E&M_Edição 01_Abril 2018 • Moçambique 2028

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ABRIL 2018 • Ano 01 • NO 1 Preço 200 MZN MOÇAMBIQUE 2028 O FUTURO CADA VEZ MAIS PERTO MOÇAMBIQUE A RECEITA DO FISCO ALARGAR A BASE, OU APERTAR O CINTO? CABO DELGADO O QUE (AINDA) FALTA NA PROVÍNCIA DO FUTURO EM FOCO A APOSTA (GANHA) DA TOPRAK EM MOÇAMBIQUE ENSINO SUPERIOR O QUE FAZER COM AS GERAÇÕES DO FUTURO?

52

OBSERVAÇÃO

População Os desafios do crescimento da população

Notícias Economia, Mercado, Turismo, Sociedade e Tecnologia

ENQUADRAMENTO

14 Infra-estruturas O que vai mudar na margem sul da capital com a nova ponte

18 Fiscalidade Como o sistema está a adaptar-se aos novos tempos económicos

NAÇÃO

O FUTURO

26 Moçambique 2028 O presente e as tendências económicas na próxima década 34 Recursos O mapa de como o gás, o carvão e outros recursos minerais farão crescer o país 38 Na voz de... Ministro da Indústria e Comércio, Ragendra de Sousa

PROVÍNCIA

Cabo Delgado

O que ainda falta na província onde mora o futuro da economia moçambicana

MERCADO E FINANÇAS

Publicidade

O ano passado foi o de maior investimento publicitário de sempre. Porquê?

EMPRESAS

Start-up

UX Tecnologia sustentável é o lema da UX e do jovem empreendedor Frederico Silva 54

MEGAFONE

Últimas

O que está a acontecer no mundo das marcas em Moçambique e lá por fora

ÓCIO

62 FIGURA DO MÊS

O que vem aí Jerry Mobbs, CEO da Vodacom fala do papel das telecomunicações na evolução do país

64 SOCIEDADE

Educação

Um olhar atento sobre o ensino superior. As tendências e o que ainda está por fazer

70 LÁ FORA

Mercados Como vai evoluir a relação da SADC com a União Europeia. E o que temos a ganhar com isso

Abril 2018 3 SUMÁRIO 6 8 14
26 44 48
75
76 Escape A beleza arquitéctonica do Radisson 78 Gourmet O Mercado Central dos Sabores 79 Adega O Pedra Cancela Malvasia Fina-Encruzado Dão Reserva 2014 80 Agenda Música, livros, filmes 81 Arte O mundo de Francisco Sepúlveda 82 Ao Volante Volvo XC40 chega ao mercado

Quem lê sabe mais.

estimado leitor. A Economia & Mercado (E&M) que está nas suas mãos é uma nova revista que pretende ser uma publicação mensal de referência. Orientada para a informação económica, empresarial e financeira, de publici dade e lazer, procura também olhar e reflectir sobre a generalidade dos acon tecimentos que mais impacto têm na economia e na sociedade moçambicanas, acompanhando a sua dinâmica de crescimento e desenvolvimento enquanto forma de perspectivar o Futuro do país.

Aos conteúdos que mensalmente lhe iremos trazer em cada edição está sub jacente uma vasta equipa de profissionais que integra ainda um Conselho Edi torial constituído por figuras das mais diversas áreas de actividade, com um conhecimento profundo da realidade nacional que lhes permite ter uma visão fundamentada na experiência e no conhecimento, das grandes questões do país actual.

Os principais activos da revista passam pelo rigor, seriedade e honestidade intelectual, sem sensacionalismo ou facilitismo na procura e no tratamento da informação. Definem-se assim as prioridades informativas da E&M exclu sivamente por critérios de interesse público, de relevância e de utilidade da informação.

Nesta primeira edição abordamos, essencialmente, temas com maior relevân cia na economia moçambicana, projectando um país com mais e melhor produ ção interna nos próximos quinquénios.

Apresentamos a visão de um dos membros do Conselho Editorial, o Professor Narciso Matos, em relação ao Ensino Superior, na qual se perspectiva a evo lução do mercado laboral do país, com apetência pelas ciências exactas e, por extensão, pelas engenharias e pela informática.

Vislumbramos, nos próximos 10 anos, um cenário de sustentabilidade do Orça mento do Estado com uma forte contribuição da exploração dos recursos natu rais, sobretudo o gás, o carvão e as pedras preciosas, que se vai consubstanciar em taxas de crescimento da economia jamais experimentadas. Mas também olhamos para o desenvolvimento com a necessidade de maior inclusão, com base na agro-indústria.

É com este tipo de intenção que disponibilizamos, todos os meses, a E&M aos estimados leitores, pois pretendemos seguir, letra a letra, o lema da revista: “Quem lê sabe mais.”

ABRIL 2018 • Nº 01

PROPRIEDADE Executive Moçambique

DIRECTOR Iacumba Ali Aiuba

CONSELHO EDITORIAL

Alda Salomão; António Souto; Narciso Matos; Rogério Samo Gudo DIRECTORA EDITORIAL GRUPO EXECUTIVE Ana Filipa Amaro EDITOR EXECUTIVO Pedro Cativelos

COLABORADORES Celso Chambisso; Hermenegildo Langa; Elmano Madaíl; Rui Trindade; Bruno Faria Lopes FOTOGRAFIA Jay Garrido; Vasco Célio PRODUÇÃO Iona - Comunicação e Marketing, Lda (Grupo Executive)

PUBLICIDADE DEPARTAMENTO COMERCIAL Ana Antunes (Moçambique) ana.antunes@executive-mozambique.com; iona@iona.pt/contacto@iona.pt (Portugal) ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO

E PUBLICIDADE Executive Moçambique; Rua do Telégrafo, nº 109 – Sala 6, Bairro Polana Cimento, Maputo – Moçambique; Tel.: +258 21 485 652; Tlm.: +258 84 311 9150; geral@executive-mozambique.com

DELEGAÇÃO EM LISBOA Rua Filipe Folque, nº 10 J – 2º drtº,1050-113 Lisboa; Tel.:+351 213 813 566; Fax: +351 213 813 569; iona@iona.pt

IMPRESSÃO E ACABAMENTO

Minerva Print - Maputo - Moçambique TIRAGEM 4 500 exemplares

NÚMERO DE REGISTO 01/GABINFO-DEPC/2018

5 Abril 2018
Director da revista Economia & Mercado
EDITORIAL
Iacumba Ali Aiuba

ECONOMIA REAL UMA IMAGEM COM OS DIAS CONTADOS

MOÇAMBIQUE, MAPUTO, FEVEREIRO DE 2018

À chegada da faina, num fim de tarde como outro qualquer, no Bairro dos Pescadores, na margem da grande Maputo, as vendedeiras de peixe abastecem-se na praia, num retrato informal de um sector que ganha formas rotineiras em tantos fins de tarde.

Em 2018, como em qualquer outro tempo anterior, há uma economia familiar que se alimenta em torno da pesca artesanal (da captura à revenda) e que é responsável por 276 mil toneladas de pescado por ano (a pesca industrial representa apenas 25 mil e contribuiu com 3,6% do PIB, em 2017, de acordo com o INE). Assim, num instantâneo aéreo sobre como o mar do peixe se encontra com o mar das gentes, percebemos o potencial económico de uma realidade que, em 2018, se pode apenas estimar. E que dentro de uma década, com os esforços em curso para agregar a economia real (80% da população) e a formal, fará desta uma imagem do passado.

OBSERVAÇÃO Abril 2018 6
TEXTO PEDRO CATIVELOS FOTOGRAFIA VASCO CÉLIO & JAY GARRIDO
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ECONOMIA

rações da semana do Brasil em Moçambique, que decorre en tre os dias 21 e 27 de Abril.

Turismo. O grupo hoteleiro es panhol Meliá inicia em Abril, as suas operações em Moçam bique. A oficialização da entra da no país foi anunciada du rante a Feira Internacional de Turismo de Madrid (FITUR). Numa primeira fase, o grupo vai operar com um hotel com 174 quartos. Esta será a primei ra incursão do grupo no conti nente africano, sendo que já opera há longos anos na Euro pa, concretamente em Espa nha e Portugal.

Território. O Ministério de Ter ra, Ambiente e Desenvolvi mento Rural (MITADER) lançou uma campanha nacional de fiscalização de terras que irá decorrer de Abril a Julho, vi sando estabelecer o cumpri mento das normas estabeleci das na Legislação sobre Terras, tendo em conta a promoção do acesso e do uso sustentável e efectivo da terra. Segundo o MITADER, a campanha é in serida na actual dinâmica de desenvolvimento socio-econó mico, acompanhada pela ex pansão demográfica, revisão e adequação da organização ad ministrativa do país.

Comércio. Uma delegação de empresários brasileiros che garão a Moçambique para se inteirar das oportunida des de negócios que a eco nomia nacional oferece aos investidores externos. Promo vida pela Câmara de Comér cio, Indústria e Agro-pecuária (Brasil-Moçambique), a visita está englobada nas comemo

Gestão. Resolver os proble mas socio-políticos e económi cos que assolam Moçambique, é o desafio colocado aos 68 es tudantes graduados nos cursos de Administração e Gestão de Empresas, Ciências Jurídicas, Contabilidade e Auditoria, En genharia Ambiental, Engenha ria Civil, Engenharia Eléctrica. A presidente da Comissão Ins taladora do Instituto Superior Politécnico e Universitário de Nacala (ISPUNA), Beatriz Lan ga, apelou aos estudantes para implementarem todos os co nhecimentos que adquiriram ao longo da formação com o objectivo de darem o seu con tributo no desenvolvimento económico do país. Já para os estudantes, este apelo repre sentou, certamente, o início de uma nova etapa.

que) assinou, no mês passado, em Maputo, um memorando de entendimento para a revi talização da cabotagem ma rítima em Moçambique. Ra tificado pelos presidentes dos Conselhos de Administração da Transmarítima S.A. e da Pes chaud Internacional, na pre sença do ministro dos Trans portes e Comunicações, Carlos Mesquita, o referido memo rando de entendimento visa regular as acções das partes envolvidas no processo para o desenvolvimento do transpor te de cabotagem marítima no país enquanto actividade que pretende “assegurar a ligação e o fornecimento de bens entre as províncias através dos por tos primários e secundários”, pode ler-se.

xão sobre o fortalecimento do ambiente de negócios no país, bem como a realização de par cerias com vista a aumentar a qualidade, a disponibilidade e o acesso a alimentos nutritivos e acessíveis para as comuni dades, de forma a tornar mais saudável a dieta alimentar dos moçambicanos.

Hidrocarbonetos. A procura de parcerias para sector por for ma a desenvolver os recursos naturais de Moçambique para uma industrialização avan çada e a criação de uma ca deia de valores para o país, é o lema da sexta conferência e exposição de Mineração, Pe tróleo, Gás e Energia (MMEC), que vai decorrer em Abril (25 e 26). Organizado pela AME Trade Ltd, em colaboração com a ENH, este evento pretende explorar o desenvolvimen to dos sectores emergentes do petróleo, gás e mineração em Moçambique.

Cabotagem. A empresa Trans marítima (detida pelo Esta do e pela Peschaud Moçambi

Para o ministro da tutela, Car los Mesquita, o transporte de cabotagem irá “reduzir os pre ços das mercadorias nos locais de destino e dinamizar o de senvolvimento económico dos vários locais por onde os ser viços de cabotagem marítima irão escalar, nomeadamen te os portos principais e os se cundários”, acrescentou. O in vestimento para o arranque da revitalização da cabotagem marítima, feito pela Transma rítima e pela Peschaud Mo çambique, está avaliado num montante a rondar os 10 mi lhões de dólares.

CPLP. Maputo vai acolher a conferência económica da CPLP (a 9 e 10 de Maio). Criar uma rota de investimentos e negócios dentro dos países -membros e estimular a coo peração e parceria entre ins tituições lusófonas é o objectivo da primeira conferência eco nómica do mercado da Confe deração Empresarial da Co munidade dos Países de Língua Portuguesa (CE-CPLP).

Transportes e sinistralidade. Para reduzir a taxa de sinistralida de na EN4, os minérios a granel deverão passar a ser trans portados nas linhas férreas e não por camiões. O ministro dos Transportes e Comunica ções, Carlos Mesquita, defende a implementação de medidas concretas para a migração cé lere da carga rodoviária para o sistema ferroviário, com vis ta à mitigação dos impactos causados pelo tráfego de ca miões na Estrada Nacional Nú mero Quatro (EN4), nomeada mente o congestionamento, a degradação da via, a insegu rança rodoviária, o agrava mento dos custos operacionais para o transporte de mercado rias e de passageiros e os pro blemas ambientais. Em 2017, 52% da carga foi transportada por via ferroviária, 36% por via rodoviária e menos de 1% por via marítima.

Qualidade alimentar. O aumento da qualidade, da disponibilida de e do acesso a alimentos nu tritivos será o tema em debate da Conferência Anual do sector privado (SBNMOZ), a decorrer na cidade de Maputo, no próxi mo dia 12 de Abril. O programa do encontro, propõe uma refle

Distinção. O Moza Banco foi dis tinguido pela prestigiada publi cação de especialidade na área financeira, a Banker Africa, com o prémio “Most Improved Bank”. Para o PCA do Moza, João Figueiredo, “este prémio espe lha o sucesso da estratégia de recapitalização do banco”.

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Ambiente e Direitos Humanos. A Rede de Estudos Ambientais de Países de Língua Portugue sa (REALP) anunciou a organi zação da Conferência Interna cional de Ambiente em Língua Portuguesa (CIALP). Sob o lema “Ambiente e Direitos Huma nos”, o evento vai decorrer em Portugal, na Universidade de Aveiro, entre 12 e 18 de Maio.

e turismo sustentável”. Cele brado todos anos a 29 de Maio, o MITADER toma como desa fio actual “aumentar o grau de consciencialização, conhe cimentos, compreensão e sen sibilidade acerca da biodi versidade”, lê-se na nota de imprensa. Para o MITADER, a bio-diversidade é ainda uma base fundamental para a evo lução do turismo.

TURISMO PROVÍNCIAS

BOLSA DE MERCADORIAS DE

MOÇAMBIQUE

Uma nova forma de comercialização de produtos agrícolas.

A Bolsa de Mercadorias de Moçambique (BMM) é um Instituto Público criado pelo Governo de Moçambique em 2012, que constitui uma plataforma de encontro entre a procura e a oferta de mercadorias em que as contrapartes negoceiam sob intermediação da BMM.

Actualmente, a BMM apenas intermedeia a transacção de commodities agrícolas (especificamente cereais e oleaginosas, como milho, feijões, castanha de cajú, arroz, gergelim e soja). A instituição conta com sete complexos de silos que servem para limpar, reduzir a humidade, pesar, testar e armazenar. Estes estão situados nas províncias de Cabo Delgado (Distrito de Ancuabe), Niassa (Cidade de Lichinga), Nampula (Distrito de Malema), Zambézia (Distrito de Mugema), Sofala (Distritos de Gorongosa e Nhamatanda) e Província de Tete (Distrito de Angónia).

Promoção. Decorreu em Lisboa, no dia 06 de Março do ano em curso, o Seminário de Promo ção do Destino Moçambique. O evento, enquadrado na estra tégia de melhoria e desenvol vimento do turismo nacional, contou com vários participan tes, com destaque para o minis tro da Cultura e Turismo, Silva Dunduro, e para o Presiden te da AVITUM (que congrega os agentes de viagens e os opera dores turísticos de Moçambi que desde 2002), Noor Momad, entre outras personalidades. As agências de viagens re presentadas pela AVITUM ti veram um papel nuclear na promoção do turismo moçam bicano e firmaram o compro misso de “apresentar o país da melhor forma a todos os que queiram descobrir o destino Moçambique”.

Sustentabilidade. Biodiversida de e turismo sustentável se rão temas, de um amplo deba te promovido pelo Ministério da Terra, Ambiente e Desen volvimento Rural (MITADER) que decidiu celebrar o Dia In ternacional da Bio-diversida de (BID), sob o lema “Natureza

Cabo Delgado. Uma missão em presarial italiana visitou a província, em Março passa do, com o objectivo de encon trar parcerias “e o fortaleci mento da colaboração entre o empresariado de ambos os países, bem como para identi ficar as principais áreas para futuros investimentos”. Os sec tores agrícola, turístico, do gás e das energias renováveis es tão na mira de muitos dos in vestidores que integraram a delegação, liderada pelo Em baixador da Itália em Moçam bique, Marco Conticelli.

Responsabilidade social. Mini mizar as perdas das famílias afectadas pelas chuvas que caíram recentemente, na pro víncia de Nampula, e um pouco por toda região centro e norte do país, foi o motivo encontrado pela empresa de energia Kar powership para levar a cabo a acção de oferta de cestas bá sicas a mais de 400 famílias na cidade de Nacala. A iniciativa foi desencadeada em colabo ração com o município da cida de e pela empresa responsá vel pelo fornecimento da rede eléctrica naquela localidade, e em grande parte da região norte do país. Recorde-se que a Karpowership é a proprie tário da primeira e única es tação flutuante de energia em todo o mundo. Além de Moçam bique, a empresa opera em ou tros mercados, como o Gana, Indonésia, Líbano, Gâmbia e Serra Leoa.

Hoje, quatro anos depois, a carteira de clientes da BMM, as quantidades depositadas, as intermediações realizadas com sucesso, o número de beneficiários de financimento bancário por via do CD introduzido pela BMM e as quantidades de produtos transaccionados, registaram um crescimento assinalável.

EVOLUÇÃO DOS PRINCIPAIS INDICADORES DA BMM

QT de mIlho Kg) 737.740,00 6.841.129,00 12.448.510,00 20.027.379,00

QT de soja (Kg) 536.630,00 399.470,00 1.306.690,00 2.242.790,00

QT de gergelIm (Kg) 21.950,00 27.500,00 21.150,00 70.600,00

QT de arroz (Kg) 366.500,00 60.000,00 426.500,00

QT de feIjão nhemba (Kg) 23.530,00 531.240,00 554.770,00

QT de feIjão boer (Kg) 227.800,00 2.506.550,00 2.734.350,00

QT de feIjão holoco (Kg) 1.490,00 1.440,00 2.930,00

nhamaTanda 430.417,73 1.028.497,01 16.177,89 -sofalagorongosa 61.456,84 - - -zambézIamugema - 45.426,81 -nampulamalema 651.185,99 147.276,75 - 160,02cabo delgadonanjua 1.200.322,71 7.997,60 - 59.975,64TeTe - Úlonguè 429.091,02 - - - 8.961,89 nIassa - l chInga - - - - 56.719,37 ToTal/produTo 2.772.474,29 1.229.198,17 16.177,89 60.135,66 65.681,26

Maputo, Bairro da Coop - Rua E, Nº 13 Telefone: + (258) 21902503 - (258) 843203371 Email: info@bmm.co.mz

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FONTE Direcção
Operações da BMM
de
Ind cador 2015 2016 2017 ToTal nº de operadores angarIados 13
45 153 cerTIfIcados de depósITos emITIdos 15 119 134 nº de Transacções realIzadas 24
47
95
23
complexo
sIlos pr nc paIs produTos em (Kg mIlho feIjão boer gergelIm feIjão nhemba soja
de
sofala
A BMM DISPÕE NOS SEUS COMPLEXOS DE SILOS E ARMAZÉNS AS SEGUINTES QUANTIDADES DE MERCADORIA

PAÍS

Caça furtiva. O Primeiro-mi nistro (PM), Carlos Agostinho do Rosário, conferiu posse, em meados de Março, ao novo Di rector-geral da Administra ção Nacional das Áreas de Conservação (ANAC), Mateus José Mutemba. Na ocasião, o PM desafiou o empossado a assegurar a contínua melho ria da operacionalização do funcionamento da ANAC, “pri vilegiando a capacitação e formação especializada dos recursos humanos, sobretudo na componente técnica e da fiscalização”.

O PM assinalou ainda a impor tância do organismo para “ga rantir o ordenamento dos as sentamentos humanos que se encontram no interior das áreas de conservação; preve nir e desencorajar a prática ilegal da actividade de mine ração, de caça de exploração florestal madeireira”.

Educação. Moçambique vai acolher, nos próximos dias 2 a 4 de Maio, a terceira edição da Conferência Internacional de Educação, que irá reunir figuras do Governo e parcei ros de cooperação para dis cutir os desafios do sector da educação. Promovido pela Co munidade Académica para o Desenvolvimento (CADE), o evento tem como lema “As segurar um Desenvolvimen to Sustentável investindo na Educação”. O evento é anual, e acontece num momento em que o país está em busca de soluções sustentáveis para

a melhoria de qualidade do ensino.

Ensino Superior em debate na África Austral. A primeira Conferência Anual de Ensi no e Aprendizagem no Ensi no Superior da África Austral vai decorrer em Maputo, nos dias 12 e 13 de Abril. Organiza da pela Faculdade de Educa ção da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a conferên cia tem como foco o aprimora mento do ensino e da apren dizagem no ensino superior, avaliando ainda os métodos de avaliação no ensino supe rior, o currículo em vigor e o uso das tecnologias de infor mação e comunicação.

Responsabilidade social. Com o lema “Ganhar a alegria de um sorriso”, a Câmara do Co mércio Portugal-Moçambi que (CCPM) organiza uma ac ção de responsabilidade social luso-moçambicana. O objecti vo é, de acordo com um comu nicado da CCPM, “fortalecer as relações económicas entre os dois países, enriquecendo ain da a cultura e as competên cias entre os povos”. O even to irá decorrer no dia 29 de Maio, em Maputo, e preten de servir de ponto de parti da para um Prémio anual que a CCPM pretende promover para galardoar a Organiza ção Não Governamental (ONG) que mais se evidencia pelos seus resultados, no terreno.

Desnutrição. Acabar com a des nutrição crónica no país é o lema das XIV Jornadas Cientí ficas do Instituto Superior de Ciências de Saúde (ISCISA), que irão decorrer entre os dias 17 e 18 de Maio. O objectivo pas sa por permitir uma aborda gem ampla dos problemas da desnutrição de forma mais in tegrada e multissectorial. Tendo em conta os vários de safios desta temática, a busca de “soluções sustentáveis, ade quadas e duradouras” é um dos objectivos do encontro. No evento, estudantes, corpo do

cente, assim como nutricio nistas de diferentes hospitais rurais e distritais vão trocar ideias de modo a procurar so luções para minimizar os índi ces de desnutrição.

Igualdade. Maputo será pal co do II Simpósio MenEngage África 2018. Entre 23 e 27 de Abril, o debate acontecerá em torno do tema “Pobreza e suas manifestações, incluindo a fe minização da pobreza, o com bate às desigualdades sociais e a relação entre os países para a edificação de socieda des pacíficas”. Trata-se de um evento que se enquadra na Agenda 2030 dos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), sob o lema “Não deixar ninguém para trás.”

Capacitação. É o objectivo de um workshop promovido pela Django Girls (ONG). A decor rer em Maputo, a 7 de Abril, os organizadores pretendem dotar as mulheres em maté ria de computação, com vista à integração no mercado de trabalho.

TECNOLOGIA

para “o crescimento e desen volvimento socio-económico de Moçambique” e ao mesmo tempo procurar “criar um es paço de debate, interacção e troca de experiências.”

Inovação. Já estão abertas as inscrições para a X Confe rência Científica, que vai de correr sob o lema “O papel da investigação e inovação no desenvolvimento de Mo çambique”. Trata-se de um fó rum bienal, interdisciplinar e multidisciplinar que irá pro mover a apresentação de resultados de trabalhos de investigação realizados por docentes, investigadores e estudantes de diversas insti tuições de ensino. Para os or ganizadores, a décima confe rência servirá ainda para a criação de oportunidades pa ra o estabelecimento de con tactos e parcerias para uma cada vez maior interacção en tre investigadores.

MozTech. Como as novas tec nologias estarão ao serviço do desenvolvimento do país e qual o seu papel, é o tema da feira de tecnologias de infor mação e comunicação em Mo çambique. A decorrer de 24 a 26 de Maio, o evento junta rá diversos intervenientes da área tecnológica, entre eles estudantes e pesquisadores, com o objectivo de fomentar a cultura tecnológica como pilar

Acordo. As Linhas Aéreas de Moçambique - LAM e a com panhia FastJet firmaram, no final de Março, uma parceria que prevê a partilha de códi gos de vôos, exploração de ro tas, entre outras actividades comerciais e de manutenção. De acordo com o Presidente da Comissão Executiva da LAM, António Pinto, em declarações à imprensa, “a parceria vai contribuir para o desenvol vimento económico e comer cial das duas instituições e do país”. O acordo terá a duração de seis anos e entra em vigor de imediato, prevendo tam bém a manutenção dos aviões das duas companhias, um fac to que, de acordo com António Pinto, irá causar uma melho ria dos serviços prestados pe las duas empresas. “Iniciativas como esta contribuem para a promoção do turismo e para o desenvolvimento económico”, concluiu.

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ÚLTIMAS

O OUTRO LADO DO RIO

O desenvolvimento económico chega por estradas e pontes, trazendo investimentos, emprego e crescimento. Do lado de cá do rio, é o que se espera para a Catembe. Mas há obstáculos nesse caminho.

maputo, 2028, dia de semana de manhã. Uma longa fila de trânsito desliza lenta mente no sentido Catembe-Maputo. Algo semelhante ao que se vive nou tras grandes cidades com um rio a se pará-las, como Lisboa, Londres ou Nova Iorque.

Do lado de cá, vêem-se do lado de lá, edi fícios altos e uma nova vida, que em 2018, era apenas imaginação.

Do outro lado do rio Maputo, há uma nova vida, alavancada por uma obra controversa, mas que fez estender a ca pital rumo a Sul.

Descontando anos à visão futurista, o projecto (da CRBC, China Road and Brid ge Corporation) tem intenções quase tão grandes como o seu custo final (pouco acima dos 800 milhões de dólares): ala vancar a economia, o turismo e criar uma nova centralidade no distrito da Ca tembe (hoje com 20 mil habitantes), uma

vez que engloba ainda a abertura das vias de acesso que ligam Maputo e Ponta de Ouro, assim como Bela Vista a Boane. Comecemos pelas pessoas. As previsões do Instituto Nacional de Estatística (INE) e do Banco Mundial apontam para um crescimento demográfico na área me tropolitana de Maputo que fará duplicar os actuais números de habitantes dentro de 20 a 30 anos (Maputo cidade tem hoje 1,1 milhões de pessoas de acordo com o último Censo Geral). Perante a dificulda de de expansão de Maputo para Norte, onde a cidade já está muito condicionada e caracterizada pela urbanização não planeada, perspectiva-se um grave pro blema social, pelo que a “nova” Catembe poderá ser a resposta positiva a estas questões. Graças a um plano aprovado pelo Município de Maputo, a cidade nova da Catembe estará devidamente prepa rada para acolher 400 mil habitantes.

E é por todo este potencial que a constru ção da ponte Maputo-Catembe (em prin cípio devia ter terminado em Dezembro passado, estando agora prevista para o semestre em curso) tem atraído os olha res e os interesses de inúmeros inves tidores em busca de novas oportunida des de negócios que poderão catapultar a economia da região (e a nacional, por que não?). Se há quatro anos, tudo pare cia estar a caminhar a passo de cara col, do outro lado do distrito urbano da Catembe, os projectos começaram, final mente, a acelerar o passo, na medida em que a ponte começou efectivamente a crescer e a passar do papel para o ci mento armado.

A outra margem De acordo com os dados do INE, divulga dos em 2017, as atividades económicas predominantes na Catembe são, actual mente, a agricultura de subsistência, a silvicultura e a pesca artesanal, que compõem 88,6% da economia do distrito. Com uma taxa de desemprego estimada em 15% a nível distrital e um rendimen to médio mensal por família que ronda os dois mil meticais, o distrito apresenta uma taxa de pobreza a rondar os 75%. Ao olharmos para estes números, perce bemos bem a dimensão da mudança que está para vir na região. Uma mudan

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M
ACRO

ça que se perpectiva, em larga medida, para os sectores da construção e imobi liário, indústria e turismo. Serão estes os que poderão registar profundas trans formações com a conclusão das obras da ponte. E claro, todas elas com ecos mais ou menos evidentes ao nível da quali dade de vida das populações da região. O optimismo é partilhado pela Confede ração das Associações Económicas de Moçambique (CTA), que na voz do presi dente do pelouro dos transportes, Casti go Nhamane, projecta o fim do principal embaraço que dificultava os investi mentos da parte dos empresários. “É um grande passo para o sector empresarial. A abertura da ponte e a ligação à Catem be vai permitir a diversificação dos ne gócios na província de Maputo”, refere Nhamane.

Como? O responsável da CTA, explica que “só pelo facto de muitos investidores te rem agora uma nova zona para explo rar, e um potencial novo destino para os seus investimentos, faz toda a diferen ça”. Porque antes, “ninguém ali inves tia, apesar de ser tão perto da capital, mas por ser bastante inacessível”, lem bra. E até a proximidade com a África do Sul (a estrada ligará Maputo directa mente à fronteira numa distância a ron dar os 100 quilómetros), a circulação de bens a nível interno assim como para os países vizinhos tornar-se-à mais efecti va ao nível dos custos”, até por se cons tituir como alternativa à actual frontei ra de Ressane Garcia, a principal porta de entrada no país a partir da vizinha África do Sul, para pessoas e principal mente bens importados. “Com a ponte em pleno funcionamento, muitas pessoas po derão passar a usar a fronteira da Pon ta de Ouro e a distância fica muito curta em relação àquilo que acontece até ago ra”, complementa.

Outra das consequências naturais da inauguração da maior ponte suspensa do continente africano é a inflação, no meadamente dos terrenos, na margem Sul de Maputo, e que já se notam na Ca tembe e nos lugares circunvizinhos de há pelo menos dois anos a esta parte. Se gundo contam os residentes, se num pas sado recente não havia problemas de usurpação de terras, agora isso tem-se verificado devido ao agravamento de preços para a aquisição de DUAT. No entanto, pouco há a fazer nesta altura para que os preços não disparem, como aconteceu nos últimos meses. Será a lei do mercado. Irá haver uma nova oferta, e irá haver procura, pelo menos a con

MILHÕES DE DÓLARES SERÁ O CUSTO FINAL DE UMA

OBRA QUE GEROU, DESDE SEMPRE, UMA ENORME POLÉMICA.

A QUESTÃO QUE TODOS COLOCAM É SE, FEITAS AS CONTAS FINAIS DA OBRA LEVADA A CABO PELA CHINA ROAD AND BRIDGE CORPORATION, OS BENEFÍCIOS IRÃO SUPERAR OS GASTOS

800tar pelos planos do Município de Mapu to. Para Euclides Rangel, director para área de Planeamento Urbano e Ambien te da edilidade, o grande impacto que a ponte poderá trazer é “tornar a Catem be num centro urbano com infra-estru turas de qualidade, tanto comerciais como habitacionais”. “O plano que temos para os próximos anos é tornar aquela zona um polo de atracção de investido res para a instalação de projectos que possam gerar emprego para a popula ção local, obedecendo a todas as condi ções do planeamento urbano”, sublinha Rangel. Olhando para o futuro, Euclides Rangel projecta que, “nos próximos anos, o distrito da Catembe e arredores, (como é o caso da Ponta de Ouro, vai permitir que haja uma via aberta num corredor estratégico de transporte de mercado rias para Moçambique, Swazilândia e África do Sul”.

O QUE ESTÁ PREVISTO

Por outro lado, de acordo com o Plano Ge ral de Urbanização (PGU), aprovado pelo Município, acredita-se que o crescimento infraestrutural poderá permitir a dispo nibilização imediata de serviços básicos, que os residentes daquele local carecem há vários anos, nomeadamente escolas, comércio e transportes. De acordo com o referido projecto, “a fácil movimentação de pessoas e de bens vai originar a di versificação da prática do empreende dorismo nas diferentes camadas sociais“, pode ler-se. Um estudo feito pelo Instituto dos Estudos Económicos e Sociais (IESE) su porta essa conclusão, ao referir que após a conclusão da ponte e da via rodoviária que liga Maputo à Ponta de Ouro, com os acessos pela Bela Vista e Boane, respec tivamente, “a margem sul da capital do país tornar-se-á num local atractivo para os investimentos públicos e privados”.

Em milhões de hectares

ÁREA

HABITAÇÃO 9,5 COMÉRCIO E SERVIÇOS 3,2 INDÚSTRIA E LOGÍSTICA 1,8 EQUIPAMENTOS COLECTIVOS 0,9 TURISMO 0,4

área dedicada à habitação 59,9%

Será destinado a zonas verdes 21,5%

Um sector imobiliário reticente Se as expectativas são elevadas, há, no entanto, alguma cautela na forma como estas são encaradas, como, por exemplo, no sector imobiliário, onde se notam al gumas reticências quanto ao desenvol vimento da margem sul da baía de Ma puto, de acordo com agentes ouvidos pela E&M.

Segundo João Catela, consultor com lar ga experiência no sector imobiliário em Moçambique, business development manager na Hodari Properties, multi nacional da área do imobiliário, “a ponte em si nada vai trazer para o desenvolvi mento económico da Catembe enquanto a mesma não for acompanhada pela ins talação de serviços básicos”.

Abril 2018 15
É a
O desenvolvimento urbanístico da Catembe prevê uma nova cidade com uma área de 15,8 milhões de hectares. A construção da ponte e da rede de estradas irá alterar as condições de acessibilidade e as infra-estruturas optimizarão os níveis de serviço –abastecimento de água, saneamento, energia, telecomunicações e gás. FONTE Plano de Desenvolvimento da Catembe

O PROJECTO

O Plano Geral de Urbanização do Distrito Municipal da Catembe, desenvolvido de acordo com o Plano de Estrutura Urbana de Maputo, estabelece uma área de 4 056 hectares de solo urbanizável nos bairros de Guachene, Incassane, Chamissava, Chali e Inguide, que impulsionarão a população a crescer dos actuais 20 mil habitantes, para cerca de 400 mil, quando todas as fases do projecto estiverem concluídas, num prazo de duas décadas. Desta extensa área, aproximadamente 873 hectares (21,5% do solo urbanizável) destinam-se a áreas verdes.

foto

400 mil

É A PREVISÃO DO NÚMERO DE HABITANTES PARA A ZONA DA NOVA CATEMBE, DE ACORDO COM O PLANO DE URBANIZAÇÃO

“É preciso que as autoridades governa mentais comecem desde já a desenhar mecanismos para o fácil acesso a servi ços que possam atrair os investidores, de forma a que estes olhem para a Catem be como sendo um bom lugar para os seus investimentos”, defende Catela. A criação de emprego que daí advirá, será um bálsamo para alguns proble mas sociais daquela zona. A população local mostra-se preocupada com a taxa de desemprego que assola essencial mente uma camada juvenil, com as con sequências nefastas que isso provoca. “Esperamos que essas oportunidades de emprego se concretizem e ajudem a sal var a nossa juventude”, frisa José Tem be, um comerciante local, ouvido pela reportagem da E&M.

Natureza por explorar

Para Catela, essa lacuna ao nível das in fra-estruturas, nomeadamente ao nível da expansão da rede eléctrica e de abas tecimento de água, “poderá ser um em baraço para os investidores que quei ram apostar naquele ponto”, assegura. E acrescenta que “a ponte é apenas uma ligação das duas margens. Falta, por en quanto, tudo o resto, e isso não se faz em dois ou cinco anos”, sublinhou. Quanto ao mercado imobiliário, as pers pectivas são mais optimistas. Para já, segundo Catela, há efectivamente “um aumento significativo da procura de es paços no distrito da Catembe, que se tem feito sentir desde o ano passado, período em que a edilidade começou a atribuir o Direito de Uso e Aproveitamento de Ter ra (DUAT)”. Mesmo sem disponibilizar dados, o especialista no sector imobiliá rio adverte que este aumento é acompa

nhado pela subida do preço dos terrenos. “Há dois anos, um metro quadrado cus tava cerca de um dólar, agora o preço aumentou várias centenas por cento”, revela.

Investimento à vista

A parte industrial não deve ser esque cida, visto tratar-se de um dos grandes desígnios da economia nacional para os próximos anos. Será lógico pensar, que numa zona dotada de bons acessos, e onde o espaço é aberto, se projectem inúmeros investimentos, nomeadamen te a instalação de unidades de proces samento industrial (agro-processamen to essencialmente, uma vez que esses distritos são potências em área agríco la). “A expectativa é que a médio pra zo haja investimentos para alavancar o sector agrícola, de facto”, reiterou Catela.

O turismo é o sector em que todos os ou tros confluem. Precisa de acessos, pro dução e mão-de-obra especializada. E de paisagem, claro. Mas isso há por todo o Moçambique. O resto vem a caminho, espera-se. Esta visão é partilhada pe los agentes turísticos que vêem com bons olhos a conclusão da ponte para o aumento das taxas de rentabilidade do ramo hoteleiro, que assim conseguirá atrair um crescente número de pessoas, nomeadamente provenientes da capital. “Acredito que após a conclusão da ponte as nossas receitas poderão evoluir bastante, uma vez que com o encurtamento da dis tância e a melhoria das vias de acesso vão permitir o aumento do fluxo de pessoas”, considera Camilo Cossa, gerente de uma estância turística localizada na Ponta de Ouro, um dos pontos turísticos mais visi tados em Moçambique (embora, na sua grande maioria, por sul-africanos). No en tanto, para muitos dos gestores hoteleiros daquela zona, o receio de que com a estra da chegue a criminalidade (de Maputo e da própria África do Sul) é bem real, e pe dem, maior policiamento na região. Para João Catela, “com a melhoria das vias de acesso aumentará a capacidade de atrac ção de novos turistas, o que terá implica ções no aumento do número de dormidas e na economia local, ao nível do consumo, por exemplo. E há ainda o desenvolvimen to de novas, e cada vez melhores, infra-es truturas, de acordo com a maior procura”, ressalva. Se a distância para o desenvol vimento é longa, nada como uma ponte para a encurtar, afinal.

Abril 2018 16 MACRO
TEXTO
HERMENEGILDO LANGA FOTOGRAFIA JAY GARRIDO

2028, O ANO DA INDEPENDÊNCIA FISCAL. SERÁ?

Até 2024, o Orçamento do Estado moçambicano deverá ser auto-sustentável. Em 2028, se tudo correr como as previsões apontam, poderá mesmo começar a gerar excedentes e a alimentar a economia.

o dilema existencial do défice negativo entre despesa e receita e o impacto dessa realidade endémica na economia, pode ter um fim à vista. É uma boa ima gem para se poder ter uma radiografia ao que é o mapa fiscal do país.

Fazendo um exercício de previsão, olhando ao quadro actual, a receita do Estado deverá mais do que duplicar nos próximos cinco anos, passando dos cer ca de 222 mil milhões de meticais, que se projectam para este ano, para os 566 mil milhões em 2023. As previsões são da Autoridade Tributária (AT) de Moçambi que. Num exclusivo à E&M, a AT estima que por essa altura, e se não houver al terações ao normal funcionamento da economia, o Estado poderá alcançar, pela primeira vez, a autonomia financeira. Isto é, passará a ter capacidade de finan ciar as suas despesas apenas com base em recursos internos.

As estimativas da AT, são baseadas no crescimento anual de receitas e andam lado a lado com a previsão da expansão do Produto Interno Bruto (PIB). Com este desempenho, no horizonte de 10 anos (até 2028), as receitas do Estado podem chegar, ou mesmo ultrapassar, um bilião de meticais. Em termos de cobertura ao Orçamento do Estado, em 2023, o défice dará lugar a um superávit (saldo positi vo), podendo a colecta de impostos atin gir cerca de 117% das despesas anuais, em 2028.

Como fazer

Mas para que este cenário seja de facto real, tem um peso preponderante nes tas contas a produção e exportação de gás na Área 1 da Bacia do Rovuma, pelo consórcio liderado pela Anadarko, e na 4, pelo consórcio liderado pela italiana ENI e a norte-americana Exxon Mobil, e as respectivas mais-valias que daí advirão. Em entrevista à E&M, o coordenador-ge ral da unidade de indústria extractiva da AT, Aníbal Mbalango, explica que a primeira condição para ampliar a base tributável é “que a economia cresça”. E porque espera que o crescimento seja efectivo (o PIB deve mais do que duplicar de 12 para 30 mil milhões de dólares em 10 anos), coloca outra condição: “a adop

MBALANGO, AT

MIMBIR, CIP

“Grandes empresas como a Exxon Mobil, vão juntar-se a outras como a ENI e a Anadarko que têm já aprovados os seus planos de desenvolvimento. A expectativa que se tem é que a partir de 2024 comece a produção de gás, o que nos dá conforto, no sentido em que a base tributável estará cada vez mais sólida”.

“Precisamos de um plano de desenvolvimento estruturante, que nos diga, claramente, o que precisamos, qual o investimento necessário em infra-estruturas, para resolver problemas na agricultura, no turismo, na educação. Defendemos a criação de um Fundo como mecanismo de gestão da receita”.

ção de um padrão de crescimento capaz de distribuir com maior abrangência os rendimentos gerados pela actividade produtiva, o que permite elevar o uni verso de contribuintes”, explica. Se a estrutura tributária for observada como uma pirâmide, dir-se-ia que a base ainda é pequena e pouco capaz de con tribuir mais do que já faz.

Uma das razões é o facto de Moçambi que ser uma economia pequena. Quão pequena? Bem, em 2017, a riqueza gera da por toda a actividade económica em Moçambique foi de 11,9 mil milhões de dólares (o PIB). No mesmo período, o do vizinho do norte, a Tanzânia, chegou aos 47 mil milhões. Já o do vizinho de baixo, a África do Sul, chegou aos 294 mil mi lhões. E se olharmos lá para cima, lá es tão os Estados Unidos, com 18,5 biliões de dólares, ou seja, 1800 vezes mais do que o PIB nacional, no ano passado. De volta à realidade. Do universo da população economicamente activa, a maior parte está fora do sistema tribu tário (82.5% da população, de acordo com o INE), no chamado sector informal. Dos que sobram, grande parte está isenta

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ÁF T I MA
MACRO
A N Í BAL

de impostos porque os seus rendimentos (incluindo salários) estão abaixo do cha mado “mínimo não tributável”, Ou seja, a legislação estabelece que não é tributa do o rendimento anual inferior ou igual a 225 mil meticais, o equivalente a 18 750 meticais mensais. “No cenário em que es tamos, a maior parte dos trabalhadores não contribui para o sistema tributário. Não porque não querem, mas porque a Lei os isenta”, lamenta Mbalango.

Só as extractivas não chegam Assim, resta o aumento das fontes de re ceita, com o boom da exploração do gás no horizonte distante, e a continuidade do crescimento das exportações de car vão no curto prazo, como os principais vectores do crescimento da plataforma contributiva. “Estamos muito confiantes em bons resultados porque o ambiente de hostilidades político-militar cessou, o preço das commodities está com ten dência a crescer”, observa Aníbal Mba lango. Entretanto, deixa uma chamada de atenção: “Não se pode aferir que o crescimento das receitas irá signifi car redução da dependência externa. Há que lembrar que o Estado espera ar recadar uma receita que varia entre os 60 e os 70 mil milhões de dólares durante os 25 anos de concessão das várias explo rações dos projectos de gás natural de Cabo Delgado, mas enquanto esta recei ta não chega (e isso só deverá acontecer dentro de cinco ou seis anos), a economia tem de funcionar”.

CIP preconiza “mudança estrutural” Para o Centro de Integridade Pública (CIP), uma das mais importantes orga nizações moçambicanas da Sociedade Civil, mesmo sem avançar estimativas sobre o que Moçambique será capaz de arrecadar, os “próximos 10 anos serão decisivos para começarmos a ver as condições de vida das comunidades me lhoradas; e para a concretização dos pla nos de crescimento social do país”. Fátima Mimbir, pesquisadora do CIP, expressa o seu optimismo observando o potencial gerado pelo sector extractivo, mas tem em atenção o facto de que mui tos projectos (sobretudo da área do oil & gas) só poderão gerar recursos para o Estado quando as empresas tiverem recuperado os custos dos investimentos. Acreditando que não ocorram situa ções negativas ao longo deste período, o CIP prevê que haja condições para uma “mudança estrutural extraordinária”. “O país terá receita para financiar as suas

RECEITA FISCAL DEVERÁ AUMENTAR CONSIDERAVELMENTE 1 000

+450%

É quanto as receitas do Estado com impostos poderão aumentar

de de vida das pessoas, é preciso que a alocação dos recursos seja aplicada em áreas bem definidas. O CIP entende que “é preciso realizar investimentos de lon go prazo na educação (melhorar a qua lidade e assegurar a universalidade na formação de pessoas); e na saúde, onde é preciso resolver problemas básicos como a malária e outras doenças endé micas através de investimentos mais consistentes (formação e contratação de profissionais com melhor qualificação e proceder à expansão de unidades sa nitárias”. E claro, “também é preciso in vestir em infra-estruturas que facilitem o investimento estrangeiro e nacional” e ajudem a diversificar a economia, po tenciando áreas capazes de gerar mais postos de trabalho em sectores como a agricultura, o turismo e os serviços.

Em %

2018 2023

Em mil milhões de meticais 202 2018 79,9% 102,1% 116,9%

COBERTURA DOS IMPOSTOS AO ORÇAMENTO DEVERÁ TORNAR-SE SUPERAVITÁRIA 2028

16,9%

Superavit gerado pela colecta de impostos em 2028

NOTA Os resultados são baseados numa estimativa da E&M que assume o aumento anual da cobertura das receitas ao Orçamento do Estado na ordem dos 3,7 pontos percentuais que se projecta de 2017 para 2018, admitindo que não há alterações significativas nos pressupostos de desempenho macroeconómico, conforme sugestão da AT.

despesas na totalidade e ainda ficaría mos numa situação de superavit”. Opti mista está também a fiscalista Romana Almeida, da consultora internacional RSM Moçambique: “Assumindo o desen volvimento da actividade e exploração do gás natural e o aumento de produção da indústria mineira, num espaço de mé dio e longo prazo, o Estado vai aumentar a captação de receitas, possibilitando dessa forma a independência orçamen tal”, prevê a fiscalista. Mas para que o crescimento das receitas do Estado seja capaz de gerar melhorias na qualida

Questões por corrigir Para que não se perca a oportunidade de maximizar benefícios para a econo mia. Um exemplo? Há cerca de sete anos, houve garantias de que as condições lo gísticas melhorariam e que a brasileira Vale, que explora carvão na província de Tete, teria outras alternativas à linha férrea de Sena para escoar a sua produ ção. E só recentemente (no ano passado) passou a contar com o corredor logístico de Nacala completamente operacional. Assim, em cinco anos consecutivos, o Go verno arrecadou muito abaixo dos cerca de 500 milhões de dólares anuais inicial mente previstos.

Outra chamada de atenção, lançada pela CIP, tem a ver com a capacidade de fisca lização à produção de gás. “O Estado vai receber mais-valias e royalties, mas é preciso garantir que há capacidade de fiscalização do que as empresas produ zem, para evitar fugas ao fisco”.

Há uns anos, porventura, a estrutura tributária não estaria preparada para todo este mundo novo, mas as dificulda des dos últimos anos terão tido algo de bom. “Sim, levaram-nos a tentar melho rar e a agilizar o sistema fiscal e a torná -lo mais eficaz”, diz-nos o responsável da Autoridade Tributária.

Se é a errar que todos aprendemos, Mo çambique teve os últimos cinco anos para o fazer. Os próximos cinco, serão de espe ra para que a produção e exportação do gás se inicie, para que, em 2028, todos os caminhos apontem, então, para o desen volvimento pleno.

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FOTOGRAFIA
TEXTO CELSO CHAMBISSO
JAY GARRIDO
2028 566 2023

Uma geração com grandes desafios

percorre-me sempre um estranho sentimento misto de in segurança e optimismo quando penso no meu país daqui a 10 ou 12 anos. Os meus netos terão então entre 16 a 20 anos. Como será Moçambique em 2028 ou 2030? Que desafios a geração de crianças que hoje têm entre 5 e 14 anos irão enfrentar nessa altura?

Daqui a 10 ou 12 anos, se estas crianças - que hoje são cerca de 7, 7 milhões - não tiverem um emprego produtivo, nem estive rem minimamente alimentadas, receio dizer que o projecto de consolidação da Nação poderá estar em risco. Destaco, pois, o que considero serem os dois principais desafios da próxima década: o emprego produtivo e a segurança alimentar. Analiso o último censo e tomo nota que daqui a uma década seremos então entre 37 e 40 milhões de cidadãos. Hoje somos 28 milhões. No anterior censo, em 2007, éramos 21 milhões. Estamos a crescer a uma taxa média anual na ordem dos 3%. Em 2018 a população com idade entre os 15 e os 24 anos e que passa a ser economicamente activa é de cerca de 5,6 milhões, ou seja 20% do total. Estima-se que pelo menos 50% destes jo vens, isto é, 2,8 milhões não beneficiam de qualquer amparo familiar e têm de sobreviver lutando pelo seu próprio auto -sustento. As estatísticas sobre oferta de emprego não são muito fiáveis, mas é improvável que no último quinquénio (2013 a 2017) o sector formal da economia tenha gerado mais de 100 mil postos de trabalho; é igualmente improvável que mesmo no período mais dinâmico da economia de Moçambi que tenham sido criados num único exercício económico aci ma de 30 mil postos de trabalho formais. Estes dados eviden ciam que bem mais de 90 por cento dos jovens não terão uma oportunidade de emprego digno e estável no sector formal. Assim, a falta de uma actividade económica que assegure um rendimento mínimo é agravada pelo que se perspectiva na segurança alimentar. A reconhecida organização de pes quisa “Observatório do Meio Rural” chamou recentemente à atenção para o seguinte: “i) A agricultura não satisfaz as ne cessidades básicas alimentares dos bens (grãos) alimentares mais usados na dieta dos moçambicanos; ii) A produtividade

agrícola tem decrescido iii) A balança comercial agrícola e ali mentar é persistente e crescentemente deficitária; iv) A des nutrição crónica tem aumentado a nível nacional.” A conjuga ção destes dois factores – pressão demográfica e ineficiência do sector agrícola – irá gerar pressões sociais e políticas que quaisquer que sejam os governos vindouros terão enormes dificuldades em debelar. Dispenso-me de mais elaborações, pois, melhor do que eu o poderia dizer, já o disse Alcinda Hon wana, em “O Tempo da Juventude”, referindo-se às revoltas de jovens que fizeram a chamada “primavera árabe”: “Erguem -se contra o desemprego, a marginalização e a desigualdade socio-económica, os governos corruptos, a exclusão política e a falta de respeito pelos seus direitos. Estes são os clamores de liberdade de uma geração que pretende ocupar o seu lugar no mundo. (…) jovens frustrados reclamam uma boa educação, empregos decentes e estáveis e acesso àquilo que vêem como símbolos de bem-estar da sociedade de consumo capitalista em que vivem.”

Em declarações recentes de dirigentes do nosso país leio que as alucinações das receitas do Oil&Gas parecem estar a ser ultrapassadas. Com efeito, é hoje certo e sabido que o erário público não irá beneficiar de receitas líquidas provenientes desses recursos antes de 2028.

Confrontados com estes fenómenos, que não são apenas de Mo çambique, noto uma nova postura de uma boa parte dos diri gentes e decisores políticos e económicos. Estratégias focadas no desenvolvimento rural e mais integradoras parecem es tar agora na ordem do dia. Contudo, as instituições nacionais - principalmente do aparelho do Estado – enfrentam desafios que as impedem de implementar as estratégias acima refe ridas. Se o Estado se concentrar nas necessidades básicas da Educação e Saúde e se o ainda frágil sector privado se credi bilizar, reforçando a sua capacidade de intervenção através de instrumentos no âmbito das finanças de desenvolvimento, é possível gerar mais empresas e melhor emprego. É possí vel mitigar os riscos do surgimento de uma geração de jovens marginalizados.

A conjugação destes dois factores – pressão demográfica e ineficiência do sector agrícola – irá gerar pressões sociais e políticas tais, que quaisquer que sejam os governos vindouros, terão enormes dificuldades em debelar.

OPINIÃO Abril 2018 20
António Souto • CEO da Gapi - Sociedade de Investimentos S.A.

NÚMEROS EM CONTA

BABY BOOM AFRICANO: ESTOIRO ECONÓMICO OU A OPORTUNIDADE DE UMA (NOVA) VIDA

É a pergunta, não de um milhão de dólares mas de... muitos milhões de pes soas. É que se em 2008 havia 20 milhões de moçambicanos, 10 anos depois já são perto de 29 milhões. E a tendência im parável aponta para que, em 2028, a manter-se o ritmo de crescimento anual (2,9%), cheguemos aos 37 milhões. Qua se o dobro da população geral (mais 85%) em apenas duas décadas.

As questões que se levantam são to das elas no mínimo alarmantes. No re latório anual, lançado em 2017, so bre a economia moçambicana, Peter Holland, do Banco Mundial, fala do “enorme desafio” de transformar esta tendência demográfica numa vanta gem para o país, em vez de um enorme peso, que o leve para o fundo. Como? Primeiro, é necessário que haja uma redução da taxa de fecundida de (Moçambique é o 12º país do mun do com maior número de nascimentos por mãe), o que, por si só, poderia re presentar um incremento do PIB per ca pita de 31% (passando dos actuais 480 dólares para 628). Para isso, o país ne cessitaria de ter “políticas activas para promover uma verdadeira transforma ção social, mudando o papel da mulher na sociedade”.

O problema está longe de ser apenas nacional. É continental. Em toda a Áfri ca, a média situa-se acima dos cinco nascimentos por mãe, e não é de estra nhar que África venha a ser o berço de metade do crescimento da população mundial nas próximas décadas, de acor do com o mais recente relatório das Na ções Unidas sobre o desenvolvimento humano, lançado também em 2017.

1 200 MILHÕES

Estimativa do aumento da população africana, mais de metade do crescimento da população mundial

9 700 MILHÕES

Os actuais 7,3 mil milhões de habitantes no mundo, irão aumentar quase 30% nas próximas décadas

4 478 MILHÕES

Cerca de 28 países africanos (em 54) irão ter de lidar com a duplicação da sua população nos próximos 20 anos

Abril 2018 22
2028

é das mais baixas. Mas tem aumentado

… E CADA VEZ MAIS POPULAÇÃO

Estima-se que até 2028 o total da população nacional cresça a um ritmo médio de 2,9% ao ano. Em apenas duas décadas (desde 2008), o número de moçambicanos irá (quase) duplicar. Valores em milhões Previsão da percentagem de crescimento da população em Moçambique na próxima década

MAIS GENTE REPRESENTA MELHOR OU PIOR ECONOMIA? Peter Holland, do Banco Mundial, fala do “imenso desafio” de transformar a tendência demográfica numa vantagem e não num “peso” para Moçambique

Nos países industrializados, o envelhecimento da população contribui para o aumento da poupança, com impacto na melhoria da qualidade do capital humano, com ganhos de produtividade e crescimento económico. Um trabalhador produz hoje 2,4 vezes mais do que o seu colega em 1967.

Vários países aproveitaram o crescimento demográfico para fazerem crescer as suas economias (devido a reformas orientadas para a educação e formação na década de 60), casos da China, Coreia do Sul ou Singapura. Em poucas décadas, tornaram-se potencias económicas.

Um dos mais evidentes é o Brasil, que perdeu a oportunidade de aproveitar o impulso demográfico (na década de 60 tinha uma taxa de crescimento de 2,9%, idêntica à de Moçambique) por não ter conseguido aumentar a produtividade e corrigir o desequilíbrio nas finanças públicas.

As análises do Banco Mundial mostram que a redução da fertilidade poderia representar um incremento do PIB per capita em 31%. Algo que só poderia ser possível se se implementasse reformas estruturais, mudando o papel social da mulher, criando mais emprego e melhor planeamento familiar.

Abril 2018 23
30%
1 ENQUADRAMENTO BONS EXEMPLOS... 3 ... E MAUS 4O DESAFIO 2 37,7 2028 20,5 2008 33,5 2023 28,9 2018 24,3 2013
Em Moçambique, a taxa de fecundidade é de 5,3 filhos por mulher, uma das mais elevadas em todo o mundo. Os 12 países com a taxa mais elevada são todos em África. Taxa de fecundidade nascimentos/por mulher 6,62 1o NÍGER 6,04 2o BURUNDI 5,95 3o MALI 5,31 9o ANGOLA 5,30 12o MOÇAMBIQUE Se a taxa de fecundidade é das mais elevadas, a esperança média de vida dos 12 países com maior número de nascimentos (Moçambique incluído)
58 ANOS
MAIS FILHOS…

2028. O FUTURO CADA VEZ MAIS PERTO

Num salto por cima do tempo, a E&M projecta a próxima década da economia nacional, e procura antever o país que teremos e que desafios (e soluções) encontraremos para lá chegar.

prever o amanhã costu ma ser difícil. Especialmente quando as notícias (e as não no tícias) se habituaram a inun dar-nos, do Whatsapp aos ou tros new media (como a E&M também o é, apesar de ser em papel). Mas antes de falar de futuro não faz mal recordar o que passou, e o presente que se passa, tempo em que se vai tornando inquietante a forma como se entrincheirou pelas conversas de empresários na cionais e estrangeiros, a frase: “para o ano é que é”. Diz o dita do que “quem espera sempre alcança”, mas há um outro dito que nos mostra que quem es pera demais, por vezes, aca ba mesmo por desesperar. E tal como naqueles cafés, em que para se comprar fiado, tem sempre de se esperar por amanhã, no caso da economia nacional, houve mesmo quem esperasse. E continua à espe

ra, porventura já sentado. A verdade é que tem tardado o grande salto da economia na cional (de que se fala desde fi nais de 2010, quando a Anada rko anunciou a descoberta de uma enorme reserva de gás natural), enquanto potência em rápido desenvolvimento. Nessa senda, o investimen to externo cresceu em apeti te (em 2014, atingiu um pico a rondar os 8 mil milhões de dó lares, um dos mais elevados do continente africano nesse ano) o que demonstrava a apetên cia dos investidores externos por esta nova potencial econo mia em perspectiva, Potencial será, de resto, outra das pala vras da década que se enca minha para o fim. E assim se passou a primeira metade da década, com público e priva do, nacionais e estrangeiros a viverem (economicamente) e a investirem fortemente, em

129%

EM 2022, O BANCO MUNDIAL ESTIMA QUE MOÇAMBIQUE SEJA, A NÍVEL MUNDIAL, O PAÍS QUE MAIOR PERCENTAGEM DE INVESTIMENTO EXTERNO FACE AO PIB IRÁ ATRAIR. UMA CONSEQUÊNCIA DA ENTRADA DE INVESTIMENTOS RELACIONADOS COM O SECTOR DO GÁS. MAS ATÉ LÁ, É PRECISO TRABALHAR

função dessa expectativa, na tal espera de que ela se con cretizasse em 2018.

Chegados aqui, sabemos todos que o gás ainda demora pelo menos cinco anos a jorrar da bacia do Rovuma e percebe mos que os tempos mudaram. Há que trabalhar para pôr a economia a carburar, sem esperar pelo milagre econó mico (que aconteceu efecti vamente em alguns países, como Angola), e encarando o mercado como o que ele efec tivamente é. Mas, não era su posto ter sido sempre assim? Esta, é a parte da história que já todos conhecemos. Vamos às outras.

Lançando o olhar sobre o fu turo, uma das primeiras con clusões é simples: se calhar, o grande salto (económico) não vai ser assim tão grande. À E&M, Ragendra de Sousa, mi nistro da Indústria e Comércio diz mesmo “que ainda bem pa ra o país que este atraso acon teceu. Estruturalmente, houve tempo para preparar a entra da massiva de capitais advin dos da venda do gás que, se ti vessem chegado na actual conjuntura seriam, em grande parte, repatriados sob a forma de serviços e produtos, porque a economia nacional não seria diversificada o suficiente para os absorver”, diz.

Claro que a visão a médio e longo prazo do governan te poderá chocar com o cur to prazo com que muitas em

Abril 2018 26 NAÇÃO
MOÇAMBIQUE 2028
Abril 2018 27

presas e empresários têm de lidar no dia-a-dia das suas actividades.

E a economia real das PME e das grandes empresas sentiu isso na pele. Na desacelera ção. Primeiro no ritmo de IDE, hoje na casa dos dois mil mi lhões de dólares. E no abran damento do crescimento do PIB, dos 7,4% de 2014 para os actuais 3,2%. A tudo isto, não foi alheia a questão da dívi da externa ampliada até aos 120% (grande peso das dívi das ocultas) de um PIB ema grecido pela depreciação do metical. “O crescimento do PIB vai permanecer baixo até ao próximo ‘boom’ de IDE”, escre veu a equipa de analistas da Economist Intelligence Unit (EIU), no seu relatório anual sobre Moçambique. “A econo mia foi fortemente atingida com as revelações, de Abril de 2016, de empréstimos es condidos, que forçaram a adopção de uma política mo netária restritiva e medidas de consolidação orçamental para ajudar a restaurar a estabilidade macroeconómi ca, conduzindo o crescimento a níveis historicamente bai xos”, escrevem.

O futuro

Poder-se-ia dizer que a econo mia nacional correu depres sa demais durante quatro ou cinco anos, e agora teve de abrandar. Para ganhar fôle go. E é nesse passo mais lento, embora aparentemente mais seguro, que retomamos a bus ca pela tal perspectiva de fu turo. A começar pela mudan

ça de alguns paradigmas de pensamento.

Como o que nos toma con ta das ideias, quando pensa mos em recursos. Gás, carvão ou outros minerais. Também, claro. Esquece-se, por vezes, o mais vasto e diverso de todos os recursos. As pessoas.

Em 2028, o número de mo çambicanos irá ser o dobro,

do que era há menos de dez anos.

E 20% desses quase 40 milhões de moçambicanos de 2028 se rão jovens entre os 15 e os 24 anos (de acordo com as estima tivas do Banco Mundial - BM sobre a população, reveladas em 2017). A questão está em como transformar em van tagem algo que tem todos os ingredientes para se tornar num problema grande pa ra a sociedade e para a eco nomia. Para onde irá traba lhar toda esta nova geração? E que impactos isso terá para os empregadores de 2028 ao nível do recrutamento? Have rá capacidade humana para os desafios que se avizinham (ver página 64)? E o Estado, terá capacidade de respos ta para valorizar a juventu de enquanto precioso recur so natural? Certo é que não é na extracção mineral que es tá a capacidade de gerar em pregos suficientes para absor ver o influxo de quase 500 mil novas pessoas por ano que, de acordo com o BM, entrarão no mercado de trabalho na pró xima década.

Depois, os outros recursos. On de existe petróleo (e gás), há crescimento económico. Até

28 NAÇÃO Abril 2018
Por enquanto, a imagem do gás natural é apenas uma miragem no fim de um caminho de alguns anos que faltam para lá chegar
MOÇAMBIQUE 2028
A universalização do acesso a serviços financeiros é um dos grandes desafios do sector bancário, e de toda a economia

2015, 13% da produção mun dial de petróleo vinha do sub solo de África. No final do sé culo XX, eram apenas 9%. E no final da próxima década, essa percentagem ultrapassará os 20%. Então, percebemos que, há crescimento que tem per mitido o aumento dos investi mentos face à competitivida de dos custos em comparação com países de outras regiões do globo. O desenvolvimento é que não cresce ao mesmo rit mo, sobretudo se olharmos aos dois maiores produtores de petróleo no continente, a Ni géria e Angola, mal classifica dos na maioria dos índices de desenvolvimento humano que apontam inúmeras falhas es truturais nas democracias e sociedades de ambos os países. É a chamada “dutch desease”, que em “economês” significa que a abundância de recursos naturais gera vantagens de curto-prazo para o país que os possui, levando-o a uma fo calização na produção desses bens, secando toda e qualquer actividade económica para lá disso. Por norma, a agricultu ra, e a indústria. Para Pietro -Toigo, Chief-Macroeconomist no African Natural Resour ce Center e antigo economis ta-chefe do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), o sec tor dos recursos naturais “tem de merecer uma atenção pró pria, dada a riqueza de opor tunidades para usá-los como plataforma para o desenvol vimento do sector privado”. Para este especialista, a me lhor forma de conectar (outra palavra futurista) os mega -projectos de recursos natu rais com a melhoria da econo mia doméstica, “tem sido um desafio por todo o mundo, não apenas em África. E os pou cos sucessos que conhecemos apontam para a importância do planeamento de políticas abrangentes na implementa ção de uma visão nacional do que o país quer alcançar com estes recursos, passando por uma intervenção regulatória que deve ir no sentido de fa

zer aumentar a participação das empresas locais em pro jectos de recursos naturais, bem como na transferência de conhecimento e tecnologia de quem chega de fora, para integrar estas economias em desenvolvimento.”

O gás apresenta óbvias opor tunidades. Na mesma linha, em que pressupõe enormes desafios. Que o país teve mais tempo para perceber e co meçar a tentar resolver no tempo certo. Como aprovei tar a diversidade da cadeia de valor do gás para realizar investimento em indústrias para a transformação e adi ção de valor, prossegue. “Se apoiado por políticas integra das e uma regulamentação favorável, Moçambique pode atrair o investimento para se tornar um centro regional para produção de combustí vel à base de gás, fertilizan tes e geração de energia”, di zia Pietro-Toigo, à margem de uma conferência realizada em Maputo, sobre os desafios futuros da economia nacional. Assim, o terceiro recurso de um futuro mais próximo do idealizado será o sector pri vado. Ou, visto do lado inver so, a forma como o Estado o enquadra e em que segmen tos da economia ele decide intervir. Henri Fortin espe cialista em gestão financei ra do Banco Mundial, explica que “das 100 maiores empre sas do mundo, 22 são estatais. Sete delas, da área do oil and gas. As restantes, são hidroe léctricas, de transportes e de logística.” Por aqui, entende mos a importância estratégi ca da actuação directa do Es tado na economia.

Se o desafio passa por garan tir que o sector privado se ja menos dependente do Esta do, também se torna claro que o papel deste tenderá a redi reccionar-se para a promoção da competitividade e melho ria do ambiente de negócios.

Algo que a divulgação de índi ces como o Doing Business, (em que a economia moçambicana

Abril 2018

Um olhar económico (e não só) pelos principais indicadores do país

CRESCIMENTO ANUAL DO PIB PIB PER CAPITA

Em %

Em dólares, anual

INFLAÇÃO

Em %

INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO (IDE)

Em milhares de milhões de dólares Em % (com mais de 15 anos)

POPULAÇÃO ACTIVA

MOÇAMBIQUE 3,2 480 12,2 2,9 78,8 50,6

REGIÃO 2,9 2 100 9,1 0,8 67,1 61,4

MULHERES NO PARLAMENTO BANCARIZAÇÃO ACESSO AO CRÉDITO CRÉDITO AO SECTOR PRIVADO ACESSO A TELECOMUNICAÇÕES

Em % de assentos no Parlamento Número de balcões por 100 mil habitantes % da população % do PIB % da população

TAXA DE LITERACIA

Em % da população

DESPESAS DO ESTADO COM EDUCAÇÃO

Em % do PIB

MOÇAMBIQUE REGIÃO MOÇAMBIQUE REGIÃO MOÇAMBIQUE REGIÃO MOÇAMBIQUE REGIÃO MOÇAMBIQUE REGIÃO MOÇAMBIQUE REGIÃO

6,48%

6,48

A percentagem investida em educação. Acima da média regional demonstra que há vontade de melhorar o sistema

21,5 13,2 6,13 24,8 81,9

UTILIZADORES DE INTERNET ACESSO A INTERNET DE BANDA LARGA

Em % da população Em % da população

MOÇAMBIQUE REGIÃO MOÇAMBIQUE REGIÃO MOÇAMBIQUE REGIÃO MOÇAMBIQUE REGIÃO MOÇAMBIQUE REGIÃO MOÇAMBIQUE REGIÃO MOÇAMBIQUE REGIÃO

12% 0,14

18% 1,19

36,6 4,2 7,4 34,5 66,3 4,29

tem caído consecutivamente) mostra precisar de ser melho rado. Nos dez indicadores que aferem a facilidade de fazer negócios, especialmente pelas Pequenas e Médias Empresas (PME), o desempenho melho rou em apenas dois: a disponi bilidade de energia eléctrica e o comércio transfronteiriço (que demonstram o trabalho que tem vindo a ser feito nes se sentido pelo governo).

Vários economistas ouvidos pela E&M sugerem assim, pa ra os próximos anos, uma cana lização de capitais de algumas das empresas hoje públicas, para o incremento do investi mento público. Em infra-estru turas e logística, na formação e na indústria de transformação (agregada ou não à agricultu ra), áreas que terão de ganhar robustez e peso no PIB ao longo da próxima década. Mas, não chega.Para Pietro-Toigo, “é pre ciso melhorar a regulamenta ção e as políticas de preços pa ra garantir que os pequenos e médios projectos de investi mento produtivo se tornem fi nanceiramente viáveis sem o apoio estatal.”

Aqui, o país não estará sozi nho. “Estamos ansiosos para trabalhar com o Governo e a CTA para preparar uma linha de crédito ao investimento pa ra Moçambique, inserida no quadro do Africa Investment Forum do BAD”, assegura.

480 dólares

Moçambique continua a apresentar um dos mais baixos índices ao nível do PIB per capita em todo o mundo

Crescimento modesto. Para já Nos últimos três anos, a eco nomia nacional tem visto ser -lhe alterado o rótulo. De fast growing economy, passou a economia de crescimento mo derado, na casa dos 3,2% (mais uma décima que em 2017), já contabilizando o aumento das exportações de carvão e alumínio.

Olhando ao futuro, um outro outlook (do BM, divulgado em finais do ano passado) sobre a perspectiva de crescimen to a longo prazo é bastante mais encorajador. “A partir de 2023, Moçambique irá liderar o quadro de investimento es

Abril 2018 30 NAÇÃO
FONTE Banco Mundial
convertido
Crédito
sector
recursos
NOTA PIB per Capita – Calculado de acordo com o gross national income,
em dólares utilizando o método do World Bank Atlas, dividido pela número da população.
ao
pivado - refere-se a
financeiros fornecidos ao sector privado por empresas financeiras no mercado nacional
MOÇAMBIQUE 2028

trangeiro a nível mundial, em valor de percentagem do PIB, a rondar os 129%). De acordo com os cálculos da E&M (que congregou as previsões de crescimento do BM, FMI e EIU para os próximos anos a uma média de 3,9%), esse valor de verá chegar aos 20 mil mi lhões de dólares, alavancados essencialmente pelo onda de optimismo que se vai gerar na economia a partir do iní cio da década, com o início das operações nas Áreas 4 (pre visto para 2023), e um ano de pois, na Área 1 (ver página 34). Veremos.

Até lá, o crescimento será ala vancado pela produção de car vão e alumínio, as duas maio res receitas de exportação de Moçambique, que facturam, em conjunto, perto de 2 mil mi lhões de dólares por ano. Uma das boas notícias para o país (e ninguém que não seja o ministro das Finanças gos ta de ouvir isto), é o melhor e mais eficiente funcionamento da máquina fiscal que tem co meçado a facturar (especial mente após os cortes na des pesa impostos por Maleiane, depois do cancelamento do

apoio por parte dos doadores externos).

O caminho das pedras Interessante que seguir por esse caminho, acabe por nos levar a afastarmo-nos delas (sejam mais ou menos pre ciosas, e Moçambique, é rico em minerais valiosos, como sabemos).

Só que, para lá da extracção de recursos, há tendências que serão inescapáveis se, efectivamente, Moçambique quiser ser mais uma econo mia vendedora de matéria -prima. Ou uma mina a céu aberto,

O maior de todos esses desa fios, é o desenvolvimento agrí cola, prioritário para comba ter a pobreza e promover a inclusão económica de mui tos milhões de moçambicanos (67% da população).

Para João Mosca, economista que lidera o Observatório do Meio Rural (OMR), “é preciso mudar muita coisa, a começar pelo investimento em investi gação, e procurar o aumento de produtividade”, assinala, à margem da conferência or ganizada pelo OMR, subjuga

8,1%

A CONTRIBUIÇÃO DA INDÚSTRIA TRANSFORMADORA PARA O PIB ESTÁ ABAIXO DA MÉDIA DOS CONCORRENTES REGIONAIS DO PAÍS QUE A COLOCAM NAS SUAS PRIORIDADES ECONÓMICAS

Novos caminhos

Para lá do que se pode fazer (e nesse sentido a pacifica ção político-militar foi funda mental), há elementos exter nos que não são controláveis a partir de Maputo.

da ao tema da diversificação e transformação da econo mia através da agricultura. “O Estado deve ter um papel no desenvolvimento em polí ticas públicas, na criação de infra-estruturas, na forma ção altamente qualificada dos recursos-humanos, e na de mocracia”, complementa.

Como a flutuação negativa da economia chinesa que se veri fica de há anos para cá e que fez descair os preços de com modities como o aço (queda sentida em Moçambique, na quebra da factura da expor tação de carvão, ingredien te essencial às metalúrgicas chinesas). Inúmeros economis tas têm a opinião que África tem uma oportunidade de ou ro para beneficiar da desace leração da China. Porque tem os recursos. Só que não tem as infra-estruturas logísticas, a tecnologia ou a mão de obra em quantidade suficiente pa ra agarrar essa oportunida de. Pelo menos para já. O recente relatório African Economic Outlook do BAD, apresentava caminhos pa ra acelerar a transformação de África (ver caixa na pági na seguinte), da tecnologia à agro indústria, passando pe la tecnologia e a logística. Etió pia, Uganda, Quénia ou a Tan zânia (vizinhos regionais, e no caso deste último, concorrente directo no futuro mercado de exportação de gás natural), fo ram identificados como exem plos de boas práticas a esse ní vel e colocados na pole position para se tornarem “centros glo bais de transformação”, parti cularmente no fabrico de ves tuário e calçado, por exemplo bem como na assemblagem de telemóveis, segmentos compe titivos (e muito lucrativos). No entanto, a indústria (excluindo a extractiva) representa, em média, apenas pouco mais de 12% dos PIB dos 54 países afri canos (em Moçambique foi de 8,1%, em 2017). A isso, junta-se a baixa produtividade do sector industrial em África, devido à adopção lenta da tecnologia. De acordo com dados do Cen tro Africano de Transforma ção Económica, os salários na

Abril 2018 31
Índices de rentabilidade agrícola vão beneficiar do avanço tecnológico que se prevê

AS NEWCOMER (OU NEM POR ISSO) DA ECONOMIA

Será certamente, a maior indústria à escala global dentro de poucos anos. E se Moçambique ainda não tem representatividade no PIB, mais tarde ou mais cedo isso irá mudar. Das apps à visualização de notícias, passando pelas aplicações para a indústria, ou dedicadas à agricultura. Com a utilização de smartphones a duplicar em África a cada dois anos e a Internet das coisas a entrar no nosso dia-a-dia, o grande desafio do país será expandir a rede de fibra óptica de modo a abranger todo o território nacional.

Etiópia e na Tanzânia são 50% menores do que os que se pra ticam na China. No entanto, a produtividade também é 50% mais baixa, face à de um tra balhador chinês. O que signifi ca que a Revolução Indústrial do século XVIII que viria a mu dar o mundo, afinal não o mu dou por inteiro. Em Moçambi que, ainda é a agricultura o sector que mais contribui pa ra o PIB (21%), mas outros, co mo a indústria e os serviços (logística, impulsionada pelo ramo dos transportes e arma zenagem), têm vindo a cres cer (3,2% no ano passado), em bora de forma ainda tímida para as necessidades do país. Ragendra de Sousa fala-nos disso mesmo quando refere a importância dos “soft ma rkets”, como forma de ampa

Será esta a segunda principal fonte de renda para a economia africana (atrás dos recursos naturais). Um artigo de 2015, do britânico The Guardian antevia que, até 2034, África tenha uma força de trabalho maior do que a da China ou da Índia. Dizia-se também que, “fazer aumentar os rendimentos na agricultura é apenas metade da batalha. É preciso conectar os agricultores às oportunidades de mercado, e interligar o sector produtivo, com o transformador”.

Do ponto de vista ocidental até pode nem ser a escolha mais óbvia, mas o sector bancário cresceu de forma brutal em toda a África, nos últimos anos, uma tendência considerada “notável” pelo Fórum Económico Mundial. Em Moçambique os serviços financeiros (banca e seguros) ainda só abrangem perto de 17% da população nacional. Esta realidade ilustra de forma perfeita o potencial de crescimento de um sector que essencial para o crescimento económico que se espera na próxima década.

LOGÍSTICA

É uma das newcomer em que o crescimento mais se tem feito notar em toda a África. Os principais drivers docrescimento da logística são o aumento do poder de compra da classe média, as descobertas de recursos, que impulsionam investimentos nas plataformas de transporte aéreo e ferroviário (só no ano passado, este tipo de tráfego aumentou 134% no Porto de Maputo), e a demanda por alimentos. Tudo ingredientes que não faltarão ao país nos próximos anos.

rar toda a economia de ex tracção que por aí há-de vir.

Quem te avisa teu amigo é? Recentemente, o secretário de estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson (sucedeu a John Ker ry, bem mais ‘próximo’ de Mo çambique e com a curiosidade de até ser casado com Teresa Heinz, natural de Maputo), di rigiu-se aos países africanos aconselhando “cuidado” com as condições dos investimen tos chineses no continente. Pa ra Tillerson, o perigo vem “dos modelos de financiamento es truturados de forma a que os países percam facilmente o controlo das suas próprias in fra-estruturas e dos seus re cursos”, complementa.

Digitalização da sociedade, agro processamento, serviços financeiros e logística serão pilares fundamentais, onde deverá (idealmente) assentar o crescimento. iriam accionar um plano de ajuda humanitária para Áfri ca, no valor de 550 milhões de dólares. Efectivamente, a administração Trump tem abrandado a aposta america na em África, mas as grandes empresas norte-americanas, continuam fortemente apos tadas no continente (e em Mo çambique, onde se notam cada vez mais americanos a procu rar investimento). Do outro lado, a contribução da China para Moçambique já vai em cinco mil milhões de dólares em investimentos ao longo das últimas duas décadas e meia. E não irá abrandar. Na mes ma semana em que Tillerson falava da China, era a Rússia que se posicionava. Sergei La vrov, ministro dos Negócios Estrangeiros, fazia um péri

O ‘aviso’ surge na sequência do anúncio dos EUA de que

plo por vários países africa nos, Moçambique incluído. As petrolíferas ExxonMobil e a estatal russa Rosneft, são par ceiras desde 2015 na prospe ção de petróleo na costa nacio nal, mas os EUA anunciaram recentemente que vão reti rar-se de projectos conjuntos com a Rosneft na sequência das sanções dos Estados Uni dos e da UE contra a Rússia. Lavrov aproveitou o momen to e deixou a mensagem, Espe ra que isso “não aconteça”. O futuro, o dirá. Até lá, é preciso semeá-lo, cultivá-lo, fabricá-lo, ensiná-lo, e por fim, colhê-lo. Em dez anos saberemos co mo correu. Passa rápido. Pas sa mesmo?

Abril 2018 32 NAÇÃO
MOÇAMBIQUE 2028
TEXTO

A IMAGEM QUE TODOS QUEREM VER

A exploração dos recursos naturais, sobretudo o gás, o carvão e as pedras preciosas, será a alavanca económica que permitirá ao país crescer como nunca. Mas até lá, há ainda muitos desafios pela frente.

não é nova a ideia de que o gás natural foi uma espécie de jackpot, na grande lotaria do desenvolvimento económico de Moçambique. Mas o prémio tarda em chegar, porque nem só da sorte (de ter os recursos e a vontade de os explorar, no caso) se faz a fortuna.

Da euforia inicial despoletada pelo anúncio da descoberta de uma das três maiores reservas mundiais de gás natu ral, feito pela Anadarko, em 2010, e de um crescimento económico que chegou a ser de 7,2% ao ano, alavancado nessa ex pectativa, algumas sombras começaram a pairar em 2015. As previsões de início de operação de extracção e comercia lização de gás inicialmente apontadas, revelaram-se demasiado optimistas e só em 2023, na Área 4 do Rovuma, deverá efectivamente iniciar-se esse processo.

Já na Área 1 (o maior e mais rico bloco), explorada pela Anadarko (líder de um consórcio onde tambem estão a ENH, Galp, Kogas e outras), apenas em 2024, na melhor das hipóteses, haverá gás.

Os sucessivos atrasos permitiram ao país ter tempo para cair na realidade e reparar nos elevados índices de pobre za e nas desigualdades sociais e nas di ficuldades financeiras do Estado, que fa zem pensar que os próximos 10 anos não serão desenhados apenas com contornos de prosperidade económica.

Não se trata de um olhar pessimista so bre o futuro, mas da observação dos re quisitos que têm de ser satisfeitos para começar a sonhar com o desenvolvimen to em 2028.

A primeira condição é que, de facto, os projectos de liquefação do gás arran

quem em 2023, ou mais tardar no ano se guinte. A experiência já provou que as previsões podem falhar. A realidade fez o resto e comprovou-o.

Até 2012, por exemplo, Governo, empre sas multinacionais e instituições multi laterais (entre elas o FMI e Banco Mun dial) apontavam o ano de 2018 como o do arranque da produção e exportação do gás. Mas as incertezas impostas pela falta de financiamento dos projectos, a queda do preço do petróleo no mercado internacional e a falta de garantias de compra do gás a ser produzido, adiaram os projectos para 2023. Pelo menos.

É verdade que o cenário é hoje mais fa vorável – a Anadarko já tem, ao que sa bemos, assinados contratos de venda da produção de 5 milhões de metros cúbicos dos 8 milhões que têm de ter vendidos,

Abril 2018 34 NAÇÃO MOÇAMBIQUE 2028

para conseguir finalmente apresentar o FID (Financial Investment Decision), uma espécie de sinal verde económico pelo qual quase todos esperam (empresários e investidores) e já muitos desesperam. Toda esta espera teve vários causas. Uma das maiores foi a queda abrup ta do preço das commodities, criando um efeito de imprevisibilidade que fez “adormecer” muitos investimentos, pro vocando o seu adiamento. Era um risco que não tinha como ser evitado e que não diz apenas respeito ao gás, como a todos os minérios extraídos em solo mo çambicano. O maior desses exemplos é o carvão, que só no ano passado começou a reerguer-se dos prejuízos causados pela profunda queda do preço no mercado in ternacional. Depois, e mesmo começando a operação em 2023, os benefícios da ex ploração do gás não serão imediatos. As mais-valias a que o Estado tem direito sobre a sua exportação, só irão entrar nos cofres do Estado após um período de carência de cinco anos negociado entre Estado e operadores.

Paralelamente, a herança de uma crise que se pressentiu em 2015 e se começou a sentir no ano seguinte, levará o PIB crescer menos do que as previsões (do FMI, Banco Mundial e outros, que aponta vam para que nesta altura a economia nacional crescesse acima de 10% ao ano).

Longe disso, o crescimento situa-se agora na casa dos 3,2% ao ano [de acordo com a última previsão do Banco Mundial (BM)], prevendo-se, ainda assim, um aumento gradual até ao início da década (até aos 3,5%).

A economia só voltará a encontrar-se com o ritmo de crescimento próprio dos mercados emergentes (acima de 7%) ala vancada pela entrada de capitais, que começará dois a três anos antes do início da produção de gás. Até lá (e nesta pers pectiva já vamos em 2021), no lugar de servir para financiar o desenvolvimen to, parte das poucas receitas do país te rão de ser canalizadas para o serviço da dívida, o que complica (ainda mais) estas contas.

Daí que seja “fundamental” o aumento da competitividade do sector privado nacio nal (a entrevista ao ministro Ragendra de Sousa que apresentamos na página 38 fala disso mesmo) para aproveitar o potencial gerado pelos grandes projectos.

As boas perspectivas

As estimativas do economista e Presi dente do Conselho de Administração da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos

50%

PESO DOS RECURSOS MINERAIS, COMO O GÁS, O CARVÃO, AS AREIAS PESADAS E AS PEDRAS PRECIOSAS, NAS CONTAS GERAIS DO ESTADO, QUE TEM VINDO A AUMENTAR E TERÁ UM PESO DECISIVO DENTRO DE UMA DÉCADA

(ENH), Omar Mithá, indicam que quando os diferentes projectos de gás natural estiverem em operação, o Produto Inter no Bruto (PIB) nacional poderá disparar dos cerca de 12 mil milhões de dólares actuais, que se esperam para este ano, para 30 mil milhões de dólares em 2028. No sector do gás, os projectos “Mamba” e “Coral Sul” (onde será instalada uma ino vadora fábrica flutuante de GNL), ambos na Área 4 da Bacia do Rovuma, têm o FID aprovado. Irão, em conjunto, gerar uma receita de 16 mil milhões de dólares ao longo dos próximos 25 anos, de acordo com a ENH.

No entanto, é na Área 1 que está o pote dourado, já se sabe, mas Omar Mithá não avança a data do início da produção, apesar de estimar que a exploração des te projecto possa fazer entrar nos cofres do Estado até 60 mil milhões de dólares em 25 anos, o que equivale a 2,4 mil mi lhões de dólares anuais.

PIB SÓ DEVERÁ “EXPLODIR” A PARTIR DE 2023

A projecção do crescimento da actividade económica aponta para uma expansão de 3,2% este ano, que irá gradualmente acelerar com o início da produção e exportação do gás a partir de 2023

Valores em %

98,4 96 94,4 75 50 1,6 4 5,6 25 50

A estes recursos adicionam-se os que serão produzidos pela Anadarko (ainda não estimados) a norte da Área 1 da Ba cia do Rovuma, no projecto denominado “Golfinho-Atum” cujo desenvolvimento foi aprovado já este ano pelo Governo. Deti do pela Anadarko, ENH e também parti cipado pelas companhias Mitsui, ONGC, Beas, BPRL e PTTEP, terá capacidade para processar e exportar 12 milhões de tone ladas de gás por ano e implicará um in vestimento na casa dos 25 mil milhões de dólares.

2008 2013 2018 2023 2028

Recursos Outros

30 mil milhões

Previsão, em dólares, do valor do PIB nacional em 2028

NOTA A indústria extractiva compreende a actividade voltada para a extracção de minerais que incluem gás, petróleo, carvão, areias pesadas, pedras preciosas, entre outros. Baseado no início de produção para 2023 FONTE MIREME, Banco de Moçambique e ENH

Ainda na área do gás, mas mais a sul, existe o projecto da sul-africana Sasol que, desde 2004, explora os campos em terra (onshore) de Pande e Temane, na província de Inhambane. Com uma pro dução anual de 183 milhões de gigajoules, a Sasol já anunciou um investimento de 600 milhões de dólares nos próximos cin co anos para expandir a produção para 198 milhões de gigajoules, quantidade considerada suficiente para abastecer Moçambique e África do Sul ao longo de um ano. O aumento da produção irá sig nificar receita adicional para o Estado.

Benefícios crescentes Optimistas em relação aos recursos que Moçambique será capaz de arrecadar estão várias entidades dentro e fora de portas. Há três anos, a Agência Internacional de Energia (EIA) estimou que o Estado receberia 115 mil milhões de dólares em receitas da exploração dos recur sos naturais entre 2020 e 2040, quase 10 vezes o valor do PIB em duas décadas.

Abril 2018 35

O valor não anda longe das estimativas internas. Mas obviamente que as condi ções mudaram desde então, sobretudo com o atraso no arranque da produção do gás e o recuo do preço do carvão no mercado internacional. Apesar de todas estas variáveis tornarem o esforço de previsão de como a economia vai evo luir em 10 anos um exercício que “tem tanto de científico como de criativo”, de acordo com vários economistas há algu mas contas que se podem fazer: se consi derarmos uma receita (a partir de 2023) de 2,4 mil milhões de dólares para os cofres do Estado, entre 2023 e 2028, o PIB de Moçambique poderá crescer entre os 12 e os 15%, à boleia do sector extracti vo, e bater na casa dos 30 mil milhões de dólares dentro de uma década (mais do dobro do que é hoje).

No entanto, com a taxação de mais-valias a não acontecer em pleno nos primeiros anos de produção, o crescimento do PIB irá ser amparado não apenas pela recei ta do gás, como de todo o sector extractivo (a exportação de carvão irá aproximar -se dos 22 milhões de toneladas, no início da década, e o número de concessões de exploração de pedras preciosas está a aumentar) crescendo não por via da re ceita directa do gás, mas pela actividade

BALANÇA

PODE DESEQUILIBRAR

O ritmo lento da industrialização poderá causar grande pressão sobre as importanções e desequilibrar a balança de pagamentos

Em milhares de milhões de dólares

económica que se vai desenvolver, atraí da pelo desenvolvimento do sector onde Moçambique pode ser potencialmente o terceiro maior produtor de gás natural do mundo, atrás do Qatar e da Austrália.

16 milhões

2,65 3,8 4,1 2013

2008 6,5 4,1 5,4 2018 10,6 15,9 17,8 2028

2023 21,3

Exportações Importações

-3,5 mil milhões

Défice da balança previsto em 2028

Para Yasfir Ibraimo, economista e inves tigador do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o maior desafio está em “perceber até que ponto este boom económico será suficientemente forte para melhorar a qualidade de vida das pessoas”. E aponta que “até 2028 o cresci mento económico ainda não se vai fazer sentir na melhoria da qualidade de vida das pessoas, já que o fluxo de recursos será canalizado para o serviço da dívi da”, assinala. Assim, prossegue, “apenas em 2035 haverá condições para canali zar as receitas para o desenvolvimento social e humano, mas também para a agricultura, o turismo, os serviços e ou tros sectores que irão gerar mais postos de trabalho”.

Sendo que o horizonte temporal parece estender-se para lá do que podemos hoje prever, a verdade é que de todos os re cursos que Moçambique tem, porventu ra, o tempo é o mais escasso de todos eles.

22 750 GW

TONELADAS PROJECTADAS PARA ESTE ANO

CARVÃO ENERGIA

Determinante, mas com pouco futuro

O carvão assume um peso fundamental enquanto fonte de receitas para o país (no ano passado, representou perto de 40% de todas as vendas ao estrangeiro e uma receita a rondar os 500 milhões de dólares), mas as perspectivas a longo prazo reclamam prudência. A maior incerteza reside na concorrência face aos grandes players internacionais, com destaque para a Austrália, cuja posição geográfica em relação a grandes mercados compradores, como China, Índia e Japão, é mais favorável. A esta vantagem, sobrepõe-se a disponibilidade de infra-estruturas de logística, largamente favorável em relação a Moçambique, bem como os custos relativamente baixos de operação. A empresa brasileira Vale – uma das maiores exploradoras de carvão nas minas de Moatize, província de Tete – prevê prejuízos decrescentes de 2017 (496 milhões de dólares) até 2020 (187 milhões de dólares), mas, apesar das perdas, mantém-se optimista quanto às condições favoráveis do mercado no futuro e prevê expandir a produção até 22 milhões de toneladas por ano depois de 2020, depois de 18 milhões de toneladas previstas para 2019 e 16 milhões projectadas para este ano, refere o relatório da empresa sobre a competitividade do sector.

CAPACIDADE DA REDE EM 2028

A caminho da auto-suficiência

Não é um recurso natural em que se pense no imediato. No entanto, a capacidade de gerar energia e alimentar a indústria, ou de até a exportar, como é o caso em Moçambique, tornam-na uma mais valia económica inestimável. Se se confirmar que a Central Norte da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) vai avançar, o empreendimento deverá garantir que a capacidade total de produção de electricidade atinja os 3 325 MW em 2028, o suficiente para melhorar a eficiência e produtividade de todos os sectores, sobretudo a área industrial. Paralelamente, até 2030, o acesso à electricidade deve ser universal, uma meta estabelecida no quadro da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que já é um instrumento-guia das acções da empresa Electricidade de Moçambique.

Até 2028 a meta estará muito próxima de se concretizar e já muito distante da cobertura actual, estimada em apenas 26% da população. Para materializar o objectivo, está em jogo a combinação dos resultados de vários outros projectos de produção de energia através de fontes como o carvão e o gás, já assumidos por várias empresas que exploram esses recursos.

Abril 2018 36
NAÇÃO
FONTE Estratégia Nacional de Desenvolvimento (2015-2035) e Plano Económico e Social
MOÇAMBIQUE 2028

200 milhões

VALOR ANUAL DAS EXPORTAÇÕES (EM DÓLARES)

AREIAS PESADAS RUBIS

Boas perspectivas de investimento

Os depósitos de areias pesadas estão também entre os grandes projectos mineiros em Moçambique, mas não devem apresentar grandes evoluções nos próximos 10 anos. A australiana Kenmare, que explora as minas de Moma, em Nampula, revela que os preços do minério estão a recuperar de baixas históricas desde o primeiro semestre de 2016, mas ainda estão longe dos picos experimentados em 2014, daí ser “muito difícil” prever como as receitas serão daqui a 10 anos. Mas a empresa calcula que os níveis de produção sejam superiores aos actuais. A receita de exportação de areias pesadas, ao longo do ano passado, ficou na casa dos 200 milhões de dólares. No entanto, o mercado das areias pesadas, tem atraído investimento externo, casos do grupo britânico Savannah Resources (estabeleceu uma parceria com a anglo-australiana Rio Tinto), que está actualmente na província de Inhambane, ou das companhias chinesas Arhui Foreign Economic Construction e Yun Nan Xinli Nonferrous, que rubricaram um contrato de investimento de 471 milhões de dólares para a exploração de areias pesadas em Gaza.

Pedras preciosas para a economia

292 milhões

São várias as concessões, por todo o país. Destacamos uma das maiores: a Montepuez Rubi Mining (MRM), em Cabo Delgado. Segundo dados concedidos à E&M pela empresa, em 2017, a receita foi de aproximadamente 110 milhões de dólares, havendo a perspectiva de crescer gradualmente até atingir os 250 milhões de dólares em 2028.

Quanto ao investimento, a MRM avança que, desde o início das operações em 2012, as despesas de capital em infra-estrutura, instalações e equipamentos atingiram aproximadamente 75 milhões de dólares (excluindo os custos operacionais). Esperam-se importantes avanços também no que diz respeito às contribuições para o Estado moçambicano. Sob a forma de impostos sobre as empresas e royalties de produção, até 30 de Junho de 2017, foram pagos 73 milhões de dólares. “Continuando a correr tudo bem, e dependendo das condições do mercado e dos níveis de produção, esperamos que esse valor seja mais que quadruplicado nos próximos 10 anos (mais de 292 milhões de dólares)”, prevê a MRM.

RECEITA FISCAL GERADA PELA MAIOR MINA DO MUNDO (EM DÓLARES)

“O FUTURO DO PAÍS ESTÁ NA AGRO-INDÚSTRIA”

RAGENDRA BERTA DE SOUSA Ministro da Indústria e Comércio

académico reputado, Ragen -dra de Sousa sempre teve uma opinião lúcida e abran gente sobre o melhor Moçam bique do futuro. Recentemen te empossado, o ministro da Indústria e Comércio, mostra uma certeza clara: “O gás da rá grandes receitas, mas é na agro-indústria que mora o fu turo. É ela que irá mudar a fa ce da economia e do país”. E é por isso que nunca se can sa de dizer que o maior de to dos os desafios de Moçambi que “passa por divulgar aos investidores as potencialida des do país nesse sector”. Acei te o desafio da E&M, de um exercício de projecção da ima gem do país sob o ponto de vis ta produtivo à distância de uma década, o ministro Ra gendra de Sousa explica a es tratégia em curso e como será possível implementá-la.

Que visão tem de Moçam bique a uma década de dis tância? Teremos uma eco nomia baseada num sector produtivo pujante e num sector industrial forte, com

menos importações e mais exportações?

Para o Moçambique de 2028 teremos um país com uma renda per capita mais eleva da e uma economia funcional. Enquanto o gás não é explora do, estamos a fazer crescer a agro-indústria que é a manei ra de ligar a cidade e o cam po e aumentar o emprego no meio rural. Em qualquer eco nomia quando a renda sobe, a demanda dos produtos manu facturados aumenta e é aí, nes se período de transição para o tal sonho de 2028, que estamos a colocar os nossos esforços, para atingir um maior ní vel de industrialização. O nos so Moçambique de 2028 vai ser, mesmo com as obrigações do pagamento de capital que existem, um país com mais e melhor produção interna e cada vez mais diversificado e sem défice de balança.

Que tipo de industrialização?

Por um lado, com a indústria de extracção instalada no país teremos de caminhar para uma indústria pesada de fer

A ATRACÇÃO

DE INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO FAZ-SE COM A CRIAÇÃO DE UM CLIMA ECONÓMICO E FINANCEIRO FAVORÁVEL, NOMEADAMENTE AO NÍVEL DAS TAXAS DE JURO E IMPOSTOS.

ro e aço capaz de alimentar uma actividade produtiva lu crativa. Há alguns exemplos disso já, no caso de alumínio e do cobre, mas essa oferta terá de aumentar. Mas a grande atenção vai ser mesmo para a agro-indústria. É com ela que iremos, a breve trecho, redu zir o nível das importações. E aqui, não há razões para que pequenas e médias unidades de produção de iogurte, toma te, de transformação primá ria e secundária de produtos agrícolas não possa aumentar exponencialmente.

Quando lhe perguntam qual é a maior riqueza de Mo çambique, o que responde? Que é o gás?

Não. Digo que é a agro-indús tria. É aí que está o futuro. Nunca começo a falar de Mo çambique pelo gás, mas sim pelo potencial agrícola. Então digo que também temos gás, que é o nosso banco. O poten cial deste país usado leva-me a dizer que poderíamos forne cer produtos a toda a África Austral. O que falta é a orga nização, porque o capital ar ranja-se sempre.

A importância de produtos ‘made in Moçambique’, vai muito além do orgulho na cional, concorda?

Sem dúvida! Porque senão, a economia será pressionada pela via da importação e as divisas retornam facilmente para o exterior.

Qual será o papel do Estado em tudo isto?

É importante dizer que a cria ção e o enquadramento (regi me fiscal favorável) e a parte infra-estrutural (água, ener

NA VOZ DE... Abril 2018 38
MOÇAMBIQUE 2028
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“APESAR DAS OBRIGAÇÕES QUE EXISTEM, O NOSSO MOÇAMBIQUE DE 2028 VAI SER UM PAÍS COM CADA VEZ MAIS E MELHOR PRODUÇÃO INTERNA”.

ção de agro-industrialização e em abrir as portas a outros in vestimentos para que eles ve nham então.

Quais são as áreas em que se denota um maior apetite dos investidores?

gia, pavilhões, parques indus triais), fazem parte do nosso papel. Depois, há uma parte fundamental que cabe aos em presários. Mas asseguro que deixaremos que o mercado funcione.

Se em 2014 Moçambique era dos cinco maiores em Áfri ca ao nível da atracção de In vestimento Directo Estran geiro (IDE), este tem vindo a cair nos últimos anos. Como reverter a tendência? Com a criação de um clima económico e financeiro favo rável, nomeadamente ao ní vel das taxas de juro e impos tos. Mas também há a parte laboral, e sabemos que temos que fazer a revisão pontual da Lei de Trabalho para tor ná-la mais forte e competitiva. E, por fim, ao nível da forma ção, tem de se apostar seria mente nas escolas industriais, para não termos um proble

ma de falta de mão-de-obra. Estas coisas têm de estar sin cronizadas, mas repito, não pode ser o Estado a fazer tu do, porque senão há a tendên cia de criação de “elefantes brancos”.

Muito danosos para a economia…

Sim, há que deixar o merca do trabalhar dentro das condi ções e do enquadramento defi nido pelo Executivo. Para ver o que estou a dizer basta olhar para a nossa empresa de mon tagem de carros (a Madjedje Motor), que já fechou.

O problema é que foi uma in dustrialização de cima para baixo, sem se ter feito um es tudo do mercado apropriado.

Por isso digo: deixemos que a indústria petrolífera e de gás cumpra a sua função, de ex portar ao melhor preço e que pague seus impostos. O Estado vai concentrar-se na promo

70%

É A PERCENTAGEM DE MOÇAMBICANOS DIRECTAMENTE LIGADOS À AGRICULTURA. NO ENTANTO, A FALTA DE MECANIZAÇÃO E DE PLANEAMENTO MANTÊM O SECTOR NUMA LÓGICA DE SUBSISTÊNCIA

Só o investimento da Mitsui para Tete compensa essa que da (a empresa já assinou 3,7 mil milhões de dólares de in vestimento no corredor de Nacala). Depois, há o grande investimento da Navigator (exploração florestal na Zam bézia e Manica e fábrica de papel, no valor de 2,3 mil mi lhões de dólares). E há o gás, em que precisamos de asse gurar que a Anadarko come ce a operar na área 1. Esses são os que já estão garanti dos. Mas posso dizer que um dos segmentos em que se no ta uma mexida é nas pedras preciosas, em que só nos últi mos meses já recebemos pro postas de cerca de 10 gran des empresas interessadas em concessionar explorações na Zambézia. Muita gente não sabe que já fazemos café no Niassa, que agora exporta mos para a Suíça, ou que esta mos a produzir charutos pre mium, que são vendidos em toda a África e Europa. Ou pe gando na Mozal 3, em que qua se iremos triplicar as expor tações de alumínio. Com tudo isto quero dizer que a econo mia nos ensinou que não ha vendo informação nada acon tece. E o nosso trabalho passa também por aí, pela divulga ção do que há, porque com o potencial que temos, haverá sempre empresas estrangei ras a quererem investir.

Mas a realidade económica tem várias velocidades... Sim. Falamos da industrializa ção moderna, mas a nossa eco nomia tem de facto duas ve locidades. Temos um sector camponês imenso e que pre cisa de assistência técnica e também de uma industria lização comunitária. Porque sempre que se industrializa

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muda-se o comportamento hu mano. Veja o que aconteceu na Europa depois da Revolu ção Industrial e a forma como ela mudou todo o mundo como o conhecemos hoje em dia.

Quando fala em colocar o mercado a funcionar, como é que essa articulação vai ser feita? Por um ministério ou por um instituto que será criado?

Cada vez que se cria uma ins tituição ela ganha vida pró pria e se nós formos pelo lado dos institutos vamos encher o Estado de endividamento. A ideia é precisamente o con trário. Nós, o Estado, estamos a criar um enquadramento encorajador ao investimento e impomos regras e normas para evitar, por exemplo, in dústrias poluentes. E o mer cado fará o resto. Não quere mos expandir as instituições que já temos, mas sim aproxi má-las entre si, tornando-as mais acessíveis aos empresá rios e investidores nacionais e estrangeiros.

A criação da APIEX (Agência para a Promoção de Inves timento e Exportações), surgiu como uma consequência dessa lógica?

Sim, fundimos várias institui ções com objectivos muito cla ros. Diminuir a carga burocrá tica e tornar o investimento mais claro e dinâmico. Esta mos a dizer aos empresários moçambicanos para que pe guem nas oportunidades e co mecem a fazer produtos com o selo ‘made in Moçambique’.

Pode dizer-se que Moçambi que está de braços abertos para os investidores?

Sem dúvida. Estamos a tra balhar na facilitação do cré dito para as empresas, temos acordos fechados com o Banco Africano de Desenvolvimento, com o Governo da Índia. E hão de vir duas empresas de pro moção de investimentos que vão apresentar-se em público com o leque dos seus interes

ses. Uma industrialização sem dinheiro é impossível. Portan to, terão de haver linhas de crédito para as pequenas e médias empresas. É dinheiro bom, sim, porque não é muito caro, mas aviso os nossos em presários que não terão a vi da facilitada, há muito traba lho pela frente.

E não acha que há um certo tipo de mentalidade que tem de mudar?

Este é o incentivo que temos na nossa comunicação com o sector privado, é a mensagem principal: fechar é continuar pobre; abrir é dar passos pa ra a riqueza. Como sabe, al guns de nós fomos da bandei ra marxista e para mudar é um exercício mental que leva tempo (sorri).

Qual é a curiosidade que os investidores têm com Mo çambique e qual é o maior receio que habitualmente lhe fazem chegar?

A pacificação era uma preo cupação e o processo em cur so ajudou muito. Depois, claro que as dívidas ocultas são sem pre um tema. Mas os investi dores já perceberam que es se não será um travão. O gás é a bandeira e o nosso traba lho é mostrar que temos mais do que isso.

Termino com uma nota mais pessoal. Sendo uma pessoa conhecida e reconhecida do meio académico, como foi es sa transição para a política activa?

A transição não foi difícil. Te nho a consciência de que a in formação é o factor-chave para a economia e não me poupei a esforços para levar a mensagem do Ministério aos mer cados, aos investidores, aos empresários, aos embaixado res, para dizer que Moçambi que pretende ser um bom lu gar para se investir.

Abril 2018

O QUE FALTA NA PROVÍNCIA DO FUTURO

Se o céu é o limite quando se fala de Cabo Delgado, a verdade é que o futuro ainda está debaixo

águas serenas. É por isso que a aposta em infra-estruturas é a base para

desde o início da década, quando foi anunciada a descoberta de uma das maiores reservas de gás natural do mun do (estimada em mais de 190 biliões de pés cúbicos), Cabo Delgado foi subitamen te promovida de uma das mais inóspitas e esquecidas regiões de Moçambique, a província onde mora o futuro da Nação. De Moçambique, bem como de muitos in teresses económicos espalhados pelos quatro cantos do globo. E como se o gás não fosse já suficiente, de lá para cá foram também anunciadas as descobertas de vastos depósitos de rubis à escala mundial (da Gemfields, uma gi gante mundial que controla 75% da Mon tepuez Ruby Minning, mina onde se diz estar cerca de 50% de todos os rubis exis tentes no mundo) e uma das maiores re servas de grafite (elemento fundamental na indústria do aço), até então desconhe cidas (explorada pela Syrah Resources). Mas para se erguer ali, naquele pon to distante, a quase três mil quilómetros

PROVÍNCIA CABO DELGADO

CAPITAL PEMBA ÁREA 82,6 MIL KM² POPULAÇÃO 2,3 MILHÕES REGIÃO NORTE

de Maputo, uma actividade económi ca à escala global, era (e ainda é) preci so construir praticamente tudo de raiz. Continua a ser, de resto. Um dos primei ros desafios, nessa lógica de crescimento, é a construção de infra-estruturas funda mentais para os planos de dinamização da actividade económica da província. Sobretudo infra-estruturas de logística e transporte.

À E&M, o Executivo local assume ser esta “a prioridade máxima da próxima dé cada”, daí que tenha agendado um vo lume de investimentos para uma inter venção transversal, com financiamentos suportados pelo Governo e pelos par ceiros de cooperação, em estradas, pon tes e outras infra-estruturas logísticas. Florêncio Chavango, director-provincial da Indústria e Comércio, não revela núme ros que elucidem a dimensão do défice de infra-estruturas, mas descreve um cená rio semelhante ao do país no seu todo: “Há insuficiência de estradas, ferrovias, rede energética e de água e comunicações”. Serão estas as bases para que, em 2028, Cabo Delgado seja “o banco” da economia nacional.

As sementes do crescimento Enquanto as infra-estruturas não cres cem, é nos sectores extractivo e agrícola que a economia local encontra o seu mo tor de arranque. No entanto, ambas as

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destas dinamizar o grande potencial natural da região.
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ROVÍNCIA
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actividades sofrem igualmente com os problemas infra-estruturais da região. Na agricultura, por exemplo, em distri tos que produzem excedentes alimenta res que poderiam abastecer os mercados locais e até nacionais, a produção acaba por se perder, muitas vezes, por falta de estradas que permitam ligações de for ma atempada.

Aliado a isso, há inúmeros registos de produtores que abandonam a agricultu ra para ingressar no garimpo (de rubis, por exemplo) porque acaba por ser uma actividade mais rentável nos dias que correm. Lançado o desafio para antever o que será Cabo Delgado em 2028, o Go verno local reconhece que o investimen to em vias de acesso, bem como o aumen to da produtividade e rentabilidade do sector agrícola (como bases para diversi ficar a actividade económica numa pro víncia que corre sérios riscos de ser total mente absorvida por apenas um sector, o extractivo) requerem uma interven ção estrutural e investimentos avultados, algo particularmente complicado numa altura em que não há apoio externo ao Orçamento do Estado.

Ainda assim, o foco será, gradualmente, dar prosseguimento aos planos de rea bilitação e construção das vias de acesso para que, até 2028, se possa “assistir a me lhorias significativas”, promete o director provincial da Indústria e Comércio que, no entanto, não avança os montantes a serem aplicados e os projectos concretos a serem realizados nesse prazo.

Ainda assim, em 2018 está previsto o iní cio das obras de reabilitação de 650 qui lómetros de estrada, em 17 distritos de Nampula, Tete e Cabo Delgado (cerca de 350 quilómetros), no âmbito do Programa de Crescimento e Emprego, na componen te de estradas. Para o efeito, serão aplica dos mais de 700 milhões de meticais, fruto do financiamento da Agência Dinamar quesa de Desenvolvimento Internacional (DANIDA), que apoia o Governo na reabili tação de vias de acesso que estabelecem ligação com as zonas agrícolas.

Depois, há ainda o Porto de Pemba, que muitos acreditam que possa vir a tornar -se um dos motores de desenvolvimento de toda a província.

Se foram as condições naturais da baía que, em tempos idos, levaram Pemba a transformar-se na capital da província de Cabo Delgado, será por aí também que se vai canalizar o futuro da região.

Actualmente, o porto tem um cais com 183 metros de comprimento, perfazendo uma área de três mil metros quadrados, mas

O CAMINHO DO CRESCIMENTO DE CABO DELGADO Indústria extractiva

Mesmo sem o gás, as extractivas representam já hoje perto de 50% da actividade económica da província, um peso que aumentará exponencialmente, até 2028. A actividade industrial irá a reboque dessa evolução (estima-se que sejam criadas 250 unidades): indústrias de processamento de minerais não metálicos (calcário, grafite, pedras preciosas e ornamentais), produção de mobiliário, fábricas de moldagem de chapa de zinco, indústria metalomecânica, produção de betão para construção civil, e de sal marinho.

Agro-indústria

O sector contribui hoje com 35% do PIB da região, estando em pipeline uma série de investimentos em agro-processamento (panificadoras, moageiras, processamento de castanha de caju e algodão).

Turismo

Representa hoje 13% do PIB da região, mas se esta contribuição deve diminuir em termos percentuais, a receita deverá aumentar (e muito) dentro de uma década, alavancada por investimentos anunciados, bem como pela aposta na qualidade da prestação de serviços (hospedagem, restauração, consultoria, manutenção de equipamento).

os CFM têm em andamento um projecto que visa atender a demanda das embar cações de apoio logístico aos projectos de pesquisa e exploração do gás e petróleo na bacia de Rovuma, fazendo aumentar a capacidade do tráfego e de armazena mento do terminal de contentores.

A finalização da obra de alargamento e a melhoria do porto irá também criar uma nova centralidade na cidade, uma vez que irá “mexer” com a lógica de acessos, que deixarão de se fazer através da bai xa de Pemba, como acontece actualmente. E isso terá, obviamente, consequências na ligação com o aeroporto, com outras infra -estruturas logísticas (estaleiros da Ana darko, ENI, BakerHughes ou da Schlum berger, por exemplo) e até hoteleiras.

Será esta uma obra essencial para con tinuar a atrair investimento, empresas e a fixar pessoas qualificadas na região, isto a contar com a opinião de vários ges tores de empresas ouvidos pela E&M que, em Maputo, aguardam que os seus inves timentos na região comecem a deixar de ser considerados custos e finalmente a render dividendos, Outra das mudanças estruturais a que se deverá assistir está no acesso à energia, fundamental para o crescimento que se anuncia para a região.

O Governo provincial descreve a qualida de de energia eléctrica “como das piores do país, com cortes e oscilações frequen tes” e ainda recentemente cinco distritos de Cabo Delgado estiveram, literalmente, “às escuras” por falhas na rede.

Algo que terá de mudar. E é isso mesmo que está previsto no plano de universali zação da rede energética até 2030, lança do pelo Executivo em 2015.

Consequência óbvia são os prejuízos asso ciados à actividade produtiva em várias dimensões, desde a familiar até à indus trial, agudizando os custos de transacções e a competitividade da economia local. “O desafio na próxima década será expan dir, sim, mas sobretudo investir na qua lidade da energia fornecida, o que trará resultados notáveis no desempenho de todos os sectores de actividade”.

O resto é paisagem?

De facto é. E ainda bem. E é por isso que Cabo Delgado é uma das mais importan tes referências turísticas do país ainda que, actualmente, a oferta hoteleira se encontre fundamentalmente direccio nada para o turismo de negócios (embo ra com abertura e potencial para o seg mento de lazer). E tudo porque a falta de saneamento básico, o clima de instabili

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dade política que se viveu até há pouco tempo e os rumores que ecoaram acerca do encerramento do aeroporto de Pemba para voos internacionais, vieram dificul tar ainda mais o desenvolvimento do seg mento de lazer. No entanto, o Governo ga rante que isso não irá acontecer e ainda em Fevereiro passado foi reaberto o ae roporto de Mocímboa da Praia, que bene ficiou de melhorias significativas através de um investimento de cerca de 24 mi lhões de meticais.

Numa região onde beleza e riqueza na tural convivem em lugares que parecem verdadeiros postais (o Parque Nacional das Quirimbas é um enorme exemplo dis so) o sector contribui apenas em 13% para a riqueza produzida anualmente na pro víncia. No entanto, mesmo que esta contri buição se reduza estatisticamente (devido às enormes receitas geradas pela extrac ção de gás), a verdade é que se prevê que cresça substancialmente até 2028, ala vancada pelos investimentos já anuncia dos no sector do gás. Tudo, aliás, nesta pro víncia parece conhecer a sua alavanca de crescimento nas reservas de gás.

O que falta fazer Há muito pouco que se possa prever, em relação ao que se irá passar nos próxi mos anos, que não se tenha já dito antes. Cabo Delgado aguarda o nascimento do grande mega-projecto para poder de

senvolver outras áreas económicas, no meadamente a indústria. Ao mesmo tem po, não pode ficar “sentada” à espera que isso aconteça.

Para já, o processo de reassentamento planeado para Afungi, o local escolhido para a construção da fábrica de liquefac ção de gás natural e toda a infra-estru tura necessária para a mesma, já dá os primeiros passos, mas daí até ao gás vai ainda um longo caminho, que talvez ve nha a ser decisivo, nomeadamente para a integração das PME nacionais na pres tação de serviços e instalação de centros de apoio à produção de gás liquefeito. Esti ma-se que, ao longo dos próximos 10 anos, a dinâmica económica gerada pela ex ploração de gás natural crie um efeito de arrasto económico na província, respon sável pela criação de cerca de 250 uni dades industriais capazes de triplicar os postos de trabalho relativamente ao ní vel actual (de 9 500 para perto de 23 mil), em áreas tão diversas como a da draga gem, do fornecimento de equipamento de terraplanagem, manuseamento de car ga, fornecimento de bens alimentares, limpeza, provimento de mão-de-obra, ex tracção mineral, hotelaria ou fabrico de mobiliário.

Contactado pela E&M, o presidente do Con selho Empresarial da Província (CEP) de Cabo Delgado defende que a condição ne cessária para a sua inclusão nos grandes

O foco está em, gradualmente, dar seguimento aos planos de reabilitação e construção das vias de acesso para que, até 2028, possa existir um enquadramento propício ao grande boom económico que se espera em Cabo Delgado.

negócios é a aprovação da Lei do Conteú do Local. Mas em vez de definir o limite de fornecimento de serviços às grandes empresas em apenas 10% (conforme a proposta inicial), a Lei deve estabelecer uma expansão gradual deste limite, para que até 2028 os grandes projectos adqui ram metade (50%) ou mais dos bens e ser viços fornecidos pelas empresas nacio nais. Gulamo Abobakar reconhece que há pouco tempo para que os empresários as sumam um posicionamento à altura do potencial de recursos naturais que há para explorar, uma vez que se trata de “uma província em que num passado re cente não acontecia quase nada e que em pouco tempo descobriu recursos e tem projectos que podem alavancar a econo mia de todo o país”. Ainda assim, conside ra ser “uma obrigação” fortalecer o em presariado local para tomar parte das oportunidades, procurando “um melhor envolvimento dos empresários da pro víncia na dinâmica da actividade econó mica, só possível através de uma melhor planificação”.

Para o administrador da ENH, Paulino Gregório, que liderou uma comitiva da empresa estatal (uma das concessioná rias da área 1 do Rovuma), numa recente visita de capacitação de empresários lo cais, “é importante continuar a trabalhar de modo a procurar melhores formas de garantir a participação dos moçambica nos nesses projectos”. “É do nosso interesse que os moçambicanos se capacitem para melhor aproveitarem as oportunidades que irão surgir”, disse.

O impacto de tudo isto na melhoria da renda das famílias, no aumento da recei ta do Estado e no consequente crescimen to do PIB não é, para o director-provincial da Indústria e Comércio, “um dado adqui rido”. “Os benefícios só serão possíveis se forem acompanhados pelo aumento da capacidade interna de prestar serviços de apoio aos mega-projectos, com os re querimentos que estes impõe ao nível da qualidade de serviço, certificação, pa drões internacionais, e para isso, teremos de apostar na formação, essencialmente direccionada para as Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME) locais”. Do lado do empresariado local (e poder-se-ia di zer do nacional também, porque é em Cabo Delgado que se joga grande parte do futuro económico de Moçambique), há ansiedade e apreensão.

E não é para menos: estão em desvanta gem numa corrida que já arrancou e com perspectivas limitadas de transformar a realidade a seu favor.

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CABO DELGADO

Por fim, há uma última (grande) questão. O acesso ao crédito. O facto é que empre sários da região estão atentos às oportu nidades na indústria do gás, onde a regra do jogo é a capacidade financeira, técni ca e organizacional, ou seja, tudo o que faz falta aos empresários. Os anfitriões ambi cionam ter um posicionamento vantajo so sobre os empresários concorrentes de outras regiões e países, mas assumem es tar a enfrentar obstáculos.

O Conselho Empresarial de Cabo Delga do – órgão da Confederação das Associa ções Económicas de Moçambique (CTA) –, começa por referir um problema que tem vindo a agudizar-se: a falta de crédi to para os empresários locais, devido às taxas de juro proibitivas (acima dos 30%) Depois, há também o próprio endivida mento do Estado para com as empresas, nomeadamente de construção e serviços. Ainda recentemente, um grupo de em presários de Cabo Delgado se manifestou pelo pagamento das dívidas resultantes da prestação de serviços e fornecimento de bens às instituições do Estado.

MILHÕES DE METICAIS É QUANTO VAI CUSTAR A REABILITAÇÃO DE 650 QUILÓMETROS DE ESTRADAS EM CABO DELGADO, NAMPULA E TETE

Sem revelar o volume total dos montantes, a CTA caracteriza a situação como “críti ca e ameaçadora à continuidade dos ne gócios”. O problema foi, de resto, reco nhecido pelo Governador da província, Júlio Parruque, que assegurou que “todas as empresas serão pagas”, mas não ar riscou em avançar prazos para que tal aconteça. Empresário na área de construção e elec

700trónica, Osman Yacob entende que Cabo Delgado, “é capaz de produzir recursos para pagar várias vezes” a dívida pú blica nacional, desde que os planos tra çados (incluindo a Lei de Conteúdo Local) e o acesso a linhas de crédito dedicadas a empresários locais”, passem de simples ideias a práticas continuadas.

Ainda assim, para Osman, os próximos 10 anos são pouco menos do que impre visíveis, “já que a evolução dos mercados também o é”, complementa. E não se sabe ao certo quando haverá gás em Cabo Del gado, prevendo-se que apenas em 2023 isso seja uma realidade. Serão muitas as nuvens cinzentas num horizonte que já esteve mais limpo, causadas essencial mente pelo sufoco financeiro que se tem feito sentir na economia nacional, ao lon go dos últimos três anos. No entanto, elas não apagam o grande e brilhante futu ro que, mais tarde ou mais cedo, aguarda toda aquela região.

TEXTO CELSO CHAMBISSO FOTOGRAFIA ISTOCKPHOTO

ERCADO E FINANÇAS

MERCADO

PUBLICITÁRIO CRESCEU.

E É A TV QUEM COMANDA

Os investimentos em publicidade nunca foram tão elevados como em 2017, num contexto de quebra de receitas dos anunciantes. É o sinal contraditório (ou nem por isso?) de um mercado que está a mudar.

ao longo do ano passado, enquanto se aprofundavam, um pouco por toda a par te, um sem número de cortes das despe sas para ajustar os orçamentos ao con texto da queda das receitas, as empresas tomaram a publicidade como factor deci sivo para manter a proximidade com o consumidor. Pode parecer estranho mas, efectivamente, foi isso que aconteceu, e o volume de publicidade veiculado nos me dia atingiu um pico de quase 2 mil mi lhões de meticais. A conclusão é de um estudo desenvolvido pela Ipsos Moçam bique – uma das maiores empresas de pesquisa de mercado em todo o mundo –que aponta para um crescimento global de 35% das receitas, em relação a 2016. O “impressionante” crescimento (e pou co expectável para muitos) do volume de investimento publicitário em tempos de crise é visto como sinal de consolida

ção do mercado. Ou seja, as marcas (anun ciantes) demonstram estar cada vez mais cientes de que, em alturas de perda de fulgor económico devem continuar a in vestir, “porque quem não aparece, não fala com o seu público e, assim, as pes soas não vão conhecer ou vão esquecer -se rapidamente da sua mensagem. Mas quem continuar a publicitar mantém a possibilidade de ficar na mente do con sumidor”, defende Cátia Semedo, Directo ra-geral da agência Young Network Mo çambique. Segundo Cátia Semedo, “o que se nota é que sempre que há instabilida de económica (seja em que mercado for), muitas marcas tendem a desinvestir na publicidade. Decidem realizar cortes nas despesas, e as áreas da comunicação e de marketing são as primeiras visadas. No entanto, a julgar pelos resultados do estu do, há empresas que agem em contraci

TV COMANDOU INVESTIMENTO NOS MEDIA EM 2017

A televisão factura em publicidade 10 vezes mais do que a imprensa escrita e cinco vezes mais do que a rádio Em %

76,8

15,8

TELEVISÃO 1,5 mil milhões de meticais

RÁDIO 313,6 milhões de meticais

IMPRENSA ESCRITA 146,5 milhões de meticais

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FONTE Ipsos

clo, e quanto a mim bem. Apercebem-se que se recuarem, perdem espaço mediá tico e torna-se muito mais difícil recupe rá-lo, especialmente em momentos com plicados economicamente”, assinala.

Se a lógica de mercado parece ter ido na direcção certa, de um modo geral, o mer cado publicitário nacional ainda está um pouco “imaturo”, nomeadamente ao nível dos números. Ou talvez não. A E&M falou com alguns dos directores de marketing das maiores empresas nacionais (ban ca, telecomunicações e agências de publi cidade) e a opinião é comum: “o ‘bolo‘ pu blicitário anda, por norma, de braço dado com o nível de actividade económica do país, visto que o desempenho desta área é directamente proporcional à dinâmi ca global da economia”. Como todas as re gras, esta também tem uma excepção, que aconteceu no ano passado, altura em que, num dos períodos mais conturbados da economia nacional, a receita publici tária acabou por aumentar, precisamen te como reacção a essa onda de pessimis mo que se começou a formar há dois anos.

Mas... nem tudo é o que parece O aumento considerável de investimento verificado em 2017 aconteceu graças ao aumento significativo do número de spots televisivos, (mais 35% do valor) e de anun ciantes (mais 19%) face a 2016. Também se verificou um aumento do leque de catego rias (395), produtos e serviços (621) publici tados em Moçambique.

No entanto, é ilusório concluir – apenas com base no volume dos investimentos que foram realizados – que o mercado da publicidade em Moçambique não sofreu com a crise. Porque sofreu. Por exemplo, ao nível das novas campanhas publici tárias. Ou seja, investiu-se menos em no vos conteúdos publicitários e canalisou-se parte desse valor para “carregar” na ex posição (mais tempo e maior frequência) dessa mesma publicidade, sendo que, por norma, a produção de spots de televisão é o mais caro. E tudo isto numa conjuntu ra em que os preços das tabelas (nas tv, outdoor, rádio e imprensa) conheceram igualmente maiores descontos face ao pe ríodo de crise que se viveu.

O resultado é o contrário ao esperado pe los anunciantes de ponto de vista de re tornos. E porquê? Vários estudos da Ipsos indicam que 80% das campanhas atin gem o ponto mais elevado de intenção de compra passadas 12 semanas. Nesse mo mento, normalmente, o ciclo de vida das campanhas chega ao fim e o retorno do investimento relativo torna-se exponen

cialmente decrescente, sendo preferível investir em novas peças criativas ou nou tras áreas.

Em 2017, percebemos isso. Pouco mais de metade (52%) das campanhas já tinham sido veiculadas no ano anterior, refor çando a ideia de que houve um desinves timento na produção de campanhas, que potencialmente levou à saturação do con sumidor. Traduzindo esta realidade em números, verificou-se, no ano passado, um aumento de 35% dos anúncios publicitá rios, acompanhado de uma ligeira varia ção de apenas 2% no número de campa nhas publicitárias.

“A poupança verificada na produção de campanhas poderá, no fundo, não ter re sultado efectivamente em vendas, e ape nas, ter igualmente resultado em danos no valor das marcas”, sublinha a pesquisa, que sugere que o crescimento verificado deve ser analisado com as devidas pre cauções, sobretudo no que diz respeito a

MERCADO VOLTOU A CRESCER

previsões de crescimento para 2018. Tais precauções terão de ter em conta a vul nerabilidade do mercado moçambicano relativamente às condições políticas, eco nómicas e sociais, entre outros factores. Outra marca da crise foi a retracção do mercado publicitário pela primeira vez em 2016 (auge da crise), com uma queda de 6%, interrompendo o crescimento pro gressivo e consistente, com recorde de 1.3 biliões de meticais no ano anterior.

Digital vai mudar o mercado Se a televisão, a rádio e a imprensa ain da surgem na liderança destacada do in vestimento publicitário em Moçambique, essa é uma tendência que começa a não se verificar noutros mercados (em Portu gal, por exemplo, o investimento no digital cresceu 9,4% no ano passado, a imprensa caiu 11% e a televisão caiu 1,4%).

A era digital está aí e vem para ficar. E isso nota-se, todos os dias, ao andar mos na rua. Elsa Paul Catarino, directora de marketing da Maningue Nice Brand, uma empresa de marketing digital, re vela que, desde 2014, o número de utili zadores do Facebook cresceu de 940 mil para 2 milhões de utilizadores activos (a nível mundial, o Facebook teve um cres cimento de mais de mil milhões de utili zadores e, actualmente, quase 30% da po pulação mundial usa esta rede social).

Em milhões de meticais

2000 1700 1400 1100 800 500 2011 2012 2014 2015 2013 2016

2017

Apesar do abrandamento sentido em 2014 e da retracção registada em 2016, no ano passado o mercado voltou a crescer FONTE Ipsos

A evolução mostra que, nos últimos anos, os hábitos de consumo mudaram e a evo lução foi ela própria outra, por via dis so. “Vivemos numa sociedade que deseja cada vez mais rapidez e praticidade, e a publicidade em social media acompanha esta evolução. É cada vez mais raro ver uma pessoa desconectada da Internet, e se a nossa vida já não é a mesma com a In ternet, o mesmo se pode dizer do proces so de compra, e logo da venda: para publi citar temos de estar onde estão os nossos clientes”, explica Elsa Paul.

SOCIAL MEDIA GANHAM CADA VEZ MAIS FORÇA 2 000 000

ENTRE 2014 E 2017, O NÚMERO DE UTILIZADORES ACTIVOS DO FACEBOOK MAIS DO QUE DUPLICOU, DE 940 MIL PARA 2 MILHÕES

Actualmente, a própria televisão, impren sa escrita e rádio fazem a ponte para a uti lização das redes sociais. Redireccionam os seus espectadores e complementam o seu conteúdo com recurso a meios digitais. “Porque é lá que se encontra a maioria dos consumidores”, sublinha Elsa Paul.

A Miramar, hoje líder incontestada das audiências em Moçambique, faz preci samente isso. De acordo com Alexandre Mari, director de marketing do canal, ao mesmo tempo que a televisão investe em formatos comerciais e programas para todo o segmento de público, através da te levisão e rádio generalistas (disponibiliza programas em simultâneo com o seu ca

Abril 2018 49

nal de televisão), atribui atenção às redes sociais. Tem Facebook, com o maior núme ro de fãs do país – cerca de 1 milhão –além de estar presente nas outras redes: Instagram, Twitter, Youtube e website. Na era digital, as pessoas deixaram de ser somente receptoras passivas de informa ção, tornando-se muito mais interactivas com as páginas de empresas, marcas, po líticos ou artistas. Mesmo admitindo que, hoje, todos os canais sejam importantes, Elsa Paul diz que a mais-valia de usar re des sociais é que não existem restrições de horários. Ou seja, a informação chega a qualquer hora ao consumidor. “Cada vez mais, temos de redireccionar a nossa ver ba para o mercado online. O marketing di gital já deixou de ser somente uma aposta, para ser fundamental em estratégias de publicidade e marketing nas empresas”.

Reinventar-se para vender mais Para a Miramar, a solução para contra riar a crise que levou muitos anunciantes nacionais a reduzirem ou a manterem os seus orçamentos, foi recriar-se ao nível dos conteúdos. Assim, colocou à disposição do mercado anunciante um maior núme ro de produtos: novelas, quatro telejornais diários, um programa económico, outro musical, entre outros. Uma grelha sema nal com quase 30 produtos diferentes, que possibilita uma estratificação do público -alvo para cada perfil de anunciante. Com este investimento, conseguiu fazer cres cer o nível de audiência, o que permi tiu um aumento constante na ocupação

dos espaços publicitários. “O Fala Moçam bique” chega a comunicar com cinco mi lhões de pessoas (aproximadamente 17% da população moçambicana). “Nenhum ou tro meio ou canal atinge este número de pessoas”, refere Alexandre Mari. E é isso que as marcas querem: audiência.

Uma aposta das grandes marcas

O marketing e a publicidade são a alma do negócio das grandes marcas em diversos sectores. No sector financeiro (um dos que mais investe, a par das bebidas e teleco municações), o BCI revela que a publicida de está entre as grandes prioridades. “O facto de a marca BCI ter sido considerada SuperBrand por seis vezes consecutivas, dá uma ideia da importância que o ban co dá à publicidade e ao reconhecimen to daí resultante”, revela Rogério Lam, di rector de marketing do banco, para quem “manter a proximidade com a sua base de clientes e com o mercado é fundamental, especialmente em momentos como os que se têm vivido no mercado”, assinala.

O banco não revela a proporção dos in vestimentos que realiza em publicida de, apenas assegura que o faz “de forma equilibrada, canalizando a publicidade nos três meios tradicionais de comunica ção social”. A notoriedade expressa pelas distinções internacionais e o crescimen to sólido do volume de negócios podem ser vistos um pouco à luz daquilo que é o retorno (ou parte) dos investimentos em marketing e publicidade.

Com a quebra de crescimento económico,

1,9

MIL MILHÕES DE METICAIS É QUANTO O MERCADO PUBLICITÁRIO MOVIMENTOU

AO LONGO DO ANO PASSADO. O ESTUDO DA IPSOS BASEIA-SE NOS PREÇOS DE TABELA E NO VOLUME DE INSERÇÃO DE SPOTS DE TV E RÁDIO E ANÚNCIOS DE IMPRENSA

o BCI admite que tem vindo a reduzir li geiramente o nível de investimento em relação aos anos anteriores, mas assegu ra que não secundariza a comunicação. O seu grande concorrente no mercado, o Millennium bim, também atribui gran de importância ao mercado publicitário e ao investimento em comunicação. “É um veículo de excelência para a divulgação dos nossos serviços e produtos aos clien tes”, refere fonte da instituição, sendo que o bim também aposta em televisão, rádio, imprensa escrita e no digital (incluindo as redes sociais).

Se as telecomunicações optam por abor dagens diferentes (como as pinturas de casas ao longo das estradas nacionais, um cenário que se observa em muitos paí ses africanos), já as bebidas fazem algo semelhante. A Cervejas de Moçambique (maior player do mercado das bebidas e que também representa a Coca Cola, uma das três maiores anunciantes no país) não avança com detalhes sobre o seu investi mento, mas garante que “vai continuar a investir na comunicação independente mente do ambiente económico que o país atravessar”.

Se anunciar ou não anunciar pode nem ser a questão de fundo nesta altura, a verdade é que no meio da publicidade, o quando, como e onde o fazer é que podem ser a solução para o que está por vir no mercado das marcas nacionais.

MERCADO
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E FINANÇAS
O aumento do número de smartphones será determinante na evolução do segmento digital
EMPRESAS Abril 2018 52

UX, A STARTUP POR UM MUNDO MELHOR

Como encontrar emprego, arranjar um biscate ou ter uma cidade mais limpa são questões que a UX se propôs a resolver. E não é que está a resultar?

a tendência é global. A tec nologia abre caminhos pelo mundo digital, moldados pela curiosidade empreendedora de jovens de todos os cantos do planeta. Com eles nasceu o termo startup, quase exclu sivamente ocupado por em presas emergentes da área da tecnologia, de Mumbai a São Paulo, não deixando de passar por Maputo. Criada a 1 de Maio de 2012, foi no Dia Mundial do Trabalhador que a UX Information Technolo gies se apresentou ao merca do. Começou pela plataforma “emprego.co.mz”, nome simbó lico para um portal então ino vador no mercado nacional e que facilita a aproximação entre empregadores e candi datos. “Foi preciso paciência e dedicação”, conta o fundador Frederico Silva, num trajec to de crescimento lento de um modelo de negócio, “onde todas as pequenas vitórias davam alento para continuar a fazer um grande trabalho”, recorda. “No primeiro dia ti vemos 168 visitantes, algo que validou o esforço e mos trou que o conceito podia ter futuro”. E teve. “Até ao final do ano já oscilávamos entre as quatro e as seis mil visitas diárias”, recorda. Hoje, anda rá perto dos 20 mil visitantes diários (nas três plataformas que disponibiliza), uma au diência que rivalizaria, por exemplo, com a de alguns meios de comunicação. “Somos uma empresa que cria tecnologias para o desenvol

vimento social do país, em di versas áreas de negócio.” Para Frederico, a ideia de criar a UX nasceu da “total ausência de in vestimento na área de tec nologias, especialmente num segmento que representa o futuro”.

E se esse futuro parecia en tão distante, ele está hoje bem mais perto. Actualmente, a em presa tem uma oferta diversi ficada e gere três plataformas online em diferentes segmen tos. Além do “emprego.co.mz” (busca de emprego no sector formal, apoiado pela Gapi, so ciedade de investimentos), de tém ainda o “Biscate” (como o nome indica, é dedicado ao sec tor informal, com o apoio da Vodacom) e o “Mopa” (platafor ma desenvolvida em conjunto com o Município de Maputo e o Banco Mundial para a monito ria participativa da prestação de serviços urbanos públicos). Exemplos práticos da filosofia da empresa.

Agora, o maior desafio, expli ca Frederico Silva, “é conse guir monetizar o tráfego, as visitas e o tempo de perma nência dos visitantes”. “Mes mo entre nós, sempre houve um pouco de cepticismo em como poderíamos captar re ceita, mas procurámos criar um conceito dentro do modelo de redistribuição de riqueza em que oferecemos o servi ço ao visitante cobramos às grandes empresas”.

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soluçõesporummundomelhor B EMPRESA UX Information Technologies FUNDAÇÃO 2012 FUNDADOR Frederico Silva TRABALHADORES 26 FACTURAÇÃO ANUAL (METICAIS) 14 000 000 PERFIS REGISTADOS 150 000 2 000 000 MOPA EMPREGO.CO.MZ 12 000 000 100 000 EMPREGO.CO.MZ BISCATE 50 000 VISITANTES DIÁRIOS 20 000
A empresa tem vindo a aumentar a sua facturação “emprego.co.mz” tem sido responsável pela maioria dos registos

DAN POSICIONA-SE NO MERCADO DIGITAL EM MOÇAMBIQUE

“Desenhar estratégias que permi tam o crescimento do mercado publicitário e de marketing e con correm para o incremento da lu cratividade e dos investimentos”. É assim que se apresenta a mul tinacional japonesa Dentsu Aegis Network (DAN) em Moçambique. Tendo inaugurado recentemente o seu escritório em Maputo, a DAN pretende revolucionar o mercado das agências de comunicação, se gundo Dawn Rowlands, Directora -executiva para a África Subsaa riana, para quem a expansão da multinacional tem o objectivo de “melhorar a criatividade de produ ção de conteúdos na área da co municação digital”.

Para Cátia de Sousa, Directora -geral da empresa no país, este é “apenas o início de uma nova era na comunicação e marketing na cional, uma vez que irá certamen te trazer uma nova abordagem ao mercado”, diz a responsável. A multinacional opera actualmente em 145 países. Em Moçambique, colabora com o grupo The Num ber Seven, que congrega várias agências de publicidade, com des taque para a Ogilvy Moçambique.

145

É o número de mercados em que a Dan opera

MARKETEERS EM ACÇÃO EM MAPUTO

A capital do país foi palco da ter ceira edição do Marketeers em Acção (MEA). O objectivo do evento foi o de reunir empresá rios, estudantes universitários e líderes de opinião para a reflexão em torno de várias campanhas de comunicação, bem como das novas estratégias para a trans formação económica do merca do nacional. O evento juntou ain da representantes das marcas participantes na quinta edição da SuperBrands Moçambique.

BAÍA MALL ATRAI MARCAS INTERNACIONAIS

marcas como a portuguesa Seaside, a sul-africana Ocean Basket ou a espanhola Piel de Toro, anunciaram a sua entra da no mercado moçambicano, depois de confirmada a inau guração do Baía Mall, em Maputo.

A marca de calçado Seaside inaugurou mesmo a sua primei ra loja em Moçambique, no mês passado. Com mais de 1200 colaboradores, a empresa conta com uma rede de 100 lojas espalhadas por Portugal (e com outras 30 em mercados como Espanha, França, Luxemburgo ou Angola) e pretende inaugu rar, até ao final do ano, mais três espaços na capital moçam bicana. De resto, também a cadeia de restauração sul-africana de seafood Ocean Basket vai inaugurar o seu espaço, estando o seu início de actividade marcado para o princípio de segun do trimestre do ano. À imagem, de resto, da loja de vestuá rio espanhola Piel de Toro que também decidiu aproveitar o maior shopping de Maputo para investir no mercado nacional.

PHC ANUNCIA “MELHOR ANO” DA SUA HISTÓRIA

A multinacional de capital portu guês (presente no mercado na cional) anunciou a superação do seu recorde de vendas pelo ter ceiro ano consecutivo, registan do um “forte crescimento (26%) nos mercados internacionais”, lê -se no relatório e contas da em presa. A multinacional assinalou ainda “um valor recorde” de volu me de negócios de 10,8 milhões de euros.

Para Ricardo Parreira, CEO da em presa, os resultados atingidos ao longo dos últimos anos devem -se “ao papel preponderante que a tecnologia desempenha hoje na gestão das organizações”. A empresa tem presença em cinco mercados: Lisboa e Porto, Por tugal; Madrid, Espanha; Luanda, Angola; Maputo, Moçambique; e Lima, Peru.

Número de novos clientes nos cinco mercados onde está presente

INAUGURADO EM DEZEMBRO PASSADO, O BAÍA MALL REPRESENTOU UM INVESTIMENTO DE 96 MILHÕES DE DÓLARES, SENDO HOJE, O MAIOR SHOPPING EM MOÇAMBIQUE. COM MAIS DE 100 LOJAS, E UMA ÁREA TOTAL DE 30 000 METROS QUADRADOS, DISPÕE DE UM HOTEL DA CADEIA SOUTHERN SUN, E MAIS DE 900 LUGARES DE ESTACIONAMENTO.

DSTV VAI AUMENTAR PREÇOS EM ABRIL

De acordo com a TV Cabo Mo çambique (que disponibiliza o serviço para todo o território na cional), o reajustamento vai in cidir sobre os preços dos prin cipais pacotes de canais DSTV, básicos e premium.

MEGAFONE Abril 2018 54
TEXTO REDACÇÃO FOTOGRAFIA JAY GARRIDO Seaside,
Ocean Basket e Piel de Toro chegaram recentemente ao mercado
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EM FOCO Abril 2018 56

TOPRAK, UMA EMPRESA A CRESCER COM O PAÍS

Como uma empresa com décadas de história, líder de segmento da construção civil na Turquia, a Toprack quer tornar-se cada vez mais uma referência no mercado nacional.

chegou, viu e… cresceu. Em dimensão e altura, claro. Ou não es tivéssemos a falar de uma empresa de construção de edifícios de luxo. Com apenas três anos no mercado moçambicano (começou a operar em 2015), mas com uma história de várias décadas no mer cado turco, a Toprak baseia a sua lógica de investimento na econo mia nacional, devido ao “enorme potencial” de Moçambique que, como outras economias em desenvolvimento, apresenta desafios importantes ao nível da construção e do ramo imobiliário. Desde a sua entrada no mercado nacional, a Toprak tem procu rado assegurar o seu lugar de forma cada vez mais sustentada, através de um portfólio diversificado, que vai da oferta de esca vação geotécnica, construção civil, grandes fundações, estradas e pontes, à escavação de túneis e demolição de edifícios.

Ao longo de um percurso que se iniciou na Turquia, há 42 anos, o grupo empresarial Toprak adquiriu uma vasta experiência em vários destes segmentos do mercado da construção civil, garan tindo serviços rápidos e flexíveis aos seus clientes.

Em Moçambique, conta com uma equipa de 80 trabalhadores (po dem ir até aos 400, na sua grande maioria moçambicanos).

Um dos pontos fortes da Toprak é a estruturação da sua oferta de serviços, em que são utilizadas as mais recentes tecnologias, de acordo com um padrão de qualidade internacional em que eficá cia se conjuga com qualidade, e preocupação com as legislações e práticas ambientalmente seguras, condições de saúde e seguran ça, além de uma forte ética no trabalho.

O Grupo Toprak Geotécnica continua a crescer internacionalmente e tem hoje projectos em fase de construção em diversos mercados: na Turquia, Iraque, África do Sul e claro, Moçambique, pretenden do, através da sua experiência, tornar-se numa marca de referên cia em todos os segmentos em que tem know how e experiência. Perspectivando o futuro, e olhando para o potencial de expan são do mercado africano, a Toprak apresenta-se ao mercado com uma lógica de expansão de serviços e portfólio de projectos de construção civil com uma lógica direccionada para os empreen dimentos como centros de negócios, residências e escritórios. E tudo com uma única meta: aumentar a produtividade da em presa e engrandecer a marca Toprak, referenciando-a como um parceiro de crescimento que oferece soluções num sector funda mental para a economia nacional.

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“APOSTAMOS EM MOÇAMBIQUE”

Hasan Toprak aborda a estratégia de crescimento delineada pela empresa com um longo historial de sucesso e crescimento no ramo da construção civil e imobiliário e explica porque decidiu a multinacional turca investir na economia moçambicana, “um mercado com grande potencial”, assume sem receios.

na perspectiva do conse lho de administração da Toprak, uma empresa esta belecida no mercado turco há mais de 40 anos, são inúmeras as oportunidades de investi mento que o mercado nacio nal oferece, nomeadamen te em “segmentos como o da construção civil e imobiliário, que apresentam um enorme potencial de crescimento e desenvolvimento”. Hasan To prak, do conselho de adminis tração da empresa em Mo çambique, fala dos objectivos da construtora e de como pre tende a empresa evoluir em Moçambique.

Como é que a Toprak chega a Moçambique?

A Toprak é uma empresa ba seada na Turquia e que tem

investimentos externos no Iraque e, neste momento, também em África, concreta mente em Moçambique e na África do Sul. Estamos com prometidos com a implemen tação da nossa visão e expe riência de acordo com a lógi ca de crescimento que existe em Moçambique. Para o gru po Toprak é importante esta visão além-fronteiras. Esfor çamo-nos para ser um dos concorrentes mais fortes e competir num mercado mui to competitivo, que se encon tra em constante mudança e desenvolvimento.

Porque decidiram avançar para Moçambique?

Pensamos sempre dessa for ma: investir em mercados emergentes. Pelas pesquisas

que fizemos, chegámos à con clusão que Moçambique, sen do um país democrático e com um potencial económico tre mendo, era o lugar ideal para investir. Há um enquadra mento fiscal favorável ao in vestimento externo, que nos leva a perceber que Moçam bique é próspero e vai prospe rar ainda mais.

Tendo entrado no merca do em 2015, sabemos que têm um plano de desenvol vimento de negócios a cin co anos. O que está previsto nesse plano?

Perspectivamos fazer investi mentos em três áreas aqui em Moçambique: habitação e in fra-estruturas, na área do reta lho e, claro, uma empresa como a nossa nunca pode esquecer -se de que tem de contribuir para a sociedade, que tão bem nos recebe, e é por isso que te mos algumas campanhas de responsabilidade social. Cons truímos escolas no distrito de Marracuene e temos uma ac ção alimentar, com a qual con tribuímos com uma cesta ali mentar, para várias famílias dessa região.

Qual foi a primeira grande obra da Toprak em Moçambique?

O primeiro projecto foi a To prak Residence. É esta a nossa primeira grande aposta neste mercado.

O que diferencia a Toprak das outras empresas de cons trução presentes no mercado nacional?

A Toprak tem na sua identi dade a construção de aparta mentos de luxo para as clas

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BEMPRESA Toprak ENTRADA NO MERCADO 2015 NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS 80
Hasan Toprak, do Conselho de Administração da empresa, mostra-se “confiante” no bom desempenho do sector da construção
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PROJECTO Toprak Residence

Localizado numa das melhores zonas de Maputo (Julius Nyerere com vista sobre a Baía de Maputo), o edifício sobressai pelo seu design inovador, bem como pela harmonia das cores e aplicações. Com conclusão prevista para o final deste ano, o Toprak Residence terá um total de 20 andares. Os primeiros 10 pisos, serão ocupados por uma unidade hoteleira, sendo que os restantes 10 serão dedicados a habitação de luxo, com tipologia T2 e T3. Terá ainda parqueamento subterrâneo. A empresa considera este projecto como o seu “cartão de visita”.

T2 e T3

Abril 2018 60 EM FOCO
T4 AS ÁREAS DA SALA, DOS QUARTOS E O CONFORTO DOS ESPAÇOS TORNAM ESTE EDIFÍCIO ÍMPAR EM MAPUTO
A VISTA SOBRE A MARGINAL É UM DOS TRUNFOS DA LOCALIZAÇÃO DO TOPRAK RESIDENCE

É um luxuoso edifício de 18 andares, aquele que irá nascer na Avenida Marginal, em meados do próximo ano. Com uma arquitectura espaçosa e acabamentos de luxo, a quase totalidade dos espaços será para habitação, contemplando ainda uma pequena parcela reservada para escritórios.

... em 2018

ses média e alta. E por isso, a qualidade das nossas obras é o que acreditamos ser o nosso elemento diferenciador.

O mercado moçambicano é diferenciado em relação aos outros mercados onde estão presentes? De que forma? Este é um mercado com a loca lização certa e muito atractivo, porque tem uma classe média e média alta em ascensão, ao nível do poder de compra. De pois, e olhando para o quadro geral, na minha opinião, Mo çambique está de mãos aber tas para a construção de apar tamentos de luxo, e ainda há uma enorme margem para crescer, o que representa um potencial de oportunidades a que estaremos atentos.

O mercado imobiliário tem abrandado ao longo dos úl timos dois anos, nomeada mente ao nível da procura, devido ao panorama econó mico do país, apesar da ofe ta até ter aumentado, pelo que se nota na cidade. Esta tendência é algo que preo cupe a empresa ou mesmo assim vão continuar com os investimentos?

Na nossa ideia, é tudo uma questão de confiança. Temos capital próprio e objectivos bem definidos. Vamos conti nuar a investir em Moçambi que, isso é certo. Acreditamos neste país.

E a venda de apartamen tos está a correr dentro das previsões?

Está a correr bem, sim. Esta mos muitos satisfeitos com o mercado moçambicano. A To prak é um grupo forte e reco nhecido, não estamos em Mo çambique só para ganhar di nheiro e ir embora. Estamos para ficar! O nosso primei ro objectivo é ajudar a fazer crescer este intercâmbio en tre Moçambique e a Turquia. E com os investimentos que te mos feito, aliados à nossa for ma de estar no mercado, e à preocupação social que temos, creio que temos tudo para que a operação seja um sucesso.

Além do edifício na Julius Nyerere, em que outras lo calizações vê potencial de construção na cidade de Maputo?

Trabalhamos com uma pla nificação de projectos a lon

H A S AN TOPRAK

IDADE 40 anos FUNÇÃO

Membro do Conselho de Administração e responsável pela área de vendas e construção.

SA K I N BAYHAN

go prazo e, de facto, temos a noção de que os locais com maior potencial são aqui mes mo, na Avenida Julius Nyere re, mas também na zona da Avenida Marginal, princi palmente a Costa do Sol que, daqui a uns anos estará ir reconhecível por ser um lu gar com um enorme poten cial para os investimentos na área imobiliária. Será ali, se dúvida, o lugar mais atrac tivo da cidade de Maputo na próxima década.

IDADE 51 anos FUNÇÃO

Conselho de Administração – Managing partner

N A Z I M PENEZ

IDADE 40 anos FUNÇÃO

Conselho de Administração – Área financeira

Olhando para lá da capital, a Toprak tem previsão de investir nas províncias? Para já não temos nenhu ma projecção definitiva a esse respeito, mas estamos a pensar em investir no nor te do país, em Cabo Delgado, uma região incontornável para quem pretende inves tir na área da construção em Moçambique.

Que mensagem pretende a Toprak deixar para os seus actuais clientes, e também aos potenciais interessados? A mensagem que gostaría mos de deixar tem a ver com o estado de espírito das pes soas. Acreditamos que é pre ciso esquecermos todos um pouco este ambiente de al guma desconfiança genera lizada, que vai dos cidadãos aos empresários nacionais e internacionais, para que, to dos juntos, possamos pensar e agir em torno de um ne cessário aumento do investi mento na economia nacional. Temos de confiar na econo mia de Moçambique, pois sa bemos o potencial que existe aqui. O país tem tudo para ser cada vez mais desenvolvido. É para isso que trabalhamos.

Abril 2018 61
“Estamos comprometidos com a implementação da nossa visão e experiência de acordo com a lógica de crescimento que existe em Moçambique”.
Park Moza
E JAY GARRIDO
TEXTO ECONOMIA & MERCADO FOTOGRAFIA VASCO CÉLIO

ESPERAMOS UM FUTURO RISONHO PARA MOÇAMBIQUE

em 2018, pouco mais de meta de da população dispõe de um telemóvel, e desses, somen te um terço tem um smar tphone. No entanto, os últimos anos mostram um mercado a crescer perto dos 20% ao ano (em África e também em Mo çambique), algo dificilmente repetível em qualquer outro segmento. Lançado o desafio para projectar como será o mapa das telecomunicações e a sua ligação com o desen volvimento tecnológico e di gital do país, Jerry Mobbs, o CEO da Vodacom (hoje com seis milhões de clientes), an tevê que em 2028 a cobertu ra de rede será total, e lança um olhar sobre as implica ções que essa mudança estru tural terá na vida de milhões de moçambicanos.

Se estivéssemos em 2028, o que seria diferente no mer cado das telecomunicações e, por consequência, no país? O que seria um dia típico nes sa altura… (sorri) Bem, a co bertura de rede nessa altura será total, seja pelas ligações em fibra pelos balões da Goo gle (o projeto Loon é uma rede de balões que viajam pelo es paço com o objectivo de esten der a conectividade à Inter net a zonas rurais e remotas de todo o mundo), e a Internet será eventualmente 7G. Com todas as mudanças sociais e económicas que isto implica,

porque estamos a dizer que, nessa altura, todos os moçam bicanos terão acesso aos mer cados, à informação e a todo um mundo novo.

Toda essa tendência de crescimento assenta nas operadoras?

Não há soluções mágicas. Os custos de tudo isto são eleva dos, e internamente procu ramos sempre desenvolver soluções low cost. Mas natu ralmente existirão parcerias, porventura até entre as pró prias operadoras. A Uber, por exemplo começou com a App que é um sucesso global e ain da assim decidiu integrar o seu código no Google Maps, o que é bom para ambos. Este

tipo de parcerias aumenta a conectividade e diminui cus tos. É uma tendência de hoje, que se vai notar perfeita mente no futuro, aqui em Mo çambique ou em qualquer parte do mundo.

Nesse sentido, quais serão os grandes desafios dos pró ximos 10 anos?

Eles passarão por expandir a rede de cobertura e criar pla taformas virtuais para facili tar a vida das pessoas. Hoje as redes móveis são a platafor ma que liga as gentes de to das as formas. Do nosso lado (dos operadores), faremos com que os custos sejam cada vez mais acessíveis ao consumi dor. E é por isso que nos próxi

mos anos seremos a quilha do navio, a plataforma e a rede que permite que muita coisa à nossa volta se desenvolva com a nossa base, porque o mundo de hoje evolui nesse sentido.

A próxima década será de bancarização. O mPesa tem crescido em clientes em toda a África e também em Mo çambique. É uma aposta de presente e de futuro?

É um grande exemplo de uti lização da plataforma para chegar a mais pessoas. O mPe sa tem 3 milhões de utilizado res em Moçambique, metade dos nossos clientes. Muitos de les não têm conta bancária e o que estamos a fazer é enqua drar-nos nessa política, de in cluir a população no sector fi nanceiro e no sector formal. Mas somos uma empresa de telecomunicações, não somos um banco. Não seremos con corrência à banca, e temos fa lado com eles. Seremos uma solução low cost complemen tar aos serviços bancários, que muitas vezes não conse guem chegar às localidades remotas, por não ser lucrativo ali abrir um balcão.

Jerry Mobbs nasceu em Singapura. Ao longo dos últimos 20 anos desenvolveu a sua carreira na área das telecomunica ções. Foi anteriormente, CEO da Augere no Bangladesh e tra balhou também em vários mercados no Médio-Oriente, Ásia, e Europa Oriental, que lhe trouxeram uma sólida compreen são dos mercados em desenvolvimento. Em 2012, chegou a Moçambique para ocupar o cargo de CEO da Vodacom, ten do levado a multinacional a disputar a liderança do mercado.

A empresa tem-se mostra do atenta ao universo das startups. Porquê? Sim, o caso do portal “Biscate” é um bom exemplo disso. Hoje é fácil os mais jovens apren derem linguagem de progra mação. É universal, e é fas cinante como tantos jovens estão a aparecer com ideias inovadoras com implicações na solução de problemas do dia-a-dia. Não iremos, para já, fazer uma incubadora, mas fizemos outra coisa. Abrimos a plataforma do mPesa a to dos os programadores, para que possam integrar as suas aplicações (pagamentos de chapa, transportes, encomen dar uma refeição) e deixare mos o mercado decidir.

FIGURA
DO MÊS
TEXTO PEDRO CATIVELOS E HERMENEGILDO LANGA FOTOGRAFIA JAY GARRIDO
curriculum
comunicar.de.perto Abril 2018 62
cv
vitae

PROXIMIDADE

Jerry Mobbs tornou-se conhecido em Moçambique pelo facto de, quando chegou, ter abolido as divisórias nos escritórios e de ter a sua secretária num open space, juntamente com toda a equipa.

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SOCIEDADE Abril 2018 64

MENOSQUANTIDADE, MELHORQUALIDADE, MAISEMPREGO

Areceitaparecesimples,mas nãoé,numaáreatãocomplexa comoadoensino,umadasbases docrescimentosustentávelde Moçambiquenapróximadécada.

“less is more” será o adágio inglês – língua franca do mun do globalizado – que deverá dominar o panorama do Ensi no Superior (ES) moçambica no dentro de uma década. Em vez da quantidade que orien tou, nas últimas três décadas, a academia nacional visando uma massificação pouco cri teriosa, a expectativa é que as universidades sobrantes de um escrutínio rigoroso te nham menos cursos. Mas, se o futuro está na re dução de Instituições de Ensi no Superior (IES) e de cursos, em contrapartida a qualida de da docência e o pragmatis mo curricular deverão cres cer. Dessa equação resultará um contingente de finalistas com saber científico e utilitá rio apetecível para o merca do laboral em expansão. Consubstanciar este cenário optimista na próxima década

depende, porém, da mudan ça radical de práticas institu cionais e das mentalidades ge rais. Para que Moçambique não se converta, em 2028, num país de colarinhos brancos medíocres e supletivos.

A quantidade e a qualidade Os números que reflectem o panorama geral do ES mo çambicano são conhecidos: se gundo dados do Ministério da Ciência, Tecnologia, Ensino Su perior e Técnico Profissional (MCTESTP), há hoje 52 institui ções (públicas e privadas) que se distribuem por 130 delega ções em todo o país – embora quase metade esteja em Ma puto. Dados que espelham a grande expansão da década de 2000 a 2009, tendo nascido, de lá para cá, mais 16 IES.

A quantidade, porém, nem sempre implica qualidade, como percebeu a tutela que,

N A R CISOMATOS, REITORD’A P O ACINCÉTIL

“DAQUI A 10 ANOS, o nível de exigência das comissões avaliadoras será maior, com critérios rigorosos que ditarão a criação e fecho de cursos e demais instituições”.

após um processo de avalia ção iniciado em 2015, prepara medidas para separar o trigo do joio. O MCTESTP fez saber, o mês passado, que 28 IES e res pectivas filiais correm o risco de fechar. Por falta de condi ções. E as que abrirem terão de observar critérios aperta dos de qualidade – nas instala ções, no equipamento, no cor po docente e nos currículos. Em 2028, as IES serão menos e muito melhores. Mas talvez não tão já...

A próxima década será ainda, na óptica de Narciso de Matos, reitor da primeira universi dade privada do país. A Polí técnica (1995), “de expansão, porque o número de candida tos é muito superior à capaci dade de absorção das IES ac tuais”, afirma. E a estatística confirma: se é verdade que a população estudantil acompa nhou o movimento expansivo

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Em 2028, o mercado laboral irá privilegiar essencialmente as Ciências Exactas e, por extensão, as Engenharias e a Informática. E o ensino tem de estar devidamente preparado para isso.

– passando de cerca de 12 mil alunos, em 2000, para mais de 101 mil, em 2010 e, volvidos oito anos, quase 200 mil –, as taxas de participação do ES em Mo çambique quedam-se abaixo dos 3%, quando a taxa média da África subsaariana é de 6%. Nos países mais desenvol vidos, ultrapassa os 15%.

Assim, o problema mais ime diato do ES não estará nos candidatos, mas antes nas instituições, nem todas reco mendáveis. Matos concede que, em 2028, haja já sinais de mudança, decorrentes da fa lência de algumas IES e da consolidação e crescimento de outras, “com as mais peque nas a serem absorvidas pelas mais avançadas – as que se destacam pela qualidade da quilo que ensinam”.

Essa qualidade desejável em 2028 terá de ser balizada, qui çá imposta, via administra tiva, alvitra João Mosca, eco nomista desiludido com a academia actual (abandonou

a docência): “Com um órgão re gulador forte e independente, fora do Ministério”. Para afas tar “a ideia instituída do ES como negócio puro e duro, su jeito a lóbis, a interesses políti cos e económicos”. E poder ter, em 2028, “avaliações externas e independentes às institui ções como regra e com crité rios internacionais, que resul tem num ranking público das IES moçambicanas”. Com cla reza e transparência. E san sões para os prevaricadores.

Eliminar o joio, qualificar o trigo Ideia partilhada, com optimis mo, pelo reitor da Universi dade Pedagógica (UP), cargo já ocupado na Unilúrio antes de ser Ministro da Educação e Desenvolvimento Huma no: “Daqui a 10 anos, o nível de exigência das comissões ava liadoras será maior, com cri térios rigorosos que ditarão a criação e fecho de cursos e instituições”. Congruente, Jor ge Ferrão instituiu o prin

200 000

ESTIMATIVA DOS ALUNOS MATRICULADOS ESTE ANO 130 DELEGAÇÕES EM TODO O TERRITÓRIO NACIONAL 52

INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR EXISTENTES EM MOÇAMBIQUE (PÚBLICAS E PRIVADAS)

cípio na própria UP, e sus pendeu, em 2016, o Curso de Ciências Médicas. Para rees truturação. E vai mais lon ge. Nomeado pelo Governo, como todos os reitores das universidades públicas, pre vê que, “em 2028, sejam esco lhidos entre os seus pares”. Rumo à autonomia universi tária que é paradigma nou tras latitudes. E será nelas que radica a solução para atingir, numa década, a meta que Ferrão almeja: “Que as universidades tenham pelo menos 40% do corpo docente doutorado (hoje, estão aquém dos 10%). Temos de dar o sal to, entrar na pós-graduação, o que significa uma forte li gação à investigação e a obri gatoriedade de os docentes publicarem”.

Todavia, segundo Matos, o país, por si só, não vai lá: falta -lhe massa crítica. À míngua de soluções endógenas, Mosca preconiza a busca por conhe cimentos e cérebros no ex terior. “É preciso a formação massiva de estudantes e do centes fora e importar douto rados. Sem eles, o ES não pode existir”, diz, reforçando a tese: “Todos os países que deram saltos qualitativos têm cen tenas de milhares de alunos e professores no exterior em formação”, observa. Enviados agora, quando regressarem a Moçambique e reproduzi rem práticas e conhecimento adquiridos além-mar, serão o embrião do ES de 2028 – mais qualificado e competitivo e ca pazes de gerar uma cultura académica nacional que, para Matos, se perdeu entretanto. Não obstante, o pragmatismo avisado do homem que assu miu a Reitoria, entre 1990 e 1995, da primeira e mais pres tigiada IES do país, a Eduardo Mondlane (UEM), sugere di ficuldades neste ensejo. “Não há dinheiro”, lamenta Matos. “O ES ficava beneficiado com muito mais cooperação ex terna. O problema é que tem custos, e o estudante médio não é capaz de os pagar. Nem

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o Estado... Mas não há outro caminho”.

Refluxo da caneta e papel Inevitável parece ser, tam bém, o refluxo dos “cursos de caneta e papel”, que não exi gem grandes investimentos. Enquadram-se nesta catego ria as áreas científicas de Edu cação, Letras e Humanidades, Ciências Sociais, Gestão, Direi to e Serviços. No ES público de 2016 (dados mais recentes) ab sorveram 72,2% das 119 522 matrículas; no privado, 83,8% de 77 279. Na cifra global das matrículas, os “cursos de ca neta e papel” representaram 76,75%. Uma desproporção gritante. E a tendência será o declínio destas a favor de ou tras áreas em função das exi gências da realidade socio -económica que se avizinha. Ou, conforme afirmou Jor ge Ferrão, o Ensino Terciário (como prefere chamar ao ES), em 2028 terá de ser mais utili tarista, isto é, “orientado para resolver problemas concre tos”. “Não podemos continuar a ser abstractos, longe de uma realidade que não é a das pes soas nem a do país e das suas necessidades”.

É que, por um lado, o Estado, que prevê gastar, este ano, 48,7% do seu orçamento para despesas de funcionamento em salários da Função Públi ca, já não consegue absorver graduados como outrora; por outro, o mercado laboral de 2028 irá privilegiar as Ciên cias Exactas e, por extensão, as Engenharias e a Informáti ca. E ainda a área dos recur sos naturais – petróleo, gás e minas –, como é dedutível não só pelo carvão de Tete, mas principalmente pela explo ração dos hidrocarbonetos de Cabo Delgado.

Acrescem àquelas, segundo os analistas, as Biomédicas, dado o défice de clínicos – o rácio é de 1 médico para 19 mil habi tantes, garante a Ordem dos Médicos, muito abaixo do re comendado pela Organiza ção Mundial de Saúde: 1 para

cada 1000 habitantes (curiosa mente, calcula-se que o país tenha um curandeiro para cada 80 habitantes...).

Matos e Mosca advogam ain da a revitalização da Agrope cuária e o regresso, diploma do, à terra arável que abunda em Moçambique: 36 milhões de hectares. Porque hoje me nos de 10% são cultivados, em bora cerca de 80% da popu lação viva nas zonas rurais e, desta, quase 70% da agri cultura. Mas de subsistência, mourejando nas machambas paupérrimas.

Novos tempos e mentalidades Tal como as mentalidades.

Principalmente essas. Por que as opções dos candidatos te rão de ser, elas próprias, mui to mais focadas nas oportuni dades. O que não depende só deles, mas antes de todo um contexto social. Conforme ex plicava Narciso de Matos, ter um “colarinho branco” na fa mília, mesmo que desempre gado, ainda é um prestígio, mo tivo de orgulho e celebração. “Isso vai alterar-se, porque hoje já temos muitos gradua dos sem emprego. E, portanto, à esperança das famílias de que, com um diploma, habilita ram os seus filhos para o futu ro, a vida vai começar a mos trar que, afinal, não basta. E, na próxima década, esta cons ciência vai sedimentar ain da mais, diminuindo o fascínio pelo Curso Superior”, acredita Matos.

No fundo, trata-se de trocar um glamour duvidoso pela concretude salarial. Porque na década que aí vem, cogi ta o reitor de A Politécnica, “a economia, ao enfatizar a im portância de cursos técnicos e profissionais, vai fazer as pes soas perceber que é preferí vel investir naquilo que vai permitir a vida digna do que num diploma que não levará a lado nenhum”.

Abril 2018
TEXTO ELMANO MADAÍL FOTOGRAFIA JAY GARRIDO E ISTOCKPHOTO

Olhar o presente, a partir do futuro

dizem-nos as notícias dos últimos anos, e têm sido muitas, que o presente económico de Moçambique tem sido reticente. Do abrandamento do crescimento (dos 7,4% de 2014 para os 3,2% actuais), ao aumento da dívida pública para 120% do PIB, ou à renegociação do pagamento da dívida mais famosa da história recente do país. O ministro das Finanças tem, neste sentido, dois cenários em cima da mesa: que essa dívida ad quira maturidade a 16 anos, com taxas de juro que vão dos 2% durante os primeiros cinco anos, subindo para os 3% até ao 10º ano, e aos 6% até ao final; ou uma segunda opção que alar ga o pagamento por mais 12 anos, com uma taxa de juro que varia de 1,5% nos primeiros cinco anos, até 5% nos anos subse quentes. Moçambique precisa de tempo. Todos precisamos de tempo. E se tempo é dinheiro, está explicado porquê. Pensar nisto faz-me recordar que hoje se fala menos de futuro do que antes. Ou então fala-se de um futuro diferente, porven tura. O sorriso e o gesto que acompanham a palavra não são iguais. E tudo apesar de, implicitamente, ele continuar a estar lá. Para todos.

Foi por isso que lhe dedicámos a primeira edição da E&M. Um Futuro em perspectiva, com vários graus e degraus de análise. Diferente, porventura, do imaginado quando, em 2013 e 2014, a economia parecia cavalgar desenfreada para fins onde não havia meios.

O presente é de acalmia a esse nível e marcado pela entrada de um tom mais austero no discurso de governantes e empresários. Talvez seja por isso que a economia hoje apenas caminha e já não corre, mas parece fazê-lo de forma mais diversificada do que antes. Há sinais disso. Ténues, mas eles existem.

Olhamos o futuro à luz da agricultura (historicamente o sector que mais contribui para o PIB), a actividade que congrega a grande maioria da população. Mas não da agricultura actual mas sim, do que ela poderá significar para a economia depois de se tornar mais produtiva, organizada e padronizada. Será este o sector de ligação a tudo o que virá (ou não) a seguir. Da evolução na área infra-estrutural, logística e tecnológica, à grande (e necessária) mudança social.

Porque o rendimento médio anual dos moçambicanos (480 dó lares) ainda é dos mais baixos em todo o mundo e é urgente que isso mude.

Há poucos dias, o governo e o reino da Bélgica assinaram o acordo para a segunda fase de um projecto de energias reno váveis. Inserido no plano do governo de universalizar o for necimento de energia até 2030, os pouco mais de 10 milhões de dólares deste pequeno investimento podem afinal ser um grande sinal. Especialmente num segmento (as renováveis) que, na economia nacional não era certamente, até há poucos anos e ao contrário do resto do mundo, sinónimo de futuro eco nómico, perdendo a batalha para as energias fósseis. Algo que acontece um pouco por toda a África, em contra-ten dência com o resto do mundo. São sinais, apenas. Mais longe ou mais perto, mais cedo ou o mais tardar, as grandes tendências do mundo acabam por chegar. Como o grande retalho chegou para mudar os hábitos de consumo e toda uma cadeia de valor também a Internet, cada vez mais veloz, vai ocupar maior largura de banda nos nossos hábitos pessoais, da agricultura e da indústria. E chegarão os híbridos, os carros sem condutor tam bém, e todo aquele tal Admirável Mundo Novo que aprendemos a ler e a admirar, tanto quanto a questionar. Serão os recursos a alavancarem a economia? Serão, claro. Mas, não serão só os minerais a fazê-lo. E faltam ainda cinco anos para todos sentirmos realmente os efeitos da melhoria da economia na carteira.

Quem irá carregar o futuro, serão os recursos humanos. Ou, em linguagem não económica, as Pessoas. Porque são elas o maior e mais vasto recurso natural de qualquer país ou em presa (e serão 40, os milhões de Moçambicanos em 2028). Se o que o mundo é hoje se traduz em mudança, é assim que olhamos, em perspectiva, para o país. E com um novo olhar, o de uma Economia & Mercado que, mais do que tudo, quer pro porcionar isso mesmo a quem a lê. Novas perspectivas, novos ângulos e novas realidades, mes mo que algumas até já as conheçamos. Porque o futuro é de todos. E estará aqui, todos os meses, em forma de presente.

Quem irá carregar o futuro, serão os recursos humanos. Ou em linguagem não económica, as Pessoas. Porque são elas o maior e mais vasto recurso natural de qualquer país ou empresa, (e serão 40, os milhões de Moçambicanos em 2028).

OPINIÃO Abril 2018 68
Pedro Cativelos • Editor Executivo da Economia & Mercado

GRANDES ACORDOS, IMPACTOS DUVIDOSOS

Moçambique foi, já este ano, a última peça a ser encaixada no puzzle do acordo de liberalização comercial entre os países da SADC e a União Europeia. No meio de um amplo debate sobre as vantagens e os riscos deste tipo de tratado, as previsões apontam para impactos económicos e sociais muito modestos ou mesmo nulos.

“todo o homem troca para viver”, escre veu Adam Smith, pai da economia políti ca. Também os países trocam para sub sistirem – e, quanto mais trocarem, mais vão além da subsistência.

Os acordos para a liberalização do co mércio internacional, à primeira vista, parecem obedecer a esta lógica e o acor do firmado entre a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (co nhecida pelo acrónimo SADC) e a União Europeia (UE) não é excepção a essa re gra. O que está por provar, e continua a ser alvo de intenso debate, é se o Acordo de Parceria Económica (APE) funcionará efectivamente como um promotor do de senvolvimento dos países da SADC, como Moçambique – e se, 16 anos depois do arranque das negociações, as mudanças trazidas pela administração Trump ao comércio internacional e a saída do Reino Unido da União Europeia não ditarão no futuro um regresso à mesa negocial.

O que traz o futuro? Depois do longo período entre negociações e ratificações, o APE com a SADC ficou im plementado na globalidade quando Mo çambique executou o acordo – o país foi a última peça a ser colocada no puzzle, para usar as palavras da Comissão Europeia no passado mês de Fevereiro, quando anun ciou que o “puzzle” estava completo. Não foi por acaso que as negociações de moraram tanto tempo. A ideia de base é esta: cada país da SADC abdica de parte significativa da sua polí tica comercial – ou seja, deixa cair tari fas e abre os seus mercados internos aos exportadores europeus – em troca de li vre acesso aos mercados dos 28 países da União Europeia.

Muitos dos países africanos que assina ram estes acordos, incluindo Moçambi que, na verdade já tinham acesso aos mer cados europeus, nomeadamente através do estatuto de “least developed country” (ou país em vias de desenvolvimento).

Uma das justificações da Comissão Euro peia para avançar com as negociações foi de que “o acesso ao mercado europeu

O TOP 10 DOS QUE MAIS VÃO LUCRAR

Os 10 produtos que mais terão a ganhar com o APE SADC/EU, e com o desaparecimento de 74% das tarifas aduaneiras para a UE, nos próximos 10 anos AÇÚCAR

Valores em %

BEBIDAS E TABACO

PESCAS

VEGETAIS E FRUTAS

OUTROS ALIMENTOS CARNES BRANCAS

LACTICÍNIOS ÓLEO VEGETAL

TÊXTEIS

15,3 13,7 9,8 2,0 1,5 0,8 0,5 0,4 0,1 0,1

O gigante comercial europeu surgiu as sim numa posição de força perante a SADC – e perante outros blocos regionais com que estabeleceu EPAs – o que motivou negociações prolongadas com um outro lado receoso dos efeitos. “Para continuar a ter acesso aos mercados europeus, pedem agora a África para acabar com 80% das tarifas e cumprir outras condições intru sivas que impedem os governos africanos de usarem os tipos de políticas que todos os países industrializados outrora usaram para construírem as suas economias”, escrevia no “Financial Times”, em 2012, Chukwuma Charles Soludo, economista e ex-governador do banco central da Nigé ria, que notava ainda a necessidade euro peia de marcar presença num continente onde a China tem penetrado. O grau de liberalização trazido por estes acordos é muito grande: desaparecem 85% das tarifas e taxas aplicadas no blo co formado por África do Sul, Botswana, Namíbia, Lesoto e Suazilândia e cerca de 12% são alvo de liberalização parcial. No caso de Moçambique vão desaparecer 74% das tarifas, com uma boa parte a ser desmantelada gradualmente, ao longo de períodos de cinco ou de dez anos. Nos 26% que não vão sofrer reduções tarifárias estão produtos como o trigo, o cimento, a cerâmica, o mobiliário de madeira, os têx teis ou o calçado.

podia ser efectivamente melhorado”, re fere Gijs Berends, coordenador das nego ciações pelo lado europeu, num relatório publicado no ano passado em que notava que os exportadores africanos “não ti nham ganho grande quota” na Europa. Uma razão mais forte, também apontada por Berends, era de que o livre acesso de que os países africanos beneficiavam não era recíproco – o que, invocava a União Europeia, não era compatível com as re gras da Organização Mundial do Comér cio e tinha de acabar.

No papel estão previstas salvaguardas para o caso de se gerarem perdas nos países da SADC decorrentes da liberali zação – tipicamente os danos a um sector económico local por importações mais ba ratas – e mecanismos de disputa para os problemas (que sempre aparecem) entre parceiros comerciais.

O que podem Moçambique e os países africanos da SADC – bloco em que a econo mia da África do Sul domina e distorce as médias – ganhar em tese com o acordo?

Um estudo da Comissão Europeia publica do em 2016 com previsões preliminares sobre o impacto do acordo antevia gan hos muito moderados e, em alguns casos, nulos (ver tabelas). As exportações destes países para a UE podem aumentar 0,88%

LÁ FORA
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FONTE “The Economic Impact of the SADC Epa Group”, Comissão Europeia, 2016 CARNE VERMELHA

até 2035, prevê o documento, um valor in fluenciado pela previsão para a economia sul-africana. Para Moçambique a previ são é de um aumento de apenas 0,14%. Os metais, que dominam 55% das exporta ções moçambicanas, são um dos sectores que não deverá ganhar com o acordo, segundo o mesmo estudo; já nos sectores da cana de açúcar e do tabaco os cresci mentos médios podem ser de 13,7% e 8,7%. A indústria da cana é, de resto, um dos segmentos que maior índice de cres cimento tem evidenciado, desde 2013. Alavancado pelos investimentos feitos nos últimos cinco anos na reactivação da indústria açucareira moçambicana (avaliados em cerca de 800 milhões de dólares), fizeram disparar a produção do sector, de 90 mil para 450 mil toneladas por ano, e elevando com isso a receita das exportações (actualmente, a uma média anual de cerca de 240 mil toneladas). Para João Jeque, director-executivo da Associa ção dos Produtores de Açúcar de Moçam bique (APAM), este é, efectivamente, um

reflexo da evolução resultante de um investimento feito nas quatro grandes açucareiras existentes em Moçambique, nomeadamente Marromeu e Mafambis se, na província central de Sofala, e Ma ragra e Xinavane, na província de Ma puto. “E que não deverá ficar por aqui”, complementa.

O impacto

No entanto, para lá das carnes (Moçam bique tem adoptado uma política protec cionista para dotar o país de auto-susten tabilidade na produção e no consumo de carne aviária, a mais consumida no país, com uma produção interna anual a ron dar as 80 mil toneladas), do açúcar ou do tabaco, os impactos económicos globais da redução de tarifas parecem substan cialmente mais modestos: 0,03% no Pro duto Interno Bruto dos países da SADC até 2035, sendo de apenas 0,01% no caso de Moçambique (e um zero absoluto de impacto no Estado Social), algo que dá que pensar.

Uma das razões para a magreza destes números é precisamente o facto de o país já ter acesso ao mercado europeu. A Co missão Europeia relativiza estas previ sões preliminares. “Os ganhos para os países da SADC que assinaram os acordos podem ser considerados subestimações na medida em que o modelo de previsão apenas assume os aspectos do acordo que são quantificáveis”, como a melhoria nas infra-estruturas ou as regras preferen ciais de origem, cita o relatório “The Eco nomic Impact of the SADC EPA Group”. A comissária europeia para o comércio, Ce cilia Malmström, também relativizou os números quando, em Outubro do ano pas sado, afirmou, numa reunião de países a SADC, em Joanesburgo, estar “convencida de que a política comercial e os APE não são sobre números abstractos de cresci mento, são sobre pessoas e como podem beneficiar das regras”.

Outros estudo, do European Centre for Development Policy, olha para o impacto dos acordos nas cadeias de valor em sec

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“Os acordos não deveriam ser promovidos acriticamente como promotores de acesso melhorado a oportunidades, nem vilificados como facilitadores da destruição das cadeias de valor africanas”.

tores agrícolas (com exemplos específicos no Quénia e na Namíbia) e conclui igual mente que o impacto não é significativo, uma vez que essas cadeias de valor es tão viradas sobretudo para os merca dos interno e dos parceiros africanos. O estudo, financiado pelo Governo alemão, adopta uma postura equilibrada sobre os acordos assinados. “Não deveriam ser promovidos acriticamente como promo tores de um acesso muito melhorado a oportunidades, nem vilificados como fa cilitadores da destruição das cadeias de valor africanas através da abertura das economias africanas a mais concorrência vinda da União Europeia”, apontam os autores.

A monitorização da implementação e dos resultados será crucial para assegurar os ganhos modestos ou impedir mesmo que alguns sectores sejam prejudicados –e o apoio financeiro que os europeus pro metem no quadro dos acordos deve ser usado para reforçar a capacidade insti tucional (pública e privada) destes países, para que aproveitem o melhor possível as oportunidades na Europa.

A avaliação dos resultados económicos do acordo, o impacto que o Brexit terá para os países que têm o Reino Unido como grande destino de exportação e o desejo

MILHÕES DE DÓLARES. OS INVESTIMENTOS FEITOS NOS ÚLTIMOS CINCO ANOS NA REACTIVAÇÃO DA INDÚSTRIA AÇUCAREIRA MOÇAMBICANA, FIZERAM DISPARAR A PRODUÇÃO DO SECTOR, DE 90 MIL PARA 450 MIL TONELADAS POR ANO. A EXPORTAÇÃO TAMBÉM CRESCEU PARA PERTO DAS 240 MIL TONELADAS, TENDÊNCIA QUE IRÁ PREVISIVELMENTE MANTER-SE ATÉ PELOS INVESTIMENTOS JÁ ANUNCIADOS PARA NOVAS UNIDADES DE PROCESSAMENTO DE AÇÚCAR EM MOÇAMBIQUE

da União Europeia em assegurar com promissos de liberalização nas áreas do investimento ou dos serviços – algo a que os países da SADC resistiram nas últimas negociações, mas que vai voltar à agenda – são factores que poderão levar os euro peus e os signatários da SADC de volta às sempre difíceis negociações. Entretanto, o contexto mundial parece estar a mudar. É ainda incerto o impacto da política comercial de Donald Trump –muito proteccionista na retórica e que já se traduziu num primeiro aumento de ta rifas – terá na economia mundial e africa na e na predisposição para aceitar mais liberalização. Uma queixa comum contra a Europa é o efeito de distorção que a sub sidiação do seu sector agrícola induz no mercado internacional, prejudicando os países africanos em sectores nos quais, por norma, nem têm vantagens. Com a percepção das desvantagens deste tipo de acordos com a Europa – também não é por acaso que o arranque do EPA da União Europeia com a Comunidade da África Oriental está a marcar passo – pode ga nhar força a resistência africana a uma maior liberalização perante a Europa.

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LÁ FORA
Maré favorável: tráfego marítimo entre EU e SADC irá aumentar exponencialmente nos próximos anos.
800

ócio

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

76

Da beleza arquitectónica de um edifício ímpar, em Maputo, à qualidade do serviço que oferece a quem o visita

78

O Mercado Central de Maputo é um lugar de aromas e cores 79

A escolha do mês recai no “Pedra Cancela Malvasia Fina-Encruzado Dão Reserva 2014”

g
e

Avenida

da Marginal,

ESPLENDOR AZUL

a sua dimensão emblemá tica e a magnitude do arrojo arquitectónico podem, de fac to, mudar a percepção que te mos de uma cidade, pois a sua presença é suficiente para, de um momento para o outro, eles ficarem associados, de modo inescapável, à imagem que passamos a ter da pró pria cidade.

O Hotel Radisson Blu (detido pelo grupo Rani Investment) é, sem sombra de dúvida, um desses casos.

A essa dimensão icónica, já de si tão relevante, o Radisson acrescentou, de resto, um pa tamar de excelência e sofisti cação. Características únicas na oferta existente, que pro porcionam a quem dele usu frui, uma experiência perfei

mensões mais prazerosas, a saber, da sua oferta gastro nómica, variada mas sempre primorosamente requintada (ver página ao lado) e, em es pecial, da contemplação do azul oceânico que decerto lhe terá dado alguma inspiração ao nome (Radisson Blu) e no qual, partindo dos seus terra ços, se estende num mergulho visual profundo, até à linha do horizonte.

Sejam quais forem as circuns tâncias da estadia, profissio nais ou de mero lazer, o gan ho de serenidade está mais do que garantido, e (garantimos) será servido com um suple mento de alma irrecusável.

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TEXTO RUI TRINDADE FOTOGRAFIA CEDIDAS PELO HOTEL
141,
tamente em linha com o que de melhor se pode encontar na maioria das grandes capi tais internacionais pelo mun do. A elegância e o bom gosto que premeiam todos os seus espaços interiores (do loun ge aos quartos e apartamen tos, das zonas de restauração às amplas e modernas salas de conferência), conferindo -lhe uma distinção e identida de muito próprias, reforçam aquele sentimento de con forto e intimidade que costu ma ser apanágio dos que se consideram melhores entre os melhores. E já que falamos de conforto e intimidade subli nhemos que a “experiência” de uma estadia no Hotel Ra disson não dispensa também o pleno usufruto das suas di 21 242 400
Maputo
RADISSON BLU HOTEL RESIDENCE
RADISSON
BLU HOTEL RESIDENCE e

EXISTEM EDIFÍCIOS QUE TÊM, POR SI SÓ, A RARA QUALIDADE DE SE INSTALAR NA PAISAGEM DE UM MODO DEFINITIVO. O RADISSON BLU É UM DELES.

“AZUL – RESTAURANT AND BAR”, UM OCEANO DE TENTAÇÕES

Para os apreciadores de uma degustação gastronómica requintada, a nova proposta do Hotel Radisson dá pelo nome de “Azul – Restaurant & Bar” e é imperdível.

É uma excelente opção embora o “Filini Food”, com a sua oferta centrada sobretudo na cozinha italiana, continue a merecer uma visita com a garantia de qualidade de sempre.

No “Azul – Restaurant & Bar”, um espaço marcado pelas cores quentes e sóbrias da sua sala principal, há uma ementa vasta e variada. A dificuldade reside, portanto, na escolha, o que é, apesar de tudo, uma dificuldade bem vinda tendo em atenção o indiscutível mérito das diversas propostas.

Atrevemo-nos a dar aqui algumas sugestões, o que não significa, como é claro, menor apreço por outras opções possíveis.

Nas entradas, o carpaccio de peixe (salmão, atum, garoupa), com rúcula e gengibre e aioli de wasabi, merece uma atenção especial. Optámos, para prato principal, pelo “Pato – peito de pato de pele crocante, puré de batatas com ervas e springroll com vegetais agridoces”. Mas hesitámos pois a “Posta de bacalhau marinada, cozida a vapor em folha de bananeira, abobrinha, couve-flor e bagna cauda” apresentava-se tentadora para os sentidos.

Terminámos com um “Semi-frio de queijo fresco, coalhada de lima, compota de bagas e lima cristalizada”.

A conclusão, inevitável, é de que é, sem dúvida, uma experiência a repetir.

Há saladas, risotos, caris, mariscos, peixes, carnes e sobremesas que nos ficaram na retina e clamam por uma nova visita.

Para não falar de uma generosa lista de vinhos, sabiamente organizada, para acompanhar cada uma das opções gastronómicas propostas.

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NO MERCADO CENTRAL, A PALAVRA GOURMET NÃO SE REVÊ NO IMEDIATO, MAS SENTE-SE NOS AROMAS E NAS CORES.

MERCADO CENTRAL DE MAPUTO

será um lugar onde a pala vra gourmet não se revê no imediato. Mas pressente-se, nos aromas, nas cores e nos sabores que se encontram no Mercado Central de Ma puto, um ponto de encontro de diferenças que se juntam num edifício que, dizem, terá sido inspirado no famoso Als ter Pavilion de Hamburgo, na Alemanha.

Lá dentro, tudo permanece imaculadamente ordenado, por tipos de produto e pro veniência. É nessa busca dos temperos da terra, das frutas e dos legumes frescos, da cas tanha de caju frita, salgada e com piri-piri e do amendoim torrado, que muitos turistas por ali andam. E não só eles, porque o Mercado faz par te do roteiro diário de muitos dos que vivem em Maputo. Às 7 horas, quando abrem as grandes portas metálicas do Mercado, alguns produtos ain da trazem o cheiro a terra mo lhada, um aroma indecifrável,

UM LUGAR

que inunda os sentidos do gos to e nos traz imagens de novos conceitos orgânicos, que não são mais do que produtos feitos como os nossos avós os faziam. Com chão, terra, água e mui to trabalho. A verdade, está lá toda, nua e crua.

Depois, as calorosas mama nas que, por entre sorrisos, nos ajudam a escolher o me lhor. Por vezes, fazem-no por nós. Ganhamos uma amiga. E assim, começam logo ali as próximas refeições.

Do lado oposto, o pescado e o camarão, a lagosta e o ca ranguejo. Mas para um bom gourmet, talvez o melhor

DE AROMAS E COR

do Mercado seja mesmo a gama de temperos e espe ciarias que por ali se encon tram, numa miscigenação de proveniências, de contornos matemáticos. Uma porção de cardamomo, duas de curcu ma, até ao resultado final da soma surgir delicioso num empratado jantar de caril, por exemplo.

Porque Moçambique é ain da hoje ponto de passagem da rota das especiarias, ta manha é a variedade utiliza da na gastronomia local, feita de tantas outras, com origens nos quatro cantos do mundo. Tal como os produtos que por ali se encontram. E onde todos nos podemos reencontrar.

Abril 2018 78
20h00
Avenida 25 de Setembro Horário das 7h00 às
TEXTO
g

PEDRA

CANCELA DÃO DOC TINTO RESERVA 2013

PAÍS Portugal

REGIÃO Dão

CASTAS Touriga Nacional, Alfrocheiro, Tinta Roriz

COR Tinto vermelho profundo com reflexos púrpura

AROMA Frutos vermelhos do bosque, toques de tabaco e moca PALADAR Aveludado e cheio FINAL Complexo e equilibrado

TEMPERATURA A QUE DEVE SER SERVIDO: 16º

REGATEIRO

VINHO

BAIRRADA DOC TINTO RESERVA 2013

PAÍS Portugal

REGIÃO Bairrada

CASTAS Baga e Touriga-Nacional COR Vermelho profundo com reflexos púrpura

AROMA Frutos vermelhos bem maduros, complexo, com a madeira bem integrada PALADAR Volumoso, com uma boa acidez, taninos muito elegantes FINAL Complexo e aveludado TEMPERATURA A QUE DEVE SER SERVIDO: 16º

REGATEIRO VINHO

BAIRRADA DOC BRANCO RESERVA 2015

PAÍS Portugal

REGIÃO Bairrada

CASTAS Arinto, Bical e Maria Gomes

COR Amarelo citrino Brilhante AROMA A frutos de polpa branca, ligeiro toque citrino, complexo, com madeira bem integrada PALADAR Excelente acidez, fresco, com boa persistência

FINAL Intenso, longo e persistente TEMPERATURA A QUE DEVE SER SERVIDO: 12º

A ESCOLHA DO MÊS RECAI

NO “PEDRA CANCELA MALVASIA FINA-ENCRUZADO DÃO RESERVA 2014”, UM DOS “TESOUROS” DO MUNDO DOS VINHOS.

PEDRA CANCELA

UM BRANCO QUE É UM TESOURO

A nossa escolha do mês vai para o “Pedra Can cela Malvasia Fina-Encruzado Dão Reserva 2014”. A revista norte-americana “Wine Spec tator”, publicação de referência no mundo dos vinhos, referiu-se-lhe como um dos “tesouros dos vinhos brancos de Portugal”, na sua edição de Junho de 2017.

Da autoria de João Paulo Gouveia, enólogo e pro fessor do ensino superior de viticultura, este Pedra Cancela é caracterizado na nota de pro va da “Wine Spectator” de forma muito elogio sa: “Sabores de madressilva e cereja branca são acentuados por notas florais neste vinho branco apimentado e de corpo médio. Detalhes de amêndoa e de pimenta da Jamaica demo ram-se no fim, acentuados pela sugestão de se cura vegetal”.

O “Pedra Cancela Malvasia Fina-Encruza do Dão Reserva 2014” foi o único vinho da re gião do Dão representado na lista de bran cos portugueses seleccionados pela revista norte-americana.

Comprovando que a conjugação destas duas uvas continua a ser uma “receita” de sucesso, há que sublinhar que a fermentação parcial em barrica lhe trouxe complexidade e elegân cia. O “Pedra Cancela Malvasia Fina-Encruza do Dão Reserva 2014” pode ser consumido de imediato ou guardado por um longo período (10 anos), desde que guardado deitado em local fresco e sombrio.

A temperatura aconselhada para melhor po der apreciá-lo é de 12º e combina bem com car nes brancas, grelhados e saladas.

O “Pedra Cancela Malvasia Fina-Encruzado

Dão Reserva 2014”, tal como os outros vinhos a que fazemos referência nesta página, podem ser adquiridos em Moçambique através da MOZAMVINI (com sede e showroom na Aveni da Comandante Moura Brás, nº217, Alto Maé, Maputo).

PAÍS Portugal REGIÃO Dão

CASTAS Malvasia Fina e Encruzado COR Brilhante amarelo citrino AROMA Notas minerais e fruta de polpa branca PALADAR Bom volume e frescura, excelente acidez, boa persistência FINAL Intenso e longo Avenida Comandante Moura Brás, nº217, Alto Maé, Maputo

Abril 2018 79
TEXTO RUI TRINDADE FOTOGRAFIA DR

•Em destaque

PONTA GEA

A mais recente obra do escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho foi a grande vencedora do Pré mio Literário BCI 2017. Intitulada “Ponta Gea” (ed. Ndjira), a obra é uma revisitação da infância do es critor na Beira através de uma série de textos curtos mas com a superior qualidde estílistica a que já nos habitou e que fazem dele um dos nomes maiores da literatura contemporânea moçambicana.

MÚSICA

CONCERTO “CHICO ANTÓNIO – 60 ANOS”

Centro Cultural Franco-Moçambicano Sexta, 13 de Abril Sala grande | 20h30

FESTIVAL DE JAZZ – 1ª EDIÇÃO

Centro Cultural Franco-Moçambicano Sábado, 21 de Abril Com a participação de Ivan Mazuze (cabeça de cartaz) Jardim e sala grande | Das 18h às 23h

THE MUTE BAND

LIVROS

PENSAR ARQUITECTURA

Publicado conjuntamente pela Editora Caleidoscópio (Portugal) e a Editora Kapikua (Moçambi que), esta obra é de leitura obri gatória não apenas para os inte ressados na área mas para todos aqueles que querem saber mais sobre as múltiplas dimensões relacionadas com a problemáti ca urbana.

música filmes livros

DANÇA

Fundação Fernando Leite Couto Grupo liderado pelo beatmaker Nandele acompanhado por Fu da Siderugia nos samples e nos efei tos sonoros, Helton na bateria e Embrion no baixo Quinta, 26 de Abril | 18h UMA PROPOSTA FEMININA

Fundação Fernando Leite Couto Coreagrafia de Pak Ndjamena e interpretação de Daniela Coelho / Flore Chabernaud. Música: Nils Frham - ‘Says’/ Aphex Twin – Nannou/ A Million Things - ‘A Celebração’ Quinta, 12 de Abril | 19h

TEATRO

CENAS CURTAS

Fundação Fernando Leite Couto 1ª Edição do Festival de Teatro da Fundação Fernando Leite Couto 19, 20 e 21 de Abril

FILMES

JOSÉ FORJAZ BLACK PANTHER

Num elenco onde se destacam nomes como o de Chadwick Bose man e Lupita Nyong’o, “Black Pan ther” é um dos acontecimentos cinematográficos do ano, tendo já batido recordes de bilheteira. Pela primeira vez, a Marvel Stu dios apostou num “super-herói” negro e numa história de ficção científica que se baseia na cultura e estética do continente africano.

RYAN COOGLER

EXPOSIÇÕES

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA DANIEL JACK LIONS (E.U.A)

Centro Cultural Franco-Moçambicano Sala de exposições

Inauguração: 03 de Abril | 18h30 Patente até 26 de Abril Entrada gratuita

EXPOSIÇÃO COLECTIVA DE PINTURA E GRAVURA

Fundação Fernando Leite Couto Galeria

Inauguração: 04 de Abril | 18h Patente até 30 de Abril Entrada gratuita

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SOMBRAS DO TRÓPICO

Francisco Sepúlveda Exposição de pintura e gravura Patente até 21 de Abril 2018 Galeria Machamba Criativa (no Centro Cultural Franco Moçambicano) Segunda a Sexta das 10h às 19h/ Sábado das 10h às 14h

O MUNDO MÁGICO DE FRANCISCO SEPÚLVEDA

com curadoria de Pablo Ri beiro, em “Sombras do Trópi co”, Francisco Sepúlveda con tinua a exploração onírica das suas raízes sul-americanas, algo que distingue toda a sua obra.

Como sempre, a sua pintura tem um poder de evocação de tal modo sugestivo que lhe permite penetrar nas regiões mais enigmáticas e perturba doras da universal condição humana, escapando, por isso, a leituras meramente locais (a que a iconografia de que se socorre poderia induzir).

Nascido em 1977, em Santiago do Chile, Francisco Sepúlveda passou a sua infância na re gião de Bio-Bio, em profundo contacto com uma Natureza exuberante, que sem dúvida marcou o seu imaginário.

Foi aí que tomou conhecimen to de lendas e contos cuja in fluência podemos sentir cla ramente quando vemos e exploramos sensorialmente a sua pintura. Mas seria ape nas na adolescência que ver dadeiramente sentiria a sua vocação artística despontar,

muito por influência de uma avó que também pintava e lhe ofereceu, quando tinha 14 anos, uma tela, pincéis e tin tas, que lhe viriam a servir de instrumento para o futuro. O percurso artístico de Fran cisco Sepúlveda cresceu e elevou-se com ele, levando-o a expôr, para lá do Chile, em novas geografias, do México a França, da Suíça à Alemanha,

passando pela Bélgica, Esta dos Unidos e Moçambique, lu gar com o qual mantém uma ligação e um carinho espe cial, sobretudo pelo apoio que deu aos inúmeros refugiados chilenos que se evadiram da terrível ditadura do general Pinochet.

Nasceu em 1977, em Santiago, no Chile. Entre 1992 e 1995, iniciou a formação artística com cursos de desenho e gravura na Escola de Arte, na Universidade Católica do Chile. Estudou técnicas experimentais de gravura, como “a colografia”, com Carlos Ayres,no Atelier Lam, em Santiago. Desde 2016, estuda escultura tradicional Makonde com o escultor Maurício Matumbo, em Maputo. Entre os vários prémios que recebeu destacam-se o Miroir de L’Art (2014), que distinguiu os 50 pintores mais importantes do nosso tempo, e o Prémio Azart – França (2009) para o melhor artista do ano.

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VOLVO ACELERA PARA O MERCADO NACIONAL ESTE ANO

o volvo xc40, o novo SUV com pacto da marca sueca, que foi considerado o “Carro Europeu do Ano” de 2018, na prestigiada Feira Motor Show, de Geneva, na Suíça, é um dos modelos que vai chegar ao mercado mo çambicano no decorrer 2018 pela mão do Entreposto Volvo Cars.

Desenvolvido para combater o Audi A3, o BMW X1 e o Mer cedes-Benz GLA, o modelo sue co superou os seus rivais, como o BMW Série 5 e o Audi A8, e também deixou para trás ou tros carros como o Alfa Romeo Stelvio e o Kia Stinger. Tendo em atenção o prestígio deste prémio, cuja atribuição é sem pre uma garantia de qualida de e inovação do modelo ven cedor, a expectativa da marca é que a receptividade dos con sumidores seja grande a nível mundial.

Na Europa, o XC40 vai estar dis ponível, inicialmente, com um motor a gasolina e outro a die sel, ambos com 2.0 litros e tur

boalimentados. O primeiro tem versões T4 (190 cv) e T5 (254 cv), enquanto o segundo, D4, gera 190 cv. Todas as versões con tam com transmissão automá tica de 8 marchas, com conver sor de torque. A T4 vem com tração dianteira e as demais trazem tração integral AWD. Mas, de acordo com o Entre posto Volvo Cars, outras novi dades da marca irão ser lan çadas, ao longo do ano, em Moçambique, nomeadamen te, o XC60 e o “revolucionário” XC90 (que introduziu a nova tecnologia usada nos novos modelos Volvo).

A marca sueca tem-se ca racterizado por uma postu ra “human-centric”, ou seja, to dos os carros que desenvolve são criados a pensar nas pes soas e nas suas necessidades do dia-a-dia, promovendo uma maior integração do automó vel na sua vida.

A abordagem à sustentabilida de é encarada na óptica da se gurança e do conforto. Mas não só: o impacto no meio ambien te é outro dos grandes compromissos da marca sueca.

VOLVO

marca Volvo modelo XC40 combustível Gasolina e diesel potência 254 cv velocidade máxima 210 km/h

O VOLVO XC40, O NOVO SUV COMPACTO DA MARCA SUECA, FOI CONSIDERADO O “CARRO EUROPEU DO ANO” DE 2018.

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TEXTO RUI TRINDADE FOTOGRAFIA CEDIDA PELA MARCA
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