dentro

CURSO – Letras africanas em panorama

recebe edição do Morrostock

Diversidade, igualdade e coletividade norteiam a curadoria do MorroPOAA, versão portoalegrense do festival Morrostock, de Santa Maria (RS), que chega pela primeira vez à capital gaúcha. No dia 16 de junho, no Pepsi On Stage, os headliners Liniker e os Caramelows, BaianaSystem e Bloco da Laje se

apresentam ao lado de novos nomes da cena musical sulista. Entre a dezena de bandas confirmadas estão Alice Kranen, A Flor e o

Et, SUPERVÃO, Paola Kirst e Três Marias. Os ingressos custam a partir de R$ 90. Av. Severo Dulius, 1995.

24h party people

BAR – Void do Centro tem agenda cheia

Inaugurada no final do ano passado, a Void, situada no Centro, tem se diferenciado da

unidade veterana, do bairro Moinhos de Vento. A novidade fica por conta de um quartinho multifuncional no andar de cima, aberto para o bar. O espaço é usado como estúdio com transmissões ao vivo e palco para shows. Nele também rola o

"Maiores Achados do Mundo", projeto de curadoria de roupas de segunda mão. O Goma Sessions, do coletivo de DJs Goma, e a Phono, uma noite 100% vinil, são alguns dos eventos fixos. R. Coronel Fernando Machado, 1168.

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A escritora Chimamanda Ngozi Adichie é uma das autoras analisadas pelo curso de literatura africana oferecido pela Casamundi. Nos dias 18 e 25 de junho, o escritor e pesquisador Jeferson Tenório mostra o que há de mais atual na cena literária de países como Nigéria, Angola e África do Sul. O intuito é revelar uma África vista por dentro. Av. Borges de Medeiros, 2500. [B]

Bikes & snacks

CAFÉ – Compre uma bike ou tome um lanche na Casa Spino No bairro de Floresta, a Casa Spino funciona como um espaço multiuso: é fábrica e loja de bicicletas artesanais, além de café... Ou melhor: um bike-café. O cardápio também é plural. É possível fazer apenas um lanche rápido — comer um bolinho

ou tostex acompanhado de um café acaiá — ou, então, almoçar o prato do dia, como purê de batatas, vegetais salteados e entrecot suíno, substituível por vinagrete de feijão fradinho para paladares vegetarianos. R. Felix da Cunha, 349.

TEXTO: HELDER FERREIRA | FOTOS: DIVULGAÇÃO; [A] GIL INOUE; [B] HOWARD COUNTY LIBRARY SYSTEM

FESTIVAL – POA


AGENDA CULTURAL (BRASIL) BELO HORIZONTE

Seis dias solares

FESTIVAL– Festas,

shows e oficinas na Benfeitoria

Durante junho e julho, o festival Fresta de Sol ocupa a Benfeitoria com uma programação repleta de

pores-do-sol, happy hours, shows, festas e workshops. No dia 14 de junho, por exemplo, rola discotecagem e apresentação da banda Lamparina e A Primavera, além de uma oficina de colagem. Confira a agenda completa em @abenfeitoria. R. Sapucaí, 153.

Mente colorida

ARTE – Galeria

indie recebe Serimaginário

Para espalhar "fofura perversa" pelo mundo, os artistas Ana Clara Ligeiro e Efe Godoy criaram a Serimaginário, marca de máscaras e bichos de pano que virou sensação na cena alternativa de BH. A galeria Quartoamado, que já recebeu o projeto para exposição e baile de máscaras, a partir de agora vende os pequenos seres. R. Antônio de Albuquerque, 384.

Bê-á-bá das tendências

Chez Leo Paixão

BAR – Nicolau atrai foodies para o Horto

Aberto há menos de três meses, o Nicolau Bar da Esquina tem feito sucesso entre os belorizontinos. A nova casa do chef

Leo Paixão tem boa oferta de petiscos, sanduíches, pratos e drinks. Entre as opções do cardápio, destacam-se o torresmo de bar-

CURSO – Guaja oferece oficina de coolhunting

riga com caramelo de missô e o sanduíche de pulled pork na rosca de leite. R. Pouso Alegre, 2217.

Zeitgeist, Consumer Tribes, Net Hunting, Macro

Trends e Consumer Trends são apenas alguns dos conceitos elucidados pelo curso de Coolhunting do Guaja. Ministrada pelo designer Tiago Gamaliel, entre 8 e 17 de junho, a iniciativa tem como objetivo

provocar o despertar para o universo das tendências, fornecer as primeiras ferramentas para a pesquisa e preparar o raciocínio para planejar a inovação. Av. Afonso Pena, 2881.

BRASIL BRASÍLIA

FLORIANÓPOLIS

Ponto de vista

Jobs & drinks

CINEMA–Mostra

BAR – A ilha ganha novo working bar

Com um recorte curatorial focado no olhar da mulher negra, a edição deste ano do Cine Curta Brasil exibe curtas-metragens na Caixa Cultural de Brasília. A programação é composta por 30 filmes assinados por cineastas negras e também inclui debates sobre o universo afro-brasileiro feminino. Além

Beber no trabalho ou trabalhar no bar? N'A Fábrica é possível fazer os dois. Aberta recentemente no Centro, a casa divide-se em dois andares: no primeiro, funciona um bar com comidinhas, drinks e 12 torneiras de chope; no andar de cima, um coworking com mesas coletivas e espaços para descanso. Trav. Albertina Ganzo, 33.

enfoca olhar da mulher negra

disso, cada sessão será aberta com um episódio da série documental

"Afronta!". Escrita e dirigida por Juliana Vicente (foto), ela apresenta artis-

tas e pensadores negros contemporâneos a partir de discussões sobre

representatividade, ancestralidade e afrofuturismo. Sbs Lotes 3/4, SBS Q. 4

CURITIBA

trajetória completados em 2017, o grupo mineiro sobe ao palco do Teatro Guaíra, na noite de 9 de junho, para relembrar sucessos, como "Canção pra Você Viver Mais" e "Simplicidade". A partir de R$ 50. R. XV de Novembro, 971.

Por perto

SHOW – Pato Fu celebra 25 anos no Guairão A banda Pato Fu leva seu show comemorativo para a capital paranaense. Com 25 anos de

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RECIFE

Para peles veganas LOJA – Marca

GreenCare é 100% vegana Inaugurada recentemente no Shopping Parnamirim, a Empório GreenCare é a primeira loja de cosméticos inteiramente veganos da capital

de Pernambuco. Por lá, encontramse quatro linhas de maquiagem completas, das marcas Organella, Cativa, Baims e BioArt. Além disso, há desodorantes, hidratantes, sabonetes, óleos, pastas de dente e enxaguante bucal — todos orgânicos, e não testados em animais. R. João Tude de Melo, 70.


TRENDS

WGSN

Rumo à imperfeição

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TENDÊNCIA — O combate à ansiedade e a desconstrução dos

padrões de excelência são características centrais dos Imperfeccionistas — um dos perfis de comportamento que devem pautar o mercado a partir de 2020 1

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Presente imperfeito 5 iniciativas que dialogam com o Imperfeccionismo 1. Mash

A marca de cuecas lançou uma campanha, protagonizada por homens de diferentes tipos físicos, com o tema “Confortável é ser quem você é”. mash.com.br

2. Sung Tea

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Em Pequim, essa casa de chá ganhou fama por suas bebidas de nomes inspirados no humor autodepreciativo, como o chá “não-conquisteiabsolutamentenada”. #sungtea

3. OkCupid

O site de paquera lançou uma campanha que usa a sigla DTF para falar de programas pouco glamorosos que podem existir em um namoro, como maratonar séries por 45 horas. okcupid.com

4. Jacaré Moda

[A]

Como a WGSN identifica uma tendência?

MECA + WGSN

Com 14 escritórios espalhados ao redor do mundo e clientes em 86 países, a líder mundial em pesquisa de tendências aposta numa mistura de intuição, experiência e dados concretos para mapear padrões de comportamento em ascensão global. De aspectos geopolíticos a subculturas locais, de artistas de vanguarda a influenciadores digitais, diversas fontes e fatores alimentam a análise diária de um time de especialistas de múltiplas formações.

Todo mês, em parceria com a WGSN, o MECA analisará as principais tendências de comportamento e consumo atuais. O resultado você confere por aqui e em talks realizados no MECASpot. Nesta edição, você conhece os “Imperfeccionistas”, um dos três perfis de consumidores que irão pautar o mercado global a partir de 2020. Venha discutir sobre o tema no dia 21/6, às 19h30. Acompanhe nossa agenda em @mecaspot

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Nascida na periferia carioca, essa produtora de casting trabalha para difundir uma ideia de beleza que vai além do padrão estabelecido. @jacaremoda

5. Girls

A série, criada e protagonizada por Lena Dunham, levou para a TV um ponto de vista ácido e desglamorizado sobre o início da vida adulta. @lenadunham

TEXTO: HELDER FERREIRA | FOTOS: REPRODUÇÃO; [A] BRANDON BARCELLOS/JACARÉ MODA/DIVULGAÇÃO

Uma vida sem ansiedade — é isso que desejam os Imperfeccionistas, um perfil comportamental em ascensão global destacado pela WGSN no report “O consumidor do futuro 2020”. O desejo pode parecer utópico em um mundo onde 264 milhões de pessoas sofrem de transtornos de ansiedade (15% a mais que em 2005, segundo a OMS), mas é ele que deverá pautar as ações e os hábitos de consumo desse público que abrange diferentes idades, gerações e nacionalidades. Para os Imperfeccionistas, o caminho da tranquilidade mental passa pelo questionamento dos padrões socialmente impostos — do ideal de beleza à própria definição de sucesso — e pela aceitação das imperfeições individuais. Para fugir da ansiedade, eles preferem se concentrar no que é possível controlar e não se preocupar com o resto — algo que se convencionou chamar de “apatia seletiva”. Segundo Luiz Arruda, diretor da WGSN Mindset — divisão de consultoria do bureau de tendências —, esse espectro comportamental abrange pessoas que se recusam a passar suas vidas tentando alcançar parâmetros de excelência inatingíveis. “São pessoas que entenderam que esse comportamento, aceito por muitas gerações e durante muito tempo, gera muita ansiedade, angústia e frustração”, explica. “O combate a esses padrões não se dá de modo agressivo, mas por meio do debate e do humor subversivo, irônico e autodepreciativo”, acrescenta Arruda. Já é possível encontrar exemplos de marcas que dialogam com esse perfil de consumidor. Na publicidade, são os “anúncios imperfeitos”, que celebram as diferenças — como fez recentemente a marca de cuecas Mash — e acolhem o fracasso com um toque de humor, como fez o site de relacionamentos OkCupid. “Não se trata de depreciar o consumidor, mas de se colocar no mesmo patamar que ele para gerar proximidade”, esclarece o diretor. Essa horizontalização da relação entre marcas e consumidores deverá ser potencializada por uma aliada pouco provável: a internet móvel 5G. É que, apesar de o aumento da velocidade de informações ser visto como um gerador de ansiedade, é justamente a popularização dessa conexão ultrarrápida que aperfeiçoará o uso de transmissões ao vivo na propaganda e venda de produtos online — o “Assista Agora, Compre Agora”. Já bastante popular no mercado asiático, a nova e mais horizontal forma de comprar funciona como uma quebra da quarta parede da publicidade. Nela, o representante da marca — seja ele um vendedor, modelo ou influencer — fala direto com o consumidor, gerando a sensação de “vida real” tão apreciada pelos Imperfeccionistas. “Quando vejo alguém usando o produto e conversando comigo sobre ele, quebro o padrão do perfeito e me sinto mais próximo”, conclui Arruda.


MECAInhotim 4ª edição / 2018 29 de junho a 01 de julho


Programação de shows Sexta-feira, 29/6

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA DE DJ SETS, MOSTRA DE CINEMA, TALKS E VISITAS GUIADAS EM:

www.meca.love

Alice Caymmi

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17H30 E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante

[B]

JP

19h20 JP

Do encontro do indie rock dos anos 2000 com a surf music dos anos 60, nasce a música de JP. Prepare-se para mergulhar em um mar de good vibes com as canções praianas desse mineiro.

21h10 Iconili

Jazz e rock, Brasil e África, visual e musical: o som instrumental dessa banda mineira é um grande caldeirão psicodélico. Os 11 integrantes se revezam entre instrumentos de sopro, guitarras, teclado e percussão para criar uma atmosfera de transe dançante e extremamente tropical — uma combinação perfeita com os jardins do Instituto Inhotim.

23h Alice Caymmi

A rainha dos raios sobe ao palco para dominar o Inhotim com seu R&B pop e brasileiríssimo. Em “Alice”, seu elogiado terceiro disco, ela passeia entre ritmos eufóricos e melancólicos na companhia de convidados especiais, como Pabllo Vittar (que se apresenta no domingo).

01h Baco Exu do Blues

O dia termina com o músico baiano que expandiu os limites do hip-hop nacional no último ano. Misturando rap e funk com cânticos iourubá e storytelling, ele criou um dos discos mais aclamados de 2017: “Esú”.

Iconili

FOTOS: DIVULGAÇÃO; [A] DARYAN DORNELLES/DIVULGAÇÃO; [B] MANCHA LEONEL/DIVULGAÇÃO; [C] PIETRO BARONI

Para abrir os trabalhos do MECAInhotim, um show do quarteto instrumental paulistano. Formada por Lucas Theodoro, Luden Viana, Luccas Villela e Rafael Jonke, a banda mistura ritmos que vão do rock alternativo ao pós-rock.

E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante

[A]

Baco Exu do Blues


Sábado, 30/6 Elza Soares

Cordel do Fogo Encantado

Rubel

[C]

17h30 Rubel

21h30 Elza Soares

19h30 Letrux

23h30 Cordel do Fogo Encantado

O sábado começa com o compositor fluminense que conquistou a internet — os nossos corações e ouvidos também. Em “Casas”, seu segundo disco lançado recentemente, a sonoridade folk característica do primeiro álbum dá lugar aos ritmos brasileiros.

Aos 87 anos de idade, a “cantora do milênio” acaba de lançar seu 81º disco — “Deus é Mulher”, dando continuidade ao manifesto político e social iniciado no último álbum. Para o MECAInhotim, a diva apresenta o aclamado show “A Voz e a Máquina”, com direito a grandes sucessos.

Uma das maiores revelações da música brasileira em 2017, a cantora paulistana leva o climão para uma noite de lua cheia, iluminando os jardins de Burle Marx. Vê-la performar seu synthpop em frente à “Magic Square” vai ser hipnotizante.

Letrux

Depois de um hiato de oito anos, a banda pernambucana está de volta, com um show para conhecer as novas canções do disco “Viagem ao Coração do Sol”, matar a saudade das antigas e encerrar a noite com chave de ouro.

Domingo, 1/7 Jules

Gelpi

17h30 Gelpi

21h Kafé

19h20 Jules

23h Pabllo Vittar

Sucesso na cena indie sulista, a banda gaúcha abre a programação de domingo. No repertório, as canções de “Blood Ties”, disco que mistura folk, blues, rock e influências de bandas como Mumford & Sons e Boy & Bear.

Formada em 2015, a banda paulistana experimenta rock, soul e música eletrônica para criar um som com pegada pop e gostoso de dançar. O trio formado por Mariana Castello Branco, no vocal, e os instrumentistas Matheus Zingano e Daniel Chalfon, chamou a atenção do público com o single “Marginal” — mixado pelo mesmo produtor de M.I.A. e Charli XCX.

Dialogando com o pop e R&B norte-americanos, o compositor soteropolitano cria músicas cheias de batidas fortes e ritmo dançante. Na ativa desde 2015, ele lançou seu primeiro disco no ano passado e foi bem recebido pela crítica.

by TNT Energy Drink

Para lacrar o encerramento do MECAInhotim, o show de Pabllo Vittar. Às vésperas de cantar no festival, a diva pop terá acabado gravar o seu segundo disco, em L.A. Ela disse que não descarta a possibilidade de presentear o público com novidades!

Pabllo Vittar

Kafé


Instituto Inhotim G10

De Lama Lâmina

Sonic Pavilion Doug Aitken, 2008 Ciência e arte unidas em uma viagem ao centro da Terra, através da captação de sons subterrâneos.

G12

Matthew Barney, 2009 O domo geodésico em aço e vidro, com um trator e tronco, é uma obra que parte do candomblé baiano para tecer uma narrativa sobre o conflito entre Ogum e Ossanha.

Galeria Cosmococa

Hélio Oiticica, 1937-1980

Projeções, colchões, redes e uma piscina compõem as várias salas da galeria.

A21

G15

A14

GALERIA MATA

A1

Piscina

Jorge Macchi, 2009 O desenho de uma caderneta de endereços em forma tridimensional mergulhável.

A15

GALERIA ADRIANA VAREJÃO

G5

LARGO DAS ORQUÍDEAS

A12 G11 A13 G14

G20 A17

A13 ESTACIONAMENTO

Viewing Machine

Olafur Eliasson, 2002–2008 Inspirada nos caleidoscópios, a obra do dinamarquês desconstrói a realidade.

Invenção da Cor, Penetrável Magic Square #5 Hélio Oiticica, 1977 A área de convívio faz o espectador vivenciar as cores que a compõem.

ENTRADA

A21

Elevazione

Giuseppe Penone, 2000 Uma castanheira fundida em bronze é sustentada por cinco árvores.

A14

Beam Drop

Chris Burden, 2008 Recriação da instalação que o americano fez no Artpark de NY.

G14

Folly

Valeska Soares, 2005–2009 Obra interativa que nos faz sentir parte da dança projetada em espelhos.

A17

Narcissus Garden

Yayoi Kusama, 2009

500 esferas de aço sobre a água formam um tapete cinético.

G20

Ttéia 1C

Lygia Pape,

2002

Um sutil jogo de luzes e fios dourados compõe essa instalação.

G5

Desvio para o Vermelho

Cildo Meireles,

1967-1984

A instalação propõe uma imersão monocromática.


QUEM TE INSPIRA

uma voz de respeito

Convidada especial do MECAInhotim de 2018, Pabllo Vittar comenta a cena drag queen e reflete sobre a responsabilidade de ser uma voz simbólica no cenário mainstream da cultura pop nacional Uma das maiores musas da música pop do Brasil, Pabllo Vittar abriu e conquistou espaços nunca antes ocupados por drags, gays e queers. Nascida como Phabullo Rodrigues da Silva, em São Luís (MA), a escorpiana de 23 anos, que se define como genderfluid, passou a sua infância e adolescência entre os estados do Maranhão e de Minas Gerais. Desde os 17, quando “montada”, a artista carrega no próprio corpo, na performance e na voz o chamado por uma sociedade fundamentada no respeito às liberdades individuais e coletivas. Em tempos estranhos, de intolerância e polaridades políticas, o convite para cantar no MECAInhotim de 2018, no mesmo palco que Elza Soares, é a celebração de um manifesto por diversidade que transcende a música e o entretenimento. Em um bate-papo com Maíra Miranda, a cantora e compositora compartilha suas verdades e opiniões.

“ESTAR ALI, MOSTRANDO QUE SER DRAG E GAY É NATURAL E LINDO, JÁ É MUITO GRANDE E IMPORTANTE”

“Ser drag queen é um estado de espírito.” RuPaul Charles fez essa afirmação em uma recente entrevista... Faz sentido? Ru falou tudo. A Pabllo Vittar, para mim, é um alter ego, um superescudo e a persona que me dá liberdade artística sempre. O processo de me montar me traz esse poder e me deixa mais forte. A propósito, você curte RuPaul’s Drag Race? Alguma das personas do reality te representa? Eu sou apaixonada! Todas ali me representam de alguma forma. Além do que rola dentro do reality, vemos mais exemplos de superação a cada temporada.

FOTO: FERNANDA TINÉ/DIVULGAÇÃO

Você acompanha a cena drag internacional? É diferente do Brasil? Acompanho sim, e não vejo muita diferença. As drags daqui estão no mesmo patamar das gringas em tudo — make, estilo, perfomance... A única diferença é que, aqui, nós estamos invadindo a cena mainstream, TV, rádio etc, com muito mais força. Você liderou esse espaço no Brasil, país que mais mata LGBTQs no mundo. Como você lida com essa responsabilidade? Tento fazer minha parte, principalmente fora da mídia, e não expor isso... Prefiro assim. E discutir abertamente sobre esses assuntos na TV e nos shows sempre que posso. Todo mundo tem que lembrar que estar ali, mostrando que ser drag e gay é natural e lindo, apoiando famílias, já é algo muito grande e importante para o crescimento da sociedade. O feedback do público é sempre incrível! A maioria das drags são performadas por homens cis, educados em uma

#PodeVir – Essas são as duas palavras em que a TNT Energy Drink acredita para resumir o poder de resistência e autoconfiança, existente em cada um de nós. Nesta página e no MECAInhotim, Pabllo Vittar é a artista que dá voz a essa energia.

sociedade historicamente machista. Você vê traços de machismo entre drags? Pensando agora, rapidamente, não lembro de nenhum acontecimento que presenciei... Mas com certeza existe. Não podemos simplesmente ignorar que crescemos em uma sociedade machista, homofóbica e racista. Mas estamos evoluindo a cada dia e tentando tirar isso de nossas raízes... Esse processo é importante. Identificar isso dentro da gente e matar as pequenas características horríveis e

históricas. O respeito é a base de tudo. Seja quem você quiser ser e deixe que todos sejam o que quiserem também... É tão simples, tão fácil. Apesar de autobiográficas, nem todas as suas músicas são compostas por você. Como é o processo de seleção e composição? Hoje não consigo compor tanto quanto eu gostaria. Mas os meninos que compõem são superamigos e conversamos sempre. Essa intimidade é muito importante para que eles

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escrevam verdades sobre mim, meus desejos e decepções... Para finalizar, o que podemos esperar da sua apresentação no MECAInhotim? O MECA é um sonho realizado, nunca pude ir ao festival e também não conheço Inhotim. Vou ter acabado de voltar da gravação do meu álbum novo, talvez role alguma coisinha nova, quem sabe? Podem esperar muita energia e muita alegria em cima do palco, vai ser lindo!


ESPECIAL

AS NOVAS CORES LGBTQ+ Ocupando as mais diversas áreas da cultura, artistas queer transcendem narrativas estigmatizadas e passam a explorar na arte as diferentes complexidades e vivências pessoais. O repórter Helder Ferreira mapeou grandes nomes à frente da efervescente cena queer no Brasil e no mundo

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Há pouco menos de um ano, Luca Weingärtner e Guilherme Lourenço decidiram agir. Insatisfeitos com a incipiente cobertura feita pela grande imprensa da efervescente produção artística LGBTQ+, eles juntaram amigos, fotógrafos, stylists, jornalistas e produtores para criar uma publicação: a Fearless Mag, uma revista feita por LGBTQ+s para LGBTQ+s, a fim de documentar e analisar a cena queer. “Estamos presenciando um ponto de mudança no universo criativo LGBTQ+”, alerta Luca. Para ele, a produção contemporânea adota uma nova narrativa, em que não ser heterossexual e/ou cisgênero deixa de ser estigma e se torna característica. E essa transformação, ele afirma, é mais ní-

tida na cena musical, que está na vanguarda da discussão sobre a existência LGBTQ+ –– capitaneada por nomes como Rico Dalassam, Liniker, Johnny Hooker e a multiartista paulistana Linn da Quebrada. “Acredito que o nome dela ficará marcado para sempre na história da arte LGBTQ+, se tornando nosso primeiro ícone-humano”, aposta o editor-chefe da Fearless. E ele não é o único. Os cineastas Kiko Goifman e Claudia Priscilla também viram em Linn, autointitulada “terrorista de gênero”, e em seu trabalho um paradigma na discussão do corpo e da transgeneridade. Decidiram, então, fazer um filme com ela. Intitulado “Bixa Travesty”, mesmo nome de uma das canções da compositora, o

longa foi premiado como melhor documentário LGBTQ+ no Festival de Berlim deste ano, ao lado de “Tinta Bruta”, outra produção brasileira vencedora do prêmio de melhor ficção com a mesma temática. Segundo a dupla de cineastas, o mérito é de todos: “Linn participou de todas as etapas do filme, do roteiro à montagem. Ela usa a música como forma de relatar sua vida e o filme foi uma nova ferramenta de expressão artística”, explica. A cantora concorda e conta que utilizou o filme como um processo de escavação de sua própria identidade. “Do meu papel e do meu corpo, pra mim mesma”, relata. “Foi um processo muito intenso de descobertas, um processo muito vivo.” É justamente esta aproximação entre

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arte e vida que faz a performer mineira Ana Luisa Santos, indicada ao Prêmio PIPA de artes visuais em 2017, se interessar pela expressão queer. “O queer não é só uma temática, mas uma estratégia política, de intervenção, de resistência e de invenção de novas linguagens”, explica a artista. “É um questionamento da sociedade como um todo, dos grandes setores de produção de conhecimento, de uma maneira muita atrelada a um texto que separou arte e vida. Como se arte fosse uma coisa e vida fosse outra. Um dos questionamentos mais interessantes das produções artísticas queer é aproximar arte e vida”, conclui Ana Luisa. A experiência pessoal é também uma das forças motrizes do trabalho do dra-

COLABOROU NESTA MATÉRIA: FERNANDA POLSE | FOTOS: DIVULGAÇÃO; [A, B ,E] LUCA WEINGÄRTNER/FEARLESS MAG; [C] SIMONE MARINHO; [D] JONATAS MARQUES

[A]


maturgo Ronaldo Serruya. O fato de não encontrar narrativas com as quais pudesse se identificar dentro da produção teatral brasileira foi o que o levou a criar, junto com outros três artistas, o Teatro Kunyn. Fundado em 2009, o coletivo volta sua atenção na desconstrução de estereótipos caricatos de gênero e sexualidade, tendo como recorte a homossexualidade masculina. “Na época, eu não conseguia encontrar na dramaturgia uma representatividade dessa figura homossexual que não fosse por um viés marginalizante ou caricatural”, relembra. Também não é marginalizante ou caricatural o modo como a homossexualidade é representada na peça “Música Para Cortar os Pulsos”, que, em 2019, vai virar um filme pelas mãos do autor e diretor Rafael Gomes. “Quero que qualquer um entre no cinema e se envolva com a história, sem problematizar se o protagonista é gay ou hétero”, contemporiza Rafael. “Por outro lado, acho belo e potente que o público LGBTQ+ saiba que vai se ver refletido e representado, ou parcialmente representado. E que possa dizer ‘esse filme é nosso’”, afirma. Com a mesma intenção expansiva, a escritora Natalia Borges Polesso defende o uso político da classificação LGBTQ+, mas sem que ela incorra em reducionismo da obra em si. “Queria representar pessoas completas e não sexualidades dissidentes”, explica a autora de “Amora” –– livro de contos protagonizados por personagens lésbicas, vencedor do Prêmio Jabuti de Literatura em 2016. No entanto, ela acredita que as nomenclaturas ainda são inevitáveis. “Enquanto nosso pensamento social for dominado pela heteronormatividade e a gente precisar reivindicar presença, os rótulos ainda precisarão existir. Mas isso não deve, em absoluto, diminuir nossa literatura”, complementa a escritora. Além do potencial criativo em efervescência no Brasil, que reflete a mesma ebulição do cenário mundial, a produção artística queer nacional pede por transformação social e resistência. O sucesso e a explosão de artistas como Pabllo Vittar, no mainstream da cultura pop, é dissonante em relação aos altos índices de mortes da população LGBTQ+ no país. Segundo a Anistia Internacional, um LGBTQ+ é morto a cada 19 horas, fazendo o Brasil liderar tais estatísticas em todo o mundo. Para a filósofa Marcia Tiburi, podemos estar diante de um fenômeno de dissociação de consciência, uma dificuldade em estabelecer nexos. “É a incapacidade de perceber que a admiração que se tem por uma artista trans ou travesti deveria ser extensiva às pessoas trans e travestis, mesmo quando não são artistas”, explica a intelectual. “Sentimentos de amor e ódio aparecem misturados em uma sociedade sadomasoquista. E esse é um dos nossos maiores problemas como sociedade. De um ponto de vista social, significa amar quem é considerado superior e odiar quem é considerado inferior. Talvez seja isso o que acontece no Brasil atual”, alerta Tiburi. E talvez seja esse o grande desafio dessa nova cena criativa: transformar a sociedade, construindo um novo olhar de valorização da população LGBTQ+ para além da classe artística.

[B]

No mundo 5 artistas queers internacionais para manter no radar

Xavier Dolan O jovem ator e cineasta canadense tem mais de seis filmes lançados em menos de uma década de carreira. Um deles é o longa “Lawrence Anyways”, que narra o processo de transição de um professor de inglês. @xavierdolan

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Anohni Antes conhecida como Antony Hegarty, Anohni é uma cantora e compositora trans, líder da banda americana Antony and The Johnsons. @anohni

[D]

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1, 4 e 9 – Fotos de ensaios de moda da Fearless Mag 2 – A artista Ana Luisa Santos na fotoperformance “Inflamável” 3 – Paulo Arcuri e Ronaldo Serruya em cena de “Desmesura”, peça do Teatro Kunyn escrita pelo dramaturgo belenense 5 e 6 – A filósofa Marcia Tiburi e a escritora Natalia Polesso 7 – A multiartista Linn da Quebrada em cena de “Bixa Travesty”, dos cineastas Kiko Goifman e Claudia Priscilla 8 – Os atores Victor Mendes e Caio Horowicz em cena do filme “Música Para Cortar os Pulsos”, do diretor Rafael Gomes

[C]

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Maggie Nelson Autora do livro de não-ficção “Argonautas”, a americana aborda o queer ao compartilhar as transformações em seu corpo durante a gravidez e as mudanças no corpo de seu parceiro, Harry, durante a transição hormonal. grupo autentica.com.br

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Zanele Muholi A ativista visual sul-africana fotografa mulheres negras, lésbicas e trans. É criadora da plataforma de conteúdo Inkanyiso, voltada para a comunidade negra e LGBT. @muholizanele

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Fernando Belfiore O coreográfo brasileiro, radicado em Amsterdam, dialoga com estéticas queer e ciborgue em suas performances. @fernandobelfiore

[E]

O “Q” da questão

O porquê de usarmos a sigla “LGBTQ+”

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Teorizado por pensadores como Judith Butler, o termo “queer” compreende narrativas fora das normas tradicionais. Originalmente, a palavra inglesa significa “esquisito” e já foi usada pejorativamente para ofender a comunidade LGBT. Hoje, o termo foi ressignificado e é empregado como

palavra de força e orgulho, borrando e expandindo fronteiras. Portanto, em nossa linha editorial, somamos o Q+ à sigla LGBT para abraçar um conceito contemporâneo mais abrangente. Algumas literaturas já utilizam o “I” (de intersexo) e o “A” (de assexuais). Nós acreditamos que o Q+ contém essas e outras experiências.


AROUND THE WORLD

INGLATERRA

Loved places COMIDA –

Antiga estação repaginada

EUA

Just opened

BAR – Happy

hour no Brooklyn

Como o próprio nome já diz, The Spring é um bar inspirado em Palm Springs — o oásis emoldurado por palmeiras no meio do deserto da Califórnia. Com ares retrô, o espaço recém-inaugurado tem um pátio ao ar livre com sofás para curtir um fim de tarde ou uma noite estrelada. O ambiente é decorado com as cores do arco-íris, tal qual os coquetéis do menu — especialmente elaborados pela

ALEMANHA

Urbanismo consciente ARQUITETURA –

A serviço da cidade mixologista Sarah Boisjolio. Na cozinha, destacamos o avocado toast e o inovador grilled cheese martini, que é uma espécie de queijo-quente cur-

ISRAEL

Arco-íris LGBTQ+

MARCHA - Celebração de todas

as cores em Tel Aviv

No posto de segunda maior cidade de Israel, Tel Aviv é referência liberal no Oriente Médio e, desde 1993, reconhece como legal

a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Nesse mesmo ano, nasceu a primeira Pride Parade da cidade que, em 2018, acontece em

A partir de 14 de junho, Berlim vai sediar o Make City — um festival voltado para (re)pensar o papel da arquitetura como ferramenta para transformação de cidades. O

tido em dry martini. No bar, a dica é ir de Riverside Revival, com absinto, limão, licor de grapefruit e gim. thesprings bklyn.com 8/6. Além de badaladas festas, o evento propõe uma agenda com pautas de forte apelo social e lutas em prol da comunidade, como a garantia da liberdade de expressão e da igualdade de direitos. Embora esteja inserida em um contexto histórico controverso de tensões políticas e religiosas, a Pride Parade de Tel Aviv atrai milhares de pessoas anualmente. gaytelaviv guide.com

NORUEGA

Um grito pop

ARTE – Munch

pelo olhar de Warhol

Até 26 de agosto, o Museu Munch, situado em Oslo, na Noruega, exibe a mostra “Andy Warhol — After Munch”. A exposição conta com 15 gravuras feitas pelo ícone da arte pop a partir das pinturas clássicas do expressionista

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evento vai ser composto por painéis e oficinas, liderados pelos mais importantes arquitetos e urbanistas da Alemanha. Um dos eixos de reflexão deste ano é pensar alternaivas possíveis para desafios urbanos contemporâneos, como uma melhor assimilação de imigrantes pelas cidades. makecity.berlin Edvard Munch. Tal qual a maioria das obras mais conhecidas de Warhol, as releituras dão novo significado aos trabalhos originais do artista norueguês. “O Grito” e “Autorretrato com Esqueleto do Braço” são algumas das famosas pinturas ressignificadas pelo norte-americano. Ambas ganharam versões marcadas pelas cores vibrantes e traços fortes, bem à la Andy Warhol. munch museet.no

INSIDER TIPS

Lúcio Ribeiro,

jornalista de cultura e curador do Popload, indica 5 festivais para curtir o verão no Hemisfério Norte.

All Points East O festival londrino, que teve início em maio — com headliners como LCD Soundsystem e Björk —, encerra sua temporada no dia 3 de junho com Nick Cave e Patti Smith. allpointseast festival.com Primavera Sound De 7 a 9 de junho, o clássico festival espanhol tem sua versão portuguesa, na cidade do Porto. No line-up, mais de 60 nomes importantes da música mundial, como Lorde, Ibeyi e Grizzly Bear. nosprimavera sound.com Panorama NYC Em Nova York, de 27 a 29 de julho, em 2018 inclui nomes como Charlotte Gainsbourg e The XX. panorama.nyc Bilbao BBK Live Entre uma praia e o Guggenheim espanhol, o festival traz bandas como Alt-J, The Chemical Brothers e Cigarettes After Sex para Bilbao, de 12 a 14 de julho. bilbao bbklive.com

Mais do que ondas sonoras. Música é uma experiência completa, para ser sentida e cantada a plenos pulmões. Junto com Heineken, selecionamos nesta página algumas dicas para você viver a música do seu jeito. #LiveYourMusic

TEXTO: FERNANDA POLSE | FOTOS: DIVULGAÇÃO

O que está rolando pelo mundo nas artes, gastronomia e arquitetura, além dos melhores festivais para curtir o verão no hemisfério norte

Com arquitetura contemporânea de referências industriais vintage, o Market Hall Fulham abriu as portas em maio, em Londres. Situado na entrada da antiga estação de metrô Fulham Broadway, o espaço foi inteiramente reformado por um grupo de investidores britânicos, com a proposta de revitalizar um local até então abandonado. O conceito de praça de alimentação foi transformado em um centro gastronômico versátil, que dispõe de nove cozinhas, um café, uma delicatessen e um bar. O menu variado e a boa comida prometem agradar a todos os gostos e bolsos. markethalls.co.uk


COOL PEOPLE BEHIND COOL PROJECTS

“NÃO TEMOS QUE REINTEGRAR NINGUÉM, NEM INCLUIR — ESSAS PESSOAS SÃO A SOCIEDADE”

compartilhando privilégios

TEXTO: FERNANDA POLSE | FOTO: GUI MOHALLEM/DIVULGAÇÃO

À frente da Casa 1, residência aberta para pessoas LGBTs, Iran Giusti acredita que repensar as noções de habitação e compartilhar privilégios é um caminho para mudanças

Quando Iran Giusti decidiu abrir seu apartamento para abrigar pessoas LGBTs expulsas de casa pela família, não imaginava a dimensão que isso tomaria. Depois da primeira acolhida, ele postou no Facebook que sua residência estava aberta. Seu post foi compartilhado mais de duas mil vezes e, em poucos dias, Iran recebeu quase 50 pedidos de abrigo. Para ele, que já recebia hóspedes do Airbnb, foi natural oferecer seu sofá para desabrigados por homofobia, em situação de “vulnerabilização”. O gesto, no entanto, foi alvo de diversas críticas. “Quando passei a hospedar quem precisava de verdade, fui chamado de louco

para baixo”, relembra. Segundo o paulistano de 29 anos, o hábito é algo muito comum em famílias de baixa renda: “O estranhamento se dá porque eu sou um homem branco e cisgênero de classe média, mas é algo absolutamente recorrente: quantas famílias pobres que vivem nas capitais recebem jovens do interior?”, questiona. Apesar das reprovações, Iran largou o emprego fixo como jornalista do BuzzFeed e decidiu formalizar a ideia. A proposta cresceu e hoje é a Casa 1, residência de acolhimento para a comunidade LGBT, localizada no centro de São Paulo. A moradia tem uma política de portas abertas com capacidade para

receber 20 residentes, a cada três meses. São pessoas de várias idades, diferentes situações socioeconômicas, identidades de gênero e preferências sexuais. Além do amparo do abrigo, o projeto inclui um centro cultural aberto para a comunidade, cuja programação é pensada a partir das demandas dos moradores da casa e da região. Hoje, a Casa 1 oferece cursos de inglês, espanhol, canto, yoga, informática e preparatório para o Enem. Segundo Iran, os processos formativos criam um repertório para que pessoas violentadas durante a vida possam entrar no mercado de trabalho. Mesmo oferecendo esse suporte, ele re-

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siste em falar de inclusão: “Não temos que reintegrar, nem incluir ninguém — essas pessoas são a sociedade”, diz. O projeto aposta na economia solidária como caminho para manutenção do empreendimento, aceitando contribuições mensais através de um crowdfunding permanentemente aberto. “A Casa 1 é o que eu acredito para a sociedade. É mais que uma missão, é um espaço funcional e plural de gestão coletiva”, comenta. Apesar da visibilidade que o projeto conquistou, Iran não se deslumbra, nem romantiza os processos de transformação social. Ele pensa na iniciativa como uma continuidade do trabalho que sempre fez: entender necessidades e resolver problemas, evitando termos como dedicação ou generosidade: “Quando eu fazia Airbnb, ninguém me chamava de herói ou generoso, porque tinha uma troca monetária. Isso é um paradigma que a gente precisa romper urgentemente”. E complementa: “O que eu fiz foi o mínimo. Não abri mão de privilégios, eu compartilhei meu privilégio”.


MECARADAR

bandas para você ficar de olho

SOPHIE (Escócia)

URIAS (Brasil)

Depois de lançar um álbum com “Sophie” como pseudônimo e trabalhar no estúdio com Charli XCX e Madonna, a cantora finalmente revela seu rosto em um videoclipe emocionante para a música “It’s Okay to Cry”, assumindo artisticamente sua identidade e dando pistas sobre o seu próximo trabalho, “Oil of Every Pearl’s Un-insides” (anagrama para I Love Every Person Inside). A divulgação já conta com mais dois vídeos para “Ponyboy” e “Faceshopping”, duas fortes críticas ao mundo de falsas aparências das redes sociais. @sophie_msmsmsm

No começo de maio, Urias lançou sua versão de “Meu Mundo é o Barro” e, de quebra, nos hipnotizou com o tom grave de sua voz. Em suas mãos, a canção originalmente gravada pel’O Rappa teve sua letra adaptada (nesta, “o cara que era só um Zé” se tornou “uma puta mulher”) e ganhou uma levada reggae. O single também ganhou um clipe que, sem alarde ou um grande lançamento, logo alcançou um grande público — e fãs — pelo Brasil. Assim como diz o refrão, “ela é nova aqui” e veio para reforçar o coro LGBTQ+ na música brasileira. @uriasss

BEACH HOUSE (EUA)

DUDA BEAT (Brasil)

O sétimo álbum da banda norte-americana de dream-pop está entre nós. Intitulado “7”, o novo trabalho é um bem-vindo sopro de juventude para a trajetória do grupo criado em 2004. Com a faixa “Dark Spring”, o disco começa com um clima sombrio progressivo (já conhecido pelos fãs) e, em um piscar de olhos, te transporta para uma pista de dança mais tranquilinha, com músicas como a downbeat “Dive”. É uma ótima escolha para aqueles dias chuvosos cinzentos que, do nada, nos surpreendem com o reaparecimento do sol. @beaccchhoussse

Com uma visão contemporânea e ardida sobre relacionamentos, a cantora pernambucana lançou seu primeiro álbum, que foi o grande assunto musical nas redes sociais no último mês. O estilo atravessa o indie e se aventura no axé, tecnobrega, balada romântica e rimas bem elaboradas. A sofrência virou arte e o seu passado se tornou um grande álbum. “Sinto Muito” já está em todas as plataformas de streaming e em nossas playlists. Dentre as 11 faixas, “Bixinho” é a que não conseguimos parar de ouvir (e cantarolar por aí). @dudabeat

MECABEAT — DESTAQUES DA MÚSICA ELETRÔNICA INTERNACIONAL Jayda G Groove, disco, house e atitude fashion são as principais características da mais nova favorita DJ dos festivais. Com batidas selvagens e muita energia, a canadense transmite a alma em suas apresentações. @jaydagmusic

Nina Kraviz A DJ russa é um dos principais nomes do techno atual. Com uma pesquisa que mescla faixas de raves old school a lançamentos explosivos, ela transita entre vocais suaves e batidas ácidas com uma delicadeza brutal. @ninakraviz

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The Martinez Brothers Nascida e criada no Bronx (EUA), a dupla de irmãos de ascendência porto-riquenha se destaca pelos sets versáteis que mesclam hip-hop, house e techno, em batidas inigualáveis. @themartinezbros

A Ray-Ban aposta na música como forma de expressão. A convite da marca, os destaques da música eletrônica Nina Kraviz e The Martinez Brothers criaram uma coleção exclusiva de óculos Ray-Ban, com lançamento previsto para o mês de junho.

TEXTO: DIMAS HENKES | FOTOS: DIVULGAÇÃO; [A] RENATO GALVÃO/DIVULGAÇÃO

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ROUTE

CONVERSE

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VILA ROMANA

PERDIZES

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VILA BUARQUE

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PINHEIROS BELA VISTA

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JARDINS

PARAÍSO Todo mundo tem uma história que se mistura com a Converse, marcada na sola daquele antigo par de Chuck Taylor ou nos outros pares que ainda estão por vir. Nesta página, convidamos você a descobrir a cidade, explorar lugares e desenhar com os pés um novo caminho.

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PARQUE IBIRAPUERA

Para além da noite em São Paulo: conheça oito lugares para viver e experimentar a cultura LGBTQ+ CASTRO BURGER — Além da comida deliciosa, a hamburgueria — que se diz hetero friendly — é um lugar totalmente inclusivo, com opções veganas, bicicletário, acessibilidade na estrutura, espaço para pets e cardápios em braile. R. Joaquim Távora, 1517.

MUSEU DA DIVERSIDADE SEXUAL — Desde 2012, a instituição se dedica a exposições da cultura LGBTQ+ nacional. Situado no maior centro popular do Brasil, o espaço é um relevante instrumento de legitimação da diversidade. Estação República do Metrô.

EDIFÍCIO COPAN — Além da arquitetura ímpar, o icônico edifício de Niemeyer abriga três interessantes bares gay-friendly, para todos os gostos: o descolado boteco Orfeu, o intimista cocktail bar Fel ou o versátil boteco e lancheria Copan. Av. Ipiranga, 200.

CENTRO DE REFERÊNCIA DA DANÇA — Localizado na Galeria Formosa, no centro de São Paulo, o espaço oferece turmas regulares dentro do eixo “dança e gênero”. As aulas são ministradas por Félix Pimenta e intercalam estilos como voguing e wacking. R. Conselheiro Crispiniano, s.n.

BLOOKS LIVRARIA — Na filial paulistana, a livraria dispõe de uma seção de literatura LGBTQ+, com a presença de importantes nomes do pensamento da sexualidade, teoria queer e feminismo, como Judith Butler, Paul Preciado e Virginie Despentes. R. Frei Caneca, 569.

NUASIS — Para quem curte experimentar a sexualidade, a charmosa e secreta sex shop em Pinheiros vende desde artigos tradicionais como vibradores e straps-on a coleções exclusivas de dildos feitos em materiais como peroba e quartzo. R. Francisco Leitão, 237.

CINE SAPATÃO — Com encontros mensais, o evento exibe filmes com temática lésbica e propõe debates acerca dos enredos, além de promover talks sobre gênero, teorias queer, sexualidade e pornografia. Teatro Studio Heleny Guariba, pça. Franklin Roosevelt, 184.

CASA VULVA — Recém-inaugurado em uma aconchegante casa na Vila Romana, o espaço é totalmente gerido por mulheres e pretende conectar diversas áreas, como música, performance, artes visuais, culinária, política e, claro, luta LGBTQ+. R. Coriolano, 345.

TEXTO: FERNANDA BRANCO POLSE

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Produzimos os eventos que a gente gostaria de ir. Geramos o conteĂşdo que a gente gostaria de consumir. ConstruĂ­mos os lugares que a gente gostaria de frequentar. Criamos os produtos que a gente gostaria de comprar. Investimos nos negĂłcios que a gente gostaria de participar. Aproximamos as pessoas com quem a gente gostaria de conviver. Conectamos as marcas que a gente gostaria de trabalhar. Simples assim. Celebrando, desde 2010


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