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MÉDICO REPÓRTER E GARANTA O RECEBIMENTO DA MAIS EXCLUSIVA PUBLICAÇÃO MÉDICA NA SUA RESIDÊNCIA
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Editorial
ASSINE
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s médicos sempre são os primeiros a recomendar uma alimentação balanceada, exercícios físicos regulares, boas horas de sono e o mínimo possível de estresse. Esses são itens essenciais para se obter uma vida saudável. O problema é que são os próprios médicos que têm dificuldade no momento de colocar as recomendações em prática. Hoje, o estresse da classe médica coloca o cuidador em posição desfavorável. Ciente dessa situação e sabendo que quem cuida também precisa de cuidados, a Médico Repórter reservou o espaço da matéria de capa para abordar o assunto. Você confere informações e opiniões sobre o tema na reportagem “Saúde no Brasil: os médicos estão doentes”. Na seção “Sem Fronteiras”, contamos a história de dois profissionais que optaram por passar um ano a bordo de uma Land Rover percorrendo 23 Estados, sempre priorizando o atendimento à população das cidades de mais baixo índice de desenvolvimento humano (IDH). Durante o percurso, mais de 3 mil pessoas foram beneficiadas, mas a saúde dos cuidadores ficou prejudicada, o que reforça a importância do tema acima. Mesmo assim, eles comemoram: “Nós vimos que dá para fazer muito, mesmo estando em dois”, disse a Dra. Danielle Bertolin. Outro destaque desta edição é a entrevista com o Dr. Sandro Esteves, que nos conta os principais avanços e dificuldades na área de reprodução humana. Em 1997, o Dr. Sandro Esteves fundou na cidade de Campinas, em São Paulo, a clínica ANDROFERT, pioneira no tratamento da infertilidade masculina no Brasil. Desde então, o especialista se dedica exclusivamente à área de reprodução masculina. Nas próximas páginas, você confere o que há de mais recente em pesquisas e tratamentos e ainda se informa sobre os principais assuntos da área médica. Boa leitura!
Hype Fotografia
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Índice
CAPA 08
Saúde no Brasil: os médicos estão doentes
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Botox para a acne
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Principais avanços e dificuldades na área de reprodução humana
POR DENTRO
08
SAÚDE PÚBLICA 25
Brasil produzirá vacina contra dengue ATUALIZAÇÃO TERAPÊUTICA
26
Acromegalia: tratamento medicamentoso pode ser primeira opção
28
Transtorno bipolar e esquizofrenia
30
Hipotireoidismo tem tratamento eficaz
32
Nova vacina traz ampla cobertura para doenças pneumocócicas
18
EM DEBATE 34
Vacina contra a aids: resultados modestos levantam discussões
30
DESCOBERTA 38
Nova técnica para cirurgia cardíaca é desenvolvida por brasileiro ARTIGO
42
O tratamento medicamentoso para ejaculação precoce
46
Chocolate - antes de tudo um benefício
52
4º Simpósio Internacional de Terapias Avançadas e Células-Tronco é realizado em Recife
ESPECIAL
38
SBCM 57
A descaracterização da residência médica
58
Uma expedição com mais de 3 mil beneficiados
64
NA PRATELEIRA
66
PANORAMA
46
SEM FRONTEIRAS
CADERNO DE FITOMEDICINA CIENTÍFICA 77
Plantas medicinais e saúde da mulher
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Colaboradores
Dr. Marcelo Chiara Bertolami, diretor científico do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo
Dra. Ceci Mendes Carvalho Lopes, presidente da Associação Médica Brasileira de Fitomedicina (SOBRAFITO)
Ano 1 1
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Diretora Geral Ana Maria Sodré Diretora Administrativa
Dr. Marcello D. Bronstein, chefe da Unidade de Neuroendocrinologia da disciplina de Endocrinologia e Metabologia do Hospital das Clínicas da FMUSP
Dr Mario Peres, médico neurologista, doutorado pela Unifesp, pósdoutorado pela Thomas Jefferson University, Philadelphia
Fernanda Sodré Jornalista Responsável Nina Rahe - DRT 509-MS Redação Jornalistas: Nina Rahe, Mariana Tinêo Revisora: Isabel Gonzaga redacao@medicoreporter.com.br Criação e Diagramação Hudson Calasans, Alexandre Figueira
Dr. Décio Chinzon, assistente doutor da Disciplina de Gastroenterologia Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)
Dr. Sérgio Timerman, diretor do Laboratório de Treinamento, Simulação e Pesquisa do InCor HCFMUSP, Diretor da Fundação Interamericana do Coração e Presidente do Comitê de Ressuscitação da AMIB
de Almeida Comercial Cristiana Domingos comercial@medicoreporter.com.br Tiragem 40.000 exemplares
As matérias assinadas não refletem a opinião da Médico repórter. De acordo com a resolução RDC nº 102 de 30 de novembro de 2000,
Dr. Mário Santoro Junior, Academia Brasileira de Pediatria, Presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (gestão 94-96), VicePresidente da Associação Latino Americana de Pediatria (gestão 2003-2004)
a revista Médico repórter não se responsabiliza pelo formato ou conteúdo dos anúncios publicados. É proibida a reprodução parcial ou total da Médico repórter sem a
Dr. César Eduardo Fernandes, Professor Livre Docente. Chefe da Clínica Ginecológica da Disciplina de Ginecologia e Obstetrícia da FMABC. Professor Colaborador da Pós-Graduação em Ginecologia, Obstetrícia e Mastologia da Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP, São Paulo.
Dr. Manoel Jacobsen Teixeira, chefe da Liga de Dor do Hospital das Clínicas da FMUSP
devida autorização do Grupo Lopso
Dr. Carlos A. C. Pereira, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, doutor em Pneumologia pela UNIFESP. Diretor do Serviço de Doenças Respiratórias do HSPE-SP
Dra. Denise Steiner, professora de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Mogi das Cruzes, em São Paulo
de Comunicação. Médico repórter é uma publicação do Grupo Lopso de Comunicação. INPI nº 819.589.888
Rua Vieira de Morais, 420, cj 86 CEP 04617-000. SãoPaulo - SP Fone: (11) 5096-2456 assinante@lopso.com.br
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Saúde no Brasil: os médicos estão doentes
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por Mariana Tinêo
As mudanças ocorridas nos últimos tempos no mercado de trabalho dos médicos prejudicaram não apenas a qualidade do atendimento prestado à população, mas também a vida pessoal desses profissionais, interferindo, inclusive, em sua saúde. Hoje o estresse da classe médica coloca o cuidador em posição desfavorável, submetido a pressões constantes, desvalorização e frustrações. Um levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina comprovou que atualmente é o médico quem precisa de cuidados e atenção
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limentação balanceada, exercícios físicos regulares, boas horas de sono, lazer e o mínimo possível de estresse. Essas são as principais recomendações para uma vida saudável. Os médicos sabem disso. Afinal, são eles que orientam as pessoas para que sigam essas medidas simples. O problema é que, quando chega a hora de se colocarem como pacientes, esses profissionais dão pouca atenção a sua própria saúde. É claro, a questão é um pouco mais ampla, passa pela transformação geral do nosso sistema de saúde, que acabou gerando condições inadequadas de trabalho, como extensas jornadas, necessidade de vários empregos, redução de ganhos, problemas jurídicos, pressão dos planos de saúde, assédio da mídia, falta de estrutura nos locais de atendimento, violência, entre outros itens. Toda essa sobrecarga teve consequência direta na qualidade de vida e na saúde desses profissionais, fato que foi apurado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) através de uma pesquisa realizada, em 2007, com 7.700 médicos de todo o País. Utilizando o seu Centro de Pesquisas e Documentação, o CFM planejou e executou um estudo que avaliou diversos aspectos da vida dos médicos, como estafa profissional, indicadores psiquiátricos (fadiga, depressão, ansiedade), doenças relacionadas na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), uso de medicamentos e consumo e abuso de drogas psicotrópicas – por meio de questionário. Os resultados encontrados na pesquisa não foram exatamente uma surpresa para a classe médica. Entre as doenças mais prevalentes, listadas pelo CFM, estavam as que incidem
sobre os olhos (26,4%), seguidas pelas que acometem o sistema osteomuscular e o tecido conjuntivo (22,2%). Depois vieram as doenças que atingem o aparelho circulatório (21,8%). Sendo que as doenças endócrinas e metabólicas (19,1%), assim como as enfermidades do aparelho digestivo (19,7%), também estavam entre as patologias mais frequentes. Em relação à administração de medicamentos, 1.302 participantes da pesquisa relataram uso contínuo de remédios, sob recomendação médica. Além disso, 7,7% dos médicos disseram ser portadores de transtornos mentais ou comportamentais. A pesquisa avaliou ainda o uso esporádico, eventual ou regular de substâncias químicas, incluindo fármacos capazes de alterar o humor, o pensamento e/ou as sensações. “Tratar pessoas diariamente já é um grande desafio, e isso traz ansiedade. Somar essa responsabilidade com as condições atuais de trabalho do médico é aumentar muito o risco de ocorrência de doenças, especialmente da síndrome de Burnout e das depressões. Os índices de suicídio entre a classe médica são os mais altos, se comparados com a população como um todo. Infelizmente, melhorar esse problema é um processo que depende do resgate das condições adequadas de trabalho, não apenas em termos de conforto, mas também de resultados obtidos. As frustrações que o médico tem no dia a dia também são causas das doenças apresentadas. Nós que fazemos Medicina vivenciamos as circunstâncias que foram constatadas de forma estatística e científica pelo trabalho citado”, comenta o Dr. Carlos Vital, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina. Outro dado importante, revelado pela pesquisa do CFM, é a incidência de distúrbios psiquiátricos entre os médicos, que chegaram a afetar mais de 50% dos entrevistados. Além disso, m é d i c o repórter | número 104
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Tratar pessoas diariamente já é um grande desafio, e isso traz ansiedade. Somar essa responsabilidade com as condições atuais de trabalho do médico é aumentar muito o risco de ocorrência de doenças, especialmente da síndrome de Burnout e das depressões
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5 em cada 100 médicos relataram já ter tido intenção suicida, por se sentirem sem esperança e infelizes. A pesquisa constatou ainda que 60% a 80% dos médicos entrevistados são dependentes de nicotina, e quase 40% deles referem diminuição da libido, sendo que 30% afirmam estar insatisfeitos com a vida sexual. Vale lembrar que a pesquisa realizada pelo CFM foi transformada em livro: A Saúde dos Médicos do Brasil. O documento pode ser acessado pela internet, através do endereço: www.portalmedico. org.br/include/asaudedosmedicosdobrasil.pdf . Esse trabalho foi publicado e divulgado em 2007. De lá para cá, as entidades médicas atuam como podem para tentar minimizar ou, quem sabe, solucionar os danos causados pela profissão. “Estamos criando no CFM um Núcleo de Atenção à Saúde do Médico, um projeto que terá repercussão em todas as nossas regionais, promovendo ações de orientação e apoio na recuperação da saúde do médico. É um projeto que pretende minimizar as dificuldades de manutenção da saúde dos nossos profissionais. Na realidade, já temos algumas regionais atuando nesse sentido. O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), por exemplo, é um núcleo bastante ativo, que possui um programa-piloto de bons resultados. Vamos, a partir do CFM, intensificar essas ações, para que a curto e médio prazo haja sinais de melhora do panorama da saúde dos médicos brasileiros. Entretanto, insisto no fato de que a prevenção das doenças na classe médica passa pela melhora das condições de trabalho. E isso não depende só de nós. Depende da vontade política dos que dirigem esse País”, declara o Dr. Vital. Atualmente, segundo o Dr. Vital, o Brasil possui cerca de 340 mil médicos, dos quais 100 mil, aproximadamente 1/3, atuam no Estado de São Paulo. Mas o fato de trabalhar em centros mais bem
estruturados, com maior quantidade de recursos, não quer dizer muita coisa. Os médicos paulistas sofrem a pressão dos planos de saúde, são submetidos às rigorosas normas dos sistemas de gestão, mantêm vários empregos para ter remuneração suficiente e, junto com as entidades de classe, buscam a mudança do cenário opressor que se formou na saúde nos últimos anos, em que até órgãos de saúde públicos pretendem trocar o atendimento do médico pelo atendimento de outros profissionais, não qualificados para tal atuação (como enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas etc.), para reduzir custos. Se isso acontece em São Paulo, com certeza ocorre em localidades menores. “Existem mais viúvas de médicos do que de profissionais de fora do ramo da saúde. Por que isso acontece? Por causa do estresse da ocupação. As notícias que estão na mídia sobre escândalos médicos, por exemplo, afetam toda uma categoria que já se encontra limitada em seus atributos por essa espécie de judicialização da Medicina. Doenças são atribuídas a todas as profissões, porém, algumas são específicas de algumas categorias. Acredito que os enfartos, os derrames e as depressões são mais frequentes naquelas profissões em que a vida é cheia de percalços, obstáculos por vezes intransponíveis pela burocracia, como diagnosticar um paciente e depois medicá-lo. É da origem. Além do mais, saúde agora é um negócio. Isso afeta muito nós médicos, especialmente aqueles que querem mesmo ajudar seus pacientes, que querem praticar Medicina de fato”, opina o Dr. Sérgio Medeiros, cirurgião geral. A situação dos médicos já não é segredo. Inclusive, a novela que é exibida atualmente no horário das 21h, na Rede Globo – Vivendo a Vida – retrata a rotina de um grupo de médicos, funcionários de um hospital, que vive sendo monitorado e cerceado em suas funções profissionais por uma espécie
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de inspetora. Uma pessoa destinada a limitar o tempo das consultas (especialmente quando são pacientes de planos de saúde, não podem durar mais que 20 minutos), a verificar atrasos, dar advertências, perguntar sobre a necessidade de procedimentos e exames, aumentar as escalas de trabalho, vigiar papos com os colegas... Enfim, colocar pressão total no dia a dia dos médicos, que frequentemente mostram-se temerosos de perder seu emprego naquela instituição. Um retrato triste da realidade. Campanhas em andamento Preocupado com a saúde de seus associados, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP) realiza a campanha: “Doutor, quem cuida também deve se cuidar”, válida também para o público feminino na versão: “Doutora, quem cuida também deve se cuidar”. A ideia é alertar os profissionais sobre os riscos a que sua saúde vem sendo submetida. O apelo é feito por meio de cartazes distribuídos em hospitais, clínicas e delegacias regionais do conselho. No entanto, as ações do CREMESP em prol da saúde dos médicos não para por aí. Há sete anos o conselho criou a Rede de Apoio a Médicos, em parceria com a Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD), vinculada à Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Desde o início do funcionamento, o projeto já atendeu mais de 400 médicos com problemas relacionados ao uso de substâncias químicas ou portadores de transtornos mentais, orientando também os familiares desses profissionais. Segundo dados do projeto, o álcool é a maior causa de procura de atendimento na rede, até pelo fato de ser um tipo de droga socialmente aceita. Mas o que chama a atenção dos psiquiatras envolvidos é a procura de atendimento devido à dependência de opioides e benzodiazepínicos – substâncias cujo acesso é facilitado pelo exercício profissional. m é d i c o repórter | número 104
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Dibulgaçao
Maria Rita de Assis Brasil, vice-presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (SIMERS)
Arquivo
Atitude eficaz Felizmente, as ações para reverter a situação dos médicos espalham-se pelo País. No Rio Grande do Sul, o Sindicato Médico (SIMERS) firmou uma parceria com a Federação Unimed do mesmo Estado para assegurar condições exclusivas em planos de assistência de saúde para médicos sindicalizados e seus dependentes. A iniciativa reduz os valores dos planos, o que facilita o acesso e estimula os médicos a cuidarem melhor de sua saúde. Já que nem só os pacientes ficam doentes. De acordo com Maria Rita de Assis Brasil, vicepresidente do SIMERS, o sindicato já oferecia o convênio de saúde para os médicos formados há até quatro anos e residentes em Porto Alegre. “Em 2008, o plano foi estendido a associados da capital. Levar o benefício à categoria sindicalizada de todo o Estado, cooperada ou não da Unimed, foi decisão natural para alcançarmos a segurança de quem cuida da saúde da população.” Nesse sentido, Maria Rita explica que existem duas modalidades de planos para médicos em Porto Alegre e uma no interior do Estado, com cobertura nacional em todas. “São planos com valores diferenciados, até 50% menores que as
tabelas de mercado. Outra vantagem é o fato de o associado do SIMERS poder incluir todos os seus dependentes no plano. Devemos lembrar que o médico precisa dos mesmos cuidados que procura levar a seus pacientes. O médico necessita desse conforto, tanto para realizar exames e avaliações clínicas regulares, como para ter um suporte inovador, com recursos de ponta quando enfrentar algum problema de saúde mais grave.” A vice-presidente do SIMERS ressalta que hoje a atividade médica está imersa em um alto grau de tensão. “Temos preocupações diárias com a insuficiência de recursos e de pessoal para tratar bem dos enfermos, além de uma rotina de longas jornadas e múltiplos empregos”, afirma. Ela comenta ainda que as parcerias firmadas com a Unimed-Porto Alegre e a Federação das Unimeds do Rio Grande do Sul são ações concretas e efetivas para o estímulo à manutenção da saúde do médico. “Temos uma diversidade de perfis de médicos, com suas diferentes especialidades, com rotinas que mudam conforme o hospital, a cidade e as condições de contratação e dedicação. Com os planos, chegamos a todos”, declara. A resposta dos associados à iniciativa do SIMERS foi excelente. “A ampliação dos planos para todos os associados foi lançada há um mês e a procura e contratação são diárias. Queremos proporcionar os benefícios a 100% dos nossos 14 mil associados”, conta Maria Rita. Para ela, a saúde dos médicos brasileiros neste momento merece cuidado, atenção e suporte adequado (planos ou seguro saúde acessíveis). “Pesquisas mostram que o médico vive, em média, dez anos menos que outro profissional. Temos uma carga ainda maior de expectativas sobre a resolução de doenças cada vez mais complexas e cujo tratamento depende de condições materiais, de investimentos do poder público etc. E nada disso depende da vontade do médico. Nunca os profissionais precisaram tanto desse apoio, que gera mais tranquilidade e evita desgastes com potencial para comprometer a qualidade do seu trabalho. O acesso dos familiares também é decisivo, pois temos filhos, esposas e maridos, e a saúde de todos eles é fator de equilíbrio emocional para lidarmos dia a dia com as fragilidades de outras pessoas. O sindicato cumpre com essa iniciativa, mais uma vez, sua função de estar ao lado da categoria e de agir para fortalecê-la”, conclui. r
Dr. Sérgio Medeiros, cirurgião geral Arquivo
Felizmente o programa desenvolvido para médicos tem se mostrado eficiente. A grande maioria dos médicos que procura pelo tratamento volta a ter vida pessoal e profissional normal. Poucos mudam de área e praticamente nenhum chega a abandonar a carreira. Para utilizar a Rede de Apoio a Médicos do CREMESP basta um contato telefônico por meio dos números: (11) 5579-5643 e (11) 5575-1708. Depois disso é agendada uma entrevista presencial com o paciente-médico, assim fica mais fácil a avaliação do caso, a realização do diagnóstico e o encaminhamento para tratamento. Caso haja indicação de apoio psicológico e/ou tratamento psiquiátrico, as primeiras sessões são oferecidas na UNIAD gratuitamente. Depois o pacientemédico será encaminhado para uma rede de psiquiatras no Estado. O próprio CREMESP, por meio de seu Serviço Social, desenvolve ações de acolhimento em relação à instauração de procedimento administrativo nos casos de indício de doença incapacitante para o exercício da Medicina. Profissionais que queiram ajudar na rede com seu trabalho também são bem-vindos, mas devem saber que o trabalho não é remunerado.
Dr. Carlos Vital, vicepresidente do Conselho Federal de Medicina
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Referências Bibliográficas: 1. Jones PH et al. Comparison of the efficacy and safety of rosuvastatin versus atorvastatin, simvastatin, and pravastatin across doses (STELLAR* Trial). Am J Cardiol 2003;92(2):152-60. 2. Cholesterol Treatment Trialists’ (CTT) Collaborators.Efficacy and safety of cholesterol-lowering treatment: prospective meta-analysis of data from 90 056 participants in 14 randomized trials of statins. Lancet 2005; 366(9493):1267-78. 3. Olsson AG et al. Effects of rosuvastatin and atorvastatin compared over 52 weeks of treatment in patients with hypercholesterolemia. Am Heart J 2002;144(6):1044-51. 4. Brown WV et al. Efficacy and safety of rosuvastatin compared with pravastatin and simvastatin in patients with hypercholestolemia : a randomized, double-blind, 52-week trial. Am Heart J 2002;144(6)1036-43. 5. Law MR et al. Quantifying effect of statins on low density lipoprotein cholesterol, ischaemic heart disease and stroke: systematic review and meta-analysis. BMJ 2003;326:1423-29. 6. Crouse III JR et al. Effect of rosuvastatin on progression of carotid intima-media thickness in low-risk individuals with subclinical atherosclerosis : the METEOR trial. JAMA 2007; 297: 1344-53. 7. Nissen SE et al. Effect of very high-intensity statin therapy on regression of coronary atherosclerosis: the ASTEROID trial. JAMA 2006;295:1556-65.
Botox para a acne
por Mariana Tinêo
Divulgação
Dra. Érica Monteiro, dermatologista colaboradora do Grupo de Cosmiatria do Departamento de Dermatologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Dra. Valéria Marcondes, dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética
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Desde que a toxina botulínica foi apresentada para fins estéticos pelo casal de médicos canadenses Jean e Alastair Carruthers, a Dermatologia ganhou uma ferramenta importantíssima. De lá para cá, o uso do botox continua sendo estudado
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s possibilidades de aplicação da toxina botulínica (botox) estão sempre surpreendendo, especialmente na área de Dermatologia. Recentemente, um estudo publicado no Journal of Drugs in Dermatology sugere que a substância pode ser utilizada também para tratar a acne. A pesquisa realizada pelo Dr. Anil Shah, cirurgião plástico norte-americano, mostrou que ao, ser aplicada na pele, a toxina botulínica bloqueia os receptores de acetilcolina, impedindo a produção de óleo pelas glândulas sebáceas. O Dr. Shah acompanhou os casos de 20 pacientes que já tinham sido submetidos a outras formas de tratamento contra acne, inclusive ao uso da isotretinoína (que é a medicação considerada mais eficaz até o momento), sem ter obtido melhora satisfatória das lesões. No entanto, o pesquisador norteamericano ressaltou em seu artigo que a toxina botulínica não é uma possibilidade universal de tratamento para acne. Pelo contrário. O Dr. Shah recomenda o uso de botox apenas para os casos de pacientes maiores de 20 anos, que sofram de acne hormonal – situação em que a terapia com isotretinoína parece ter menos resultado. O problema do tratamento com toxina botulínica está na dificuldade técnica de realização do procedimento, porque a dose injetada no paciente deve ser mínima, para não paralisar o músculo
da pessoa. A paralisação temporária do músculo é o que se busca no tratamento de rugas, mas não seria desejável no caso da acne. Outro ponto importante é a repetição do procedimento. Como já ocorre no tratamento para rugas, o tratamento para a acne também precisa ser repetido periodicamente (a princípio, a cada seis meses). Na comparação de riscos, a aplicação de toxina botulínica leva vantagem em relação à isotretinoína, pois sua única consequência indesejada é estética, a paralisação de alguns músculos ao redor da área onde foi feita a aplicação, com possível alteração do sorriso e da fala, por exemplo. Já a isotretinoína pode causar diferentes efeitos adversos, como secura dos lábios e da mucosa nasal, descamação e dermatite facial, teratogenia, entre outros. O estudo do Dr. Shah não é exatamente uma novidade no Brasil. Segundo a Dra. Érica Monteiro, dermatologista colaboradora do Grupo de Cosmiatria do Departamento de Dermatologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), a toxina botulínica já vem sendo utilizada em pacientes com cicatrizes de acne distensíveis, ou seja, aquelas que podem ser “esticadas” em decorrência do relaxamento do músculo subjacente. “Ao esticar o local da cicatriz, a lesão fica mais rasa e isso pode resultar na melhora do aspecto em até 50%. No caso da acne ativa, existe o trabalho do Dr. Anil Shah que mostra o bloqueio dos receptores de acetilcolina com a aplicação da toxina
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O Dr. Shah recomenda o uso de botox apenas para os casos de pacientes maiores de 20 anos, que sofram de acne hormonal – situação em que a terapia com isotretinoína parece ter menos resultado
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botulínica, o que impede a produção da oleosidade pelas glândulas sebáceas. Isso diminuiria um dos fatores que pioram a acne. Mas, na verdade, o uso da toxina botulínica para tratar a acne ainda está sendo estudado. O trabalho norte-americano é apenas inicial, sem suficiente comprovação científica para que seja usado amplamente nos consultórios dermatológicos. Mais estudos são necessários”, comenta a Dra. Érica. De acordo com a Dra. Valéria Marcondes, dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética, o uso da toxina botulínica para tratar a acne é muito recente. Apesar de o procedimento ter um custo elevado (que varia de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil), já está sendo realizado no Hospital das Clínicas, em São Paulo. “O tratamento da acne com toxina botulínica deve ser sempre combinado com outros procedimentos. É mais eficaz para áreas como a testa, bem pouco atingidas pelas acnes. O procedimento é tecnicamente difícil, há limitação da faixa etária apta a realizar esse tipo de procedimento. O custo é elevado e há necessidade da repetição do tratamento após um dado período”, reforça a especialista. A Dra. Valéria lembra que acne não tratada pode trazer repercussões físicas e emocionais para o paciente. “Entre as repercussões físicas está o aparecimento de cicatrizes e entre as psicológicas, a ansiedade, a inibição social, a baixa autoestima e a depressão. Recentemente, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) promoveu um estudo inédito no País – o Censo Dermatológico da SBD, que apontou as doenças mais
prevalentes da especialidade. O levantamento foi realizado em hospitais públicos e consultórios privados, analisando os dados de 54.519 pacientes. A doença mais prevalente foi a acne, com 14% dos pacientes.” Nesse sentido, a dermatologista informa que atualmente existem diversas opções para o tratamento da acne, tanto tópicas como sistêmicas. “Entre os agentes tópicos temos os agentes comedolíticos (ácido retinoico, adapaleno e o tazaroteno) e os agentes bactericidas (eritromicina, clindamicina e sulfacetamida sódica). O tratamento sistêmico é necessário principalmente para pacientes com formas de moderadas a severas de acne. Também podemos usar antibióticos (oxitetraciclina, cloridrato de tetraciclina, doxiciclina, minociclina e limeciclina, eritromicina e azitromicina) e isotretinoína oral.” Além disso, a Dra. Valéria enfatiza que a terapia hormonal pode ser necessária em pacientes do sexo feminino que começam a apresentar acne na idade adulta e que são resistentes aos tratamentos convencionais. “Os compostos com propriedades antiandrogênicas incluem etinilestradiol combinado com acetato de ciproterona e espirinolactona. No consultório podemos realizar intervenções para otimizar o tratamento, com LED azul, peelings químicos, microdermoabrasão e Isolaz (laser com vácuo). O tratamento das cicatrizes pode ser realizado com microdermoabrasão, peelings médios e profundos, cauterizações, aplicação de ácido tricloroacético (ATA), preenchimento com ácido hialurônico, uso de luz intensa pulsada e de lasers”, finaliza. r
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Principais avanços e dificuldades na área de reprodução humana Dr. Sandro Esteves é urologista certificado pela Sociedade Brasileira de Urologia e membro titular de diversas sociedades nacionais e internacionais, como a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e Associação Americana de Urologia (AUA). Participou do programa de Fellowship em Infertilidade Masculina e Andrologia na Cleveland Clinic Foundation, nos Estados Unidos (Ohio) e, durante a permanência no país, realizou estágios em hospitais de Ohio, Michigan e Texas
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pós essa experiência, no entanto, decidiu retornar ao Brasil, trazendo com ele todo o conhecimento adquirido no exterior. Em 1997, o Dr. Sandro Esteves fundou na cidade de Campinas, em São Paulo, a clínica ANDROFERT, que foi pioneira no tratamento da infertilidade masculina no Brasil. Desde então, ele passou a se dedicar exclusivamente à área de reprodução masculina. “Entre os meus interesses, destaco a microcirurgia reconstrutiva do trato reprodutor masculino, sendo um dos pioneiros nas áreas de criopreservação de espermatozoides, testes de função espermática, técnicas de fertilização in vitro e micromanipulação de gametas (ICSI)”, acrescenta.
Hoje, a ANDROFERT é referência nacional na área de infertilidade masculina. No Brasil, a clínica de reprodução humana foi pioneira em implantar o controle total da contaminação ambiental nos laboratórios nos moldes das “Salas Limpas”. Em 2006, foi considerada, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), “Clínica de Reprodução Humana Modelo do País”. Desde então, treina os técnicos da ANVISA para inspecionar e certificar os bancos de células e tecidos germinativos conforme as leis vigentes no País. Em entrevista exclusiva à Médico Repórter, o médico fala sobre sua formação, sobre as principais pesquisas realizadas na área de reprodução humana e sobre o que podemos esperar de avanços nos próximos anos. Confira a seguir.
Divulgação
por Nina Rahe
Dr. Sandro Esteves m é d i c o repórter | número 104
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Procedimento de fertilização in vitro no laboratório da ANDROFERT
Quais foram as principais diferenças que o senhor pôde perceber em relação ao Brasil nesta área? Quais são nossos méritos e no que é preciso avançar? Hoje, o Brasil está muito avançado na área de reprodução humana com centros de excelência comparáveis aos melhores centros internacionais. Muitos médicos e outros profissionais de saúde saíram do Brasil nos últimos anos, indo se especializar nos Estados Unidos e Europa, trazendo os principais avanços tecnológicos. Porém, ainda são “ilhas” de excelência num universo de uma assistência apenas regular no País. O acesso aos tratamentos de fertilidade no Brasil é muito limitado. Estima-se que apenas 1% da demanda seja atendida nos serviços de reprodução humana. Em países como os Estados Unidos atendem-se 30% da demanda. Apesar disso, devem-se reconhecer algumas iniciativas para melhorar o acesso aos tratamentos na área de fertilidade como a realizada pelo Programa Acesso (programa de inclusão de casais inférteis que oferece 50% de desconto nos medicamentos e nos tratamentos de infertilidade). Em relação à infertilidade masculina, a situação é ainda mais crítica com pouquíssimos especialistas brasileiros nesta área. Apesar disso, trata-se de um grupo muito engajado e participativo. Muitos deles com expressão internacional. Desde que começou a trabalhar na área de fertilidade, quais foram os principais avanços? Poderia traçar um histórico?
Houve um avanço muito grande na área de infertilidade masculina. Há poucos anos, por exemplo, um homem que não possuía espermatozoides na ejaculação era rotulado de estéril e jamais poderia ser pai biológico. Houve uma mudança dramática nos últimos 15 anos. Hoje em dia, graças aos avanços da ciência, menos de 1% dos homens não serão capazes de gerar filhos biológicos. Houve um avanço extraordinário na área de diagnóstico com os novos testes genéticos de biologia molecular, na terapêutica com as técnicas modernas de fertilização in vitro associada à micromanipulação de gametas conhecida como ICSI (injeção intracitoplasmática do espermatozoide no óvulo), na microcirurgia para a reconstrução do trato reprodutor masculino e na obtenção de gametas do testículo dos homens com azoospermia não obstrutiva, que é a condição mais grave na infertilidade masculina. O senhor poderia falar um pouco mais da metodologia utilizada e sobre os resultados obtidos na pesquisa apresentada no Congresso Americano de Medicina Reprodutiva, em 2009, em Atlanta (EUA)? Apresentamos um estudo envolvendo as técnicas de reprodução assistida, em especial a fertilização in vitro associada à micromanipulação de gametas (ICSI) e à varicocele. Atualmente, a varicocele é a principal causa de infertilidade nos homens em idade reprodutiva. A doença consiste em varizes
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nas veias que circundam os testículos, ocasionando alterações na circulação e perfusão gonadal com consequente dano à produção e qualidade dos espermatozoides. Hoje, sabemos que a varicocele altera o funcionamento dos testículos e que o tratamento realizado com cirurgia é a melhor opção. A microcirurgia melhora a qualidade seminal, diminui o estresse oxidativo no sêmen e aumenta a capacidade antioxidante do sêmen. Também aumenta o percentual de espermatozoides apresentando um material genético intacto. O que ainda não se sabe é se a correção cirúrgica da varicocele pode melhorar os resultados das técnicas de fertilização in vitro, especialmente, a injeção intracitoplasmática (ICSI). O conceito hoje vigente é o de que não há necessidade de tratar a varicocele quando se indica a fertilização in vitro, porque o método é capaz de oferecer altas taxas de sucesso independentemente da causa de infertilidade masculina. A pesquisa envolveu 242 casais que enfrentavam problemas de infertilidade. Como foi? Realizamos um estudo na ANDROFERT, avaliando um grupo de 242 casais cujo homem possuía varicocele clínica, e que foram encaminhados para o tratamento de reprodução assistida com a ICSI. Os casais foram divididos em dois grupos: 80 homens foram submetidos à correção microcirúrgica da varicocele antes da ICSI, e 162 homens foram submetidos à ICSI com varicocele. No grupo operado, comparou-se o resultado do espermograma antes e depois da cirurgia. Entre os grupos, compararam-se os resultados da fertilização in vitro, as taxas de gravidez e as chances de aborto espontâneo. Os resultados revelaram que, no grupo operado, a concentração de espermatozoides dobrou após a microcirurgia de varicocele, havendo uma diminuição nos defeitos apresentados pelos espermatozoides. As taxas de fertilização no laboratório foram significativamente maiores quando se utilizavam os espermatozoides dos homens
operados de varicocele (78% vs. 66%). As taxas de gestação com a técnica de ICSI foram significativamente superiores no grupo de indivíduos tratados da varicocele antes de submeterem-se à fertilização (60% versus 45% no grupo não tratado). Análise de regressão logística revelou que a chance de um casal obter a gravidez com o tratamento de fertilização in vitro, associada à ICSI, aumenta 69% se a varicocele clínica for tratada antes, e as chances de ocorrer um aborto espontâneo são reduzidas em 2,3 vezes. Isso acontece porque há uma melhora da qualidade geral do gameta masculino após a remoção da varicocele com consequente melhora do seu potencial fértil, sendo mais capaz de fertilizar o óvulo e formar um embrião saudável. Como foi a recepção da sua pesquisa no Congresso de Medicina Reprodutiva nos Estados Unidos? A pesquisa foi muito bem recebida. Após a apresentação dos dados, recebi dois convites para escrever capítulos de livros nos Estados Unidos sobre varicocele e técnicas de fertilização in vitro. Quais foram os principais tópicos abordados no congresso? Poderia falar um pouco sobre alguns? O Congresso Americano de Medicina Reprodutiva é o maior do mundo, agregando cerca de 6 mil participantes. Existem diversas áreas de interesse. O que chamou a minha atenção foram os estudos sobre os efeitos nocivos dos fatores ambientais na fertilidade masculina, principalmente os da energia eletromagnética emitida pelo telefone celular, a obesidade e o consumo de alimentos industrializados contaminados com xenobióticos. Este ano, fui chefe de uma mesa de discussão sobre “novos conceitos em infertilidade masculina”, onde apresentei as principais novidades nesta área, incluindo os avanços no diagnóstico e tratamento da infertilidade masculina. Pela primeira vez, um urologista brasileiro foi convidado para participar da programação
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Houve um avanço muito grande na área de infertilidade masculina. Há poucos anos, por exemplo, um homem que não possuía espermatozoides na ejaculação era rotulado de estéril e jamais poderia ser pai biológico. Houve uma mudança dramática nos últimos 15 anos. Hoje em dia, graças aos avanços da ciência, menos de 1% dos homens não serão capazes de gerar filhos biológicos
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científica oficial do congresso. Um orgulho para toda a classe urológica brasileira.
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Atualmente, a varicocele é a principal causa de infertilidade nos homens em idade reprodutiva. A doença consiste em varizes nas veias que circundam os testículos, ocasionando alterações na circulação e perfusão gonadal com consequente dano à produção e qualidade dos espermatozoides. Hoje, sabemos que a varicocele altera o funcionamento dos testículos e que o tratamento realizado com cirurgia é a melhor opção
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A ANDROFERT é hoje um centro de assistência, ensino e pesquisa nas áreas de infertilidade, andrologia e reprodução. Poderia descrever de que forma acontece o funcionamento dessas três áreas (assistência, ensino e pesquisa)? Quais são as principais ações que vêm sendo desenvolvidas em cada uma delas? A ANDROFERT é uma clínica privada com atividade, primariamente, assistencial que desenvolve um programa de ensino e treinamento para médicos e outros profissionais da área de saúde com interesse nas áreas de reprodução masculina, andrologia, microcirurgia e reprodução assistida. Na área de assistência contamos com uma equipe multidisciplinar composta por médicos ginecologistas e urologistas, biólogos e vários profissionais de apoio. A clínica atende cerca de 1,2 mil casais por ano, com foco no diagnóstico, tratamento e orientação para casais em que o homem possui problemas de fertilidade. A ANDROFERT conta com laboratório andrológico completo para a investigação de todas as causas de infertilidade masculina, serviço de banco de sêmen terapêutico, utilizado por homens que desejam preservar sua fertilidade. Além disso, realiza atendimento tanto para o homem quanto para a mulher por médicos especializados em reprodução, e oferece todos os tratamentos de reprodução assistida, desde os mais simples até as modernas técnicas de fertilização in vitro. Na área de ensino, mais de 140 profissionais da área de saúde, vindos de todo o Brasil, realizaram estágios na instituição. Biólogos de todo o Brasil têm desenvolvido projetos de pesquisa sob nossa orientação. Oferecemos um programa de estágio para médicos e biólogos com interesse na área de reprodução masculina. As linhas de pesquisa em andamento na ANDROFERT incluem criopreservação de gametas masculinos, efeitos de subs-
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tâncias estimulantes sobre a qualidade dos espermatozoides, efeito da energia eletromagnética emitida pelo telefone celular sobre a fertilidade e técnicas de microcirurgia na azoospermia não obstrutiva. De que forma ocorre o tratamento multidisciplinar? Existe alguma dificuldade na ação conjunta dos profissionais da equipe? No começo tínhamos dificuldade, hoje isso não existe mais. Entendemos que a infertilidade conjugal tem origem multifatorial e o envolvimento de vários profissionais é imprescindível para o sucesso dos tratamentos. Os casais são avaliados pelo urologista e pelo ginecologista, que irão conjuntamente estabelecer o diagnóstico e propor o tratamento mais apropriado. Nessa fase, uma equipe do serviço de saúde complementar – nutricionista, psicóloga e acupunturista – auxilia os pacientes. Todos trabalham de forma integrada com o objetivo de melhorar a saúde do casal e restabelecer, da melhor maneira possível, o equilíbrio físico e mental necessário para que as medidas terapêuticas façam o efeito desejado. Existe algo que dificulte o trabalho nessa área? O Brasil possui todos os equipamentos necessários? No nosso País, as dificuldades estão mais relacionadas ao acesso à saúde. Como mencionei anteriormente, temos “ilhas de excelência”, e nesses serviços existem todos os equipamentos necessários. Entretanto, ainda são poucos os casais que podem arcar com os custos dos tratamentos, pois muitos deles não são cobertos pelo sistema público ou privado de saúde. No Brasil, estima-se que existam cerca de 3 milhões de casais inférteis, o que representa cerca de 15% da população na idade reprodutiva. O homem é total ou parcialmente responsável pelas dificuldades de concepção em aproximadamente 60% dos casos, visto que em cerca de 40% deles a causa da infertilidade é unicamente masculina,
e em 20% ambos os parceiros possuem alterações que impedem a gravidez. Estima-se que 200 mil casos novos de infertilidade conjugal surjam por ano no Brasil. Aos 40 anos de idade, cerca de 20% dos homens ainda não são pais, e destes, cerca de 30% manifestam profunda tristeza pela impossibilidade de gerar os próprios filhos, com consequente comprometimento na esfera social, profissional e familiar. Em vários países, programas de saúde voltados para os direitos sexuais e reprodutivos da população masculina têm sido criados. No Brasil, no âmbito do Sistema Único de Saúde, a Política Nacional de Atenção Integral em Reprodução Humana, por meio da Portaria nº 426 do Ministério da Saúde, foi instituída em 2005. Além disso, existe a atuação da iniciativa privada com programas de inclusão para casais de menor renda com dificuldades para engravidar, como o “Programa Acesso”, hoje vigente em todo o Brasil. Por fim, gostaria de saber o que podemos esperar de avanços nos próximos anos? Eu espero a cura da infertilidade masculina. Não está longe o dia em que todos os homens que desejam ser pais realizarão este sonho. Existem pesquisas avançadas envolvendo medicamentos e complexos vitamínicos, sobre as causas de infertilidade e de como identificar e minimizar os efeitos nocivos de diversos fatores gonadotóxicos, além das pesquisas também avançadas sobre o gameta masculino artificial, criado a partir das células somáticas do homem, que sem dúvida alguma eliminará de vez os casos ainda existentes de esterilidade masculina absoluta. Entretanto, é muito importante que a saúde do indivíduo não seja esquecida, e cabe ao médico atuar de forma ética para utilizar todo o conhecimento científico sempre para o benefício do indivíduo num contexto mais amplo. É importante também que haja uma interface produtiva entre os setores diversos da sociedade para discutir o impacto dos avanços tecnológicos. r m é d i c o repórter | número 104
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Acromegalia: tratamento medicamentoso pode ser primeira opção por Mariana Tinêo
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acromegalia é uma doença pouco conhecida, tanto entre médicos como entre leigos. De acordo com a Dra. Nina Musolino, endocrinologista supervisora da Divisão de Neurocirurgia Funcional do Instituo de Psiquiatria (IPQ) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e professora colaboradora da
FMUSP, apesar de não existirem dados epidemiológicos concretos sobre a acromegalia na populção brasileira, alguns estudos publicados estimam que a prevalência da doença varia entre 38 e 69 casos/ milhão e a incidência anual de pacientes novos, de três a quatro por milhão. A especialista conta que, em mais de 95% dos casos, a acromegalia é causada por um tumor hipofisário benigno, um adenoma produtor de hormônio de
crescimento (GH). “Raramente o tumor de hipófise é maligno e causa metástase. Em cerca de 5% dos casos, o excesso do hormônio de crescimento é provocado por um tumor produtor de GHRH, que é o hormônio hipotalâmico que, de modo fisiológico, estimula a produção do GH pela hipófise. Quando produzido por um tumor tópico, hipotalâmico, ou ectópico, o GHRH pode produzir acromegalia pelo estímulo exagerado da hipófise, que pode
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exibir aumento de seu tamanho devido à hiperplasia dos somatotrofos normais.” Os adultos jovens são os mais afetados pela acromegalia. Entretanto, a doença ocorre também em crianças e adolescentes, quando provoca o chamado gigantismo. Segundo a Dra. Nina, o paciente mais jovem da Divisão de Neurocirurgia Funcional do IPQ do Hospital das Clínicas da FMUSP foi diagnosticado com 5 anos de idade. Mas, na verdade, a acromegalia pode atingir até indivíduos com mais de 70 anos de idade. Na opinião da Dra. Nina, o diagnóstico clínico da acromegalia é muito importante, porque o paciente apresenta características físicas peculiares à doença: aumento de mãos e pés, face de aspecto grosseiro, devido à fronte proeminente, alargamento do nariz, aumento dos lábios e prognatismo. “Entre os sintomas mais importantes dessa doença estão a cefaleia e artralgias. Espaçamento dos dentes com problemas de oclusão, síndrome do túnel do carpo, sudorese excessiva e alterações da esfera gonadal como irregularidade menstrual e impotência também são comuns. O paciente com acromegalia tem também mais risco de intolerância à glicose, diabetes, cardiomegalia, hipertensão, bócio e pólipos intestinais.” Quando há a suspeita clínica de acromegalia, o diagnóstico é confirmado pela dosagem sérica do hormônio de crescimento e do IGF-1 (hormônio produzido principalmente pelo fígado sob estímulo do GH). “Caso a dosagem de GH mostre valores normais ou pouco elevados do hormônio, é indicada a realização do teste de tolerância oral à glicose (TTOG) com dosagem do GH. Em indivíduos normais é esperada a diminuição dos níveis do GH durante o teste para valores muito baixos, que podem variar dependendo do método e padrão utilizado, mas geralmente ficam abaixo de 1 ou de 0,4 ng/ml. Quando o GH não é suprimido no TTOG e o IGF-1 está aumentado, o diagnóstico da acro-
megalia é confirmado. O próximo passo, então, é confirmar a fonte hipofisária da doença, na grande maioria dos casos, através de exame de imagem da região selar, de preferência a ressonância magnética de hipófise”, explica a médica. Nesse sentido, a Dra. Nina lembra que a acromegalia não é uma doença muito divulgada, e a falta de informação para os médicos em geral e para o público leigo leva ao atraso do diagnóstico em muitos anos. “Em média, os pacientes referem o início dos sintomas sugestivos de acromegalia sete anos antes da confirmação diagnóstica da doença. Além disso, muitos deles procuraram médicos para tratar das complicações decorrentes da doença, como hipertensão, insuficiência cardíaca, artralgias, síndrome do túnel do carpo, prognatismo e cefaleia. Esse atraso pode levar ao crescimento progressivo do tumor, que pode comprimir vias ópticas causando perda visual e piora das comorbidades, reduzindo ainda as chances de resolução do problema com o tratamento cirúrgico.” Tratamento A cirurgia é o tratamento de escolha para a maior parte dos pacientes com acromegalia. “Embora não seja curativa, nos casos de tumores maiores ou mais invasivos para estruturas vizinhas à hipófise, a cirurgia pode reduzir o volume do tumor e descomprimir estruturas como o quiasma óptico, levando à melhora visual dos sinais e sintomas da acromegalia, por reduzir os níveis séricos do hormônio de crescimento e consequentemente do IGF-1”, informa a Dra. Nina. No entanto, a médica comenta que nos casos em que não há a cura cirúrgica existem tratamentos complementares, medicamentosos ou por irradiação. “A radioterapia é útil para controlar o crescimento do tumor, embora a normalização hormonal não ocorra em todos os pacientes. Porém, a normalização pode demorar muitos anos para ser alcança-
da após a realização do tratamento. No entanto, hoje existem medicamentos efetivos no tratamento da acromegalia, em especial os análogos da somatostatina e o antagonista do receptor do hormônio de crescimento. Os agonistas dopaminérgicos, embora menos efetivos, também podem ser úteis isoladamente ou associados aos análogos da somatostatina. Em alguns casos, bem selecionados, o tratamento medicamentoso pode ser, inclusive, indicado como primeira opção terapêutica”, declara. Pegvisomanto De acordo com a Dr. Nina, o pegvisomanto – um antagonista do receptor do hormônio de crescimento – é o tratamento mais eficaz para a acromegalia. “Ele normaliza o IGF-1 em até 92% dos casos, levando a melhora significativa dos sintomas da doença, em especial do metabolismo, com redução ou suspensão da medicação para o diabetes em boa parte dos pacientes tratados. Embora sua ação seja no receptor do hormônio de crescimento e não no tumor, o aumento do tumor tem sido relatado em percentual pequeno de pacientes.” A indicação ideal para o uso do pegvisomanto é o paciente que mantém níveis alterados de GH e IGF-1 após o tratamento cirúrgico, mostrando resistência total ou parcial aos análogos da somatostatina, sem apresentar efeito de massa do tumor sobre as vias ópticas. “Sabemos que cerca de 60% dos pacientes normalizam os níveis hormonais com os análogos da somatostatina, portanto 40% dos pacientes que necessitam tratamento clínico vão precisar de outra terapêutica e neste caso o pegvismanto é a mais eficaz”, diz a Dra. Nina, que já participou, como coinvestigadora, de dois estudos clínicos internacionais feitos com o pegvisomanto. “Posso afirmar que a aderência e a melhora clínica dos pacientes em ambos os estudos em que participei foram boas”, finaliza. r m é d i c o repórter | número 104
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Transtorno bipolar e esquizofrenia por Raphaella B. Rodrigues
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a sintomas negativos da doença. Os sintomas incluem afeto embotado, discurso empobrecido, retraimento social e emocional, que são os sintomas, a longo prazo, mais incapacitantes da doença.” Em relação ao transtorno bipolar, a asenapina também demonstrou altos níveis de eficácia. A vantagem, segundo o Dr. Sena, é de apresentar “perfis de segurança e tolerabilidade superiores, especialmente no que se refere à ocorrência de eventos adversos e interrupção do tratamento, assim como nos parâmetros metabólicos, tais como: prolactina, colesterol (total e frações – LDL / HDL), glicemia e insulinemia. Além disso, a asenapina apresentou menor ganho de peso dos pacientes, um dos efeitos colaterais mais indesejados dessa classe de medicamentos”. Segundo o psiquiatra, a asenapina é uma droga atípica, com potente antagonismo em receptores da dopamina (D1-D4), da serotonina (5HT2A, 5HT2C, 5HT6 E 5HT7), assim como em receptores adrenérgicos (alfa1 e alfa2) e histaminérgicos (H1). Por outro lado, a asenapina é desprovida de atividade antimuscarínica (anticolinérgica) significante – o que, segundo o especialista, representa “menos efeitos colaterais, como boca seca, obstipação, visão turva etc., que caracterizam a atipicidade dos antipsicóticos”. De acordo com os estudos clínicos, para casos de esquizofrenia aguda, a asenapina na dose de 5 mg ministrada duas vezes ao dia demonstrou eficácia estatisticamente significativa em relação ao placebo. Já nos estudos de transtorno bipolar I (mania aguda), a asenapina – na dose de 10 mg duas vezes ao dia – mostrou redução expressiva dos sintomas de mania bipolar em relação ao placebo. “A medicação é administrada pela via sublingual, o paciente deve ficar dez minutos sem ingerir água ou alimentos”, afirma o Dr. Sena. E, segundo ele, a asenapina pode ser administrada com outras substâncias. “Não foram observadas, nos estudos clínicos desenvolvidos, interações relevantes com outras drogas. O uso concomitante de paroxetina pode necessitar ajuste da dose de asenapina (redução), que dependerá da avaliação médica.” Depois da recente aprovação pela FDA, a Shering-Plough encaminhou o material e os estudos realizados sobre o medicamento para a análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e representantes do laboratório acreditam que a asenapina seja disponibilizada para o mercado brasileiro em 2011. r
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esquizofrenia afeta cerca de 24 milhões de pessoas em todo o mundo e 50% delas não recebem tratamento. O Ministério da Saúde aponta que entre 0,7% e 1% dos brasileiros já tiveram pelo menos um surto da doença. Já o transtorno bipolar, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), é a sexta principal causa de incapacitação no mundo. De acordo com a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB), calcula-se que de 1,8 milhão a 15 milhões de brasileiros sejam portadores da doença, nas suas diferentes formas de apresentação (tipos I e II) e estimativas indicam que um indivíduo que desenvolve os sintomas da doença aos 20 anos de idade, por exemplo, pode perder nove anos de vida e 14 anos de produtividade profissional, se não for tratado adequadamente. Outro dado apresentado pela ABTB é de que 50% dos pacientes com transtorno bipolar tentam suicídio ao menos uma vez e 15% efetivamente o cometem. A substância asenapina é um agente psicotrópico indicado para o tratamento agudo de esquizofrenia, de episódios de mania ou mistos associados com transtorno bipolar I em adultos. A substância está disponível para o mercado americano desde o final do ano passado na forma de comprimidos sublinguais. O medicamento, produzido pela Shering-Plough e aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), utiliza a substância asenapina como base. É o primeiro medicamento psicotrópico a receber o registro inicial para a esquizofrenia e o transtorno bipolar 1 concomitantemente. De acordo com o Dr. Eduardo Ponde de Sena, especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria, o registro de asenapina pela FDA foi baseado em dados de eficácia de estudos clínicos, envolvendo mais de 3 mil pacientes com esquizofrenia e mania bipolar, além dos dados de segurança de 4,5 mil pacientes (alguns foram tratados por mais de dois anos). “Há diferentes estudos em esquizofrenia, incluindo comparativo com placebo e outras substâncias”, afirma. Nos estudos de mania aguda, comparou-se a asenapina (nas doses de 5 a 10 mg, 2 vezes ao dia) ao placebo e a outras substâncias, demonstrando-se a eficácia da asenapina em um período agudo (3 semanas). Segundo o Dr. Sena, esses estudos foram seguidos por um período de comparação com outra droga, de nove semanas, para verificação da manutenção da eficácia, além de estudo de maior duração (40 semanas) para avaliação da segurança. Ainda de acordo com o Dr. Sena, em relação à esquizofrenia, a asenapina é uma droga com eficácia diferenciada. “Mostrou-se superior a uma droga atípica das mais prescritas no mundo, no que diz respeito
Dr. Eduardo Ponde de Sena, especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria
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Hipotireoidismo tem tratamento eficaz
por Mariana Tinêo
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or ser uma doença frequente, que afeta diretamente a qualidade de vida do portador, o hipotireoidismo precisa ser tratado assim que for detectado. Para sorte da população que apresenta baixa função da glândula tireoide, hoje o tratamento deste distúrbio é simples e eficaz, na grande maioria dos casos. De acordo com a Dra. Alessandra Rascoviski, doutora em Endocrinologia pela Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (FMUSP) e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), no Brasil não existem estudos precisos sobre a prevalência do hipotireoidismo, por isso os endocrinologistas se baseiam em dados de outras populações. “A prevalência do hipotireoidismo na população norteamericana geral é de 2 % em mulheres e 0,2% em homens. Entre os idosos, a estimativa é de prevalência de 6% em mulheres e 2% em homens. Lembrando que a incidência das
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várias causas do hipotireoidismo está relacionada à presença de fatores geográficos e ambientais (como a deficiência de iodo na dieta, por exemplo), de fatores genéticos (tireoidite autoimune) e da faixa etária da população”, informa a especialista. Além disso, Dra. Alessandra explica que há o hipotireoidismo subclínico, definido como a elevação dos níveis séricos do hormônio estimulador da tireóide, TSH, com os níveis de tiroxina livre e de triiodotironina dentro da normalidade. “A prevalência dessa condição na população norte-americana varia de 4% a 10% e chega a 20% em mulheres acima de 60 anos. No Brasil, um estudo realizado encontrou hipotireoidismo subclínico em 16,1% das mulheres na pós-menopausa”, acrescenta. Em relação às causas, a médica explica que o hipotireoidismo pode ser classificado etiologicamente, de acordo com a glândula acometida: • Hipotireoidismo primário – aquele que apresenta causas tireoidianas: tireoidite de Hashimoto ou autoimune (corresponde a 95% dos casos), tratamento feito com iodo radioativo, tireoidectomia subtotal ou total, tireoidite subaguda, uso de drogas antitireoidianas, deficiência de iodeto, defeitos congênitos na síntese de hormônio tireoidiano, doenças infiltrativas da tireoide (sarcoidose, hemocromatose, amiloidose), agenesia da tireoide ou tireoide ectópica. • Hipotireoidismo secundário – com causas hipofisárias: cirurgia de hipófise, tumor de hipófise, destruição da hipófise por radiação ou doenças infiltrativas. • Hipotireoidismo terciário – com causas hipotalâmicas: tumor hipotalâmico, cirurgia ou radiação ou trauma crânioencefálico. “Além das causas citadas ainda existe uma causa bastante rara, que é a resistência ao hormônio tireoidiano”, complementa a Dra. Alessandra. Segundo ela, o tratamento adequado do hipotireoidismo é fundamental para devolver a qualidade de vida ao paciente, pois a doença pode afetar praticamente todos os órgãos e sistemas do organismo. “Os sintomas do hipotireoidismo podem ser inespecíficos no início da doença, mas vão se agravando com o desenvolvimento do quadro, principalmente quando o tratamento não é iniciado. A manifestação clínica inclui diversos sintomas e sinais, como fadiga, dificuldade de concentração, fraqueza muscular, parestesias, artralgias, depressão, pele seca, queda de cabelo, unhas fracas e quebradiças, intolerância ao frio, ganho de peso, hipotermia, edema, astenia, anemia, constipação, distúrbios menstruais (pode variar de amenorreia a menorragia), anovulação e
Dra. Alessandra Rascoviski, doutora em Endocrinologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)
infertilidade, aumento da tireoide (bócio), galactorreia e baixa estatura em crianças”, relata a especialista. A médica ressalta que o quadro clínico do hipotireoidismo congênito possui peculiaridades, como hipotonia muscular, dificuldade de sucção, dificuldades respiratórias, icterícia prolongada, hérnia umbilical, sopro cardíaco, macroglossia, alargamento de fontanelas, entre outros. “É importante lembrar que a realização do teste do pezinho, um exame simples, pode evitar completamente o retardo mental a partir do tratamento precoce da doença.” Em outros casos, o diagnóstico da doença é feito através do exame laboratorial de T4 (tiroxina) e TSH (thyroid stimulanting hormone). Para tratar o hipotiroidismo, como conta a Dra. Alessandra, a levotiroxina sódica (L – T 4) é a medicação de escolha para reposição a longo prazo, com eficácia bastante significativa. “Alguns pacientes mantêm queixas de hipotireoidismo mesmo em vigência de L – T4, provavelmente pelo fato de que nem todos os tecidos convertem T4 em T3 livre adequadamente. Nesses casos pode ser usada a terapêutica combinada (reposição de levotiroxina associada a triiodotironina), desde que avaliados riscos e benefícios para cada paciente.” A administração de levotiroxina sódica é bastante eficaz no tratamento do hipotireoidismo, até pelo fato de este hormônio sintético ser bastante similar ao hormônio humano, repondo adequadamente o T4 que falta no organismo. No entanto, segundo a Dra. Alessandra, o tratamento com levotiroxina sódica deve ser feito com monitoramento do paciente, visando a normalização dos níveis de TSH ultrassensível e de T4 livre. “Devemos levar em conta fatores que dificultam a estabilização do TSH, como a não aderência à levotiroxina sódica, a não tomada da medicação em jejum, a alteração da estabilidade da levotiroxina sódica - por exposição à luz, ao calor, à umidade - o uso concomitante de substância que interfere com a absorção ou com os níveis de tiroxina livre, ou uma gravidez”, diz ela. A endocrinologista comenta que sua experiência com levotiroxina sódica no tratamento do hipotireoidismo é bastante satisfatória, mas enfatiza a importância da compreensão do paciente em relação ao caráter benigno, porém crônico, de sua doença, e principalmente sobre a necessidade e o benefício de aderir à tomada diária da medicação para o bom resultado da terapia e o retorno da qualidade de vida. Para facilitar a adesão dos pacientes ao tratamento correto do hipotireoidismo, já foi disponibilizado no mercado o primeiro genérico da levotiroxina sódica. Com a possibilidade de redução de custos, a eficácia do tratamento do hipotireoidismo fica ainda mais assegurada. r m é d i c o repórter | número 104
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Nova vacina traz ampla cobertura para doenças pneumocócicas por Mariana Tinêo
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s doenças causadas pela bactéria Streptococcus pneumoniae são responsáveis por uma alta taxa de mortalidade infantil em todo o mundo, especialmente em crianças com menos de 5 anos de idade. De acordo com o Dr. Eitan Berezin, professor adjunto da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, as doenças pneumocócicas são as infecções mais frequentes em nosso meio, sendo a primeira causa de pneumonias e a segunda de meningites no Brasil. O problema maior é que o Streptococcus pneumoniae tem mais de 90 cepas diferentes. “Dependendo da região, da idade média da população e do ambiente, circula um determinado tipo de bactéria. Por
isso as vacinas pneumocócicas têm que ser multivalentes, pra coibir os principais agentes circulantes”, explica o Dr. Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM). Na tentativa de proporcionar mais segurança para as populações, os cientistas buscam o desenvolvimento de vacinas que coíbam o maior número possível de tipos do Streptococcus pneumoniae. Atualmente, está em uso em nosso País, embora apenas para instituições privadas (clínicas ou consultórios), a vacina 7-valente, que já consegue, como informa o Dr. Kfouri, cobrir 70% dos principais sorotipos circulantes no Brasil (4, 6B, 9V, 14, 18C, 19F e 23F). A boa notícia é que uma vacina com maior poder de cobertura já está aguar-
dando a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), tanto para o uso em crianças como em adultos. A nova vacina pneumocócica conjugada 13-valente (VPC13) previne contra 13 sorotipos do Streptococcus pneumoniae, os sorotipos 4, 6B, 9V, 14, 18C, 19F e 23F (já presentes na 7-valente) e mais 6 sorotipos (1, 3, 5 ,6A, 7F e 19A). “A vacina 13-valente praticamente dobra a cobertura dos germes que circulam em nosso meio. Hoje a 7-valente cobre cerca de 70% dos nossos sorotipos de Streptococcus pneumoniae, com a 13-valente esse número sobe para 90%. É uma boa ampliação na gama de proteção”, comenta o Dr. Kfouri. O especialista conta que a vacina 7-valente causou uma surpresa nos países onde foi introduzida – não restrita a instituições
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Dr. Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM).
privadas, mas administrada para toda a população –, como os Estados Unidos. “A particularidade foi que a vacinação não apenas preveniu as doenças para as quais foi destinada, mas também os pacientes vacinados deixavam de ser portadores da bactéria, o que reduzia a transmissão e, consequentemente, a circulação do agente infeccioso na comunidade. Nos Estados Unidos foram vacinadas crianças até 5 anos de idade e com isso as doenças pneumocócicas foram reduzidas também na população não vacinada – pais, avós, familiares... Hoje os especialistas norte-americanos fazem uma conta de que, pra cada criança que deixou de adoecer, dois adultos deixaram de adoecer também. O benefício foi o dobro do esperado. O número de casos prevenidos foi o dobro na população não vacinada. Uma extensão enorme, atingindo a imunidade coletiva.” Nesse sentido, o Dr. Kfouri acrescenta que os estudos de farmacoeconomia realizados naquele país mostraram que a vacina é altamente custo-efetiva, ou seja, os serviços de saúde gastavam muito mais com a doença do que gastam com a vacinação. Tanto assim, que o especialista lembra ainda que para crianças pertencentes ao grupo de risco, ou seja, crianças com aids, nascidas prematuramente, com câncer, asma, síndrome de Down, diabetes, portadoras de doenças crônicas, a vacina 7-valente é disponibilizada pelo governo norte-americano gratuitamente. Além dos benefícios citados, a vacina 13-valente é uma saída para o problema da resistência bacteriana, pois previne contra um dos sorotipos mais agressivos da bactéria, o 19A, principal agente da resistência aos antibióticos utilizados no tratamento ALGUNS DADOS GERAIS - Crianças com menos de 2 anos de idade têm maior risco de serem infectadas pelo Streptococcus pneumoniae, assim como os adultos com mais de 65 anos. De fato, essa bactéria é a causa mais comum de pneumonia adquirida na comunidade em todas as faixas etárias. - Crianças que ficam em creches apresentam risco mais elevado de contrair doenças pneumocócicas, se comparadas com as crianças que ficam em casa. - Afecções clínicas como anemia falciforme, HIV, diabetes, doença pulmonar, doença cardíaca, doença renal e asplenia, predispõem os indivíduos à infecção pneumocócica. - A meningite pneumocócica é a que mais causa óbito no País. - 30% a 55% dos pacientes com doenças pneumocócicas terão sequelas graves. - 40% das crianças infectadas terão sequelas neurológicas. - 70% dos casos de doenças pneumocócicas no País poderiam ser prevenidos com a vacinação na infância.
das doenças pneumocócicas. Controle é importante em casos de pandemia De acordo com o Dr. Berezin, a doença pneumocócica, já frequente e normalmente com gravidade, vai se tornando mais importante em episódios de gripe, como a que estamos vivendo hoje com o vírus A (H1N1) – a comentada gripe suína. “A infecção por Streptococcus pneumoniae é a que mais complica os casos de gripe. A menina que faleceu recentemente em Osasco (SP) teve infecção por Pneumococcus como complicação. Dentro de quadros epidêmicos de gripe a vacina conjugada tem grande utilidade. Se a vacina 7-valente fizesse parte do calendário de vacinação nacional, seria útil para o controle desse agente em nosso meio. A 13-valente seria um avanço maior”, ressalta o Dr. Berezin. Sendo assim, o Dr. Kfouri afirma que os óbitos em pandemias estão, muitas vezes, relacionados às doenças pneumocócicas, por isso é importante lembrar da bactéria como um complicador de quadros virais. “A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que, em casos de pandemia, os países aumentem a cobertura de vacinação pneumocócica, tanto para crianças como para adultos. No caso da vacina 13-valente, já existem estudos mostrando a possibilidade do uso em adultos também. O que seria um grande avanço para a imunização”, acrescenta o médico. Segundo ele, a vacina 13-valente acaba de ser licenciada no Chile. Nos Estados Unidos a Food and Drug Administration (FDA) está para anunciar a liberação. No Brasil a vacina está ainda sob análise da ANVISA. No item segurança, a vacina VPC 13 mantém o mesmo perfil da 7-valente, apenas inclui mais seis tipos da bactéria causadora da meningite e pneumonia. Significa a evolução de um produto conhecido entre os médicos e autoridades sanitárias em todo o mundo. Lembrando que a vacina pneumocócica conjugada 7-valente está no mercado há mais de oito anos e a proteína carreadora CRM197, usada na vacina, é utilizada há 20 anos, demonstrando segurança. Mais de 200 milhões de doses dessa vacina já foram aplicadas em crianças de todo o mundo. O esquema de vacinação sugerido para a 13-valente será o mesmo da 7-valente: quatro doses. A primeira aos 2 meses de idade; a segunda aos 4 meses; a terceira aos 6 meses e o reforço ou quarta dose aos 12 meses. Embora a vacina pneumocócica seja indicada para crianças até 5 anos, tem melhor impacto nos primeiros dois anos de vida, quando a infecção por Pneumococcus é mais frequente. Por isso, as Sociedades Brasileiras de Pediatria e Imunizações recomendam o esquema citado. Além disso, a VPC13 está sendo avaliada mundialmente, por meio de estudos de fase III, para administração em adultos. O fabricante, Wyeth Indústria Farmacêutica, espera que a submissão para aprovação dessa indicação seja feita em 2010. r m é d i c o repórter | número 104
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Dr. Marcos Freire, pesquisador da FIOCRUZ
Brasil produzirá vacina contra dengue Dinheiro e know-how fazem parte do acordo firmado entre o Ministério da Saúde do Brasil e o laboratório britânico GlaxoSmithKline para tentar acabar com os casos de dengue em território nacional Por Mariana Tinêo
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o último mês de setembro o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anunciou que o Brasil acabara de firmar uma parceria com a empresa farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK). A ideia é criar um novo grupo de pesquisa e desenvolvimento na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), no Rio de Janeiro. Entre os itens acordados no projeto está a produção de uma vacina de dengue. “Na verdade, o que assinamos foi um acordo de cooperação ou parceria no desenvolvimento tecnológico de uma vacina de dengue. A estimativa é de que levaremos cerca de dez anos para o desenvolvimento e o registro dessa vacina. Temos que considerar que é muito difícil prever quando a vacina estará disponível, mas pretendemos iniciar as primeiras avaliações clínicas em quatro ou cinco anos. O acordo com a GSK também prevê a transferência total da tecnologia para a FIOCRUZ, após o desenvolvimento da vacina. Mas as duas instituições, GSK e FIOCRUZ, participarão de todo o processo tecnológico, ou seja, ambas entrarão com investimentos financeiros e contribuições intelectuais em todo o processo”, informa o Dr. Marcos Freire, pesquisador da FIOCRUZ envolvido nessa parceria público-privada. O Dr. Marcos explica que, nesse primeiro momento, as atividades científicas brasileiras ficarão concentradas na FIOCRUZ, mas, com o avanço do projeto, outras instituições poderão ser envolvidas em estudos soroepidemiológicos e clínicos – necessários para o desenvolvimento de uma vacina segura e eficaz para a dengue. “A parceria já está caminhando. Participar da elaboração do projeto de colaboração, definindo objetivos, metas, metodologias etc., com uma empresa pública e uma multinacional do porte da GSK já é um grande aprendizado. Além disso, já estamos
treinando os técnicos da Fiocruz, na Bélgica, para iniciarmos as atividades laboratoriais alinhadas com as políticas de qualidade e tecnologias”, conta o especialista. Entretanto, Marcos esclarece que ainda não existe uma tecnologia estabelecida para a vacina de dengue. “A ideia é juntarmos os conhecimentos acumulados (know-how) nas duas instituições de pesquisa para podermos desenvolver uma vacina tetravalente, eficaz para a dengue. Neste caso, o objetivo principal é chegar a uma vacina que cubra necessariamente os quatro tipos de dengue existentes em nosso meio.” O grande problema da dengue é que, se uma pessoa for infectada pela segunda vez por um sorotipo diferente do vírus, tem uma probabilidade maior de apresentar uma forma mais grave da doença, como a dengue hemorrágica. Portanto, se a vacina deixar de cobrir algum sorotipo da dengue, pode aumentar os casos graves dos demais sorotipos. O pesquisador acredita que, se a parceria obtiver sucesso no desenvolvimento dessa vacina, com eficácia, segurança e produção estabelecida no Brasil por um custo acessível, o imunizante será bem-vindo para o nosso programa nacional de imunizações. Sendo que as crianças também farão parte do público-alvo das campanhas de vacinação, pois o projeto tem a intenção de criar uma vacina válida para todas as faixas etárias da nossa população. Segundo dados anunciados na mídia, na parceria firmada com a GlaxoSmithKline, o Brasil dividirá o custo de 70 milhões de euros. Pois além da vacina de dengue, vista como prioridade, haverá ainda o desenvolvimento de tecnologias que ajudem na prevenção de doenças negligenciadas no País (que incluem a malária e a febre amarela). r
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Vacina contra a aids: resultados modestos levantam discussões
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por Mariana Tinêo
A recente divulgação de uma vacina que protege contra a infecção do HIV poderia ter sido uma revolução para a Medicina, mas acabou sendo apenas a evidência de um futuro promissor. Mais um passo na busca pela vacinação definitiva contra uma doença que em 2007 já atingia cerca de 33,2 milhões de pessoas no mundo, de acordo com as estimativas da Organização Mundial da Saúde
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o último mês de setembro a imprensa internacional anunciou os resultados de um estudo clínico realizado para testar um esquema experimental de vacinação contra a aids: o RV 144. Apesar de esta ser a primeira vez em que uma vacina mostra capacidade de prevenir a infecção do HIV, os resultados foram considerados modestos pelas autoridades em saúde e comunidade científica. O esquema de vacinação em questão é uma combinação de duas vacinas que, isoladas, não haviam funcionado para prevenir a infecção pelo HIV: • Alvac-HIV, da Sanofi-Pasteur, que embutiu num vírus, modificado pelos cientistas, três genes do HIV. Variações da Alvac foram testadas na França, Tailândia, Uganda e Estados Unidos e os testes mostraram que a vacina era segura, mas gerava pouca resposta imunológica. • Aidsvax, uma versão (criada por bioengenharia) de uma proteína localizada na superfície do vírus HIV, desenvolvida pela Vaxgen Inc. e licenciada pela Global Solutions for Infectious Diseases. Esta vacina foi testada entre usuários de drogas tailandeses, em 2003, e entre homens homossexuais nos Estados Unidos e na Europa, mas o produto não protegia os pacientes da infecção. A combinação destas duas vacinas nesse esquema busca suscitar duas respostas distintas do sistema imuno-
lógico, a Alvac foi desenvolvida para alertar leucócitos e a Aidsvax para criar anticorpos. O RV 144 é um estudo de fase III, patrocinado pelo Exército dos Estados Unidos e conduzido pelo Ministério Tailandês da Saúde Pública. Foi iniciado em outubro de 2003, com 16.402 voluntários, entre 18 e 30 anos de idade, que residiam nas províncias tailandesas de Rayong e Chon Buri. Os participantes foram divididos em dois grupos: um recebeu as duas vacinas experimentais e outro recebeu placebo. Participantes e equipe de pesquisa não detinham a informação sobre quem estava em cada um desses grupos da pesquisa, o que caracteriza os estudos clínicos duplo-cegos. Ambos os grupos receberam doses da vacina experimental (ou do placebo) em intervalos específicos de tempo, durante três anos. Os resultados do estudo mostraram que 74 dos 8.198 pacientes do grupo que recebeu placebo se infectaram com o HIV durante o estudo, contra 51 dos 8.197 participantes que receberam a vacina. A comparação destes dados indica que a vacina teve 31% de eficácia em evitar a infecção pelo vírus HIV, além de ter se mostrado segura. O nível de prevenção encontrado foi considerado estatisticamente significativo. Esse resultado pode ser considerado um passo importante no caminho do desenvolvimento de uma vacina contra a aids. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), os resultados apresentados são
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É claro que gostaríamos de já ter descoberto uma vacina eficaz, mas até agora isso não foi possível. Como todos os cientistas que estudam vacinas contra o HIV/aids, me considero um otimista em relação a essa questão. Infelizmente, ainda não podemos determinar um prazo para que a vacina torne-se uma realidade
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USP trabalhamos no desenvolvimento de uma nova vacina. O grupo é liderado pelo professor Edécio Cunha Neto. Temos a expectativa de em breve iniciar os testes com voluntários. Já fizemos experimentos em roedores, e testes em macacos estão começando (embora essa etapa ainda precise de financiamento). Se tudo correr bem nos estudos com animais, testaremos se a vacina consegue estimular o sistema de defesa em pessoas, em estudos de fase I.” De fato, o caminho para o desenvolvimento de uma vacina contra a aids tem diversos obstáculos. Nesse sentido, o Dr. Kallas revela que a principal dificuldade dos pesquisadores é o fato de o vírus ter uma capacidade rápida de modificação para driblar o sistema imunológico. “Fora isso, ainda não há um teste que mostre com precisão se alguém está de fato protegido contra o vírus HIV”, finaliza o infectologista. Descoberta de anticorpos Também em setembro, foi divulgado na revista Science um estudo norte-americano que havia identificado anticorpos que seriam uma espécie de ponto fraco do vírus HIV. Os testes de laboratório realizados mostraram que os anticorpos descobertos conseguem afetar muito mais variantes e linhagens do HIV que o usual, o que confere potencial proteção a portadores desses anticorpos, tanto contra novas variantes do vírus com o qual já estão infectados, quanto contra qualquer nova mutação que seja desenvolvida. O grupo de pesquisadores norte-americanos é liderado pelo Dr. Dennis Burton, do Scripps Research Institute, na Califórnia. Eles analisaram o sangue de 1,8 mil indivíduos para checar seus anticorpos e descobriram que cerca de 10% desses portadores tinham o que chamaram de “anticorpos amplamente neutralizantes”. A partir dessa análise, os pesquisadores chegaram aos dois anticorpos extremamente potentes mencionados no trabalho, ambos vindos de um doador africano. r
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uma evolução na busca pela vacina contra o HIV, no entanto, ainda são modestos e, obviamente, mais estudos são necessários para a compreensão do mecanismo de proteção proporcionado por esse produto. “Quando uma vacina é desenvolvida, é testada em etapas. As fases de I a III são necessárias para que o produto seja aprovado pelos órgãos competentes. Os resultados do estudo em fase III da vacina RV 144 mostraram pela primeira vez que uma vacina exerceu alguma proteção. É claro que um estudo grande como esse nos traz esperanças. Por outro lado, os resultados são ainda muito modestos, e isso não qualifica o produto para ser utilizado no dia a dia das pessoas”, comenta o Dr. Esper Kallas, médico infectologista da Universidade de São Paulo (USP). O especialista informa que, hoje, vários grupos, em diferentes países, estão estudando vacinas experimentais contra o HIV. “É claro que gostaríamos de já ter descoberto uma vacina eficaz, mas até agora isso não foi possível. Como todos os cientistas que estudam vacinas contra o HIV/aids, me considero um otimista em relação a essa questão. Infelizmente, ainda não podemos determinar um prazo para que a vacina torne-se uma realidade.” Além disso, o Dr. Kallas conta que no Brasil existem iniciativas para a realização de testes e para o desenvolvimento de uma vacina nacional. “Três grupos nacionais já participaram de estudos de vacinas contra HIV com voluntários: o nosso grupo na Universidade de São Paulo, o Centro de Referência e Treinamento DST/Aids (CRT-Aids), da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (com o qual também estamos trabalhando agora) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1990, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também participou de uma pesquisa com um produto, que infelizmente não se mostrou promissor. Aqui na
Dr. Esper Kallas, médico infectologista da Universidade de São Paulo (USP)
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Nova técnica para cirurgia cardíaca é desenvolvida por brasileiro
Por Mariana Tinêo
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Apesar de vários métodos cirúrgicos já terem sido desenvolvidos para o tratamento da anomalia de Ebstein, uma nova técnica, chamada de cirurgia do cone, tem chamado a atenção dos cardiologistas de todo o mundo. Além de ressaltar as vantagens e a eficácia da técnica do cone, os cirurgiões afirmam que o procedimento deve ser considerado padrão-ouro na correção da valva tricúspide. O melhor da história, para nós, brasileiros, é que a técnica do cone foi desenvolvida por um de nossos especialistas: o Dr. José Pedro da Silva, cardiologista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. De acordo com ele, a técnica do cone se diferencia das metodologias anteriores por causa da correção anatômica da valva tricúspide, que resulta na coaptação plena
dos folhetos valvares durante o fechamento da valva tricúspide. “Os principais detalhes cirúrgicos são: parte do folheto anterior, o folheto posterior e septal da valva tricúspide são mobilizados por suas implantações anômalas do ventrículo direito e com esses tecidos é construído um cone cujo vértice permanece fixo no ápice do ventrículo direito, e a base é suturada no nível do anel verdadeiro. Além disso, a porção atrializada do ventrículo direito é reduzida por plicatura longitudinal. Portanto, além de construir uma nova valva tricúspide, anatômica e funcionalmente semelhante à valva tricúspide normal, o ventrículo direito é reconstruído no sentido de restaurar o seu formato normal”, explica o Dr. Silva. Indicada no caso de pacientes portadores de anomalia de Ebstein, principalmente para aqueles que apresentam sintomas como cianose, dilatação ou arritmia cardíaca, a
DIVULGAÇÃO
Depois de ser apresentada em um congresso norte-americano, em 2006, a técnica do cone atraiu especialistas internacionais. Os cardiologistas têm vindo ao Brasil aprender o novo método, que deve ser adotado como procedimento de primeira escolha no tratamento da anomalia de Ebstein nos melhores serviços de Cardiologia
Dr. José Pedro da Silva, cardiologista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo m é d i c o repórter | número 104
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cirurgia do cone vem sendo usada em diversas instituições de saúde de todo o mundo. “O Dr. Emile Bacha, professor da Universidade de Harvard e cirurgião do Children’s Hospital, em Boston, e o Dr. Joseph A. Dearani, cirurgião da Clínica Mayo, dizem que adotaram essa técnica por a considerarem diferente de todas as outras técnicas de plastia na valva mitral, porque se aproxima de um reparo anatômico. Na realidade, a técnica do cone resulta na construção de uma válvula em que 360º da junção atrioventricular são cobertos por tecido valvar, o que possibilita que seja aplicada praticamente em todos os pacientes, com baixo risco cirúrgico. Outro fator importante é que raramente há necessidade da troca, da substituição valvar por prótese. Isso é um fator importante. Só na Clínica Mayo, por exemplo, quase 60% das valvas tricúspides eram substituídas por próteses. Com a cirurgia do cone não houve necessidade de substituição nos últimos 40 pacientes operados, na mesma instituição”, conta o Dr. Silva. Nesse sentido, o Dr. Silva comenta ainda que o Dr. Joseph Dearani, o mais experiente cirurgião do mundo nas correções em anomalia de Ebstein, já afirmou que a técnica do cone é o padrão-ouro na correção da doença, e provavelmente se tornará a técnica de eleição na maioria dos centros de cirurgia cardíaca. A consequência direta do estudo do Dr. Silva é que cirurgiões de vários países têm procurado o médico para aprender a técnica do cone e adotá-la como procedimento-padrão em seus serviços de saúde. “Em junho de 2007 tivemos como visitantes o Dr. Emile Bacha e o Dr. Joseph Dearani. Este ano recebemos um grupo de cirurgiões do German Heart Center Munich, da Alemanha. O cirurgião alemão Dr. Rüdiger Lange, que atualmente aplica outros métodos em seus pacientes, disse que a tendência é que o hospital passe a usar a técnica do cone em
todos os procedimentos”, informa o especialista. O cardiologista ressalta que desenvolveu a técnica do cone porque as técnicas existentes não resolviam adequadamente o problema da anomalia de Ebstein, que apresenta inúmeras facetas anatômicas e funcionais. “Nos últimos 20 anos, duas técnicas vêm sendo muito usadas em casos de anomalia de Ebstein: a técnica de Danielson, que pode ser aplicada em apenas 50% dos pacientes, sendo a valva tricúspide substituída por prótese nos outros pacientes; e a técnica de Carpentier, que resolvia um número maior de casos (cerca de 90%), mas que apresentava alta incidência de insuficiência valvar com o passar do tempo. Inicialmente, pensei em um desenho novo para reconstruir a valva tricúspide, de tal forma que a coaptação dos seus folhetos não fosse monovalvar como nas técnicas mencionadas. Tal ideia foi verificada em espécimes anatômicos de pacientes que morreram sem operação, e depois foi usada clinicamente, já que não existia modelo animal.” O Dr. Silva informa ainda que, inicialmente, a técnica do cone foi usada naqueles casos que não poderiam ser submetidos às técnicas convencionais usadas na época, ou seja, em candidatos à troca da valva tricúspide. “Portanto, foi um início vantajoso para os pacientes, e até agora nenhuma valva tricúspide tratada de anomalia de Ebstein foi substituída por prótese valvar nesta nossa experiência.” Segundo o Dr. Silva, hoje já foram submetidos a cirurgia do cone 84 pacientes, operados com sucesso. A anomalia de Ebstein, que normalmente é descoberta na infância, é provocada por uma deficiência na valva tricúspide (que fica entre o átrio e o ventrículo direito). O defeito impede que a valva funcione plenamente, fazendo com que o sangue que sai do átrio para o ventrículo volte para o átrio. Sendo assim, o sangue acaba se acumulando do lado direito do coração, que aumenta de tamanho. r
“
Indicada no caso de pacientes portadores de anomalia de Ebstein, principalmente para aqueles que apresentam sintomas como cianose, dilatação ou arritmia cardíaca, a cirurgia do cone vem sendo usada em diversas instituições de saúde de todo o mundo
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Inovação é estar sempre à frente na pesquisa e desenvolvimento de novas soluções para os cuidados com a saúde Calcijex (calcitriol). Apresentação: ampola de 1 mL contendo 1 mcg de calcitriol. Indicações: tratamento da hipocalcemia em pacientes submetidos a diálise renal crônica. Contra-indicações: Hipersensibilidade ao calcitriol ou a qualquer dos excipientes da fórmula; pacientes com hipercalcemia ou evidência de toxicidade por vitamina D. Precauções e Advertências: A vitamina D e seus metabólitos devem ser suspensos durante o tratamento. Um composto não alumínico deve ser usado para controlar os níveis séricos de fósforo em pacientes submetidos a diálise. Não permitir que o produto cálcio-fósforo exceda o valor de 70. No início do tratamento, os níveis de cálcio e fósforo devem ser obtidos pelo menos 2 vezes por semana. Em caso de hipercalcemia, a medicação deve ser descontinuada. Doença adinâmica óssea pode ocorrer se os níveis de PTH forem anormalmente suprimidos. Recomenda-se cautela em relação a pacientes digitalizados, pois, nestes pacientes, a hipercalcemia pode precipitar arritmias cardíacas. Gravidez e lactação: Não há experiência de uso de calcitriol em mulheres grávidas. Não há dados sobre a excreção do fármaco no leite materno. Uso pediátrico: Segurança e eficácia do calcitriol em crianças não foram estabelecidas. Uso em Transplantes: Recomendações para tratamento da perda óssea pós-transplante com calcitriol não foram estabelecidas. Uso na Osteoporose pós-menopausa: A eficácia não foi estabelecida nesta população de pacientes. Interações medicamentosas: Antiácidos contendo magnésio não devem ser usados concomitantemente com calcitriol. A administração concomitante de diuréticos tiazídicos e doses farmacológicas de análogos da vitamina D em pacientes com hipoparatireoidismo pode resultar em hipercalcemia, a qual pode ser transitória e auto-limitada, ou pode requerer a interrupção da administração dos análogos da vitamina D. O uso concomitante de análogos da vitamina D e glicosídeos cardíacos pode resultar em arritmias cardíacas. Os efeitos da vitamina D podem ser reduzidos em pacientes sob terapia com barbituratos ou anticonvulsivantes. Corticosteróides antagonizam os efeitos dos análogos da vitamina D. Reações adversas: Dor ou hipersensibilidade no local de injeção, reações similares a intoxicação por vitamina D (fraqueza, cefaléia, sonolência, náusea, vômitos, obstipação, boca seca, gosto metálico, dor muscular ou óssea; tardiamente, poliúria, polidipsia, anorexia, conjuntivite por cálcio, fotofobia, rinorréia, hipertermia, hipertensão, arritmias cardíacas, calcificações ectópicas, pancreatite, redução da libido, elevação de uréia, colesterol, enzimas hepáticas e albuminúria) Posologia: A dose inicial recomendada de Calcijex (calcitriol) é de 1,0 mcg (0,02 mcg/kg) a 2 mcg administrados três vezes por semana, aproximadamente em dias alternados, podendo ser administrada através de uma dose intravenosa em bolus. Se não for observada resposta satisfatória nos parâmetros bioquímicos e nas manifestações clínicas do estado da doença, a dose pode ser aumentada em 0,5 a 1,0 mcg, a intervalos de duas a quatro semanas. Redução de dose pode ser necessária à medida em que os níveis de PTH decresçam em resposta à terapêutica. Superdosagem: Pode causar hipercalcemia, hipercalciúria e hiperfosfatemia. Medidas de suporte, descontinuação de suplementos de cálcio e dieta pobre em cálcio geralmente são suficientes, mas medidas como diurese forçada, uso de corticóides e fosfatos podem ser necessárias. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. USO RESTRITO A ESTABELECIMENTOS HOSPITALARES E PARAHOSPITALARES. Registro no MS: nº : 1.0553.0116. Informações adicionais estão disponíveis aos profissionais de saúde: Abbott Laboratórios do Brasil Ltda – Diretoria Médica: Rua Michigan, 735 – Brooklin, São Paulo/SP 04566-905 ou fone 0800 703 1050. ABBOTT CENTER - Central de Relacionamento com o Cliente 0800 7031050 www.abbottbrasil.com.br
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O tratamento medicamentoso para ejaculação precoce Há grande dificuldade em encontrar uma ferramenta objetiva, prática e fidedigna para mensurar a presença de ejaculação precoce (EP). A maioria dos estudos clínicos mais modernos tem usado a medida da latência ejaculatória intravaginal (IELT) através de cronômetros acionados pelo próprio paciente ou até pela parceira. A crítica a esse método é que a IELT não é capaz de mensurar parâmetros subjetivos dessa entidade multidimensional, por exemplo, o controle sobre a ejaculação e grau de sofrimento que a EP pode trazer ao casal
É
praticamente consensual que a EP deve ser avaliada com a IELT associada a um questionário validado para medir o grau de desconforto e sofrimento do descontrole ejaculatório. Confira a seguir a explicação de família de medicamentos utilizada no tratamento farmacológico de EP. Clomipramina A clomipramina é um antidepressivo tricíclico que inibe a captação da noradrenalina e serotonina (5-HT) por neurônios 5-HT e adrenérgicos. Alguns estudos mostram que a clomipramina usada diariamente aumenta a IELT significativamente quando comparada com placebo. No
entanto, a maioria dos estudos é realizada em um único centro e com amostra insuficiente. A sua utilização na demanda (25 mg, 12 – 24 horas antes do coito) já foi estudada e mostrou ser superior ao placebo, aumentando a IELT em até quatro vezes. O problema é que quase nenhum estudo clínico utilizou um método mais objetivo para medir a IELT do que o cronômetro. Outros estudos concluíram que a clomipramina pouco beneficiará homens que possuem a IELT mais reduzida. Finalmente, o uso da clomipramina pode ser limitado pelo seu perfil de efeitos adversos associados. O uso na demanda parece não diminuir o risco de sonolência, bocejamento e enjoo. Além do mais, os inibidores da recaptação da serotonina apresentam um perfil de tolerabilidade superior quando
Arquivo
Por Dr. Eduardo Bertero*
Dr. Eduardo Bertero é urologista do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo; fellow em Medicina Sexual pela Universidade de Boston, EUA; mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP); e investigador principal em estudo clínico envolvendo dapoxetina no tratamento de ejaculação precoce (Janssen-Cilag)
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comparados com a clomipramina. Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs) Baseado na neurofisiologia da EP, os ISRSs como paroxetina, fluoxetina e sertralina, que aumentam a concentração sináptica de 5-HT via bloqueio dos 5-HT transportadores, têm mostrado um benefício significativo no manejo de homens com EP (tabela 1). Embora até hoje nenhum desses fármacos tenha uma indicação oficial para EP, muitas sociedades, entre as quais a Associação Americana de Urologia (AUA), aprovam
o seu uso off-label. Uma meta-análise foi conduzida e focou em oito estudos randomizados, duplo-cegos, com agentes ISRSs e antidepressivos tricíclicos que incluíram um cronômetro para avaliação da IELT. O aumento da IELT foi mais significativo com o uso da paroxetina, seguindo-se, em ordem decrescente, sertralina, clomipramina e placebo. De interessante, o efeito adverso mais comum observado em todos os estudos clínicos foi disfunção sexual, que incluía distúrbios do desejo sexual e excitação, ejaculação retardada ou anejaculação, ausência m é d i c o repórter | número 104
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ou orgasmo retardado e disfunção erétil. De fato, os efeitos colaterais associados ao uso crônico de ISRSs têm sido um grande obstáculo à sua utilização. Esses efeitos adversos incluem: consequências neurológicas e psiquiátricas, reações dermatológicas, efeitos colaterais anticolinérgicos, alterações no peso corporal, disfunção cognitiva além dos já mencionados efeitos colaterais relacionados à função sexual. Outra limitação do uso continuado dessas substâncias tem sido
a “síndrome da descontinuação do ISRSs”, mais frequente com uso da paroxetina. O conjunto de reações somáticas e psicológicas características da síndrome incluem: tontura, náusea e vômitos, cefaleia, letargia, agitação, ansiedade e insônia. Os sintomas usualmente iniciam-se um a três dias após descontinuação e têm uma duração média de mais de uma semana, podendo a síndrome ser revertida com a reintrodução do medicamento.
Tabela 1: resumo dos principais ISRSs no manejo de EP.
Drug Fluoxetin SertralineSertraline Paroxetine Paroxetine
Paroxetine
Citalopram Citalopram
Dapoxetine
Usage, mg 20 dy 50 dy 50/100 dy then od 20 dy 20 dy then od 20 od 20 dy then od 20 od 20-60 20 dy for 3 months 20 dy for 6 months 30 od 60 od
MSS +
FSS +
IELT#, min BT AT 1.2(1.0) 6.6(7.7) 0.3 3.2 0.4(0.3) 4.5(2.7)
+ +
+ -
+ -
1.5(0.7) 0.4
7.7(4.0) 5.5
-
-
+
-
-
0.4 0.5
1.5 5.8 and 6.1 3.2 and 3.5
-
-
+ +
-
-
0.3 0.6(0.3) 0.5
4.1 3.5
+
0.5
3.3
0.9 0.9
2.8 3.3
Number* 40 37 24
CE -
Measures IELT ROS + + + -
130 61
-
+ +
33 26
-
42 30 58
-
58 2614
+
-
+
+
+
Design RPCDB + + -
+
Legenda: dy: diário; od: na demanda; CE: habilidade de controlar a ejaculação; ROS: escala de orgasmo (feminino); MSS: taxa de satisfação sexual masculina; FSS: taxa de satisfação sexual feminina; BT: antes do tratamento; AT: após tratamento; RPCDB: estudo randomizado, duplo-cego controlado; SW: cronômetro; +: usado em ensaio clínico; -: não usado em ensaio clínico; *: número de pacientes no estudo; #: média (desvio-padrão). Administração de ISRSs no manejo de EP: contínuo versus na demanda Considerando os problemas com o uso crônico de ISRSs no manejo de EP, seria uma excelente alternativa obter o mesmo benefício de aumento da IELT que essas substâncias proporcionam, porém utilizando um medicamento de ação rápida ou que tivesse uma meiavida curta. É possível que uma droga
de ação rápida e curta produza um aumento sináptico de 5-HT suficiente para prolongar a IELT e resultar em uma melhora clínica significativa. Além do mais, uma droga de ação curta, ou seja, que fosse depurada do organismo da maneira mais rápida, evitaria os efeitos da impregnação crônica observada em pacientes que fazem o uso diário dos ISRSs.
Dapoxetina Dapoxetina, um ISRS de ação curta, vem sendo estudada em alguns ensaios clínicos e apresenta um pico de concentração máxima de 1,29 h e rápida eliminação, tendo uma meia-vida de 1,49 h. Essas propriedades favorecem a sua utilização como um medicamento no manuseio de EP com seu uso na demanda. Em dosagens de 30 ou 60 mg
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e administrada por via oral de uma a três horas antes do coito, mostrou aumento da IELT em até quatro vezes, estatisticamente superior ao placebo (p<0,001). Importante fato relatado pelos autores dessa revisão foi que, nesses estudos clínicos utilizando a dapoxetina, observou-se também melhora do índice de satisfação com a relação sexual e melhora da percepção do controle sobre a ejaculação. Os efeitos adversos mais relatados em estudos de 12 semanas nas doses de 30 e 60 mg foram: náusea (8,7% e 20%, respectivamente, versus 1,9% com placebo), diarreia (3,9% e 6,8%, respectivamente, versus 1,4% com placebo), cefaleia (5,9% e 6,8%, respectivamente, versus 4% com placebo) e tontura (3,0% e 6,2%, respectivamente, versus 0,8% com placebo), sendo que a taxa de descontinuação devido a efeitos colaterais foi de 5%. Inibidores da fosfodiesterase tipo V (iPDE5) Vários estudos têm sido publicados utilizando iPDE5 como monoterapia ou em associação com ISRS no tratamento farmacológico de EP. Os resultados desses trabalhos são muito conflitantes e controversos. Isso se explica pela total falta de ação neurofisiológica dessa família de medicamentos tanto na via central quanto na periférica no controle da ejaculação. Os revisores declaram que iPDE5 pode, de fato, diminuir o período refratário pós-coital , melhorar a satisfação com a relação sexual, mas não melhorar significativamente a EP. Finalizam dizendo que iPDE5 só trará benefícios em homens que sofrem de EP e disfunção erétil (DE) associados. Tramadol Estudos recentes abordam a utilização de tramadol, um opioide sintético analgésico no tratamento de EP. Embora a sua ação na EP não esteja clara, os autores argumentam que o seu mecanismo de ação pode estar baseado no fato de ter propriedades inibitórias sobre a noradrenalina e a recaptação da serotonina. Além disso, apresenta uma farmacocinética adequada,
semelhante à dapoxetina, isto é, rápida absorção e eliminação. Aguardamos mais estudos controlados para melhor avaliar seu emprego na prática diária. Agentes tópicos Formulações tópicas da combinação de lidocaína e prilocaína podem causar desensitização e aumentar a IELT, e vários estudos comprovam a sua superioridade quando comparadas com placebo. O efeito adverso mais comum e que limita o seu uso é anestesia ou adormecimento local, que pode estar presente em até 40% dos casos. Um dos cremes mais estudados é o Severence Secret (SS), que apresenta resultados satisfatórios com aumento significativo da IELT e melhora da satisfação sexual em comparação com placebo. O seu efeito colateral mais comum foi queimação local. Nessa revisão, observamos que a terapia farmacológica atualmente disponível envolve o uso off-label de ISRS e iPDE5 assim como agentes locais anestésicos, cada qual apresentando na literatura médica vários graus de tolerabilidade e eficácia. Novos medicamentos estão surgindo, como dapoxetina e tramadol, ambos de ação na demanda, o que minimizaria os efeitos indesejáveis característicos do uso crônico de ISRS. Com respeito à dapoxetina, que já está aprovada e sendo comercializada em alguns países, acredito ser uma droga extremamente promissora, pois os estudos clínicos mostram resultados satisfatórios com boa tolerabilidade. Sem contar que será o primeiro produto a receber uma bula com indicação exclusiva para EP. Certamente a pesquisa e desenvolvimento de novos fármacos para tratamento de EP não para por aí, pois o aprendizado da fisiopatologia da EP continua com a pesquisa do real papel dos neurotransmissores das áreas central e periférica. r
“
Baseado na neurofisiologia da EP, os ISRS como paroxetina, fluoxetina e sertralina, que aumentam a concentração sináptica de 5-HT via bloqueio dos 5-HT transportadores, têm mostrado um benefício significativo no manejo de homens com EP
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Sugestão de leitura: Giuliano F, Hellstrom W. The pharmacological treatment of premature ejaculation. BJU Int. 2008 Sep;102(6):668-75. m é d i c o repórter | número 104
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Chocolate – antes de tudo um benefício
Por Dr. Eduardo de Oliveira Duque-Estrada*
O
melhor de tudo é que atualmente o cacau e o chocolate são considerados um “tesouro de compostos”, com efeitos potencialmente benéficos para a saúde humana. Embora muitas informações sobre a composição do chocolate tenham sido publicadas nos últimos anos, muitos aspectos relativos à saúde não têm constituído foco de uma avaliação científica profunda e detalhada.
real depositário de sais minerais, mais do que muitos outros alimentos. Naturalmente, o chocolate é densamente calórico, e assim representa uma fonte de energia altamente concentrada em uma apresentação de fácil manuseio, o que favorece seu consumo por atletas e também pelas Forças Armadas. Os flavonoides fenólicos do chocolate impedem a desnaturação da manteiga de cacau no chocolate, permitindo um tempo de conservação mais longo.
Aspectos nutricionais Os benefícios nutritivos do chocolate são extensos e são conhecidos já há muito tempo. Não há nenhuma dúvida de que o cacau é um
Taxa de cariogênese Em saúde bucal e cárie dental, comumente emprega-se a pesquisa do pH da placa periodontal após consumo de alimentos, avaliando-
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Graças a suas muitas combinações em uma variedade de produtos, o chocolate é consumido por todas as classes sociais. Serve ao gosto do executivo e traz um sorriso ao rosto de uma criança. Fornece a energia ao atleta. Prolonga os momentos agradáveis de um jantar, e pode expressar de modo delicado nossa gratidão ou amor por alguém.
*Dr. Duque, como é conhecido, é mergulhador autônomo, foi médico do corpo de saúde da Marinha do Brasil e professor universitário até 2007. Atualmente é gerente médico do laboratório farmacêutico Blausiegel Indústria e Comércio
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se a acidogenicidade desta como indicador potencial de cáries. Outro fator importante para a cárie dental é o tempo de eliminação da mesma placa residual. Considerando-se esses dois fatores, podemos determinar o índice cariogênico potencial (CPI, sigla em inglês) dos diferentes alimentos, obtido em estudos com cobaias, nos quais a sacarina é o escore igual a 1,0. Nessa escala, observou-se que o chocolate ao leite alcança 0,8 de CPI. Esse resultado é mais baixo do que se espera, mas é compatível com as medidas do tempo de acidogenicidade e liberação da placa residual. Através disso, observou-se um efeito inibitório, devido provavelmente aos elementos químicos naturais do cacau e do leite empregado para fazer o chocolate ao leite, que limita a taxa do cariogênese. Saúde cardiovascular: ácido esteárico, aterogenicidade e fatores trombogênicos Atualmente, os interesses dietéticos do cacau e chocolate relacionam-se às doenças cardiovasculares e ao seu impacto nos lipídios plasmáticos. Em especial, observamos a correlação com o metabolismo do colesterol, que geralmente aumenta com uma dieta rica em ingesta de gordura saturada. Trabalhos recentes, como o de Kris-Etherton e outros, demonstraram que o ácido esteárico – principal ácido graxo na manteiga de cacau – propicia uma resposta colesterolêmica neutra, que se
acompanha do aumento do colesterol de alta densidade, o HDL (high-density lipoprotein) e de uma diminuição dos triglicerídeos plasmáticos. O ácido esteárico veio a ocupar uma posição na classe dos ácidos graxos saturados (SFA, sigla em inglês). Seu caráter ímpar está relacionado a um efeito colesterolêmico neutro, ao contrário dos outros SFAs de cadeia longa. Não afeta níveis de colesterol total ou das lipoproteínas mesmo após grande ingesta. Uma explicação definitiva para esses efeitos biológicos paradoxais permanece indeterminada. O que podemos afirmar é que os antioxidantes estão presentes em grandes quantidades no cacau e já se evidenciou que sua presença previne muitas intercorrências tais como a oxidação da lipoproteína de baixa densidade, o LDL (low-density lipoprotein), propiciando alívio do esforço e esgotamento físico. Os antioxidantes são considerados ainda como um dos componentes responsáveis pelo paradoxo francês (French paradox) em que a incidência de doenças cardíacas aparentemente predominantes são baixas, apesar de uma dieta elevada em gorduras saturadas. No tocante aos mecanismos de trombose, o ácido esteárico não afeta adversamente a função plaquetária e não parece ter papel trombogênico nos eventos que contribuem para o desenvolvimento da doença isquêmica cardiovascular. Entretanto, por ser a base de dados pequena para essas afirmações, mais estudos m é d i c o repórter | número 104
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são necessários para obtermos uma maior compreensão do papel de todos os ácidos graxos individualmente, incluindo o ácido esteárico, na trombogênese. Carboidratos e proteínas Os carboidratos e as proteínas são fundamentais na dieta humana para a manutenção da saúde. A energia fornecida ao corpo sob a forma de carboidratos é considerada mais benéfica do que aquela obtida da “queima” de gordura, porque os complexos de carboidratos carreiam maiores quantidades de outros nutrientes associados, tais como fibras. Os carboidratos são igualmente absorvidos mais rapidamente pelo organismo, embora a presença de gordura no chocolate prolongue o período de absorção e a resposta resultante da glicose. O cacau contém mais carboidratos na forma de amido do que açúcares, mas devemos considerar a contribuição dos açúcares comumente adicionados ao cacau durante a manufatura do chocolate. Outro fato a mencionar é que, desde que o cacau é consumido frequentemente na forma de chocolate ao leite, a contribuição das proteínas per se aumentará também as proteínas e carboidratos circulantes. Os carboidratos estão presentes no cacau como açúcares, amidos e fibras. As proteínas estão presentes em pequenas quantidades. Consequentemente, a experiência sensorial quando se está consumindo o chocolate não decorre de fato da presença das proteínas. A sua fermentação e processamento fazem com que suas concentrações se alterem em função das reações químicas. Cabe salientar que a grande presença de carboidratos no chocolate é também decorrente dos açúcares e da lactose do leite, adicionados para o preparo do chocolate ao leite. Substratos fotoquímicos e fenólicos Muitos trabalhos sobre compostos fenólicos envolvidos no sabor do cacau foram realizados entre os anos 50 e 70, com o objetivo principal de tentar elucidar a participação desses compostos no desenvolvimento do sabor do chocolate. Desde então, o interesse sobre as propriedades antioxidantes dos compostos fenólicos dessa planta cresceu, como também sobre tais compostos e seus efeitos na saúde humana. Hoje se sabe que o cacau é rico em substratos fitoquímicos. Nas sementes de cacau não fermentado, células pigmentadas representam mais de 10% do tecido. Essas células são ricas em compostos polifenólicos, em particular catequinas, embora a cor roxa característica seja devida às antocianinas. Quando as sementes são submetidas ao processo de fermentação, a cor do grão altera-se do roxo ao marrom. Essa mudança da cor é meramente o sinal mais visível das alterações significativas na química do grão. O chocolate tem qualidades de conservação excelentes, derivadas dos componentes do cacau, que por sua vez possuem muitas propriedades antioxidantes. Esses antioxidantes naturais das sementes de cacau fornecem poderosa proteção para que as
gorduras de leite não se tornem rançosas, justificando assim a diversidade de compostos químicos do chocolate. Metilxantinas As sementes de cacau contêm uma grande variedade de componentes biologicamente ativos, que incluem as metilxantinas teobromina, cafeína e teofilina, dentre outras. Nessas sementes, a teobromina (3,7-dimethylxanthine) é predominante. A cafeína (1,3,7-trimethylxanthine), a mais comum das metilxantinas em nossa alimentação, é encontrada relativamente em baixas concentrações, bem como a teofilina (1,3-dimethylxanthine). Outras metilxantinas, por terem sido observadas em concentrações ainda mais baixas, geralmente são ignoradas. A maioria dos estudos clínicos tem focado sobre o consumo da cafeína, seus usos terapêuticos e contínuos, e as consequências na saúde humana do seu uso no mundo moderno. Em comparação, existem relativamente poucos trabalhos publicados sobre a teobromina no consumo a longo prazo de produtos do cacau. O mesmo ocorre com a teofilina, que foi estudada extensivamente para aplicações terapêuticas, mas é mencionada em pequena quantidade em grãos de cacau. A teobromina, a cafeína e a teofilina compartilham diversas ações nos sistemas fisiológicos, que incluem estimulação do sistema nervoso central (SNC), efeitos diuréticos, estímulo do músculo cardíaco, e relaxamento da musculatura lisa, notadamente o músculo brônquico. Entretanto, diferem extremamente na intensidade de suas ações nos vários sistemas. Por exemplo, a cafeína parece exercer seu efeito mais forte no cérebro e no
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músculo esquelético; teofilina apresenta a maioria de seus efeitos no coração, nos brônquios e rins. Geralmente, a teobromina tende a exercer o menor efeito dessas três metilxantinas.
geral. Igualmente, por estimular o centro vasomotor, favorecem a constrição vascular e diminuem a tensão da circulação sanguínea cerebral e a tensão do oxigênio. A ação vasoconstritiva é creditada pela eficiência das xantinas em aliviar cefaleias hipertensivas. Controversamente, a supressão repentina da cafeína conduz a uma dilatação de vasos cerebrais e a relatos de cefaleia. Devido a seus efeitos fisiológicos múltiplos, as metilxantinas possuem um impacto total na pressão sanguínea geralmente mínimo ou, no pior dos casos, imprevisível. A estimulação vasomotora central e miocárdica tendem a aumentar a pressão sanguínea; a estimulação vagal e vasodilatadora periférica tendem a diminuir suas ações sobre a pressão sanguínea. Como observado com os efeitos no eixo neuroendócrino, os efeitos cardiovasculares parecem ser minimizados pelo consumo habitual das metilxantinas. A pressão arterial, a frequência cardíaca, a atividade da renina plasmática e das catecolaminas urinárias aumentam depois de uma única dose da cafeína.
Efeitos cardiovasculares e circulatórios As metilxantinas podem afetar a função cardiovascular direta ou indiretamente, influenciando através de seus efeitos no eixo neuroendócrino. Embora a cafeína seja a mais fraca das duas, a teobromina e a cafeína estimulam o músculo cardíaco, aumentando a contratilidade, a frequência cardíaca e a ejeção cardíaca. Ao mesmo tempo, esses compostos podem igualmente estimular os núcleos vagais, produzindo uma diminuição na frequência cardíaca. O resultado dessas ações opostas pode ser nenhuma alteração na frequência cardíaca, seja bradicardia ou taquicardia. Ocasionalmente, foram observadas arritmias em pacientes em uso de quantidades excessivas de cafeína. A cafeína e a teobromina dilatam momentaneamente vasos coronarianos, pulmonares e sistêmicos, assim, favorecendo o aumento da circulação de modo
Efeitos sobre o estado do humor O consumo da cafeína pode conduzir a mudanças positivas ou negativas no humor do indivíduo, dependendo da dose e de outros fatores. Em um determinado estudo, a maioria dos pacientes relatou aumento da energia e sentimento de bem-estar após ingestão de 300 mg de cafeína, mas aumentaram a ansiedade e a tensão após 500 mg. Foi demonstrado que o humor estava relacionado à expectativa dos pacientes, sendo que os pacientes sabedores do consumo relataram que a cafeína agia positivamente sobre o seu humor. Com a mesma quantidade consumida incognitamente, estados de humor negativos foram relatados. Em uma comparação entre a teobromina e cafeína, outros autores determinaram que a cafeína, e não a teobromina, produzia efeitos subjetivos de mudanças nas avaliações do grupo, incluindo aumento
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do bem-estar, da energia e da atenção. Entretanto, parece que determinados tipos de chocolate têm efeitos reais e mensuráveis na mente, mesmo sem querer invocar um fator X de ação psicotrópica. Vários autores já identificaram a liberação e mobilização de serotonina, o neurotransmissor do prazer, em nível central e periférico pela teobromina, o que pode sustentar a antiga afirmação de que os polifenóis e a teobromina são os verdadeiros responsáveis pelos efeitos psicoativos do chocolate, não deixando de ser igualmente possível que outros bioativos exerçam esse mesmo papel. Quiçá componentes não identificados, ricos em lipídios e aminas polifenólicas, variando conforme genética da espécie de cacau e segundo o método de fermentação, poderão estar também associados a outras ações psicotrópicas. Desempenho físico e mental Os efeitos fisiológicos das metilxantinas são extensamente reconhecidos, embora os mecanismos fisiológicos não sejam bem identificados.
A cafeína exerce seu efeito mais forte no cérebro e musculatura estriada, enquanto o teobromina é um estimulante relativamente fraco. O café que consumimos socialmente foi e continua a ser uma bebida popular pelo seu efeito estimulador pelo teor de cafeína. A cafeína estimula o SNC, alivia a fadiga e favorece a contração muscular, e foi associada com o aumento do desempenho mental e físico. O desempenho na resolução de problemas, o raciocínio lógico e as tarefas aritméticas mentais foram melhorados após um consumo de 150 mg da cafeína, mas reduzidos após 600 mg. Existem dados com resultados conflitantes a respeito dos benefícios ergométricos da cafeína. Nenhum efeito significativo no desempenho a curto prazo pode ser observado. Outros estudos, em diversas modalidades desportivas, sugeriram que a cafeína aumenta a resistência aos exercícios a longo prazo. Pacientes que consomem a cafeína antes do exercício aumentam seu tempo total de trabalho e o tempo necessário para chegar à exaustão. Esses diferentes resultados sugerem que os efeitos
da cafeína podem ser mediados por outras variáveis que incluem padrões dietéticos, tipo de exercício e o tipo de treinamento empregados. Ao contrário do café, os alimentos à base de cacau e chocolate contribuem muito pouco à ingestão diária média de cafeína em crianças e adultos. Quanto aos valores de teobromina, os alimentos à base de cacau oferecem pelo menos dez vezes mais do que os à base de cafeína. Devido às baixas concentrações dietéticas de cafeína nos alimentos à base de cacau, eles não conduzem a nenhum dos efeitos indesejáveis na maioria dos indivíduos. Muito falta discutir sobre o chocolate. O que realmente não poderemos nunca discordar é da singularidade de seus efeitos em nós, seres humanos. A experiência de um guerreiro asteca confinado quando consumia uma bebida forte feita à base de cacau provavelmente não é muito diferente da experiência moderna do chocolate: um prazer com culpa pela associação entre consumo de produtos com açúcar e aumento de peso corporal. Então, qual é a natureza do sentimento do bem-estar que nós experimentamos após o consumo de chocolate? Será o chocolate um “novo tipo de café” com propriedades psicoestimulantes e anti-inflamatórias, ou representa um gerador de dependência psíquica ou física? O chocolate tem verdadeiramente propriedades aditivas? Será fadado a permanecer como um enigmático alimento? Como síntese dogmática, ou estamos simplesmente tendo efeito de saciedade, ou determinados indivíduos realmente são “movidos” a consumir chocolate. Acreditamos que a resposta a essas antiquíssimas dúvidas justifiquem a necessidade da melhor compreensão química e molecular do chocolate e seus constituintes. Podemos concluir, sob a ótica nutricional integral, que o chocolate, como outros tantos alimentos, não é bom ou mau per se, isto é, o chocolate consumido como parte de uma dieta variada e bem equilibrada pode ser uma fonte saudável e importante de nutrientes essenciais à boa qualidade de vida. r
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4º Simpósio Internacional de Terapias Avançadas e Células-Tronco é realizado em Recife
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por Mariana Tinêo
O uso das células-tronco (CTs) ainda é um assunto polêmico no meio científico, mas nem por isso as pesquisas com esse material deixam de ser feitas. Muito pelo contrário, a intenção dos cientistas é descobrir mais possibilidades de aplicação dessas células, seja em estudos in vitro e em animais, seja em terapias clínicas
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ara que os grupos de estudo pudessem compartilhar o conhecimento já obtido com as CTs, foi realizado, de 8 a 10 de outubro, em Recife, o 4º Simpósio Internacional de Terapias Avançadas e Células-Tronco. Além dos nossos renomados pesquisadores nacionais, o evento teve a participação de convidados estrangeiros de peso, como o Dr. Bernd Fleischman – da Alemanha –, o Dr. Dan Gazit e Dra. Zulma Gazit – de Israel –, a Dra. Ewa Carrier, o Dr. Thomas Reh, o Dr. James Thomson e o Dr. Timothy Henry – dos Estados Unidos –, o Dr. Fernando Pitossi e o Dr. Mariano Levin – da Argentina. Na opinião da Dra. Lygia Pereira, doutora em Genética Humana e professora livre-docente do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), a vinda do Dr. James Thomson para o simpósio é um marco. “Ele foi o primeiro pesquisador que conseguiu fazer célulastronco embrionárias no mundo. O que o meu grupo de pesquisa fez no Brasil nos últimos anos, ele fez no mundo em 1998”, ressalta. A Dra. Lygia comenta que a apresentação do Dr. Thomson foi um tanto formal, apenas de revisão. Entretanto, sua opinião sobre o futuro das células embrionárias foi marcante. “Ele acredita que as CTs embrionárias terão um impacto maior que o esperado na saúde humana, a curto e médico prazo, como um sistema experimental in vitro, seja para entendermos biologia humana ou
para testarmos novos fármacos. Isso ocorrerá mais rápido que sua utilização para terapias em humanos. Na verdade, já falamos muito nisso, mas dita por ele a informação tem um peso maior.” De acordo com a Dra. Lygia, o Brasil apresenta uma situação peculiar em relação às pesquisas com CTs. Isso porque no País existe um grande número de pesquisas clínicas com células adultas – especialmente com aquelas derivadas da medula óssea – em andamento, para diferentes doenças. “O Brasil tem algumas vantagens competitivas para esse tipo de pesquisa. Entre elas, o fato de haver uma centralização grande de pacientes. Nos Estados Unidos, por exemplo, os pacientes estão pulverizados em diversos centros de saúde.” No entanto, a cientista esclarece que, apesar de termos vários ensaios clínicos em andamento, não há previsão de quando eles se transformarão de fato em terapias consolidadas. “Algumas pesquisas estão mais próximas de se tornar realidade, como a feita pelo grupo do Dr. Júlio Voltarelli com o diabetes, que está bem adiantada. Já a apresentação dos resultados do teste clínico feito na área de cardiopatias – estudo EMRTCC –, em doença de Chagas, foi um pouco frustrante, porque não foi encontrado importante efeito terapêutico.” O Estudo Multicêntrico Randomizado de Terapia Celular em Cardiopatia (EMRTCC) vem sendo realizado para comprovar a eficácia e avaliar a aplicabilidade da terapia cardíaca com CTs, além de avaliar a possível substituição dos tratamentos
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O Brasil tem algumas vantagens competitivas para esse tipo de pesquisa. Entre elas, o fato de haver uma centralização grande de pacientes. Nos Estados Unidos, por exemplo, os pacientes estão pulverizados em diversos centros de saúde
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tradicionais por essas novas terapias no Sistema Único de Saúde (SUS). O EMRTCC avalia a eficácia do implante autólogo de células-tronco de medula óssea em 1,2 mil pacientes brasileiros com cardiomiopatia dilatada, cardiopatia chagásica, cardiopatia isquêmica e infarto agudo do miocárdio, envolvendo 40 centros de pesquisa nacionais. “Interessante também foi um trabalho apresentado por um grupo alemão, que injetou células mesenquimais no coração e constatou que isso gerava algum tipo de calcificação no coração. Aqui no Brasil, os testes clínicos, na área de Cardiologia, são feitos com CTs de medula óssea não cultivadas (uma mistura de células) e aparentemente, segundo dados preliminares apresentados, isso não tem o efeito terapêutico esperado. O grupo do Dr. Antônio Carlos Campos de Carvalho propôs testar a fração das células mesenquimais, mas aí apareceu o trabalho do grupo alemão, que já havia feito o teste. Por isso, acho que devemos aprender a conversar com outros grupos de pesquisa. Deve haver maior interação nesse sentido, assim poderemos avançar nos conhecimentos sobre as CTs”, opina a Dra. Lygia. CTs e diabetes tipo 1 No final de 2003, o grupo do Dr. Voltarelli (USP de Ribeirão Preto) iniciou estudos clínicos, mundialmente inéditos, em pacientes com diabetes tipo 1. O tratamento realizado nos participantes da pesquisa consistiu na reprogramação do sistema imunológico, um “reset imunológico”. Na primeira fase do tratamento, houve a mobilização e a coleta, por veia periférica, de células-tronco hematopoéticas autólogas, que foram congeladas. Na segunda fase, foi feito o desligamento do sistema imunológico com drogas imunossupressoras, em altas doses endovenosas (como a ciclofosfamida e globulina antitimocitária) durante cinco dias. Após essa etapa, o sistema imunológico dos participantes foi “religado” com infusão, também endovenosa, das células-tronco autólogas, previamente coletadas. As complicações agudas mais frequentes foram relativamente brandas, incluindo alopecia, náuseas, vômitos, rash cutâneo e febre. Felizmente, os benefícios clínicos do transplante de CTs mostraram-se superiores aos riscos apresentados pela terapia.
CTs embrionárias Durante o 4º Simpósio Internacional de Terapias Avançadas e Células-Tronco, a Dra. Lygia apresentou uma atualização do trabalho do seu grupo de pesquisa. “Fiz uma atualização desde o período em que isolamos as células embrionárias – BR1. Mostrei toda a caracterização dessas células, explicando que elas são de fato pluripotentes e que conseguimos, pela primeira vez, estabelecê-las em meio de cultura definido.” A especialista explica que seu grupo começou o trabalho com as CTs embrionárias com dois objetivos principais. O primeiro era estabelecer a técnica de derivação de células embrionárias, para o Brasil ter autonomia e não depender da importação de células de outros grupos. “E esse objetivo foi alcançado. Hoje controlamos todos os passos da terapia celular com CTs embrionárias. Agora é uma questão de fazer pesquisa para poder adaptar esse material em seres humanos.” A outra hipótese do trabalho era o fato de que, quando as CTs embrionárias fossem usadas em terapia, talvez precisasse haver compatibilidade entre o paciente e a célula, para que o tecido gerado não sofresse rejeição imunológica. “Nossa hipótese era de que uma
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Estados Unidos, chamada Geron, conseguiu aprovação para iniciar testes em seres humanos, tentando tratar lesões de medula espinhal. Isso será muito importante. Estaremos mais atentos, no início, para verificar se as células fazem algum mal às pessoas. Depois, se não fizerem, veremos se fazem algum bem. Mesmo assim, vejo que essas CTs, antes de ajudarem alguém a recuperar os movimentos ou a sensibilidade, já vêm exercendo um papel muito importante em pesquisa biológica em modelo in vitro, para estudarmos o desenvolvimento embrionário humano, ver como uma célula vira um neurônio, um fígado... Esse conhecimento, por sua vez, pode se traduzir em terapias, que nem envolvam células”, informa. Outra boa notícia, segundo a Dra. Lygia, é o fato de as CTs embrionárias estarem sendo utilizadas para triagem, identificação de novas drogas, e testes de toxicidade de drogas in vitro. “Existe todo um esforço para que, antes de testar uma droga em seres humanos, ela seja testada em células embrionárias”, conta.
célula derivada de um embrião brasileiro pudesse ter maior compatibilidade com a população brasileira. Para testar, fizemos a tipagem HLA da nossa célula e a testamos contra o banco do Registro de Doadores de Medula Óssea (REDOME), do Instituto Nacional do Câncer (INCA), com um milhão de brasileiros. Para nossa surpresa, nossa célula não foi compatível (match) com nenhum dos doadores, enquanto células derivadas nos Estados Unidos foram compatíveis com alguns doadores. Surpreendente. Mas, foi uma célula só. Com uma quantidade maior de CTs, precisamos ver se aumentam os casos de compatibilidade”, acrescenta a Dra. Lygia. Para ela, estamos vivendo um momento histórico com as CTs embrionárias, no qual começam a surgir os primeiros testes clínicos em seres humanos. “Uma empresa nos
Trabalhos importantes Segundo o Dr. Noedir Stolf, cardiologista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, o 4º Simpósio Internacional de Terapias Avançadas e Células-Tronco, patrocinado pela Associação Brasileira de Terapia Celular, englobou todos os campos de atuação da terapia celular – desde a área básica até a aplicação experimental e aplicação clínica dessas células. “Assistimos a apresentações de trabalhos experimentais nacionais de grande qualidade. A área básica de terapia celular tem um amplo leque de opções, indo desde a produção de linhagem de CTs embrionárias (grupo da Dra. Lygia Pereira) até a investigação sobre a produção de células tipo embrionárias, em que pegamos uma célula adulta e, por meio de inserção de genes específicos, conseguimos fazer com que ela tenha o potencial da embrionária. Temos vários grupos nacionais, como o da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), trabalhando nessa manipulação”, relata o Dr. Stolf.
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Assistimos a apresentações de trabalhos experimentais nacionais de grande qualidade. A área básica de terapia celular tem um amplo leque de opções, indo desde a produção de linhagem de CTs embrionárias (grupo da Dra. Lygia Pereira) até a investigação sobre a produção de células tipo embrionárias, em que pegamos uma célula adulta e, por meio de inserção de genes específicos, conseguimos fazer com que ela tenha o potencial da embrionária
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O cardiologista lembra que no evento houve também a apresentação de estudos experimentais em animais de pequeno porte para o uso da terapia celular em vários tipos de doenças, como o diabetes, as doenças do sistema nervoso, do coração, do pulmão, dos rins etc. “Apresentei o uso clínico de CTs em doenças isquêmicas do miocárdio. Foquei nos aspectos básicos da terapia celular. Afinal, hoje sabemos que a coisa não é como imaginávamos no início. A célula-tronco injetada no paciente não vira a célula ou o tecido que queremos. O mais comum é a CT se fundir com a célula residente, formando célula miocárdica ou um novelo em volta do vaso, criando mais vasos. Elas produzem o efeito parácrino, que estimula as células indiferenciadas já existentes no organismo. Revi boa parte dos estudos de isquemia miocárdica, no infarto, na isquemia crônica e na angina. Mostrei a experiência que desenvolvemos no Instituto do Coração (INCOR), da qual fechamos a primeira fase com 32 doentes”, relembra o especialista. Além disso, o Dr. Stolf comenta que coordena um dos braços do EMRTCC – cardiopatia isquêmica. “Quando a cirurgia coronária convencional não pode ser completa, injetamos CTs onde a ponte não pode ser feita. Estamos com cerca de cem pacientes. Nesse estudo, apenas o braço da doença de Chagas fechou e não foram encontrados os parâmetros terapêuticos buscados.” O médico argumenta que na prática clínica a terapia celular tem resultados heterogêneos. “Vimos nesse simpósio que ainda estamos batendo nas mesmas questões que enfrentamos desde o
início do uso clínico de CTs. A primeira questão é sobre os tipos de CTs que devemos utilizar para fazer vasos ou tecidos. Temos que conhecer o potencial de diferenciação de cada tipo de célula que podemos obter. Atualmente, sabemos que há uma ampla gama de tecidos de onde podemos retirar as CTs. As mais usadas são as de medula óssea. Mas podemos obter as células estimulando a produção de CTs no sangue. O tecido adiposo e o cordão umbilical também são grandes fontes. Precisamos saber de qual tecido podemos retirar cada tipo de célula e para que cada tipo é melhor.” Conforme fala o Dr. Stolf, outra questão importante é a quantidade de CTs que precisam ser injetadas no paciente. E nesse sentido, a tendência é a cultura de células. O método de fixação dessas CTs é também um ponto importante a ser descoberto. “Os métodos de aplicação de CTs no paciente vão desde a administração de substâncias que aumentam a produção da medula óssea (o tecido atrai as CTs, é o próprio sistema de reparo do organismo), até a injeção das células na circulação nervosa ou no próprio órgão. Mas sabemos que o porcentual de células injetadas que fica no tecido é relativamente baixo. Por isso temos muito interesse em encontrar um meio de aumentar a fixação das CTs.” O cardiologista diz ainda que, durante o simpósio, ficou impressionado com a pujança dos grupos de pesquisa brasileiros. Para ele, em algumas áreas, como a da isquemia crônica, os resultados positivos surgirão com mais facilidade. “Se conseguirmos fazer vasos, já estaremos beneficiando o paciente. Porque para fazer tecido especializado é mais complicado. É preciso ainda muita pesquisa”, conclui. r
Dra. Lygia Pereira, doutora em Genética Humana e professora livre-docente do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP)
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Uma expedição com mais de 3 mil beneficiados Por Nina Rahe
Carlos Alberto Maknavicius e Danielle Bouhid Bertolini haviam se formado em Medicina há sete anos. Ele, médico cardiologista; ela, cirurgiã geral e do aparelho digestivo. Por idealismo, buscavam uma forma efetiva de ajudar mais pessoas com o conhecimento adquirido nos tantos anos de estudo. Queriam realizar uma medicina mais humana, atuando para contribuir com um mundo melhor
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s possíveis formas de colocar as ideias em prática inquietavam os dois, e foi quando conheceram pessoalmente o casal Grace Downey e Robert Ager, que percorreu os cinco continentes em uma Land Rover, na Expedição Challenging Your Dreams, que os médicos receberam o estímulo que faltava para que realizassem o seu sonho. No dia 14 de agosto de 2006, decidiram então mudar definitivamente o tipo de trabalho que vinham exercendo. Para eles, apesar de sempre terem participado de ações voluntárias, nunca a responsabilidade social havia feito tanto sentido. O casal que conheceram tinha viajado os cinco continentes em busca de aventura. Dr. Carlos e Dra. Danielle, no entanto, encontraram, através do contato com o casal, uma oportunidade de aliar a medicina à aventura. Venderem casa e carro, pediram demissão de seus respectivos empregos e, em um ano, tinham o Jeep montado (uma Land Rover m é d i c o repórter | número 104
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O contato com as comunidades era feito previamente, através do secretário municipal de Saúde, que disponibilizava agentes comunitários de Saúde para acompanhar os atendimentos, todos gratuitos e, na sua maioria, domiciliares
Defender 110, totalmente equipada para off-road, com uma barraca de camping instalada no teto) e já estavam na estrada. Foi assim que surgiu a Organização Não Governamental Médicos da Terra. Em 2007, foi o início do projetopiloto em São Paulo, com duração de sete meses e a realização de miniexpedições. E no final do mesmo ano, começou a expedição pelo Brasil, percorrendo 23 Estados, sempre priorizando as cidades de mais baixo índice de desenvolvimento humano (IDH), segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). O contato com as comunidades era feito previamente, através do secretário municipal de Saúde, que disponibilizava agentes comunitários de Saúde para acompanhar os atendimentos, todos gratuitos e, na sua maioria, domiciliares. Também eram realizadas palestras, preferencialmente, nas escolas, para crianças de famílias de baixa renda, com objetivo de que elas pudessem se beneficiar de atitudes simples e fossem capazes de evitar doenças e, até mesmo, salvar vidas! Os assuntos eram sobre primeiros socorros, noções básicas de
saúde e princípios para a consciência socioambiental. A duração da expedição foi de 18 meses e mais de 3 mil pessoas foram beneficiadas. “Nós íamos de cidade em cidade. Em cada semana, fazíamos atendimentos médicos e palestras. Dentro da cidade de mais baixo IDH, nós dávamos prioridade aos lugares de mais difícil acesso, onde os médicos não chegavam e os paciente não podiam se locomover. Fazíamos atendimento, palestras e levávamos medicamentos.” Durante o percurso, uma das surpresas foi o fato de logo no Rio de Janeiro, na cidade de Varre-Sai, já conseguirem ajudar e beneficiar muitos pacientes. “Nós achávamos que seríamos importantes somente no Nordeste, Norte, mas no Rio de Janeiro a gente já se sentiu muito útil.” O Nordeste também surpreendeu. Lá, os médicos esperavam encontrar muita seca, mas chegaram na época de chuva, o que acabou dificultando o trabalho, já que as estradas estavam intransitáveis. “A gente precisava muitas vezes ir a pé, a cavalo, porque não tinha como ir de Jeep, por mais equipado que ele estivesse.” Mas os
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problemas não acabaram por aí; na cidade de Caetés, em Pernambuco, houve outro episódio lamentável. Os dois ficaram hospedados na cidade de Garanhuns e uma pessoa local deveria pegá-los cedo da manhã e levá-los até Caetés, para iniciar o atendimento. Porém, eles foram esquecidos e somente mais tarde o responsável telefonou, avisando sobre o esquecimento. “A gente podia ter feito atendimento a manhã inteira. Então foi uma coisa que marcou, bem na terra do presidente, esqueceram da gente.” Também no Estado, está localizada a cidade de mais baixo IDH do Brasil, Manari. O título assusta e, por esse motivo, os médicos esperavam encontrar situações piores. “Tivemos muito pouco tempo, ficamos uma semana só. Essa foi uma das cidades onde a m é d i c o repórter | número 104
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gente andava uma hora a pé para chegar às casas. Estávamos numa realidade diferente. O que assustou bastante foi a falta de saneamento básico, água potável e esgoto. O banheiro é a céu aberto mesmo.” Manari foi a única cidade na qual os médicos se depararam com a falta de medicamentos básicos, como diclofenaco, dipirona etc. A falta de apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM) também foi fator negativo e responsável por atraso no andamento do trabalho. O atendimento médico só é autorizado através de um visto provisório e, por esse motivo, os médicos tinham que solicitar uma autorização na capital de cada Estado em que paravam. Se o CFM tivesse fornecido uma autorização, não seria necessário parar em todas as capitais, o que demandava tempo. Na Bahia, por exemplo, foi-se uma semana esperando o visto, por motivo de burocracia. Os habitantes, em geral, ajudaram bastante e reagiram muito bem. Somente três pacientes no Brasil todo não quiseram ser atendidos. As doenças mais comuns eram diabetes e pressão alta. “Na verdade, a gente não tinha nenhum preparo, achávamos legal, mas nunca tínhamos feito nada parecido”, explica a Dra. Danielle. Ela já havia trabalhado de forma voluntária em uma creche, além do estágio da faculdade em zona rural; já o Dr. Carlos tinha feito voluntariado em uma favela. “Bem de longe, parecia com o que a gente viveu. Fomos com a cara e com a coragem. Assustou, pois achávamos que ia ser muito mais leve. Não ter casa e morar num Jeep é difícil. Tínhamos como referência um casal que tinha feito turismo e ficou três anos e meio, só que a gente tinha um estresse muito grande.” Embora o final de semana fosse reservado para o descanso, chegou uma etapa em que o sábado e o domingo não eram suficientes para descansar e recarregar as energias. “Também
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esse motivo, é preciso planejar com intervalos e descobrir também qual vai ser a forma mais saudável de continuar”, explica a voluntária. “Do ponto de vista profissional, a gente viu que dá para fazer muito, mesmo estando em dois. Somando palestras e atendimentos, beneficiamos mais de 3 mil pessoas. É possível atender muita gente, ainda que o nosso objetivo não fosse nem o número de atendimentos, mas proporcionar uma medicina com qualidade. Já do ponto de vista pessoal, percebemos que a gente precisa de muito pouca coisa para viver. Dá para viver com o que cabe dentro do carro somente. E mesmo no final da viagem, a gente olhava e pensava: tem coisa demais”, conclui a Dra. Danielle. r Saiba mais no site: www.medicosdaterra.com.br
Dr. Carlos Alberto Maknavicius, cardiologista Divulgação
tinha o envolvimento emocional. Íamos para lugares pobres, entrávamos na casa das pessoas, doávamos o máximo e a pessoa dava em troca o que tinha de bom. Tinha um vínculo afetivo muito forte e você sofre com o sofrimento deles. Fica feliz em poder ajudar, mas sofre uma impotência enorme”, explica a médica. No final dessa expedição, no entanto, Dr. Carlos teve uma doença que foi desencadeada pelo estresse. Esse e outros imprevistos fizeram-nos mudar o rumo, já que o projeto inicial era seguir para a América do Sul, América Central, México e depois África. “A gente pretende fazer, mas não vai ser como a gente imaginava, indo sem voltar. Até seis meses, conseguimos muito bem, mas de seis meses em diante foi muito estressante. Por
Dra. Danielle Bouhid Bertolin, cirurgiã geral e do aparelho digestivo
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Mais uma ferramenta para o atendimento de emergência O tempo é um aspecto fundamental no atendimento de emergência. E foi pensando no bom aproveitamento do tempo, que surgiu o livro Medicina de Emergência, um manual de consultas rápidas com todas as informações que um profissional precisa saber para atuar nos prontos-socorros. O livro é voltado tanto para alunos de Medicina que queiram complementar seus conhecimentos, quanto para profissionais de saúde que trabalham em plantões em prontos-socorros. Medicina de Emergência passa por todas as especialidades, explicando as causas, epidemiologia, fisiopatologia, sintomas, sinais, complicações, exames laboratoriais, tratamento e medidas de controle emergencial para cada situação. Apresenta também as ferramentas e os procedimentos adequados a cada caso. Parte da série The Little Black Book Series, o livro tem capítulos dedicados às emergências características de cada especialidade: alergia, cardiovascular, condições dentárias, endocrinologia, ambiental, gastroenterologia, cirurgia geral, ginecologia, hematologia e oncologia, doenças infecciosas, distúrbios do metabolismo, nefrologia, neurologia e neurocirurgia, obstetrícia, oftalmologia, ortopedia, otorrinolaringologia, pediatria e cirurgia pediátrica, cirurgia plástica e reparo de lesão, psiquiatria e abusos de substâncias, pneumologia, reumatologia, toxicologia, trauma e urologia. Com o lançamento
do livro Medicina dicina de Emergência, o médico conta com mais uma ferramenta para vencer suas batalhas diárias. Título: The Little Black Book Series – Medicina de Emergência Autor: Steven E. Diaz. Páginas: 554. Preço: R$ 99,90
Recursos de relacionamento para profissionais de saúde A boa comunicação entre o médico e o paciente, instituições e equipes multidisciplinares pode salvar muitas vidas. É o que defendem os autores de Recursos de Relacionamento para Profissionais de Saúde, Maria Tereza Maldonado e Paulo Canella. Segundo eles, o diálogo entre profissional e paciente é o principal veículo de promoção da saúde e, se mal realizado, pode prejudicar e impedir o tratamento. O livro pretende alertar sobre a necessidade de os profissionais da área considerarem a comunicação como uma parte integrante da prevenção e terapêutica, o que significa o médico admitir a possibilidade de ser tanto uma fonte de ajuda quanto de dificuldades. Os autores debatem assuntos polêmicos para a medicina, como a onipotência, a idealização, a culpa, o narcisismo, a sexualização da consulta e o caráter missionário comumente associado a este tipo de trabalho. São abordadas as deficiências na formação dos profissionais, focada somente na transmissão de conhecimento técnico, e a tendência exagerada de especialização, que induziria a uma atuação fragmentada. Maldonado e Canella também analisam as formas de comunicação mais comuns, marcadas pela impessoalidade, e apontam, em contrapartida, os recursos positivos de relacionamento com o paciente. Título: Recursos de Relacionamento para Profissionais de Saúde Autores: Maria Tereza Maldonado e Paulo Canella Páginas: 320. Preço: R$ 69,90
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Uro-Oncologia: dúvidas e controvérsias De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), houve um aumento acentuado na quantidade de novos casos de câncer na área urológica nos últimos dez anos. Em 1999, esse número ficava em torno de 14 mil e, em 2008, ele tinha se elevado para quase 50 mil casos. De um lado, as estatísticas preocupantes; do outro, houve intenso progresso da Uro-Oncologia nos últimos anos. Foi por esse motivo que Eliney Faria, chefe do Serviço de Uro-Oncologia do Hospital de Câncer de Barretos, identificou a necessidade de produzir um livro sobre o assunto, que fosse capaz de auxiliar os médicos no processo de atualização constante. O resultado dessa iniciativa é o lançamento de Uro-Oncologia: Dúvidas e Controvérsias, que reúne as principais dúvidas e controvérsias da especialidade, e apresenta a evolução da Urologia nos últimos anos. Ao longo dos 65 capítulos, são abordados, além do câncer de próstata, que absorve cerca de metade do livro, os cânceres de bexiga, rins, pélvis e ureter, pênis, testículo e adrenal. Os últimos capítulos são dedicados aos outros tumores, como o de uretra, de úraco, linfoma do trato geniturinário, sarcomas do trato geniturinário, Uro-Oncologia Pediátrica: tumor de Wilms e Rabdomiossarcoma. Por fim, há um capítulo intitulado “Suporte”, que trata das aplicações de medicina nuclear em Uro-Oncologia, síndromes paraneoplásticas em Uro-Oncologia, nomogramas, geriatria em Uro-Oncologia e cuidados paliativos para pacientes com câncer geniturinário avançado.
Título: Uro-Oncologia – Dúvidas e Controvérsias Autor: Eliney Ferreira Faria, Daniel D. G. Seabra e Roberto Dias Machado Páginas: 720 Preço: R$ 369,00
Obra ressalta a necessidade do atendimento integral ao paciente com câncer A especialidade oncológica e seu caráter multidisciplinar é o tema do livro Câncer – Uma Visão Multiprofissional, idealizado pelo Instituto Paulista de Cancerologia (IPC). A obra foi escrita por nomes ilustres da Oncologia e coordenada por Vera Anita Bifulco (responsável pelo Departamento de Psico-Oncologia do IPC), Alessandra Bigal (fonoaudióloga do IPC) e Hézio Jadir Fernandes Jr. (diretor do IPC). A proposta dos organizadores foi abordar os diversos problemas enfrentados pelos pacientes portadores de câncer e sua abrangência sob a visão da equipe multiprofissional. De câncer infantil a cuidados paliativos, os autores desenvolveram um material informativo, escrito para orientar médicos e estudantes de Medicina, através de uma linguagem clara e objetiva. Também permite a compreensão pelo leitor não especializado que busca um esclarecimento mais amplo sobre o assunto. Título: Câncer – Uma Visão Multiprofissional Autores: Vera Anita Bifulco, Alessandra Bigal e Hézio Jadir Fernandes Jr. Páginas: 496 Preço: R$ 45,00 m é d i c o repórter | número 104
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HSL inaugura banco público de sangue de cordão umbilical Em parceria com o Ministério da Saúde, a Sociedade Beneficente de Senhoras do Hospital Sírio-Libanês (HSL) inaugurou recentemente o Banco de Sangue de Cordão Umbilical do hospital. O projeto conta com a colaboração de uma das maiores maternidades de São Paulo, o Amparo Maternal de São Paulo, que atende exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O material coletado na maternidade será armazenado no próprio HSL, onde passa a funcionar o banco com sistema de arquivamento de dados – BioArchive. A instituição estima que em um período de dois anos o projeto receba investimentos de cerca de R$ 17 milhões (por parte do próprio HSL). Para inaugurar o Banco de Sangue de Cordão Umbilical, foi realizada a 1ª Conferência Internacional de Transplante de Células Progenitoras Hematopoiéticas, que contou com a presença dos maiores nomes em transplantes e representantes de bancos de sangue de cordão internacionais.
Congresso de Cardiologia do Estado de São Paulo A Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP) promove, nos dias 29, 30 de abril e 1º de maio, seu 31º Congresso. As inscrições para o evento já estão abertas. Os interessados podem se inscrever pelo site www.congressosocesp. com.br/2010/. O 31º Congresso da SOCESP vale 15 pontos na revalidação do Título de Especialista em Cardiologia e 10 pontos para especialistas em Cardiologia Pediátrica, Ecocardiografia, Ergometria, Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista. Além disso, três cardiologistas estrangeiros já confirmaram presença: James de Lemos, C. Michael Gibson e Michael Faulx. As atividades destinadas aos departamentos da SOCESP – Assistência Social, Educação Física, Enfermagem, Farmacologia, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia e Odontologia – serão realizadas no mesmo espaço físico do Congresso de Cardiologia. Pelo terceiro ano consecutivo, o Congresso da SOCESP será realizado no Expo Center Norte – local que oferece infraestrutura, conforto e segurança para cerca de 10 mil pessoas.
SBC anuncia campanha inédita A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) está utilizando mídias sociais – Twitter, Orkut, Facebook e blogs, além de um hotsite exclusivo – para uma nova campanha, informando e conscientizando a população sobre a importância de manter a pressão arterial estabilizada. O slogan da campanha – “Eu sou 12 por 8” – será amplamente divulgado. A SBC convocará uma série de embaixadores, entre artistas, esportistas e personalidades, para promover o assunto. Toda campanha está sendo desenvolvida pela Urban Summer Digital Creative, detentora da conta da entidade. Inicialmente a ação da SBC deve atingir 4 milhões de pessoas. Com a participação dos embaixadores e o uso também de mídias tradicionais, a expectativa é de que esse número seja multiplicado por dez. É bom lembrar que a hipertensão atinge hoje 30% da população adulta brasileira, cerca de 30 milhões de pessoas, sendo responsável por 47% dos casos de infarto, 54% dos acidentes vasculares cerebrais (AVCs), 25% dos casos de insuficiência renal e a morte de 7,6 milhões de pessoas em todo o mundo a cada ano.
Ortopedistas voluntários não conseguem embarcar para o Haiti Atendendo ao apelo feito pela Associação Médica Brasileira (AMB), cerca de 180 ortopedistas voluntários já se inscreveram para auxiliar no atendimento às vítimas do terremoto no Haiti. Atualmente, está sendo feito um revezamento de grupos que viajam ao Haiti, sendo cada grupo formado por cinco ortopedistas e traumatologistas, e um especialista em cirurgia da mão e coberturas cutâneas. O limite no número de médicos enviados ocorre devido à falta de recursos financeiros. Os organismos internacionais arcam com hospedagem e alimentação, mas cada passagem aérea custa cerca de R$ 4 mil. A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) colocou o telefone 0800 727 7268 à disposição para os interessados em patrocinar a viagem dos ortopedistas voluntários para o Haiti.
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HSL agora tem residência em Cardiologia Após a inauguração do Centro de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês (HSL), em dezembro de 2008, o cardiologista Dr. Roberto Kalil Filho, diretor da unidade, investe na área de ensino oferecendo a residência em Cardiologia. O hospital disponibiliza seis vagas anuais para médicos que se tornarão cardiologistas clínicos. Os estágios incluem os vários serviços do Centro de Cardiologia, como a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Cardiológica, Unidade Crítica Coronariana, análise de métodos gráficos e imagens, hemodinâmica e cardiologia intervencionista, e pronto-atendimento. Acompanhados de tutores, os médicos-residentes atenderão a todas as patologias clínicas, coronariopatias, válvulas e arritmias. Também passarão por dois serviços da Prefeitura de São Paulo administrados pelo HSL: o AMA Especialidades Santa Cecília (para o ambulatório de adultos) e o Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, onde trabalharão com cardiopatias congênitas e pediátricas.
Vírus da aids dribla medicamentos Um novo estudo realizado pela Dra. Kathleen Collins, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, revela que o HIV consegue se esconder na medula óssea e driblar as drogas antirretrovirais, despertando mais tarde para infectar o paciente. O trabalho foi publicado na versão on-line do Nature Medicine e afirma que o HIV é capaz de infectar células precursoras na medula óssea. Cientistas já haviam descoberto os macrófagos e as células T de memória do HIV. Mas esses dois covis não podiam explicar o HIV que ainda circulava no organismo dos pacientes após a administração de medicamentos, o que indicava que ainda havia lugares a procurar. Para a Dra. Kathleen, descobrir essas fontes de infecção é importante, porque ao eliminá-las seria possível permitir que os pacientes soropositivos parassem de tomar o coquetel de antivirais depois que a infecção terminasse.
Vacinação contra A (H1N1) já começou A vacinação nacional contra o influenza A já é uma realidade. A primeira etapa da campanha começou no dia 8 de março, sendo destinada a profissionais da área da Saúde que atuam diretamente no combate à gripe e indígenas que vivem em aldeias espalhadas pelo País. A expectativa do Ministério da Saúde é vacinar cerca de 90 milhões de pessoas em dois meses. A vacinação de grupos prioritários segue parâmetros da Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomenda a imunização de trabalhadores de serviços de saúde, indígenas, além de gestantes e pessoas com doenças crônicas. A segunda fase da imunização contra o A (H1N1) vai do dia 22 de março até o dia 2 de abril, incluindo gestantes, crianças (com idade entre 6 meses e 2 anos), e portadores de doenças crônicas. As mulheres que engravidarem após 2 de abril poderão receber a vacina durante a campanha, que termina em 21 de maio. A terceira etapa da campanha, que ocorrerá entre os dias 5 e 23 de abril, será voltada para as pessoas entre 20 e 29 anos. De 24 de abril a 7 de maio, a vacina será administrada em idosos com 60 anos ou mais, portadores de doenças crônicas. Os demais idosos receberão apenas a imunização contra a gripe comum. No período de 10 a 21 de maio, serão imunizados adultos de 30 a 39 anos. O Ministério da Saúde adquiriu 113 milhões de doses da vacina. A meta é imunizar pelo menos 80% desse público-alvo. A novidade desta campanha será a utilização da internet. O internauta pode se cadastrar no site do Ministério da Saúde – www.saude.gov.br –, informando sua faixa etária e será avisado por e-mail sobre a data de sua vacinação. O serviço está acessível também em sites comerciais onde a campanha será veiculada.
USP abre inscrições para docentes em Psiquiatria O Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) está recebendo inscrições, até o próximo dia 15 de abril, para o Concurso de Títulos e Provas visando o preenchimento do cargo de Professor Doutor em Atenção Primária e Atenção Secundária. O regime é de dedicação integral à docência e à pesquisa (RDIDP). Para efetivar sua inscrição, os interessados devem se dirigir, munidos de documento de identificação, ao Serviço de Concursos Docentes da FMUSP, na Av. Dr. Arnaldo, 455 - 2º andar - sala 2.301, e apresentar requerimento dirigido ao Diretor da Faculdade de Medicina da USP, em que constem os seus dados pessoais, CPF, RG e área de conhecimento (especialidade/disciplina) do departamento a que concorre, além dos documentos constantes no edital dos concursos. Para outras informações, entrar em contato pelos telefones (11) 3069-6983 e 3069-6273.
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MS destina R$ 7 mi para bolsas Os Ministérios da Saúde e da Educação devem oferecer mil bolsas a estudantes, professores do ensino superior e profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) para a formação de médicos e a produção de pesquisas em saúde. O Programa de Educação para o Trabalho em Saúde, chamado de PET-Saúde, hoje focado em Saúde da Família, será ampliado para estudos em Vigilância em Saúde e concederá bolsas a estudantes que desenvolvam trabalhos sobre o perfil da saúde no Brasil, de acordo com os princípios e as necessidades do SUS. Para isso, as pesquisas devem ter temática ligada à análise da incidência de doenças, causas de mortes e problemas decorrentes da violência, incluindo acidentes de trânsito. Os projetos deverão ser apresentados por instituições de ensino superior (IES) públicas ou privadas sem fins lucrativos, em parceria com secretarias estaduais e municipais de saúde. Além disso, o recurso de R$ 7 milhões investido inicialmente contemplará ainda o Apoio ao Internato Médico em Universidades Federais (Pró-Internato), que entrará em vigor para qualificar formandos em Medicina. O incentivo pretende melhorar a formação de alunos e docentes. Os profissionais de saúde (preceptores) e professores (tutores acadêmicos) participantes do PET-Saúde e do PróInternato receberão uma bolsa mensal de R$ 1.045,89 e os estudantes monitores, de R$ 300. Os benefícios são equiparados aos valores pagos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O prazo para as universidades apresentarem propostas é até 30 de abril de 2010, com resultados previstos a partir do dia 15 de maio. Mais informações podem ser encontradas no site do Ministério da Saúde – www.saude.gov.br.
Fumo zero No início do mês de março, a Aliança de Controle do Tabagismo (ACT) realizou um protesto na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado, em Brasília, para pedir a votação do Projeto de Lei nº 315/08, de autoria do senador Tião Viana, que modifica a Lei Federal nº 9.294/96 e garante que ambientes fechados de uso coletivo sejam 100% livres de fumo. O projeto está parado no Senado desde o final do ano passado. Para mostrar a importância da aprovação do Projeto de Lei nº 315, a ACT e outras organizações representantes da sociedade civil e da área de saúde entregarão aos senadores, na reunião da CCJ, uma moção de apoio ao Projeto de Lei nº 315. As organizações querem lembrar aos senadores que o Brasil precisa adotar e implementar medidas eficazes, que ofereçam proteção contra a exposição ao cigarro em ambientes de trabalho, meios de transporte e espaços públicos. As moções de apoio da ACT e das demais organizações podem ser lidas no site da Associação Médica Brasileira (AMB) – www.amb.org.br. O material de mobilização está disponível no link http://www.actbr.org.br/biblioteca/materialmobilizacao.asp
SP com mais médicos Um levantamento recente, realizado pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), mostrou que a concentração de médicos no Estado de São Paulo aumentou 33% nos últimos dez anos. Em 2000, São Paulo tinha um médico para 542 habitantes, mas atualmente esse índice é de um médico para 410 habitantes. De acordo com a pesquisa, de 2000 a 2009 a população do Estado de São Paulo cresceu 12%, enquanto o número de médicos em atividade aumentou 48%. Santos, Ribeirão Preto, Botucatu e Campinas são as cidades que mais concentram médicos, contando com um médico para menos de 200 habitantes. Na classificação dos Estados brasileiros, São Paulo fica em quarto lugar na concentração de médicos. Distrito Federal (281 habitantes por médico), Rio de Janeiro (295 habitantes por médico) e Goiás (333 habitantes por médico) são as unidades da federação com as maiores taxas de médicos por habitantes, e acima da média nacional, que é de um médico para 551 habitantes. O trabalho feito pelo CREMESP pode ser encontrado na íntegra no site da entidade: www.cremesp.org.br.
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Jaleco proibido? Está em análise na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 6.626/09, de autoria do deputado Inocêncio Oliveira, que proíbe o uso de qualquer equipamento de proteção individual, inclusive jalecos e outras vestimentas, fora do ambiente onde o profissional da área da saúde exerça suas atividades. A intenção do projeto de lei é combater a infecção hospitalar e a contaminação biológica. Segundo o texto do projeto, o infrator da norma, sem prejuízo de outras sanções, deverá ser advertido e multado, sendo o empregador responsabilizado solidariamente. O projeto prevê também, para os trabalhadores da saúde, atividades de conscientização e de educação sobre prevenção de riscos biológicos. O autor do projeto disse que vários estudos indicam que micro-organismos são transportados para pessoas que estão fora do ambiente hospitalar, ambulatorial, odontológico ou laboratorial, por meio de roupas, jalecos e outras peças usadas durante o período de trabalho, sendo que a contaminação cresce de acordo com o tempo e as características do atendimento, parecendo mais intensa em áreas de contato, como bolsos ou mangas. O projeto, que tramita em caráter conclusivo, será analisado pelas comissões de Seguridade Social e Família, e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
Campanha contra a dor O Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, em São Paulo, está lançando a campanha educativa Viva Sem Dor, que oferece atividades gratuitas até dezembro deste ano. Esta é a terceira vez que o Serviço do Hospital 9 de Julho prepara ações do gênero. Nas últimas duas campanhas que realizou – dor da mulher e dor oncológica – o hospital atendeu a mais de 1,5 mil pessoas. O tema deste ano foi proposto pela entidade americana International Association for the Study of Pain. Com o slogan “Contra a dor, mexa-se!”, a iniciativa do 9 de Julho promove palestras para a população, além de ações de diagnóstico, atividades físicas de conscientização corporal e relaxamento e formação de grupos de apoio psicológico e de pesquisa. Também estarão disponíveis atividades por meio da internet, como chats com profissionais da saúde. No mês de abril, devem começar as atividades do Grupo de Apoio Psicológico, com encontros mensais até o fim do ano, para discussão das consequências que as dores crônicas geram na vida de seus portadores e como trabalhar com elas emocionalmente. Já em maio acontece o Dia do Diagnóstico Gratuito das Dores Musculoesqueléticas, com palestras e atendimentos de neurologistas, fisioterapeutas e acupunturistas, além de orientações gerais sobre postura e práticas que podem ser realizadas em casa ou no trabalho com o intuito de aliviar ou prevenir dores. Os outros eventos da entidade serão divulgados no site da campanha – www.centrodedor.com.br/vivasemdor. Para se inscrever ou tirar dúvidas, basta ligar para (11) 3539-9901 e 3539-9902.
Técnica detecta eficácia de terapia contra câncer Cientistas do Centro de Câncer Johns Hopkins-Kimmel, de Baltimore, nos Estados Unidos, desenvolviam uma técnica para encontrar grandes sequências de material genético alterado em células cancerosas quando conseguiram fazer com que um exame de sangue fizesse o mesmo que uma tomografia computadorizada. A nova técnica de análise de DNA é capaz de detectar com rapidez a eficácia ou o fracasso de uma terapia contra câncer ou de uma cirurgia para retirada do tumor. O estudo que detalha como a técnica foi usada (em testes com seis pacientes) foi apresentado em San Diego, no encontro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência, e publicado no site da revista Science Translational Medicine. Para criar o método foi preciso sequenciar genomas quase completos de cada um dos pacientes – quatro com câncer colorretal e dois com câncer de mama – e de amostras dos tumores dessas pessoas. Quando notaram que as células tumorais possuíam rearranjos de DNA muito grandes, enquanto no tecido normal o material genético não os tinha, os cientistas passaram a usar a diferença genética como um marcador. Achar grandes rearranjos, no entanto, ainda é um método caro para diagnóstico.
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Bebês brasileiros não têm boa dieta Um estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) alerta para o fato de que a família brasileira está oferecendo alimentos cheios de gordura, açúcar, sal, corante e outros aditivos alimentares para bebês com 4 meses de idade. Foram incluídas no estudo 179 crianças, entre 4 e 12 meses, de famílias das classes A, B e C de São Paulo, Curitiba e Recife. O objetivo era saber o que elas comiam durante sete dias. As mães foram orientadas a anotar tudo em uma planilha. No meio dos relatos apareceram alimentos como lasanha pré-pronta congelada, macarrão instantâneo, refrigerantes, salgadinhos, chocolate, suco artificial e muita bolacha recheada. Além de leite de vaca. Na verdade, nenhum dos alimentos citados deveria fazer parte da alimentação dos bebês, por terem baixo valor nutricional, serem ricos em gordura (inclusive trans), açúcar e sal. O trabalho da SBP também mostrou que os maus hábitos alimentares são generalizados. Inclusive, a alimentação das crianças é reflexo da alimentação da família. A maioria dos pais não sabe cozinhar e por isso utiliza self-service.
TV mostra procedimentos distorcidos Pesquisadores da Universidade Dalhousie, no Canadá, realizaram uma pesquisa sobre as séries de televisão baseadas em atendimentos hospitalares e atendimento médico, como as populares Plantão Médico, House e Grey’s Anatomy, que retratam procedimentos de primeiros socorros equivocados na maior parte dos casos. A conclusão dos cientistas canadenses alerta para a mensagem que esses programas passam para o telespectador. Observando centenas de episódios dos programas citados, eles notaram, por exemplo, que em 59 ocasiões, os personagens tiveram de lidar com convulsões de epilepsia – e em apenas 17 delas, ou menos de 30%, a reação foi correta. O medo dos especialistas é que as pessoas assistam a esses programas e ajam da mesma maneira se algum dia estiverem diante da mesma situação. A conclusão do estudo é que as diretrizes de primeiros socorros mostradas na televisão não devem ser seguidas.
Atendimento adaptado em hospital público Mulheres com deficiência agora têm sua vez. O Hospital Municipal Maternidade – Escola de Vila Cachoeirinha, na zona norte de São Paulo, começa a oferecer atendimento especializado para mulheres especiais. A entidade está equipada com camas especiais para exames ginecológicos, um mamógrafo que permite que a mulher se submeta ao exame sem sair da cadeira de rodas e aparelhos que transferem a paciente para o leito. Também conta com um carro elétrico para ajudar as pacientes a subirem as rampas do hospital. Metade dos gastos do projeto (até agora de R$ 500 mil) foi subsidiada pela Secretaria de Saúde do município. O restante foi obtido através de um convênio firmado com o Ministério Público Federal para a conversão de multas de empresas que apresentam problemas nas cotas de emprego para deficientes em aparelhos adaptados para o hospital. A secretaria planeja ainda criar um manual de procedimentos, que aborde aspectos comportamentais e morfológicos das deficiências, para o treinamento de profissionais de saúde do hospital e da maternidade. Até o final deste ano outros quatro hospitais da cidade devem receber equipamentos adaptados para atendimento a deficientes.
iPhone para reanimar pacientes Recentemente um médico croata afirmou ter transformado seu iPhone em um aparelho capaz de reanimar pacientes – combinando um software já existente com um novo acessório, inventado por ele. O Dr. Ivor Kovic, 29, chefe da Emergência do Hospital de Pazin, na península croata de Istria, apresentou sua invenção em Amsterdã, na Holanda, em um congresso mundial de especialistas em reanimação. O médico explica seu invento em um site próprio (www.ivor-kovic.com) e diz que sua inovação não só agiliza a intervenção médica, como possibilita uma melhor reanimação. Quando notou que os smartphones reconheciam os movimentos humanos, o Dr. Kovic teve a ideia de tornar seu iPhone um aparelho de reanimação. O médico pretende patentear sua invenção em breve.
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Brasil reduz gravidez na adolescência Segundo informações do Ministério da Saúde (MS), o número de partos de adolescentes realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) caiu mais de 22% na segunda metade da década passada. Entre 2000 e 2009, a queda foi de 34,6% e dados mais recentes – 2005 a 2009 – mostram que esses procedimentos em adolescentes entre 10 e 19 anos caíram 22,4%. Para o MS a tendência de redução de partos adolescentes pode ser atribuída às campanhas destinadas a essa faixa etária e à ampliação do acesso ao planejamento familiar. Só no ano passado, foram investidos R$ 3,3 milhões nas ações de educação sexual e reforço na oferta de preservativos aos jovens brasileiros. Nos últimos dois anos, 871,2 milhões de camisinhas foram distribuídos para toda a população. O ministério acredita que os adolescentes do sexo masculino procuram cada vez mais o serviço público de saúde no intuito de retirar os preservativos. No ano passado o MS já começou a produzir as Cadernetas de Saúde do Adolescente. A cartilha contém informações sobre temas essenciais, como alimentação, saúde sexual e reprodutiva e uso de drogas. No total, foram entregues 4 milhões de cadernetas em 451 municípios. Para 2010 a intenção é distribuir mais 5 milhões de cartilhas nos postos de saúde. O Ministério da Educação também vai enviar 6 milhões de cartilhas para as unidades básicas de saúde dos municípios.
Talidomida Pesquisadores do Instituto de Tecnologia do Japão descobriram como a talidomida interfere no desenvolvimento de fetos, provocando má-formação. O resultado do trabalho abre possibilidades para o desenvolvimento de alternativas seguras ao fármaco, que mantenham a eficácia terapêutica, eliminando os efeitos adversos do medicamento. De acordo com o estudo japonês, a talidomida liga-se a uma enzima chamada cereblon, considerada muito importante, nos dois primeiros meses de desenvolvimento do feto, para formação dos membros. Essa ligação torna inativa a enzima, o que causa a má-formação. A talidomida foi proibida na década de 60, quando milhares de crianças nasceram com atrofia dos membros ou problemas cardíacos, e voltou a ser liberada no mercado dez anos depois, por ser uma alternativa para o tratamento de doenças importantes como hanseníase, lúpus, câncer na medula óssea e artrite reumatoide.
Célula-mãe Cientistas da Real Academia Holandesa de Artes e Ciências, na Holanda, afirmaram ter encontrado a “célula-mãe” da pele, ou seja, a origem de todas as células cutâneas. O estudo, publicado na revista Science, foi feito com ratos e mostrou que a célula-tronco que dá origem a todas as células diferentes da pele na verdade reside nos folículos capilares. A pele tem três diferentes camadas de células: folículos capilares, glândulas sebáceas umidificadoras e epiderme interfolicular. Anteriormente os cientistas imaginavam que as células-tronco de cada uma das três populações celulares da pele eram capazes de produzir o seu próprio tipo de célula, mas agora sabem que há uma “célula-mãe” capaz de produzir os três diferentes tipos de células. Segundo os pesquisadores holandeses, as células-tronco que vivem nos folículos capilares e apresentam altos níveis do gene Lgr6 são a origem das células-tronco epidérmicas. Em testes com ratos feridos, os cientistas notaram que as células Lgr6 em torno das feridas provocavam crescimento e reparação da pele. Hoje já é possível cultivar pele em laboratório, usando o tecido de células cutâneas existentes, mas a pele nova costuma ser ressecada e sem pelos. Os holandeses ainda precisam aprender a isolar as células Lgr6 na pele humana – um processo que pode levar de dois a três anos. Mas a esperança é de que a pele resultante desse método tenha uma aparência mais natural.
Idade pesa na hora da vacina contra HPV De acordo com um artigo publicado no último mês de fevereiro na versão on-line do The Journal of the National Cancer Institute, as mulheres com mais de 40 anos têm pouca probabilidade de se beneficiar da vacina contra o papiloma vírus humano (HPP). A vacina contra o HPV, que vem sendo recomendada para mulheres de até 26 anos e meninas a partir dos 9 anos, foi analisada em um estudo feito com mais de 9 mil mulheres costa-riquenhas, entre 19 e 97 anos, com testes para detecção de infecções carcinogênicas de HPV e precursores do câncer cervical. A taxa de novas infecções detectadas caiu com a idade – 13,5% em mulheres de 42 anos ou mais, em relação a 35% em mulheres entre 18 e 25 anos. Como a vacina contra o HPV somente é capaz de prevenir infecções, não se mostra benéfica para mulheres maiores de 40 anos, já que elas não apresentam novas infecções com frequência. O benefício potencial da vacinação contra o HPV, entre mulheres mais velhas, é bastante limitado.
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Criança brasileira está mais alta Um estudo inédito conduzido por pesquisadores das Universidades Federais do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina demonstrou que crianças e adolescentes brasileiros são mais altos, em média, do que os americanos na faixa etária entre os 7 e os 17 anos. A pesquisa também mostrou que a maturação biológica dos brasileiros acontece mais precocemente em relação aos americanos. Foi o primeiro estudo que utilizou uma amostra de escolares com o objetivo de comparar estudantes brasileiros com parâmetros de crescimento internacionais. Os autores avaliaram dados de 41.654 alunos de escolas públicas e privadas de todas as regiões brasileiras. O trabalho, que faz parte do projeto Esporte Brasil – observatório de indicadores de crescimento e desenvolvimento corporal, motor e do estado nutricional de crianças e jovens –, gerou uma proposta de curvas de estatura, peso e índice de massa corporal para crianças brasileiras. Até agora, só havia iniciativas isoladas, criadas com dados de regiões específicas, para criação de uma curva de crescimento nacional.
ANVISA suspende comercialização de produtos com sibutramina A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) suspendeu a distribuição e a comercialização, em todo território nacional, de lotes de produtos da fábrica de alimentos Ledal Química do Brasil Ltda. que apresentaram sibutramina durante uma perícia. A fábrica foi interditada numa operação conjunta da ANVISA e da Polícia Federal. Investigação realizada pelos dois órgãos identificou a presença de sibutramina em três produtos: Fibra Regi e Sliminus em cápsulas e Sliminus em comprimidos. Mais de 600 mil comprimidos de alimentos ficaram retidos no local. A interdição da fábrica é válida por 90 dias, prazo em que a empresa poderá apresentar recursos e contraprovas. Caso as irregularidades sejam confirmadas, a empresa pode ser punida com multas que variam de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão. A sibutramina é uma substância de uso controlado, que foi motivo de alerta da ANVISA aos profissionais de saúde depois que um estudo, denominado Sibutramine Cardiovascular Outcomes (Scout), demonstrou aumento do risco cardiovascular não fatal nos pacientes tratados com a substância.
Pesquisadores conseguem diferenciar memórias por meio da análise de exames cerebrais Através da exibição de trechos de filmes curtos, que mostravam pessoas em atividades cotidianas, a dez participantes, os estudiosos da University College de Londres conseguiram prever em quais desses clipes os voluntários estavam pensando depois. Após a exposição, os cientistas pediram aos voluntários que se lembrassem dos filmes, um de cada vez, ao mesmo tempo em que era realizado um exame de ressonância magnética para verificar a atividade cerebral. Esse exame foi então estudado com um programa de computador. A pesquisa, liderada pela cientista Eleanor Maguire e divulgada na publicação especializada Current Biology, é uma extensão de uma pesquisa anterior da mesma equipe, que tratava da memória espacial. Pesquisas anteriores mostravam que os exames cerebrais apenas indicavam processos mais simples como a distinção de cores, objetos ou lugares. O estudo fornece novas informações sobre como as memórias são gravadas no cérebro, e os cientistas esperam que as descobertas contribuam para o desenvolvimento de problemas ligados à perda da memória, tanto por doenças como por ferimentos.
Riscos de derrame passam dos pais para os filhos Segundo estudo da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, os riscos de ter um derrame são maiores entre as pessoas cujos pais já sofreram um acidente vascular cerebral (AVC). De acordo com os pesquisadores, os resultados indicam que o derrame dos pais pode ser um novo fator de risco importante para os derrames, e que os médicos devem estar atentos ao histórico familiar dos pacientes para atuar de forma preventiva. Participaram do estudo mais de 3,4 mil pessoas inicialmente livres de derrames, dentre as quais 128 sofreram esse evento cerebrovascular no decorrer do estudo (que demorou 40 anos), assim como 106 pais e mães dos pesquisados. Os resultados mostraram que as pessoas cujos pais sofreram derrame aos 65 anos de idade tinham duas vezes maiores chances de ter um derrame em qualquer idade, e quatro vezes maior risco de ter esse problema em torno dos 65 anos de idade. O estudo também sugeriu que o tipo de derrame sofrido pelos filhos tem relação com o derrame dos pais. Exemplo é que 74 pais sofreram derrame isquêmico e 106 filhos tiveram esse mesmo evento cerebrovascular.
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Ortotanásia pode ser autorizada no Brasil A Câmara dos Deputados analisa o Projeto de Lei nº 6.715/09, do Senado, que permite ao doente terminal optar pela suspensão dos procedimentos médicos que o mantêm vivo artificialmente. O texto, que altera o Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/40), estabelece que a exclusão de ilicitude será anulada em caso de omissão de tratamento ao paciente. A situação terminal do doente deverá ser atestada por dois médicos. Pela proposta, no caso de impossibilidade do paciente, o pedido de suspensão do tratamento poderá ser feito por seu cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou irmão. Em 2006, o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou uma resolução (nº 1.805/06) autorizando a ortotanásia. No entanto, a resolução foi suspensa por uma liminar da Justiça Federal, a pedido do Ministério Público Federal.
Especialistas preparam protocolo de segurança para cirurgia plástica A Câmara Técnica de Cirurgia Plástica do Conselho Federal de Medicina (CFM) decidiu elaborar um protocolo de segurança para cirurgia plástica. O projeto será implementado em parceria com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e irá abranger orientações de indicações cirúrgicas, exames pré-operatórios, anestesia, atendimento pós-cirúrgico e condições do local. Ações para coibir práticas irregulares ou suspeitas já estão sendo adotadas pelo CFM, por meio da Câmara Técnica, em parceria com o Ministério Público. Dentre as ações, acontecerá o monitoramento de cursos que não têm condições de formar profissionais qualificados para a prática.
SBCM promove mais uma edição do SIMURGEM As inscrições já estão abertas para a terceira edição do Curso de Simulação em Medicina de Urgência e Emergência (SIMURGEM), que acontece dias 14 e 15 de abril no Centro de Ensino, Treinamento e Simulação do Hospital do Coração (CETES/HCor), em São Paulo. O curso, promovido pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM), Associação Brasileira de Medicina de Urgência e Emergência (ABRAMURGEM) e HCor, faz parte das atividades preliminares do 8º Congresso Paulista de Clínica Médica, que será realizado dias 16 e 17 de abril na Fecomercio (São Paulo-SP). Os temas que serão abordados vão desde arritmias, ressuscitação cardiopulmonar, anafilaxia e intoxicação, até assuntos diferenciados, como gerenciamento de crise, emergências endocrinológicas e hemorragias digestivas. O SIMURGEM tem carga horária de 20 horas/aula e conta pontos para a aquisição do Título de Especialista em Clínica Médica, do Certificado na Área de atuação em Medicina de Urgência e para Certificação de Atualização Profissional, necessária a cada cinco anos, conforme resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) em vigor desde janeiro de 2006. No ano passado, o SIMURGEM teve excelente avaliação entre os 50 participantes e, por conta do sucesso obtido, a SBCM também irá promover novas edições do curso em outros Estados, através de uma parceria com o Instituto Paulista de Treinamento e Ensino (IPATRE). Mais informações no site www.sbcm.org.br/simurgem
Medicamento para o tratamento oral da esclerose múltipla O fingolimode (FTY720), da Novartis, acaba de receber o status de revisão prioritária (concedido às terapias que oferecem avanços significativos com relação aos tratamentos atuais ou nos casos em que não há terapias disponíveis) pela agência reguladora americana – Food and Drug Administration (FDA). Com isso, o padrão de dez meses de aprovação da FDA será reduzido para seis meses e o fingolimode poderá ser a primeira terapia oral aprovada para o tratamento da esclerose múltipla (EM). Os resultados de um dos maiores programas de estudo clínico fase III já conduzidos com pacientes com esclerose múltipla, contemplando mais de 2.300 pessoas, foram utilizados pela Novartis para sustentar a submissão regulatória nos Estados Unidos e na Europa, incluindo dados dos estudos TRANSFORMS e FREEDOMS, recentemente publicados no The New England Journal of Medicine. Juntos, esses dados demonstraram a eficácia de fingolimode na redução das recidivas, da progressão de incapacidades e do aparecimento de novas lesões cerebrais em pacientes com a forma recorrente da esclerose múltipla, que atinge cerca de 85% dos portadores da doença. No Brasil, o fingolimode será submetido à aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) nos próximos meses.
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Missão AMB-SOS Haiti apresenta resultados Os ortopedistas Dr. Rafael Mohriak, Dr. Fernando Ventin, Dr. Bernardo Barcellos, Dr. André Angelli e Dr. Lucas Boechat apresentaram os resultados da missão AMB-SOS Haiti. Eles mostraram um breve histórico da situação do Haiti antes do terremoto, com fotos e vídeos. “O Haiti tinha pouca estrutura para aguentar um desastre dessas proporções. Além da destruição, o que mais chamou atenção foi o cheiro. Desde o dia do terremoto, o lixo não estava sendo recolhido. Com o agravante de não ter a mínima estrutura sanitária”, contou o Dr. Mohriak. Os voluntários atenderam no Instituto Brenda Strafford, que não foi afetado pelo sismo. Antes do terremoto, o hospital era destinado apenas às cirurgias oftalmológicas e de Otorrinolaringologia. Devido à tragédia, tornou-se um centro para vítimas de trauma ortopédico. O ortopedista mostrou fotos do acampamento, das instalações sanitárias e relatou um pouco do cotidiano com a descrição de alguns casos clínicos. “Por meio das pequenas atitudes, a missão brasileira foi reconhecida pela boa vontade para se adaptar aos costumes locais e não ferir a cultura das pessoas”, concluiu. Segundo o presidente da AMB, José Luiz Gomes Amaral, o envolvimento nesse tipo de situação não é só pessoal. “Os médicos brasileiros, muito antes do serviço obrigatório, são formados para fazer assistência voluntária. Jamais aceitaríamos a imposição de fazer algo que, moralmente, já nos é obrigatório.”
Variação de preço de medicamentos supera 400% em São Paulo Uma pesquisa realizada pela Fundação Procon-SP, vinculada à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, constatou uma diferença de preços de até 421,2% entre os medicamentos genéricos e de até 123,5% entre os de referência. O segundo levantamento comparativo de preços aconteceu entre os dias 3 e 5 de março em 15 drogarias distribuídas por cinco regiões da capital paulista e englobou 99 medicamentos. A pesquisa concluiu, na comparação dos preços médios dos genéricos com os medicamentos de referência de mesma apresentação, que os primeiros são, em média, 54,4% mais baratos. O cloridrato de fluoxetina, de 20 mg com 28 cápsulas, por exemplo, foi encontrado com valor 72,4% menor do que o respectivo medicamento de referência. Os medicamentos têm um preço máximo para o consumidor definido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e as farmácias e drogarias podem praticar qualquer valor, desde que não ultrapassem esse teto.
Antibióticos na lista de medicamentos controlados A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) quer que os antibióticos sejam incluídos na lista de medicamentos controlados, com o objetivo de contribuir para a redução da resistência bacteriana. A ANVISA pretende incluir os antibióticos na Portaria SVS/MS nº 344 de 1998, que lista as substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial no Brasil. Caso a proposta seja aceita, será necessário possuir receita médica para comprar antibióticos. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 50% das prescrições de antibióticos no mundo são inadequadas. As propostas serão submetidas a consulta pública nos próximos meses.
Tipo de gordura consumida pode influenciar risco de problemas no útero Mulheres que comem muito atum, salmão e outros alimentos ricos em ácidos graxos ômega-3 podem ser menos propensas a desenvolver endometriose. Por outro lado, uma dieta rica em gordura trans pode estar associada a um maior risco de infertilidade. Essas foram as conclusões de um estudo publicado na revista científica Human Reproduction, indicando que o tipo de gordura ingerida pode afetar os riscos da endometriose. Os pesquisadores da Universidade de Harvard, avaliando dados de mais de 70 mil enfermeiras americanas pelo período de 12 anos, descobriram que aquelas com dieta rica em ômega-3 tinham 22% menos chances de serem diagnosticadas com a endometriose do que aquelas que ingeriam o ácido graxo em menores quantidades. Já as que comiam muitos alimentos ricos em gordura trans tinham risco 48% maior de ter o problema, comparadas àquelas que ingeriam menos gordura trans.
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Estudo diz que medicamento contra acne pode ajudar no combate ao HIV Segundo pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, um antibiótico usado há mais de 30 anos para o tratamento de acne pode ajudar a tratar a infecção pelo HIV. Os especialistas afirmam terem descoberto que a minociclina afeta as células imunológicas infectadas. Em testes em laboratório, os cientistas observaram que o antibiótico contribui com a função imunológica, fortalecendo os mecanismos celulares que ajudam a evitar que o vírus seja reativado. Segundo os pesquisadores, o fármaco tem o potencial de melhorar o atual regime de tratamento de pacientes soropositivos.
Analgésicos podem reduzir os riscos de câncer Uma pesquisa realizada pela Universidade de Columbia e publicada na revista científica Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention apontou que, em mulheres na pósmenopausa, os analgésicos reduzem os níveis de estrógenos. O estudo foi realizado com 3 mil mulheres – com câncer de mama e sem a doença – e indicou uma redução de 20% no risco de câncer de mama entre aquelas que tomavam aspirina regulamente. Os especialistas destacam, porém, que a associação deve ser confirmada por outros estudos antes que esses medicamentos sejam recomendados para a prevenção do câncer, principalmente por causa da possibilidade de os riscos serem maiores do que os potenciais benefícios.
Pesquisas em oncologia, doenças tropicais e diabetes ganham apoio de instituições Instituições públicas ou privadas brasileiras com projetos inovadores em Oncologia, doenças tropicais e diabetes terão, a partir de maio, mais apoio para o desenvolvimento de pesquisas em saúde e qualidade de vida das pessoas relacionadas a tais doenças. A iniciativa é fruto da parceria da farmacêutica Sanofi-Aventis Brasil com a Fundação Biominas – instituição dedicada à criação e desenvolvimento de bionegócios no Brasil. De acordo com os responsáveis pela parceria, o objetivo é promover avanços nas áreas de conhecimento científico, contribuir para a excelência e o fortalecimento da pesquisa no País e, principalmente, viabilizar projetos de inovação com potencial de atender as demandas dos pacientes nas três áreas terapêuticas definidas. As parcerias serão formalizadas em função das características e do estágio de desenvolvimento da pesquisa selecionada: acordos de codesenvolvimento, programas de cooperação, transferência de tecnologia, entre outros. A identificação, seleção e análise dos projetos de pesquisa serão realizadas pela equipe da Fundação Biominas, sendo que o benefício terapêutico para os pacientes e o grau de inovação são alguns dos principais critérios de avaliação. Os projetos mais promissores seguirão para uma análise mais aprofundada, para posterior formalização. Para participar, pesquisadores de todo o Brasil podem acessar o edital e preencher o formulário eletrônico até 21 de maio, disponível no site www.biominas.org.br/prospecta.
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Viagra® (citrato de sildenafila) é uma terapêutica oral para a disfunção erétil. A sildenafila é um inibidor seletivo da fosfodiesterase-5 (PDE-5), específica do GMPc. O mecanismo fisiológico responsável pela ereção do pênis envolve a liberação de óxido nítrico nos corpos cavernosos durante a estimulação sexual. A sildenafila é rapidamente absorvida. Indicações: tratamento da disfunção erétil, que se entende como sendo a incapacidade de atingir ou manter uma ereção suficiente para um desempenho sexual satisfatório. Para que Viagra® seja eficaz, é necessário estímulo sexual. Contra-indicações: hipersensibilidade conhecida ao fármaco ou a qualquer componente da fórmula, ou ainda a pacientes usuários de qualquer forma doadora de óxido nítrico, nitratos orgânicos ou nitritos orgânicos. Advertências e Precauções: os agentes para tratamento da disfunção erétil devem ser utilizados com precaução em pacientes com deformações anatômicas do pênis (tais como angulação, fibrose cavernosa ou doença de Peyronie) ou em pacientes com condições que possam predispor ao priapismo (tais como anemia falciforme, mieloma múltiplo ou leucemia). Os agentes para o tratamento da disfunção erétil não devem ser utilizados em homens para os quais a atividade sexual esteja desaconselhada. O uso da associação de Viagra® com outros tratamentos para disfunção erétil não foi estudado e não é recomendado. Foram relatados eventos cardiovasculares graves pós-comercialização, incluindo infarto do miocárdio, morte cardíaca repentina, arritmia ventricular, hemorragia cerebrovascular e ataque isquêmico transitório em associação temporal com o uso de Viagra®. Com o uso de todos os inibidores da PDE5, incluindo a sildenafila, foi raramente relatada neuropatia óptica isquêmica anterior não-arterítica (NAION) (póscomercialização) e; também pequeno número de pacientes com diminuição ou perda repentina de audição (pós-comercialização e estudos clínicos). Não foi identificada relação causal entre o uso de inibidores de PDE5 e NAION ou; de inibidores de PDE5 e diminuição ou perda repentina da audição. Os pacientes devem ser advertidos a consultarem o médico imediatamente em caso de perda repentina da visão ou, diminuição ou perda repentina da audição. Recomenda-se cautela na administração concomitante de sildenafila em pacientes recebendo α-bloqueadores, pois a co-administração pode levar à hipotensão sintomática em alguns indivíduos suscetíveis. A fim de diminuir o potencial de desenvolver hipotensão postural, o paciente deve estar estável hemodinamicamente durante a terapia com α-bloqueadores principalmente no início do tratamento com sildenafila. Deve-se considerar a menor dose de sildenafila para iniciar a terapia. Não existem também informações relativas à segurança da administração de Viagra® a pacientes com distúrbios hemorrágicos ou com úlcera péptica ativa. Por esse motivo, Viagra® deve ser administrado com precaução a esses pacientes. Não existem informações relativas à segurança da administração de Viagra® a pacientes com retinite pigmentosa. Viagra® não é indicado para mulheres e crianças (< 18 anos). Interações medicamentosas: Viagra® potencializa o efeito hipotensor da terapêutica com nitratos, tanto de uso agudo como crônico; portanto, o uso concomitante com estes medicamentos é contra-indicado. Interações clinicamente significativas na farmacocinética do sildenafila foram observadas com saquinavir e ritonavir. Interações clinicamente nãosignificativas foram observadas com anti-hipertensivos. Os dados em estudos clínicos indicaram diminuição do clearance da sildenafila quando co-administrada com o cetoconazol, eritromicina ou cimetidina. Nenhuma interação significativa foi observada com tolbutamida, varfarina, inibidores seletivos da recaptação de serotonina, antidepressivos tricíclicos, tiazidas e diuréticos relacionados, inibidores da ECA, bloqueadores de canais de cálcio, ácido acetilsalicílico, álcool e antiácidos (vide bula completa do produto). Reações adversas: os eventos adversos foram em geral, transitórios e de natureza leve a moderada. As reações adversas mais comumente relatadas foram cefaléia e rubor. Outras reações incluíram tontura, alterações visuais (visão turva, sensibilidade aumentada à luz), cromatopsia (leve e transitória, predominantemente distorção de cores), palpitação, rinite (congestão nasal) e dispepsia. Os seguintes eventos adversos foram relatados durante o período pós-comercialização: reação de hipersensibilidade (incluindo rash cutâneo), convulsão, convulsão recorrente, taquicardia, hipotensão, síncope, epistaxe, vômito, dor ocular, olhos vermelhos, ereção prolongada e/ou priapismo (vide bula completa do produto). Posologia: Adultos: 50 mg em dose única, administrada quando necessário, aproximadamente uma hora antes da relação sexual. De acordo com a eficácia e a tolerabilidade, a dose pode ser aumentada para 100 mg ou diminuída para 25 mg. A dose máxima recomendada é de 100 mg. A freqüência máxima recomendada de Viagra® é de uma vez ao dia. Insuficiência hepática ou renal: uma dose de 25 mg deve ser considerada. Crianças: Viagra® não é indicado para crianças (< 18 anos). Idosos: o ajuste de dose não é recomendado para pacientes idosos. Superdosagem: medidas gerais de suporte deverão ser adotadas conforme a necessidade. Não se espera que a diálise renal possa acelerar o clearance da sildenafila. Apresentações: comprimidos revestidos de 50 mg em embalagem com 2, 4 ou 8 unidades e 25 mg e 100 mg em embalagens com 4 unidades. USO ADULTO. USO ORAL. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. A persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado. Para maiores informações, consulte a bula completa do produto. (vgr11) Documentação científica e informações adicionais estão à disposição da classe médica mediante solicitação. Laboratórios Pfizer Ltda., Rua Alexandre Dumas, 1860 – Chácara Santo Antônio, São Paulo, SP – CEP 04717-904. Tel.: 0800-16-7575. Internet: www.pfizer.com.br Viagra®. MS – 1.0216.0065.
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Tiragem 40.000 exemplares As matérias assinadas não refletem a opinião da Fitomedicina Científica. De acordo com a resolução RDC nº 102 de 30 de novembro de 2000, a revista Fitomedicina Científica não se responsabiliza pelo formato ou conteúdo dos anúncios publicados. Fitomedicina Científica é uma publicação do Grupo Lopso de Comunicação. INPI nº 819.589.888
Editorial
Ano 9 r n. 69 r 2010
Diretora Geral Ana Maria Sodré Diretora Administrativa Fernanda Sodré Consultoria Científica Dr. Cezar Bazzani Conselho Editorial Dra. Ceci Lopes, Dr. Dagoberto Brandão, Dr. Eduardo Pagani, Dr. José Roberto Lazzarini, Dra. Mônica Menon e Prof. Dr. Paulo Chanel D. Freitas Jornalista Responsável Nina Rahe - DRT 509-MS Redação Jornalistas: Nina Rahe, Mariana Tinêo Revisora: Isabel Gonzaga redacao@medicoreporter.com.br Criação e Diagramação Hudson Calasans
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m novo ano começa. Desponta uma nova dezena no calendário... 2010! O número “redondo” nos inspira a pensar em fazer balanço e refazer programas. Será, por certo, um ano pleno em projetos para a SOBRAFITO. Nosso trabalho educacional vai a todo o pano. O Curso de Aperfeiçoamento em Fitomedicina já está na metade da quarta turma. E o entusiasmo destes é comparável ao dos que fizeram parte das outras três turmas. E haverá a quinta, no segundo semestre. Continuaremos com os Workshops em Fitomedicina, sempre na primeira segundafeira, todos os meses, às 12 horas, no anfiteatro do décimo andar do Hospital das Clínicas. E há outros projetos em perspectiva, germinando, dos quais falaremos em próximas edições desta revista. E continuaremos sempre com assuntos interessantes, aqui. Desta vez, falamos, por exemplo, das propriedades da cebola. Sempre há plantas maravilhosas a mencionar e que valem a pena ser estudadas. Por isso, que seja um ano de esperança, que se encerrará com novo Congresso Brasileiro de Fitomedicina e eleições de nova diretoria, ou seja, com novos planos e projetos. Sempre renovados. Para que todos os próximos anos também sejam ricos e produtivos. Portanto, vamos trilhá-lo juntos, e entusiasmados! Feliz Ano Novo! Dra. Ceci M. C. Lopes ceci.lopes@hcnet.usp.br anasodre@lopso.com.br
Rua Vieira de Morais, 420, cj 86 CEP 04617-000. SãoPaulo - SP Fone: (11) 5096-2456 assinante@lopso.com.br
Índice 79 Cebola: tempero ou remédio?
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Cebola: tempero ou remédio? A cebola (Allium cepa) é utilizada como tempero, no nosso dia a dia, e é quase essencial em muitos pratos. E é conhecida tradicionalmente por suas propriedades cicatrizantes. Há estudos em vários locais do globo que confirmam essa tradição, e há produtos medicamentosos que contêm seu extrato. Porém também outras propriedades medicinais lhe têm sido atribuídas
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esquisadores palestinos, em 2000, fizeram inquérito sobre o uso de várias plantas na população que habitava determinado local por mais de 30 anos, verificando uso disseminado delas para inúmeros fins. A cebola (e seu “parente”, o alho) foi citada, destacando-se sua ação sobre o câncer de próstata. (Ali-Shtayeh et al.) Na cicatrização Maragakis et al., em 1995, na Alemanha, pesquisando a cicatriz cirúrgica após cirurgia torácica, verificaram que um produto contendo Allium cepa e alantoína, aplicado sobre a cicatriz três vezes ao dia, por seis meses, melhorava não só o aspecto da mesma, como diminuía o aparecimento de cicatrizes hipertróficas, comparando com um grupo de pacientes que não utilizou o produto. E ainda que o efeito perdurava, mesmo após cessado o uso. Esse estudo confirmou o que havia sido observado por Willital & Heine, no ano anterior, em outro estudo. Tataringa et al., em 2005, demonstraram essa capacidade, observando, ainda, sua ação antimicrobiana, desde que fosse conservada em condições adequadas. Gafitanu et al., em 2006 (do mesmo grupo de estudos, na Romênia), estudaram unguentos com três concentrações diferentes do extrato, constatando seu efeito cicatrizante, melhorando a epitelização e encurtando o tempo de fechamento da ferida. O estudo foi realizado em ratos. O efeito foi atribuído aos flavonoides do produto estudado. Ho et al., em 2006, em pacientes que se submeteram a remoção de tatuagens com laser, aplicaram gel com extrato de cebola, alantoína e heparina, verificando aspecto final superior nos que utilizaram o produto, comparando com os que não o aplicaram. Hosnuter et al., em 2007, estudaram os efeitos do extrato sobre cicatrizes hipertróficas, comparando 60 pacientes divididos em três grupos, um deles somente com extrato, outro com a aplicação de fita oclu-
siva de silicone e um terceiro utilizando o extrato e a fita em conjunto. O extrato foi mais efetivo em relação à cor da cicatriz, porém a fita de silicone foi melhor em relação à altura da mesma. O grupo que associou os dois métodos obteve os melhores resultados finais. Os autores concluem que há diversos mecanismos para a eficiência terapêutica da cebola, mas recomendam que seja utilizada em conjunto com a fita de silicone. Koc et al., em 2008, compararam o efeito de corticoide (triancinolona) e de extrato de Allium cepa aplicados por 20 semanas em feridas, verificando equivalência dos seus efeitos, porém, quando associados, o resultado foi bastante superior quanto a dor e aspecto hipertrófico. Draelos, em 2008, avaliou pacientes que retiraram, com finalidade estética, várias lesões torácicas, como nevus, cistos sebáceos e outras, aplicando, após 15 a 21 dias de cicatrização espontânea, em metade delas, um gel com extrato de Allium cepa, por dez semanas, e posteriormente observando o aspecto das cicatrizes (o que foi feito por fotografias em semanas seriadas, e por observador que desconhecia em quais delas havia sido aplicado o extrato). Observou-se evidente melhora do aspecto cicatricial, bem como da textura das cicatrizes. Outros benefícios: antioxidante, hipolipemiante, antineoplásico, antidepressivo Yang et al., em 2004, estudam dez variedades de cebola disponíveis usualmente nos Estados Unidos, comentando que há grande variação de seus componentes, especialmente flavonoides, quanto à concentração, composição e mesmo benefícios potenciais à saúde. Comentam que a cebola é um importante fornecedor de fitoquímicos, fenólicos e flavonoides, reconhecidos pela sua atuação antioxidante, vantajosa na redução de problemas cardiovasculares e de câncer. Comentam que a escolha do tipo desse vegetal a ser consumido poderá influenciar muito sobre a qualidade de saúde e bem-estar. Ostrowska et al., em 2004, estudaram a lipidemia de porcos saudáveis que ingeriram dois tipos comuns de cebola
(“cavalier” e “destiny”) em suas dietas, por seis semanas, e avaliaram o lipidograma, observando melhora com ambos os tipos, mas mais acentuada com o tipo “destiny”. Houve redução de eritrócitos e elevação de linfócitos nos porcos que ingeriram cebola, sugerindo ação imunomoduladora. Rose et al., em 2005, discutem o mecanismo de ação de aliáceas, incluindo a cebola, demonstrando que várias substâncias sulfúricas, variáveis conforme a espécie estudada, podem induzir a detoxificação de enzimas, como glutationa-S-transferases, quinona redutase e oxirredutase, em mamíferos, além de influir sobre a retenção do ciclo celular e da apoptose em vários experimentos in vitro com células cancerosas. Os autores comentam que esses estudos começam a lançar luz sobre os mecanismos de cardioproteção dos compostos sulfurados das aliáceas. Haidari et al., em 2008, em estudo com
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“ ratos Wistar nos quais se induziu hiperuricemia, e tratados com extrato de Allium cepa, ou alopurinol, ou quercetina, por 14 dias, observaram que tanto cebola quanto quercetina reduziram a uricemia em níveis altamente significativos, tempo-dependentes. Os três tratamentos inibiram significativamente a atividade xantina oxidase/xantina deidrogenase hepática. Allium cepa e quercetina melhoraram, em níveis altamente significantes, os biomarcadores do estresse oxidativo, o que não ocorreu com alopurinol, embora a ação antiuricêmica deste tenha sido muito mais intensa. Os autores acreditam que esses resultados sugerem que esses mecanismos estejam envolvidos na ação sobre o estresse oxidativo e sobre a melhora da uricemia obtidos com cebola. Sakakibara et al., em 2008, em ratos, cujo comportamento foi observado pelo teste de natação forçada (modelo comportamental de depressão), e aos quais se administrou pó
de cebola, 50mg/kg de peso por dia, como fonte rica em quercetina, constataram redução significante do tempo de imobilidade, sem mudança de função motora, indicando ação antidepressiva. A medida da corticosterona plasmática elevou-se após o teste de natação e a tratamento prévio feito com cebola não modificou essa elevação. O estudo demonstrou atividade supressora da atividade dopaminérgica hipotalâmica dos ratos, suprimindo o turnover desse neurotransmissor. Doses mais elevadas de cebola também reduziram o turnover, porém sem atuar como antidepressivo. Assim, esse estudo sugere que a ação antidepressiva independa do eixo pituitária-adrenal. Atuação sobre a fertilidade Khaki et al., em 2009, estudando ratos Wistar, administrou suco de cebola fresca, na dose de 0,5 ou 1 g por dia por
Maragakis et al., em 1995, na Alemanha, pesquisando a cicatriz cirúrgica após cirurgia torácica, verificaram que um produto contendo Allium cepa e alantoína, aplicado sobre a cicatriz três vezes ao dia, por seis meses, melhorava não só o aspecto da mesma, como diminuía o aparecimento de cicatrizes hipertróficas, comparando com um grupo de pacientes que não utilizou o produto
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utilizaram o suco em dose maior. Não houve diferença em relação à morfologia do esperma nem no peso testicular. Como pudemos observar pelo relatado acima, há um conjunto de ações benéficas associado ao uso de Allium cepa, tanto sob a forma de extrato como na forma alimentar. Em algumas áreas, os estudos ainda são escassos, porém os resultados são animadores. r
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Fotos: divulgação
animal, por gavagem, durante 20 dias. Ao fim do tratamento, os testículos foram removidos e estudados os epidídimos. Observou-se que a testosterona sérica se elevou com o uso de cebola (p<0,05), que LH se elevou somente nos animais que utilizaram dose alta do suco (p<0,05), mas não se observou elevação de FSH. A viabilidade e também a motilidade espermática aumentou significantemente, porém a quantidade de espermatozoides só aumentou nos animais que
Rafael Costa Hime, médico formado pela Faculdade de Medicina de Santos (Fundação Lusíadas)
Dra. Ceci Mendes Carvalho Lopes, professora assistente-doutora do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), presidente da Associação Médica Brasileira de Fitomedicina (SOBRAFITO) – 2007-2010
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referências Bibliográficas: 1. Berner MM, Althof SE, Goldstein I, et al. Relationship Between Erection Hardness and Confidence in Men With Erectile Dysfunction Treated With Sildenafil Citrate. ESSM Poster MP-026, Joint Congress of the European and International Societies for Sexual Medicine December 2008, Brussels,Belgium. 2. Mulhall J, Althof SE, Brock GB, et al. Erectile Dysfunction: Monitoring Response to Treatment in Clinical Practice—Recommendations of an International Study Panel. J Sex Med 2007;4:448–464. 3. King R, Juenemann K-P, Levinson IP, et al. Correlations between increased erection hardness and improvements in emotional well-being and satisfaction outcomes in men treated with sildenafil citrate for erectile dysfunction. International Journal of Impotence Research 2007;19:398–406. 4. Gingell C, Sultana SR, Wulff MB, et al. Duration of Action of Sildenafil Citrate in Men with Erectile Dysfunction. J Sex Med 2004; 1: 179–184. 5. Eardley I, Ellis P, Boolell M, et al. Onset and duration of action of sildenafil citrate for the treatment of erectile dysfunction. J Clin Pharmacol, 2002; 53: 61S-65S. 6. Jackson G et al. Sildenafil - A decade of safety and tolerability data. ESSM Poster UP-100, Joint Congress of the European and International Societies for Sexual Medicine December 2008, Brussels, Belgium. 7. Park NC, Park HJ, Nam JK, et al. Efficacy and side effects of the PDE-5 inhibitors sildenafil, vardenafil, and tadalafil: results of open label study of patient preference in Korea. J Sex Med. 2005; vol 2 suppl 1: MP 5-3. 8. Bula do produto.
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