Clara Assis

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O preço de uma escolha por Clara Assis

Na hora de escolher o alimento, o consumidor pode optar pelo mais barato, mais prático ou mais saudável. Descubra as principais diferenças entre o mercado fit e o mercado comum, tanto para quem vende quanto para quem compra. Saiba também o que vale mais a pena pro seu bolso e sua saúde. 16


Não importa a situação financeira, se tem uma coisa que as pessoas nunca abrem mão de fazer é se alimentar. E nem podem. Todo ser humano precisa se alimentar para sobreviver. E, mais do que isso, comer faz parte da vida social, da busca pelo prazer, da ocasião e de diversas outras situações. É por isso que, mesmo com a crise, em 2016, o faturamento da indústria de alimentação chegou a R$ 614 milhões em todo o país, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA) e foi capaz de gerar mais de um milhão de empregos diretos. Segundo a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), o setor de alimentos é um dos mais resistentes do Brasil. Hoje são diversas opções, o que faz o mercado crescer ainda mais. Entre as alternativas de alimentos, o mercado fit é o mais recente e vem ganhando cada vez mais espaço. Comidas sem glúten, sem lactose, sem açúcar, sem gordura, entre tantas outras restrições, parecem agradar o consumidor mais exigente. Por outro lado, muita gente não abre mão de um docinho, seja um bolo, um brigadeiro ou um brownie. E, diante de dois mercados tão diferentes, fica a dúvida para investidores e consumidores, onde será mais rentável investir e consumir.

Foto Bruna Quirino

o próprio recurso. O dinheiro do nada por alimentação saudável e investimento não deve ser con- esportes. Sempre preocupada com fundido com o de casa, porque as a minha alimentação e sempre finanças da empresa são diferentes gostei também de cozinhar. Endas contas pessoais. O investidor tão, comecei a fazer receitas para também deve avaliar se o que ele mim, adaptava as receitas comuns vai produzir é algo que está em alta com ingredientes saudáveis. Junto no mercado, se é algo a isso, agreguei o que realmente tem de- “O investidor deve meu lado empremanda. Para isso, pode endedor e resolvi avaliar se o que conversar com pessoas criar a Equilíbrio que já estão no ramo ele vai produzir é Natural.” e com fornecedores, Bruna também algo que está em apostou para já ter em mente na proquais serão os primei- alta no mercado, dução caseira. ros passos e o que será “Hoje a produção se é algo que preciso fazer.” é feita em minha Foi assim que o esrealmente tem casa, mas tenho o tudante de jornalismo, projeto de expandemanda.” Vinícius Polato, 22 são para uma coMichel Souza anos, tomou a decisão zinha industrial. de vender doces, avaA produção e a liando a demanda do mercado. “Eu criação são feitas por mim mesma escolhi o mercado alimentício por- e conto com uma ajudante. É tudo que acredito ser um mercado sem 100% artesanal, o que vejo como fim. Na minha opinião, é o melhor. um diferencial.” Optei pelos doces porque eu notava uma certa demanda nessa área ao meu redor, tanto na faculdade quanto no estágio.” Apesar de ter começado a browneria com o intuito de complementar a renda, hoje, quase um ano depois, o negócio se tornou a principal ocupação. “Eu e minha esposa começamos com a Doce Mundo para nos ajudar financeiramente na época que ela estava desempregada, e eu só tinha um estágio. A venda deu tão certo que esse é meu emprego. Me dediEm qual mercado hoje co 100%. A produção é toda feita devo investir? em casa por nós dois, de forma arO economista Michel Souza ex- tesanal, desde o brownie em si, até plica quais são as principais consi- os recheios e coberturas. Fazemos derações na hora de abrir o próprio diariamente para atendermos toda negócio, principalmente se for uma a demanda com produto fresquiprodução caseira, como acontece, nho.” muitas vezes, no ramo alimentício. Em contrapartida, a estudante “Quando uma pessoa resolve em- de Engenharia de Produção, Bruna preender, ela deve levar em conta, Quirino, 23 anos, resolveu abrir a primeiramente, que o negócio que própria loja de produtos naturais, ela vai colocar em prática deve ter há três meses. “Sempre fui apaixo-

Foto Vinícius Polato

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Comparando os dois mercados Na publicidade

Foto Vinícius Polato

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Foto Bruna Quirino

Tanto Vinícius quanto Bruna fazem suas vendas pelas redes sociais. Vinícius conta que já tem alguns revendedores e clientes fiéis. “Vendo principalmente pelo Facebook e também Instagram. São boas plataformas de divulgação e contato com os clientes. M a s também faço venda porta a porta no centro da cidade, onde já t e n h o m i n h a clientela formada. Além disso, alguns cafés, bares e restaurantes revendem n o s s o s produtos em suas lojas físicas.” B r u n a também acredita na força do Instagram para o seu negócio. “Vejo o Instagram como uma tendência, uma forma tecnológica e atual.” O professor e publicitário Vitor Resende explica que a venda online ganhou muito espaço pela praticidade e também pelos custos. “A vantagem da venda por redes sociais é que os custos são bem menores, pois eliminamse as barreiras físicas para

atendimento, não é necessário estar perto do cliente para que ele compre e há a possibilidade de que o produto seja divulgado para as pessoas que façam parte da rede do consumidor, então atinge mais gente.” Porém, ele ressalta que, assim como na venda física, é preciso ter planejamento também na venda online, lembrando de sempre responder e dar atenção ao cliente que chega através da internet. Falando do mercado de alimentos, V i t o r comenta que é um mercado m u i t o promissor no Instagram, talvez pelo uso das imagens. “A venda de alimentos pela internet é muito interessante pelas possibilidades de publicidade. Em um aplicativo em que as imagens imperam, uma boa fotografia de um alimento pode ser decisiva para despertar o interesse de compra.” Sobre as diferenças entre o mercado comum e o mercado fit nas redes sociais, Vitor ressalta que elas existem. “Basicamente a diferença de postura está ligada ao público. Por exemplo, a fotografia,

para uma empresa fit deve ser mais limpa, remetendo ao frescor dos alimentos, à qualidade e ao fato de serem naturais. No caso de comidas comuns, os atributos costumam ser outros. Mas no fundo, deve-se observar o que o público deseja e qual é a sua necessidade. Dessa forma, a linguagem (tanto verbal como visual), deve ser moldada para atingi-lo.” Porém, ele acredita que um mercado não tire o espaço do outro. “Quanto mais se fala no assunto [comida fit], maior a capacidade de gerar interesse no consumidor. No entanto, não acredito que isso possa se ligar à queda de venda de alimentos ditos comuns, visto que o público para as comidas saudáveis é um público de nicho. O que acontece é que este público, que já existia, que já ansiava por consumir estes produtos, passa a ter mais opções e isso faz com que as vendas sejam impulsionadas. Mas não creio que, em razão disso, outros produtos não enquadrados como saudáveis tenham queda de venda.”

Nos investimentos Bruna Quirino afirma que o público fit vem crescendo, mas também se tornando mais exigente, o que faz com que os seus gastos sejam maiores. “Acho que meu gasto seria menor se vendesse produtos comuns, devido ao maior acesso a eles. O alimento saudável é muito específico, por exemplo, meus bolos são adoçados com xylitol, um adoçante natural, que não encontro em qualquer lugar, como o açúcar comum. Meu


público preza pela qualidade, pela procedência dos alimentos.” Apesar de o público comum também ser exigente, o custo de produção é bem menor, como conta Vinícius. “O gasto é bem menor do que o mercado fit, com certeza, pois a matéria prima para esse tipo de produto é mais cara, logo o valor de venda também é mais alto. Tudo depende da linha de clientes que você quer atrair.” Além do valor, o economista Michel Souza explica outras diferenças significativas nos dois mercados. “Existe sim uma concorrência direta entre o mercado comum e o mercado fit. O mercado comum, além de ser mais barato, por conta do processo industrializado, proporciona maior agilidade. Um acaba substituindo o outro. O produto fit demora mais, é mais caro. O mercado comum ainda é mais lucrativo por trabalhar com escala, mas os produtos fit têm muito potencial para crescer.”

Na demanda Outra diferença entre os dois mercados está na procura. Vinícius conta que não é todo dia que o movimento permanece o mesmo, talvez pelo fato de a cabeça das pessoas estar realmente mudando, e elas passarem a evitar os doces, por exemplo, em dias de semana. “Nós vendemos, em média, 200 brownies por semana, entre vários estilos e sabores. Os primeiros dias da semana são mais calmos, não costuma ter tanta saída quanto no final de semana. Feriados e finais de semana são quando a gente mais recebe pedidos.” Já Bruna, por conta desse mesmo fator, comenta que suas vendas não oscilam tanto. “A demanda é sempre alta, vendo de 15 a 20

produtos por dia. O mercado de comidas naturais é uma tendência. Fico muito feliz em saber que as pessoas têm ficado mais conscientes em relação a alimentação, acredito que a tendência é só crescer. Não tem mais isso de se alimentar bem durante a semana e comer mal final de semana, esse quadro tem mudado. Por isso, minha ideia foi criar produtos realmente saudáveis e saborosos para todos os dias.” Michel Souza confirma essa hipótese de Bruna. “Eu acredito que o mercado saudável seja sim muito promissor. A cultura de consumo alimentar do brasileiro tem mudado, as pessoas estão se preocupando mais com a saúde, com os abusos, com os riscos do consumo de produtos gordurosos. Por isso, a tendência econômica do mercado saudável é crescer. Espaço sempre vai existir para os dois, não acho que o mercado comum vai sumir, mas ele tende a diminuir.”

Hora das compras, e agora? Muitos consumidores já adotaram uma postura diferente em relação à alimentação, buscando itens mais naturais e saudáveis, mas outros ainda não se importam muito com issoe optam pelo mais rápido, prático ou gostoso. Será que essas escolhas fazem diferença financeiramente? Nossa reportagem acompanhou um dia de duas estudantes que moram sozinhas e fazem as próprias compras. A ideia é comparar os gastos de cada uma delas com suas escolhas. Clara Vanucci, 24 anos, conta que sempre optou por comidas mais leves. “Sempre escolho comidas saudáveis e tento comer somente

quando tenho fome. Como muitas carnes, vegetais, frutas, castanhas, além de sempre que possível fazer a comida em casa. Comecei a me alimentar assim para emagrecer, mas tomei gosto e hoje faço pela saúde, por estar sempre bem mais disposta e melhor com meu corpo e comigo mesma.” Já Gabriela Carvalho, 20 anos, não tem muitas restrições alimentares. “Eu costumo ter uma alimentação balanceada por conta de criação mesmo, aprendi a comer de tudo, legumes, verduras, frutas. Mas não tenho restrição de comida, se me der vontade de um salgado ou doce, não deixo de ingerir. E sempre escolho pelo que é mais prático e barato. Tenho a impressão que produtos fit são muito mais caros.”

Cardápio Café da manhã

Gabriela:

Café com leite + pão de queijo = R$ 4,00

Clara:

Omelete + Vitamina de abacate + Chá verde = R$ 3,90

Almoço

Gabriela: (no restaurante)

Refeição + Refrigerante = R$ 13,50 Clara (em casa) Bife de boi + cenoura + beringela + saladas = R$ 9,50

Gabriela:

Jantar

Lanche + Refrigerante = R$ 15,00

Clara:

Creme de abóbora + gengibre + queijo parmesão = R$ 3,80 *Foram consideradas as três principais refeições. Ao todo, Gabriela gastou R$ 32,50 enquanto Clara gastou R$17,50.

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