Bruna Ogando

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AMedicinas escolha doalternativas Amor Por Bruna Ogando

por Mariana Carpinter

Existem diversos tipos de tratamentos de doenças etc e tal. Entre eles tem o tratamento com cães, a homeopatia, o negocio outro, tem aquele outro também. Desde a antiguidade que isso é legal.

“Senhor, Tu me olhaste nos olhos, a sorrir, pronunciaste meu nome. Lá na praia, eu deixei o meu barco, junto a Ti, buscarei outro mar.” O refrão da música “A Barca”, do Padre Zezinho, inicia essa reportagem que fala sobre vocações, contando histórias de pessoas que escolheram a vida consagrada. 55


O Primeiro Amor

quando ingressou no seminário, 8 de fevereiro de 2015.“Como retornou ao “Primeiro Amor”. assim, eu? Eu padre? Claro que Incentivado a participar dos vocacionais pelo não. Mas não por quê? Não encontros Bispo Dom Nelson Francelino havia possibilidade. Eu não me sentia preparado para entrar no e pelo, o jovem decidiu ouvir o chamado, mesmo com seminário, achava “Hoje meu pai, todas as dificuldades que não seria capaz. Mas ao mesmo tempo minha mãe e e medos existentes. Num primeiro me perguntava: por minha irmã momento a decisão que não? Será que não é mesmo minha são os maiores foi acolhida na família vocação? Que fase defensores de com surpresa. “Meu pai de primeira não difícil de pensamentos”. minha aceitou muito bem. Lucas Magela, 22 vocação”. Talvez por ser o filho anos, desde criança já Lucas Magela mais velho, e talvez “brincava” de ser padre por medo por eu estar e celebrar missas. Acompanhando sua avó paterna Dona Emília – desistindo de tudo para ingressar popularmente conhecida como na vida religiosa. Porém minha Dona Rosinha, participava das mãe acolheu desde o inicio a festas da Paróquia de Santo ideia e sua docilidade convenceu Antônio, em Sapucaia- RJ, meu pai. Hoje meu pai, minha celebrações e todas as atividades mãe e minha irmã são os maiores possíveis na comunidade. Passou defensores de minha vocação”. pelo programa Conexão Católica “Ele me chamou antes, queria na rádio comunitária da cidade, falar comigo primeiro, como de pelo ministério de música, por costume. Como pais ficamos várias pastorais, mas mesmo assim, preocupados, mas falamos que Lucas ainda não tinha reconhecido estávamos ali para apoiá-lo o chamado vocacional. sempre. Uma coisa que pedimos Lucas chegou a concluir o é que pensasse bem”, explica quarto período da faculdade Regirene Stael, mãe de Lucas. Ela de Direito, trabalhava, já tinha fala também sobre o orgulho em vivido paixões, mas confessa que acompanhar os passos do filho:

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“Hoje a cada dia vemos sua fé e sua perseverança crescerem e nos sentimos muito orgulhosos em vê-lo feliz. Nosso maior incentivo é o amor que nos une e a confiança de que ele pode sempre contar com a gente”. Acordar antes das seis da manhã, ir para a faculdade, fazer as tarefas da casa, ter uma rotina de estudo, participar das missas diárias e dos momentos de oração... essas são algumas atividades que fazem parte do dia a dia de um seminarista e por isso Lucas diz: “Ao contrário do que muitos pensam, o seminário não é um lugar onde a gente fica de mãos postas rezando o dia todo. Seminarista trabalha. No final do dia estamos mortos de sono, mas felizes”. O seminarista reconhece as dificuldades na trajetória, mas pontua que esses são os desafios da sua própria humanidade e que se esforça para a cada dia se tornar mais digno e ser mais lapidado pela Graça de Deus. “O Evangelho te chama do jeito que você é para viver a sua dignidade de filho e filha de Deus. Um evangelho que não demoniza o que você é, pois Deus te fez assim, mas te chama na sua essência a ser Santo”.


A verdadeira felicidade

Victor no seminário, Amália 21 de fevereiro de 2016.“Se procura sempre participar das padre? Logo eu? Por que isso, festividades que a instituição Senhor?” Esses foram alguns dos promove e de uma maneira questionamentos que levaram ou de outra sempre se mostra Victor Pereira, 19 anos, para presente para que o filho sinta a sua missão vocacional. O confiança e siga em frente. A rotina no seminário é jovem conta que o desejo de constituída por orações em ser padre veio ainda mais forte durante uma homilia em uma Comunidade, atividades da casa das missas da trezena de Santo e estudo. Todas essas tarefas têm Antônio realizada na Paróquia horários fixos e estipulados, como de Sapucaia-RJ, sua comunidade o horário de despertar, horário de origem. “Depois de vários de recolher e os momentos livres. ensaios, depois de conversas com Mesmo com todas as atividades, minhas avós, e com a ajuda delas, horários e rotinas do seminário, foi necessário contar para os durante a conversa não ficou meus pais essa decisão”, lembra. difícil notar o quanto Victor “Decidi lagar a “Ser padre é ser está satisfeito com o caminho que faculdade quando vi pai de uma escolheu. Ao ser que já não era mais perguntado sobre multidão, é aquilo que queria, pois não tinha mais levar o necessário como se sente em meio a tudo prazer em estar ali. ao mais que está vivendo, Sem duvida alguma ele diz: “Deus necessitado.” foi uma decisão muito surpreende difícil, porque era um Victor Pereira nos a cada dia, e as “investimento” dos surpresas que Ele nos revela meus pais, era uma circunstância que não envolvia somente eu, e são grandiosas. Seguir esse sim minha família”, fala Victor caminho é algo maravilhoso, quando lembra do momento é uma eterna descoberta, é em que abandonou o curso descobrir um Amor que não tem de Engenharia Ambiental. fim, que transcende tudo isso”. No início de 2017, Victor “Mãe, eu não estou feliz fazendo o que estou fazendo. foi direcionado para a Paróquia Pode ser a melhor faculdade do Imaculada Conceição, na cidade mundo, mas eu não estou feliz. de Paty de Alferes-RJ. Nos finais Eu quero ir para o seminário, eu de semana, ele fica responsável quero ser padre.” Emocionada, por animar a catequese da Igreja, Amália Pereira, mãe de Victor, ajudar o grupo de coroinhas lembra exatamente das palavras e estar à disposição para dar que lhe foram ditas e que deixaram suporte nas outras atividades os sentimentos muito confusos. que necessitem do seu trabalho. O seminarista confessa Hoje, ela vê o filho realizado e reconhece que essa foi a melhor que é difícil nadar contra a escolha, porque ele se encontrou correnteza em um mundo onde de verdade, mas no momento muitos só veem só querem o da revelação, pensou em como enriquecimento pessoal e o ele ia construir uma família e prazer, mas afirma que “Aquele como seria o futuro do filho. que nos chamou nos dá força para Para incentivar a caminhada do viver isso. Ele nos mantém de pé

diante de todas as dificuldades, nos dá fôlego para nadar, para avançar nos seus caminhos”. Em um momento da entrevista, Victor define a sua motivação: “O que mais me motiva a seguir esse caminho é o olhar para com o irmão, essa ajuda que o outro tanto precisa. Ser padre, é ser pai de uma multidão, é levar o necessário ao mais necessitado”.

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Doar-se para a vocação

aceitou bem essa ideia”, recorda. Aos 13 anos, Irmã Waldete “Eu tinha seis anos, me recordo que fui num evento da Igreja em recebeu a visita de Madre Clara, Lima Duarte. Lá tinham muitas que é fundadora da casa da irmãs vicentinas rezando salmos e Congregação das Franciscanas cantando com uma voz que parecia de São Pascoal em Juiz de Fora, de Deus. Perguntei a minha mãe o em busca de donativos para o que era aquilo e ela me explicou trabalho de caridade. Waldete fala que elas eram irmãs de caridade. A que não cansava de pedir a Madre partir daquele momento não tirei Clara para que pudesse passar da minha cabeça que queria ser alguns dias na Congregação e uma irmã de ‘qualidade’, porque eu que ela conseguisse a autorização. não sabia falar direitinho”. (risos) Os pedidos também foram feitos para Ignácio Halfeld, que tinha Foi com esse uma boa relação com depoimento que “O que me a família. “Nas férias a Irmã Waldete encanta e o que de julho, escrevi um Oliveira começou a contar sobre me motiva é esse bilhete para minha tia, como descobriu se entregar sem imitando a letra da minha mãe, pedindo a sua vocação. interesse em nada, que ela me pegasse no Criada de só por amor.” trem e me deixasse na forma rígida, Irmã Waldete Irmâ Waldete Oliveira casa das irmãs. Minha mãe descobriu tudo e lembra que sua mãe só permitia que ela brincasse mandou o juizado de menores com a filha do político Ignácio me buscar”, conta. Depois desse Halfeld. “Morava em Benfica e episódio, a justiça viu que estava minha mãe sempre me vigiava tudo certo com a menina e a muito. Lembro também que toda partir desse dia, a Irmã Waldete na Congregação: vez que falava que queria ir para o ingressou convento eu apanhava. Faz muito “Todas às vezes que ia visitar tempo, mas tem coisas que a gente minha mãe ela se escondia para não esquece. Minha mãe nunca que eu não conseguisse encontrá-

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la. Ela tinha esperança que eu desistisse. Carreguei isso sempre comigo, mas permaneci firme, pois cada um tem seu modo de pensar e eu sempre respeitei o dela, mesmo sem entender que tipo de ‘amor egoísta’ era esse”. A Irmã Waldete trabalhou durante 21 anos com crianças órfãs e abandonadas (no tempo que a sede da Congregação era um orfanato). Ela lembra com saudade das crianças sendo cuidadas e também ajudando a cuidar do pomar e das outras atividades do lar. Hoje, Waldete vive com apenas mais duas irmãs na Congregação, pois muitas já faleceram, e por isso confessa: “Temos que rezar muito pelas vocações femininas. Hoje eu vejo que as pessoas querem estudar, crescer na vida, serem independentes e veem que dessa forma não precisam de Deus. O que a gente tem que fazer para que os jovens entendam que não é assim?” Mesmo em meio as dificuldades, a Irmã diz que “o que me encanta e o que me motiva a cada dia mais é esse se entregar sem interesse em nada, só por amor”.


isso, da minha parte foi bem tranquila, senti nessa decisão um toque de Deus”, explica. Leonardo conta que o carinho das pessoas a sua volta é muito grande e que sua comunidade de origem continua o acolhendo muito bem: “Uma das maiores riquezas do processo vocacional é a sinceridade com você e com Deus, ouvir Deus é necessário. Tanto em Jamapará minha comunidade de origem, quanto em Rio das Flores minha comunidade de pastoral, minha decisão foi acolhida com muito carinho e amor do povo de Deus, vi nos gestos das duas comunidades algo que tinha experimentado na Missa de envio, “Tanto para o seminarista o amor diante a minha decisão”. Para quem pensa que a missão quanto para o padre, a nossa quando Leonardo vocação não é para seminário acabou decidiu se afastar do Seminário, e sim para o povo de Deus. ele explica que Deus chama a Estar junto do povo cada um de nós a todo é satisfatório, é momento para as descanso para a nossa “A vocação mais diversas funções alma missionária”. maior é o – não somente para o Falar de vocação sacerdócio. A vocação é falar em saber Amor: amar maior é o Amor: ouvir a voz de Deus amar ao próximo, e os sinais que Ele ao próximo, amar a Igreja e dá. Na comunidade amar a Igreja amar o povo (que de Sant’Ana, em já é tão machucado e amar o Jamapará-RJ, após por algumas povo.” mais de um ano e circunstâncias meio de encontros Leonardo Baião da vida). “Decidi vocacionais, Leonardo mesmo retomar ao Baião, 24 anos, foi banco da Igreja, enviado para o Seminário, junto da assembleia, mas não onde daria mais um passo para deixo de ajudar onde precisam o seu discernimento religioso. de uma ‘mãozinha’. Estou Mesmo se sentindo muito bem vivendo dias felizes, estou com as atividades de formação podendo contribuir na minha e com o trabalho pastoral que comunidade de origem, no realizava em Rio das Flores-RJ, circulo bíblico da minha rua, no o jovem percebeu que deveria Grupo de Oração da Renovação se afastar do seminário. “O meu Carismática onde brotou minha afastamento foi tomado com vocação. Voltar ao primeiro consciência, oração e comunhão amor é tão necessário quanto com meu diretor espiritual, por dar o sim para lançar as redes”.

Outros caminhos

Discernimento vocacional

Padre Norberto Ernesto faz parte da Congregação do Verbo Divino e está em Juiz de Fora há cinco anos e no Brasil há mais de 60 anos. Já morou em várias cidades, como Belo Horizonte, São Paulo, Barra Mansa e Volta Redonda. “O vocacionado sente um desejo de dedicar-se ao serviço de Deus e da Comunidade.” Padre Norberto explica que o processo de discernimento vocacional é bastante complexo, pois o jovem deve analisar todos os prós e contras e ver se realmente está disposto a ingressar na vida religiosa. Mesmo após entrar no seminário ou no convento, o processo continua, pois é através da vivência e da rotina que o/a jovem pode confirmar sua escolha. Padre Norberto comenta que muitas pessoas desistem da vida consagrada porque durante o processo de discernimento descobrem que suas qualidades podem ser aplicadas em outras áreas da vida: “Tudo na vida é vocação e eu sempre costumo dizer que não é porque uma pessoa não quer ser padre ou freira que ela não seja boa em alguma coisa. Todo mundo tem um dom, basta saber usá-lo”. 59


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