E&M_Edição 33_Janeiro 2021• Como Vai o Turismo Desencalhar?

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TRANSPARÊNCIA RANKING REVELA AS MELHORES E PIORES EMPRESAS DO SECTOR EXTRACTIVO INOVAÇÃO EXPANSÃO DE AGRITECHS PROMETE ALAVANCAR A PRODUÇÃO EM ÁFRICA LÁ FORA CRISE NO PETRÓLEO DEIXA ANGOLA COM POUCAS OPÇÕES DE SE FINANCIAR

COMO VAI O TURISMO DESENCALHAR?

Depois de quase tudo a pandemia levar, bons ventos trazem a vacina, ao mesmo tempo que uma tempestade devolve novas vagas e mutações do covid-19. Como sair? JANEIRO 2021 • Ano 04 NO 33 • 15/01 - 15/02 Preço 250 MZN

MOÇAMBIQUE

ESPECIAL OIL & GAS GOVERNO E TOTAL CHEGAM AO ACORDO QUE RESTABELECE SEGURANÇA EM AFUNGI



SUMÁRIO 6

OBSERVAÇÃO

Etiópia Novo massacre faz mais de 80 vítimas e acentua o espectro de instabilidade que dura há décadas

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RADAR

Panorama Economia, Banca, Finanças, Infra-estruturas, Investimento, País

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57 ÓCIO

58 Escape Uma viagem até à Ilha de Inhaca 60 Gourmet Como a indústria de restaurantes se está a reinventar perante a pandemia 61 Adega Um brinde ao verão, com os vinhos Rosé 63 Arte “Incluarte”, a iniciativa que busca na arte um instrumento de inclusão 64 Ao volante Apple promete supreender o mundo com o seu primeiro veículo em 2024

ESPECIAL OIL & GAS

Ataques As implicações da retirada dos trabalhadores pela multinacional francessa Total no Rovuma

22 NAÇÃO TURISMO 24 O que a pandemia levou Os desafios que os investidores tiveram e terão de enfrentar este ano 30 Entrevista Rui Monteiro diz que o empresariado necessitará de facilidades para eliminar dívidas 32 Turismo mundial Especialistas acreditam que a vacina vai impulsionar a retoma a partir deste ano 34 KiteSurf Uma modalidade radical cara, mas que já conquistou espaço nas praias moçambicanas

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MERCADO E FINANÇAS

Indústria extractiva Ranking mostra as empresas mais e menos transparentes a operarem no mercado nacional

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ESPECIAL INOVAÇÃO

Tecnologia As grandes tendências da Inovação em Moçambique, no continente Africano e no mundo

www.economiaemercado.co.mz | Julho 2020

54 LÁ FORA Angola Estudo do Banco Mundial revela grandes dificuldades do país em se financiar perante a queda da procura do petróleo

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EDITORIAL

Poderá o turismo, finalmente, descolar?

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Celso Chambisso • Editor da Economia & Mercado s investidores do sector do turismo levaram quase todo o ano passado com a calculadora na mão à procura de saídas para sobreviverem à crise da pandemia do novo coronavírus. Foram aproximadamente sete meses sem operar. Muitos, obviamente, não sobreviveram. Os que resistiram narram o drama de ver a sua capacidade de produção cair quase 95%, com uma redução da facturação sem precedentes. Apoios? Até houve iniciativas públicas aprovadas para aliviar a pressão, mas foram “insignificantes”. Perante a histórica crise que o turismo atravessava, o empresariado, através da Confederação das Associações Económicas de Moçambique, CTA, já adiantava números que faziam antever um recorde na recessão do sector em 22% na melhor das hipóteses e de 32% no pior cenário. Em termos financeiros, estes números traduzir-se-iam em perdas de mais de 4,6 mil milhões de meticais. E os empregos? 18 mil, correspondentes a 40% da força de trabalho do turismo, são dados como perdidos. Felizmente, o fim do Estado de Emergência, em Setembro de 2020, bem como as festas de Natal e de réveillon viriam a reanimar o sector, com várias estâncias a esgotarem a sua capacidade de oferta de serviços. Mas, hoje, o ânimo volta a abrandar perante novos inimigos: as novas vagas da doença e as novas variantes, desta vez com vários epicentros espalhados pelo mundo e que voltam a forçar novos confinamentos, incluindo na África do Sul, aqui perto. Hoje, nem o uso da vacina tem sido capaz de assegurar a todos os operadores do turismo, em Moçambique e pelo mundo, de que este será o ano da viragem, conforme as previsões mais optimistas. Aqui dentro, um novo pico de infecções e o aumento rápido do número de óbitos levou o Presidente da República a apertar um pouco mais nas medidas, uma delas com consequências negativas sobre as contas do turismo: o encerramento das praias a partir do dia 15 de Janeiro corrente. Na sua primeira edição do presente ano, a E&M também leva o leitor a conhecer a essência dos avisos que podem estar a ser emitidos pela multinacional francesa Total, e as suas implicações, ao reduzir operações e o número de trabalhadores no projecto de gás natural, em resposta aos ataques terroristas perto das suas instalações no norte de Cabo Delgado. Ainda nesta edição, E&M dará a conhecer ao leitor quais são as empresas do sector de minas e de hidrocarbonetos que cumprem com os princípios da transparência e as que não o fazem, através de uma reflexão oportuna em torno de um ranking a este respeito, lançado recentemente pelo Centro de Integridade Pública. Trata-se de uma pressão adicional àquela que vem sendo feita no quadro da Iniciativa de Transparência da Indústria Extractiva, num esforço que pretende “preparar terreno” para que a presença de recursos não se torne numa “maldição”.

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MÊS ANO • Nº 01 JANEIRO 2021 • Nº 33 propriedade Executive Mocambique DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Liquatis nienis doluptae velit etCativelos magnis pedro.cativelos@media4development.com enis necatin nam fuga. Henet exceatem EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant JORNALISTAS, Cristina Elmano adis destiosse iusci re in Freire, prae voles Madaíl, Ricardo David sant laborendae nihilibLopes, usciusRogério sinusam Macambize, Trindade, Yana de Almeida rehentius eosRui resti dolumqui dolorep PAGINAÇÃO José Mundundo reprem vendipid que ea et eumque non FOTOGRAFIA Mariano Silva nonsent qui officiasi REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos lorem ipsum Executive Mocambique ÁREA COMERCIAL Nádia Pene Liquatis nienis doluptae velit et magnis nadia.pene@media4development.com enis necatin nam fuga. Henet exceatem CONSELHO CONSULTIVO seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant Alda destiosse Salomão, Andreia Narigão, António adis iusci re in prae voles Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, sant laborendae nihilib uscius sinusam Fabrícia deeos Almeida Henriques, Frederico rehentius resti dolumqui dolorep Silva, Hermano Ali Aiuba, reprem vendipidJuvane, que eaIacumba et eumque non João Gomes, Narciso Matos, Rogério Samo nonsent qui officiasi Gudo, ipsum Salim Cripton Sérgio Nicolini lorem LiquatisValá, nienis doluptae ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO velit et magnis enis necatin nam fuga. E PUBLICIDADE Media4Development Henet exceatem seque cus, sum nis nam Rua Ângelo Azarias nº iusci 311 A re —in iu Qui te nullant adisChichava destiosse Sommerschield, Maputo – Moçambique; prae voles sant laborendae nihilib uscius marketing@media4development.com sinusam rehentius eos resti dolumqui IMPRESSÃO E ACABAMENTO dolorep reprem vendipid que ea et Minerva Print - Maputoqui - Moçambique eumque non nonsent officiasi TIRAGEM 4 500Liquatis exemplares lorem ipsum nienis doluptae PROPRIEDADE DOnecatin REGISTO velit et magnis enis nam fuga. Executive Moçambique Henet exceatem seque cus, sum nis nam EXPLORAÇÃO E iusci re in iu Qui te nullantEDITORIAL adis destiosse COMERCIAL EM MOÇAMBIQUE prae voles sant laborendae nihilib uscius Media4Development sinusam rehentius eos resti dolumqui NÚMERO DE REGISTO dolorep reprem vendipid que ea et 01/GABINFO-DEPC/2018 eumque non nonsent qui officiasi lorem ipsum Liquatis nienis doluptae velit et magnis enis necatin nam fuga. Henet exceatem seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in prae voles sant laborendae nihilib uscius sinusam rehentius eos resti dolumqui dolorep reprem vendipid que ea et eumque non nonsent qui officiasi

www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019



OBSERVAÇÃO

ETIÓPIA, 2021

NOVO MASSACRE “ETERNIZA” TENSÃO O histórico de violentas tensões étnicas vem de várias décadas e torna a ser destaque, com um novo episódio ocorrido a 13 de Janeiro. Segundo a Comissão de Direitos Humanos da Etiópia, mais de 80 civis foram mortos numa acção terrorista na região de Benishangul-Gumuz, no oeste do país. A imprensa etíope relata a existência de crianças entre os mortos no massacre. Testemunhas também falam de um número de vítimas que pode ser ainda maior, passando da centena Uma fonte disse à agência France Presse que os criminosos usaram facas, flechas e armas de fogo durante o atentado. Sem que se saiba a autoria dos assassinatos, a mesma região viveu, em Dezembro do ano passado, um outro sangrento ataque que deixou um rasto de mais de 200 mortos, segundo a Al Jazeera. Esperava-se que a eleição de Abiy Ahmed, Nobel da Paz de 2019, pudesse dar força à luta pela pacificação de uma nação onde existem, actualmente, mais de 80 grupos em conflito.

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RADAR ANALISTAS PREVÊEM AUMENTO DA INFLAÇÃO NO PAÍS EM 2022 A consultora NKC African Economics prevê que a inflação em Moçambique deva acelerar de 3% em 2020 para 4,3% este ano, alertando que o metical já caiu 18% no ano passado. “Apesar de uma procura interna fraca, com um ligeiro crescimento do PIB de 0,8% este ano, melhor que a queda de 0,3% em 2020, que vai continuar a abrandar a inflação, há riscos para a subida dos preços”, escrevem os analistas. Os preços subiram pelo quarto mês consecutivo em Dezembro, passando de 3,2% em Novembro para 3,5% em Dezembro face ao período homólogo de 2019, segundo os números oficiais, levando os analistas a anteciparem uma subida de 4,3% para este ano. “O metical caiu quase 18% em 2020 num contexto de queda de preços nas exportações de matérias-primas de Moçambique e aversão global ao risco”, lê-se na análise, que salienta que como o País é um importador líquido de bens de consumo, uma moeda mais fraca é geralmente associada a um aumento dos preços para os consumidores. “Para além disso, antevemos que o preço médio do petróleo vá aumentar quase 20% este ano e as cadeias de abastecimento também enfrentam possíveis perturbações devido à pandemia do covid-19, insurgência em Cabo Delgado e ao risco de inundações”, concluem os analistas.

ECONOMIA

Receitas Fiscais. A Autoridade Tributária de Moçambique (AT) prevê arrecadar para os cofres do Estado, em receita fiscal ao longo do corrente ano, cerca de 265,6 mil milhões de meticais. Trata-se de um montante cujo alcance, segundo a presidente da AT, Amélia Muendane, irá exigir um esforço adicional da sua instituição, assumindo que o mesmo representa um valor considerável em relação à meta de 2020, reajustada para 214,1 mil milhões de

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meticais. “Isto vai exigir de todos nós um trabalho redobrado. É necessário avaliar em que medida é que os funcionários da AT estão preparados para avançar e encorajá-los”, disse Amélia Muendane, aquando de uma visita que efectuou à delegação da instituição, na Matola, com o objectivo de fazer o balanço do desempenho em 2020 e avaliar o grau de preparação para os desafios definidos para 2021. Contrabando. A presidente da Autoridade Tributária de Moçambique diz que o País perde, anualmente, cerca de 12,9% do PIB com a exportação ilegal de recursos minerais, florestais e faunísticos a maior parte dos quais para países asiáticos. Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), de Abril de 2020, estimavam o PIB de Moçambique em 14,9 mil milhões de dólares, fazendo com que 12,9% correspondam a 1,8 mil milhões

de dólares. Amélia Muendane avança que esta prática afecta, obviamente, a colecta de receitas fiscais para o Estado, realçando que as regiões centro e norte de Moçambique são as que perdem mais recursos. Referiu ainda que o contrabando envolve sobretudo o ouro, madeira e recursos florestais e faunísticos, “que são exportados ilegalmente para os diferentes cantos do mundo.

Infra-estruturas. A Entrada em funcionamento, em Março próximo, do Terminal de Minerais de Ressano Garcia, no distrito da Moamba, em Maputo, deverá reduzir

para metade o número de camiões que circulam pela Estrada Nacional número Quatro (EN4), reduzindo o congestionamento e a pressão sobre a rodovia. A garantia foi dada recentemente pelo Ministro dos Transportes e Comunicações, Abdulai Janfar, depois de visitar as obras desta infra-estrutura, com capacidade para manusear, por mês, 250 mil toneladas de ferro crómio, proveniente da África do Sul. Resultado de uma parceria entre as empresas Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) e a The Logistics Group (TLG), o Terminal de Minerais de Ressano Garcia vai retirar da EN4 metade dos cerca de 500 camiões que diariamente atravessam a fronteira com destino ao Porto de Maputo. Estradas. A Administração Nacional de Estradas (ANE), em Nampula, precisa de mais de 140 milhões de meticais www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021


para a reconstrução de estradas na eventualidade de ocorrerem cortes ou a intransitabilidade durante a próxima época chuvosa. Florentino de Sousa, da Administração Nacional de Estradas, ao avaliar o ponto de situação das chuvas, referiu que o valor poderá servir para intervenções de emergência. Apesar da exiguidade de fundos com que se debate a instituição, cerca de 97% da rede viária da província está transitável, sendo possível circular com segurança para todas as sedes distritais, postos administrativos e localidades.

Exportação. A Índia quer comprar cerca de 200 mil toneladas de feijão bóer de Moçambique, no quadro da renovação de um memorando existente entre os dois países, anunciou recentemente o embaixador cessante da Índia em Maputo. “Vamos prorrogar este entendimento para mais cinco anos. Nós mandamos uma proposta para o Governo de Moçambique, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, e recebemos uma resposta positiva do Ministério da Agricultura a aceitar a exportação de 200 mil toneladas durante os próximos cinco anos”, disse Rajeev Kumar. Negócios. De acordo com os dados do último inquérito de 2020, o Purchasing Managers Index (PMI), realizado mensalmente pelo Standard Bank Moçambique, a www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021

actividade empresarial do sector privado abrandou em Dezembro último, vindo de uma trajectória positiva no mês anterior. O inquérito aponta que as expectativas para a produção futura se mantiveram fortes devido à sua contracção mais lenta desde Março,

EXTRACTIVAS Fundo Soberano. Depois da fase de auscultação pública, que decorreu em todo o País desde princípios do ano passado, o projecto de criação de um fundo soberano em Moçambique entrou para a etapa de sistematização dos comentários que, basicamente, concentram-se nos aspectos da estrutura de governação. Estimativas avançadas por diversos especialistas sugerem que Moçambique poderá encaixar cerca de 90 mil milhões de dólares só de receitas resultantes da exploração de gás natural da bacia do Rovuma. Segundo Amal Omar, administrador do pelouro de Estabilidade Financeira do Banco de Moçambique, o documento deverá ser acompanhado por uma proposta de lei para posterior apreciação e aprovação pela Assembleia da República. Gás natural. O Instituto Nacio-

nal de Petróleos (INP) anunciou o reinício das actividades de perfuração “offshore” da Mozambique Rovuma Venture (MRV) na área 4 da bacia do Rovuma, no Norte de Moçambique, após interrupção devido às restrições impostas pelo covid-19. Segundo uma nota publicada na página de internet do INP, um navio já está em Pemba, capital da província de Cabo Delgado, para apoiar as actividades da MRV, e o reinício da perfuração fica agora sujeito a meras formalidades.


OPINIÃO

Universidades Moçambicanas: os dilemas, as Crises e o Futuro (II)

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Jorge Ferrão • Reitor da Universidade Pedagógica de Maputo & Ivan Collinson • Universidade Eduardo Mondlane epois de um longo período de expansão universitária por todo o País, começava a ser tempo de consolidar as instituições, potenciá-las e beneficiar dos ganhos da sua existência e do capital gerado. A tendência, acreditávamos, seria a de que as universidades e instituições de ensino superior existentes pudessem começar a competir de forma mais firme nos rankings regionais e internacionais, oferecendo soluções e alternativas para enfrentarmos as crises económicas, pandémicas, sociais, culturais e, até, as crises de identidade. Sucede, porém, que uma nova vaga de instituições de ensino superior, que oferecem, em rigor, a mesma oferta formativa, que não tem uma preocupação de se expandir para além do eixo Maputo-Matola-Boane, não se apresentam, à priori, com as preocupações reais de servir a juventude nas regiões mais carentes e mais necessitadas. Continuamos em busca de um mercado que já se apresenta saturado, descapitalizado e com debilidades fundamentais tecnológicas e de conectividade. Para agravar ainda mais esta situação que tem de preocupar a todos, e a cada um, debatemo-nos, hoje, com um dispositivo legal cujo mérito não pretendemos discutir, mas que deixa lacunas e dúvidas profundas para as instituições públicas, principalmente para as mais estabelecidas e que investiram profundamente na formação do seu capital docente internamente e no estrangeiro, ao longo de anos. Este dispositivo a que fazemos referência sugere que os professores do sexo feminino, com 60 anos, e do sexo masculino, com 65 anos, ou todos que tenham 35 anos de serviço, deveriam passar para um sistema de reforma ou, em caso de necessidade, seriam recontratados por períodos de 1 ou 2 anos. Mesmo considerando que agora foi reformulada a questão dos 35 anos de serviço, nós notamos que estes diplomas vão abranger, na sua maioria, um conjunto de professores auxiliares, associados e até cate-

dráticos, quando estes se encontram no melhor das suas capacidades científicas, técnicas e cognitivas. Portanto, as crises que grassam nas instituições de ensino superior, no seu conjunto ou parcialmente, estão longe de ser sintomáticas, que foram ditadas pela Covid-19, com uma certa incidência no mundo, porém, que poderiam ser bem mais profundas, estruturantes no nosso caso. Num breve levantamento e numa cooperação efectiva com algumas universidades que nos são familiares ou nas quais tivemos oportunidade de estudar, constatamos que a aposentadoria de professores de carreira segue contornos académicos e não necessariamente os dispositivos de reforma geral, ilustrando quão ténue é a autonomia universitária no contexto moçambicano, sobretudo quando analisada a legislação vigente e o seu impacto na autonomia, nos seus vários domínios, em especial, o administrativo, como, aliás, esta reflexão salienta. É comum, em várias universidades, jubilar os docentes, mas deixar sempre o seu nome associado à instituição para que continue orientando pesquisas, dissertações de mestrado e as teses de doutoramento. Também é comum que muitas das opções para os estudantes são feitas em função da permanência dos professores de maior referência. São esses professores que ajudam no ranking das universidades e, acima de tudo, estruturam as escolas de pensamento dessas instituições. Adicionalmente, considerando que o grosso de professores existente nas universidades públicas fez parte dos jovens da geração de 8 de Março, dos grupos que estudaram em Cuba, Alemanha, Rússia, Brasil e Portugal, é evidente que este grupo, hoje, faz parte da massa crítica que terá de abandonar o ensino público e que vai engrossar o ensino privado. Afinal, quem se vai beneficiar dos largos investimentos realizados pelo sector público? Numa altura em que as regras de acreditação exigem percentagens de professores seniores e de topo, como serão respondidos os

Num breve levantamento e numa cooperação efectiva, com algumas universidades que nos são familiares ou nas quais tivemos oportunidade de estudar, constatamos que a aposentadoria de professores de carreira segue contornos académicos e não os dispositivos de reforma geral

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Muitas das opções para os estudantes são feitas em função da permanência dos professores de maior referência

pressupostos apresentados e exigidos pela estrutura de avaliação e acreditação. O que faz com que a nossa academia passe por pressupostos que diferem da academia tradicional? Compulsadas algumas experiências, também destes países a que atrás fizemos referências, verificamos que os professores atingem o topo das suas carreiras num horizonte de 20 a 25 anos de trabalho. Quer dizer que a sua capacidade lectiva e de pesquisa estão mais disponíveis do que nunca para propor um novo caminho à ciência e rebater as teorias e os postulados dos problemas societais. Por conseguinte, é um consenso universal que um bom professor carece de muita experiência e de longos períodos de trabalho, de leituras de pesquisas e de conferências. Entretanto, mesmo a nível global, parece haver uma tendência crescente para a redução da autonomia universitária, como aliás, se pode depreender no cenário lusófono, mais concretamente no Brasil. Segundo um estudo publicado pelo Global Public Policy Institute, a Proposta de Emenda Constitucional 32/20202, coloca em risco a liberdade académica, essencialmente por corroer ainda mais a autoridade administrativa, forçando uma reforma administrativa (Mendes et al., 2020) que se prende, entre outros motivos, com uma visão redutiva das actividades realizadas pelo ensino superior e respectivo impacto na estabilidade das carreiras académicas; com a indicação política a cargos académicos, contornando prewww.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021

ceitos académicos elementares (carreira na academia); com a possível militarização das universidades e; com a privatização de serviços oferecidos pelas instituições de ensino superior, com todas as possíveis implicações à qualidade e à produção de conhecimento (Langa, 2012). A professora Teresa Cruz e Silva, do Centro de Estudos Sociais da Aquino de Bragança, da universidade mãe, recorda-nos, num artigo sobre o neoliberalismo e as universidades públicas, sobre o papel social e as identidades do ensino estruturante. Por conseguinte, ela destaca que o neoliberalismo atingiu, de forma marcante, os grupos sociais mais desfavorecidos, colocando-os cada vez mais distantes dos objectivos da declaração de Kampala e de Dar-es-Salam, por sinal tornadas públicas no ano de 1994, sobre as constantes liberdades e a autonomia das universidades. Estas declarações fizeram sempre um apelo para os direitos da comunidade intelectual, para a liberdade de expressão e, fundamentalmente, para a autonomia universitária e para as obrigações do Estado perante a comunidade intelectual. São estas declarações e todas as posteriores que têm norteado o nosso ensino superior, a autonomia que almejamos e aos patamares e desígnios de crescermos de forma saudável e assertiva. Rever alguns destes objectivos, os financiamentos ao ensino superior público e, sobretudo, a sua autonomia, configuram-se como tarefas apropriadas a estes tempos e ajustadas as novas normalidades.

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ESPECIAL A ESPERANÇA MANTÉM-SE E O ENTENDIMENTO É TOTAL. FUTURO PASSA PELO GÁS Estratégia da petrolífera francesa assenta em, nas próximas décadas, aumentar a oferta de GNL até 50% do seu portefólio. Estratégia de Moçambique implica que tudo isto aconteça em tempo útil. Entendimento das partes é Total

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Texto Pedro Cativelos • Fotografia D.R.

uando surgiu, de forma inusitada, a notícia do encontro de alto nível entre o CEO da multinacional francesa Total, e o Presidente da República, Filipe Nyusi, a expectativa superou o factor surpresa: estaria à vista a solução para o impasse iminente? Será 2021 o ano do arranque do megaprojecto por que tanto esperámos ou seria mais um ano de espera? No dia seguinte, 18 de Janeiro, a notícia ia ao encontro da expectativa criada: o homem forte da Total e o máximo governante do País acordaram um reforço das medidas de segurança em redor do empreendimento de gás natural em Cabo Delgado, confirmava, no dia seguinte, à agência Lusa, uma fonte do Governo. O cenário macro Desde há pouco mais de três anos que a província de Cabo Delgado tem sido assolada por acções insurgentes (com dramáticos impactos sociais espelhados nos 250 mil deslocados) que se têm, cada vez mais, aproximado do recinto de construção do projecto encabeçado pela Total, a que se junta o da italiana Eni e da norte-americana Exxon Mobil e que tem, como é por demais sabido, o potencial de transformar toda a economia nacional. E isso mesmo antes de começarem a ser exportadas as enormes quantidades de reservas de gás natural, que vão colocar o País no topo da lista dos maiores exportadores mundiais e fazer alavancar o crescimento da riqueza interna anual para volumes nunca antes imaginados. Está tudo ainda no papel, claro, tal como nas previsões dos analistas.

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É expectável que assim seja, e assim acontecerá, se não houver alterações de planos provocadas por acções imprevistas. Como as que sucederam, depois de 38 meses de avanços e recuos e de largas centenas de vítimas mortais, após o segundo ataque próximo aos megaprojetos de gás a 29 de Dezembro, dias depois de um primeiro levado a cabo a 07 de Dezembro, na aldeia de Mute, a menos de 25 quilómetros de Afungi, área onde está a ser construída a zona industrial de processamento de gás natural da Área 1. Tais factos levaram os responsáveis da multinacional francesa a accionar o plano de contingência, enviando centenas de pessoas de regresso à base. Permaneceram alguns, apenas, ligados à segurança da infra-estrutura mas, ao que se sabe, a maioria das equipas foram desmobilizadas e aguardavam instruções para regressar à obra. Algo que já começaram a receber. Regressam em Fevereiro. Destinos ligados A verdade é que toda a situação da instabilidade sempre preocupou quem estava ligado ao processo e algumas soluções foram sendo concertadas. Isto porque a província de Cabo Delgado é estratégica, fruto da exploração do gás natural e do investimento de 23 mil milhões de dólares que ali vai ser feito só na Área 1, prevendo-se um equivalente, também na casa dos 20 mil milhões, na infra-estrutura da Área 4. Com o início da produção previsto para 2024, e com a Total a ser a operadora e proprietária de 26,5% do projecto, os prazos e o investimento nunca chegaram a estar em causa, mesmo com o cenário www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021


OIL & GAS de pandemia global a caminhar para o seu pico ou com os anúncios recentes de grandes investimentos da multinacional francesa em operações ligadas às renováveis, dando seguimento a uma estratégia anunciada para o mercado energético, apresentada em Outubro, e que preconiza o aumento dos investimentos em renováveis e electricidade. Uma lógica semelhante ao que o seu rival norueguês começou a fazer em 2018, na sequência de uma mudança de nome da Statoil para Equinor, ou à Shell, BP e Exxon, que seguem o mesmo caminho. Já não há dúvidas, actualmente, que os grandes líderes das energias limpas do futuro serão, na prática, os grandes poluidores do presente. No entanto, voltando à Total, nessa mesma estratégia, a petrolífera assumiu que se concentrará em “projectos de baixo custo e privilegiará o valor em relação ao volume”. Podemos não ver aqui um bom prenúncio para Moçambique. No entanto, na próxima década, a sua produção de energia irá crescer um terço, aproximadamente de 3 a 4 Mboe/d, sendo que metade será de GNL, e a outra metade a partir, principalmente, de energias renováveis. E aqui sim — pelo aumento substancial da quota de produção de GNL — Moçambique é absolutamente decisivo na estratégia da multinacional petrolífera. Quase tanto como o seu sucesso é decisivo para o desenvolvimento, a vários níveis, de Moçambique. Ainda em Cabo Delgado Por isso mesmo, a conversa de presidentes era encarada como um momento fundamental: para a Total e para Moçambique. “As questões de segurança têm vindo a ser discutidas com as autoridades, nomeadamente com os Ministérios da Defesa, do Interior e da Energia. A Total não utiliza empresas privadas de segurança armada”, dizia há alguns dias Nicolas Terraz, o chefe do ramo de exploração-produção na África subsaariana, que segue diariamente a situação em Cabo Delgado e que assumia que a instalação era, naquela altura, “segura”. A nova versão do acordo de segurança estabelecido em Setembro entre o Governo e a petrolífera francesa, e que preconizava o estabelecimento de uma força de segurança conjunta, previa o aumento da contribuição financeira da Total para as autoridades, em troca de uma mewww.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021

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lhor protecção das infra-estruturas do seu projecto pela assim designada ‘Task Force Conjunta’ de Cabo Delgado, cujo número foi aumentado, após o ataque de 12 de Agosto, de 500 para cerca de 3 mil homens, de acordo com várias fontes. “A Mozambique LNG (consórcio que envolve, para além da Total, a japonesa Mitsui (20%) e a petrolífera estatal moçambicana ENH (15%), cabendo participações menores à indiana ONGC e à sua participada Beas, à Bharat Petro Resources, todas com 10% e à tailandesa PTTEP com 8,5%) está a prestar apoio logístico às forças de segurança pública designadas para proteger as actividades do projecto sob a forma de veículos, alojamento e alimentação. Ao abrigo deste acordo, os operadores pagam ao Ministério da Defesa uma compensação pelas missões de protecção realizadas nas instalações de Afungi”, disse a Total na altura da assinatura do acordo. “Cada

“O projecto é para continuar mantendo-se as datas previstas”, ou seja, início de exploração em 2024 sendo que deverão ser retomados os trabalhos nas próximas semanas” oficial militar ou policial moçambicano designado para a protecção da instalação recebe formação VPSHR (Princípios Voluntários sobre Segurança e Direitos Humanos). A Total está particularmente vigilante quanto à correcta aplicação destes princípios, e este assunto é regularmente levantado junto das autoridades”, diz Terraz. No projecto, também estão envolvidas várias empresas de segurança privadas cujo pessoal está desarmado. Em Agosto, existiam contratos com as empresas britânicas de consultoria de segurança Blue Mountain & Control Risks, bem como com os gigantes globais de segurança: GardaWorld (canadiana), G4S (britânica), para além da moçambicana Arkhe Risk Solutions. Sintonia total “A Total e o Governo estão em sintonia: o que vai acontecer é um reforço das medidas de segurança”, referiu uma fonte governamental, na sequência do encontro entre o líder da petrolífera e o Presidente da República sem, no entanto, detalhar os contornos desse reforço, num encontro em que marcaram também presença os minis-

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tros dos Recursos Minerais e Energia, Max Tonela, do Interior, Amade Miquidade, e da Defesa, Jaime Neto. Nesse sentido, e alcançada uma plataforma de entendimento, a mesma fonte acrescenta que “o projecto é para continuar mantendo-se as datas previstas”, ou seja, início de exploração em 2024 sendo que deverão ser retomados os trabalhos nas próximas semanas. Trata-se do maior investimento privado em curso em África e nele reside uma das principais esperanças de Moçambique se desenvolver nas próximas décadas. 2021 é o ano Até agora têm decorrido sobretudo actividades de engenharia e aquisições (a designada fase de ‘procurement’, termo que designa a fase de criação de condutas estratégicas e definição de directrizes e regras de relação da companhia com os fornecedores), estando este ano de 2021 estabelecido como o do arranque ‘em força’ da fase de edificação da cidade do gás e zona industrial para liquefacção do GNL extraído das profundezas da bacia do Rovuma. Ronan Bescond, director-geral da To-

tal em Moçambique, referia numa conferência em Maputo, em Outubro, que “um ambiente seguro e uma rede de estradas robusta são pré-condições para o projecto cumprir a promessa de catalisar o crescimento e desenvolvimento do distrito de Palma e do País”. E a paz efectiva, ou a segurança de populações e equipas que se preparam para rumar a Cabo Delgado, é outro dos ‘must have’ de uma complexa operação que irá durar os próximos três anos e meio. Estava previso que, só no primeiro semestre deste ano, chegassem a Moçambique perto de 20 mil trabalhadores, das mais variadas áreas, provenientes dos quatro cantos do mundo. Para já, os processos estão em espera, mas não foram cancelados. Os recrutamentos continuam, apesar de terem abrandado, diz-nos um dos gestores de uma das empresas de RH directamente relacionada com o recrutamento para o projecto. Esta ‘luz verde’, numa conjuntura em que o País atravessa uma fase de “sinal vermelho” devido à pandemia, só pode significar um sinal de esperança num ano que começou com más notícias — da tempestade tropical Chalane ao agravamento das medidas da pandemia devido à subida vertiginosa dos infectados. Será o gás a acender a chama de esperança no futuro. Mais limpo, saudável e sustentável. Assim se espera. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021



OPINIÃO

Servicificar: um salto de gigante

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João Gomes • Partner @ JASON Moçambique em o título deste artigo a propósito da insistente tendência das empresas elegerem o “Foco no Cliente” (Outras designações similares e não menos confusas: Customer Centricity; Customer Satisfaction; Customer Intimacy) como uma poderosa fórmula mágica que todos os males cura: desde os temas mais hard tais como a fraca facturação, ou a menos agressiva cobrança, ou a anémica liquidez, aos temas mais soft, tais como a falta de poder de atracção da marca, a perda de quota de mercado e a fraca eficiência. A má notícia é que desde o seu lançamento em 1994 o American Customer Services Satisfaction Index foi medido em 74,8 pontos, caiu para o mínimo histórico de 70,7 em 1997, recuperou para 72,5 na mudança do milénio, chegando a 76,8 em 2013 e actualmente está em 75,4 - a diferença da largura de um fio de cabelo em relação à pontuação inicial. 1. A excelente notícia é que, a nível das economias mais avançadas (e também nas economias em vias de desenvolvimento, tal como a Moçambicana) um número cada vez maior de empresas do sector manufactureiro exportador tem incorporado nos seus produtos uma percentagem cada vez maior de serviço. Ou de outra forma, empresas de produto vendem, cada vez mais, “soluções” (i.e., Produto + Serviços) aos seus clientes, intangibilizando a oferta e assim estendendo o tempo de contacto e interacção com os clientes. A esta megatendência se designa por Servicificação. Enquanto escrevo este artigo a 32 000 pés de altitude, algures sobre o deserto do Sahara, lembro-me que, por exemplo, o fabricante de motores para aviação Rolls-Royce hoje não vende só motores. Acrescentando serviços de monitorização dos níveis de eficiência o foco é gerar horas de disponibilidade sem falhas (Fail Safe Service) e estender o período de vida útil dos famosos motores. E tudo isto, em estreita colaboração directa e em interacção permanente - facilitada pelas novas tecnologias de informação - com os seus clientes, desde a fase de design do produto até ao pós-venda.

A Rolls Royce vende fundamentalmente confiança. 2. Sobre a eficácia da Servicificação, que o digam as estatísticas de comércio internacional: os serviços incorporados em produtos representam hoje 61% do PIB e 63% dos postos de trabalho globais, e são responsáveis por mais de 50% do valor acrescentado das exportações. E a previsão é a de que o nível de contribuição dos serviços no PIB global cresça entre 5% a 7% nos próximos 5 anos (assim a pandemia o permita!). Neste artigo convido-vos a conhecerem esta ferramenta de gestão cuja aplicação não se limita apenas ao sector manufactureiro e que permite, a quem a adoptar, dar um salto de gigante no estreitamento da relação de confiança e colocar os clientes no centro do negócio (Foco no Cliente). Neste contexto, e após termos visto acima 1) a definição de Servicificação; 2) e, bem assim, estatísticas sobre a sua eficácia em termos de comércio global, analisaremos em seguida 3) Os atributos-chave do serviço. 3. Diversamente das economias “baseadas em produto físico”, as economias “baseadas em serviço” possuem cinco atributos-chave: a) São tendencialmente intangíveis: por exemplo, as licenças de software “na nuvem”. E não é de admirar que os casos de crescimento exponencial de negócios cujos balanços praticamente desconhecem a classe de “activos tangíveis” tenham nomes sonantes como Air-bnb, Uber, Google, Amazon, entre outros. b) Baseiam-se na co-produção entre o prestador e o utilizador: por exemplo, o serviço de hotelaria (dormida) só se consome na presença física do cliente. Esta característica tem sido altamente explorada pelas indústrias manufactureiras para estreitarem a relação de confiança com os seus clientes e fornecedores: por exemplo, a Lego deu a volta a um negócio em queda livre chamando os seus clientes a desenvolverem e co-produzirem (Lego Digital Designer) pequenas séries, mas de inestimável valor emocional para os seus Autores-Clientes. Outra consequência é

Quisemos neste artigo abrir a caixa de pandora e perceber quais os atributos chave da servicificação e, deste modo, recolher lições para mudar a direcção e engrenar uma mudança mais alta nos programas de “Foco no Cliente”... uma nova fonte de riqueza: Cliente Data

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A Roll Royce é um bom exemplo da tendência de extenção do tempo de interacção entre a empresa e os clientes

a proliferação de redes de co-produção, e redes de redes (ecossistemas): por exemplo, ao nível de comércio internacional os desafios logísticos só são ultrapassáveis em virtude da inter-conectividade (física e digital) e parcerias estratégicas entre fornecedores, produtores e clientes.Ainda outra consequência deste atributo é a possibilidade de se lançarem ofertas no mercado de serviços em versão “alfa”: o novo normal é lançarem-se versões com possibilidade de correcção futura dos níveis de serviço (versões “beta”). E aparentemente ninguém se zanga com isso. Já na “economia de produto” a história é outra: dificilmente o cliente está disponível para aceitar um produto com defeito. c) Outro atributo-chave é a simultaneidade na produção, na instalação, na entrega, na manutenção e na reparação. É o AGORA: por exemplo, um “no show” do cliente no hotel significa uma oportunidade económica (para o Produtor) e de consumo (Para o Cliente) irremediavelmente perdida. Esta característica é igualmente responsável pela agilidade/flexibilidade da “economia baseada em serviços” versus a “economia baseada em produto”. Também por aqui se percebe o porquê da indústria manufactureira estar a integrar, cada vez mais, a componente de serviços no pacote final (Bundling). d) Em consequência, os serviços não são estocáveis: por exemplo, não posso “armazenar” uma noite no hotel “X” para gozo futuro, tal como posso fazê-lo com produtos físicos. Contudo, uma nova classe de activo surge daqui: peta bytes de informação sobre o Cliente. d) Ademais, os serviços caracterizam-se pela sua não fungibilidade: por exemplo (e ainda na hotelaria), em caso de “no show”, não posso trocar uma noite perdida, www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021

tal como posso trocar um produto. E esta característica, conjugada com a da co-produção, explica a razão de os serviços gerarem relativamente maiores níveis de lealdade dos clientes, do que aquele obtido através dos produtos. e) Um atributo que usualmente se atribuía aos serviços era a elevada intensidade no uso de recursos humanos: mas com o advento das tecnologias de informação todos os atributos acima referidos, mas especialmente este, sofreram enorme disrupção. Em conclusão Apesar dos esforços das empresas para, a partir de 1994, colocarem as políticas de “Foco do Cliente” na agenda para o sucesso, os níveis de satisfação dos clientes praticamente mantiveram-se sem diferença à data de hoje. Contudo, a abordagem seguida pela indústria manufactureira exportadora global, de fazer o bundling Produto + Serviço, tem revelado um sucesso estrondoso, com a componente de serviço a assumir maior protagonismo. Quisemos neste artigo abrir a caixa de pandora e perceber quais os atributos chave da servicificação e, deste modo, recolher lições para mudar a direcção e engrenar uma mudança mais alta nos programas de “Foco no Cliente”. E como resultado desta análise podemos reter que o passo de gigante da servicificação é a co-produção inerente ao serviço porquanto i) aproxima e inter-conecta a tríade fornecedor>prestador>utilizador; ii) aumenta o tempo de exposição da relação entre as partes, para além do lapso de tempo curto que é consumir um produto físico; iii) gera ligação emocional; iv) reforça a confiança e a lealdade entre as partes. E na mesma passada, a servicificação proporciona a acumulação de uma nova fonte de riqueza: Cliente Data.

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NÚMEROS EM CONTA O QUE NOS ESPERA EM 2021? OS ESPECIALISTAS RESPONDEM fazer previsões é um ‘negócio complicado’ numa época normal mas, depois de um ano como 2020, antever o que aí vem torna-se um exercício quase impossível de realizar. Ainda assim, isso não impediu uma série de especialistas de várias áreas de tentarem uma ‘leitura da bola de cristal’. De certa forma, estas previsões de instituições financeiras, líderes de opinião, meios de comunicação e consultoras têm uma forma de se tornarem profecias auto-realizáveis, pelo que vale a pena prestar atenção. Assim, os fundos ESG (investimentos em ambiente, social e

Fundos ESG chegam ao ponto de viragem

Marcas devem ser cada vez mais autênticas e baseadas em valores

O Facebook Descentralização enfrentará avançará problemas

Espaços urbanos das grandes cidades tornar-se-ão mais criativos

Cinemas adaptar-seão ao novo normal

O próximo Mercado Verão do imobiliário irá Hemisfério valorizar Norte será o Verão do Amor Crescimento positivo das acções de companhias de baixa capitalização

Crescimento global do PIB entre 5% e 6%

governança) atingirão um ponto de viragem e as marcas deverão ser cada vez mais autênticas e orientadas por valores. Outra das previsões mais reveladoras, porque já vêm do ano passado, é o repensar da vida no escritório e como a experiência de trabalho a partir de casa irá evoluir. Até porque indivíduos e empregadores começam a levar o bem-estar a sério e 2020 não foi bom para a saúde mental colectiva. E, claro, o que será das Big Tech? Sem consenso está a data do fim da pandemia, o curso da vacinação global ou como vamos estar no fim de 2021. Esperemos para ver.

Reacção adversa da sociedade às Big Tech

A China terá um ano forte

Bitcoin chega aos 50 mil dólares

Cidades médias ganham dimensão

Trabalhadores e Empregadores Desigualdades a levam o conceito continuarão acentuar-se de wellness a sério

O grande redesenhar da vida no escritório

Millennials acentuarão a preferência pelos subúrbios

Dólar irá perder força

Economia Europeia irá apresentar melhorias

Maioria das companhias irá adoptar modelos de trabalho híbridos

As perspectivas não são as melhores para as SPAC’s (shell companies)

Crescimento das hipotecas será baixo

Balão dos défices e dívidas externas irá ‘insuflar’

Todos os olhos estão na Apple. Novos produtos, investimentos e o que vem a seguir?

Fonte Visual Capitalist; Bloomberg’s Outlook 2021: Este artigo compilou mais de 500 previsões de bancos e empresas de investimento de Wall Street; Kara Swisher e Scott Galloway’s Big 2021 Predictions: Swisher e Galloway; Bola de Cristal 2021: Fortune; John Battelle’s Predictions 2021

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OPINIÃO

Perspectivas 2021

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Ernesto Gouveia Gove Jr

• Chief of Staff no Absa Bank Moçambique

urante grande parte de 2020, a economia moçambicana mostrou alguma resiliência à pandemia e aos choques externos, surpreendendo 2020 com crescimento. No entanto, devido a choques externos, alguns dos maiores desafios para 2021 serão a gestão dos efeitos da pandemia, a gestão fiscal e a grande susceptibilidade da economia. As exportações primárias concentradas de Moçambique são uma fonte de risco, bem como uma posição exacerbada da dívida que representa desafios adicionais aos riscos fiscais. As despesas associadas à pandemia e a folha de pagamento público tornar-se-ão uma fonte significativa de pressão fiscal nos próximos anos. Para 2021, a Fitch prevê que o crescimento anual chegue a 2,8%. A construção de uma base económica mais diversificada, o aumento da produtividade na agricultura e a garantia de resultados melhores e mais equitativos em produtividade e prestação de serviços são essenciais e podem fortalecer o crescimento. O LNG continua a ser a promessa transformadora para o crescimento do País, uma vez que os rendimentos da produção só serão nos anos posteriores. A curto e médio prazo observaremos ênfase incentivada pelo Governo na criação de espaço fiscal adicional através de oportunidades nos condutores da economia actual, como a agricultura, que contribui para quase um terço do PIB. As autoridades moçambicanas iniciaram conversas sobre a estrutura do Fundo Soberano, que deverão ser retomadas este ano. De acordo com a proposta, nos primeiros 20 anos, metade da receita do Estado iria para o Fundo e o restante para o Orçamento do Estado, sendo 80% alocado posteriormente para o Fundo. A alocação das receitas será contestada pelas necessidades orçamentais do País, o que evidencia elevada capacidade de absorções dadas as pressões fiscais. Neste sentido, as expectativas de poupança a curto prazo são susceptíveis de serem rejeitadas e repartidas de acordo com a tendência comportamental orçamental. O Governo provavelmente continuará a explorar medidas para estabilizar o sistema financeiro e apoiar a sociedade, bem como o sector privado. A taxa de positividade do covid-19 tem aumentado no País, atingindo 6,9% em Dezembro. De acordo com o África CDC, a maioria dos países africanos começará a receber vacinas do covid-19 em

meados de 2021. As instituições financeiras internacionais continuarão a ser cruciais para fornecer liquidez acessível ao País. Nessa frente, dado o impacto da pandemia em todo o continente, 2021 pode ser um ano de competição por um conjunto semelhante de recursos por todas as nações. Como resposta, Moçambique pode explorar ainda mais as vantagens da sua Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) como fonte de liquidez com mais vigor. A BVM tem tido um bom desempenho ao longo dos anos, afirmando gradualmente a presença de Moçambique nos mercados de capitais internacionais. Podemos esperar um aumento da emissão de dívida pública pelo Estado moçambicano para responder às pressões fiscais associadas à pandemia e às necessidades de desenvolvimento do País. Além disso, o sector de seguros terá um papel fundamental para garantir a tranquilidade dos agentes económicos e da sociedade em geral. O sector tem servido, principalmente, a empresas e infra-estruturas, os benefícios de segurança financeira e de vida são substanciais, fornecendo uma rede de protecção contra a probabilidade de perda catastrófica que se espera que aumente como consequência da pandemia. Espera-se uma maior aceitação entre os cidadãos por soluções relacionadas com a saúde, uma prática ainda não bem explorada. A demanda por financiamento por parte das empresas continuará a crescer, estimulando a procura por linhas de crédito, em grande parte, por agentes nas áreas do comércio e da agricultura. A maioria da dívida de Moçambique é denominada em moeda estrangeira e a depreciação da moeda nacional piorou a acessibilidade do serviço da dívida. O apoio às empresas em moeda local reduziria as probabilidades de default. As políticas que acomodam o sector privado provavelmente serão revistas, através de uma forte aposta nas políticas relacionadas com a terra, já que a própria terra é uma potencial garantia para grande parte das PME. Mais do que nunca, 2020 foi um ano em que o valor da antecipação e planeamento de risco se tornou evidente para a economia. Aproveitar o crescimento do ano passado será um desafio, mas estou confiante na nossa resiliência e 2021 trará muitas oportunidades a serem exploradas por todos.

A demanda por financiamento por parte das empresas continuará a crescer, estimulando a procura por linhas de crédito por agentes nas áreas do comércio e da agricultura

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NAÇÃO

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TURISMO

AS (DIFÍCEIS) CONTAS DO TURISMO Depois de sete meses ′out of service‛, a azáfama do final de ano veio dar novo fôlego ao sector que chegou a reduzir a produção e facturação em até 95%. Finalmente a maior parte das principais estâncias turísticas do País voltaria a ter casa cheia. Mas foi ‘sol de pouca dura’, já que apesar das perspectivas animadoras, as novas vagas e a mutação do vírus ameaçam voltar a pôr tudo a perder, derrubando de vez o já fragilizado turismo nacional

a

Texto Celso Chambisso • Fotografia Shutterstock & D.R.

hora de trégua da tempestade é a propícia para contabilizar os estragos e arregaçar as mangas para repor a ordem. É o que se assiste no sector do Turismo, um dos mais (senão o mais) penalizados pela pandemia do novo coronavírus. Ainda não há dados oficiais sobre o que realmente aconteceu. Entidades competentes ainda fazem o levantamento, podendo disponibilizá-los até ao fim do primeiro trimestre. Mesmo assim, a E&M recorre às estimativas apresentadas pelos operadores e a uma breve leitura dos dados de 2019 para tentar elucidar a dimensão da crise que a limitação da circulação de pessoas aqui e em todo o mundo veio criar a um sector inimigo dos confinamentos. A estrutura do turismo nacional está fortemente concentrada na cidade capital do País (ver infografia). O INE estima em 78% o volume de actividade turística só em Maputo. O volume de negócios representa 73%. Com todo o potencial turístico de dimensão mundial que há noutros pontos fora da capital – sobretudo em Inhambane, Nampula e Cabo Delgado, sem falar em importantes áreas de conservação que se espalham por outras províncias, como a Gorongosa – a explicação para o elevado peso de Maputo como principal destino está no facto de o turismo que se faz no País ser predominantemente de negócios e não de lazer, sendo a capital o grande epicentro dos negócios e o centro de todas as decisões. Mas que relação se estabelece entre a crise e a grande concentração da actividade turística na cidade de Maputo? A partir do momento em que o mundo parou, deixou de haver negócios. Os hotéis deixaram de receber as grandes reuniões nacionais e internacionais e os restaurantes já não tinham a quem servir. Várias unidades com tradição no mercado, como o Hotel Cardoso, Radisson, etc., continuam fechados. Consta, ainda de acordo com os dados do INE, que Maputo é a cidade que mais emprega, com mais de 46% do total.

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É também em Maputo que os operadores do turismo mais remuneram, com um peso de 65,5% do total. Ora, se a crise resultou no despedimento de mais de 18 mil trabalhadores, correspondentes a 40% do total, grande parte deles terá sido na capital do País, onde a queda da actividade foi mais acentuada. Por outro lado, as estâncias tiveram de reduzir os salários dos trabalhadores que escaparam aos despedimentos. Sendo a cidade que paga mais, conclui-se que, também neste aspecto, Maputo tenha sido a mais penalizada. Em suma, com todo o peso que Maputo tem, basta apenas que o turismo desta cidade esteja “doente”, para que o resultado global do exercício do sector seja mau. Mas, neste caso, a crise foi à escala nacional… e internacional. Em Moçambique, os prejuízos do sector são agora estimados em mais de 4,6 mil milhões de meticais pelo empresariado, o que fica por confirmar quando os dados oficiais estiverem disponíveis. Na voz dos investidores A E&M ouviu operadores do sector em diferentes pontos do País. Todos falam de uma situação difícil de lidar, que nunca se tinha verificado antes, com efeitos terríveis ao nível do negócio. Em todos os casos, a redução da facturação levou a despedimentos massivos e a incertezas sobre a continuidade dos empreendimentos perante a imprevisibilidade do fim dos confinamentos. Caos na hotelaria Dado Gulamhussen, director de operações do VIP, um dos maiores grupos hoteleiros do País, revela que começou a sentir os efeitos negativos do novo coronavírus em Janeiro do ano passado quando houve adiamentos das reservas, que acabaram por se transformar em cancelamentos. “Devido a isso, fechamos o VIP Grande Maputo, que fica na Avenida 25 de Setembro, no dia 25 de Março e sem

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NAÇÃO OS NÚMEROS DO TURISMO EM 2020

MERCADO CONCENTRADO EM MAPUTO

No ano passado, a CTA traçou um cenário difícil para este ano, com os números a representarem uma queda sem precedentes

Os dados mais recentes são de 2019. Mesmo assim, valem por mostrar o acentuado desnível do mercado

Sector caiu a todos os níveis

Peso do volume de negócios em %

4 636

maputo cidade

milhões de meticais Volume de negócios perdido

c. delgado

73 7

inhambane

4,3

95%

gaza

3,7

Taxa média de perda de negócios na hotelaria e restauração

manica

2,7 nampula

2,1

18

zambézia

mil trabalhadores Tiveram de ser dispensados

prov. maputo

2,1 2

sofala

1,3

-32%

tete

1,2

Taxa de crescimento (negativo) do sector Fonte CTA

niassa

0,5 Fonte INE

previsão de abertura porque estávamos no início da pandemia e do Estado de Emergência, tanto em Moçambique como em Portugal, onde o grupo também tem operações”, explicou. Assim, o Grupo passou a operar com apenas duas de um total de cinco unidades, uma em Tete e outra em Maputo, mas com muitas restrições devido às readaptações impostas pela pandemia. Também teve de despedir 77 dos seus mais de 400 funcionários. A crise também levou à suspensão de alguns projectos que estavam previstos para 2020, nomeadamente o início da construção de uma unidade hoteleira com uma área ampla de apartamentos independentes e casas iluminadas, e outras infra-estruturas em Cabo Delgado, bem como a ampliação do hotel da cidade da Beira. Para avançar com ambos os projectos, o VIP está agora à espera de ver se o desempenho deste semestre será ou não favorável. Dificuldades em Gaza e Inhambane Quessanias Matsombe, administrador do complexo “Humula”, na praia do Bilene – uma das preferenciais atracções do turismo de praia do País –, refere que “desde Abril do ano passado, as nossas duas unidades fecharam em resultado da declaração do Estado de Emergência… e só reabriram em Novembro. Tivemos de reduzir a força de trabalho em 25%, para além de medidas de reajustamento estrutural e de funcionamento da empresa. Todos os trabalhadores ficaram em casa, sem remuneração. Para garantir a segurança das instalações e de todo o património da empresa, mantivemos os trabalhadores afectos à área de segurança e protecção, manutenção de infra-estruturas e de direcção”.

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O grupo VIP teve de despedir 77 dos seus mais de 400 funcionários e suspender alguns projectos de expansão que estavam previstos para o ano passdo Foram sete meses sem nenhum cliente e com 70% de trabalhadores em casa. Matsombe considera que esta não terá sido apenas a situação das suas estâncias, mas de todo o turismo de Bilene, na província de Gaza. A E&M também ouviu Yassin Amuji, presidente da Associação de Turismo de Vilankulo, ponto incontornável do turismo nacional. Co-proprietário de uma das estâncias turísticas, o responsável falou também em nome de toda a região de Vilankulo. Estima que, de Março a Julho, Vilankulo registou entre zero e 5% de ocupação das estâncias; de Agosto a Setembro teve entre 20% e 25%; e dali em diante foi crescendo, sendo que em Outubro, Novembro e Dezembro foi atingindo 30%, 40% e 90%, respectivamente, tendo chegado aos 100% de ocupação nas datas festivas de Natal e do fim de ano. Apesar da franca recuperação, sublinha que a estabilidade ainda está longe do regresso. Quebras de 99% nas agências de viagens Noor Momade, presidente da Associação dos Agentes de Viagens e Operadores Turísticos, AVITUM, actualmente com mais de 100 membros, fala de um cenário devastador nos negócios, com “quebras recorde, na ordem dos 99%”. “Para termos noção, a compra de voos em Moçambique movimentava consistentemente mais de 120 milhões de www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021


TURISMO DESTINOS PREFERENCIAIS PARA NACIONAIS… Se a cidade de Maputo é líder deste “ranking”, não será por outra razão que não seja o facto de o turismo de negócios ser predominante e a capital ser o epicentro. Caso contrário, Inhambane, Pemba ou Nampula destacar-se-iam, dadas as atracções de nível mundial Hóspedes nacionais por província em %

INHAMBANE TETE

PROV. MAPUTO

2,9

3,8

NIASSSA

2,6

4,6

CABO DELGADO

4,7

5,3

TOTAL

ZAMBÉZIA

100

46,2

CIDADE MAPUTO

6

SOFALA

7,4

GAZA

8

8,5

MANICA

dólares por ano. Em 2019, antes da pandemia, registou um crescimento acima de 28% para mais de 150 milhões. Por isso, para as agências e operadores turísticos, verdadeiros e intermediários entre o produto turístico e o consumidor, este bloqueio ao nível da aviação comercial foi o princípio do fim”, descreve o responsável. Noor Momade revela, igualmente, que para a International Air Transport Association (IATA), esta crise levará a indústria aérea a perdas anuais recorde, na ordem dos 84 mil milhões de dólares, e os efeitos de 2020 irão perdurar nos próximos anos, com perdas para 2021 estimadas acima de 15 mil milhões. “Sem voos, a paralisação ao nível das agências de viagens foi quase total, impactando milhares de famílias ligadas directa ou indirectamente ao sector. Muitas agências, infelizmente, acabaram mesmo por encerrar definitivamente e à medida que os meses passam e a indefinição persiste, a recuperação é cada vez mais difícil para muitas outras que aguentaram o primeiro ano”, lamentou, acrescentando que “perdeu-se muito mais do que receita. A confiança das pessoas ficou abalada. O hábito de viajar em segurança foi afectado e por isso a recuperação não retoma na mesma velocidade com que se perdeu”. Um agravante: apoios tiveram pouco impacto Lembra-se da ajuda avaliada em 1,6 mil milhão de meticais aprovada pelo Executivo para apoiar empresas em dificuldades? Algumas empresas beneficiárias reportam resultados pouco expressivos destes instrumentos. É preciso notar que tal apoio consistia no diferimento do www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021

NAMPULA

…. E PARA ESTRANGEIROS Os expatriados são relativamente mais atraídos pelo turismo de sol e praia da província de Inhambane. No entanto, estes pontos turísticos também estão entre os mais visitados pelos nacionais sobretudo em ocasiões festivas Hóspedes estrangeiros por província em %

GAZA

1,7 MANICA

2,1

ZAMBÉZIA

1,1

TETE

1,1

NAMPULA C. DELGADO

2,8

NIASSA

1

SOFALA

1

3,4

PROV. MAPUTO

5,1

TOTAL

100 9,7

INHAMBANE

71

CIDADE MAPUTO Fonte INE

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NAÇÃO MAPUTO TAMBÉM EMPREGA MAIS… A crise tirou emprego a cerca de 18 mil trabalhadores, quase 40% do total. Pelo peso que a capital do país representa, fica claro que foi aqui onde mais gente terá ficado sem trabalho. Estrutura total dos trabalhadores por província (%)

TETE

3,4

PROV. MAPUTO

NIASSA

2,3

4,3

SOFALA

4,5

ZAMBÉZIA

5,1

MANICA

5,1

TOTAL

100 46,2

CIDADE MAPUTO

5,8

INHAMBANE

6,7

9,3

C.DELGADO

GAZA

7,3

NAMPULA

… E REMUNERA MAIS Na verdade, com muitas estâncias encerradas e outras a funcionarem a meio gás, os números actuais estão muito abaixo dos que se apresentam neste gráfico Em %

2,7

ZAMBÉZIA

SOFALA

2,2

TETE

1,9

2,8

PROV. MAPUTO

NIASSA

0,9

2,8

MANICA

3,3

INHAMBANE

TOTAL

100

4

NAMPULA

5,3

GAZA

46,2

CIDADE MAPUTO

8,7

C.DELGADO Fonte INE

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“Enquanto a retoma da aviação continuará a oscilar... uma semente pode ter ficado plantada em cada um de nós: a hipótese real de fazer turismo no nosso País” pagamento dos impostos e dos encargos da segurança social junto do INSS para todas as empresas (incluindo as de outros sectores), além dos mil milhões de meticais cujas regras de financiamento foram definidas pelo Banco Nacional de Investimentos (BNI). “Tanto quanto sabemos a Autoridade Tributária não concedeu facilidades relevantes para o sector, para além de adiar a cobrança de impostos devidos pelas empresas. A isso não podemos chamar de facilidade, porque não perdoou nenhuma dívida. Quanto aos apoios do INSS é importante realçar que a única diferença entre o crédito Covid-19 do BNI (fundos do INSS) e o crédito que tem vindo a ser concedido por outros bancos comerciais reside apenas na taxa de juro aplicado. Por outras palavras, as exigências para esta facilidade são as mesmas colocadas por qualquer outro banco comercial”, constatou Quessanias Matsombe. O gestor sublinhou ainda que se torna difícil aceitar que a elegibilidade de uma empresa para esta facilidade tenha de estar condicionada a resultados positivos dos últimos três exercícios económicos, sabendo-se do fraco desempenho da economia nos últimos quatro a cinco anos em resultado de vários factores, dentre eles as dívidas que não tinham sido declaradas. Yassin Amuji faz uma leitura semelhante: “o impacto do apoio concedido pelo INSS foi insignificante e o adiamento do pagamento de impostos também não se fez www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021


TURISMO trouxe uma nova dinâmica e acredito que, porque as agências moçambicanas de viagens não tinham como vender pacotes para fora, começaram por encontrar soluções internas e a contactar mais ainda os hotéis espalhados pelo País, sobretudo os da província de Inhambane, o que terá ajudado o turismo doméstico a perceber que afinal há condições para fazer turismo internamente”.

sentir muito, olhando para a balança dos gastos dos operadores turísticos. Por exemplo, se um hotel tem um hóspede, o custo de operação não é diferente de ter 50 hóspedes porque as luzes e ar-condicionados têm de estar ligados, a piscina e os restaurantes a funcionar. Assim, acumulámos vários gastos sem nenhuma entrada”, desabafou. Estes operadores, ainda assim, tiveram assistência. Mas as grandes cadeias, como o Grupo VIP, não chegaram a beneficiar de qualquer ajuda, dada a grande dimensão do seu empreendimento. Caso a situação de crise se prolongue este ano, o VIP não terá outra saída que não seja solicitar o diferimento do pagamento das facturas de água e electricidade, que têm peso importante na estrutura de custos.

E o futuro? Para quando a recuperação? O relaxamento das medidas de prevenção e a quadra festiva melhoraram substancialmente os indicadores do sector, com quase todos os operadores a registarem taxas de ocupação em 100% e fazendo esquecer, por um instante, a dureza de uma crise recente. A província de Nampula, por exemplo, chegou a registar um fluxo de 50 mil turistas durante a quadra festiva. Apesar de significar a redução de 20 mil, em comparação com o ano anterior, representa um avanço assinalável para o ambiente que havia poucos meses antes. Mas a quadra festiva já passou e hoje fazem-se novas contas. Umas pessimistas e outras nem tanto, alimentadas por fenómenos como o impacto da vacina, as novas vagas e as novas variantes da doença. “A vacina tem sido a luz ao fundo do túnel na maioria dos cenários e previsões mais optimistas e menos optimistas. No entanto, e como vemos com o aparecimento desta nova variante, o momento continua a ser de absoluta incerteza. Esse contexto, por si só, é muito desfavorável à recuperação do que quer seja”, observou o presidente da AVITUM. Noor Momade entende que a recuperação será demorada e é importante perceber que acontecerá a muitos níveis, tanto do lado da oferta como da procura, do produto e serviço turístico, sendo que, “primeiramente, temos de recuperar confiança e garantir segurança e por isso temos de nos esforçar, enquanto sector, em mostrar que estamos preparados para incorporar o que for necessário para que todos se sintam confiantes em comprar e fazer turismo”. Céptico, Quessanias Matsombe diz que ninguém sabe o que vai acontecer no País relativamente à recuperação económica das empresas do sector do turismo, devido a questões relacionadas com a eficácia da vacina, por um lado, e ao surgimento das mutações do vírus, por outro. “Este panorama leva-nos a uma situação de não acreditarmos que, mesmo que Moçambique venha a ter vacina este ano, o processo da sua administração traga resultados que possam relançar o turismo no País ainda este ano. Como empresários temos a obrigação de sermos cautelosos”, advertiu.

Com a crise, um ganho: o olhar para dentro! Entretanto, há males que ajudam a perceber melhor a natureza dos problemas. Os operadores entendem que a crise veio despertar a consciência da importância de promover o turismo doméstico. Como? Noor Momade explica que o relaxamento das medidas, em Setembro, veio permitir que algum movimento de recuperação começasse a surgir e a descoberta e o interesse pelo produto turístico nacional foi o aspecto mais positivo no meio de toda esta crise. “Enquanto a retoma da aviação e a consequente disponibilidade de voos no País continuará a oscilar de acordo com a evolução do combate à pandemia, uma semente pode ter ficado plantada em cada um de nós: a hipótese real de fazer turismo no nosso País”. Na mesma linha, Yassin Amuji constatou que “a pandemia

O ano da viragem? Mais optimista, o presidente da Associação de Turismo de Vilankulo, Yassin Amuji, aponta a vacina como uma boa-nova, apesar de que ela levará o seu tempo (quase seis meses) até chegar ao País. “Penso que nos próximos tempos, para as pessoas se deslocarem de um país ao outro, será exigido um cartão de vacina, à semelhança do que se tem feito no caso da febre amarela. Acredito que irá ajudar a reanimar o sector, mas de forma gradual e, até Dezembro de 2022, será a vez de dar a volta aos efeitos negativos desta pandemia”, estimou, repisando que, para este ano, espera um desempenho favorável de um turismo cada vez mais focado no mercado regional, uma vez que os voos internacionais serão cada vez em menor número até que a pandemia esteja controlada.

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NAÇÃO

“É IMPORTANTE NEGOCIAR PARCELAMENTO DAS DÍVIDAS” Arcar com os encargos das facilidades concedidas pelo INSS e Autoridade Tributária é a grande meta do empresariado da área do turismo, de acordo com Rui Monteiro, da Confedereção das Associações Económicas Texto Celso Chambisso • Fotografia Mariano Silva:

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stock da dívida acumulada pelos operadores com a isenção do pagamento da Segurança Social e de impostos não é conhecido, mas o sector privado está certo de que é suficientemente grande para exigir modalidades de pagamento mais facilitadas, o que terá de ser negociado com as duas instituições do Estado, já que nada terá sido previamente combinado a este respeito. É importante recordar que no pico da crise, em 2020, o pedido de apoio de todas as empresas terá sido respondido de diversas formas, que se resumiram no diferimento do pagamento de impostos, 600 milhões de meticais em facilidades para com os custos do INSS, 1000 milhões de meticais concedidos através do Banco

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Nacional e de Investimentos (BNI), entre outras. As empresas de turismo terão beneficiado também de parte destes recursos. Embora o empresariado acredite haver condições para que o sector comece a recuperar a partir deste ano, reitera o apelo para o bom senso das autoridades no sentido de aliviar a pressão depois de ter registado perdas totais calculadas em 340 milhões de dólares no ano passado. Rui Monteiro, Presidente do Pelouro da Hotelaria e Turismo ao nível da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA, a principal entidade patronal do País), fala da dimensão dos estragos que a pandemia trouxe e das fórmulas para resolver os obstáculos ao desenvolvimento do sector. Também está optimista de que este ano será melhor do que o passdo.

Para começar, se calhar faz mais sentido revisitar o cenário do ano passado de ponto de vista de perdas que o sector do turismo enfrentou e da situação a que os investidores estão, agora, sujeitos. Cronologicamente, nós começámos a sentir os efeitos do covid-19 a partir de Fevereiro de 2020, quando se intensificaram os adiamentos das reservas. Isso penalizou, principalmente, os resorts, que vivem de reservas muito adiantadas. Já a partir de Março a situação começou a ficar crítica porque além do adiamento verificou-se o cancelamento das reservas e a indústria ressentiu-se. Como deve saber, os custos fixos ao nível da hotelaria são bastante elevados e os recursos humanos são o principal custo além do investimento inicial em infra-estrutura e da www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021


ENTREVISTA Mas houve um pacote de estímulos aprovados para minorar a crise, um dos quais através do alívio dos encargos com o INSS… que impacto teve? Houve países em que foram criadas comissões específicas e aqui também foi criada uma comissão para tratar deste assunto com o sector privado. Mas pouco ou nada foi desenvolvido. Assim, todos os parâmetros da lei mantiveram-se como se estivéssemos a funcionar num período normal. Obviamente, muitos de nós ficámos endividados perante a Autoridade Tributária, perante o INSS e outras entidades, e usámos os empréstimos para pagar trabalhadores. Agora, o que prevemos é que 2021 terá de ser o ano de início da reposição desses valores, mas vamos ter de negociar com todos os nossos credores para ver se conseguimos pagar em prestações e ver como conseguimos dar a volta a esta situação, uma vez que ainda não temos capacidade porque o turismo ainda não recuperou. Mesmo que as estâncias tenham estado cheias em Dezembro, foram apenas dez dias, que no universo de 365 será insignificante. Seguramente haverá muito por se fazer para reestabilizar as contas.

não ver a reacção da Autoridade Tributária perante estas dívidas. Teremos de, em conjunto, coordenar as modalidades de pagamento senão podem encerrar muito mais empresas do sector que não conseguirem pagar. Depois de uma fase muito difícil desde o início do ano até ao relaxamento das medidas de prevenção que veio aliviar a pressão, o que dizer da situação presente? É boa. O que o Governo tem feito ao nível da abertura do País tem sido benéfico ao desenvolvimento do turismo. Não há dúvida disso. Só o facto de transformar o teste do covid-19 de 14 dias para 72 horas mudou o cenário para muitas das estâncias que estão ao longo da costa que vivem graças aos turistas sul-africanos. Há muita coisa que se está a desenvolver, mas, mais uma vez, estamos todos a pôr os pés em sítio que não conhecemos, embora haja uma ânsia de querer começar a operar dentro dos parâmetros do covid-19, que não é fácil. Tudo isso representa custos adicionais e acredito que o turismo terá de fazer uma movimentação para outro patamar imposto por hábitos diferentes. Por exemplo, o turista entrava num hotel e já seguia para um bar ou restau-

“Há muita coisa que se está a desenvolver, mas estamos todos a pôr os pés em sítio que não conhecemos, embora haja uma ânsia de querer começar a operar dentro dos parâmetros do covid-19, que não é fácil” energia. Perante a crise, a maior parte dos operadores recorreu ao Artigo 123 da Lei do Trabalho, que diz que nós (investidores) podemos suspender pessoas pagando 75% do salário no primeiro mês, 50% no segundo e 25% no terceiro. Mas depois não houve informação, por parte do Governo, sobre o que se seguiria dali em diante. Ou seja, não se sabia se continuaríamos a pagar 25%, com o agravante de o mercado ter ficado cada vez pior. Assim, houve muita gente que teve de entrar em acordos individuais com os trabalhadores de modo a mantê-los, mas mesmo assim perderam-se muitos trabalhadores: quase 18 mil, representando perto de 40% do total dos trabalhadores da hotelaria e turismo do País. Os restantes sofreram redução de salários. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021

Em quanto está avaliada a dívida total dos operadores turísticos para com o sistema? Não sei dizer. Mas, ao nível de perdas, o sector da hotelaria e turismo terá alcançado os 340 milhões de dólares no ano passado.

rante, mas hoje é preciso desinfectante, máscaras e outras coisas que custam dinheiro, com o agravante de se ter cortado o número de lugares para a metade ou menos, em respeito ao distanciamento físico. Tudo isso tem de ser posto na equação dos preços.

Acredito que a negociação para a facilitação das modalidades de pagamento já tenha começado. Há abertura dos credores nesse sentido? Ou nem por isso? Tentámos pedir, junto do Conselho Municipal de Maputo, uma moratória no pagamento do imposto predial, que foi por este bem acolhido, mas o assunto voltou a esmorecer e temos de voltar à luta. Quanto à Autoridade Tributária e ao INSS, temos de cumprir a lei e não há saída se-

Quer dizer que o sector está a equacionar o agravamento de preços dos serviços para compensar a subida de custos? Não é assim tão linear e já explico porquê: com a impossibilidade de viajar, muitas pessoas que iriam gastar dinheiro fora do País hoje o gastam internamente. Muito embora algumas estâncias sejam caras para o bolso normal, actualmente estão a olhar para o mercado no sentido de conseguirem desenvolver.

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NAÇÃO Normalmente uma estância tem o mínimo possível para manter os quartos abertos ou fechados e agora tem de trabalhar muito mais nesses números para chegar a um rácio que tenha solvabilidade e, ao mesmo tempo, ir buscar mercado para pagar esse valor. E esse mercado existe. Por exemplo, com a abertura da Ponta do Ouro, muita gente está a fazer o uso de estâncias e até de casas turísticas que acolhem o mercado de Maputo. Durante o Natal, a província de Inhambane recebeu bastante mercado doméstico. Agora, o que nos interessa é ir buscar mercado. Há muitas estâncias ao longo da costa que estão a ganhar muito menos, mas, ao mesmo tempo, estão a conseguir manter o negócio. Por isso creio que em 2021, os lucros vão ser muito menores por causa de custos maiores. Assim, aproveito para fazer um apelo ao Governo, já que um dos maiores clientes é o Estado, no sentido de priorizarmos o turismo doméstico. As reuniões do Estado em algumas estâncias deixaram de acontecer, mas era bom que retomassem. O nicho de mercado que alguns hoteleiros vão buscar será o mercado local de conferências que também existe. Da parte do Governo, que medidas o sector privado anseia para que o turismo possa descolar? Fomos ter com o Governo a fazer alguns pedidos porque estávamos a ver as coisas a irem a pique para baixo e sem capacidade de resposta. Estamos vivos, por enquanto, mas muito deficientes. Acredito que agora o mais importante será conseguir negociar com o Governo o pagamento das dívidas. Há empresas que conseguiram pagar porque tinham cash flow suficiente, mas a maioria não conseguiu. Infelizmente, a nossa legislação é muito dura. Não há abertura para estas negociações. Ao mesmo tempo, é necessário criar uma comissão para discutir estas preocupações, o que ainda não foi pensado. Quais são, em concreto, as facilidades que os operadores ainda procuram? Algumas moratórias com facilidades de pagamento. Há uma coisa que é importante frisar: nunca pedimos que nos dessem qualquer coisa sem contrapartida. Pedimos moratórias para pagar posteriormente em prestações.

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“Agora, o que nos interessa é ir buscar mercado. Há muitas estâncias ao longo da costa moçambicana que estão a ganhar muito menos do que antes, mas, ao mesmo tempo, estão a conseguir manter o negócio” De alguma forma, a Autoridade Tributária e o INSS têm sido muito compreensivos nesta situação, mas o problema é que não está nada escrito. Se um dia acordam mal-dispostos e dizem que querem o dinheiro hoje, não teremos alternativas. A vacina contra o novo coronavírus renova a esperança de uma recuperação mais célere. Em que medida vai ajudar? Houve uma reunião recente, em que o Presidente da República recebeu vários presidentes da região para discutir a situação da pandemia na região, incluindo a questão das vacinas. Mas não há datas. E o negócio da hotelaria funciona com reservas, sendo que neste momento já são muito reduzidas. Portanto, nós não sabemos quando vai haver um volte face. É preciso que as coisas aconteçam porque o turismo é uma indústria reactiva. Se acontece uma coisa má, como a que está a acontecer em Cabo Delgado, por exemplo, o País ressente-se posteriormente. Além disso, hoje em dia, as tecnologias de comunicação que se desenvolveram muito terão impacto negativo ao nível da ocupação das estâncias,

já que os turistas não precisam de se deslocar para cá para ter uma reunião. Já é possível por Zoom, Skype, etc. há muitas coisas pequenas que terão impacto na ocupação dos hotéis. Se tivesse de tirar uma fotografia da imagem de todo o sector do turismo este ano, que imagem nos apresentaria? Acredito que este ano será melhor que o ano passado. Mas ainda não sabemos o quanto. Depende muito da nossa actuação como País, como povo, essencialmente a forma como nos iremos comportar perante as medidas impostas pelo Ministério da Saúde em relação ao covid-19. Além disso, a Inspecção Nacional das Actividades Económicas (INAE) está com muita força a aplicar a legislação e as medidas de prevenção e combate à pandemia e, ao mesmo tempo, o sector privado está sequioso de fazer receita. Então, estão (INAE) a arranjar outras formas de conseguir a receita que não vão ao encontro com os parâmetros do covid-19. Mas, de resto, vejo 2021 com melhores olhos do que via, por exemplo, em Setembro do ano passado. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021



NAÇÃO

VACINA TIRA TURISMO MUNDIAL DA ′HIBERNAÇÃO‛ A crise do turismo mundial em 2020 é já considerada a pior da História pela Organização Mundial do Turismo, que agora prevê o início da recuperação já em 2021 graças à vacina contra o covid-19 Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.

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A organização mundial do turismo (omt) estima a queda de receitas do sector em 1,1 bilião de dólares (cerca de 900 mil milhões de euros) no ano passado, podendo levar a uma queda do PIB mundial de cerca de dois biliões de dólares (aproximadamente 1,63 biliões de euros), devido às restrições no movimento de pessoas, adoptadas para travar a pandemia do covid-19. Estas restrições poderão ter reduzido em mil milhões o número de chegadas internacionais de turistas no mundo. Já o Fórum Mundial de Turismo (WTF na sigla em inglês) estima em 98% a queda ocasionada pela suspensão das viagens e de todas as actividades ligadas ao turismo. São números cujas estatísticas oficiais ficam por confirmar nos próximos meses, mas que não deixam dúvidas de que houve muitas perdas num ano só, daí o alívio que a perspectiva de retoma traz aos mercados. Para este ano, tanto a OMT como espe-

cialistas de várias entidades do sector ao nível global acreditam que a vacina contra o novo coronavírus tem efeito disruptivo na profunda queda que se verificou, mas avisam que a recuperação efectiva levará mais dois ou três anos. Para a Organização Mundial do Turismo (OMT), os destinos rurais serão fundamentais na recuperação do sector em 2021, cuja agenda também estará marcada por uma transição para um modelo mais sustentável e de respeito pelo meio ambiente. De acordo com o secretário-geral da OMT, Zurab Pololikashvili, que falava durante uma reunião virtual do organismo realizada recentemente a partir de Lisboa, o principal objectivo deste ano é “criar novos trabalhos e dar mais oportunidades aos que vivem nas regiões rurais, pois durante a pandemia o modelo turístico viveu uma transformação para um turismo dentro do próprio país, longe da concentração e orientado para o interior”.

Para a Organização Mundial do Turismo, os destinos rurais serão fundamentais na recuperação do sector em 2021, cuja agenda também estará marcada por uma transição para um modelo mais sustentável

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O papel da vacina O secretário-geral da OMT também destacou que a campanha de vacinação “vai ajudar a restaurar o turismo e a conseguir que 2021 seja melhor em resultados do que 2020”. Avisou, no entanto, que tais resultados não poderão ser vistos com clareza de imediato, já que alguns dos principais mercados como a China, Rússia ou os Estados Unidos vão evoluir de forma diferente à da União Europeia (UE). Zurab Pololikashvili também destaca, como condição necessária para a recuperação, a necessidade de criar um protocolo padrão e harmonizado para todos os países através do “intercâmbio e coordenação das ideias para conseguir viajar de uma forma segura e responsável”. Ainda a propósito do impacto da vacina contra o covid-19 no turismo, o director do Instituto do Fórum Mundial de Turismo (WTF), Bulut Bagci, revela ter “absoluta certeza de que o mundo se normalizará depois de Maio de 2021 e que aos poucos o turismo voltará ao normal até 2024”. Admitindo que o sector não tem condições de continuar a arcar com medidas fortes de restrições por mais www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021


TURISMO um ano, já que várias empresas de aviação estão à beira da falência, o especialista adicionou outras condições capazes de estimular a actividade turística. “As pessoas agora verificam se há um hospital por perto quando vão de férias”, constatou, apresentando o exemplo da Turquia, cuja “iniciativa de construir hospitais urbanos está a ser muito importante para o sector de turismo deste país”. Entretanto, é preciso notar que a onda de novas vagas da pandemia bem como o aparecimento de novas variantes da doença podem pôr em causa todo este optimismo. Líder mundial também acredita na recuperação Nem a dura queda da facturação da operadora alemã TUI, o número um do turismo mundial – que registou um prejuízo estimado em mais de 3 mil milhões de euros no ano passado depois de lucrar 416 milhões de euros no ano anterior –, retira a “fé” na

OS DEZ DESTINOS DE 2021 Das dezenas de publicações disponíveis, a E&M vai pela selecção dos especialistas da Lonely Planet por ser uma das principais editoras de guias de viagens a nível global

INGLATERRA

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COSTA RICA

URUGUAI

MARROCOS

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BUTÃO

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MACEDÓNIA

5

ESWATHINI

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HOLANDA

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LIBÉRIA

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mudança para melhor a partir deste ano. “A pandemia não acabou, mas há luz no fim do túnel, e as perspectivas para o turismo e para a TUI são boas… 2021 será um ano de transição e atingiremos o nosso nível pré-coronavírus em 2022”, estimou a multinacional em comunicado. Para responder à dureza da crise, em Maio do ano passado a TUI teve de lançar um severo plano de reestruturação que, em princípio, resultará na perda de 8000 dos mais de 71 mil postos de trabalho em todo mundo, assim como de 20% da sua frota de aeronaves. O grupo beneficiou de importantes pacotes de estímulo por parte do Governo, dos quais um plano de apoio misto (público e privado) de 1,8 mil milhão de euros no início de Dezembro. Já no início de Janeiro do presente ano, A Comissão Europeia aprovou um apoio adicional de 1,25 mil milhões de euros para recapitalização da TUI para minimizar o risco de insolvência.


NAÇÃO KITESURF ANIMA MAPUTO MAS... NÃO É PARA TODOS Felizes, aparentemente, equilibrados numa prancha, os amantes de kitesurf encontraram, em Maputo, o lugar perfeito para a prática de uma modalidade que tem cada vez mais acólitos no País

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Texto de Elamano Madail • Fotografia de Mariano Silva: ste desporto é “belíssimo, mas não é nada barato”, adverte Brecht Mommen, ainda ofegante e a sacudir do corpo o mar que cruzou há instantes. “O equipamento tem muitas peças, algumas frágeis e todas muito caras”, reitera o holandês. O homem de 44 anos contabiliza o pecúlio já investido desde a descoberta do kitesurf no arquipélago melanésio de Vanuatu, lá para as bandas do Pacífico, pouco antes de rumar a Moçambique: 3500 euros (250 mil meticais). “Não é barato”. Não é. Aparentemente. Porque o preço assenta numa relação entre custo e benefício, sublinha o homem que salpicou de kites os céus da capital. “Não tens de comprar material novo, principalmente se estás a começar”, diz Daniel Genovese, italiano do Lago de Como, perto de Milão. “Um equipamento básico usado – a “vela” (o kite), uma barra, o arnês e uma prancha – custa 70 mil meticais. Se cuidares bem do material, pode chegar aos três anos sem problemas”, diz, adiantando as contas que lhe sustentam a razão: “Dividido por 36 meses, fica bem mais barato do que beber cerveja! Portanto, só custa o investimento inicial”, observa, rematando: “E o dinheiro investido no desporto nunca é mal gasto”. Não deixa de ser dinheiro, porém. Matéria que, não obstante vil, todos querem sobejante e poucos possuem à medida das expectativas. Principalmente num dos dez países mais pobres do Mundo, com um rendimento per capita de 453 dólares (30 mil meticais), segundo dados do Banco Mundial em 2019. Por isso, a clientela de Daniel, instrutor de kitesurf aportado em Moçambique há oito anos após uma busca pelo

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“spot” perfeito, é constituída, alega, por “classe média, média alta” – categorias que o contexto nacional traduz por expatriados ao serviço das multinacionais, das embaixadas e das Organizações Não Governamentais (ONG).! Terapias eólicas

Sílvia Pieretto é o paradigma desse perfil. Também ela italiana, chegou a Moçambique provinda de Treviso, próximo de Veneza, pela primeira vez em 2015. Uma experiência inesquecível (e inconfessada...) que lhe plantou no coração o desejo de regressar. Cumpriu em Outubro passado, já com 30 anos e com uma posição confortável numa organização internacional dedicada à segurança alimentar. E, na proa da lista de coisas para fazer em Maputo, estava o kitesurf. “Mal cheguei, vim logo até à praia à procura de um instrutor”, diz. Encontrou Daniel perto do Bairro dos Pescadores, instalado no areal defronte a três árvores semi-submersas, sob um velho kite convertido em sombra provisória e longe do bulício da Costa do Sol, seguindo com os olhos claros a evolução dos pupilos. De modo que, aos fins-de-semana, sempre que o vento sopra de feição, Sílvia Pieretto espalha a graça feminil pela baía que já foi do Espírito Santo. “É uma sensação de liberdade, e, ao mesmo tempo, uma força inusitada, porque não dá para ver - é o vento que nos levanta”, diz Pieretto, tentando explicar o fluxo de emoções que a seduz. “Este desporto não ocupa só o corpo, mas todos os sentidos, porque temos de estar atentos a uma série de factores e, nisso, a cabeça fica ocupada. É altamente terapêutico”, acrescenta. Dessa ocupação absoluta que tudo con-

voca e conquista, do intelecto ao instinto, resulta também um treino supletivo para os executivos que estão obrigados a decidir no quotidiano, e nem sempre com o apoio que desejariam. “Temos de controlar um conjunto de factores ao mesmo tempo, o que contribui para a auto-estima e para a capacidade de lidar com o inesperado sem algum tipo de ajuda imediata. Isso dá-nos, claro, competências úteis no nosso trabalho”, advoga Mommen, especialista da UNICEF na gestão de recursos hídricos que confessa o seu vício: “Quando estou no escritório e vejo o vento a levantar, fico imediatamente www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021


TURISMO

impaciente por sair e vir para a praia com o kite e aproveitar o fim do dia”. Uma vida a deslizar

Profiláctico ou paleativo, recreativo ou didáctico, o kitesurf é uma paixão tão arrasadora que chega a levar os amantes à consagração de toda uma vida. Tal como um casamento. E já lá vão 20 anos desde que Genovese abraçou o conúbio com a modalidade, o mar e o sol, levando-o pelos quatro cantos do mundo até experimentar Moçambique. “Tinha duas empresas mas, porque era jovem e queria viajar para fawww.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021

zer kitesurf nos melhores lugares do mundo, passei-as para familiares”, conta Daniel. Uma vez livre e já na Pérola do Índico, foi amor à primeira vista: “No momento em que cheguei, disse: ‘É isto!’. Eu viajava seis meses por ano, a ensinar kite em vários países, e estava justamente à procura de um lugar quente — não gosto do frio — e vi que, aqui em Moçambique, tinha tudo para dar certo: bom clima e boa gente”. Estava-se, então, em 2012, no zénite da excitação económica provocada pelos investimentos públicos e privados e, no horizonte próximo, a promessa de um paraíso petro-

lífero e naturalmente gaseificado que aguarda confirmação, ano após ano. Sem hesitar, Daniel instalou a escola de kitesurf defronte ao Bairro do Triunfo em plena Costa do Sol. Mas, volvido pouco tempo, mudou para o Bairro dos Pescadores. Por razões securitárias: “A Praia do Triunfo começou a ficar muito perigosa para o kitesurf por ter demasiados banhistas”, explica Genovese. ”As aulas devem ocorrer em sítios sem ninguém para evitar qualquer tipo de acidentes. Depois sim - quando o aluno é bom, já pode fazer kite em praias com gente”, diz o instrutor.

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NAÇÃO REQUALIFICAR, REPLANTAR, RECICLAR Mais do que desportista, Daniel Genovese abraça um epicurismo temperado pela ética ambientalista. Dessa conjugação resulta, além do resgate de banhistas menos prudentes à placidez enganadora do Índico, a requalificação da Praia das Três Árvores, com a limpeza regular do areal e o combate à erosão costeira. “Quando cheguei aqui, há dois anos, a calçada nem se via. Então pegámos na pá para repor a areia e começámos a plantar relva - tirámos de um sítio com muitas plantas e replantámos onde estava careca. Fizemos isso durante um ano. Agora, a praia está verde”, exalta Daniel. “E temos resultados: as dunas estavam com 30 centímetros, agora têm mais de metro e meio. E a praia também esticou”, observa. Daniel conta com uma ajuda inusitada: os miúdos do Bairro dos Pescadores. “Não peço nada nem obrigo ninguém – apenas digo: Amanhã é dia de limpar a praia. E, no dia seguinte, vêm ter comigo e acompanham-me na limpeza. É isto!”. E um bocadinho mais; é também uma lição de vida. “Doulhes uma perspectiva de futuro”, disse. A Costa do Sol, em Maputo, é um dos pontos de encontro dos praticantes de kitesurf

“Este desporto não ocupa só o corpo, mas todos os sentidos, porque temos de estar atentos a uma série de factores e, nisso, a cabeça fica ocupada. É altamente terapêutico” A relação custo-benefício

Os alunos e candidatos ao domínio dos ventos seguiram o mestre de pele tisnada por mil sóis e curtida no sal das marés para a Praia das Três Árvores. E ali se vêem, no sol declinante da tarde, principalmente às sextas-feiras, sábados e domingos, alguns dos 154 alunos de Daniel em demanda pela alforria. “Ser independente no kitesurf (isto é, saber bolinar, subir o vento), mesmo que nunca tenha feito um desporto de prancha, demora dez dias, no máximo 15. E, depois de aprender, é para sempre – nunca mais esquece”, garante. O custo de chegar à autonomia depende da competência e do esforço do próprio aluno, com o tarifário de Daniel a marcar 1500 meticais por hora. “É mui-

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to barato”, alega o mais novo pupilo de Daniel, acabadinho de chegar da Tasmânia, todo sorrisos e bonomia no rosto de barba rala, concordando e reforçando: “Na Austrália é muito mais caro”, diz o jovem de 25 anos. Com água pela cintura e mãos fincadas na barra de controlo, o desatino de Julian Woods, próprio dos neófitos, dura pouco. “Leva jeito”, comenta Genovese, sem saber ainda que o australiano domina os ares, pilotando drones que entregam, às populações mais recônditas de Moçambique, medicamentos experimentais para a tuberculose. Daniel retorna à questão do preço e recorda que, na Europa, as aulas de kitesurf custam 100 euros por hora (qualquer coisa como 9000 meticais ao câmbio actual). No mínimo.

“E sem este mar, sem esta temperatura”, exalta. “E sem este convívio multicultural”, acrescenta ao rol de virtudes, explicando-se: “Socializas – chega um americano, um árabe, um chinês, um alemão, estão todos na praia a fazer o mesmo, não há diferenças, e trocam experiências, mandam fotos da Arábia, da América, da Ásia, Europa... uns para os outros”, diz. “E para mim também!”. Fotos partilhadas que, não raro, são postais promocionais de cidades costeiras exibindo kites a colorir o perfil urbano. A sugerir uma vida boa, seduzindo um turismo esclarecido e com poder aquisitivo. “Em Melbourne, na Austrália, todos os dias em que o vento começa a soprar, vemos os kites no ar, e todo aquele colorido já faz parte da paisagem”, informa Woods. “É algo que as pessoas reconhecem facilmente. É quase como uma característica da paisagem, uma marca territorial”. Uma dica para o Turismo de Moçambique. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021


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MERCADO E FINANÇAS POUCO SE SABE SOBRE O SECTOR EXTRACTIVO NACIONAL. PORQUÊ? A luta pela transparência na área de minas e hidrocarbonetos começou há vários anos, mas não tem trazido bons resultados. O CIP decidiu aprofundar o tema e traz informação útil

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Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R. ão saber o que é feito dos recursos naturais de um país é ‘meio caminho andado’ para a chamada ‘maldição’ associada ao desperdício dos benefícios plenos da sua exploração, podendo defraudar a expectativa do fim da pobreza e da construção de uma economia competitiva a todos os níveis. É este o risco iminente que Moçambique, país com potencial para ascender ao padrão de renda média ou até alta, corre, a avaliar pelo actual estágio da transparência no sector extractivo. Este debate, que não é novo, é agora reaceso por um estudo recentemente publicado pelo Centro de Integridade Pública (CIP), uma das mais destacadas organizações da sociedade civil do País. Intitulado “Índice de Transparência do Sector Extractivo 2019-2020”, o estudo recorreu a métodos científicos para medir a quantidade e qualidade de informação relevante disponibilizada por um grupo de 12 grandes empresas da área mineira e de hidrocarbonetos. Do ranking resultante, o destaque vai para a mineradora anglo-australiana Kenmare, que explora areias pesadas na província de Nampula, seguida pela Vale Moçambique, exploradora de carvão mineral em Tete e pela multinacional francesa Total, que explora gás natural na Bacia do Rovuma. Só depois do Top 3 é que vem a primeira empresa moçambicana mais bem posicionada, a Montepuez Rubi Mining (ver gráficos). O que significa ser transparente na óptica deste estudo? É ter uma página web com informa-

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ção actualizada, de fácil acesso para a sociedade e que seja relevante ao nível operacional das empresas, fiscal, de responsabilidade social e corporativa, e ambiental. O CIP acredita que este requisito é suficiente para que as empresas assumam responsabilidades sobre a legitimidade dos dados que são publicados a respeito da sua actividade, tornando questionável toda a informação que seja diferente. Mas o cerne da discussão não é saber quem cumpre com os princípios da transparência e quem não o faz. Embora isto também seja relevante, o que importa explorar são as implicações da falta de informação sobre o que se passa no sector e a busca de mudanças. Um ranking que “pressiona” os fracos Os resultados da pesquisa provocaram reacção imediata das empresas. As bem posicionadas sentiram-se como se a pesquisa lhes tivesse prestado um serviço gratuito de consultoria. Mas as que estão no extremo desfavorável da classificação sentem-se pressionadas a olhar com mais seriedade para esta questão. E é também este um dos propósitos da pesquisa. “Um dos nossos objectivos ao trazer este ranking é pressionar as empresas. Acreditamos que a Empresa Moçambicana de Exploração Mineira (EMEM), por exemplo, por ter sido classificada em último lugar, está desconfortável e deve começar a encarar a sua situação de uma forma activa, no sentido de procurarem melhor o seu posicionamento na classificação da segunda edição do ITSE, ao longo do presente ano. Esperamos esta atitude não www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021


EXTRACTIVAS HÁ POUCA TRANSPARÊNCIA… O resultado não surpreende a quem já tenha procurado informar-se, a qualquer nível, no domínio da indústria extractiva. A Vale e a Kenmare estão entre as poucas que se destacam positivamente. Em milhões de meticais kenmare

0,65 vale moç. total moç.

0,58 0,43

montepuez rubi m.

0,4 enh

0,36 sasol

0,33 jindal

0,19 exxon mobile

0,15 icvl zambeze

0,15 mrv

0,08 haiyu moz. mining

0,05 emem

0,04

… PIOR QUANDO SE TRATA DE IMPOSTOS Das 12 empresas avaliadas, só metade publica alguma informação sobre o fisco. As restantes, possivelmente, só o fazem quando solicitadas no quadro da ITIE. Classificação através de um índice que varia de 0 a 0,3 kenmare

0,21 enh

0,19 vale moç.

0,15 montepuez rubi m.

0,15 sasol

0,05 jindal

0,03 Nota: Para o cálculo do Índice de Transparência do Sector Extractivo foi usada uma metodologia adaptada de Biderman e Puttomatti, assente em quatro principais indicadores, nomeadamente o Fiscal com peso de 30%; Governação Corporativa (25%); Social (25%) e Ambiental (20%). Somados, estes indicadores resultam na pontuação do ranking principal.

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MERCADO E FINANÇA POUCOS DADOS CORPORATIVOS… Empresas não têm tido preocupação em divulgar dados sobre o seu registo, contratos, planos de desenvolvimento, etc. Classificação através de um índice que varia de 0 a 0,25 vale moç.

0,16 kenmare total moç. montepuez rubi m.

0,15 0,13 0,13

enh

0,13 sasol

0,11 mrv

0,08 icvl zambeze

0,06 jindal africa haiyu moz. mining

0,05 0,05

exxon mobile

0,05 emem

0,04 Fonte: CIP – Centro de Integridade Pública

Por exemplo, a Kenmare, que está em primeiro lugar no ranking do ITSE, divulga muita informação sobre o seu projecto em Nampula, mas tem um website todo desenhado em inglês e sem opção para português só por parte da EMEM, como de outras empresas que fazem parte do ranking, públicas ou privadas”, observou a pesquisadora. Criada a 29 de Junho de 2009, a EMEM não tem uma página web. Ou seja, não há qualquer tipo de informação disponível para a sociedade, um imperativo também salvaguardado pela Lei do Direito à Informação. Não admira, no entanto, que até informação básica como os seus contactos, endereço, estrutura de direcção, etc., não sejam de fácil acesso, o que parece mostrar que está ainda mais distante da transparência que é sugerida ao nível das empresas extractivas. As empresas só têm a ganhar A E&M ouviu a Vale Moçambique, a segunda empresa mais transparente

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do sector extractivo depois da Kenmare. Em nota escrita, a mineradora esclarece que é vantajoso para si mesma o investimento que faz em nome da transparência. “Acreditamos que uma gestão transparente aumenta a produtividade através da motivação dos nossos colaboradores, promovendo também a retenção de talento. Uma empresa mais transparente e mais responsável terá, certamente, mais sucesso. A Vale acredita nisso. Por isso, tem vindo a reforçar o seu fluxo de comunicação interna e externa”, refere a nota de reacção enviada à E&M. Internamente, o CIP destaca a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH) como um dos bons exemplos de empresas moçambicanas, em 5º lugar no ranking, por apresentar “muita informação de relevo, prin-

cipalmente a fiscal, tendo publicado os seus relatórios e contas dos últimos anos e permitido a sua exposição para a monitoria e avaliação da sua contribuição para a economia. Faltam instituições fortes Se os princípios de transparência são vantajosos para as próprias empresas, o que justifica a relutância que se assiste para a sua adopção? “É a falta de instituições fortes”, constata a pesquisadora do CIP. “Eu atiro a responsabilidade para as instituições do Estado”, insistiu. E justifica: “seria papel do Governo pressionar estas empresas para que disponibilizassem informação. Por exemplo, a Kenmare, que está em primeiro lugar no ranking, divulga muita informação sobre o seu projecto, mas tem um website desenhado em inglês e sem opção para português. Caberia ao Ministério dos Recursos Minerais e Energia (MIREME) e ao Instituto Nacional de Minas chamar a atenção para que esta informação estivessem também em português. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021



OPINIÃO

Quem é você?

a

Denise Branco • Investigadora e Consultora em Comunicação Intercultural e Tradução para Fins Empresariais, Técnicos e Científicos s organizações, tal como os indivíduos, têm o seu próprio ADN. Possuem um conjunto particular de valores, uma missão fundada em premissas que visam alcançar um resultado específico, um conjunto de práticas que orientam o porquê e o como das operações e os procedimentos. Em 2020, todas as dimensões da cultura e liderança empresarial foram testadas a níveis extremos, exigindo novos paradigmas, novos modelos, novas formas de fazer as coisas, na esperança de que tais contribuições pudessem motivar a mudança, ou aumentar a agilidade e a resiliência necessárias para navegar em circunstâncias desconhecidas. Algumas falharam. Algumas sobreviveram. Algumas floresceram. Alguns nasceram. Em 2021 o desafio reside na forma como cada organização irá materializar a experiência adquirida: irão eles procurar zonas de conforto? Irão procurar a mudança? Ou irão optar pela transformação? Para aqueles que procuram mudar e/ou transformar, o impacto de percepções divergentes do risco poderá ser digno de maior atenção. Para aqueles que trabalham em locais estrangeiros com operações relacionadas com o risco, uma análise mais detalhada do que as diversas percepções de risco cultural implicam exige uma linha própria em qualquer agenda. Embora a avaliação e análise de risco tenha impulsionado o desenvolvimento de culturas de segurança para culturas em busca de segurança, o papel da tradução e interpretação tem permanecido mal servido como um instrumento de mitigação de risco, dando resultados desastrosos quando as organizações são deixadas a lutar por soluções no coração de uma crise. O que se deve ganhar ou perder num mundo conectado global não requer uma imaginação demasiado frutuosa. O papel central de uma informação e comunicação eficaz, oportuna e precisa mudou em 2020, com uma precisão alinhada com a produção de conhecimento em tempo real. Medo, falta de confiança, notícias falsas, ausência geral de literacia de risco, difícil acesso à informação certa, no mo-

mento certo, pela pessoa certa, na língua certa, tudo isto desempenhou um papel decisivo nos comportamentos individuais e colectivos. As vulnerabilidades globais foram claramente reveladas. Os resultados em cascata não foram, ainda, totalmente revelados. A indústria terá um preço a pagar por negligenciar a linguagem sobre o risco, a crise e a comunicação de emergência. Quem você é nessa organização ditará o que tem a ganhar ou a perder face a uma crise e a uma emergência multilingue. Se a sua organização estiver a reavaliar a comunicação de risco e os procedimentos de resposta a crises e emergências após 2020, ou como resultado de outras variáveis geopolíticas e geoestratégicas, a lista de verificação abaixo pode potencialmente contribuir para melhorar o planeamento eficaz da comunicação de crise e emergência. 1. A sua empresa tem uma política linguística e inclui a(s) língua(s) local(ais)? 2. Quantas línguas são faladas na sua organização e por quem? 3. A sua empresa representa algum risco para as comunidades ou ambiente circundante? 4. A sua organização está consciente da percepção de risco dentro da organização e das comunidades circundantes? 5. O risco que está a ser comunicado é capaz de ser conceptualizado nas línguas locais e nos sistemas locais de construção de conhecimento a fim de garantir a eficácia da crise da organização e do plano de comunicação de emergência? 6. A tradução e interpretação foram explicitamente incluídas no Plano de Comunicação de Emergência da organização? Existe um procedimento em vigor? Quem está encarregado de garantir a sua eficácia e aplicabilidade? 7. O plano foi testado? Quem é o senhor? É importante? Está preparado para confiar na comunidade envolvente? A comunidade circundante pode confiar em si?

Embora a avaliação e análise de risco tenha impulsionado o desenvolvimento de culturas de segurança para culturas em busca de segurança, o papel da tradução e interpretação tem permanecido mal servido como um instrumento de mitigação de risco

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EspecialInovação

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46 AGRITECHS África está a conhecer uma rápida evolução das novas tecnologias que prometem revolucionar a produção agrícola, e que hoje são o principal alvo da atenção de instituições multilaterais como a FAO e o BAD

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INSURTECH

Uma startup moçambicana que actua na área de microseguro

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OPINIÃO

Um olhar sobre a importância das transacções digitais no pós-covid

53 PANORAMA

As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo


AGRITECHS

O Desafio de Transformar a Agricultura Através da Digitalização em África Como qualquer área de actividade, a agricultura está a conhecer uma rápida transformação ocasionada pelo cada vez maior aprimoramento dos meios tecnológicos. As evidências vêm demonstrando que, num fututuro breve, as agritechs poderão substituir completamente os seculares e tradicionais métodos de produção em todo o mundo, sobretudo em África TEXO RUI TRINDADE – PHOTOGRAPHY BY D.R.

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um webinar realizado no passado mês de Junho pela FAO e o pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), que teve como objectivo debater a “transformação da agricultura em África através da digitalização” – e que juntou mais de 500 participantes ligados tanto aos sectores da agricultura, das telecomunicações e da inovação tecnológica como a inúmeras agências governamentais de vários países do continente - Mohamed Manssouri, director do Centro de Investimentos da FAO, sublinhando o facto de a pandemia estar a

ma década, a uma multiplicação de iniciativas no continente africano focadas no sector agrícola, impulsionadas sobretudo por start-ups tecnológicas inovadoras, a pandemia veio, inesperadamente, criar um contexto que é hoje visto como uma oportunidade para acelerar uma mudança mais profunda. Para citar apenas um exemplo, recorde-se como, ainda recentemente, o projecto do cabo-verdiano Érico Pinheiro, centrado na construção de drones para a agricultura e a reflorestação, foi seleccionado pela revista Africa Innovates, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),

A pandemia veio criar um contexto visto como uma oportunidade para acelerar a mudança constituir um “factor de aceleração” na transição para o digital na economia global, apelou aos decisores políticos e empresariais e às instituições financeiras para “aproveitarem essa tendência” e impulsionarem a digitalização da agricultura em África, de forma a tornarem os “sistemas agro-alimentares mais produtivos, mais inclusivos e mais sustentáveis no futuro”. Reforçando esta ideia, Martin Fregene, director para o sector da agricultura e das agro-indústrias do BAD, referiu que este é o momento ideal para acelerar o desenvolvimento de “plataformas digitais que facilitem as ligações entre os vários actores na cadeia de valor no sector agro-alimentar”. De facto, embora se tenha vindo a assistir, sobretudo ao longo da últi-

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para fazer parte da lista das 50 inovações africanas de maior potencial em 2020. Os drones construídos por Érico Pinheiro têm como objectivo contribuir para para ajudar a modernizar a agricultura. Depois de uma série de ensaios e testes, demonstrando as suas várias funcionalidades - como pulverização agrícola, lançamento de sementes, entrega de encomendas, além de supervisão das florestas através de vídeo câmaras – os drones estão agora prontos para operar. Os drones desenvolvidos por Érico Pinheiro conseguem viajar longas distâncias, têm sistema de navegação GPS, comunicação via DataLink e podem ser operados com controlo remoto ou de forma autónoma, sendo também úteis para o transporte de medicamentos. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021


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AGRITECHS

Drones e agricultura de precisão

Na verdade, os drones têm vindo a ser considerados uma das tecnologias mais interessantes para a modernização do sector agrícola em África. Um relatório recente, “Drones no Horizonte : Transformando a Agricultura em África”, publicado conjuntamente pela União Africana e pela plataforma pan-africana NEPAD, é disso um testemunho. O relatório dá uma visão abrangente e contextualizada do uso dos drones enquanto tecnologia vital para o que hoje se designa de “agricultura de precisão”. E fornece exemplos das suas múltiplas aplicações. Estas incluem, entre muitas outras, por exemplo, “o mapeamento e levantamento topográfico, o ordenamento fundiário e ordenamento territorial, a monitorização, inspecção e vigilância de culturas, a entrega de cargas, a pesquisa científica, a gestão de activos e seguros agrícolas e a avaliação de danos em culturas ou infra-estruturas”. O relatório deixa também claro por que é que os drones oferecem hoje inúmeras vantagens face aos satélites cuja informação já vem, há muito, sendo aplicada em apoio das práticas agrícolas: “Em comparação com os satélites, os drones podem voar e capturar imagens de muito alta resolução sob a cobertura de nuvens e nos intervalos de tempo desejados”, ou seja, os agricultores não estão dependentes nem das “janelas temporais” impostas pela rotação dos satélites espaciais, nem pelas condições atmosféricas que podem perturbar a colheita da informação. O relatório realça as vantagens dos drones UAS (Sistemas Aéreos Não Tripulados) que estão equipados com sensores, software e outros acessórios: “Na agricultura, existem várias aplicações importantes da tecnologia UAS, a saber: selecção/ monitorização de colheitas, avaliações de volume e vigor de culturas, inventário de culturas (ou contagem de plantas individuais), geração de mapas de prescrição (como recomendações de dosagem de fertilizantes nitrogenados específicos ao local), pulverização de precisão, inspecção de infra-estruturas agrícola (incluindo irrigação), mapeamento de alta resolução e levantamento de campos individuais (tais como delineamentos de limites agrícolas e cálculos de área de cultivo), avaliação de danos de culturas e perícias para reivindicação de seguros. Os drones equipados com sensores adequados têm a capacidade de gerar dados de monitorização remota, quase em

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O relatório do Banco Mundial estima que o agronegócio, impulsionado pela digitalização, poderá chegar ao trilião de dólares em 2030 tempo real, no campo, quando comparado com a demora na aquisição de dados e imagens baseadas em satélites e aeronaves”. De referir que também em Moçambique o projecto ThirdEye, desenvolvido pelos holandeses da FutureWater e da HiView, entre 2014 e 2017, permitiu dar apoio a mais de 3500 agricultores (nas zonas do Xai Xai e Chókwè, na província de Gaza) através do uso de drones equipados com câmaras

de alta resolução. O projecto incluiu ainda a formação de operadores de drones. Entretanto, com o fim do projecto, uma start-up (a ThirdEye) tem procurado dar continuidade à iniciativa.

As agritechs que estão a mudar a agricultura em África

Mas a utilização de drones é apenas um exemplo do tipo de aplicações tecnológicas que têm estado a inovar toda a cadeia de www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021


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valor na agricultura. Um estudo do Banco Mundial, de 2019, identificava 390 iniciativas de “agricultura digital” em todo o continente - 60% delas lançadas nos últimos três anos. Estas iniciativas distribuem-se por cinco áreas principais: serviços e aplicativos de apoio à produção, plataformas de ligação entre produtores e mercados, acesso a recursos financeiros, gestão integrada da cadeia de produção e tecnologias associadas à “agricultura de precisão”. O relatório referia ainda o papel destacado de países como a Nigéria, a Costa do Marfim, o Ruanda, a África do Sul, o Quénia e o Gana nesta “revolução” e estimava que o sector do agro-negócio, impulsiowww.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021

nado pela digitalização, poderá chegar ao trilião de dólares em 2030. Entre os vários “casos de sucesso”, citados a título de exemplo pelo relatório, destaca-se a start-up nigeriana Kitovu. A empresa foi criada em 2016 por Emeka Nwachinemere, o qual, depois de se ter formado em engenharia mecânica, começou a se interessar pelas novas tecnologias digitais e pelo seu potencial de aplicação ao sector agrícola. O momento decisivo, porém, surgiu ao tomar conhecimento do trabalho desenvolvido pelo economista Michael Kremer (que viria a ganhar o Prémio Nobel em 2019) e o conceito de “agricultura de precisão”. A organização criada por Michael Kremer – Precision Agri-

culture for Development (PAD) – estava já actuar em 8 países do continente dando apoio a cerca de 3,6 milhões de pequenos agricultores disponibilizando informação técnica especializada de forma acessível através de telemóveis. Apoiando-se nesta base de conhecimento, Emeka Nwachinemere lança a Kitovu, uma plataforma em que começa por fazer uma análise das condições específicas de cada produtor para depois lhes fornecer pacotes de insumos adequados - sementes, fertilizantes e agro-químicos. Posteriormente, coloca a plataforma a fazer, através de uma app, a conexão entre agricultores e compradores, sem custo extra. “Ao fornecer aos agricultores insumos específicos para o solo e para as culturas, permitimos que eles cultivem com mais precisão, o que aumenta o rendimento e garante maior produção”, garante Nwachinemere. Actualmente, os três principais produtos da empresa são a FarmPack (pacotes de insumos), a FarmSwap (microcrédito para agricultores) e o eProcure (agrega os serviços e liga produtores e retalhistas). Mas muitas outras “agritechs” são igualmente citadas no relatório pelo efeito “disruptivo” que as tecnologias que usam estão a ter no sector e que os especialistas designam por DAT (disruptive agricultural technologies). É o caso da AgriPredict (Zambia) que utiliza a tecnologia da Inteligência Artificial para ajudar os agricultores a antecipar situações de risco (secas, desastres naturais, etc.) mas também a combater, por exemplo, pragas. A app desenvolvida pela AgriPredict permite aos agricultores fotografarem uma plantação infestada por uma praga, enviá-la para a plataforma web da AgriPredict e receber informação, em tempo real, o diagnóstico do problema e soluções para lidar com ele. Outra agritech destacável é a Promagric, dos Camarões, um aplicativo que usa inteligência artificial para diagnosticar doenças de cultivo a partir de uma imagem. No entanto, e como se referia nas conclusões do webinar organizado pela FAO e pelo Banco Africano de Desenvolvimento em Junho do ano passado, a transformação da agricultura em África através da digitalização implicará, para ser efectiva, uma abordagem sistémica que deverá contemplar múltiplas dimensões, nomeadamente, a definição e criação de estruturas transversais de gestão de projectos, quadros legislativos e regulamentares (nomeadamente no que toca à protecção de dados), criação de produtos financeiros inovadores, etc.

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ranking

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móvelcare tele-insurance

Insurtech Cria Microseguro Inclusivo “Aliar a tecnologia e o mercado segurador para o bem da sociedade”. É este o princípio da Móvel Care, uma insuretech que cria soluções de seguros para a população de baixa renda TEXTO Hermenegildo Langa • FOTOGRAFIA Mariano Silva

E

se a partir de 80 meticais, qualquer pessoa pudesse adquirir um seguro de funeral, de vida ou de uma cesta básica por um ano? E, se para isso, bastasse ter um telemóvel e discar um código USSD? Há ‘ses’ que são grandes demais para caber na realidade. No entanto, há momentos em que as soluções ultrapassam as dificuldades. Tauanda Chare é uma dessas pessoas, para quem as soluções “já existem todas” e para lá chegar basta acrescentar imaginação às dificuldades. A sua empresa é um sinal disso mesmo. “Nasci em Moçambique e estudei quase sempre fora do país, no Zimbabué, África do Sul. Quando regressei, abri a Tabech Business and Service Systems, em 2010, porque percebi rapidamente que existe um número muito grande de pessoas que não tem qualquer seguro, uma vez que, em Moçambique, só 3% da população é que está coberta. Assim é ainda hoje. Isso acontece por vários motivos, a começar pela dificuldade de contrair seguro, o seu preço e o facto de muitos destes produtos estarem orientados mais para um mercado formal do que para os milhões de pessoas que estão longe do sistema financeiro. O que pensei foi que havia espaço para criar um micro-seguro mais acessível para todos. Pelo preço e feito no imediato, pelo telefone”. E assim fez. “Abri a minha empresa de tecnologia, uma start-up que, desde então, cria soluções inovadoras no nosso mercado ao nível dos seguros”. O seguro de funeral terá sido a ideia que o catapultou para um outro patamar, e que até lhe valeu alguns prémios a nível nacional e presenças em grandes eventos internacionais, como o Seedstars, onde a ideia foi mostrada “e elogiada” no exterior, enquanto solução inclusiva de vastas faixas da população de baixa renda que está completamente afastada daquilo que é o sistema financeiro. “Esse seguro está hoje

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disponível, a partir de 80 meticais, o pacote mais básico. E a adesão é crescente”, conta. O que diferencia este dos outros seguros do mercado é que a tecnologia se baseia na simplicidade e basta o cliente ter uma conta do m-Pesa para ter acesso aos serviços deste micro-seguro. “A nossa plataforma funciona em colaboração com o m-Pesa e todos os serviços são pagos assim”. Ao longo do último ano, com as mudanças de enquadramento legal das entidades de moeda electrónica, fintechs e insurtechs que o Governo, o Banco de Moçambique, a Associação Moçambicana de Fintechs e o FSD (Financial Sector Deepening) têm vindo a desenhar, empresas como a de Taoanda já podem actuar no mercado de forma livre. “Era a peça que faltava para que as fintech e as insurtech como a nossa pudessem crescer.” E cresceu mesmo. Em apenas um ano, abriu um espaço no Zímpeto e está a abrir mais dois outros na Matola e Boane, em zonas de grande circulação de pessoas. “Temos de chegar onde elas chegam.” Até por isso, disponibilizam outro tipo de soluções para além do seguro de velório. ”A ideia é, com a tecnologia de que já dispomos e com a possibilidade de estabelecer parcerias com micro-seguradoras, no nosso caso com a NBC Micro-seguros, estamos hoje com tipo de seguro que não é muito comum no mercado moçambicano, e a que chamamos de seguro de cesta básica”, frisou o gestor. O papel está definido e o crescimento está em marcha. “Antes de tudo, somos uma tecnológica, uma startup, que cria a tecnologia especializada nesta área dos seguros (e são a única insurtech do País nesta altura). Precisamos de mais parceiros, mais micro-seguradoras ou, quem sabe, seguradoras de maior dimensão que queiram chegar a este mercado de milhões de moçambicanos que precisam deste tipo de serviços a baixos custos”.

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EMPRESA MóvelCare Tele-Insurance GESTOR Tauanda ANO DE FUNDAÇÃO 2010 DISTINÇÕES A Móvel Care tem 11 anos, mas já mereceu, até aqui, dez distinções internacionais, que avaliaram indicadores como a sua acessibilidade e o nível de abrangência. Venceu a edição do Seedstars Maputo em 2017, foi à final internacional do concurso, na Suíça, onde ficou entre os melhores classificados.

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opinião

As Transacções Digitais e o Mercado Africano de Capitais no pós Covid-19 Suresh Chaytoo • Sector Head for Banks and DFIs no RMB & Agnallo Nampunda • Head of Treasury at FNB Mozambique

N

o rescaldo da pandemia e à medida que o mundo se desdobra em esforços para assegurar uma recuperação económica efectiva e integrada, o conceito de parcerias estratégicas assume um papel crucial. As economias fragilizadas necessitam de estímulos urgentes e os bancos são chamados a agir, sem demoras, de modo a assegurar a continuidade dos negócios. Assegurar um futuro sustentável irá depender, em grande escala, da capacidade das instituições financeiras, governos, comunidades e sociedades de actuarem em parceria e de forma integrada, identificando de forma clara as reais necessidades das economias africanas, o esforço necessário para que possam prosperar e a forma como os bancos africanos podem contribuir para este processo. Estas e outras questões assumem agora uma nova relevância em consequência do impacto do covid-19. No FNB e no RMB, como parte do Grupo FirstRand, temos procurado compreender como os bancos africanos e as instituições financeiras, no geral, podem ser parceiros de forma inovadora. Este exercício tem moldado e impulsionado as nossas parcerias e financiamentos e a forma como temos criado parcerias com bancos e instituições financeiras de desenvolvimento, pequenas e grandes, em toda a África, através de financiamentos, soluções e manutenção das operações comerciais, permitindo a continuidade do negócio.

O lado positivo do covid-19

O covid-19 tem gerado um impacto devastador em todo o mundo. O abrandamento do crescimento económico é uma realidade global, e África não escapou. O sector empresarial foi, de forma transversal, profundamente afectado pela pandemia. Muitos países africanos dependem, largamente, da comercialização de mercadorias, e esta sofreu, naturalmente, um abrandamento notório devido à pandemia, levando ao crescimento negativo do

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PIB e à perda de empregos. Os governos e o sector privado têm uma enorme e urgente responsabilidade de criação de emprego. Dados do Banco Mundial estimam que as PME asseguram cerca de 60% dos postos de trabalho e até 40% do PIB nas economias emergentes, o que evidencia o quão importante é assegurar a canalização de fundos orçamentais para estimular este sector. O comércio tem um papel absolutamente crucial a este nível nos mercados emergentes. Quando os bancos regionais fomentam o comércio nos mercados emergentes prestam apoio a milhares de empresas que, em circunstâncias normais, dada a sua pequena dimensão, não teriam acesso ao sistema de comércio global. Isto tornou-se ainda mais significativo no actual clima

Os bancos comerciais podem assumir um papel fundamental no apoio às economias económico, em que alguns bancos reduziram o apoio ao financiamento comercial, tendo em conta o risco que este acarreta. Para além das oportunidades de comércio global, a pandemia propiciou a transformação dos serviços financeiros em África, permitindo uma digitalização massiva do sector, a redução de custos por parte das instituições bancárias e maior inclusão financeira. O COVID-19, por força das circunstâncias, levou muitos consumidores iletrados e/ou com fracas noções de uso de canais digitais a optarem por estes canais e a migrarem para a banca online. Países como a Nigéria, Gana, Quénia, Tanzânia, Burundi e Moçambique apresentam elevados níveis de migração digital sendo que estes números continuam a crescer. Particularmente em Moçambique, onde a banca móvel e a utilização de moeda electrónica têm tido um crescimento notável nos últimos anos, os prestadores de serviços de te-

lefonia móvel e a sua parceria com a banca aceleraram o processo de inclusão financeira, permitindo o acesso de milhares de milhões de utilizadores a serviços financeiros básicos. Actualmente, os principais bancos do País (correspondentes a mais de 65% dos activos bancários) estão já integrados com os prestadores de serviços de telefonia móvel.

Mercado de capitais da dívida

Os bancos comerciais podem assumir um papel fundamental no apoio às economias através da construção de mecanismos que permitam desenvolver mercados de capitais da dívida em África. Um mercado de capital de dívida é essencialmente um “mercado” onde a dívida/ empréstimos empresariais (bem definidos e regulados) são a mercadoria comercializada. Assim, em vez do banco actuar apenas como financiador, também comercializa ao público a sua capacidade de reembolsar os investidores públicos com taxas de juro competitivas. Contudo, para que este mercado se desenvolva de forma segura é necessário uma estrutura regulamentar e legal sólida, e capacidade de gestão e mitigação de risco para salvaguardar tanto os investidores públicos como a empresa que contrai a dívida. Um mercado de capital de dívida que opere satisfatoriamente pode favorecer as economias na mobilização dos recursos financeiros disponíveis a longo prazo e canalizar eficazmente estes fluxos para projectos produtivos, proporcionando uma alternativa de empréstimo a longo prazo. A apetência dos bancos por financiamentos é normalmente de curto a médio prazo e está intrinsecamente ligada ao ciclo macroeconómico. Por outro lado, cria oportunidades de investimento alternativas a longo prazo com risco reduzido para fundos de pensões e gestão de fortunas. Com grandes projectos de infra-estrutura necessários num país como Moçambique, possivelmente terá chegado o momento para a criação e desenvolvimento deste mercado. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021


panorama

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Telecomunicações

Serra-leonino desenvolve App alternativa ao Whatsapp Hafiz Kanu é um jovem da Serra Leoa residente nos EUA que desenvolveu o aplicativo Supfrica, composto pelos mesmos recursos que o WhatsApp. Porém, acredita-se que a sua funcionalidade é duas vezes mais rápida. Será? O certo é que o aplicativo foi desenvolvido pela marca Techfrica, empresa sob propriedade de Hafiz Kanu, que já colocou o produto à disposição dos utilizadores desde o passado dia 11 de Dezembro e não demorou para ganhar a simpatia da comunidade africana após uma publicação no Face-

book no dia 5 de Janeiro, que rendeu, até ao momento, 19 mil downloads na Play Store. Com este trabalho, o Supfrica torna-se no aplicativo mais rápido feito por um serra-leonino e está entre os projectos tecnológicos de África mais comentados pelo mundo. Também surpreendeu ao estar na classificação número um dos principais aplicativos gratuitos na Play Store, reservado para Apps de mensagens como o WhatsApp, Messenger, Facebook, Telegram e WeChat.

Agritech

Cientista do Uganda usa satélites na agricultura

Tecnologia

PNUD abre concurso para ideias criativas dos PALOP O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD, lançou, no âmbito do programa e-Voluir, um concurso de ideias criativas para desenvolvimento de projectos nos Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP), com inscrições até 07 de fevereiro. “O objetivo é seleccionar mentes criativas, em cada um dos cinco países dos PALOP, que, com o apoio de empreendedores e mentores experientes, irão criar ‘startups’ com soluções para o presente e o futuro, em duas áreas: ‘e-Governança e Transformação Digital’ e ‘Trabalho e Economia’”, afirmou em comunicado o PNUD em Angola. Na área de “e-Governança e Transformação Digital”, os participantes devem apresentar soluções “práticas, inovadoras e adaptadas ao contexto local”, de forma a que contribuam para melhorar a provisão de serviços públicos básicos, a eficiência e a eficácia do sector público, e para aproximar os cidadãos, o sector privado, a sociedade civil e o Governo, detalhou o documento. Já na área de “Trabalho e Economia”, os candidatos terão de apresentar soluções para os trabalhadores formais e informais, “com foco na recuperação socioeconómica do país onde vivem, mas também no empoderamento da juventude e das mulheres”, concluiu.

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Catherine Nakalembe recolhe imagens de satélites para indicar se um determinado local tem ou não condições adequadas para o cultivo, e já ajudou muitos agricultores de Karamoja, uma região semi-árida daquele país, a prosperarem. Professora assistente do Departamento de Ciências Geográficas da Universidade de Maryland, nos EUA, após conquistar o Africa Food Prize (Prémio Alimentos da África) em Setembro de 2020, a pesquisadora ao serviço da NASA trabalha no uso de dados de satélite para estudar

a agricultura e os padrões climáticos em busca de informações colectadas no local por pesquisadores ou enviadas pelos próprios agricultores. Segundo a BBC, Catherine distingue os tipos de cultura e cria um mapa que mostra se as fazendas estão a prosperar em comparação com a mesma cultura noutras regiões. Países como EUA já usam o modelo de informações na tomada de decisão sobre quando irrigar ou quantos fertilizantes devem ser usados, com base na tecnologia da cientista ugandesa.

Transportes

Marrocos constrói a primeira estação de recarga para carros eléctricos Marrocos construiu a sua primeira estação de recarga para carros eléctricos, 100% fabricada naquele país, e que será montada no Green Energy Park, uma plataforma internacional de testes, pesquisas e formação no centro de Marrocos. O projecto, denominado “iSmart”, foi desenvolvido por técnicos marroquinos e a produção industrial começa no início de 2021. Serão montados em Marrocos até 2022, 5 mil postos de recarga de carros eléctricos, reduzindo assim as emis-

sões de dióxido de carbono no sector de transportes. Cada estação de recarga será conectada a uma plataforma de monitoramento que facilita o controlo e a manutenção e integra sensores de dióxido de carbono e um projector estático e dinâmico para oferecer diversos serviços aos usuários. A estação também será capaz de se conectar ao 4G e dar informações que permitem, estre outros aspectos, que um pequeno carro seja carregado em 30 minutos por meio de um cabo eléctrico.

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LÁ FORA ANGOLA RECORRE AO SAQUE DE ACTIVOS PARA FINANCIAR A ECONOMIA De acordo com o Banco Mundial, este cenário deverá ser impulsionado pela fraca procura global do petróleo, agravada pela incerteza sobre as condições futuras do mercado do crude, devido à pandemia do novo coronavírus

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Texto António Nogueira • Fotografia D.R. ngola terá de recorrer ao saque de activos – incluindo os 1,5 mil milhões de dólares já retirados do Fundo Soberano – e ao financiamento ao abrigo do programa do Fundo Monetário Internacional (FMI), para fazer face às necessidades de financiamento a curto prazo, indica o mais recente relatório do Banco Mundial (BM) sobre a economia daquele país, intitulado “Confrontar as Consequências Socioeconómicas do covid-19 em Angola”. Este cenário, segundo o documento que também faz as perspectivas do que poderá ser a economia angolana em 2021, deverá ser impulsionado pela contínua fraca procura global por petróleo, agravada pela incerteza sobre as condições futuras do mercado do crude, devido ao covid-19, um quadro que já representa uma séria ameaça às perspectivas económicas do país que tem no petróleo a sua principal fonte de receitas. “Uma pandemia prolongada, com severas restrições às principais economias em 2021, ou mais, pode resultar numa queda mais profunda e duradoura do preço do petróleo, agravando o impacto negativo na economia angolana”, alertam analistas do Banco Mundial, sinalizando que as receitas do petróleo terão sofrido uma redução de cerca de 50% em 2020, em dólares,

em relação a 2019. Estas indicações, conforme a instituição, têm como base a elevada dependência do Governo Central das receitas do petróleo, o que, nas contas dos seus analistas, terá implicado uma perda de perto de 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em receitas fiscais em 2020, em relação ao que era esperado antes do choque do covid-19. Com as receitas não petrolíferas também afectadas pela pandemia e com a recessão a elas associada, o défice orçamental deverá atingir 2,8% do PIB em 2020, indicam ainda os mesmos analistas, acrescentando que, a piorar a situação, está o facto de Angola ter perdido o acesso aos empréstimos nos mercados de capitais internacionais, dado o recente aumento nas taxas de juros das Eurobonds das obrigações governamentais. A instituição de Bretton Woods considera que os riscos nas projecções fiscais e na sustentabilidade da dívida pública são elevados e estes dependerão, principalmente, da profundidade e duração do covid-19 e do futuro dos mercados globais do petróleo. “A pandemia em si é provável que seja um choque temporário”, consideram analistas do BM, mas alertam que os baixos preços do petróleo podem durar mais tempo, com efeitos per-manentes para Angola. A resposta a esta situação, de acordo

“Com as receitas não petrolíferas também afectadas pela pandemia e com a recessão a elas associada, o défice orçamental deverá atingir 2,8% do PIB em 2020…”

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ANGOLA com a análise do BM, vai exigir, da parte do Governo, um ajustamento fiscal, uma maior eficiência do lado da despesa e um reforço das receitas não petrolíferas. De acorco com a instituição financeira internacional, as grandes necessidades de financiamento de Angola, neste momento, poderão encontrar respaldo na reestruturação da dívida com credores bilaterais, inclusive no âmbito da Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) e no acesso a empréstimos de instituições multilaterais, ferramentas que poderão proporcionar a muito necessária liquidez a curto prazo. Pandemia agravou recessão económica O ano 2020 foi o quinto consecutivo com um crescimento económico negativo, um quadro que ficou agravado pelo surto da pandemia. Antes, no entanto, Angola já enfrentava desafios para restaurar o crescimento, devido ao continuado fraco desempenho do sector petrolífero e aos efeitos colaterais para o sector não petrolífero. Entre 2016 e 2019, o PIB real diminuiu 5,6% cumulativamente. O sector petrolífero, que representou cerca de 30% do PIB, 60% das receitas fiscais e mais de 90% das exportações em 2019, tem sido o motor da recessão, devido ao declínio do preço do crude, campos de petróleo em maturação e reduzidos níveis de investimento. Por isso, analistas do Banco Mundial consideram que o covid-19 e a nova crise do petróleo que este desencadeou aprofundarão a perda de rendimento nacional. Para superar a dependência do “ouro negro”, a transição para um modelo económico mais diversificado, que já era uma prioridade antes desta crise, torna-se mais urgente. Em termos históricos, os preços do petróleo começaram a cair logo no final de Janeiro de 2020, devido a preocupações com a disseminação do covid-19 na China. Esse declínio foi acelerado no início de Março do mesmo ano, quando a pandemia se espalhou globalmente e os países produtores de petróleo não conseguiram chegar inicialmente a um acordo sobre os cortes na produção. Desde que chegaram a um acordo em Abril, a OPEP e alguns grandes produtores de petróleo não-OPEP reduziram o fornecimento de crude em 9,7 milhões de barris por dia. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021

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ócio

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

58 Nesta edição viajamos até à Ilha de Inhaca, na província de Maputo

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e 60 Como a pandemia poderá inspirar mudanças na indústria de restauração

61 As variedades dos vinhos rosé que dão mais sentido ao Verão


Ilha de Inhaca

INHACA, A ILHA ONDE ILHA DE INHACA

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se a ponta do ouro é, sem sombra de dúvidas, o cartão de visita turístico da província de Maputo – e um ponto incontornável para o turismo da região, que ganhou maior visibilidade com o projecto da Ponte Maputo-Katembe –, um outro, menos conhecido, mas com as qualidades certas para ser, também ele, um postal de Moçambique, é a Ilha de Inhaca. Pequena em tamanho, mas grande em tudo o resto. Um lugar de encher a vista para quem pretende desfrutar de uma paisagem repleta de mais de 1200 espécies marinhas. Claro que, como quase tudo o que Moçambique tem de bom, há uns quantos senãos: Inhaca peca ainda por ser servida por apenas uma embarcação que faz ligações diárias (excepto às quintas-feiras), o que é claramente insuficiente para responder à procura turística e de lazer. O percurso até Inhaca, feito por via marítima, uma vez que não há

TEMOS DE REGRESSAR caminho por asfalto até lá, é percorrido numa viagem atribulada (dependendo das marés) que se arrasta por duas horas e meia. Claro que é uma viagem que vale a pena fazer, principalmente se for uma primeira vez. Para Pedro Pelali, um dos guias turísticos da ilha, o turismo sempre foi o motor da economia local, apesar de se retrair sempre que se verifica a avaria da única embarcação que opera. Porém, durante o ano passado, a chegada de turistas a este lugar de ambiente calmo e de praias com águas cristalinas, tinha tendência a crescer porque “já existe uma embarcação que opera quase todos os dias”, revela o guia, para depois acrescentar que “são os turistas sul-africanos os que mais visitam a ilha”. Voltemos ao tamanho, que às vezes até importa. A Inhaca é pequena em dimensão

(42 quilómetros quadrados), mas tem uma grande diversidade natural. Olhando ao redor, os mangais recortam a paisagem, onde ao longe o Índico nos convida para um mergulho. É um luxo sem preço caminhar até lá, passeando por uma reserva florestal e marinha que, pela sua diversidade, atrai um outro tipo de visitantes habituais: diferentes grupos de docentes e estudantes da Universidade Eduardo Mondlane fazem ali as suas pesquisas sobre a biologia marítima. E não só moçambicanos, também encontrámos estudantes da Universidade sul-africana de Witwatersrand que vão à ilha para estudar a sua riqueza natural. o resto não é paisagem

Na verdade, a Inhaca é um lugar com mais do que paisagem feita pela natureza

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e há diversos pontos que se tornam indispensáveis de explorar. O farol, situado no cume do monte Inhaca, construído em 1894 para alertar o fluxo do tráfego marítimo dirigido ao Porto de Maputo, é um deles. A vista faz a escalada valer a pena. Perto, a praia da Santa Maria é também outro ponto que merece a viagem. Pelas águas cristalinas e calmas que se miscigenam com a vegetação, num quadro exuberante em que sentimos o privilégio único, nos dias que correm, de inspirar um ar naturalmente puro. A Ilha dos Portugueses, antes conhecida como a Ilha dos Elefantes, é outro lugar que quase todos os turistas que vão a Inhaca querem conhecer. Queira também. Regressando à Inhaca, apesar de tudo o que é bom, sente-se no olhar que existe um enorme potencial ainda por explorar. Turístico e não só. É que o local peca ainda por não ter um número suficiente de estabelecimentos turísticos com padrões internacionais. A maior parte dos lodges da Ilha são ainda de média dimensão e com uma qualidade mais… rústica. Nada contra. Mas a oferta é limitada face à potencial procura. Depois de a ilha ter visto o Pestana Inhaca Lodge encerrar as portas, devido a questões financeiras, há mais de dois anos, os serviços de acomodação ficaram à mercê dos pequenos lodges que foram surgindo. No entanto, há investimentos em curso. Ali bem perto, o grupo Visabeira (detentor do Indy Village e do Montebelo Girassol, em Maputo) está a construir uma nova unidade. E outras seguir-se-ão, porque a Ilha da Inhaca deixará sempre a vontade de regressar. TEXTO HERMENEGILDO LANGA FOTOGRAFIA JAY GRARIDO & D.R.

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INHACA É MAIS DO QUE UMA PAISAGEM FEITA PELA NATUREZA E HÁ DIVERSOS PONTOS INDISPENSÁVEIS DE EXPLORAR ROTEIRO COMO IR

A via marítima é a única existente para um percurso de 32 quilómetros, que leva quase duas horas e meia. ONDE COMER

Pode optar pelos restaurantes Erica e Baía, com comida moçambicana e internacional, e com o preço médio de 800 Mzn ONDE DORMIR

Pode optar pelo Zana Mar Lodge ou pelo Maurício Camp Lodge, pois são os espaços que oferecem melhores condições de hospedagem. O QUE FAZER

Ao chegar à Ilha da Inhaca dê um passeio de carro, com a ajuda de um guia turístico. Poderá mergulhar na praia da Santa Maria ou ir até à Ilha dos Portugueses. E, claro, não deixe de visitar o farol, pois não se vai arrepender.

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RESTAURAÇÃO

g com o reforço das medidas de segurança para a pre-

venção do novo coronavírus, iniciadas no dia 15 de Janeiro do presente ano, vários sectores económicos vão, de certeza, voltar a ressentir-se, e o turismo é um deles. A redução do número de pessoas em locais de lazer para evitar aglomerações face ao aumento exponencial das infecções no mundo, incluindo em Moçambique, é uma das medidas que tem estado a forçar estâncias turísticas a reviverem a difícil experiência do ano passado e a terem de se reinventar face à nova realidade. Ao mesmo tempo que expõe o sector aos mais profundos problemas, o novo coronavírus também realça o papel crítico que os restaurantes desempenham no abastecimento de outros sectores da economia, defende David Chang, um dos mais proeminentes chefs de cozinha da actualidade e fundador da cadeia de restaurantes Mo-

COMO O COVID-19

JÁ ESTÁ A REVOLUCIONAR mofuku – marca de culinária criada em 2004 com a abertura do Momofuku Noodle Bar. Inclui restaurantes na cidade de Nova York, Sydney, Toronto, Washington, Las Vegas e Los Angeles, bem como uma padaria criada pela chef confeiteira Christina Tosi e um bar. Chang falou com a Fortune, uma prestigiada revista norte-americana sobre mercados, para o primeiro episódio denominado “Reinvent”, um podcast sobre como lutar para prosperar num mundo “virado de cabeça para baixo” pelo coronavírus. Neste episódio inaugural, a revista procurou “escavar” a forma como o covid-19 está a refazer a indústria da restauração.

A MOMOFUKU ESTÁ A TURBINAR UM PLANO PARA TER 50% DAS RECEITAS FORA DOS SEUS RESTAURANTES

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A INDÚSTRIA DA RESTAURAÇÃO? David Chang revela que a pandemia obrigou a Momofuku a fechar dois dos seus restaurantes, mas a empresa também está a turbinar o seu plano de cinco anos para ter 50% das suas receitas provenientes de actividades fora das quatro paredes dos seus restaurantes através de esforços como a venda de bens de consumo embalados com a marca Momofuku. Quer usar a popularidade da sua marca para diversificar a oferta de produtos e serviços. Entregas ao domicílio e o uso de plataformas digitais para a sua divulgação serão as ferramentas-chave da nova postura. Essencialmente, Chang acredita que a Momofuku pode sobreviver como uma empresa de restaurantes, olhando para além dos seus restaurantes. Como? Ele considera que a empresa sem-

pre soube que precisava de “diversificar para tempos difíceis”. “Talvez o País consiga absorver um milhão de restaurantes a fechar”, disse ele. “Não sei… Preciso de acreditar que podemos”, enfatizou, sem, no entanto, revelar com precisão em que consistirá esta diversificação da oferta. Melissa Wilson, directora de consultoria da indústria Technomic, partilhou a perspectiva de Chang de que haverá tempos difíceis pela frente. “Daqui a seis meses ou um ano, haverá muito menos restaurantes”, disse. Ela espera que os restaurantes desenvolvam a capacidade de implementarem tecnologias como os portais UV que poderiam, por exemplo, ajudar a controlar remotamente se os empregados estão a seguir protocolos de limpeza. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021


OS VINHOS ROSÉ TÊM CARACTERÍSTICAS TANTO DOS VINHOS BRANCOS QUANTO DOS TINTOS

COM O VERÃO À PORTA

É TEMPO DE ROSÉ alvos de preconceito por muitos

anos, por serem olhado como vinhos de qualidade inferior, hoje em dia os vinhos rosé estão cada vez mais em alta e já provaram que podem ser de grande qualidade. ‘Criados’ em França, na região de Provence, já foram considerados os vinhos favoritos dos franceses na década de 1950 e actualmente, a região de Minervois, no sul do país, é considerada a melhor produtora de vinhos rosé, com diversos rótulos muito bem avaliados. Secos ou suaves, harmonizam com quase tudo: aperitivos, frios, pizzas, queijos, massas, carnes, peixes e sobremesas, especialmente no tempo quente do Verão. Cada vez mais procurados, a E&M desenha um guia para o/a ajudar na escolha de um bom vinho rosé. Encontrará também um ranking com cinco dos melhores vinhos rosé que se podem encontrar no mercado,

rótulos de excelente qualidade e que não custam uma fortuna. Os vinhos rosé têm características tanto dos vinhos brancos, quanto dos tintos. Dos vinhos brancos eles possuem a leveza, o frescor e o sabor frutado. Já a estrutura e a adstringência (sensação de boca seca) são parecidas com o vinho tinto, apesar de que a adstringência do vinho rosado é mais suave. Diferente do que muitos pensam, a maioria dos rosé é feita somente de uvas tintas e atinge a sua coloração devido ao tempo menor de contacto com a casca da uva durante a maceração. Porém, na África do Sul e nos EUA, alguns vinhos rosé podem ser feitos de uma mistura de vinho branco e tinto, uma prática proibida em França e em outros países da Europa onde é ‘criminoso’ misturar as uvas tintas e brancas para produzir o rosé, um sistema chamado Corte.

CHÂTEAU LA RAME BORDEAUX 2018

DOMAINE DE CALA COTEAUX VAROIS EN PROVENCE

BIOGRAFIA Dos arredores de Bordéus vem este rosé de alta acidez e de uma concentração de sabor realmente boa. Com ‘nariz’ vegetal e picante (pimentão, bonjour!), tem um sabor brilhante, com notas de melão jalapeõo-spiked. Seria um acompanhamento divinal para aquelas refrescantes saladas verdes que fazem parte dos menus de Verão.

BIOGRAFIA Tem aquela tonalidade rosa-ballet, mas é um clássico rosé provençal que proporciona muito glamour e custa menos do que 20 dólares por garrafa. O seu nariz floral melado relembra os sabores da lima, pêssego e pêra ao paladar. É saboroso e acessível sem sacrificar a sofisticação.

BECKMEN VINEYARDS GRENACHE ROSÉ 2018

INMAN FAMILY WINES OGV ENDLESS CRUSH ROS

BIOGRAFIA Esta mistura Grenache da Costa Central da Califórnia (especificamente, o Vale Santa Ynez de Santa Bárbara) tem um nariz frutado, seguida de uma estrutura magra e encantadora. O seu corpo médio e ácido brilhante fazem dele um excelente vinho alimentar a um preço razoável. Para beber junto à piscina ou, mais tarde, ao jantar.

BIOGRAFIA Criado em Napa Valley, na Califórnia, a sua enóloga, Kathleen Inman, foi inspirada a torná-lo impressionante depois de provar uma série de elegantes rosés na sua lua-de-mel na Provença, na França. É uma das opções mais caras da lista (perto de 40 dólares por garrafa), mas que vale a pena, até porque a produção é limitada a apenas 1215 caixas.

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GRACI ETNA ROSATO 2018 BIOGRAFIA

Feito de Nerello Mascalese, uma uva de pele escura de vinho tinto cultivada no solo vulcânico do Etna, na região oriental da Sicília, Itália, este rosé de cor de cobre tem o equilíbrio perfeito de fruta, ácido e taninos, com paladar de um ácido satisfatório com um final longo. Pegue em mais uma garrafa do que pensa que vai precisar - este vinho saboroso e acessível é um prazer absoluto para as multidões.

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INCLUARTE

O projecto inclui vários tipos de actividade artística

INCLUARTE… ODE À ARTE a voz e o gesto juntam-se

em espectáculos rodeados de criatividade, luz e alegria. Homens e mulheres podem agora sentir a arte sendo transmitida de forma mais inclusiva desconstruindo modelos padronizados de espectáculos que deixavam de lado amantes e fazedores da arte com algum tipo de deficiência. E não é para menos. A cada manifestação artística, várias emoções são partilhadas, ideias e sentimentos transmitidos, de tal forma que faz nascer no artista a ânsia de atingir o maior número possível de espectadores para que a arte seja vivida por todos sem nenhum tipo de distinção. Assim, vão surgindo ideias capazes de transformar o desejo de tornar a arte acessível e abrangente. Uma dessas ideias é da poetisa Énia Lipanga, amante nata das palavras, que se

SEM PRECONCEITOS! viu, certo dia, no desafio de interpretar um poema que estava a ser declamado em linguagem de sinais. O episódio a fê-la reflectir sobre o acesso à arte pelas pessoas com deficiência. Assim, pensou em unir-se a alguns artistas e começar a realizar eventos artísticos mais inclusivos, fazendo surgir, de forma natural, o Incluarte, um movimento que traz uma nova abordagem artística caracterizada pela promoção de eventos inclusivos, isto é, que tornam a arte mais acessível aos deficientes. De acordo com Énia Lipanga, o principal objectivo é sensibilizar os promotores de eventos a dedicarem alguma atenção às pessoas com deficiência nos seus espectáculos. O outro objectivo é simplesmen-

A IDEIA UNE NÃO SÓ ARTISTAS COM DEFICIÊNCIA COMO OS NÃO DEFICIENTES NOS MAIS DIVERSOS ESPECTÁCULOS www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021

te promover a inclusão social no seu todo. Quem vê o Incluarte começa a pensar na inclusão de uma forma ou de outra”, explicou. E porque o objectivo é mesmo incluir, a ideia une não só artistas com deficiência como também os não deficientes nas mais diversas áreas: literatura, música e dança. O ano passado foi como um teste para o Incluarte com a realização de eventos que nutrem a esperança de tornar 2021 um ano com ainda mais eventos. “O Incluarte pretende entrar com mais vigor em 2021 e de forma mais rotineira. Teremos espectáculos a solo de artistas com deficiência. Teremos espectáculo dedicado especialmente a Rafael Bata, músico com deficiência visual, e espectáculos especialmente dedicados à poesia em língua gestual e muito mais”, concluiu. TEXTO YANA DE ALMEIDA FOTOGRAFIA ÉNIA LIPANGA

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PROJECT TITAN

Vai incorporar tecnologia de condução autónoma e uma bateria com um design monocelular que permite aumentar a capacidade de cada célula

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APPLE VAI DA MESA

a gigante tecnológica parece apostada em provar ao mundo a descoberta de uma nova vocação e planeia lançar o seu primeiro veículo de passageiros em 2024, com recurso à sua própria tecnologia. O projecto, já referido várias vezes pela tecnológica americana e com o nome de código Project Titan, parece estar agora a ver os seus esforços renovados, sendo que o desenvolvimento já terá começado em 2014. O veículo vai incorporar tecnologia de condução autónoma e uma bateria com um design monocelular, que permite aumentar a capacidade de cada célula individual, aumentando o espaço disponível em cada conjun-

PARA A ESTRADA E LANÇA PRIMEIRO ELÉCTRICO EM 2024 to. Isto poderá permitir incluir mais conjuntos de baterias no mesmo espaço, resultando numa maior autonomia em estrada. A Apple também estará a desenvolver uma nova mistura química para as suas baterias recorrendo ao LFP (Fosfato de Lítio e Ferro), o que pode evitar o sobreaquecimento das células, com todas as vantagens que isso implica em termos de segurança. Tal como os outros produtos de electrónica de consumo da Apple, também a produção do Apple Car deverá ser

A APPLE TAMBÉM ESTARÁ A DESENVOLVER UMA NOVA MISTURA QUÍMICA PARA AS BATERIAS E EVITAR O SOBREAQUECIMENTO

entregue a um fabricante parceiro. De acordo com o canal CNBC, dedicado a notícias de negócios, um representante da empresa sul-coreana informou que a Apple discute a possível parceria com uma série de fabricantes globais. A Hyundai também divulgou um relatório que contém registos de recepção de “pedidos de cooperação de diversas empresas em relação ao desenvolvimento de veículos eléctricos autónomos”. Contudo, nenhuma decisão ainda foi tomada, pois as negociações ainda estão em estágios iniciais. O projecto está entregue a Doug Field, um antigo engenheiro de hardware da Apple que a empresa foi recontratar à Tesla em 2018.

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