STARTUP:
empreendedorismo inovador por Giovanna Lima
Capital inicial baixo, produto escalável e rápido crescimento. Conheça os pilares dessa nova tendência de negócio que é a aposta do mercado atual
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Se engana quem pensa que crise é o momento de fechar as portas para novas oportunidades. Investir em um novo negócio pode parecer assustador quando os índices econômicos do país não são os melhores possíveis. Porém, quando o assunto é startup, o cenário muda completamente. Afinal de contas, estamos falando em capital inicial baixo combinado a um crescimento em ritmo acelerado.
O que são?
São empresas com ideias inovadoras. O empreendedor tem a capacidade de enxergar os problemas e as demandas do mercado e criar uma solução com um diferencial. Essas empresas não requerem um alto investimento para começar a operar e são escaláveis, ou seja, a receita da empresa aumenta, mas os custos se mantêm os mesmos ou não aumentam na mesma proporção. Além disso, o custo de manutenção é baixo. Financeiramente falando, o lucro de uma startup cresce a cada
mês, e ela consegue se sustentar em ambientes de incertezas. Atualmente, as mais comuns são as ligadas às áreas tecnologia ou digital. De acordo com a Startup Base, o modelo mais comum (21%) é o B2B, “Business to Business” (904 no Brasil), configuradas por transações comerciais entre empresas. Em seguida, vem o B2C, “Business to Consumer”, as que vendem para o consumidor final, somando 652 startups no país (15%). As startups são o novo modelo queridinho por muitos pertencentes ao ramo de negócios. Mas possuir experiência empreendedora não é quesito para ser dono de uma, pelo contrário. Muitas startups já são comandadas por jovens com pouco dinheiro, mas muitos sonhos. Por quê? Porque as startups são o futuro. Elas atraem investidores, geram empregos, promovem o empreendedorismo e driblam a crise econômica do país. Atualmente, existem 4.226 startups no Brasil, segundo a As-
2º Minas Gerais
sociação Brasileira de Startups. O estado com maior registro é São Paulo, com 1.322 (31%), e Minas Gerais é o segundo maior detentor do negócio, com 366 startups (9%).
Ajuda que caiu do céu
As startups já são realidade no Brasil e são donas de uma importância significativa na economia brasileira. Quem tem uma veia empreendedora tem o sonho de comandar seu próprio negócio, mas mais do que isso, de mantê-lo firme no mercado. Mas abrir uma empresa sozinho pode ser complicado. É aí que entra a figura de uma “ajuda divina”: os investidores-anjos. No vocabulário empresarial, são pessoas que enxergam o alto potencial de uma empresa e investem seu capital nela. Geralmente, são empresários experientes que já têm empresas consolidadas e, por acreditarem na capacidade de uma empresa nova prosperar, entram com o smart money (confira, ao final da reportagem, nosso vocabulário empresarial).
TOP 5: Os cinco estados brasileiros que mais têm startups
366 startups (9%)
1º São Paulo
O Brasil tem 4.226 startups
1322 startups (31%)
5º Paraná
194 startups (5%)
4º Rio Grande do Sul 213 startups (5%)
3º Rio de Janeiro 343 startups (8%)
Dados: ABStartups
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Um ponto interessante é que essas pessoas são “anjos” porque não se trata somente de recursos exclusivamente financeiros, na verdade. Quando um investidoranjo coloca seu capital em uma empresa, ele coloca também sua expertise e compartilha seus valores e conhecimentos com o empreendedor que recebe essa “ajuda divina”. Mas atenção: eles não se tornam sócios. De acordo com Lessandro Hebert, empresário e integrante da Anjos do Brasil e do fundo de investimento Anjo Bossa Nova, “o investidor-anjo normalmente tem uma participação minoritária no negócio, mas não tem posição executiva na empresa. É como um mentor, um conselheiro.”, aponta.
De Juiz de Fora
para o Mundo: exemplos de startups
que deram certo Case 1: Internet sem barreiras
Você provavelmente já passou pela seguinte situação: sentou na mesa de um bar ou restaurante e pegou seu celular para se conectar à rede sem fio do estabelecimento.
Mas a conexão pede uma senha, e você precisa chamar um atendente para que ele lhe forneça. E até que você o chama e ele te dá – isso quando não te dá o código errado – , o processo gera um certo incômodo. Foi dessa dificuldade que, em 2013 em Juiz de Fora, surgiu o SemSenha.com, um gerenciador de pontos de internet de um local. O estabelecimento que possui o serviço oferece wifi gratuito e sem código de acesso ao cliente, e esse só precisa informar nome e e-mail. Mas a vantagem para o estabelecimento, além da comodidade do consumidor, foi uma dúvida inicial de Alexander Leal, CEO do SemSenha.com, e do Leonardo Pires, CTO. Eles definiram que o benefício seria em forma de publicidade. Quando o dispositivo é conectado ao wifi, são exibidas na tela fotos atrativas do estabelecimento, promoções ou flyers que podem ser gerenciados pelo dono do estabelecimento. Depois, o dispositivo é encaminhado a um endereço de web definido pelo dono, como as redes sociais ou o site. Outra vantagem: o dono passa a ter os dados do cliente,
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CASE 2: Aprendizado divertido
A ideologia do Qranio, startup de Juiz de Fora que nasceu em 2011, é fazer com que os usuários do aplicativo aprendam de modo divertido. A empresa de base tecnológica incentiva esse aprendizado através de games nos quais você consegue acumular Qi$, a moeda virtual do jogo, para trocar por prêmios reais. O usuário do game pode optar por jogar em uma das categorias educacionais, como Enem, Ensino Fundamental, Biologia, Química, Física e Matemática. “Inovamos no modo de ensinar, mostrando que aprender pode ser divertido e Qonseguimos atrair investidores e Qlientes que fizeram a empresa Qranio SA Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal
Sócios têm trauma de ouvir “parabéns”, já que, no início da trajetória, empresários os parabenizavam, mas não negociavam
podendo expandir o leque de comunicação com ele. De acordo com Alexander, hoje, o serviço está disponível em mais de 20 estados do Brasil em empresas, hotéis, restaurantes, cafeterias, supermercados, shoppings e até em igrejas. Os planos do SemSenha.com partem de R$ 150 mensais e variam de acordo com o número de conexões simultâneas que o estabelecimento deseja contratar.
Samir nunca gostou de estudar, mas desde sua infância, amava e achava divertido aprender de diversas maneiras
sair do Zero e passar a valer 20 milhões de reais no ano de 2014.”, aponta Samir Iásbeck de Oliveira, CEO do Qranio. E não, ele não escreveu errado. É que o hábito de trocar as letras pela inicial da startup prova que o Qranio não é apenas uma empresa para ele, mas uma ideologia de vida. A sede do Qranio em Juiz de Fora conta com aproximadamente 25 funcionários e tem usuários no mundo inteiro. Em seis anos operando no mercado, a empresa já atraiu não só usuários, mas também investidores e grandes clientes, como o Grupo Pãode-Açúcar e o Bradesco, que usam a plataforma como um meio de aprendizado para seus funcionários.
CASE 3: Cashback de delivery
Um aplicativo que reúne diversos bares e restaurantes de uma cidade para você fazer o seu pedido já não era mais suficiente para Rafael Resende e Rodrigo Marliére, CEO e CFO do MaisApp, respectivamente. O MaisApp está há quase quatro anos operando, mas com o surgimento de outros aplicativos que ofereciam o mesmo serviço em Juiz de Fora, a equipe
se sentiu impulsionada a lançar um algo a mais dos concorrentes. O diferencial encontrado pelo time foi o cashback, e o nome do novo app surgiu como um insight, enquanto o diretor de marketing assistia ao filme “Robin Hood”. Em agosto de 2016, foi lançado o Robin Food, com o slogan “Herói de verdade”. Rafael conta que, mesmo com uma base de usuários maior no MaisApp, com mais de cem mil downloads, há mais pedidos hoje no Robin Food, que tem quase oito mil downloads. Ou seja, a taxa de conversão aumentou de um aplicativo para o outro. A vantagem para o estabelecimento alimentício é a fidelização do consumidor. “Como nós devolvemos parte do dinheiro, algo que o consumidor não ia pedir antes, agora ele vai pedir”, articula Rafael. O estabelecimento cadastrado no Robin Food paga à empresa uma porcentagem sob cada pedido que é feito através do aplicativo. O consumidor recebe a mercadoria e, após uma análise para conferir se nenhum imprevisto ocorreu com a entrega, o aplicativo devolve 5% do valor total. Por exemplo, em um pedido de R$ 40, o usuário recebe R$ 2.
CASE 4: Chofer à disposição
Para quem tem o próprio carro, mas não deseja ser o motorista da vez, o aplicativo Chofer da Hora soluciona o problema. A criadora da plataforma é a Only Drivers, Agência de Capacitação e Prestação de Serviços de Motoristas. A empresa nasceu em Juiz de Fora e, atualmente, atende às principais capitais do país. O usuário do Chofer da Hora contrata somente um profissional capacitado, e é conduzido em seu próprio carro. Segundo José Carlos Silva Mateus, CEO da Only Drivers e criador do Chofer da Hora, o serviço pode ser contratado para qualquer necessidade dentro ou fora do município. O motorista cadastrado no aplicativo passa por um curso, recebe a credencial da empresa se aprovado para, então, se tornar um Chofer da Hora. Foto: Reprodução/Facebook
Foto: Giovanna Lima
Para Rafael, no Brasil, errar é normal no empreendedorismo. Ele o sócio já chegaram a investir mais do que tinham no negócio
Esse crédito fica disponível para o uso dentro do aplicativo, e é possível acumulá-lo até que um outro pedido saia de graça para o usuário, por exemplo. Com dez meses de atuação, o Robin Food já devolveu mais de R$ 80 mil em crédito. Em São Paulo, o serviço começou a operar há dois meses e já abrange 70 estabelecimentos.
Além de empresário, Mateus é também o escritor do livro “Eu quero e posso dirigir melhor”, lançado em 2015
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Com apenas quatro meses de atuação, o app conta com 18 motoristas e dez em curso. José ressalta que o serviço é uma maneira de os motoristas complementarem a renda. Para o cliente, a vantagem é “a certeza de ter um bom motorista particular somente nos dias e horas do seu interesse”, enaltece. O custo é de R$ 30 por hora, sendo a solicitação mínima de uma hora e meia. O valor final é pago diretamente pelo aplicativo.
Ecossistema empreendedor
Juiz de Fora tem diversas empresas e agentes que realizam ações voltadas para o empreendedorismo. No entanto, de acordo com Priscila Pinheiro, consultora de marketing
do Zero40, um ecossistema empreendedor, tudo ocorre de forma isolada, e algumas oportunidades são perdidas. “A proposta do Zero40 é trabalhar uma nova mentalidade em que as pessoas tenham mais noção do valor que é todo mundo trabalhar junto. É como na natureza: se uma parte do ecossistema fica ruim, todo o resto vai ser prejudicado,”, explica Priscila. Para incentivar ainda mais o ecossistema empreendedor, Juiz de Fora ganhou, há um ano, um espaço de coworking, o Multi. spaço. Quem apostou na ideia foi o empresário e investidor Lessandro Hebert, citado no início da reportagem. Ele explica que a ideia surgiu quando entendeu que “a cidade tinha demanda e porte para
uma operação bem montada”, além da “vontade de inovar no segmento e estar próximo do ecossistema empreendedor que pudesse trazer oportunidades de investimento interessante”, Lessandro indica. O espaço dispõe de mais de 30 estúdios individuais ou para mais de uma pessoa, além de um workplace com uma mesa extensa compartilhada com outros profissionais. Quem aluga o espaço usufrui de internet rápida, café liberado, ar-condicionado, recepcionista à disposição, limpeza do ambiente por conta da casa e uma localização central (Avenida Barão do Rio Branco, 3.053). Os preços variam entre R$ 400 mensais por pessoa (workplace ou estúdio individual) até R$ 2 mil mensais (estúdio para até cinco profissionais). Foto: Giovanna Lima Foto: Giovanna Lima
Após um ano de portas abertas em Juiz de Fora, o Multi.spaço conta com uma média de 60 empresas operando no co-working
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Segundo Wagner Arbex, da a startup, que estabelece contatos Oportunidade que chegou aos olhos do Vale do Silício Embrapa Gado de Leite, havia com outras empresas e possíveis Ter o sonho de fundar uma startup e fazer com que ela deslanche pode não ser para qualquer um. Mas oportunidades que dão uma forcinha podem fazer toda a diferença. Um exemplo é o Ideas for Milk, programa idealizado em 2015 pela Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora, e realizado em conjunto com alguns parceiros. Através dele, startups oferecem ideias de software, aplicativos para dispositivos e soluções para o mercado lácteo por meio do “Desafio de Startups”. A primeira edição foi realizada em 2016 e, em 2017, ocorrerá o AGTECH MILK – 2º Desafio de Startups para o agronegócio do leite.
uma carência de integração entre o agronegócio do leite e as tecnologias de informação, e o programa visa a criar um elo entre as duas tribos, oferecendo um ecossistema de inovação para a cadeia do leite. A competição entre empreendedores tem várias etapas. Primeiro, são selecionados 40 projetos inscritos, que vão para a semifinal e, dela, só sobrevivem cinco. As fases classificatória e semifinal são julgadas através de um pitch em vídeo. Essas cinco propostas vão para a final nacional. E o mais interessante: o vencedor não recebe prêmio material ou financeiro do programa. O retorno vem em forma de diversas oportunidades que surgem para
investidores durante todo o programa. Nascido em Juiz de Fora, o Ideas for Milk impactou não só o resto do país, mas chegou em São Francisco (Califórnia, EUA), mais precisamente no Vale do Silício, o maior polo mundial de tecnologia. A edição deste ano de um evento de ecossistema de startups que aconteceu lá em abril deste ano foi voltada para o setor agro. Com isso, a Embrapa foi convidada a apresentar o programa no Vale do Silício, representando o Brasil. Foram 11 países no total, e Juiz de Fora e o Brasil estavam presentes e muito bem representados por um caso de sucesso. Foto: Reprodução/Facebook
Equipe da Embrapa e de parceiros na fase final local do Desafio de Startups, que aconteceu em Belo Horizonte (MG)
Vocabulário Empresarial Start Money: “dinheiro inteligente”. É o investimento nas empresas feito por pessoas experientes no mundo dos negócios. CEO: “Chief Executive Officer”. É o diretor geral e presidente da empresa. CTO: “Chief Technology Officer”. É responsável pela pesquisa e infraestrutura tecnológica.
CFO: “Chief Financial Officer”. Comanda as finanças e orçamentos da empresa. Cashback: “Dinheiro de volta”. Sistema que devolve ao consumidor parte do dinheiro pago por algum produto ou serviço. Coworking: local compartilhado por empreendedores e funcionários que não são necessariamente da mesma empresa.
Workplace: “ambiente de tra-
balho”.
Pitch: é conhecido com o “discurso do elevador”. É uma apresentação de dois a três minutos que o empreendedor prepara para apresentar a um investidor como se ele o encontrasse de surpresa no elevador. As ideias devem ser claras para atrair possíveis investidores. 11