JORNAL DE
EDITORIA X
ESTUDO
Jornal Laboratório da Faculdade de Jornalismo da UFJF | Juiz de Fora, 24 de Abril de 2017
Plano de Educação entra em vigor, mas docentes questionam restrição do conceito de diversidade FOTO: GABRIEL FERREIRA
P.14
CIDADE • P.8
Trânsito na JK já deixou mais de 30 feridos este ano. População pede mais segurança na via
UNIVERSIDADE • P. 11
UFJF tem salto na pesquisa, com defesa de quase duas mil dissertações e 137 teses na pós-graduação
Especialistas alertam que regras de proteção são urgentes para garantir futuro de Chapéu D’Uvas FOTO: SITE CESAMA
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CIDADE • P. 6
Após uma década, residências terapêuticas ainda enfrentam desafios na assistência
COMPORTAMENTO • P. 21
Série “13 Reasons Why” provoca polêmica com temas como suicídio, depressão e bullying
quem somos
Gabriel Ferreira Política
Vitória Gonçalves Comportamento
Anna Carolina Cavalcante Política e Comportamento
Armando Júnior Cidade e Cultura
Bárbara Guimarães Cidade e Comportamento
Cristiane Turnes Cidade e UFJF
Elias Arruda Economia e Esporte
Enrico Monteiro Economia e Esporte
Júlia Lima Cidade e UFJF
Leo Barbosa Política e Comportamento
Lia Rezende UFJF
Luis Felipe Cardoso Cidade e Cultura
Marina Urbieta Cidade e Cultura
Mateus Bosse Política e Esporte
Nayara Carvalho Economia e Cidade
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Thaís Mariquito Cidade e Comportamento
editorial A sociedade e a conscientização passiva Inconsciente, o consumo em abundância não se mostra tangível, apenas, aos níveis materiais, componentes vitais da sociedade líquida. Mostrase, contudo, prazer histórico da civilização à medida em que os lucros se estabeleceram como guias de um processo essencialmente industrial e, por consequência instantânea, nada natural. A sustentabilidade acostuma aparecer no vocabulário como contraponto ao esgotamento e, nas esferas ecológicas, o paradigma se perpetua. Esgotáveis, os recursos naturais sempre foram tratados como infinitos às mãos daqueles acostumados à sua utilização em demasia. A represa de Chapéu D’Uvas, pequeno distrito de Juiz de Fora, consolida-se como manancial do futuro à sombra dos impactos negativos dos rasos cuidados com as principais fontes de abastecimento da cidade; as Represas de João Penido e São Pedro, bem como o Ribeirão do Espírito Santo sofrem com problemas relacionados a agricultura, metais pesados e assoreamento, por exemplo. Ainda, há o Paraibuna, a principal fonte
de abastecimento da população juiz-forana, que recebe como resposta à sua contribuição 1 100 litros de esgoto por dia. As atuais circunstâncias apontam para a utilização de Chapéu D’Uvas pelos próximos 30 anos. No entanto, a preocupação não deveria fugir aos cuidados necessários para que o manancial não sofra como os demais. A utilização passa pela solução de empecilhos territoriais; as terras de Juiz de Fora não abarcam as nascentes da represa, localizada entre os municípios de Antônio Carlos, Santos Dumont e Ewbank da Câmara. Há a necessidade de uma conciliação entre as quatro cidades para que o uso de Chapéu D’Uvas seja realidade compartilhada entre todas as partes envolvidas. Uma vez que o interesse maior é juiz-forano, o governo deve se colocar como eixo central nas negociações intermunicipais para que um consórcio seja estabelecido e regras envolvendo a utilização do manancial sejam definidas o quanto antes. Ainda que a conscientização acerca do valor da água seja crescente, esta não se traduz
em ações assertivas no que diz respeito à sua preservação, e tal problemática envolve as áreas que compõem o entorno dos mananciais. A ocupação cuidadosa dos entornos das bacias é fundamental à conservação hídrica e, no que diz respeito à Chapéu D’Uvas, a responsabilidade passa, obviamente, pelos municípios, mas também pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Há quatro anos, a instituição comprou o equivalente a dois quilômetros quadrados para fins acadêmicos na região; logo, há de se estabelecer políticas públicas locais para evitar que a represa deixe de ser o manancial do futuro. Já se discute o reflorestamento da área, inclusive. A água é um recurso finito, bem como qualquer outro insumo que diz respeito à natureza. A conscientização não pode ser terminal, promovida, paradoxalmente, pelos racionamentos e baixos níveis que emergem na agenda social periodicamente. A sociedade é sujeito e objeto no ciclo vicioso no qual o esgotamento dos recursos naturais é tema principal.
opinião O machismo mata todo dia Infelizmente ouvimos todos os dias pelo menos um relato de violência motivado pelo ódio gratuito – agressões físicas e verbais destinadas à mulheres, à negros, LGBT’s, índios e outras diversas minorias (termo esse muito mal empregado, uma vez que nem sempre o grupo representa realmente uma inferioridade numérica) que ocorrem pura e justamente por eles serem quem são. E nada além disso. A constituição, apesar de teoricamente atender a todos os brasileiros, deixa muito a desejar em relação a quem não pertence ao seleto grupo de homens, brancos e heterossexuais. E, a cada tentativa de progresso, tudo o que vemos é resistência, encabeçada sempre pelos homens, brancos, heterossexuais. Claro, os mesmos que ocupam as bancadas no congresso, os espaços de poder político, as cadeiras de CEO de grandes empresas, etc. Nas últimas semanas pudemos ler escândalos envolvendo um ator global, um cantor famoso e até um centro universitário de Juiz de Fora. O preconceito, a intolerância e a violência são constantes na vida de muita gente e, especialmente hoje, escolho falar sobre aquela que vitimiza mulheres. Muito se fala sobre construção social ao se colocar
Por Vitória Gonçalves em pauta o machismo. Justamente por isso existe uma necessidade enorme de voltarmos nossas atenções às raízes do problema, que já surge logo quando a vida é concebida, e desnaturalizar esse tipo de comportamento para se construir uma cultura de respeito. Homens e mulheres são separados por suas características físicas e seus papéis na sociedade. Essas desigualdades são socialmente estabelecidas para os comportamentos “masculinos” e “femininos”, articulados a outros marcadores sociais na produção de desigualdade e violência. Sem mudança, perpetuamos e legitimamos as violências que acontecem com quem não se encaixa nos padrões esperados. Sessenta por cento das mulheres têm formação superior, contra apenas 40% dos homens. Ainda assim, elas têm um salário inferior. Acontecem cinco espancamentos a cada dois minutos. Um estupro a cada 11 minutos. Um feminicídio a cada hora. Assédio, violência psicológica, estupro, agressões, feminicídio. O machismo mata todos os dias. O machismo faz mulheres se sentirem inferiores, incapazes, dependentes, com medo. E está tão enraizado que mal enxergamos. E
quando enxergamos, deixamos para lá, afinal, “em briga de marido e mulher não se mete a colher”. O programa Big Brother Brasil é assistido diariamente por milhões de pessoas. E nessa edição em especial pode-se ver um participante demonstrando claros sinais de abuso em relação a uma mulher, sua namorada. Marcos, que é cirurgião, grita, empurra, aperta, segura, aponta o dedo, faz pressão psicológica e agride Emily a todo o momento. Se ele faz isso enquanto é visto por 50 milhões de pessoa, do que não seria capaz entre quatro paredes? A banalização da violência, receita muito utilizada pela mídia tradicional, chegou a níveis inaceitáveis e finalmente algo foi feito. O agressor foi eliminado do programa. A emissora que acoberta esse tipo de comportamento não resistiu à pressão, às campanhas na internet e tomou essa atitude. Obviamente não por compactuar com a causa, mas por se preocupar com sua imagem sendo manchada. Em tempos de internet, cada vez mais abusos são denunciados e esperamos que isso se torne uma pauta importante o suficiente para que políticas para mulheres sejam realmente implantadas no nosso país.
expediente Jornal Laboratório da Faculdade de Jornalismo da Universidade Federal de Juiz de Fora, produzido pelos alunos da disciplina de Técnica de Produção em Jornalismo Impresso Reitor Profº Dr. Marcus David Vice-Reitora Profª Drª Girlene Alves da Silva Diretor da Faculdade de Comunicação Social Prof. Drº Jorge Carlos Felz Ferreira Vice-Diretora Profª. Drª. Marise Pimentel Mendes
Coordenadora do Curso de Jornalismo Integral Profª Drª Cláudia de Albuquerque Thomé Chefe do Departamento de Métodos Aplicados e Técnicas Laboratoriais Profª. Drª. Maria Cristina Brandão de Faria Professoras Orientadoras Profª. Drª. Janaina de Oliveira Nunes Profª. Ms. Marise Baesso Tristão Repórteres Anna Carolina Cavalcante; Armando Júnior; Bárbara Guimarães; Cristiane Turnes; Elias Arruda; Enrico Monteiro; Gabriel Ferreira; Júlia Lima; Mateus Bosse; Marina Urbieta; Nayara Cardoso; Leandro Barbosa; Lia Rezende; Luis Felipe Cardoso; Thais Mariquito; Vitória Gonçalves
Editores Gabriel Ferreira e Vitória Gonçalves Diagramação Anna Carolina Cavalcante Armando Júnior Letícya Bernadete Vitória Gonçalves Projeto Gráfico Vitória Gonçalves Contato mergulhodiario@gmail.com facebook.com/mergulhodiario (32) 2102-3612
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cidade
Violência contra mulher: o que acontece depois da denúncia?
Lei Maria da Penha estabelece “medidas protetivas de urgência” para garantir segurança da vítima após denúncia Por Nayara Carvalho
As vítimas de violência recorrem à Casa da Mulher, onde recebem orientações psicológicas e jurídicas
O que acontece depois
As vítimas
Entretanto, uma questão nem sempre abordada é o que acontece com as vítimas depois de denunciarem as agressões. Será que a Lei Maria da Penha tem sido mesmo efetiva? E o que acontece com os agressores? Segundo a delegada de Mulheres, Ângela Fellet, as vítimas têm dado prosseguimento ao registro das ocorrências. “Elas estão se encorajando e vindo mais à delegacia e pedindo a continuidade das investigações. Porém as denúncias que estão surgindo atualmente são de mulheres que vinham sofrendo agressões há anos, mas só agora tiveram coragem para procurar ajuda. E não é apenas o registro, precisamos que elas venham até aqui e peçam providências criminais, coisa que nem sempre acontece”, ressaltou a delegada. Entre os pontos considerados essenciais da Lei Maria da Penha, que foi aprovada em 2006, estão as chamadas “medidas protetivas de urgência”, que respaldam a mulher após denunciar, assegurando sua própria segurança. Elas podem ser concedidas mesmo antes do julgamento do caso, sempre que a vítima estiver em situação de violência doméstica. A finalidade é protegê-la contra novas agressões, além de tentar cessar esse tipo de crime. Porém, a realidade é que muitas mulheres não recorrem a esse tipo de proteção, ou por medo, ou porque voltam para seus parceiros, por dependerem deles e não possuirem condições de ir embora.
Uma das mulheres que procurou ajuda foi a auxiliar admnistrativa Isaura Young. No final do ano passado, ela foi levada pelo ex-namorado a um motel onde foi estuprada, asfixiada e, depois de desmaiar, foi colocada no banco traseiro do carro dele, onde sofreu agressões. “Eu já tinha sofrido agressão e tinha vergonha de denunciar. Medo de não ser feito nada, e eu estar exposta a maior risco. Lembro que cheguei à Casa da Mulher menos de 12 horas depois do que aconteceu comigo e fui prontamente atendida. Eles me acolheram e me mostraram a gravidade da denúncia. Eu ainda não tinha essa visão, tanto que acabei quase morta”, destacou. Ela superou o medo e tornou pública a situação, para que as agressões não se repetissem. “Eu me expus, todo mundo sabe do meu caso, dei várias entrevistas, e não me arrependo porque acho que as mulheres que sofrem agressão deveriam pensar desta forma. Ninguém merece. A culpa não é nossa”, afirmou. Isaura destacou que as vítimas devem reconhecer a violência e denunciá-la. “O agressor faz pressão psicológica primeiro. Isso já é uma agressão, como eu sofri. ‘Se você não sair comigo vou te matar, vou matar a sua filha’. Tudo começa com um empurrão, um xingamento, com um aperto mais forte no braço. A gente tem mesmo que trabalhar. Estes homens que são uns covardes e não podem ficar impunes”, disse. Hoje, o agressor de Isaura tem ordem de restrição, não pode chegar a menos de 12 metros dela, nem entrar em contato com a auxiliar ou com qualquer um de seus familiares (como previsto na Lei Maria
FOTO: NAYARA CARVALHO
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Em se tratando de violência contra a mulher, Juiz de Fora é a segunda cidade do estado com maior registros de crimes. Em 2016, o município teve cerca de 11 mil casos, ficando atrás somente de Belo Horizonte. Segundo dados da Casa da Mulher, há uma média diária de 8,4 registros de violência contra a mulher na cidade, sendo mais frequente a psicológica, com aproximadamente 2.470 casos; depois a moral, com 1.804 registros. Também há relatos de violência física, patrimonial e sexual. Na avaliação da coordenadora da Casa da Mulher, Maria Luiza Moraes, esse índice alto preocupa, porém também mostra uma mudança na postura das vítimas, que estão buscando maiores providências contra os agressores. De acordo com ela, desde que assumiu a coordenadoria da unidade, em fevereiro deste ano, a média tem sido de 80 atendimentos semanais. “Apesar de assustadores, os números expressam a mudança de postura por parte das mulheres, que estão buscando providências contra os agressores”, diz a coordenadora.
As vítimas podem denunciar pelo 180. A Casa da Mulher e a Delegacia Especializada se localizam na Rua Uruguaiana, 94, perto da praça do Bairro Jardim Glória. da Penha), o que a protege de qualquer contato, e de novas possíveis agressões. Outro caso, que não terminou tão bem, foi o da dona de casa de 27 anos, que não consegue se livrar da violência diária que sofre do namorado, com quem ela mora. “Toda vez que olho no espelho vejo essas marcas no meu rosto, que não me deixam esquecer das agressões que sofro.” Tudo começou com puxões e tapas e, após somente cinco meses juntos, ela foi agredida na cabeça com uma garrafa de vidro, durante uma discussão. “O sangue começou a jorrar, tive que correr para o hospital e levei seis pontos.” Após o episódio, ela rompeu a relação e, logo depois, decidiu reatar, mas, segundo ela, pouca coisa mudou. Com um ano de namoro, as agressões voltaram, e os tapas viraram chutes, socos e vieram mais garrafadas. Não aceitando a situação, a dona de casa começou a revidar. “Registrei uma ocorrência, mas, por acreditar que ele ia mudar, não dei continuidade na denúncia”, disse a mulher. Até hoje ela vive com ele e diz que não consegue ir embora. “Até dentro de casa ele me oprime. Me obriga a conversar, não me
deixa dormir, não me deixa sair com meus amigos. Brigamos por motivos bobos e, por isso, pensei em deixar a casa, porém minha situação financeira não me permite, por isso me falta coragem”, relata. E esse não é o único caso em que a vítima não consegue abandonar a situação por questões financeiras. De acordo com a coordenadora da Casa da Mulher, Maria Luiza Moraes, a principal motivação para que as mulheres não deem continuidade aos processos judiciais e retornem às relações violentas suportando agressões físicas, sexuais, morais e psicológicas é a dependência financeira de seus parceiros, e isso é recorrente. “Estamos estudando um mecanismo para a inserção dessas vítimas no mercado de trabalho e a ampliação dos serviços. No entanto, a casa não tem por finalidade a manutenção das mulheres carentes de recursos. Nosso papel é fortalecê-las psicologicamente, amparando-as com advogados, fazendo daqui um ambiente seguro para o registro de ocorrências.” Outro motivo frequente é acreditar na mudança do parceiro, e que ele irá parar com as agressões, o que na maioria dos casos não acontece.
cidade
Parque da Lajinha fecha por tempo indeterminado Após a confirmação da morte de dois macacos no local, Prefeitura interdita um dos principais pontos turísticos de Juiz de Fora Por Luis Felipe Cardoso bem em frente ao Parque, e relata que o movimento diminuiu consideravelmente. “Muitas pessoas vêm para fazer piquenique, se divertir, correr, e encontram o portão fechado. Nada disso acontece mais no parque, o movimento caiu bastante”. Ele espera que os portões voltem a ser abertos em breve. No hotel que fica localizado bem em frente ao Parque, o gerente Neliton Ronan Carrumba, acredita que a empresa criou medidas capazes de amenizar a situação, já que de certa forma, imaginavam que isso poderia acontecer. “Nós vacinamos todos os funcionários, já que muitos deles moram também aqui no entorno”, comenta. O gerente explica ainda que o ponto turístico agrega valor ao estabelecimento, mas que por enquanto eles ainda não foram afetados diretamente pela falta de hóspedes: “Várias famílias hospedadas utilizam o espaço para caminhada, mas como não está confirmado que a morte dos macacos foi por febre amarela, não houve impacto nenhum nas reservas. Estamos aguardando os resultados”. Esse cenário também se repete na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), localizado ao lado do Parque. Segundo a assessoria, a morte dos macacos não atrapalhou o andamento do clube. Mesmo assim, vai ser realizada um campanha interna de vacinação entre os
FOTO: LUIS FELIPE CARDOSO
No início de abril, a Prefeitura de Juiz de Fora afirmou que dois macacos foram encontrados mortos dentro do Parque da Lajinha, no Bairro Teixeiras. Desde então, o parque permanece fechado para visitação, sem previsão de reabertura. Em coletiva, a Secretária de Saúde, Elizabeth Jucá, afirmou que os primatas foram encontrados com suspeita de trauma e envenenamento, mas devido ao surto de febre amarela, os corpos dos animais já foram encaminhados para análise em Belo Horizonte. Ao todo, já foram encontrados 38 macacos mortos em JF, com apenas um caso confirmado de febre amarela. A cidade tem realizado medidas de prevenção para impedir que os cidadãos sejam contaminados. O Parque, localizado no bairro Teixeiras, conta com uma área verde de 860 mil metros quadrados e recebe cerca de 1500 visitantes por semana. Por isso, é considerado um dos mais importantes pontos de lazer de Juiz de Fora. O que preocupa comércios e serviços no entorno é que a notícia das mortes afete o movimento de clube e hotéis. Em abril são três feriados prolongados e a expectativa das empresas era de receber muitos clientes. Os mais afetados até o momento são os pequenos comerciantes. Como o caso do vendedor de caldo de cana, Leandro da Silva, 40 anos. Leandro trabalha em uma barraquinha
Ao chegar no parque, os visitantes se deparam com portões fechados e um aviso na entrada.
funcionários para evitar problemas futuros. “A gente fica apreensivo, mas vamos aguardar o laudo sair para criar novas medidas”, comenta Aluísio de Araújo, assessor da AABB. Quem também foi pego de surpresa com a notícia foram os frequentadores do Parque. Eles se assustaram com o acontecido e temem ser febre amarela. Acostumado a correr durante a tarde e nos finais de semana, o auxiliar de veterinária Wesley Rafael Lourenço, 29 anos, relata que está aguardando a confirmação do caso e, se for comprovada, vai deixar de frequentar o local. “Vamos esperar, se for febre amarela mesmo eu não devo voltar aqui”, comenta.
Febre Amarela em JF No mês de março, uma intensa campanha de vacinação tomou conta de Juiz de Fora, no final de semana do dia 11, a Secretaria de Saúde disponibilizou cerca de 20 mil doses da vacina nos postos de saúde e nas UAPs. Filas enormes tomaram conta das ruas, gerando tumulto e reclamações entre a população. Além dos mutirões de vacinação, a aplicação de inseticidas, busca de animais mortos por equipes de zoonoses e intensificação dos agentes de saúde, foram outras medidas tomadas pela Secretaria da Cidade. Os postos de saúde da cidade continuam oferecendo a vacina da febre amarela à população.
Cobranças exageradas e ritmo acelerado da vida podem desencadear quadro de estresse
Situação tem levado profissionais a desenvolverem quadro de depressão e até a se afastarem do emprego Por Júlia Lima O ritmo acelerado da vida, as dificuldades nas relações interpessoais e as cobranças frequentes no trabalho têm provocado cada vez mais problemas de saúde ligados ao estresse e a depressão. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), hoje já se pode considerar que 90% da população mundial sofrem com o estresse em algum momento da vida. Para verificar este problema na saúde do juiz-forano, a reportagem conversou com profissionais que sofrem com o problema e que tiveram até que se afastar do emprego para enfrentá-lo. A secretária escolar da Prefeitura de Juiz de Fora Eliane de Carvalho diz que, se não fosse a proximidade das férias, seria preciso se afastar do emprego, devido ao estresse que estava passando. Aos 55 anos, ela trabalha na contratação de professores da rede municipal da cidade há sete anos e afirma sofrer com cobranças e responsabilidade. “Os diretores das escolas cobram mais, eles não querem saber como vou arrumar um professor substituto, por exemplo, eles só querem a solução. Às vezes, ameaçam falar com os pais dos alunos, para eles reclamarem na ouvidoria e, com isso, nosso trabalho fica complicado e mal visto”, desabafa. O psicólogo e fundador do Núcleo Interdisciplinar de Investigação Psicossomática em Saúde e Organizações (Nuipso) da UFJF, Almir Boechat, afirma que “o estresse é o que
se coloca como o fator mais importante na provocação e no surgimento de manifestações psicossomáticas.” Ele explica que o que acontece na área psíquica repercute na corporal e viceversa. A partir de vivências do cotidiano, muitas vezes, marcado por mudanças, instabilidade, variedade e insegurança, é possível desenvolver diferentes quadros relacionados ao estresse. “As doenças psicossomáticas são muito comuns, a maioria dos que procuram atendimento tem um comportamento disfuncional psicossomático.” A servidora pública Eliane começou a vivenciar episódios de irritabilidade, crises de falta de ar e a sentir sintomas sem aparente causa física. “Uma vez, estava andando na rua e comecei a me sentir impaciente e a sentir falta de ar, achei que ia morrer.” Depois de recorrer a chás, buscou ajuda clínica, endócrina e, mais recentemente, consultou uma neurologista, que diagnosticou o caso como ansiedade e receitou remédios específicos. Além das vivências no trabalho, Eliane acredita que a preocupação com a família e o cotidiano também a deixam estressada. Após a medicação não ter dado certo, ela aponta que o plano agora é procurar um psicoterapeuta para investigar melhor seus sintomas. Os tipos de manifestações do estresse, de acordo com o psicólogo, variam de acordo com a personalidade de cada pessoa. Ao traçar um caminho psicossomático, a partir da
condição de estresse, é possível, por exemplo, experienciar a ansiedade, que é a antecipação de um perigo, é o medo de uma ameaça que não se concretizou. Nesta instância, o sujeito pode ficar agitado, perder o sono, o apetite e adoecer. Não obstante a isso, ela pode passar a experienciar angústia, que é uma vivência mais concreta, com experiências sensíveis no corpo, como batimentos cardíacos acelerados, desmaios e sudorese. Com a evolução, podem aparecer quadros clínicos psicossomáticos estruturados, neuróticos ou psicóticos, como ataques de pânico, depressão, obsessões ou despersonalizações, dependendo, segundo Boechat, da estrutura psíquica e orgânica de cada um. O presidente do Sindicato de Transporte Coletivo de Juiz de Fora (Sinttro), Vagner Evangelista Correa, afirma que os trabalhadores dos ônibus urbanos sofrem pressão durante o expediente e têm medo, dentre outras questões, de assaltos. Ele afirma ainda que há profissionais afastados por depressão e estresse. “Nosso serviço é muito estressante, além de ter o trânsito em si. No dia a dia, os profissionais do transporte coletivo ficam em situações difíceis, pois estão em contato com os trabalhadores de outras categorias, que também saem de casa ou do trabalho estressados. Algumas pessoas descontam nos motoristas que, muitas vezes, não têm preparo para lidar com a situação, o que é um agravante.”
Como lidar com o problema
O professor Boechat atenta que pequenos sintomas de estresse, neuroses e psicoses são normais e fazem parte da vida. O problema é quando os sintomas são recorrentes e repetidos. “Se conseguimos lidar com o estresse, está tudo bem. Mas se a pessoa acumula, fica escrava e prisioneira mental, remoendo questões, precisa se tratar. Caso contrário, pode passar a não dormir e se sentir insegura, por exemplo, e desenvolver um quadro clínico completo, seja psíquico, físico ou psicossomático”.
Tratamento na rede pública
A Secretaria de Saúde de Juiz de Fora oferece serviço de saúde mental. Para conseguir atendimento, é preciso passar por avaliação médica nas Unidades de Atenção Primária à Saúde (Uaps). Caso necessário, o usuário será encaminhado aos Centros de Atenção Psicossocial do Departamento de Saúde Mental da Secretaria de Saúde. Além dos Centros, a Secretaria conta com o Departamento de Práticas Integrativas e Complementares, que oferecem tratamentos alternativos, como a homeopatia e a acupuntura.
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cidade
Residências terapêuticas chegam a uma
Hoje a cidade tem 29 unidades com o atendimento a 290 pessoas com co A Lei da Reforma Psiquiátrica vigente desde 2001 e Em Juiz de Fora o sistema entra
O projeto das residências de pessoa. A gente precisa tirar esse terapêuticas completou uma década estigma de alguém que só é visto em Juiz de Fora no final de 2016. por sua patologia”. Ela reconhece Neste período, o número de unidades ainda que Juiz de Fora tem uma subiu de duas para 29, atualmente dívida histórica com essas pessoas atendendo a 290 pessoas. Para cada pois o município “demorou a fazer pessoa atendida, o Ministério da o seu dever de casa em relação à Saúde destina R$ 2 mil mensais. violação dos direitos humanos”. As residências fazem parte de A chefe do Departamento de um sistema articulado formado Saúde Mental destaca que o Serviço por outros pontos de assistência de Residência Terapêutica entra às pessoas com algum tipo de agora numa fase de reformulação. comprometimento mental ou com Andréia aponta a importância da necessidades decorrentes do uso de ligação com o Ministério Público álcool e outras drogas: a chamada nessa reestruturação, que tem o Rede de Atenção Psicossocial (Raps). objetivo de melhorar a lógica do Durante estes dez anos, houve tratamento e dar andamento em avanços no atendimento, processos burocráticos mas alguns problemas que dependem da justiça “A gente também foram para serem realizados. detectados, inclusive Essa parceria com o MP precisa tirar denúncias na assistência também foi importante aos atendidos nas esse estigma de nesses últimos anos uma residências, que tiveram alguém que só vez que o órgão leva que ser avaliadas pela denúncias e reclamações Secretaria de Saúde, já é visto por sua relacionadas ao que a administração tratamento nas moradias patologia” das casas é feita hoje até o departamento. Andréia Stenner, de forma terceirizada. Segundo Andréia, as A desospitalização chefe do Depto. de maiores dificuldades começou a ser realizada durante esses anos de Saúde Mental em Juiz de Fora no desinstitucionalização ano de 2006, mas só estão relacionadas ganhou estrutura em 2013, quando à capacitação dos profissionais. a Prefeitura instalou os pontos de “Existe uma norma do Ministério assistência no município de acordo da Saúde que determina que os com as diretrizes estipuladas pelo trabalhadores sejam concursados. Ministério da Saúde. A ideia de Tem um concurso público para rede foi inovadora no tratamento contratação de psicólogos e de pacientes psiquiátricos, pois assistentes sociais que a gente tem a a cidade ganhou uma articulação expectativa de que seja homologado. entre esses serviços que antes não Hoje, o nosso maior desafio é esse existia. É o que destaca Andréia grande número de pessoas que Stenner, chefe do Departamento de entram e saem do serviço. Com a Saúde Mental de Juiz de Fora: “Antes efetivação desse profissional vamos era muito comum um paciente que ter possibilidade de uma educação estava em crise ir para o hospital, e permanente e de um vínculo maior a gente não tinha o conhecimento entre esse trabalhador e o usuário”. desse paciente. Hoje, a gente tem um mapeamento desses usuários, e isso facilita muito a definição de um cuidado para essa pessoa”. O acolhimento nas residências das pessoas em vulnerabilidade Desde 2009, as moradias são psicossocial trouxe também desafios administradas pelo terceiro setor. como a necessidade de desconstruir Na época, duas empresas foram algumas concepções enraizadas escolhidas através de chamadas por décadas de hospitalização de públicas para gerir as residências. pacientes psiquiátricos. Andréia é A desospitalização faz parte de enfática: “A gente não está falando uma estratégia estabelecida pelo mais de paciente; estamos falando Ministério com o objetivo de garantir
Adeus ao Corredor da Loucura
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o cuidado integral dos indivíduos. A perspectiva é de garantir os direitos e promover a autonomia e o exercício da cidadania, através da inclusão social. As residências têm como função o acolhimento a fim de dignificar o indivíduo. É o que defende José Eduardo Amorim, diretor da Casa Viva, uma das empresas responsáveis pela gestão das moradias em Juiz de Fora. Segundo José Eduardo, a desinstitucionalização dos pacientes é fundamental para “o resgate da cidadania de pessoas que, até pouco tempo, eram desconsideradas em hospitais sem qualquer direito”. Ele destaca também a importância de reconhecer que vivemos numa sociedade diversa e, por isso, é preciso aprender a respeitar as diferenças e conviver com elas. As residências contribuíram para ressocialização dos pacientes que, por anos, tiveram suas individualidades negligenciadas nos hospitais psiquiátricos. É o que evidencia Thiago Andreazza, cuidador em uma das residências de Juiz de Fora há quatro meses. Thiago
avalia que as casas devolveram a cidadania a esses indivíduos, porque agora “eles têm um quarto, uma cama, um ambiente de convivência com outras pessoas, o que não ocorria nos antigos hospitais”. O cuidador fala da relação com os pacientes: “Eu tento manter uma disciplina básica. Eles mesmos lavam os pratos, limpam quando fazem sujeira. Eles são bem carinhosos uns com os outros e comigo também”.
Problemas estruturais persistem A Rede de Atenção Psicossocial é dividida em territórios, onde cada ponto de atenção atende a uma área da cidade. Cada território é atendido por um Centro de Assistência Psicossocial (Caps) específico. No entanto, algumas regiões de Juiz de Fora não possuem Caps, como a Zona Norte. A chefe do Departamento de Saúde Mental, Andréia Stenner, esclarece que os centros estão em processo de expansão. “Não existe desassistência. Cada centro atende a um território e faz rede com aquele
cidade
ma década em JF com avanços e desafios
omprometimento mental que vieram dos antigos manicômios da cidade. estabelece um modelo de atendimento humanitário. a em uma fase de reformulação Por Armando Júnior e Marina Urbieta todos, mas continuam existindo apenas particulares. Quando peço internação de pacientes do meu consultório, consigo em planos particulares, mas pobre não tem essa possibilidade.” César relembra o caso que aconteceu ano passado quando um dos seus pacientes morreu depois de três tentativas frustradas e consecutivas de interná-lo em uma clínica psiquiátrica pública. Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), de 2010 a 2016, 24 mil leitos psiquiátricos de uso exclusivo da rede pública foram desativados. César ressalta que seria necessária a criação de uma ala separada para o atendimento dos casos psiquiátricos, com uma equipe multidisciplinar.
conjuntamente.” Além disso, Dona Maria percebia mais o acompanhamento das pessoas, e afirmou haver mais facilidade de horário para conversar com o médico sobre o paciente. Quando ela visita a casa, conversa com as cuidadoras, mas estão sempre com multitarefas - a comida, casa e os pacientes - não dão conta de tudo. “Já aconteceu algumas vezes de eu ir à casa e o paciente que visito precisar de cuidados maiores. Por isso, sempre que percebo ajudo, dando banho, por exemplo. Concordo que a lei veio para melhorar, mas acredito que ela, na prática, precisa de mais atenções para que os pacientes, que vieram dos hospitais, não sejam negligenciados.”
Legislação
Laços familiares
bairro. Como a Zona Norte não tem de Mello pontua questões positivas um centro de assistência, nós criamos como a criação das residências um serviço ampliado e quando há e acredita que a permanência uma necessidade desse usuário da nos manicômios de antigamente Zona Norte a gente era injustificável. tem um rodízio onde Contudo, ele acredita cada CAPS recebe que a chamada Lei da “Quando peço esses usuários”. Reforma Psiquiátrica internação de A ideia é que foi uma idealização os CAPS sejam que faliu: “Fiz parte pacientes do estratégicos, não o movimento meu consultório, do centro dessa rede. inicialmente, e o É o que ressalta consigo em planos objetivo da saúde Andréia: “A gente era que particulares, mas mental tinha a ideia de que esses pacientes que tudo girava em torno pobre não tem essa seriam absorvidos do CAPS, mas nem nas residências possibilidade” todos os pacientes terapêuticas César de Mello, e das residências aqueles que psiquiatra precisassem terapêuticas de precisam frequentar tratamento iriam esses centros, para os leitos em porque senão você reproduz um hospitais gerais. Mas isso, no modelo de manicômio. Você põe Brasil inteiro, não aconteceu.” uma pessoa lá dentro da instituição; César acredita que há uma antes era o hospício, agora é o Caps”. resistência dos hospitais clínicos A mudança dos pacientes em criarem leitos psiquiátricos hospitalizados para as residências como deveria para os pacientes que gerou divergências de opiniões entre advêm dos antigos manicômios. a classe de profissionais da saúde “Para mim, a lei surgiria para de Juiz de Fora. O psiquiatra César que fossem criados leitos para
Em tramitação por 12 anos no Congresso, o Projeto de Lei 10.216, que Os transtornos maiores podem tange a Reforma Psiquiátrica no Brasil, acometer a família desses pacientes. foi sancionado em 2001. Criada pelo Durante a transição dos mesmos deputado Paulo Delgado (PT), de Juiz de para lugares mais humanizados Fora, a lei permitiu que os manicômios que os hospitais, ainda apareciam progressivamente deixassem de existir. dúvidas quanto ao tratamento a que A partir disso, surgiu a nova forma os seus parentes seriam submetidos. de tratamento da saúde mental: os A dona de casa Maria (nome Serviços de Residência Terapêutica, que fictício porque a entrevistada não incluem usuários de drogas e pessoas quis se identificar), com doença mental inicialmente, desospitalizados. acreditava que iria Junto a isso, foram “Concordo que dar certo, com o criadas equipes a lei veio para acompanhamento m u l t i d i s c i p l i n a r, melhorar, mas de todos os a t e n d i m e n t o profissionais da área, acredito que ela, na ambulatório e Centros com um treinamento de Atenção Psicossocial para a melhora dos prática, precisa de (Caps), visando a pacientes, e cada mais atenções para um atendimento um poderia ter seus mais humanizado. que os pacientes pertences pessoais. Segundo dados do Contudo, para ela, Ministério da Saúde, não sejam “na prática, foi os atendimentos nos negligenciados” tudo diferente, os Caps aumentaram Maria e chegaram a 2.328 pacientes ficam o dia inteiro em casa, mil em todo Brasil. trancados, brigando Porém, ainda há 163 por cigarros. A vantagem é o almoço hospitais psiquiátricos em 23 estados, no horário certo, mas o lugar, na com um total de 113 municípios. casa, é limitado com apenas um Em Juiz de Fora, todos os hospitais banheiro para todos usarem”. foram desativados, e a última casa foi “O hospital foi o lugar que preenchida no ano passado. Alguns frequentei por muitos anos. pacientes vão aos Centros e outros Lá eu conseguia observar de passam o dia nas residências. De acordo perto os profissionais da área, com a Agência Brasil, a lei é referência psicólogos e enfermeiros atuando na Organização das Nações Unidas.
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cidade
Acidentes na Avenida Juscelino Kubitschek deixam 30 feridos em um mês
Foram atropelamentos graves e acidentes entre ônibus. População cobra mais ação da Prefeitura Por Bárbara Guimarães FOTOS: BÁRBARA GUIMARÃES
Settra alerta para conscientização de motoristas
Acidente na Avenida deixa poste caído, e região fica sem luz por mais de cinco horas
No últimos meses, a Avenida Juscelino Kubitschek, localizada na Zona Norte de Juiz de Fora, foi o ponto que mais registrou acidentes na cidade. Foram três atropelamentos, um acidente entre dois ônibus e o choque de um carro de passeio em um poste. Esse ano foram registrados 37 acidentes na região. No ano passado, segundo a Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra), foram 20 casos de atropelamento. A grande quantidade de feridos, alguns em estado grave, chamou a atenção para a falta de conscientização dos motoristas e a falta de ações da Prefeitura para controlar o tráfego. Um dos casos mais graves aconteceu no dia 27, quando um ônibus perdeu o freio e bateu na traseira de outro, no ponto. De acordo com a Polícia Militar (PM), o coletivo da linha 741 que atende a comunidade de Valadares estava saindo de um ponto de ônibus próximo ao Colégio Militar em Juiz de Fora (CMJF), quando o coletivo da linha 740, do Bairro Humaitá, perdeu o controle da direção e bateu na traseira. Foram 24 feridos e 22 encaminhados para o Hospital de Pronto Socorro, alguns com ferimentos leves. Uma mulher de 32 anos teve traumatismo craniano e segue internada na UTI do Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus.
Posicionamento A Viação São Francisco, responsável pelos ônibus envolvidos no acidente, e os Consórcios Integrados do Transporte Urbano de Juiz de Fora (Cinturb) informaram que estão prestando toda a assistência aos feridos. O gerente de operação do Consórcio Via JF, do qual a Viação São Francisco faz parte, explicou que os dois ônibus estão na garagem aguardando a Polícia Civil, que já iniciou a investigação das causas do acidente. Os veículos estão passando por perícia e os motoristas serão ouvidos.
Problemas na travessia
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Poucos dias antes, dia 23, uma criança de 11 anos foi atropelada. O acidente foi na travessia próxima à passarela de acesso ao Colégio Militar, no Bairro Nova Era.
De acordo com o Pelotão de Policiamento de Trânsito da Polícia Militar (PM), testemunhas e a motorista informaram que o garoto atravessou na faixa de segurança, mas que o sinal estava aberto para os carros. A motorista do veículo chamou socorro e ficou no local até ser liberada pela PM. O aluno foi socorrido por uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levado para o Hospital Monte Sinai, ficando internado na UTI-pediátrica para cirurgia. O menino teve traumatismo craniano e uma fratura exposta no cotovelo.
Em nota, a Settra respondeu a alguns questionamentos relacionados aos problemas na travessia e sobre os dois casos citados na matéria. Sobre o acidente de ônibus, a pasta informou que os veículos envolvidos no caso haviam sido vistoriados e estavam dentro do prazo máximo de dez anos, permitido para a circulação. Agora aguarda a perícia da Polícia Civil. Com relação à obra citada pelo diretor do Colégio Caes, a informação é de que está em fase de conclusão, e o semáforo colocado já está pronto para entrar em funcionamento. Falta apenas a pintura da faixa de pedestre, que será feita ainda essa semana. Sobre o excesso de velocidade na região, mesmo com o radar, a Settra informou que, neste ano, em toda a cidade, foram 2.300 multas para motoristas que ultrapassaram a velocidade permitida em vários trechos. Por isso, o órgão reforça a importância de que os motoristas se conscientizem e respeitem os limites de segurança. Para tentar mudar o radar ou pedir que a velocidade seja alterada, as pessoas podem
encaminhar um e-mail com a solicitação para a Prefeitura (settra@pjf.mg.gov.br). Outro ponto cobrado intensamente pelos colégios é a colocação de um agente de trânsito na porta dos locais durante os horários de maior movimento. A Settra informou que o papel do agente não está veiculado diretamente à escola, mas está ligado à tentativa de dar maior fluidez ao trânsito. Como são muitos colégios, eles afirmaram ser impossível, devido ao número efetivo de profissionais, dar conta de toda a demanda. Por isso, os locais escolhidos são os que geralmente já possuem grande fluxo de veículos e podem ser interrompidos nos horários de pico, como entrada e saída das escolas. Além disso, vale reforçar que a Settra oferece gratuitamente um curso para voluntários ligados às escolas, que querem auxiliar os alunos durante a travessia. Enquanto medidas concretas não começam a diminuir as estatísticas e números de acidentes, a responsabilidade fica em cada um que está envolvido no trânsito, seja como pedestre ou como motorista.
Escolas da região O atropelamento do aluno serviu para realçar um problema antigo que as escolas da região passam há anos. Próximo à saída do Colégio Caes, no Bairro Nova Era, não há semáforos, apenas uma faixa de pedestre. Como o fluxo de carros e crianças saindo da aula é grande, a quantidade de acidentes também está aumentando. Segundo o diretor do curso, Daniel Pedro, a unidade, que fica na Avenida JK, atende hoje 400 alunos. A maioria deles atravessa a avenida para chegar e sair da escola todos os dias. “A via é de alto fluxo de veículos e é muito pouco sinalizada”, comenta. Para tentar resolver a situação, a unidade, já havia pedido à Settra a instalação de radares e sinais próximos à saída do colégio. Eles pedem também a presença de um agente de trânsito pelo menos em horários de maior movimento, como entrada e saída das aulas. Além disso, em frente ao colégio, há uma obra não terminada pela Prefeitura. Segundo Daniel, a obra foi iniciada no ano passado para implantação de um semáforo que ainda não foi instalado. Com isso, a faixa de pedestre que existe no local está coberta de terra. O mesmo problema acontece no Colégio Militar. Segundo a assessoria, os pedidos de implantação de radares e sinalização já são antigos. Na frente do colégio já existe um radar, que obriga os motoristas a estarem a 60 quilômetros por hora. Mas, mesmo assim, as velocidades ultrapassam esse limite. Enquanto nada for feito, casos de atropelamento como o da criança de 11 anos podem se repetir.
Alunos tentam atravessar, desviando de ônibus e carros
Horário de saída de aula intensifica fluxo de pedestres
Terra prejudica passagem dos pedestres
cidade
Usuários reclamam da mudança no ponto de ônibus na Praça da Estação Entre as principais críticas estão a insegurança e a falta de informação sobre as alterações no local de embarque de coletivos intermunicipais Por Cristiane Turnes
Principais reclamações Das cerca de dez pessoas ouvidas pelo Jornal de Estudo no ponto, a maioria não aprovou a medida. Apenas duas acreditam que realmente trouxe benefícios devido à agilidade maior na saídas dos veículos.
Este é o caso de Fernando Pires, 65 anos: “Acho que aqui melhorou, porque é uma saída reta, vai ficar mais rápido. Lá era um tumulto danado.” Os outros u s u á r i o s apontam vários problemas no novo local: menos iluminação, bancos desconfortáveis, menos segurança por ser ao lado da Avenida Brasil e por isso deixar as pessoas mais expostas em caso de acidentes ou até de possíveis assaltos. A estudante Carolina Mudança do local do ponto de ônibus traz desconforto e insegurança aos usuários Soares, 22 anos, que é de Maripá de Minas, afirma que o muitos a ainda ficarem perdidos mesmo lugar tem uma “péssima” estrutura: “Os quase dois meses após a mudança. Como abrigos construídos são pequenos com Maria José Pina, que é de Cataguases bancos desconfortáveis, além de bater sol e vem a Juiz de Fora apenas para e não proteger da chuva. Acaba que fica consultas médicas: “Só venho de seis super perigoso por ser na beira da via.” Já a em seis meses. Foi um transtorno, acho estudante Iana Dessupoio,19 anos, comentou que deveria ter uma placa indicando.” o motivo da sua preocupação: “Não gostei da mudança, por dividir as pessoas, fica mais vazio, o que pode deixar o ambiente mais fácil para assaltantes. Deveriam ter avisado A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) direito e planejado melhor essa alteração.” Outro ponto muito discutido pelos solicitou que a mudança fosse feita e se usuários é a falta de sinalização ou de reuniu com a Associação de Transporte placa que indique quais ônibus mudaram de Passageiros, Fretamento e Turismo o local de embarque. Como os ônibus são da Zona da Mata (Asetrap). Segundo a intermunicipais, muitos dos passageiros auxiliar administrativa da Asetrap, Nara ficam meses sem vir à cidade, o que leva Santos, as empresas dividiram as despesas
A mudança
FOTO: CRISTIANE TURNES
Passageiros de ônibus intermunicipais que usam com frequência o ponto da Praça da Estação, no Centro, reclamam da falta de informação sobre a mudança do local de embarque e ainda da insegurança frequente, principalmente à noite no local. O ponto que antes ficava em frente ao Shopping Solar Center foi transferido para a Avenida Brasil. Segundo os usuários, o problema é que, durante o dia, eles enfrentam o sol forte, mesmo sob os abrigos, enquanto, à noite, a precariedade da iluminação aumenta o medo de assaltos e agressões. As alterações aconteceram em fevereiro, mas ainda provocam incômodo porque nenhum cartaz indicando os locais dos novos pontos havia sido colocado até o final de março. Com isso, muitos usuários ficavam perdidos, chegando até a perder o ônibus por não saberem da mudança. “Fiquei no antigo ponto, esperando por cerca de três horas. Nesse tempo, passou o ônibus, e eu acabei perdendo porque não o vi”, reclama Ângela Pereira que seguia para São João Nepomuceno. A justificativa da Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra) para a retirada do ponto do antigo lugar foi a necessidade de agilizar a chegada e a saída dos veículos e oferecer maior comodidade e espaço para os usuários, na medida em que diminuiria o fluxo de pessoas. Porém a falta de avisos acabou gerando muitas reclamações, por parte dos usuários, que continuam ainda hoje sem entender o motivo.
com a construção dos três abrigos na calçada da Avenida Brasil e de uma tampa de acesso às pessoas com deficiência. Ainda de acordo com ela, a alteração foi benéfica, pois aumentou o espaço no ponto de embarque, evitando maiores tumultos e desconforto dos passageiros que fazem uso do local. Além de proporcionar agilidade, visto que o ponto de embarque foi ampliado e a manobra em torno do Shopping Solar Center foi evitada. A reclamação dos usuários a respeito da falta de informação sobre a mudança foi levada pelo Jornal de Estudo para a Asetrap em 1º de abril. No último dia 4 de abril, um cartaz foi colocado no antigo ponto indicando que os ônibus haviam mudado o local de parada.
ARTES: ANNA CAROLINA CAVALCANTE
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cidade
“A situação dos animais abandonados não vai mudar se a sociedade não se conscientizar” Canil Municipal abriga hoje cerca de 500 cães e 80 gatos, que estão à espera de adoção Por Thaís Mariquito FOTOS: THAÍS MARIQUITO
A Organização Mundial de Saúde estima que, no Brasil, há cerca de 30 milhões de animais abandonados; Nas grandes cidades, para cada cinco habitantes há um cachorro, sendo que 10% deles estão abandonados
No Brasil, milhares de famílias possuem em suas residências animais de estimação, como cães e gatos. Conhecidos como bons companheiros, são várias as histórias emocionantes envolvendo a relação do homem com animais de estimação veiculadas na mídia diariamente. O mercado voltado para animais de estimação cresce mais a cada ano, com banho e tosa, hotéis e creches e lojas de roupas e brinquedos. Porém, a realidade de outros milhares de cães e gatos é bem diferente. Para cada animal que possui um lar, existem outros tantos vagando pelas ruas, abandonados. De acordo com uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) no ano de 2014, estimase que no Brasil há cerca de 30 milhões de animais abandonados. Nas grandes cidades do país, para cada cinco habitantes há um cachorro, sendo que 10% deles estão abandonados. Em Juiz de Fora, o Canil Municipal hoje abriga cerca de 500 cães e 80 gatos, além de dois cavalos. Todos vítimas de maus-tratos, acidentes ou doenças. “Atualmente, nós não recolhemos mais animais saudáveis. Só recolhemos aqueles que estão abandonados e necessitam de algum tipo de tratamento”, explicou a chefe do Departamento de Controle Animal do Demlurb, Míriam Neder. Para tratá-los, a instituição passou por uma grande reestruturação interna e externa. Foram construídas 14 novas
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baias para cães e quatro gatis, além do aumento de 60% da área do curral que atende aos equinos e a construção do parcão, uma sala de banho e tosa e um prédio de três andares para abrigar escritório, refeitório, vestiário e um ambulatório veterinário. Além disso, há o convênio com três clínicas da cidade. “Essas alterações já eram uma necessidade há anos, é uma questão de saúde pública. Cães e gatos sujos, magros, famintos e doentes reviram o lixo atrás de comida, transmitem doenças, vivem sob o sol forte ou o frio intenso”, explicou Míriam. “Precisamos separar os animais por afinidade, temperamento, idade, tipos de doença e tratamento. Isso diminuiu muito o número de mortes por brigas nas baias”, garantiu Míriam. Para a protetora Bárbara Chamhum, as mudanças foram positivas, mas estão longe de ser o ideal. “Existiu sim uma reforma na infraestrutura, porém para a qualidade de vida dos abrigados não houve tanta melhora, já que a população em geral não se importa com os animais em situação de rua. Pensam que todo cão que aparecer na rua precisa ser retirado e levado para o canil, mas o que precisamos é estimular a ideia de animais comunitários, que vivem nas ruas, mas são cuidados, alimentados e castrados”. Além disso, um contrato deve ser assinado ao adotar um animal do canil, garantindo que o novo dono cumpra com os cuidados básicos. E todos os bichos
recebem um chip ao serem adotados; dessa forma, havendo alguma denúncia, o dono pode ser responsabilizado. E, caso ele seja adotado ainda em tratamento, o canil segue arcando com as despesas até que esteja curado. Esse foi o caso da Giane Elisa Sales de Almeida, que adotou a Luzia Flor após ela sofrer um acidente, ter várias fraturas e precisar ter uma das patinhas amputadas. “Ela estava em uma condição que muitos veterinários sequer teriam investido em um tratamento. Além das fraturas, estava com a saúde muito debilitada. E, quando eu a adotei, ela ainda estava em fase de tratamento, recuperando da amputação e sendo medicada. Uma grande preocupação que eu tinha era com os custos do tratamento, mas a clínica me informou que todos eles seriam arcados pelo Canil. Tudo que a veterinária indicava para a recuperação da Luzia, eles faziam.” Míriam também reforçou a ideia de adoção responsável e consciente, que também ajudaria a diminuir o número de abandonos. “As pessoas compram ou adotam cães e gatos filhotes porque são lindos, fofos e facilmente amáveis. Mas esquecem que eles também crescem, e, às vezes, mais do que o esperado. Animais dão trabalho, geram despesas e precisam de atenção, rações de boa qualidade, precisam ser educados, adestrados, ficam doentes, portanto, periodicamente, devem ter acompanhamento veterinário e, se o
espaço é pequeno, devem ser levados diariamente para passear. Por exemplo, aqui nós temos uma baia cheia de cães mais velhos com displasia coxa-femoral, que foram abandonados porque os donos não queriam arcar com o tratamento”. “Infelizmente, apenas uma pequena parte da sociedade se importa com isso, se importa em de fato ajudar de alguma forma e não transferir um problema”, afirma Bárbara. “Eu penso que, enquanto a sociedade não mudar, a situação desses animais não vai melhorar. O que um protetor faz, qualquer um pode fazer. Se não pode dar lar temporário, doe ração, compre rifas, adote, estimule a adoção.” Na tentativa de conter o problema, existem algumas medidas governamentais, como a instituição de leis contra abandono e maustratos, e o Castramóvel, que realiza a castração gratuita de animais de rua e domésticos de quem não tenha condições de pagar pela cirurgia do seu pet. “Mas a ideia da castração ainda precisa ser mais divulgada. Muitas pessoas sem instrução acreditam que estão fazendo mal para o animal, que é uma mutilação”, afirmou Bárbara. Mais informações sobre o Castramóvel pelo telefone 3690-3545 e sobre a adoção dos animais do Canil Municipal pelo 3690-3591. Para realizar denúncia de abandono e maus-tratos, basta telefonar para a Polícia Militar de Meio Ambiente: 3228-9050 ou 181.
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UFJF tem salto na pesquisa com defesa de quase duas mil dissertações em 2016 As pesquisas de doutorado também avançaram. Enquanto em 2010, uma tese foi defendida, o número passou para 137 no ano passado Por Júlia Lima há desenvolvimento econômico e social a partir do fomento e investimento na área de pesquisa e ciência. Com os cortes nessas áreas, o impacto das políticas governamentais é grande”. Com mais de 40 anos de dedicação à UFJF José Roberto Tagliati acredita que a pesquisa transforma a realidade, sendo “fundamental, uma vez que a grande barreira para a evolução do conhecimento é o estabelecimento do senso comum. Embora as raízes e as tradições sejam importantes, pesquisar significa investigar, duvidar daquilo que parece estabelecido. Sempre existem situações novas, e dessas, o conhecimento estabelecido não dá conta” Como pesquisador e membro do corpo docente da universidade, Tagliati orienta estudantes de mestrado e doutorado e, quando questionado sobre como é orientar uma pesquisa nesses níveis, o professor enfatiza que “o mais importante nessa dinâmica é o fato de formar parceiros. Um orientador tem que estudar e pesquisar junto com a pessoa, não é ensinar, mas sim compartilhar conhecimento.”
“A pesquisa enriquece minhas aulas” A recém-doutora do Programa de Pós-graduação em Educação da UFJF, Francisca Cristina de Oliveira Pires, investiga a formação de professores orientadores de estágio e a tutoria e conta que a escolha pela área se deu a partir de uma inquietude. “Decidi pesquisar essas questões por conta da minha insatisfação
FOTO: JÚLIA LIMA
Um salto na pesquisa científica é o que se percebe na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) quando se olham os números de dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas nos últimos sete anos. Em 2010, apenas uma tese de doutorado foi defendida na instituição no curso de Química. Já em 2016, 137 estudos foram concluídos e defendidos nos programas de doutorado da instituição. Quando se olha para o mestrado, a ampliação do campo da pesquisa é ainda maior. Enquanto em 2010, 32 dissertações haviam sido concluídas, o número pula para 1.952 no ano passado. Somente nestes três primeiros meses de 2017, já foram 157 defesas nos mestrados. O quadro de expansão da pesquisa se deve à ampliação dos programas em vários cursos da UFJF. Em 2010, havia na instituição 37 programas de mestrados e doutorados. Hoje são 46 programas e 250 laboratórios de pesquisa ativos. Isso permite que a instituição ocupe o 15º lugar em pesquisa no Ranking Universitário da Folha (RUF), que avalia 195 instituições brasileiras entre particulares e públicas. De acordo com a Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa (Propp), a universidade planeja mais três programas de doutorado e quatro de mestrado para as áreas de Serviço Social, Farmácia, Comunicação, Engenharias e Turismo. Para garantir a sobrevivência dos programas, além do apoio de agências fomentadoras, a universidade conta com o Apoio à Pós-graduação (APG), recurso anual destinado a financiar atividades de programas de pesquisa. Há também programas internos de bolsas, que distribuem bolsas aos alunos no mesmo valor da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Francisca Pires defendeu a tese “Dimensões da tutoria da educação à distância: o que é oficial e o que é real?” no dia 28 de março de 2017
enquanto professora, por achar que minha formação não me capacitou para tal, e também minha prática de tutoria que indicou a mesma realidade”. A partir dos estudos e das pesquisas, Francisca relata que percebe uma otimização em sua atuação como profissional. “Sou professora da rede privada, ensino superior, e vejo em minha prática que a pesquisa enriquece muito minhas aulas e, com isso, a formação dos meus alunos.” O contraponto negativo ressaltado pela acadêmica diz respeito à produtividade, às vezes excessiva, em detrimento do ensino em si. “Penso que o próprio desenho estabelecido pelo Governo federal faz com que as universidades sejam bombardeadas com muitas demandas, fazendo com que o fim mesmo dessas
instituições, o ensino, fique comprometido.” Em sua área de pesquisa, Tagliati afirma que também observou que as universidades são mais voltadas à pesquisa, “o que deixa a prática didática prejudicada”. Entretanto, ele acredita que essa é uma característica do ambiente universitário e que os alunos precisam receber mais atenção no início da vida estudantil. “O importante é dar atenção aos alunos da escola básica, pois o professor de universidade tem alunos adultos, que já têm condições de se virar. O professor tem a cabeça voltada para a pesquisa, para resolver problemas da sociedade, e o aluno precisa perceber isso. Mas é claro que precisa haver a preparação de aulas e a orientação. Além disso, podemos sempre melhorar: ter o professor que pesquisa e que consegue passar isso para os alunos.”
Mais próxima da sociedade Para a pró-reitora da Propp, Mônica de Oliveira Ribeiro, é importante destacar que a proposta da pesquisa é ter aplicação na prática e transformar a sociedade. Para isso, Mônica defende a necessidade de “diminuir a distância entre universidade e sociedade e não incentivar apenas pesquisas que conduzam a produtos e processos, mas pensar também em áreas que ajudem a sociedade a pensar sobre ela mesma, como a de humanas”. Ao pensar no atual momento político em que o Estado tenta se ausentar de suas obrigações com a educação, o que pode gerar um forte impacto nas gerações futuras, Mônica atenta para a importância da pesquisa. “A ciência e a tecnologia são as áreas mais estratégicas para o desenvolvimento do país, pois só
Informações: Assessoria acadêmica da PROPP/UFJF / Arte: Anna Carolina Cavalcante
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Consórcio intermunicipal é alternativa para preservação de Chapéu D’Uvas Maior manancial de abastecimento de JF não está localizado no município, o que exige parceria para criação de políticas públicas Por Lia Rezende FOTO: Gabriel Zambon
Depois de uma crise hídrica entre 2014 e 2015 ter colocado Juiz de Fora em regime de racionamento de água por mais de um ano, nova adutora de Chapéu D’Uvas foi inaugurada e promete abastecer o município por mais de 30 anos
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de dar errado é grande. O importante é criar regras de uso da bacia”, completa. Segundo ele, uma vistoria feita recentemente em torno do lago junto à Superintendência Regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Supram) da Zona da Mata e ao Ministério Público vai avaliar todos os aspectos que devem ser monitorados na bacia. “Estou otimista de que os resultados desse trabalho favoreçam a criação de um comitê integrado de manejo da área”. O vereador Zé Márcio (PV) acompanha a situação de Chapéu D’Uvas desde 2013 e já fez pelo menos duas representações na Câmara de Juiz de Fora a favor da gestão compartilhada dos entornos da represa. Para o parlamentar, criar um consórcio intermunicipal em que esses quatro municípios discutam como preservar e ocupar as margens da bacia “tem sido difícil”. “O consórcio tem que dar um aparato fiscalizatório ao manancial através da Polícia do Meio Ambiente e criar um Plano Diretor conjunto que determine o manejo dos entornos. As demais Prefeituras não têm condições para tanto, e é por isso que Juiz de Fora deve ter iniciativa - até porque nós talvez sejamos os mais interessados nessa preservação.”
e decisão política”. “Vejo isso faz tempo, mas as coisas não andam. Cada município tem seus interesses, legítimos ou não. Qualquer forma de ordenamento territorial, por mais difícil e imprecisa, é melhor que nenhuma”, afirma. Outro pesquisador da UFJF, o biólogo Nathan Barros, alerta para a necessidade de se evitar que Chapéu D’Uvas tenha o mesmo futuro dos outros mananciais. Além de Chapéu D’Uvas, hoje a cidade é abastecida pelas represas de João Penido, de São Pedro e pelo Ribeirão do Espírito Santo.“O Ribeirão já sofre impactos por causa da agricultura, embora ainda tenha uma água de boa qualidade. A situação de São Pedro é mais delicada: são rodovias
que passam perto, assoreamento e metais pesados contidos no solo”, explica Barros. Em João Penido, não é diferente: a ocupação humana é grande e o transporte de barcos e lanchas, por vezes, irregular. “A água de Chapéu D’Uvas é tratada na Estação de João Penido, a Castelo Branco. De que adianta se a água chega lá e encontra uma situação problemática? O ideal e correto a se fazer é cuidar de todas”, destaca Nathan. “Muitos já sabem do valor da água, mas o mesmo tem que existir em relação às áreas de preservação em volta dela. Não adianta: a gente não consegue fazer chover. Conseguimos apenas garantir que haja lugares onde a água possa ser estocada.” FOTO: Gabriel Zambon
A Represa de Chapéu D’Uvas é chamada de manancial do futuro em Juiz de Fora. No entanto, existe hoje a preocupação com a preservação do lago, principalmente porque outros mananciais da cidade já apresentam problemas, como assoreamento do entorno, ocupação e existência de rodovias nas proximidades. Uma dificuldade para a definição de políticas públicas de preservação, porém, está na localização: Chapéu D’Uvas não faz parte do território de Juiz de Fora, mas sim dos municípios de Antônio Carlos, Santos Dumont e Ewbank da Câmara. A alternativa apontada por autoridades para resolver este problema é a criação de um consórcio intermunicipal para uma gestão compartilhada da bacia. Além disso, a participação da UFJF é considerada essencial, porque a instituição possui terras nas margens da represa, onde poderá desenvolver projetos sustentáveis integrados à pesquisa acadêmica. O diretor de Desenvolvimento e Expansão da Cesama, Marcelo Mello do Amaral, afirma que há o desejo da gestão compartilhada. “Precisamos que todos os municípios que fazem parte dela contribuam para a preservação, o que envolve prefeituras e companhias de abastecimento, além de secretarias de turismo e ONGs da região”. Apesar de ter a outorga para exploração do manancial, o diretor explica que o lago em si é território da União, e a ideia não é barrar todos os tipos de uso da represa. “Toda vez que a coisa se torna restritiva, a chance
Entorno Pedro Machado, professor de Engenharia da UFJF que pesquisou o manancial ao longo do doutorado finalizado em 2012, considera a criação do consórcio uma questão de “vontade
Chapéu D’Uvas é um antigo distrito de Juiz de Fora e um dos povoamentos mais antigos da região. Parte de Nova Lima, a cidade é cortada pela Estrada Real uma linha de trem construída ainda em 1877. A menos de um quilômetro da ponte, o portão da Cesama guarda os 146 bilhões de litros de água que a represa pode estocar
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“A UFJF deve capitanear esse processo”, diz pesquisador Outra parte da solução pode estar em uma fazenda experimental da UFJF. A propriedade, que fica nas margens da represa de Chapéu D’Uvas, foi adquirida em 2013 para incentivar a produção científica da instituição. Seus dois quilômetros quadrados representam um investimento de cerca de R$ 3,8 milhões, vistos como a oportunidade de desenvolver projetos inovadores em áreas como a Biologia ou a Engenharia Elétrica. “Queremos a opção de testar o inverso do problema que muitas represas têm tido: reflorestar grande parte da área ao redor e avaliar a melhora da qualidade e do fluxo da água na região. Podemos ser uma espécie de modelo possível de ser adotado em outras áreas ao redor da bacia”, visualiza o pesquisador Nathan Barros, do Laboratório de Ecologia Aquática da UFJF, que está na vanguarda do estudo de emissões de gases estufas e já desenvolve pesquisas na fazenda. O reflorestamento das Áreas de Proteção Permanente (APPs) e uma ocupação regulamentada e cuidadosa dos entornos são, ainda, algumas das principais medidas a se tomar quando o assunto é proteger os recursos hídricos e garantir a sua saúde no futuro. “Os mananciais têm que ter a capacidade de se reabastecer. A revegetação e o cuidado em torno do reservatório são fundamentais para que isso aconteça. A floresta aumenta a capacidade de segurar a água e diminui as chances de erosão graças à proteção que a
vegetação fornece ao solo”, explica Nathan. O professor Pedro Machado lembra ainda que: “O local é grande e estratégico. A Universidade pode e deve capitanear esse processo. A UFJF passa por momento financeiro difícil, mas deve se posicionar claramente sobre o uso mais adequado dessa bacia, sobretudo agora, sendo uma proprietária de terras”. Em sua pesquisa, Pedro aponta que Chapéu D’Uvas é alimentada por 967 nascentes, que formam mais de 30 córregos de contribuição. Juntos, eles são apenas uma parte da bacia do Rio Paraibuna, assim chamado pelos índios que um dia viveram aqui graças às suas “águas escuras”. O tom da cor, no entanto, nada tinha a ver com os 1.100 litros de esgoto que recebe por dia. Apesar de vir melhorando significativamente nos últimos anos, o Paraibuna é, ainda, a principal fonte de água do município. É preciso incentivar a população a protegê-lo - e para isso é importante que tenha valor, inclusive econômico, enquanto ainda está vivo. A Prefeitura de Juiz de Fora aprovou no início de 2016 a criação do Programa de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), um passo à frente rumo à sustentabilidade ambiental. Em teoria, ele estabelece estímulos financeiros a quem adotar práticas sustentáveis a favor da “melhoria da qualidade e quantidade das águas e conservação da Biodiversidade em propriedades no Município”. No entanto, pouco se fala sobre o
projeto. Segundo Nathan, a própria Cesama ganharia com o reflorestamento. “A floresta diminui a quantidade de sólidos nas águas, facilitando o tratamento e garantindo que o raso mantenha a sua profundidade, uma vez que ele estará protegido do assoreamento. Isso quer dizer economia de gastos no futuro”, conclui. Zé Márcio, que tem a carta de Chefe Sioux, índio norte-americano, estampada nas paredes, termina dizendo que “a preservação ambiental tinha que ser uma catequese diária”. Sioux, no entanto, é mais sábio: na carta que escreveu aos Estados
Unidos, quando este queria comprar-lhe as terras, dizia: “Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto fere a Terra fere também o filho da Terra. (...) Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueças como era a terra quando dela tomaste posse. (...) Quando a última árvore for cortada, quando o último rio for poluído, quando o último peixe for pescado, aí sim eles verão que dinheiro não se come”. No fundo, natureza não tem preço e é provável que não tenhamos cumprido o acordo com nossos índios daqui.
Sobre Chapéu D’Uvas A represa está a 50 quilômetros da nascente do Rio Paraibuna. A adutora, que permitiu a interligação com o sistema de abastecimento de Juiz de Fora, foi inaugurada em 2014, mais de 40 anos depois do início das obras. O manancial surpreende pela qualidade da água e tamanho: é 11 vezes maior que a Represa de João Penido, que hoje ainda é responsável pelo abastecimento de 50% da cidade. De acordo com a Prefeitura de Juiz de Fora, Chapéu D’Uvas tem uma vazão de até 5.000 litros de água e garantirá abastecimento suficiente para os próximos 30 anos. Os números são grandes, mas não nos deixemos enganar: a água é um recurso finito, cuja abundância negocia diretamente com as demais condições do ecossistema. Como garantir a preservação de um território que não é nosso?
Servidores da UFJF se mobilizam contra a instalação do ponto eletrônico
Categoria entende como retrocesso e perda de direitos a medida, que passou a ser debatida após a abertura de inquérito pelo Ministério Público Federal Por Cristiane Turnes colocação do ponto eletrônico seja imposto na instituição. Um dos representantes dos servidores na comissão Flávio Sereno destaca que os funcionários já possuem um sistema de controle de assiduidade e pontualidade: o Sistema Integrado de Gestão Acadêmica (Siga), que já atende as necessidades da Universidade e deve ser aprimorado e não substituído: “Nós já temos um controle pelo Siga. Ele emite relatório de frequência, possui programa de avaliação e sistema de autoavaliação.” Ainda de acordo com Sereno, a implementação da medida pode interferir em uma série de direitos da categoria, como a possibilidade de inibir a mobilização do sindicato tendo em vista que, com o ponto eletrônico, poderia levar ao corte de salários em casos de greves, entre outros problemas: “Pode potencializar o assédio moral, pois o chefe do setor teria mais poder e controle sobre seus subordinados, além de poder prejudicar o trabalho de alguns funcionários que, muitas vezes, necessitam se deslocar para outros setores e até para fora do campus.”
Para o professor de Direito da UFJF Abdalla Curi, o Ministério Federal resolveu abrir inquérito contra a Universidade devido há algum problema quanto à gestão do controle do trabalho dos servidores: “Pode ter havido um aumento do Técnicos-administrativos alegam que ponto eletrônico pode diminuir direitos da categoria número de servidores e demanda dos resolvido, possivelmente o caso irá para serviços públicos tanto interna, quan- o Judiciário: “Ou se chega a um acordo, to por parte da população destinatária ou então haverá uma decisão judicial desses serviços que gerou problemas que determinará o que deve ser feito, na gestão dos recursos humanos, e aí acolhendo a proposta do MP ou a tese o MPF concluiu que deveria aproveitar dos servidores, ou ainda uma solução uma legislação já existente para equa- conciliatória. A partir daí, a decisão será cionar o eventual problema detectado.” obrigatória para os envolvidos. Nesse O professor Curi ainda afirma que, caso, acredito que a tese da autonomia se o impasse com os servidores não for da Universidade será debatida.”
FOTO: LEO BARBOSA
Os servidores técnicosadministrativos da Universidade Federal de Juiz de Fora estão mobilizados contra a implementação do controle de ponto eletrônico. A medida que determina a obrigatoriedade do ponto é tema de inquérito civil aberto pelo Ministério Público Federal (MPF) no final de 2015, baseado no decreto presidencial 1.867 de 7 de abril de 1996. A Universidade criou, em reunião do Conselho Superior (Consu), em 17 de março deste ano, uma comissão responsável por apresentar uma proposta de implementação da medida em até 60 dias. Segundo a Diretoria de Imagem Institucional, a comissão é composta por quatro representantes dos técnicos-administrativos, dois do Consu e dois da Administração Superior, que ainda devem iniciar os trabalhos. De acordo com a nota divulgada pelo Sindicato dos Trabalhadores Técnicos-Administrativo em Educação das Instituições Federais de Ensino no Município de Juiz de Fora (Sintufejuf), a lei de autonomia universitária pode impedir que o decreto que obriga
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política
Plano Municipal de Educação: da restrição à inconstitucionalidade De caráter essencialmente estatal, Executivo juiz-forano transforma Plano em bandeira governamental e restringe acesso à educação
Por Gabriel Ferreira
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A cargo do Legislativo, o processo de inconstitucionalização Grafada no corpo do Plano Municipal de Educação, a emenda proposta e aprovada pelo vereador André Mariano (PSC) restringe como diversidade toda e qualquer modalidade de educação inclusiva ou especial. Em parágrafo único, excluiu-se do acesso à educação, direito básico constituinte, grupos historicamente marginalizados como negros, LGBTTIs, indígenas e ciganos: “Por respeito às diversidades entenda-se, estritamente, a garantia de universalização do acesso à Educação Básica na rede regular de ensino e o atendimento educacional especializado [...] a todas as pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação”. André Martins explica, contundentemente, que “o que os vereadores fizeram foi a aprovação de um conceito restrito de diversidade, que contraria a Constituição Brasileira, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e uma série de outros postulados que tratam dessa questão de direitos humanos”. Sob a mesma perspectiva política e ideológica, assegurou José Fiorilo (PTC), no Plano Municipal, a sobreposição dos direitos dos pais sobre os direitos da escola na educação infantil e juvenil. Compõem a base governamental no Legislativo tanto Mariano quanto Fiorilo. O segundo artigo do texto alterado pela PJF assinala que “a promoção da cidadania e dos princípios do respeito aos direitos humanos e à diversidade não poderá se sobrepor aos direitos dos pais à formação moral de seus filhos, nem interferir nos princípios e valores adotados ao ambiente familiar”. Maria Lúcia critica a emenda de Fiorilo, uma vez que os papéis da escola e da família nos processos educacionais são distintos e, inclusive, complementares a partir de responsabilidades diferentes entre si: “São papéis distintos de acordo com a própria Constituição. A escola tem uma autonomia. Ela atua junto à família por meio dos colegiados da escola, que são formados com a presença dos pais, alunos maiores de 16 anos, e representantes de professores e funcionários. Tem grande representatividade e condensa o interesse dos pais”. De acordo com a segunda meta do PME, referente ao Ensino Fundamental, é previsto a partir do terceiro ano de sua implementação planos escolas-família, que têm o intuito de estreitar ainda mais as relações entre as escolas e as famílias para que o acompanhamento escolar dos alunos seja assíduo.
FOTO: GABRIEL FERREIRA
“É sobre o direito de aprender que estamos falando; um direito social à educação. Os vereadores, ignorando a Constituição, tratados internacionais e toda a construção teórica – que a academia está fazendo – e política – que os movimentos sociais estão fazendo -, colocou-se a negar.” Com essa frase, o doutor em educação André Martins sintetiza o resultado da articulação parlamentar juiz-forana que aprovou o Plano Municipal de Educação (PME), em duas sessões extraordinárias no dia 29 de março, à revelia do texto-base elaborado pelo Fórum Municipal de Educação. Martins foi um dos membros titulares nomeados pelo Executivo para compor o Fórum, realizado em 2015. Por meio de portaria publicada pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), outras 117 pessoas foram designadas a participar no Fórum Municipal. Posteriormente, na Conferência Municipal de Educação, foi formatado, juntamente a diversos segmentos sociais, o anteprojeto do PME. Encaminhado ao prefeito Bruno Siqueira (PMDB), permaneceu engavetado por, aproximadamente, um ano até ser dirigido à Câmara. Em parecer técnico realizado por um grupo de especialistas da Faculdade de Educação (Faced), 50 alterações foram atestadas no textobase original. O Plano, antes de Estado, tornou-se proposta governamental. “Contraria a Conferência, que elaborou o anteprojeto baseado na Constituição, em consonância com o Plano Nacional de Educação, e que foi adulterado pelo Executivo, quando enviou a mensagem para a Câmara com alterações significativas”, aponta a coordenadorageral do Sindicato dos Professores de Juiz de Fora (Sinpro-JF), Maria Lúcia Lacerda. A Constituição Federal determina que “os processos de elaboração e adequação dos planos de educação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios [...] serão realizados com ampla participação de representantes da comunidade educacional e da sociedade civil” (art. 8º, § 2). Entretanto, o Plano, modificado pelo Executivo, não corrobora com as diretrizes constitucionais. A integrante da diretoria plena da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), Cristina Castro, afirma que a educação do município saiu prejudicada: “O grande prejuízo nesse Plano foi que a construção dele foi participativa. Em Juiz de Fora, a Conferência Municipal de Educação debateu exclusivamente o Plano. Ao não se respeitar as deliberações da Conferência e não aprovar o Plano tal qual ele foi elaborado, há um prejuízo para a educação do município. Se fez valer da decisão daqueles que sequer participaram da Conferência.”
Diversidade: Plano não abarca os diversos arranjos familiares
A cargo das militâncias, a ‘ideologia de gênero’ “A gente sabe que o ambiente escolar é muito hostil, muito crítico e de muita perseguição. As crianças reproduzem aquilo que aprendem em casa, e a gente vive em uma sociedade machista, racista e LGBTIfóbica”. É de Bruna Leonardo, militante do coletivo Visitrans, a crítica ao ambiente escolar, marcado pela exclusão social. Ela contrapõe as emendas de autoria de Mariano e Fiorilo a partir da concepção do certo e errado em vigor: “Quando se foge à regra e à ideologia impostas pela sociedade, você é considerada uma aberração, uma vergonha para a sociedade e para a família. É ensinado que se persiga essas diferenças, que isso é errado. A ideologia de gênero é essa, que a gente vive na nossa sociedade há séculos.” Em contrapartida, Rafael Rosa, arquiteto e militante da causa da família, interpreta os papéis da escola e da família por meio de uma diferente perspectiva: “O Estado quer para si o direito de educar e transmitir os valores, e eu acredito que quem tem que transmitir os valores é a família. O primeiro convívio que a criança tem fora do seu círculo familiar é dentro da escola, porém os pais que precisam educa-la”. Rosa defende no plenário a precaução do uso do termo gênero, pois entende que o termo tem vários contornos: “O que nós estamos militando aqui hoje é que esse termo seja delimitado, que seja cunhado com delimitação”.
A cargo dos direitos humanos, o trabalho junto aos setores marginalizados Conselheiro do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Juiz de Fora (CDDH) e integrante do Fórum Municipal de maio de 2015, o advogado Mateus Pereira reafirmou, de maneira contundente, a inconstitucionalidade da restrição do (não) tratamento abrangente à diversidade: “Esta emenda atinge tanto o Plano Nacional de
Educação quanto a Declaração dos Direitos Humanos. Só que a sua inconstitucionalidade pode ser aferida anteriormente na violação da Constituição. O desrespeito cometido pela Câmara Municipal de Juiz de Fora aos direitos humanos foi absurdo”. André Mariano, em contato com a reportagem, não respondeu aos questionamentos acerca da emenda proposta por ele no plenário. “Após a aprovação do PME bastante modificado, o CDDH ainda não se reuniu para traçar seus planos de atuação diante do ataque feito pelo Executivo e pelo Legislativo. Após a reunião dos conselheiros do CDDHJF, devemos ter encaminhamentos para trabalhar junto a esses grupos”, completa Pereira, referindo-se ao trabalho conjunto entre o Centro de Defesa e os movimentos e grupos sociais marginalizados pela Prefeitura no Plano Municipal de Educação. Ainda de acordo com as diretrizes definidas pelo PME, o Fórum Municipal de Educação ficará encarregado de articular e coordenar ao menos duas Conferências Municipais de Educação durante o período de vigência da Lei – dez anos, no caso -, com intervalo de, no mínimo, quatro anos entre elas. Além disso, é função fundamental o acompanhamento da execução do Plano pelo Fórum e, consequentemente, pelas próprias Conferências, responsáveis em subsidiar a criação do PME para o decênio subsequente ao atual. “A gente ainda está em diálogo com outras entidades, em todas as esferas, em todos os aspectos. A princípio, nós queremos esclarecer a população, os pais e alunos sobre tudo o que aconteceu e, em diálogo com outras entidades, para ver os passos que tomaremos. Por hora, não dá para adiantar nada”, respondeu Maria Lúcia, coordenadora-geral do Sindicato dos Professores de Juiz de Fora, quando indagada sobre possíveis ações da entidade no âmbito legal. As denúncias, por momento, estão sendo realizadas por meio da mobilização do órgão no seu site e jornal. O Jornal de Estudo tentou contato com o vereador José Fiorilo, por meio de telefone, no entanto, ele atendeu apenas a uma das ligações e pediu que a reportagem ligasse mais tarde. Depois, não atendeu aos chamados.
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De Bruno Siqueira, a carta de intenções Doutor em Educação, André Martins aponta o desalinhamento do Plano a fundamentais constituições e a desresponsabilização do Executivo municipal Por Gabriel Ferreira Diretor da Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), André Silva Martins conversou com a reportagem sobre as metas e estratégias abarcadas pelo Plano Municipal de Educação, bem como as emendas referentes ao conceito de diversidade e à sobreposição dos direitos dos pais aos da escola na educação infantojuvenil. Martins se graduou em 1991 pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) em Educação Física e se tornou mestre em Educação, na área de política educacional, pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Completou sua formação na mesma universidade como doutor em Educação, em 2007, após relacionar educação, burguesia e a nova sociabilidade. O professor foi membrotitular do Fórum Municipal de Educação e da Conferência Municipal de Educação, ambos em 2015, representando a Faced. Jornal de Estudos: Você havia me dito anteriormente que algumas emendas propostas eram inconstitucionais. A votação aconteceu e foi aprovado o PME. Elas são, de fato, inconstitucionais? Por quê? André Martins: “Na nossa avaliação, a inconstitucionalidade de parte dessas emendas diz respeito à uma compreensão restrita e equivocada do conceito de diversidade. A formulação original do Plano previa o conceito de diversidade no seu sentido amplo e relacionado à problemática dos Direitos Humanos. Ou seja, no sentido do conceito da formulação original do Plano, a questão da mulher, a questão dos homossexuais, a questão dos negros, a questão de povos ciganos, a questão dos deficientes, toda essa dimensão, as dimensões do ser humano estavam contempladas no sentido de que pudéssemos assegurar o direito de todos indistintamente a ter acesso à educação. O que os vereadores fizeram foi a aprovação de um conceito restrito de diversidade, que contraria a Constituição brasileira, que contraria a Declaração Mundial dos Direitos Humanos e que contraria uma série de outros postulados que tratam dessa questão de direitos humanos e diversidade. Eu poderia citar, por exemplo, o Plano Nacional de Educação e Direitos Humanos. Então, Juiz de Fora, com essa aprovação, está em rota de colisão com as construções consensuadas não só no campo da Educação, mas também no campo jurídico e em outros espaços de debate acadêmico e, sobretudo, de ação dos movimentos sociais. Qual é a implicação disso na prática? Silenciar, obscurecer, negar a diversidade humana no processo educativo. O fato que eu costumo citar para ilustrar. Nós temos hoje, no Brasil, vários arranjos familiares. A família que tem pai, mãe e filhos; as famílias que tem duas mães; as famílias formadas por dois pais; famílias com uma avó só. Esse arranjo independe da minha vontade, é um fato social. E os estudantes precisam conhecer esses fatos. A escola não tem que ensinar qual é o arranjo familiar correto, ela tem que dizer que existem esses arranjos e que todos, independentemente de qual família
participem, precisam ser vai prover as crianças de respeitados. Esse é um uma compreensão do postulado do que a que é a sociedade, gente defende do que é a de direitos família e do humanos e que são as diversidade. relações Então, sociais. O uma avó vereador que tem t e n t a filhos, que sobrepor a cuida dos educação seus netos, familiar à esse filho educação não pode e s c o l a r deixar de ser criando uma acolhido por ser grande confusão criado por uma conceitual e legal. avó. Uma criança que E essa formulação é filha de uma mãe também, nitidamente, solteira ou de um é inconstitucional.” “O Plano vira uma casal homossexual não pode ter retirado JE: Qual a carta de intenções (...) o seu direito em principal perda Se der, realizaremos. do Plano, que aprender. Então, é sobre o direito de foi aprovado, em Se não der, não aprender que estamos relação ao textotem nenhuma falando; um direito base elaborado pelo social à educação de Fórum e sustentado responsabilidade.” que estamos falando. André Martins pela Conferência? Os vereadores, AM: “Eu acho que ignorando a são várias perdas, é Constituição, tratados internacionais e toda difícil dizer uma. Quando a gente aponta a construção teórica - que a academia está a problemática dos direitos humanos, a fazendo - e política - que os movimentos gente identifica perdas significativas e, sociais estão fazendo -, se colocou a negar.” basicamente, foram essas das emendas. Todas elas relacionadas aos direitos humanos. A JE: A emenda de Fiorilo, aprovada, segunda perda é a questão dos dispositivos garante a sobreposição dos direitos que apontavam para a questão do magistério. dos pais sobre os direitos da escola Nós fizemos várias construções que eram em educar. Esses direitos não são muito claras no sentido de assegurar a excludentes, mas são tratados como elaboração de políticas de valorização do se fossem. Como conciliar essas duas magistério, considerando, inclusive, medidas instâncias, principalmente, no que diz de saída para se antecipar e por fim às greves respeito a um movimento conservador que se colocaram como um componente que se estabelece e influencia curricular por obrigação, quase dever de as políticas educacionais? Essa ofício, por conta do não reconhecimento, emenda também é inconstitucional? não valorização desses profissionais. Esse é AM: “Eu entendo que é inconstitucional o segundo campo de problemas. Em terceiro, sim. É um segundo equívoco da Câmara, é a desresponsabilização do Executivo proposto sob a responsabilidade do vereador municipal com relação à execução do Plano. Fiorilo. A nossa legislação é muito clara em O plano cumpre, sob ponto de vista técnico, estabelecer que não há concorrência entre algumas definições: a primeira é quem é o educação escolar e educação familiar. São sujeito responsável; segundo, como é que processos educacionais distintos, específicos, ele vai executar isso em colaboração com que cumprem finalidades específicas que outros órgãos e entes federativos. Ele não convergem. Mas a escola não substitui a vai fazer isso sozinho. No caso do município, família e a família não substitui a escola. se ele vai fazer isso com a União e com o Então, o que o vereador faz, em propor e Estado, ou se ele vai fazer isso sozinho; o aprovar a inclusão do dispositivo relacionado terceiro aspecto é o prazo; o último aspecto ao projeto político-pedagógico, é afirmar é a assertiva. Então, o Plano tem que dizer, que a escola não pode sobrepor a função da por exemplo, que a Secretaria de Educação família. No entanto, ele coloca que a família realizará; isso é assertivo, prescritivo. Se ele tem a competência da formação moral das não conseguir cumprir, ele tem que justificar crianças, reproduzindo uma célebre frase por que ele não cumpriu. Por exemplo: faltou que o movimento Escola Sem Partido, um dinheiro, o tempo foi inadequado... nós movimento autoritário e sectário, afirma: temos várias justificativas que isentariam “não mexam com nossas crianças”. Como não uma responsabilidade da Secretaria. Ela tem mexer com as crianças? Como não lidar com que apresentar uma argumentação técnica as crianças? Inclusive, um dos dispositivos para dizer porque não cumpriu. Qual foi a da legislação na Lei de Diretrizes e Bases da formulação? Um adiamento dessa decisão, Educação (LDB) diz exatamente que a escola ou seja, a Secretaria tentará realizar... ao
mudar o verbo, ele muda a importância, o impacto e a força da ação. Então há uma desresponsabilização do Executivo municipal, sobretudo da Secretaria de Educação, que é integrante do Executivo, da condução do conjunto de metas. Então, o Plano vira uma carta de intenções. Eu costumo dizer, usando uma linguagem mais direta e simples, que a carta de intenções se qualifica nos seguintes termos: se der, realizaremos. Se não der, não tem nenhuma responsabilidade. O Plano é prescritivo; ele tem que dizer ‘nós vamos realizar’. Se não realizar, tem que argumentar e apresentar tecnicamente todos os motivos da não execução. O Executivo municipal então aponta na desresponsabilização das ações do próprio Executivo buscando transformar o Plano em uma carta de intenções.” JE: Há algum ganho em relação ao Plano que estava em vigor nos últimos anos? Ou então, algum ponto importante elaborado pelo Fórum e que não foi alterado pelo Executivo? AM: “É difícil dizer isso, porque o outro Plano é uma peça imperfeita, que foi desconsiderada solenemente por parte do governo pela sua imperfeição, pela sua incompletude. Então ele ficou como um instrumento figurativo. Ele foi composto para dizer que tinha, mas quando eu olho as políticas de educação de Juiz de Fora, pouco vejo referente a esse Plano. É um Plano muito normativo, que diz ‘isso pode’ e ‘isso não pode’. Por exemplo, o Plano anterior previa a ampliação de vagas na educação pública superior de Juiz de Fora. Um Plano Municipal não pode prever que a universidade vai aumentar vagas ou criar cursos novos. Isso não é de sua competência. Há um equívoco no Plano do ponto de vista técnico-legislativo, logo, há uma inconstitucionalidade. Nesse documento do Plano anterior, afirma-se a prescrição do respeito da não parceria público-privada, que Juiz de Fora não se utilizaria da parceria público-privada para realizar ações educacionais. Essas parcerias foram realizadas, recorrentemente, por todas as prefeituras, da sua aprovação até o último ano da sua vigência, que foi 2016. Mas era uma peça muito incompleta, tecnicamente inconsistente e pouco aproveitada. Os governos municipais poderiam ter apostado no seu aprimoramento, deveriam ter buscado referências, mas ele foi completamente desconsiderado, reforçando um problema que nós temos na educação brasileira: não planejar a educação. Sobretudo, um planejamento a longo prazo. Os governos optam por eleger o plano de governo como a referência de ordenamento das políticas nacionais, se desobrigando de um plano de Estado, que é um plano de longa duração, mais consistente, formulado com a participação da sociedade para a sociedade. Esse é o grande problema que nós estamos enfrentando e que temos que continuar enfrentando, certamente, porque esse plano atual acaba se reduzindo a algo muito próximo a um plano de governo, tal como veio vindo nas políticas anteriores aqui em Juiz de Fora.”
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política
Especialistas e trabalhadores criticam Lei da Terceirização recém-sancionada
Cientista político teme que legislação acabe fragilizando ainda mais o trabalhador, assim como a democracia no país Por Anna Carolina Cavalcante
Aprovada pela Câmara dos Deputados em 22 de março deste ano e sancionada pelo presidente no dia 31, a PL 4302/98 que regulariza o trabalho terceirizado no Brasil ainda gera polêmica e levanta discussões. A lei foi proposta em 1998, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Em 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a retirada da tramitação do projeto, que foi ignorada e cuja tramitação se encerrou em março desse ano, culminando em sua aprovação. Mas como uma lei de 1998 é aprovada quase 20 anos depois? “A lei foi concebida no contexto da década de 1990, ou seja, ela foi feita num imaginário que tinha um olhar para a constituição como excessivamente generosa em relação a direitos sociais e não havia quem pagasse a conta”, explica o cientista político Jorge Chaloub. Ele ainda explica que estamos vivendo em um momento em que se vê um discurso muito organizado, que olha para a Constituição de 1988 e vê um excesso de direitos. Esse discurso está presente em parte da grande imprensa, está presente em certos intelectuais, que acreditam que a Constituição não cabe no orçamento. “É nesse contexto que o projeto de terceirização ganha força, mas é sintomático que ele seja a recuperação de uma ideia que surgiu na década de 90”, diz Chaloub. A diferença entre 98 e agora é que, mesmo que a Constituição de 1988 e que esse imaginário de garantia de direitos sociais tenham recebido muitas críticas ao longo desses quase 30 anos, nunca houve um momento de tamanha fragilidade e falta de consenso em relação à Constituição como agora. A lei da terceirização faz uma recuperação daquele momento, mas o cenário está mais propício para a discussão, juntamente pela falta de consenso. Tanto que não se conseguiu aprovar isso nem em 98, nem em 2002, mas se conseguiu aprovar agora, mesmo sem ter feito um debate nacional. Quando se tem leis que promovem uma enorme transformação na sociedade, é desejável que você faça um debate público. “Você retomar uma lei que foi discutida pela última vez há 15 anos, que foi proposta há quase 20 anos, isso de uma certa maneira,
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tem um quê de manobra democrática, como tudo o que tem acontecido após o golpe de 2016”, ressalta Chaloub. “Depois de 2016, vivemos em um processo de fragilização da democracia”, diz o cientista. “Muito mais sintomático que discutir procedimento, por mais que possa haver questões a serem levantadas, é pensar que, na verdade, está sendo imposta uma agenda que não seria eleitoralmente viável. Ninguém se elege com essa agenda. Essa é uma agenda que não se coloca, tanto que esses debates não foram colocados na eleição. Nem pelos candidatos da oposição que foram derrotados. É uma agenda que não tem concordância mesmo daqueles que apoiavam a deposição do governo do PT.”
A opinião dos trabalhadores Se a divergência existe entre os governantes do país, ela também está presente entre os trabalhadores. “Essa lei é um grande avanço para a classe trabalhadora”, afirma Domingos de Assis, que ganha a vida como empregado temporário. “Caso a firma terceirizada não pague a contribuição previdenciária do empregado, a firma contratante é quem irá pagar. O empregado não tem nada a perder. O salário pode ser discutido entre o trabalhador e a empresa terceirizada. Não tenho nada contra, o empregado só tem a ganhar com isso.” Guilherme Lima, que trabalha como terceriziado em uma firma, tem uma visão totalmente dissonante: “Acredito que essa nova lei vai ser muito pior, porque ela garante direitos às próprias empresas contratadas e contratante e não ao trabalhador terceirizado. Ele vai continuar ganhando menos que um trabalhador comum, tendo menos benefícios e direitos. Única coisa que essa lei muda é que a empresa vai ter mais liberdade pra contratar empresas de tercerização.” Guilherme não tem esperança para o futuro: “E agora, com a reforma da Previdência, tudo piora ainda mais. Isso só favorece o mercado particular. Quanto mais sucateada a
Previdência pública, mais margem terá a Previdência particular. É sucateado para o povo achar que que a particular é melhor, e a gente tem que pagar por tudo” Já o advogado trabalhista, Ítalo Magalhães, vê além: “Acredito que essa lei deve piorar a situação para o trabalhador, porque pode mudar as relações sindicais entre profissionais e órgãos representativos de classe e correr o
risco de proporcionar pisos salariais mais baixos. Em resumo, aprovaram a lei sob a justificativa de que isso iria incentivar a iniciativa privada, trazer segurança jurídica e consequentemente criar mais empregos. O problema é que podem até surgir mais empregos e especialização da mão de obra, só que em condições interiores de trabalho. Aumenta a quantidade, mas diminui a qualidade.”
política
Reforma política indica alterações no poder de decisão do eleitor Eleitores e cientistas políticos criticam texto discutido em comissão especial na Câmara Por Leo Barbosa Ainda em apreciação na Câmara, o texto apresentado pelo deputado Vicente Cândido (PT-SP) no último dia 4, na comissão especial da reforma política, precisa ser mais debatido e não há data para votação. Passando pelo colegiado, a proposta deve seguir para o plenário. De acordo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), isso só deve ocorrer no final do semestre, após a votação das reformas trabalhistas e da Previdência. Caso seja aprovada nas duas casas do legislativo até outubro, a mudança já passa a valer em 2018. O texto levanta muitos pontos, como: mandato de cinco anos e fim de reeleições para presidentes, governadores e prefeitos; criação de um fundo de R$ 2 bilhões para financiamento de campanha, desse montante, R$ 150 milhões seria o teto para a disputa presidencial; extinção dos cargos de vice; candidaturas simultâneas em cargos majoritários, nesse caso, uma pessoa poderia disputar um cargo de deputado e governador ao mesmo tempo, perdendo em uma, se elege em outra. Outro ponto que precisa ser melhor debatido é a adoção do sistema de votação em lista fechada. Nele, o partido indica uma lista com candidatos e a quantidade de cadeiras seria proporcional aos votos recebidos. O estudante Gabriel Neves, 17 anos, ainda possui voto facultativo e tem críticas ao modelo. “É complicado porque eu estaria elegendo um candidato sugerido e não um que eu escolhi. Se ele for o último indicado pelo seu partido, terá dificuldade de ser eleito, porque os primeiros seriam
favorecidos. Isso ajudaria a manter as mesmas pessoas no poder, não haveria alternância.” Para a universitária Yasmin Guimarães “o mais interessante é que essa reforma estabelece um teto para os gastos públicos com campanhas eleitorais, que mesmo assim, ainda é alto. No entanto, nesse esquema de votação, a quantidade de votos recebidos determinaria o número de cadeiras que cada partido teria. Assim, a vaga parlamentar seria preenchida de acordo com a indicação feita pelos colegas partidários. Votar assim pode favorecer políticos suspeitos de envolvimento com corrupção”. Já a acadêmica de ciências sociais, Ylzes Teixeira, acredita que a mudança é desvantajosa porque diminui a responsabilidade do político e dificulta fiscalizações e cobranças ao candidato. “É fato que muitos candidatos ocupam as cadeiras não por quantidade de votos e sim por proporção, isto é, já temos uma forma de votação indireta. Com essa alteração o eleitor ficaria menos interessado em compreender como funciona a política dos moldes partidários. Isso é vantagem para os políticos e não para o povo”, aponta.
Cientistas debatem ponto polêmico da reforma política Para repercutir as particularidades da adoção do sistema de lista fechada, o Jornal de Estudos ouviu três cientistas políticos. O primeiro deles, Emerson Senna da Silveira afirma que a reforma política não
é adequada neste momento, por questões relacionadas a Operação Lava Jato e seus processos em curso e, também, porque ainda há muita turbulência política. “Há muito mais pontos negativos do que positivos, o voto em lista fechada está desconectado com outras questões. Do jeito que está, a reforma dará privilégios às diretorias internas sobre quem entra na lista. Isso é extremamente negativo porque não há uma democracia dentro dos partidos que possa contrabalançar o poder dos caciques”, avalia. Silveira aponta também que outro aspecto negativo é o financiamento e aumento das campanhas. Para ele, elas deveriam ser simplificadas ao extremo tanto no sentido burocrático quanto no sentido do custo público. Deve haver uma regulamentação, mas a proposta pode ampliar os gastos do Estado com os partidos e abrir portas para os problemas que Lava Jato mostrou. Em sua opinião, isso é muito grave porque significa o solapamento da democracia, a falta de transparência não será resolvida por essa reforma e prejudicará o eleitor. “Esses prejuízos poderão fazer com que o cidadão tenha uma postura muito mais desconfiada e crítica. A tendência é que o número de votos nulos, brancos e abstenções aumentem exponencialmente, isso indica uma rejeição ao sistema. Essa reforma não atende, de fato, as necessidades profundas que o Brasil possui. É possível que o atual congresso encaminhe algumas
questões para a próxima legislatura mas a reforma estrutural não deveria ser conduzida dessa forma”, avalia. Por outro lado, o pesquisador Raul Francisco Magalhães salienta que o sistema fortalece os partidos, uma vez que os candidatos não fazem campanha pessoal e sim campanha partidária e aponta para outras questões. “Ele pode aumentar a participação feminina na esfera política, dependendo da disposição dos nomes colocados pelo partido, isso equilibra a representação das mulheres e o seu pleito nas eleições. No entanto, os partidos menores, com baixa representatividade, tendem a desaparecer. O que não é antidemocrático, o Brasil tem um congresso com 30 frentes partidárias e isso é um absurdo, não acontece em nenhum outro lugar do mundo. O eleitor brasileiro se adapta bem à essas mudanças e não verá problema em votar fechado.” Já o cientista político Vinicius Werneck pondera que um dos principais pontos negativos é a limitação do papel de eleitor no ato da escolha e aponta outro caminho. “O modelo fortalece os partidos, mas não favorece a aproximação do cidadão com o mundo da política. Enfraquece, portanto, a conexão fundamental entre representado e representante. Um sistema de votação defendido por Jair Nicolau, cientista político e professor titular da UFRJ, é o sistema de lista flexível que une grande parte das vantagens dos sistemas de votação aberta e fechada; seria a alternativa mais viável”, finaliza.
Parlamento Jovem insere adolescentes na cultura política Décima quarta edição do projeto tem como tema “Educação Política nas Escolas”
Por Mateus Bosse Fundado em 2004 pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o Parlamento Jovem(PJ) é um projeto de formação política para estudantes dos ensinos médio e superior dos municípios mineiros. O PJ tem como objetivo despertar os jovens para a cidadania, ensinar o funcionamento das esferas políticas e a distinção dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, além de promover o envolvimento em questões sociais. As seis primeiras edições anuais do Parlamento Jovem foram restritas a Belo Horizonte, mas em 2010, o formato ganhou o interior do estado e hoje está presente em 65 cidades mineiras. A Zona da Mata conta com oito municípios participantes. Juiz de Fora participa do projeto há oito anos, e o coordenador, Sérgio Dutra, conta que a demanda cresceu ao longo do tempo. No início, três instituições de ensino do município eram contempladas pelo PJ. Hoje, após o convite inicial, as escolas realizam inscrição para um
sorteio, que define cinco participantes. No ano de 2017, o Colégio São José/ Instituto Vianna Júnior, Jesuítas, Apogeu, Tiradentes e a Escola Estadual Professor José Freire terão alunos participantes do Parlamento Jovem. A edição de 2017 do Parlamento indica como é importante a presença de escolas participando do movimento. Esse ano o tema é “Educação Política nas Escolas” e os subtemas Educação Política e Currículo; Interações entre Escola e Sociedade na Formação Política dos Jovens; e Educação Política para uma Gestão Democrática e Participativa nas Escolas. A proposta funciona da seguinte maneira. Um grupo de 15 alunos, selecionado para integrar a equipe e debater propostas com semanalmente, se reúne com monitores para a realização de oficinas de estudo sobre o sistema político brasileiro, cidadania e direitos. Assim surgem as primeiras ideias e ao longo do tempo, vão virando ações
Uma instituição que participou de todas as edições é o Colégio dos Jesuítas. Segundo a assessoria da escola é um prazer contribuir de forma tão presente na política. “A entidade acredita que os jovens são a esperança da sociedade e colocá-los no projeto ajuda a desenvolver em cada um deles um desejo de propor mudanças e buscar direitos”, elucidam. Por isso, o encontro dos alunos participantes com os monitores já fica previsto em um horário extra classe, para evitar que material didático seja perdido. Para orientar os estudantes, a UFJF oferece os monitores para acompanhar as discussões. A professora do departamento de Ciências Sociais, coordenadora dos monitores do PJ, Christiane Jales de Paula, conta que os cinco monitores, alunos do curso de Serviço Social da UFJF, preparam um conteúdo didático que engloba a exibição de músicas, documentários e pesquisas para os jovens estudantes. Segundo ela, o projeto tem
como base duas propostas, a ampliação da participação da juventude na política local, estadual e nacional; e a compreensão do funcionamento da democracia representativa brasileira. Christiane cita ainda outra missão do PJ: “ Minimizar a campanha bastante negativa antipolítica muito extremada atualmente”.
Agenda No dia 26 de abril será realizado um encontro regional, com a presença das oito cidades da Zona da Mata, no qual serão realizadas duas palestras, além da elaboração de propostas para as etapas municipal e estadual do projeto.
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economia
Jovens na luta pelo mercado de trabalho Crise financeira e burocracia na hora da seleção são os principais problemas enfrentados por eles Por Elias Arruda
FOTO: ARQUIVO PESSOAL Edilaine está no último ano da faculdade e procura emprego
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Estudar e trabalhar, como é possível? Nem todos os jovens que estudam em universidade pública deixam de trabalhar. Mas no geral os benefícios oferecidos pelas universidades federais facilitam a vida dos estudantes. Para aqueles de baixa renda, as faculdades públicas oferecem um apoio financeiro. Esse valor varia de acordo com cada região. Além disso, os estudantes que recebem menos de dois salários mínimos e meio conseguem acrescentar ao benefício a alimentação e o transporte público gratuitos. Com essa ajuda, eles conseguem se dedicar exclusivamente às tarefas universitárias sem grandes preocupações. Do outro lado, encontramos os jovens que pagam a faculdade e não recebem nenhum benefício para seguir com os estudos. Amanda Neves é uma dessas pessoas. Ela tentou por três anos passar na prova do Enem para garantir uma vaga em uma universidade pública ou conseguir desconto, isenção em uma faculdade particular. Como não encontrava outra alternativa, decidiu ingressar no Ensino Superior através de um financiamento estudantil. Com isso procurar trabalho foi inevitável. Em menos de dois anos no curso de jornalismo ela resolveu fazer um curso técnico de segurança no trabalho e precisou intercalar com a faculdade. O receio de não conseguir uma vaga nas áreas é a maior preocupação da Amanda. “Eu acredito que essa preocupação não seja somente minha. Eu já estou formada em segurança do trabalho onde consegui um estágio e estou no meu terceiro estágio de Jornalismo. Eu acho que o mercado em si não apresenta grandes dificuldades em vagas, o que mais me incomoda é a dificuldade em preencher os requisitos cobrados pelas empresas. No caso do primeiro emprego, por exemplo, é sempre exigido experiência”. Com a falta de tempo Amanda precisou se virar para se sustentar e pagar o curso “Atualmente eu tenho trabalhado com atividades extras em eventos. Eu fiz essa escolha com base nos meus horários vagos e a flexibilidade, já que os eventos geralmente são nos finais de semana.”. Deixando a cidade onde morava e largando a casa dos pais, encontramos a Edilaine Cristina, natural de Belmiro Braga. Para se manter em Juiz de Fora, ela precisou arrumar um emprego em casa de família. A jovem de 25 anos cursa pedagogia à noite em uma faculdade particular. Ela dormia na casa da família onde trabalhava e voltava para a sua cidade nos finais de semana. Com a crise, foi mandada embora do emprego e quase não conseguiu terminar a faculdade, contando com o apoio de amigos para permanecer na cidade. Hoje está no último período do
FOTO: INTERNET
No país da crise, os problemas são intermináveis. Milhares de pessoas endividadas, desempregadas e sem saber por onde recomeçar. Muito se diz quando o assunto é desemprego. Mas até que ponto isso pode nos afetar? Nesse emaranhado de situações, a única certeza que se tem é de que o mercado de trabalho está cada vez mais concorrido. De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o público mais afetado pelo desemprego no país é o de jovens entre 14 e 24 anos. Em média eles somaram 26,36% do total de desempregados do país em 2016. Os que mais foram atingidos com a falta de trabalho foram aqueles que não terminaram o Ensino Médio, somando 21,4% da pesquisa. Além da crise financeira, outro problema encontrado por quem dá os primeiros passos na carreira é a burocracia das empresas. Muitos locais estão treinando profissionais capazes de reconhecer talentos e apostar em novos empregados. Com isso muitos jovens decidiram se renovar academicamente para não ficar de fora do mercado. Matheus de Andrade é um desses jovens. Atualmente ele cursa jornalismo em uma universidade pública e decidiu se dedicar apenas aos estudos. As bolsas oferecidas pela instituição de ensino o ajudam a se manter financeiramente, ainda assim a crise o preocupa “Os impactos macroeconômicos tornam a conjuntura brasileira recessiva, é de se esperar níveis recordes de ausências de cargos, soma-se a isso a crise enfrentada pelo setor no qual desejo atuar”. Na mesma linha está Karinny Almeida de 19 anos. Ela conseguiu recentemente uma vaga no curso de pedagogia da Universidade Federal de Juiz de Fora. Além disso, faz curso técnico de eventos. Somando a experiência nas duas linhas de estudo, ela pretende conquistar um bom emprego e uma vida estável. “Eu não trabalhei ainda, pois quero focar nos meus estudos, mas pretendo fazer trabalhos extras na área de eventos pois já tenho experiência no curso que faço. Espero conseguir um emprego que eu goste em um local onde eu seja valorizada.”
Filas tomam conta do país
curso e já pensa em outras maneiras de se sustentar. “Recentemente eu consegui um estágio na minha área, mas não é remunerado. Por isso eu pretendo fazer alguma coisa extra, em horário alternativo.” Assim como a Amanda, Edilaine vê nas exigências do mercado uma pedra no caminho. O futuro, mesmo incerto, faz do presente um pesadelo. “Fico preocupada por não saber se vou permanecer na minha área de formação. Quero um bom futuro na minha carreira, preciso me estabilizar e ser uma grande profissional.”
E o futuro? Ainda é incerto o rumo pelo qual o país tem caminhado. A crise que atinge todos os públicos se torna cada vez mais intrigante quando se observa os passos da política nacional. Se está
complicado para aqueles que cursam o ensino superior, imagina para aqueles que não estudam e nem trabalham, a geração conhecida como “nem, nem”. Na última pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 22,5% dos jovens entre 15 e 29 anos se encaixavam nessa situação. Ainda de acordo com a pesquisa, diante de uma crise financeira os jovens são os que mais demoram para se recuperar. Por isso é preciso ir cada vez mais fundo no conhecimento do que espera o mercado. Na nova Era Digital, é possível driblar as barreiras da crise. Usando a tecnologia é possível estudar um conteúdo ou uma atividade através da internet e também criar um meio alternativo para se ganhar dinheiro online. Mas a juventude não espera só isso, ela espera se orgulhar da escolha que fez e do país em que ela está.
economia
Páscoa é oportunidade de renda extra para pequenos empreendedores É possível criar uma linha de produção em casa, com vários tipos de ovos e chocolates e que consiga agradar qualquer clientela
Por Nayara Carvalho
e comecei a fazer para a minha família. Então as pessoas começaram a sugerir que eu vendesse. Passei a vender bombons na faculdade e percebi que as pessoas gostavam. Então comecei a comercializá-los.” De acordo com Aline, nesta época do ano, a renda dela quase dobra. E, para fugir do tradicional, ela oferece aos clientes um diferencial: ovos recheados. “A pessoa pode escolher o sabor entre brigadeiro, coco, maracujá, limão, paçoca, nozes e morango. Pode optar também por fazer cada metade com um recheio ou de um tipo de chocolate – ao leite, meio-amargo ou branco”, enfatizou. De acordo com o economista João Roberto Corrêa, a produção de ovos caseiros cresceu bastante nos últimos anos, tornando-se uma opção para quem quer ganhar renda extra e caindo nas graças do consumidor pelo ótimo custo/benefício, pela diferenciação dos ovos tradicionais e pelo toque gourmet. “Mesmo com a vasta diversidade de ovos de Páscoa nos mercados, muita gente prefere os produtos feitos de maneira artesanal. A busca por ‘chocolate de verdade’ aquece os pequenos negócios, além da maior simpatia pelo carinho e o cuidado que cada detalhe que esses ovos caseiros inspira.” Segundo João Roberto, para engrandecer o negócio rapidamente, é importante saber
vender a mercaadoria, e, para isso, é preciso agradar o cliente. “Uma estratégia fundamental é apresentar o produto. Criar ovos de tamanhos diferentes, com embalagens diferentes e até personalizados. É importante que tudo seja fotografado e apresentado em um mostruário”. O economista também enfatiza a importância de tomar cuidado para não sofrer prejuízos. “Na hora de aceitar as encomendas, a dica é pedir de 20% a 30% de sinal para o cliente. Isso possibilita que a matéria-prima seja Ovos caseiros estão entre as opções mais procuradas para presentear na garantida e que não haja Páscoa. Na foto, ovo feito pela estudante Lara Ferreira prejuízos futuros, e aí basta partir para o trabalho.” Agora a jovem espera vender o dobro. “Em 2016, as pessoas procuravam Yohana Freitas, 18, estudante, também ovos caseiros pelo valor, que estava bem encontrou na produção de ovos caseiros uma forma de conseguir renda extra em mais em conta do que ovos industriais e, um curto período. Motivada pelos altos muitas vezes, eram bem maiores. Mas, preços dos ovos industrializados, em 2016, em 2017, os consumidores estão sendo ela uniu força de vontade para empreender atraídos pela qualidade dos produtos, que com talento e conseguiu vender 80 ovos. é excelente e surpreende”, garante Yohana.
FOTO: NAYARA CARVALHO
A proximidade da Páscoa é uma oportunidade de ganho extra para vários juiz-foranos. Muita gente planeja ganhar aumentar a renda com a produção e venda de ovos caseiros, como a vendedora Lara Ferreira, 21 anos, que começou a produção dos chocolates antes mesmo do carnaval. “É importante fazer com antecedência. Eu comecei nesse ramo tem pouco tempo, então isso é bom para as pessoas irem conhecendo meu trabalho e fazendo os pedidos antes. Senão chega na semana da páscoa, elas correm o risco de não acharem mais nada”, brincou. A jovem aposta em novidades: ovos de colher, trufados, em forma de coração e colheres e coelhinhos feitos de chocolate. “Essa é a época do ano em que mais se vende chocolate, então é importante investir em novidades. Já estou com muitas encomendas, e os mais procurados são os ovos de colher e os trufados”, contou. Os preços dos ovos artesanais feitos por Lara variam de R$ 35 a R$ 60, dependendo do gosto do cliente. A estudante Aline Castro, 23, também aproveita essa época para lucrar. Ela começou a comercializar ovos artesanais em 2008, como uma forma de ganhar uma renda extra. “A ideia surgiu de uma forma inesperada. Aprendi a fazer ovos e bombons
Com dólar perto dos R$ 3, brasileiros gastam 74,8% mais no exterior
Segundo o Banco Central, o primeiro bimestre do ano representou um aumento considerável do gasto no exterior. Do outro lado, previsão de saldo de viagens segue negativo, com déficit estimado de 12,5 bilhões Por Enrico Monteiro Os brasileiros estão ficando mais confiantes para viajar ao exterior. Segundo balanço divulgado pelo Banco Central, o gasto em viagens para fora do país no primeiro bimestre foi de US$ 2,9 bilhões, um aumento de 74,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Este número representa uma melhora da economia, visto que o índice de 2016 havia sido o pior desde 2009. Em janeiro, o gasto brasileiro foi de US$ 1,578 bilhão em viagens internacionais, um aumento de 87,8% em relação ao mesmo mês do ano anterior; já no mês seguinte, o valor foi de US$ 1,36 bilhão, 61,7% mais que fevereiro de 2016. Para esse resultado, o dólar é o principal influenciador. Em 31 de janeiro do ano passado, um dólar valia R$ 4,00 e fechou o mês de março deste ano em R$ 3,13, uma queda de 21,75% em 15 meses. Para o economista Guilherme Ventura, todos esses números são influenciados pela diminuição do dólar e representam também uma melhora da economia nacional: “É um somatório das duas coisas, porque o dólar mais baixo aumentou a viabilidade das passagens, das estadias, que tiveram valores menores. Junto com isso, há uma melhoria da confiança do consumidor.” Guilherme também explica que é necessário esperar para ver se esse aumento será
consolidado. Segundo ele, “qualquer aumento significativo poderá ser identificado só daqui a um tempo. As taxas estão altas, porém a base é muito fraca, pois estávamos no fundo do poço quanto às viagens internacionais”.
Aumento das viagens Com a queda do dólar, além do aumento dos gastos fora do país, a procura por viagens ao exterior também aumentou. Segundo a sócia da DCTur Agência de Viagens, Mônica dos Santos, as pessoas estão voltando a sair do Brasil: “As viagens nacionais venderam mais no ano passado, já neste ano, o número de viagens internacionais se sobressaiu.” Ela comenta também sobre o planejamento para as próximas férias de julho, quando as viagens aumentam por conta do recesso escolar. Segundo Mônica, “a procura está muito alta, está ficando até difícil achar vaga.” A fotógrafa e estudante de jornalismo, Thamíris Macedo, viaja frequentemente para o exterior e conta que, nos últimos meses, passou a observar mais brasileiros em seus destinos: “Com o dólar mais em conta, as empresas de
turismo conseguem oferecer promoções mais interessantes e mais acessíveis, conseguindo aumentar a ida dos brasileiros para o exterior. A gente encontra brasileiro em qualquer rua ou restaurante quando estamos fora”. Ela conta que, com o preço do dólar mais baixo em relação ao ano passado, consegue comprar mais equipamentos para exercer sua profissão e que a diferença entre os preços brasileiros e estrangeiros é muito alto: “Eu aproveito alguns destinos para conseguir comprar equipamento de trabalho com preço bem mais em conta, já consegui economizar mais de R$ 3 mil em uma só câmera. Chega a ser gritante a diferença.”
Déficit Apesar dos gastos brasileiros terem aumentado, o déficit no saldo de viagens segue alto. Segundo o Banco Central, os estrangeiros gastaram US$ 1,20 bilhão no Brasil no primeiro semestre, o que representa um déficit de US$ 1,75 bilhão de dólares em relação ao que o brasileiro gasta fora do país. Com esse número, a previsão do saldo negativo foi atualizada, saindo de 10,5
bilhões de dólares para 12,5 bilhões. Em entrevista coletiva no final do mês de março, o chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Fernando Rocha, analisou esses números e destacou a alteração cambial como um dos fatores para esse aumento. “A apreciação do câmbio, na comparação interanual é significativa. Isso barateia a viagem de turistas brasileiros ao exterior e tem, como consequência, um aumento nas despesas líquidas de viagens”, analisa Fernando. Para Guilherme Ventura, não existe uma solução fácil para se aumentar o fluxo turístico do país, considerando que “é um trabalho de médio e longo prazo, com a agenda bastante longa. Precisaria de segurança pública, uma infraestrutura melhor dos aeroportos e dos portos, junto com uma veiculação melhor de imagem do Braisl no exterior e parcerias comerciais mais fortes.” Ele também lembra que o Brasil recebeu dois dos maiores eventos esportivos nos últimos anos, e que isso poderia ser melhor aproveitado. “Poderíamos usufruir melhor das questões quanto à Copa do Mundo e às Olimpíadas, mas, mesmo assim, necessitaria de um grande conjunto de itens”, finaliza.
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comportamento
Racismo: ainda precisamos falar sobre Debate promovido pelo DCE alerta para a apropriação cultural, muitas vezes institucionalizada pela sociedade Por Anna Carolina Cavalcante A palestra “Racismo, Apropriação Cultural e Sistema de Cotas” foi realizada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) com o intuito de esclarecer (ou escurecer, como dito por uma das palestrantes) e discutir sobre os temas. O evento, realizado no dia 4 de abril, aconteceu no Anfiteatro de Direito, tendo a participação de representantes de coletivos, alunos e professores que estudam e militam por estas causas. Os debates tiveram a apropriação cultural como principal foco. “Ela acontece quando uma cultura dominante se apropria de elementos de uma cultura subalterna sem referenciá-la e sem lembrar de seu significado simbólico”, elucida a professora Giovanna Castro, também integrante do Coletivo Candances, que integrou a mesa de debates. Um dos exemplos citados por ela foi o caso da cantora Madonna. Ela fez sucesso ao lançar sua música Vogue, sendo considerada percursora da dança que leva o mesmo nome, mas que foi criada por jovens negros da periferia de Nova Iorque.
Também foi lembrado o caso de Carmem Miranda, que virou um ícone internacional como representante da música brasileira. No entanto, era uma mulher branca e portuguesa, que foi vestida com símbolos nacionais, como a roupa colorida, os badulaques e a banana Camilo Azarias, que também integrou o evento, faz um paralelo com sua área – a saúde – para explicar apropriação cultural: “Costumo associar a apropriação cultural com a fagocitose, onde uma célula maior e mais bem estruturada ‘engole’ as mais frágeis. O capitalismo e o neocapitalismo impulsionam esse movimento de aglutinar o que é de alguma forma atrativo para o consumo, descartando a riqueza de significado desse objeto cultural.” Para Giovanna, a ver com raça biológica, tem a ver com construção social.Ele está intrínseco na ideologia brasileira e presente no cerne das nossas relações cotidianas”. Além disso, a professora diz que a apropriação cultural é diferente de intercâmbio cultural.
Esse último é um fenômeno muito frequente e acontece quando duas culturas trocam elementos entre si, no mesmo nível, ou seja, sem nenhum dos sujeitos estar em segundo lugar. Quando você come comida japonesa, não está se apropriando dessa cultura. Também existe um fenômeno chamado “assimilação cultural”, que ocorre quando um grupo marginalizado se vê obrigado, para sobreviver, a incorporar elementos da cultura dominante. Foi isso que aconteceu com os índios, por exemplo.
Debate no cotidiano Letícia Silva, estudante de Jornalismo, diz que o racismo é um tema que deve ser abordado em todos os espaços, justamente por estar presente em todo lugar. “É importante trazer essa discussão pras alunas e alunos da Universidade para que seja estimulado o pensamento crítico e a reflexão. Quando se reconhece o que é o preconceito racial, é possível
articular maneiras de intervir na realidade. Também acho importante que isso saia dos muros da Universidade; que essa discussão seja trazida para o cotidiano da cidade, de maneira a envolver toda a população e incentivar que se mobilizem no combate ao preconceito.” Apesar de ter sido esse o grande objetivo, no evento a maioria dos presentes era negra. O que entra em confronto com a afirmação dada por Natália Romualdo, do canal do Youtube Papo de Preta. As pessoas querem debater e dar sua opinião, mas não se preocupam em se informar sobre as questões propostas na discussão. Talvez esse seja mais um aspecto da opressão sistemática que os negros sofrem. “As pessoas têm que estar dispostas a pesquisar”, critica Natália. “As pessoas não têm conhecimento e, mesmo assim, querem desligitimizar o nosso discurso.” Já Maristela Rosa lembra que “se as pessoas brancas sabem que é impossível viver sem troca, os negros também sabem. Mas as pessoas já estão predispostas a não ouvir”, pontua.
UFJF promove evento de discussão sobre diversidade e ações afirmativas
Com o objetivo de implantar políticas de ações afirmativas dentro da universidade, seminário reúne nomes de diferentes institutos federais que lideram esses movimentos Por Vitória Gonçalves
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representantes do Fórum Permanente de Políticas Afirmativas da UFJF. Esse Fórum será criado para que as discussões que permeiam a diversidade sejam constantes e com maior capacidade de articulação. Além disso, será elaborada a Política de Ações Afirmativas da Universidade. Segundo o diretor de Ações afirmativas da Universidade, Julvan Oliveira, o objetivo desse Fórum é promover e debater as ações afirmativas no âmbito acadêmico: “A nossa intenção é que neste fórum sejam pensadas políticas afirmativas da Universidade. O foco é justamente no nosso público, que são as minorias negra, indígena, LGBTTI, mulheres e pessoas com deficiência”. Durante o seminário, TAE’s, discentes e docentes puderam participar e integrar as discussões que trataram de assuntos como acessibilidade, identidade de gênero, diversidade étnico-racial, direitos humanos e vulnerabilidade social. O evento que estava programado para os dias 08 e 09 de novembro de 2016, foi adiado por conta das movimentações de greve de servidores e docentes na UFJF.
FOTO: ALEXANDRE DORNELAS
O evento “Diversidade na UFJF: integrando as Ações Afirmativas”, contou com a participação de professores de diversos departamentos da UFJF e outras Universidades Federais, envolvidos na discussão de direitos de minorias e na presença e importância da pluralidade no ambiente acadêmico. Entre eles, o Pró-reitor Adjunto de Assuntos Estudantis e Coordenador do Programa de Ações Afirmativas da UFMG, Rodrigo Ednilson de Jesus, e o Coordenador Administrativo do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da UFOP, Adilson Pereira dos Santos. Iniciativa da Diretoria de Ações Afirmativas da UFJF (DIAAF), em parceria com a Pró-reitoria de Assistência Estudantil e Pró-reitoria de Graduação, se deu a partir da necessidade de se discutir tais temas e com todas as pessoas envolvidas com a Universidade. A programação contou com conferência, palestra e grupos de trabalho (GT’s) em diferentes temas, com participação de professores da UFJF e de outras instituições. Dos grupos de trabalho, sairão os
A partir das discussões, será implantado o fórum da diversidade para que o assunto seja amplamente e continuamente discutido na universidade
Reitor da Universidade, Marcos David ressaltou a importância que o tema tem dentro da sua gestão: “Quando a Universidade estabelece medidas neste sentido, isso nos traz desafios. Temos muito o que avançar
e, mais do que o acesso ao ensino, é preciso garantir a permanência de alunas e alunos. Acreditamos que, com a realização do fórum, poderemos construir coletivamente uma política de ações afirmativas para a UFJF”.
comportamento
Os 13 Porquês: a importância e os perigos de se falar de suicídio Nova série da Netflix traz temas polêmicos, como bullying e depressão, e propõe debates nas redes
Por Thaís Mariquito Uma jovem de 17 anos, com vida aparentemente perfeita, normal e feliz. Essa era a visão que se tinha de Hannah Baker, a personagem principal da nova série da Netflix, Os 13 Porquês (13 Reasons Why). Mas a história começa de um ponto mais incomum em produções para adolescentes: o suicídio dela. Mais precisamente, os 13 motivos que a levaram a tirar a própria vida, listados e gravados em fitas K7 e que, já no primeiro episódio, são entregues ao seu melhor amigo e co-protagonista, Clay Jensen. A série é uma adaptação do livro homônimo de Jay Asher (lançado no Brasil pela editora Ática) e, desde sua estreia na plataforma, em 31 de março, tem sido um dos assuntos mais comentados na internet. Com uma narrativa que mistura presente e passado, a série aborda, no decorrer de seus 13 episódios, temas como bullying, sexualização e objetificação do corpo feminino, violência sexual, física e psicológica, homofobia e depressão, além do suicídio. Para a psicóloga Diéssica Sales, é importante que a sociedade trate desses assuntos, uma vez que “Ela [a mídia]
tem uma presença muito forte e um papel muito grande no nosso dia-adia e, portanto, pode criar e reproduzir situações de preconceito e exclusão, bem como criar oportunidades de reflexão e debate. O importante é fazê-lo de forma honesta – ou seja, tentando representar aquela realidade com fidedignidade, respeito, atenção e sem reprodução dos estereótipos”. Porém, ela alerta para algumas possíveis consequências: “A série atua como uma faca de dois gumes. A hiperidentificação com a personagem pode fazer com que jovens decidam tirar a própria vida. Por isso, quando se pretende fazer uma produção com um tema tão delicado, é preciso que seja com cuidado, assim, o resultado tende a ser mais positivo. Entretanto, infelizmente, não é possível controlar como vai ser a reação de todas as pessoas que assistirem.” Segundo relatório de 2014 da Organização Pan-Americana de Saúde/Organização Mundial de Saúde (OMS), um suicídio acontece a cada 40 segundos, e essa já é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a
29 anos no mundo todo, ficando atrás apenas de fatalidades no trânsito. Ainda segundo a organização, o Brasil já é o 8º país com o maior índice de suicídio, e a faixa etária entre 10 e 19 anos é a que mais cresce nessa estatística. Apesar disso, a série parece estar produzindo resultados muito positivos: A hashtag #NãoSejaUmPorque, criada pelos fãs da série para debater os assuntos abordados e promover reflexões acerca de doenças mentais, chegou a ser um dos assuntos mais comentados do Twitter nos dois dias seguintes à estreia da produção. Além disso, o Centro de Valorização à Vida, que há 55 anos atua com voluntários na prevenção do suicídio no Brasil, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo, em reportagem do dia 11 de abril, que, desde a estreia da série, os pedidos de ajuda ou conversa enviados por e-mail aumentaram em 445%. De uma média de 55 e-mails diários, nos primeiros dias de abril esse número subiu para mais de 300. Na semana passada, ao menos 100 pessoas mencionaram a série. Houve ainda alta de 170% na média diária de visitantes únicos no site.
Circo sai do picadeiro e invade as academias Em Juiz de Fora, atividades circenses atraem quem quer se divertir enquanto se exercita FOTOS: BÁRBARA GUIMARÃES
Por Bárbara Guimarães
Alunas praticam atividades que envolvem concentração, força e equilíbrio, em mais um dia de aula
Alô alô respeitável público, preparese porque o circo vai começar. Só que, nesse caso, não é no picadeiro não. Em Juiz de Fora, algumas academias estão explorando uma nova atividade para quem quer perder peso e ganhar uma consciência corporal. Isso mesmo. Tem trapézio, fita, tecido acrobático e malabarismo . Tudo isso é ensinado na academia da Déborah
Lisboa, professora de Educação Física, formada pela UFJF e apaixonada pela arte circense desde sempre. Quando saiu da faculdade, percebeu que podia unir as duas coisas e, há dez anos, vem colhendo os resultados, com a academia cada vez mais cheia de alunos. “Dentro da Educação Física, eu vi o tanto que a área precisava dos movimentos que o circo poderia
Nathalie Guimarães, 29, é jornalista e aderiu às atividades circenses como forma de se exercitar. Ela conta que há dois anos levou um susto em sua primeira aula, com medo de não dar conta de realizar todas as acrobacias. Hoje ela se orgulha das conquistas. “O que mais te motiva no circo é saber que a cada aula você faz algo novo, você supera seus limites,” comenta a aluna. A atividade circense é vista com bons olhos até na área da psicologia. Segundo a psicóloga Denise Braga, atividades capazes de unir Nathalie realiza um dos exercícios mais difíceis da aula: a fita mente e corpo são as mais procuradas atualmente, proporcionar,” comenta a professora. isso porque conseguem trazer mais Segundo ela, as pessoas não estão equilíbrio dentro da atual rotina carentes só de movimento, mas sim corrida que todos vivem. “É muito de alegria. “Os alunos da academia importante as pessoas perceberem ganham autoestima, conseguem que atividade física tem que somar reunir mente e corpo”, elucida. E na rotina e não gerar uma obsessão, essa é a principal explicação para por isso o circo une brincadeira e o grupo misto com mais de cem bem-estar,” explica a especialista. Por isso, se você ficou curioso alunos. São crianças desde os 3 anos de idade, até idosos, com mais de 60. aproveite, o picadeiro é todo seu.
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comportamento
Liberdade e Diversidade na República Virtual (LDRV)
Grupo criado no Facebook une os nomes do Krismara, bar popular de JF, e as iniciais da cantora Lana del Rey, com o objetivo de ser o espaço da diversidade, do diálogo e do humor Por Leo Barbosa FOTO: LEO BARBOSA
Um grupo no pode ter um alcance Facebook, o “LDRV enorme. Tem muito JF”, tem ganhado a entretenimento e atenção dos jovens de diversão, mas também Juiz de Fora. Criado já vi postagens para unir pessoas de relevantes de utilidade diferentes segmentos pública, como pedido sociais que estão na rede, a de doação de sangue comunidade virtual possui e de cadeira de um público muito variado rodas, por exemplo”. e reúne pessoas de faixas A socióloga Beatriz etárias distintas, a maioria Basto Teixeira, jovem e universitária. ao explicar esse Inicialmente, o grupo juizfenômeno identitário forano levava a marca de no mundo virtual, cita um bar popular da cidade um autor britânico. em seu nome (LDRV “Anthony Giddens Krismara). Devido a um tem um livro chamado episódio de homofobia, Consequências da que teria ocorrido Modernidade, em no estabelecimento, que ele escreve sobre a sigla do grupo foi isso. As comunidades atualizada recentemente virtuais são formas A criação do LDRV JF contemporâneas veio de um outro grupo de as pessoas se nacional, o Lana Del Rey encontrarem, Vevo (LDRV), que surgiu c o n s t r u í r e m há dois anos e, desde o seu Em menos de dois meses de criação, o LDRV Krismara chegou aos dois mil membros com taxa de engajamente proporcional ao grupo nacional projetos juntas, se nascimento, foi ganhando vincularem em torno de movimentos O moderador do grupo, Pedro Oliveira, a me valorizar, me conhecer e a me sentir ramificações pelo país. Tudo inspirado no acredita que entre os membros exista uma mais segura sobre as atitudes que eu tomo”. sociais e objetivos comuns”, disse. canal da cantora estadunidense, idolatrada “Se a gente for pensar de uma forma de identificação cultural, mas que Para o analista de marketing, Leonardo pelo público LGBTTIQ, a quem atribuem a maneira geral, sem entrar no detalhe da cada um traz consigo a sua vivência e que Alves, “o grupo é um ótimo passatempo, famosa frase da internet: “Eu queria estar isso ajuda a fortalecer movimentos sociais. há muita interação. As pessoas postam especificidade de cada grupo social e de morta”. “A intenção é unir diversas tribos “Indiretamente, eles acabam se fortalecendo. as mais variadas histórias, “as tours”, e cada comunidade virtual, sem dúvidas, em um lugar onde as diferenças sempre Dentro do grupo, há uma forte política você acaba se identificando e comentando as redes sociais estão fornecendo meios prevalecem e precisam ser respeitadas”, contra os sistemas de opressão (racismo, algumas, gerando uma espécie de grande de as pessoas conviverem mais e melhor explica o fundador Bruno Bomtempo. machismo e LGBTfobia). Cada um é quem conversa. Uma vez que o grupo reúne e se encontrarem com aquelas com Depois de uma pergunta sobre quem era é, sem se preocupar com comentários milhares de pessoas, uma publicação quem elas têm afinidades”, completa. de Juiz de Fora e após diversas respostas pejorativos. Isso faz com que as pessoas no grupo nacional, Bomtempo criou a encontrem outras iguais a ela”, ressalta. comunidade virtual para facilitar o diálogo A opinião do moderador também é e o entrosamento entre juiz-foranos e compartilhada entre os membros. “É um moradores da cidade. Embora os grupos • Ata e/ou anotado more: significam “eu entendi o que você falou, mas não dou a espaço onde a gente se diverte e conhece sejam voltados para o público LGBT, todos mínima” pessoas que gostam das mesmas coisas. Dá podem participar, desde que respeitem a para paquerar e até arrumar uns “crushes”. • Berro e/ou grito: algo muito engraçado que faz rir descontroladamente. diversidade. Para ser membro, é necessário O objetivo não é militância, é um grupo • Close errado: Quando alguém faz, fala ou posta algo considerado opressivo ou com ser convidado por alguém que já faça parte. de humor para as pessoas interagirem, um sentido negativo. O grupo nacional tem cerca de 340 mil mas a gente acaba aproveitando para • Crush: Paixão não correspondida ou aquela que ainda está se desenvolvendo. membros; nele há conteúdos que ultrapassam conscientização. Essa linguagem que é • Embuste: mentira, algo que não serve pra nada, também usado para pessoas que não as dez mil curtidas, recebem mais de 20 mil característica, entre outras coisas, faz com que são legais. Ex: George é o maior embuste. Nesse sentido, George é um babaca. comentários e muitos compartilhamentos. a gente crie uma certa aproximação e se veja • Gore: Usada como um alerta, vem dos subgêneros dos filmes de horror que significa O LDRV JF ainda é meio tímido, mas está nas postagens das outras pessoas”, afirma a uma imagem nojenta,repulsiva ou chocante. crescendo rapidamente. Com pouco mais de estudante de comunicação Ana Flávia Alvim. • Mana: Semelhante à irmã, usado para pessoas vindas de um mesmo grupo. Uma dois meses de existência, a comunidade local já chegou a quase dois mil participantes, com espécie de vocativo, a maioria das postagem começa com este termo. taxa de engajamento é proporcional a do • More: semelhante a mana, abreviação de amore, significa pessoa amada. Ex: Mores nacional. O grupo local já possui até evento vocês são muito lindas. Também é usado em tom de deboche. Ex: Não sou gostou, sai do programado para acontecer no Muzik. A jornalista Júlia Ramiro conta que grupo more. Em espaços como este, o uso de memes e amigos comentavam sobre grupo no • Pisar: Quando algo ou alguém é muito bom no que faz , quando se sobressai em gifs é corriqueiro e, no LDRV, não é diferente. trabalho. Curiosa, pediu para ser adicionada, alguma situação. Ex:Quando a Lady Gaga se apresentou no Super Bowl, ela pisou com sua Provavelmente os internautas participantes desde então tem se descoberto. “A troca performance. percebem em suas timelines, expressões de experiências que ele proporciona é • Pisa menos: variação de pisar, usada quando uma coisa é muito boa, normalmente como “pisa menos”, “close errado”, “berro” muito grande. Conheci gente que passa acompanhada de “Eu te imploro”. Ex: Eu amo Netflix. Pisa menos Netflix, eu te imploro! ou “sapão”. Para especialistas, essas gírias por situações e problemas semelhantes • Pisão: Quando alguém é esculachado. que surgem em contextos específicos na aos meus. Ele traz uma sensação muito • Sapão: Pessoa bonita, o termo surgiu de um diálogo da novela Os Mutantes, da TV página ganham força na internet e também grande de que não estamos sozinhos e não Record. no cotidiano real, criando, a partir daí, precisamos enfrentar nada sozinhos. As • Tour: É quando um post viraliza no grupo, normalmente a tour recebe muitos neologismos linguísticos, fortalecendo pessoas realmente se ajudam, e essa é a comentários e se torna sucesso entre os membros do clube LDRV. traços culturais presentes no grupo. melhor parte. O LDRV tem ajudado muito
A língua das manas
LDVR é close certo
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cultura
A dura mania de ter fé na arte
Companhias teatrais de Juiz de Fora enfrentam dificuldades e a falta de local para se apresentarem. Um exemplo é o Espaço Mezcla, que hoje mantém atividades sem sede própria FOTO: ARMANDO JÚNIOR
Por Armando Júnior
Marcos Marinho prepara OandarDeBaixo para uma série de apresentações que o grupo Mezcla faz em abril
Teatro, montagem de peças, ciclo de leituras, oficinas, palhaços, muita música e poesia... esse era o Mezcla, um espaço onde a efervescência cultural latino-americana encontrava seu lugar em Juiz de Fora. O local deixou de existir em 2013, mas o grupo continuou na ativa. A agora Companhia Mezcla cortou suas raízes e criou asas, fazendo sua arte para o mundo inteiro ver. O diretor e ator de teatro, Marcos Marinho, conta que esse espaço fazia parte de um sonho de ter um lugar onde pudesse fazer suas peças e receber os amigos para se apresentarem. Marcos destaca as dificuldades de não ter mais um local próprio para o grupo: “A gente tem muita tralha para guardar; equipamentos de luz, figurino, toda a parafernália que o teatro exige, e não ter um ponto fixo dificulta.” Desde que fechou suas portas, a companhia conta com o apoio da Sociedade Filarmônica de Juiz de Fora e outros parceiros nessa logística. Uma das ações que o Mezcla desenvolvia, por exemplo, era um intercâmbio com companhias e artistas de outras cidades. Nesse sentido, Marcos ressalta a dificuldade de trazer grupos de fora para cá: “Antes bastava a gente se organizar e pronto. Agora, dependemos da agenda desses espaços que nos abrigam.” Nesse mês de abril, o Mezcla comemora 15 anos de história com uma série de apresentações n’OAndarDeBaixo, uma casa independente de incentivo e promoção à arte local. A programação conta com algumas propostas, como peça, teatro lido, café filosófico e
cabaré de palhaços. A comemoração traz ainda uma exposição que conta a trajetória do grupo ao longo dos 12 anos onde a casa 720, da Rua Benjamin Constant, era um ponto de encontro artístico e cultural da cidade.
Nem tudo são flores... O Espaço Mezcla, fechado há três anos, deu lugar a um prédio. Foramse as paredes, ficaram as histórias. Sem grandes públicos, os espaços culturais independentes de Juiz de Fora encontram dificuldades porque seus orçamentos são modestos e mal pagam seus custos de manutenção. É o que destaca Vinicius Cristóvão, sócio criativo d’OAndarDeBaixo: “É muito difícil manter um espaço como esse. Muito difícil porque precisamos de dinheiro, principalmente para pagar aluguel, luz, água, internet”. No cenário teatral há um ano com “O Andar”, Vinicius considera que uma saída para esses artistas é o trabalho colaborativo, mas ressalta também a importância de o poder público apoiar os espaços independentes, uma vez que ele cria a credibilidade para que a sociedade também acredite nesse projeto. “Nós artistas temos toda capacidade de criar canais para chegar a esse público, mas é preciso que o poder público entre como parceiro com o aporte financeiro ou logístico”, completa. O professor de teatro e idealizador do espaço Sala de Giz, Felipe Moratori, avalia que os obstáculos são resultado
de qualquer atividade empreendedora, pois “é preciso entender qual o público e atraí-lo. As dificuldades estão em estabelecer valores aceitáveis que sejam justos para a companhia e para o público. Felipe salienta ainda a necessidade de reconhecer o lugar desses espaços dentro do panorama local, ressaltando também a importância da articulação com outros artistas e com o poder público. Juiz de Fora conta com alguns teatros administrados em sua maioria pela UFJF, como o Cine Theatro-Central, o Centro Cultural Pró-Música e o Fórum da Cultura. No entanto, esses espaços nem sempre abrem suas portas para receberem os pequenos produtores. Marcos Marinho cobra que os espaços geridos pela UFJF sejam oferecidos para os artistas: “Se eu não tiver meu espaço particular, eu não tenho nenhum espaço público em Juiz de Fora onde eu possa ter horários para ensaiar e guardar o meu material. Essa é a grande dificuldade.” A Pró-Reitoria de Cultura da UFJF é responsável pela administração do Cine-Theatro e do Pró-Música e, segundo a instituição, esses espaços são disponibilizados aos artistas interessados através de chamadas públicas. A Universidade abre edital de ocupação do qual pequenas, médias e grandes companhias podem participar. Segundo a pró-reitora, Valéria Faria, o momento é desfavorável porque os teatros passam por alterações estruturais que dificultam sua utilização. “O Pró-Música, que eu considero
que vai desde o experimental até os profissionais, precisa de uma grande reforma ainda a ser realizada. Esse é um espaço que está interditado e vai ficar por uns bons meses.” Valéria destaca que o Cine-Theatro, por exemplo, é um espaço grande, com capacidade para duas mil pessoas, o que foge desse experimentalismo dos pequenos grupos, mas ressalta que a as companhias precisam do apoio da UFJF: “Estamos totalmente abertos a esses grupos”.
Lei de incentivo Aos pequenos produtores e artistas da cidade resta recorrer às leis de incentivo à cultura que destinam verbas por meio de editais públicos. Em Juiz de Fora, a Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura, através da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), atua na distribuição desses recursos para a produção cultural na cidade. No entanto, os valores repassados para a lei vêm caindo desde 2014. Naquele ano, o montante destinado era de R$ 1,1 milhão. Já em 2015, foram investidos R$ 850 mil. Em 2016, esse valor foi de R$ 750 mil. Com relação ao apoio de espaços para as companhias, a Funalfa afirma que mantinha convênio com lugares, como o Diversão e Arte e a Sociedade Filarmônica, para viabilizar locais para que produtores culturais possam realizar eventos. Segundo a Assessoria da Fundação, um novo contrato para a viabilização de espaços está sendo estudado.
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cultura
Glória Perez traz de volta o merchandising social para o horário das nove Além de entretenimento, telenovelas ultrapassam a barreira da ficção e se aproximam da realidade
FOTO: DIVULGAÇÃO GLOBO
Por Luís Felipe Cardoso
Confronto familiar é um dos pontos altos de “A Força do Querer”
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midiático e reúne cerca de 100 milhões de brasileiros diariamente na frente da televisão. Durante os meses de exibição, o tema passa a ser amplamente debatido e, mesmo após o fim da novela, o objetivo foi cumprido. Para o pesquisador em teledramaturgia Guilherme Moreira Fernandes “a telenovela é um entretenimento, não é um documentário ou um programa educativo. Temos que ter isso sempre em mente, mas se ela tem tanta força na sociedade, porque não cumprir um papel educativo? Não acho que a novela tem essa obrigação, mas acho que ela faz isso muito bem.” Usar a dramaturgia para retratar problemas sociais é um recurso utilizado há muito tempo e por diversos autores. A própria Glória Perez tem seguido firme nessa linha e usado suas tramas para um viés social. Em sua última novela, “Salve Jorge”, a novelista falou sobre o tráfico de pessoas, levando o assunto a uma ampla discussão. Sobre homossexualidade, por exemplo, Guilherme Fernandes explica que a questão tem sido retratada de forma mais direta, sem subterfúgios e destaca produções que abordaram o assunto: “Brilhante, em 1981, tratou muito bem o tema, com profundidade, mas nem todo mundo
Além da novela das nove... Prever como o público vai reagir é improvável. Um texto produz várias reações diferentes, e um dos fatores decisivos para isso é a forma como o tema foi abordado. A atriz Marcia Falabella comenta que é
possível contar a mesma história de várias formas diferentes. “Alguns trabalham isso de maneira seca e direta, outros trabalham de maneira poética, que apresente o conflito, mas o herói vai achar um alento, e não mostrando necessariamente o lado negro do problema”. Ela ainda ressalta que, se ao menos uma pessoa for atingida pelo o que foi dito, o trabalho de transformação já foi realizado. Desde que começou a escrever, Glória Perez se destaca por usar o “merchandising social”. Para o pesquisador em teledramaturgia, Guilherme Moreira Fernandes, o trabalho da novelista é muito importante: “A Glória Perez é uma das que tratam temas com maior profundidade, deixa de ser uma simples ação pontual para virar uma campanha. É uma autora que divide muito a opinião, não só pelos temas tratados, mas pela forma como ela conduz a novela.” Em 1995, a novela Explode Coração, escrita por Glória, ganhou destaque nos programas jornalísticos por incluir em suas tramas o drama das crianças desaparecidas e a exploração do trabalho infantil. Misturando a ficção com a realidade, a novela levava ao ar cenas reais de mulheres que estão à procura dos filhos desaparecidos, as Mães da Cinelândia. Ao todo, 60 crianças foram encontradas durante a campanha, que trouxe a visibilidade necessária ao assunto. A grande repercussão estimulou várias empresas a participar da campanha. Fotos de crianças desaparecidas foram impressas em bilhetes de loteria e em diversas embalagens. Mais recentemente, em 2013, depois de assistir à novela “Salve Jorge”, uma mãe denunciou a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, após receber uma ligação da sua filha, que estava na Espanha. A jovem mantida presa, era obrigada a ter relações sexuais com clientes de uma boate. Salve Jorge é lembrada pela intensa campanha contra o tráfico de pessoas. FOTOS: DIVULGAÇÃO GLOBO
Drogas, violência, prostituição, homossexualidade, transexualidade, clonagem, tráfico de pessoas. É incontável o número de possibilidades e temas que podem ser discutidos na dramaturgia. Oscar Wilde chegou a dizer que “a vida imita muito mais a arte do que a arte imita a vida”. Mas e quando a vida serve de pauta para construir a arte? Estreou na segunda-feira, dia 3 de abril, “A Força do Querer”, a nova novela de Glória Perez. Novamente a autora traz, em suas tramas, questões com grande impacto social. Conforme descrito na sinopse oficial, “A Força do Querer” fala de diversidade, de tolerância, das dificuldades de compreender e aceitar o que é diferente de nós. E do embate entre o querer (vontade) e os limites éticos e morais que permeiam nossas escolhas. “Você já teve a sensação de se olhar no espelho e sentir que tem uma pessoa dentro de você, que não é essa pessoa que o espelho está mostrando?” Essa frase ganhou destaque nos últimos dias e foi dita pela personagem Ivana (Carol Dantas) durante as chamadas da novela. Trata-se de uma personagem transgênero e, durante os próximos meses, a novela vai retratar o dilema vivido, sua aceitação, a aceitação da família e o processo de transformação. Como é de costume da novelista, o texto desempenhará outras funções, além de apenas entreter. Outro personagem com destaque na trama é Silvana, interpretada pela atriz Lilia Cabral. Realizada no casamento e na profissão, Silvana coloca todas suas conquistas à prova, quando mergulha no vício em jogos. Começando com jogos casuais, a personagem vai se afundando gradativamente e se mostrando dependente. A atriz e escritora Márcia Falabella explica que qualquer obra dramatúrgica, seja ela para teatro, cinema ou TV, tem sempre um aspecto da realidade e vai esbarrar em um problema social. Algumas de maneira direta, outras de maneira indireta. “Se toda história tem que nascer de um conflito, ela vai buscar nos problemas da própria realidade, o que pode alimentar a ficção”. No Brasil, a telenovela faz parte da identidade cultural, é o principal produto
conseguiu perceber a homossexualidade de Inácio. A partir de A Próxima Vítima, em 1995, tudo ficou mais direto, embora alguns personagens tenham sido rejeitados. Destaco ainda a abordagem de diversas novelas, como Mulheres Apaixonadas, Senhora do Destino, América, Insensato Coração, Babilônia, Império e Amor à Vida. Mulheres Apaixonadas, por exemplo, trouxe debates grandes na sociedade, o que gerou a aprovação do Estatuto do Idoso e da Lei Maria da Penha. Insensato Coração fez um belo trabalho sobre a questão de homofobia, que também foi mostrada em Amor à Vida.” O estudante de biologia Gabriel de Freitas Manja, 20 anos, se vê representado em alguns personagens LGBTs, mas destaca que há uma estigmatização muito forte e normalmente estes servem como escape cômico. “Uma coisa que me incomoda muito, é quando o personagem gay é a “bicha engraçada”, o amigo gay da mocinha, que anda com ela para cima e para baixo, dando conselhos amorosos, pouco se sabe da vida e dos seus conflitos”. Mesmo destacando esses problemas na abordagem, Gabriel relata que alguns personagens tem grande importância pra ele, que ajudaram a se entender e a se aceitar: “O que mais me marcou de todos foi o Julinho (André Arteche), da novela “TITITI”. Eu tinha 14 anos, e já sabia o que eu queria. Mas ainda estava em conflito com relação à aceitação dos outros. Assistir à novela me deixou com um gás, me mostrou que é normal, que existe amor gay. Dois homens podem viver juntos e compartilhar um amor” encerra Gabriel.
Novelas “Salve Jorge” e “Explode Coração” faziam campanhas para encontrar pessoas perdidas
cultura
Formação de público é desafio para companhias de teatro em JF
Artistas defendem que o contato com a arte seja feito desde a infância para o estímulo da ida aos espetáculos até a vida adulta Por Marina Urbieta FOTO: MARINA URBIETA
Visão dos assentos em que o público se acomoda durante as peças no Fórum da Cultura
completa, que é preciso criar medidas para fomentar o interesse pela arte desde os primeiros anos da educação: “Caso as pessoas tenham contato com o teatro nas escolas, ele irá fazer parte da rotina delas, e elas irão se interessar cada vez mais.” Contudo, por outra via, são os shows, os bares e as baladas que se tornaram rotina na vida da população juiz-forana. “As pessoas não têm dinheiro para pagar R$ 10 em uma peça, mas no show pagam R$ 300”, afirma Bruno. “Ir pouco é fruto do processo cultural em que vivemos. Quando um evento faz parte do cotidiano das pessoas, ele se torna mais acessível. E se a peça estiver na praça ou na rua as pessoas não precisam estar preparadas vê-la, mas acabam se interessando.” Essa é uma das estratégias da Companhia de Teatro Academia para levar o público ao teatro, tornando a arte parte do dia a dia da população. Há alguns anos que o ator e professor da companhia, Ronan Lobo, leva peças, como de Shakespeare, para as ruas das cidades de Presidente Bernardes, Tiradentes, São João Del Rei e até mesmo de Juiz de Fora. “Tornar acessível peças clássicas não significa deixar o teatro pobre ou burro, mas permite que a arte dialogue com o período histórico de cada época.” O teatro se reinventa e o público segue o fluxo. Contudo, Ronan Lobo avalia que o principal problema, no que tange ao alcance de público nas peças de teatro, é que a cultura em si continua pouco acessível para a população de classe média baixa: “Para a pessoa sair de Benfica e levar o filho ao teatro, ela precisa gastar com o transporte, o ingresso e a pipoca. E, para quem ganha um salário mínimo, essa despesa pesa no final no mês.” Portanto, acaba-se fazendo teatro para si mesmo, para as mesmas pessoas irem assistir, como também concorda o ator.
Alternativas A maioria dos diretores e artistas entrevistados elenca como uma das alternativas para a formação de público a educação cultural desde cedo. Os produtores, porém, têm procurado colocar em prática medidas para isso, enquanto outras precisariam de planejamento. Tornar a arte parte das outras disciplinas escolares seria uma medida a longo prazo. “Penso que substituir as formas de ensino de matérias consideradas mais importante, como matemática e português, através da arte seria uma opção”, acredita Ronan Lobo. Ele complementa que “as crianças conseguiriam aprender de forma didática e valorizariam a arte, não como forma secundária como acontece atualmente.
Por outro lado, o projeto espectador, do Fórum da Cultura, atrai, há anos, crianças de colégios de Juiz de Fora e outras regiões. Muitas delas crescem junto à arte do teatro, possibilidade que talvez nunca teriam. “Isso permite que a criança tenha um contato direto com o teatro desde cedo”, afirma o ex-diretor do Fórum da Cultura. Enquanto isso, em um mundo cada vez mais globalizado, um dos meios alternativos de alcance geral de público é a internet. E divulgar as peças pelo Facebook é o que a Sala de Giz tem apostado: “Toda semana postamos vídeos com dicas teatrais e conteúdos diversos para que as pessoas assimilem isso no seu dia a dia. Acredito que, quanto mais falarmos de teatro, mais as pessoas se interessarão.” FOTO: MARINA URBIETA
Longe de alcançar o grande público que apreciava as encenações de Dionísio no período da antiguidade grega, as companhias teatrais de hoje enfrentam a dificuldade de formar espectadores frente ao cenário de instabilidade política, a apropriação de espaço e a valorização da educação como elemento primordial para a arte. Segundo a fundadora do grupo Quem Sou Eu Produções, Taysa Ferreira, sempre há dificuldade na formação de público. A artista afirma que existe um preconceito por falta de conhecimento das pessoas: “Tenho conhecidos que nunca assistiram teatro musical e dizem não gostar.” Apesar das dificuldades, Taysa consegue manter sua companhia e aposta nas apresentações em bairros para tentar ampliar o seu público. Um exemplo serão as apresentações da peça “Rua 15 o musical” no Teatro da Praça CEU, em Benfica, na Zona Norte, às 19h, nos dias 8 e 9.Mesmo tendo uma plateia restrita, a artista tem conseguido levar aos espetáculos um público cativo. Já o professor, ator e ex-diretor do Fórum da Cultura, José Luiz Ribeiro, considera que a cidade tem sido palco de muitas criações artísticas, principalmente aquelas produções independentes, “porém, apesar do grande número de peças, poucas pessoas têm frequentado o teatro”. O ex-diretor destaca que um dos fatores que inverte a lógica “produção e público” é a transformação dos teatros em produtos comerciais. O professor apresenta, por exemplo a crítica dos teatros nos jornais: “Perdeu aquela característica de você ter no Estadão ou mesmo no Jornal do Brasil cronistas que eram os críticos de teatro, que orientavam o público. Aquilo levava o espectador a escolher o que seria apresentado.” E ainda completa: “Os textos, como de Nelson Rodrigues e de tantos outros críticos, que eram para uma formação de público, hoje passou a ser uma formação de evento.” Outro meio de comercialização do teatro pode estar presente desde os primeiros anos da criança. Segundo José Luiz Ribeiro, quando a criança vai a uma peça com a escola, o espaço em volta é cheio de carrinhos de pipocas e de bebidas, “vende dali, vende de lá, tudo para conseguir arrecadar o dinheiro que a bilheteria não consegue. No final das contas, o teatro é o mínimo que ela tem, o entorno é muito mais forte, como se ela fosse a um parque de diversão”. “As crianças têm crescido sem uma formação cultural” é a constatação do ator e professor de teatro, Bruno Quiossa, também diretor da Companhia Sala de Giz. Ele acredita que a falta de público nos espetáculos acontece pela dificuldade de contato desde pequena da criança com a arte realmente. Por isso,
Teatro do Fórum da Cultura, onde acontecem as apresentações do Grupo Divulgação
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esporte
Sport estuda a possibilidade de jogar Copa São Paulo de futebol júnior em 2018 Clube faz planejamento financeiro para voltar ao futebol profissional. Por exigência da Federação Paulista, time precisaria jogar a terceira divisão do Campeonato Mineiro deste ano
Por Enrico Monteiro O diretor de esportes do Sport, Israel Werneck, explica que o convite para a disputa da Copa São Paulo, considerada a maior competição de base do país, surgiu de uma amizade entre ele e Aldair, ex-jogador campeão mundial em 1994, que tinha conseguido uma vaga para a disputa da competição e a ofereceu ao clube juiz-forano. Israel destaca que a oportunidade de jogar a Copa São Paulo é algo significativo para todos e pode até fazer com que, daqui a um tempo, o clube volte ao profissionalismo: “È mais importante jogar uma competição como a Copinha do que um Mineiro da Segunda Divisão, tanto para os jogadores quanto para o clube. Quem sabe, fazendo um trabalho legal, consigamos um projeto para o Sport voltar ao futebol profissional.” Sobre isso, ele fala também sobre a estrutura do Sport, que é considerada muito boa para um clube do interior de Minas: “A estrutura do clube é fantástica, tem tudo lá. Musculação, piscina, campo, gramado sintético, quadra de areia, tem tudo. Se você rodar Minas Gerais, vai tirar alguns que têm a situação melhor que a nossa. Isso nos anima a fazer um projeto a longo prazo, trabalhando com garotos, que é o nosso foco”
FOTO: DIVULGAÇÃO SPORT CLUB
O centenário Sport Club Juiz de Fora está planejando voltar ao futebol. A ideia é se preparar para disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2018. Mas para isso, o time precisaria cumprir algumas exigências feitas pela Federação Paulista de Futebol (FPF), organizadora do torneio. Uma delas é disputar alguma competição profissional ainda neste ano. A opção seria o Campeonato Mineiro da Segunda Divisão (que é, de fato, a terceira divisão). Este tem idade limitada em sub-23, permitindo apenas cinco jogadores acima dessa idade. No clube, o assunto é tratado com cautela, e sempre a preocupação financeira é debatida pelos integrantes da diretoria. Para o diretor administrativo, Jorge Ramos, a volta ao futebol profissional não pode, de forma alguma, atrapalhar o orçamento de todo o clube. “Depende da robustez do empreendimento. Não estaremos comprometendo o orçamento do Sport para participar de qualquer competição de futebol. Se isso vier a comprometer nosso patrimônio, sem chances”, analisa Jorge. O diretor também ressalta que “a participação no Campeonato Mineiro é um projeto piloto para a participação na Copa São Paulo de 2018”.
Com quatro participações na elite mineira, o Sport pode voltar a disputar o estadual, porém na terceira divisão
Ponderações
Histórico
O ex-atleta do clube, Jammil Ribeiro, questiona a possibilidade do Sport Club Juiz de Fora voltar ao futebol profissional. Ele, que foi diretor do clube por muitos anos, indaga que isso geraria muitos danos financeiros ao time. “No meu modo de ver, é muito árduo, penoso o clube disputar a Copinha. Sem dúvidas, é benéfico para a cidade, mas considero a missão muito difícil. Teria que profissionalizar os jogadores, e isso geraria um custo. Esse negócio de custo zero não existe. Para profissionalizar, tem que ter um contrato; tendo isto, tem que registrar a carteira”, avalia o ex-jogador do clube.
O Sport Club Juiz de Fora foi fundado em 24 de setembro de 1916, a partir da Sociedade Recreativa Comercial Clube. Com as cores verde e branco, disputou a principal divisão do campeonato mineiro em 1987 e tem dois títulos da Copa Panorama de Futebol, em 2004 e 2009. O estádio do clube, o Dr. José Procópio Teixeira, fica na Avenida Rio Branco, uma das principais vias da cidade., que tem capacidade para 6.500 pessoas. Um dos torneios que movimentou a cidade no século passado era o Torneio Citadino de Juiz de Fora, do qual o Sport é detentor de 13 conquistas.
Mulheres estão cada vez mais inseridas no esporte Nas últimas olimpíadas, elas estiveram presente em todas as modalidades esportivas Por Elias Arruda
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reflexo disso pode aos esportes. ser visto nos dias de “Uma amiga hoje. Nos últimos que praticava jogos olímpicos kickboxing me as mulheres convidou para representaram assistir uma quase a metade aula e fiquei dos atletas. De apaixonada. Hoje acordo com o sou faixa azul, que Comitê Olímpico é uma graduação Internacional, de professora. o percentual de O mestre de mulheres que taekwondo me viu participaram das em um dos treinos Olimpíadas Rio e me convidou 2016 foi de 45%. para treinar com Carol Lopes, 20 ele também. Estudante é apaixonada por artes marciais anos, é estudante Já fui campeã universitária e apaixonada por artes na categoria peso e idade e classificada marciais. Atualmente ela é faixa azul no para o campeonato mineiro, mas não Taekwondo e no kickboxing. O amor pelo pude participar pois fiquei com dengue”. esporte começou na infância. “Eu comecei a praticar esporte aos dois anos de idade. Eu era muito nova, minha mãe conta que eu via as crianças na capoeira e ficava repetindo os movimentos, por isso ela decidiu me colocar na aula, onde fiquei até Pensando em inserir mulheres em outros os 14 anos”. Com o tempo ela precisou se segmentos esportivos, a Universidade afastar da capoeira por causa dos estudos, Federal de Juiz de Fora vai promover um mas não demorou muito tempo para voltar evento exclusivamente para elas. A ideia FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Lutar, vencer, persistir. Essa é a realidade de diferentes mulheres ao redor do mundo. Em espaços onde até então a figura masculina dominava, o cenário vem mudando com o passar do tempo. Na política, um dos nomes mais fortes e admirados no mundo é o da Primeira Ministra alemã Angela Merkel. Na religião Madre Teresa de Calcutá arrastava multidões com seus trabalhos de caridade e espiritualidade. Na música nomes como Beyoncé e Madonna dominam as paradas de sucesso. E no esporte? Talvez alguns nomes como Marta no futebol feminino, Amanda Nunes no UFC e o da judoca Rafaela Silva venham à nossa mente. Mas para chegar até aqui muito caminho precisou ser percorrido. Esse exemplo pode ser confirmado através da grega Stamata Revithi. Na época ela ficou conhecida como a “musa grega da tragédia” por ter tido a coragem de correr a prova masculina na maratona das olimpíadas de 1896. Segundo o portal esportivo “ESPN”, ela levou quatro horas e 30 minutos para completar o trajeto. Fica impossível não perceber a coragem de Stamata em pleno século XIX. Uma mulher que superou todos os preconceitos fazendo algo que apenas os homens tinham a permissão para fazer. O
Esporte de mulher é queimada?
do 1º Fórum de Futsal de Mulheres foi do Time de Futsal Ta Jóia. O projeto é uma parceria entre o Programa de Educação Tutorial e a Faculdade de Educação Física. “A ideia se deu pela necessidade de intercambiar o conhecimento e as experiências dos diversos projetos de futsal de mulheres que vêm se organizando e se consolidando na cidade de Juiz de Fora e região, buscando assim, o maior desenvolvimento dos mesmos e sobretudo, da modalidade”, explica Eveline Amaral, diretora de comunicação e marketing do time e uma das colaboradoras do encontro. Além de ser uma oportunidade para todas as mulheres interessadas em conhecer mais sobre o futsal, o fórum vai contar com palestras, mesas redondas, relatos de experiências e apresentação de pôsteres. Intercalando com a programação os participantes vão conferir a copa de futsal. “Juiz de Fora estava carente de um evento dessa forma, onde pudéssemos aliar o conhecimento, essa troca de experiências, e também a prática do futsal que é o que as meninas mais gostam”. Os jogos vão acontecer depois das palestras. Outras informações sobre o fórum podem ser encontradas na página do Facebook “I fórum de futsal feminino”.
esporte
Equipes de Juiz de Fora enfrentam dificuldades para levar torcida aos ginásios e estádios No vôlei, bons resultados impulsionaram apoio ao time da cidade; no futebol, equipes buscam reconstruir cultura de arquibancada
Por Mateus Bosse
Torcedor consumidor?
Tupi sofreu com baixa média de público na temporada de 2016
Para o narrador e apresentador dos canais ESPN Eduardo Monsanto, a dificuldade se deve a uma alteração na mentalidade do torcedor. Muitos daqueles que iam ao estádio quase que religiosamente passaram a se comportar como consumidores, marcando presença apenas nas boas sequências de vitórias. Eduardo, principal responsável pelo retorno das atividades profissionais do Serrano Futebol Clube- recém promovido à série B1 do campeonato carioca-, apontou ainda a perda de torcedores de arquibancada para o sofá e a elitização do futebol como vilãs do desenvolvimento da cultura de estádio.
Inspiração Um exemplo de sucesso de gestão e público vem do Sul do país. Com ascensão meteórica da quarta divisão à elite de futebol nacional em apenas cinco anos, a Associação Chapecoense de Futebol se tornou modelo para diversas equipes que buscam consolidação no cenário esportivo. Para a blogueira da equipe no ESPNFC, Letícia Sechini, o que no início da década de 70 era apenas uma forma de entretenimento aos domingos começou a se transformar a partir de 1977. O título do Campeonato Catarinense de futebol dava início a uma estreita relação entre clube e torcida. Letícia conta que a relação se intensificou na última década, devido aos bons resultados dentro de campo. A blogueira lembra que nas campanhas das séries D e C eram poucos os jogos que contavam com mais de quatro mil torcedores. Conforme os resultados apareciam, o coro das arquibancadas ganhava força na Arena Condá: “A torcida passou a perceber que o time
poderia sempre chegar mais longe e a querer fazer parte desse espetáculo mais de perto, e isso sim impulsionava a Chapecoense a ir mais longe, de fato. O torcedor da Chapecoense nunca deixou de estar ali, fosse em 300, três mil ou 13.000 pessoas, sempre dentro do que o próprio time buscava”. Para Eduardo Monsanto, a Chapecoense se beneficiou do fato de ser o único clube da cidade de Chapecó. O Verdão do Oeste alcançou a média de público 7.661 torcedores por partida no Campeonato Brasileiro da série A em 2016. O apresentador lembra que mesmo com o Sport e o Baeta parados por longo período de tempo, Juiz de Fora ainda guarda grande rivalidade entre as três equipes. O centenário Sport Club Juiz de Fora projeta retorno ao futebol profissional ainda este ano, enquanto o Baeta, que trilhou o mesmo caminho no ano passado atualmente disputa o Módulo II do Campeonato Mineiro.
Gestão Esportiva A torcedora da Chapecoense Letícia Sechinidestacouomodelodegestãodaequipe ao longo da última década. “A valorização e o fortalecimento das categorias de base sempre estiveram entre as prioridades da Chapecoense. Há também a questão de se fazer uma gestão transparente e com os pés no chão, que ouvia aos anseios da torcida e não deixava de fazer o que estava ao seu alcance. Criar identificação com a torcida, fortalecer a base e manter a transparência são princípios muito eficientes de gestão”. Monsanto acredita não haver um modelo ideal. Segundo ele, o planejamento é a questão primordial para concretizar os acessos e facilitar a permanência das equipes nos patamares alcançados. Seja na disputa da Superliga, Série C do Campeonato Brasileiro, Módulo II ou segunda divisão do campeonato mineiro, as equipes juiz-foranas esperam reviver a cultura do esporte local. FOTO: DIVULGAÇÃO JF VÔLEI
Mesmo com o crescimento de público e visibilidade nos últimos anos, Maurício afirma não enxergar uma cultura do voleibol consolidada na cidade. Para ele, o auge do esporte ocorreu nas décadas de 70 e 80, quando até mesmo as partidas de voleibol universitário despertavam grande apelo na cidade. A dificuldade em consolidar uma cultura esportiva em Juiz de Fora extrapola os limites da quadra e invade o gramado do Estádio Municipal Radialista Mário Helênio. Com média de 1.231 torcedores presentes por partida, o Tupi amargou o rebaixamento logo em sua estreia na série B do Campeonato Brasileiro. A média de público foi apenas a 70º dentre os 128 clubes das quatro divisões do futebol nacional.
FOTO: MATEUS BOSSE
Uma, duas, três. Uma atrás da outra, surpreendiam até os mais entusiasmados. Quatro, cinco, seis. Seis vitórias seguidas, responsáveis por conduzir o JF Vôlei à sua melhor campanha na história da Superliga. A primeira classificação para os playoffs, a sétima e melhor colocação do time na fase classificatória, o maior número de vitórias acumuladas em uma temporada (12), a maior somatória de pontos (31), e o maior pontuador da liga na fase de classificação (Renan Buiatti) movimentaram o esporte juiz-forano como não se via desde a histórica classificação do Tupi para a disputa da série B do Campeonato Brasileiro em 19 de outubro de 2015. A cidade mais uma vez abraçou um time e foi crucial para o seu sucesso. Para o diretor e idealizador do JF Vôlei, Maurício Bara, o mais importante foi o “crescimento do sentimento de pertencimento da torcida”. A receita do sucesso? Fidelidade ao “Perfil da equipe”. O entendimento da necessidade de apostar em jovens jogadores para contornar o orçamento limitado rendeu ótimos frutos na temporada. A parceria com o Sada Cruzeiro por jovens atletas foi fundamental, e Maurício garante que a equipe vai seguir buscando jovens atletas independentemente da continuidade da parceria com o atual campeão mundial. Para Maurício, o bom início da campanha fez crescer o orgulho da torcida, da cidade e refletiu até no comportamento no ginásio, especialmente nos jogos contra Montes Claros, Minas e Funvic/Taubaté, nos quais a torcida teve papel fundamental para as vitórias no tie-break. Buscando explorar ainda mais esse apoio, o diretor técnico do JF Volêi afirmou: “O plano é jogar em um ginásio maior no próximo ano para contar com 1500, duas mil pessoas a cada jogo”.
Apoio do torcedor na reta final foi fundamental para sucesso do JF Vôlei
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