EDITORIA X
JORNAL DE
ESTUDO
Jornal Laboratório da Faculdade de Jornalismo da UFJF | Juiz de Fora, 21 de Junho de 2017 | Ano 52 | Nº 253
Desrespeito aos ciclistas persiste mesmo após um ano de criação das ciclorrotas em JF Foto: Maria Elisa Diniz
Obras de pintura e sinalização das vias não têm previsão para serem concluídas Página 3
SEGURANÇA
POLÍTICA
CULTURA
Especialistas apontam que redução da maioridade penal não é solução para reduzir criminalidade.
Comissão da Verdade de Minas realiza audiência em JF este mês e retoma investigação sobre o cenário da ditadura na cidade.
Bandas locais falam do desafio para conquistar espaço no mercado artístico nacional.
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EDITORIAL A sociedade e a conscientização passiva Discutir a redução da maioridade penal no Brasil é uma questão que diz respeito não só à área da segurança pública, mas também há outras questões cruciais envolvidas no debate. Podemos dizer que há um consenso de que os crimes devem ser punidos, porém, a divergência está na forma de pensar de que maneira a criminalidade entre os adolescentes envolvidos em atos infracionais pode ser contida. Ao analisar a situação de um jovem que se envolve em algum delito, devemos considerar que, em algum momento da vida, algo lhe faltou. Quando fazemos essa afirmação, não falamos somente do acesso aos bens materiais. Falamos em falta de estrutura familiar, falta de acompanhamento psicológico e falta de relações construtivas, por exemplo. Devemos pensar que, em determinado momento da vida do adolescente, há uma lacuna existente. Queremos tocar em outro ponto que também é fundamental para o debate em relação à redução
da maioridade penal. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) já prevê seis tipos de medidas socioeducativas para serem aplicadas aos adolescentes que cometerem atos infracionais. Muitos jovens, que são privados de sua liberdade, não ficam em instituições preparadas para sua reeducação, reproduzindo o ambiente de uma prisão comum. Cada uma das medidas socioeducativas tem uma finalidade e uma maneira correta de ser aplicada. Se não são cumpridas, a solução não é necessariamente a redução da maioridade penal. O tratamento oferecido deve ser diferenciado não por falta de entendimento por parte do adolescente, mas porque entendese que a fase da adolescência é um período de desenvolvimento e preparação para a vida adulta. A situação do sistema penitenciário brasileiro é preocupante. Dessa forma, pensamos que também não temos estrutura adequada e suficiente para colocar os adolescentes nesse ambiente. É preciso
destacar, ainda, que a maioria das penitenciárias brasileiras não cumpre o seu papel de reinserção social e, dessa forma, acaba virando uma espécie de “escola do crime”. De acordo com o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (2014), atualmente, o Brasil tem o quarto maior número de pessoas atrás das grades: são 622.202 presos. Atrás apenas dos Estados Unidos (2.217.000), China (1.657.812) e Rússia (644.237). A violência que assola nosso país não será resolvida somente com a punição e a culpa direcionada aos adolescentes infratores. Ao invés de trilharmos o caminho da culpabilização, precisamos entender que a redução da maioridade penal pode apresentar um retrocesso na luta pela garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes. Precisamos enxergar que a nossa volta existem muito mais jovens que são reféns da criminalidade do que aqueles que são protagonistas dela.
OPINIÃO De quem nos escondemos? “Não se deixe engolir por valores e ideais que não são seus. Tenha flexibilidade e busque uma vida que faça sentido para você”, li essa frase no Instagram da psicóloga Larissa Assis e, a partir disso, fiz uma pequena reflexão que me levou a pensar nas inúmeras situações em que nos martirizamos por opiniões que não nos pertencem. No dia a dia, nos traímos constantemente por idealizarmos um mundo de conceitos perfeitos e o erro está em achar que, por algum motivo ou outro, não nos encaixamos nesse mundo. Marginalizamos nossa vida, nossos pensamentos e nossos propósitos porque não conseguimos chegar no mundo do faz-de-conta. Existem várias máscaras que escondem quem somos e o que queremos ser de verdade. Hoje,
Por Bruna Ogando o nosso mundo vive cheio de personagens e, infelizmente, estamos nos escondendo por muito tempo atrás dos personagens que criamos. Atrás dessas máscaras existem seres humanos imperfeitos, e, sinceramente, não estamos preparados para lidar com as nossas imperfeições e muito menos com as dos outros. Como se não bastasse querer a aceitação das pessoas que fazem parte do nosso convívio, queremos ser bem vistos pelo tio da prima da nossa colega, pelo vendedor de bananas que vai à casa da sua avó a cada 15 dias e por aí vai. Essa busca desenfreada por aceitação assusta, entristece e deprime. Quando falo em autoaceitação o desafio torna-se ainda maior, porque, como diz o velho ditado, “a grama do vizinho é sempre mais verde”. Muita gente – inclusive eu - já reclamou que a vida, em muitos casos, é cruel. Porém, vejo que, às vezes, nós exigimos demais de nós mesmos. Queremos ser autossuficientes, corajosos, inteligentes... posso dizer que, se não
queremos alcançar a perfeição, desejamos algo que passe muito perto disso. Não é justo viver impondo a si próprio uma tortura psicológica. Não, nós não somos obrigados a aguentar tudo. Não, nós não somos obrigados a saber de tudo. Não, não somos obrigados a agradar aquelas pessoas que não se esforçam minimamente para tirar um sorriso do nosso rosto. Não, não somos obrigados a passar por cima dos nossos sentimentos, das nossas feridas e das nossas angústias. Cada um sabe o tamanho da sua dor e quantos são os fantasmas do passado que ainda insistem em assombrar o presente. Cada um sabe os seus próprios limites e o que se deve fazer para não forçá-los ou superá-los. Tenho acreditado a cada dia mais que a vida deve ser vivida e não tolerada e/ou suportada. O caminho em busca do autoconhecimento pode ser difícil, mas é só através dele que vamos aprender, quem sabe um dia, a sair do casulo que tanto nos aprisiona e nos faz infelizes.
Coordenador do Curso de Jornalismo Integral Profª Ms. Eduardo Leão
Editoras Bruna Ogando e Mariana carpinter
Chefe do Departamento de Métodos Aplicados e Técnicas Laboratoriais Profª. Drª. Maria Cristina Brandão de Faria
Diagramação Bruna Ogando Mariana Carpinter
Professoras Orientadoras Profª. Drª. Janaina de Oliveira Nunes Profª. Drª. Marise Baesso Tristão
Monitoria Letycia Bernadete
EXPEDIENTE Jornal Laboratório da Faculdade de Jornalismo da Universidade Federal de Juiz de Fora, produzido pelos alunos da disciplina de Técnica de Produção em Jornalismo Impresso Reitor Profº Dr. Marcus David Vice-Reitora Profª Drª Girlene Alves da Silva Diretor da Faculdade de Comunicação Social Prof. Drº Jorge Carlos Felz Ferreira Vice-Diretora Profª. Drª. Marise Pimentel Mendes
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Repórteres Aline Negromonte; Bruna Ogando; Bárbara Schmidt; Clara Assis; Giovanna Lima; Gustavo Pereira; Lizandra Braga; Luanny Gonçalves; Luiz Carlos Lima; Maria Elisa Diniz; Mariana Carpinter; Nayara Martins; Thamires Pecis
Projeto Gráfico Bruna Ogando e Mariana Carpinter Contato mergulhodiario@gmail.com facebook.com/mergulhodiario (32) 2102-3612
CIDADE Ciclorrotas completam um ano de funcionamento em Juiz de Fora A iniciativa foi um avanço para a mobilidade urbana, mas ainda demanda ajustes Foto: Maria Elisa Diniz
Por Maria Elisa Diniz
As ciclorrotas são um espaço de compartilhamento das vias, mantendo uma preferência de circulação para os ciclistas
Há cerca de um ano, dez ciclorrotas começaram a ser implantadas ao longo de 40 quilômetros nas ruas de Juiz de Fora. Através da proposta apresentada pela ONG MobilicidadeJF, a Secretaria de Transporte e Trânsito (Setrra) executou a pintura e a instalação de placas que alertam para a presença e compartilhamento de espaço entre veículos motorizados e bicicletas. Apesar do grande avanço em relação à presença dos ciclistas no trânsito, ainda são necessários alguns ajustes. Junto ao plano de rotas entregue à Settra, algumas propostas também foram sugeridas por quem utiliza as bicicletas como transporte, como a instalação de paraciclos, campanhas de conscientização e a ampliação das rotas em algumas regiões. Quem anda pelas principais avenidas e ruas da área central da cidade pode perceber as faixas e placas que indicam a presença de ciclistas nas vias. O presidente da Mobilicidade, Guilherme Mendes, aborda a importância das ciclorrotas: “A marcação desse espaço legitima a presença do ciclista no trânsito, apesar de já estar previsto na lei, a gente ouvia muito motorista mandando a gente sair da rua.” Além disso, os próprios usuários das bicicletas passaram a reconhecer o local como próprio para a circulação. “Muita gente que circula de bike também não sabia que
não podia andar nas calçadas ou no licitação para nova contratação. A sentido contrário da via, e a sinalização Settra ainda não apresentou previsão para a conclusão das obras. Em relação permite isso”, acrescenta Guilherme. à construção de uma ciclovia no entorno do Rio Paraibuna, na Avenida Campanhas informativas Brasil, depende da conclusão das Uma parte importante da obras de despoluição do rio. “A gente implantação das ciclorrotas é a consegue fazer as ciclorrotas a um conscientização dos motoristas custo mais baixo, a construção de uma sobre a regras de uso. Por ser um ciclovia também demanda recursos ambiente compartilhado, diferente além do municipal. É uma intenção, das ciclovias que reservam um espaço mas não temos previsão para ela”, exclusivo aos ciclistas, as ciclorrotas acrescentou Valente. indicam a sua presença em um espaço conjunto aos demais veículos. “A proposta que nós apresentamos Zona Norte O projeto para a Settra previa a divulgação de campanhas para a população. As sugerido à Settra ciclorrotas estão previstas no Código iria abranger vias da de Trânsito Brasileiro, mas é algo principais muito novo ainda”, aponta Guilherme. região Norte de Em entrevista ao Jornal de Estudo, o Juiz de Fora, como gerente do Departamento de Projetos a Avenida Juscelino da Settra, Marcelo Valente, afirmou Kubitschek, porém, primeiro que aconteceram capacitações com num motoristas de ônibus e que houve uma m o m e n t o , secretaria tentativa de diálogo com autoescolas a para reforçar a informação sobre não incluiu a ciclorrotas na formação dos motoristas, Zona Norte na implantação porém a iniciativa não avançou. ciclorrotas. As obras de pintura e sinalização das das A região é vias que foram anunciadas inicialmente ainda não foram concluídas. Segundo plana e propícia Valente, o contrato com a empresa que para esporte e por realizava a pintura das faixas venceu, locomoção e, agora, está sendo realizada uma meio de bicicletas e
isso já acontece. Em um dia de chuva, a associação de moradores realizou uma contagem no trevo que liga o Acesso Norte e a Avenida JK, onde cerca de 900 ciclistas passaram pelo local. Para a presidente da Associação dos Moradores de Benfica, Aline Junqueira, “é necessário um novo estudo para pensar um projeto viável economicamente e socialmente. O que não pode acontecer é termos tantos ciclistas correndo risco”. Na ocasião da apresentação do projeto à imprensa, o prefeito Bruno Siqueira (PMDB) chegou a dizer que, até o fim do ano passado, a Zona Norte receberia as ciclorrotas. Segundo o gerente de projetos da Settra, Marcelo Valente, o avanço da pintura e sinalização na região também depende da licitação para contratar a nova empresa que irá executar o trabalho. Estrutura para uso de bicicletas Outra demanda para utilização mais ampla das bicicletas é a instalação de paraciclos em pontos estratégicos da cidade. “Tem que colocar nos locais com maior circulação de pessoas, no Centro da cidade, no Parque Halfeld, nos pontos de ônibus, onde realmente há uma concentração de pessoas”, defendeu Guilherme Mendes. A Prefeitura fez a instalção de dez paraciclos e tem projeto de fazer novas instalações. “Não basta incentivar o uso da bicicleta, nós entendemos que temos que dar condições para que o ciclista esteja nas ruas”, acrescentou o gerente de departamento da Settra.
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CIDADE Exigências cada vez maiores do mercado de trabalho afetam saúde mental dos trabalhadores Entre as doenças mais comuns provocadas pelas cobranças na rotina estão depressão, ansiedade, estresse e Síndrome de Bournot Fotos: Samuel Zeller/Unsplash
Por Thamires Pecis
como era difícil ver a quantidade de cabelo que ficava no ralo do box, de cabelo que caíam durante a escovação. Fui ao dermatologista, que prescreveu a medicação para queda e disse que teria que aguardar, pois o problema era de fundo emocional. Isso me deixou mais apreensiva, pois, além do excesso de trabalho, teria que permanecer tranquila para sair daquela fase difícil, mas, graças a Deus, consegui.”
Necessidade de trabalhador ser multitarefa agrava situação
Pesssoas que passam muito tempo trabalhando podem sofrer com distúrbios psicológicos
“O que você quer ser quando crescer? ” É a pergunta que todas as crianças ouvem mais de uma vez na vida e, por isso, desde pequenas, já começam a pensar em profissões a seguir. Elas crescem e se tornam ou não o que sonharam, mas, de uma forma ou de outra, começam a trabalhar, e, muitas das vezes, trabalham em excesso, e é aí que está o problema. A sobrecarga na rotina acaba comprometendo a saúde das pessoas, resultando, por exemplo, em dores musculares e nas articulações. A saúde mental também é uma das principais afetadas, mesmo que não se perceba de início. Uma pesquisa realizada e divulgada pelo site americano CarrerCast.com listou as profissões mais estressantes em 2017. Em primeiro lugar estão os militares alistados e, em seguida, os bombeiros. Mas não importa o emprego, em todas as profissões existem pessoas estressadas e com problemas de saúde não só físicos, mas também mentais. Além do estresse, existe a chamada Síndrome de Bournot, considerada por médicos e especialistas como a doença do século XXI, sendo resultante da sobrecarga de trabalho, atingindo os chamados workaholics, isto é, viciados no trabalho, e atua em três fases distintas: primeiro a ansiedade, depois a angústia e, finalmente, a depressão.
Sintomas físicos de fundo emocional
Apesar de, à primeira vista, não ter nenhuma relação, os problemas psicológicos podem ter sintomas físicos. Dor no peito e gastrite, por exemplo, podem surgir e
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doenças mais graves, como diabetes e problemas cardíacos, podem se tornar mais graves quando o profissional é exposto a situações de ansiedade. A psicóloga especializada em psicologia organizacional e do trabalho, Elizabeth Barbosa, explica como essa relação foi descoberta: “No final do século XX, Freud e Breuer chegaram à conclusão de que problemas psicológicos poderiam levar a graves sintomas físicos. Isto ficou evidente quando descreveram o caso de Anna O., uma paciente que, após a morte do pai, desenvolveu sérios problemas psíquicos e corporais, como alterações na capacidade de falar, dores, paralisia e dificuldades visuais. Para Freud, estas manifestações eram consequência da conversão da ansiedade resultante de conflitos psíquicos em sintomas físicos e, mais tarde, ele as relacionou a fenômenos inconscientes.” A relações públicas Luciana Carvalho trabalhou como gerente de marketing em uma empresa de médio porte com uma equipe enxuta, então o prejuízo emocional era grande e, em certo momento, teve um problema físico: “Tive uma queda de cabelo importante que me fazia estressar ainda mais. Recordo-me perfeitamente
Esse foi o caso da Fernanda Dutra, que trabalhou por um ano como programadora em uma empresa de tecnologia e teve problemas com a cobrança: “Existia um mau planejamento, para um projeto que demoraria seis meses para ficar pronto, eles queriam que a gente terminasse na metade do tempo. Então, além das muitas horas extras necessárias para conseguir dar conta de tudo, a pressão psicológica era muito grande. Por conta disso, tive problemas de enxaqueca e estresse, e, muito por isso, acabei saindo do emprego”.
Especialista alerta para a importância das pausas no trabalho
Com o passar dos anos, houve uma mudança nos processos de trabalho, o O esgotamento profissional, seja por que, décadas atrás, era um processo mais estresse ou qualquer outro distúrbio, deve artesanal, gradativamente foi sofrendo ser levado a sério. Pausas no trabalho são alterações. O psiquiatra Oswaldino Sott, importantes para prevenir esse adoecespecialista em saúde do trabalhador e imento, como explica o psiquiatra Ossaúde pública, destaca a condição mul- waldino Sott: “Um nutrólogo me disse titarefa do trabalhador hoje: “No super- uma vez que uma boa alimentação é um mercado, por exemplo, o caixa era a pes- prato colorido, mas não é só o corpo que soa que registrava o preço, outra pessoa se alimenta, mas a mente também. Se pesava os legumes e uma terceira embala- você pensar em condições de trabalho va o produto que você comprou. Hoje, to- que levam o trabalhador excessivadas essas funções são colocadas no caixa, mente à repetição, seja física ou mental, ele pesa, registra e embala. Então, cada vez isso não é adequado. Então, mesmo que mais, se exige um trabalhador com esse haja esse perfil de repetição, é imporperfil de multifunção, o que tante introduzir outros elementos em leva a um esgotamento cada ambiente, como ginástica laboral, psíquico dessas pes- dando a oportunidade de uma pausa, sesoas.” ria ideal para a saúde das pessoas.” A assistente A assistente social Mariana Carvalsocial espe- ho explica alguns procedimentos que as c i a l i z a d a empresas deveriam tomar com o intuito em gestão de amenizar a situação vivenciada por pública de muitos trabalhadores: “Disponibilizar organiplanos de saúde; acompanhamento de zações de equipe especializada (medicina, psicolosaúde Margia e serviço social); assegurar o retorno iana Cardo trabalhador com condições dignas de valho conta trabalho após afastamento por questões que estudos recentes têm relacionadas à saúde e, com acompanhaapontado o aumen- mento de equipe especializada, são alguto do adoecimento do mas medidas que devem ser tomadas”. Procurar um psicólogo ou um psiquitrabalhador por excesso atra são alternativas de tratamento para de trabalho e, ainda, o crescimento do assédio moral. “O trabalhador, quem já sofre com algum problema em grande parte das situações, vivencia de saúde mental causado pelo excesso situações de pressão por aumento da de trabalho. A relações públicas Luciprodutividade por parte dos chefes ime- ana Carvalho conta que o tratamendiatos. Este fato fica ainda mais evidente to foi de grande valia: “Não procurei no crescente número de trabalhadores ajuda por nenhum episódio de estresafastados por doenças psíquicas. Isso se específico, como a queda de cabelo demonstra que, por parte das empre- que tive, mas vi que o estresse era algo sas, a cobrança por produtividade tem muito cotidiano devido ao meu traum papel central em comparação com a balho. Fiz terapia durante três anos e me saúde de seus funcionários. ” ajudou muito a lidar com essa questão.”
POLÍTICA Entrega de relatórios finais da Comissão da Verdade de Minas está prevista para dezembro de 2017 Audiência pública e diligências em Juiz de Fora estão nos planos dos pesquisadores
Foto: Eric Drooker - Pinterest
Por Luanny Gonçalves
As pessoas precisam conhecer sua história para evitar que alguns equívocos se repitam
A Comissão da Verdade de Minas Gerais (Covemg) realizará no dia 21 de junho uma audiência Pública na Câmara Municipal de Juiz de Fora. A reunião, aberta ao público, tem como finalidade levar informação e conscientizar a população a respeito da ditadura militar, através de debates com base nas apurações realizadas. Além da audiência, serão feitas diligências para dar continuidade ao que foi feito pela Comissão Municipal da Verdade (CMV-JF), o que implica no acesso ao material que já foi apurado e está concentrado no arquivo público municipal e na coleta de informações que possam contribuir para as investigações junto a população e ex-integrantes da CMV-JF.
diferentes prazos. Para o historiador José Luiz Oliveira de Paula, apesar de não terem poder de punição, as comissões desempenham um papel social fundamental para a nação, ao expôr atos de opressão e violência praticados livremente na época da ditadura: “Ao divulgar quem fazia uso de violência para se manter no poder passando por cima dos direitos individuais do cidadão, a comissão desmitifica a ideia de que durante essa época de contenção do livre arbítrio, censura violenta e tortura, tenha existido mais segurança e mais respeito às leis. Prova que, na realidade, aconteceu exatamente o contrário mas com uma divulgação mínima, visto que a imprensa e até mesmo o judiciário eram censurados.”
Novos membros Covemg
As comissões
Com a instituição da CNV no país, demais comissões da verdade foram criadas para conduzir o mesmo tipo de investigações em nível estadual e municipal, com mandatos independentes, ou seja, sem uma subordinação hierárquica, e com
da
No mês de maio, novos membros assumiram as subcomissões da Comissão da Verdade de Minas Gerais (Covemg), entre eles a ex-integrante da Comissão Municipal de Juiz de Fora (CMVJF) Fernanda Nalon Sanglard, que agora atua como pesquisadora da subcomissão de violação dos direitos dos trabalhadores rurais. Formada na área de comunicação, Fernanda conta que, como jornalista e pesquisadora, sempre teve interesse na questão dos direitos humanos e buscou contribuir com o assunto por meio de sua profissão. Seu doutorado foi baseado na importância da cobertura jornalística sobre os fatos que vieram à tona com os trabalhos entregues pela CNV do Brasil em 2014.
Segundo a pesquisadora, a área que assumiu desperta seu interesse há algum tempo, pois entende que a Comissão Nacional da Verdade (CNV) não conseguiu avançar muito em relação às violações sofridas pelos indígenas e trabalhadores rurais. “Quando fiz uma entrevista para minha pesquisa de doutorado com a Maria Rita Kehl - que integrou a CNV - ela disse algo que me marcou muito. Falou que no Brasil, havia mortos de primeira ordem e de segunda ordem, e que os trabalhadores rurais e indígenas vinham sendo tratados socialmente como esses mortos de ‘segunda ordem’ em relação aos movimentos urbanos e da classe média no período da ditadura”, revela. Diante dessa situação, a subcomissão apresenta dificuldades particulares de investigação, ligadas ao pouco material sistematizado sobre o tema e ao fato de que, em geral, essas vítimas tinham menos acesso a advogados e aos seus direitos do que as vítimas das regiões mais urbanizadas, mas Fernanda garante: “Foi motivador ouvir isso dela e acho que este é um dos grandes desafios que assumimos agora.” A nova componente da Covemg explica que a experiência adquirida anteriormente na CMV-JF dá uma base para o que vem pela frente, visto que as comissões têm a mesma finalidade de investigar e descobrir como foi o sistema da ditadura militar no local: unidades de repressão, perfil das vítimas, casos de mortos e desaparecidos. A diferença é que a área de atuação é mais extensa, abrangendo todo o estado de Minas Gerais, e o tempo de trabalho definido por lei é maior, o que, segundo ela, permite um trabalho mais amplo e casos mais detalhados.
CMV-JF
Apesar de ter sido criada por projeto de lei, as atividades da CMV-JF não foram incluídas no orçamento da Prefeitura ou da Câmara Municipal. Segundo Fernanda Sanglard, a UFJF e a OAB entraram com estrutura e recursos para financiar o mínimo necessário para a CMV-JF funcionar, e o trabalho feito se deve, em grade parte, à dedicação de pessoas que trabalharam voluntariamente e se dedicaram à causa. “Com estrutura adequada, os profissionais poderiam se dedicar especificamente às investigações, o que permitiria desenvolver pesquisas com muito mais rigor metodológico e grau de profissionalismo.” Apesar dos contratempos, a CMVJF, que iniciou seus trabalhos em 2014, entregou o relatório ao prefeito em abril
de 2015 e o livro produzido com base nos trabalhos realizados foi publicado em julho do mesmo ano. Helena da Motta Salles foi presidente da CMV-JF e conta que, mesmo com o encerramento da comissão, as atividades relacionadas ao esclarecimento do tema não foram abandonadas. “Por força do trabalho realizado, em muitas oportunidades somos procurados para entrevistas, palestras ou para esclarecimentos às pessoas que estejam interessadas no tema por qualquer razão”, assegura. Em maio deste ano, Helena ministrou uma palestra na UFJF à convite do Laboratório de História Política e Social sobre os trabalhos da CMV-JF e o cenário da ditadura militar na cidade com o objetivo de esclarecer o tema para a comunidade em geral.
Os erros do passado
O historiador José Luiz concorda que ainda existe muita confusão acerca dos 21 anos de ditadura militar que o Brasil viveu, por conta de desinformação, falas desencontradas, arquivos secretos e fatos que não são compartilhados, e muitos fatores devem ser discutidos para que haja uma mudança. “Desde o período de redemocratização, pós-ditadura, até hoje, nós vivemos uma desilusão constante com governos que tiveram um apoio popular muito grande e decepcionaram a população de forma excessiva, principalmente no aspecto moral”, afirma. Para o historiador, havia uma esperança de melhoria para o país e seus cidadãos, que ao se desfazer, abre espaço para discursos retrógrados, reacionários de que a ditadura seria um regime melhor. “Se não trouxermos à tona informações sobre o que realmente acontecia durante esse regime, corremos o risco de repetir os erros do passado.” Além de ser um grande trauma nacional, a ditadura militar ainda é um problema mal resolvido que deixou resquícios de autoritarismo, violência e preconceito. Para a presidente da CMV-JF, outro papel fundamental das comissões da verdade é a conscientização da população através de audiências públicas, seminários e palestras para resgate da história. “Atualmente preferimos fingir que superamos tudo muito bem, mas a verdade é que convivemos com resquícios dessa realidade. O ideal é debater mais o tema, construir novos sentidos e conseguir mudar o que a gente herdou desse período. Eu acho que a importância das comissões está nisso, em rediscutir e ter uma compreensão diferente de aspectos que ainda são poucos esclarecidos”, ressalta Fernanda.
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SEGURANÇA PÚBLICA Redução da maioridade penal é debate entre população e autoridades
O tema, que envolve questões sociais e estruturais do país, foi votado pela última vez em 2015 na Câmara dos Deputados Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Por Bruna Ogando e Mariana Carpinter disso, o advogado também faz um alerta sobre a reinserção desses jovens na sociedade: “Hoje não estamos preparados para receber esses jovens que foram acautelados. Muitos desses adolescentes não vão conseguir ter outras experiências profissionais e outros deles não conseguirão nem ter a primeira, tendo em vista a idade com que vão para os Centros Socioeducativos”.
Estatuto
Câmara dos Deputados conta com Comissão especial para a votar o tema
A redução da maioridade penal é um tema que sempre vem à tona na sociedade quando um adolescente está envolvido em algum delito. Esse é um assunto que envolve diversos âmbitos da população e que está intimamente ligado à segurança pública no país. O debate sempre esbarra na questão das responsabilidades que já podem ser direcionadas a cada pessoa. Esse tema não deixa de ser polêmico entre legisladores, juristas e brasileiros de uma forma geral, pois engloba problemas sociais e estruturais do nosso país. “A maioridade penal é atingida quando um indivíduo completa 18 anos e, para efeitos penais, já pode ser acusado, processado e punido em um regime jurídico aplicável aos adultos imputáveis de um determinado lugar. Esse fato também pode ser definido como imputabilidade penal”, explica o advogado especialista em Direito
Penal e Processual Alexandre Atalla. O advogado também faz a distinção do termo em relação ao que diz respeito a responsabilidade criminal: “É importante fazermos a distinção desses dois termos, mesmo que eles façam parte da mesma área. A responsabilidade criminal indica quando o indivíduo compreende plenamente o conteúdo de seus atos e, por isso, suas ações podem ser judicialmente enquadradas.” Atingida essa idade mínima para responsabilidade criminal (no Brasil é de 12 anos), os jovens e adolescentes podem ser punidos, mas em um regime jurídico especial. Alexandre Atalla comenta que a redução da maioridade penal também implica em mais problemas no sistema carcerário do país, que já passa por sérias dificuldades. Além
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é a lei que cria condições de exigibilidade para os direitos da criança e do adolescente, que estão definidos no artigo 227 da Constituição Federal. A Constituição Brasileira, no artigo 227, também assegura a proteção integral à criança e ao adolescente: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.” “A redução do índice de criminalidade não pode ser analisada pela ótica dos atos infracionais praticados pelos adolescentes, como se fossem autores de grande parte dos atos cometidos e responsáveis pela criminalidade”, essa é a opinião da Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social, representada pela assessora-chefe de comunicação, Jaqueline Morelo. Ela explica que o Estado desenvolve políticas voltadas para a criança e o adolescente em situação de vulnerabilidade e risco pessoal e/ou social. Em todas as políticas setoriais as crianças e adolescentes são prioridade absoluta e deveriam receber investimentos e atendimento de forma prioritária, de modo a serem atendidos em diversas áreas, como saúde, educação e assistência social. “Para compreender a lógica de uma medida socioeducativa do ECA, é preciso abandonar o conceito retributivo, o conceito penal. Não se trata de aplicar castigo ou pena, mas de promover o que foi negligenciado antes”, complementa. Em Juiz de Fora, a atuação em relação aos adolescentes que cometem atos infracionais se torna ainda mais difícil, pois de acordo com
Deputados federais opinam sobre a redução da maioridade penal Em 2015, quando a redução da maioridade penal estava em votação na Câmara dos Deputados, a deputada federal Margarida Salomão (PT) votou contra, o deputado federal Marcus Pestana (PSDB) a favor e o deputado Júlio Delgado (PSB) se absteve do voto. Leia o que os deputados pensam hoje em relação ao tema:
Marcus Pestana
“É muito importante você não generalizar a possibilidade de um tratamento penal diferenciado para menores, mas permitir que o juiz, com
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assistência do Ministério Público da Criança e do Adolescente possa, em casos de crimes violentos e hediondos, aplicar penalizações que vão além do Estatuto da Criança e do Adolescente. Essa é uma demanda da sociedade que se sente desprotegida. Às vezes, existem menores tão ou mais violentos que adultos, que já cometeram cinco, seis, sete assassinatos.”
Júlio Delgado
“Levando em consideração o nosso tempo penitenciário e levando em consideração também que a gente
tem no Brasil uma legislação que não é eficiente, eu sou totalmente contra a redução da idade penal. Eu acho que isso não vai resolver o problema da criminalidade entre os jovens e os adolescentes. Alterações no Código de Processo Penal para o maior e no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) para o adolescente e jovem infrator podem ser a saída para que a gente possa regulamentar e melhorar esses sistema. Não vai ser com a redução da idade penal que nós vamos dar condições de ressocialização para esses jovens e adolescentes.”
Margarida Salomão
“Os homicídios são a principal causa da mortalidade de jovens entre 15 e 24 anos no Brasil e atingem, em especial, negros do sexo masculino, moradores das periferias e áreas metropolitanas, segundo o Atlas da Violência de 2017. Segurança pública é feita com prevenção, proteção e repressão. Os espaços públicos precisam ser ocupados com lazer, arte, esporte, cultura. Repressão é o último recurso. A redução da maioridade penal inverte isso e não resolve o principal: impedir que entrem na criminalidade.
SEGURANÇA PÚBLICA o que informa o delegado da Polícia Civil, Márcio Savino, há um déficit no número de policiais civis responsáveis pelos jovens infratores, e a cidade não tem uma delegacia especializada na apuração e proteção desses adolescentes. “Como em outros fatos em que são apresentados como crimes, a Polícia Civil é responsável pela apuração dos atos infracionais, apontando quem seria o ‘menor’ praticante, a materialidade, as circunstâncias e também os motivos que levaram ao cometimento de fato infracional análogo a um crime. O caso é remetido à Vara da Infância e da Juventude, sendo, por vezes, necessária a custódia cautelar do menor”, explica o delegado sobre a atuação da Polícia Civil em relação à situação. Além dessa dificuldade, ainda no âmbito municipal, as estruturas dos Centros Socioeducativos também preocupam. Segundo Arthur Aguiar, psicólogo da instituição, localizada no Bairro Santa Lúcia em Juiz de Fora, trabalhar com políticas públicas é um desafio. “Implementar qualquer política pública na área da assistência social ou da educação é difícil. O que vemos nos últimos anos é um menor recurso para essa áreas. A tendência é se tornar mais precário”, afirma o psicólogo. Ele, que já trabalha com medidas sociais há oito anos, participou do Fórum contra a Redução da Maioridade Penal de Juiz de Fora em 2015, levando rodas de conversa e palestras aos bairros. “Foram diferentes iniciativas que tentavam levar o debate, mobilizar as pessoas. Barrar o ataque aos direitos do adolescente”, comenta, referindo-se às discussões sobre a redução na Câmara dos Deputados, em 2015.
Acompanhamento emocional
A conscientização que o Fórum buscou levar para alguns lugares de Juiz de Fora se torna importante em cenários de esclarecimento social. Segundo a psicóloga Bianca Marques, em caso de redução da maioridade penal para 16 anos, o jovem preso poderá ter acesso a um ambiente mais cruel, o que piora seu desenvolvimento e dificulta a reinserção em sociedade. “Vejo como importante para qualquer pessoa que tenha cometido um crime, independente da idade, um acompanhamento digno em busca de avanços, melhoras de comportamento para que, assim, possa haver a possibilidade de ser recolocada em sociedade sem causar riscos para ambas as partes”, afirma Bianca. Somando-se aos projetos governamentais, Juiz de Fora conta com iniciativas populares para a prevenção da criminalidade entre jovens. Como é o caso da Pastoral do Menor, da Arquidiocese de JF. A coordenadora da Pastoral, Alessandra Cardozo, conta que a missão do projeto é a promoção da
defesa da vida de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade ao crime. Ela comenta sobre a redução da maioridade penal: “É apenas o remédio para o efeito, mas não se mexe nas causas estruturais da primeira infância. É preciso garantir creche, escola de qualidade, programas socioeducativos profissionalizantes. Fazer com que as crianças e adolescentes tenham oportunidade.”
A família
“Nunca vai acontecer comigo” é um pensamento comum entre as pessoas quando diz respeito a algo visto como socialmente ruim. V. A., aposentada de 62 anos, pensava exatamente dessa forma, mas há seis anos foi surpreendida com a notícia de que seu afilhado, L. C, na época com 14 anos, havia sido encaminhado para a casa de passeio de sua cidade, Paraíba do Sul (RJ). “Foi um choque, mas também era um alívio saber que ele não estava na casa da mãe fazendo mal a ela, à irmã e à avó dele”, afirma V. L. C. foi encaminhado ao Centro Socioeducativo por denúncia da própria mãe, que era agredida pelo filho. Segundo V. A., o jovem sempre manteve um comportamento agressivo dentro de casa, mas, no local de acolhimento, era diferente porque “ele não tinha ninguém para brigar”. De acordo com a aposentada, o tempo de isolamento foi perdido porque os quadros de violência não pararam após a soltura dele. “É a índole dele. Sempre viu os pais brigando, o pai sendo agressivo com a família. Ele aprendeu a ser assim. A gente lamenta porque não queria que fosse dessa forma, mas também não queremos que ele fique preso”. Hoje com 21 anos, L. C. é casado e mora na casa da mãe. V.A afirma que,
em quadros de uso excessivo de drogas e álcool, continua sendo agressivo. O jovem acumula outras passagens de atos infracionais e criminais em seu histórico. “Uma vez [os policiais] pegaram uma arma na casa dele. Nesse caso, ele até desceu pro Rio”, conta V. A. sobre um episódio em que o jovem foi levado para o presídio de Bangu, no Rio de Janeiro. Como no caso de L.C, diversos outros jovens são criados em ambientes familiares conturbados. Segundo a psicóloga Bianca Marques, a reeducação é primordial para que eles sejam reinseridos na sociedade de forma que tenha esperança de continuidade e construção de
uma vida normal. “É preciso um acompanhamento psicológico e um ambiente que reverta o caminho desses jovens. O tradicional sistema prisional não é o lugar adequado para isso”, afirma. O jovem preso poderá ter acesso a um ambiente mais cruel, o que piora seu desenvolvimento e dificulta a reinserção em sociedade. “Vejo como importante para qualquer pessoa que tenha cometido um crime, independente da idade, um acompanhamento digno em busca de avanços, melhoras de comportamento para que assim possa haver a possibilidade de ser recolocada em sociedade sem causar riscos para ambas as partes”, afirma Bianca.
Medidas socioeducativas aplicadas no Brasil
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ECONOMIA JF se consolida como polo cervejeiro com a criação de Arranjo Produtivo Local (APL) Cidade tem hoje 12 cervejarias registradas, que movimentam cerca de R$ 4 milhões mensais Por Luiz Carlos Lima Foto: reprodução - internet
recente reconhecimento de arranjo produtivo local, o sócio revela que as vendas continuam a crescer: “aqui tem se firmado como polo cervejeiro, com várias cervejarias, o mercado na região é muito bom, além de Juiz de Fora estar situada em uma área estratégica para logística.”
“Beba menos, mas beba melhor”
Diferentes tipos de cerveja são obtidos através dos diversos ingredientes que são compostas as bebidas
Não é surpresa para ninguém que more em Minas Gerais que a cerveja é uma bebida muito consumida neste estado da região Sudeste que se caracteriza por ser cercado de montanhas e não ter mar. E Juiz de Fora vem se consolidando, nos últimos anos, como um polo cervejeiro, tanto em relação ao estado, quanto à Zona da Mata Mineira e região sul-fluminense. As bebidas produzidas por aqui têm ganhado espaço em bares e restaurantes de fora. Principalmente aquelas com sabores diferenciados, normalmente mais fortes, chamadas de cervejas artesanais. Não é para menos que, no último dia 26 de maio, em solenidade com diversas autoridades presentes, Juiz de Fora e seu polo cervejeiro tenham sido reconhecidos como Arranjo Produtivo Local (APL) pelo Estado de Minas Gerais. A sigla significa que existe um conjunto de fatores econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, desenvolvendo atividades econômicas correlatas e que apresentam vínculos de produção, interação, cooperação e aprendizagem. E é isso que acontece em Juiz de Fora atualmente, tendo o setor de produção de cervejas artesanais com 12 empresas registradas e com faturamento mensal médio de R$ 4 milhões. A certificação do
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polo foi assinada pelo titular da juiz-forano, mais precisamente no Secretaria Extraordinária de Estado Bairro Borboleta, conhecido pelos de Desenvolvimento Integrado e descendentes de alemães vindos Fóruns Regionais (Seedif ), Wadson para a região. Um dos sócios do Ribeiro, e pelo prefeito Bruno empreendimento, Lucas Siqueira (PMDB). Wenzel, conta como foi a O economista e Expectativa ideia de abrir o negócio: professor da Faculdade com o “Eu já estava no ramo de de Economia da UFJF, cervejas especiais há sete Weslem Faria, cita o aumento das anos, e há três fundamos crescimento recente cervejarias o São Bartô (apelido do deste mercado e fala bar e cervejaria). A ideia que a APL pode ajudar locais é surgiu da necessidade do no turismo: “Esse expandir São Bartolomeu, que veio mercado se formou que a cervejaria, pelas facilidades que a também o primeiro de servir cervejas de cidade fornece. Tem um turismo melhor qualidade. Logo mercado consumidor juntamos esforços e bastante ativo, mão de obra que vem se qualificando e a conseguimos realizar o projeto.” Segundo Wenzel, “os ingredientes iniciativa dos produtores. Creio que, com este reconhecimento, básicos para a produção da o mercado turístico deve se cerveja são água, malte e lúpulo. expandir mais, consequentemente Com eles, podemos criar uma aumentando o consumo de cerveja variedade imensa de cervejas, pois há diferentes tipos destes de da cidade.” ingredientes, mas um diferencial é A palavra de quem produz que também utilizamos produtos Um dos bares mais frequentados locais, como mel, limão, abóbora, da cidade, o São Bartolomeu, abriu as caju, tangerina, mate e outros, o portas há pouco mais de três anos no que contribui para a variedade.” Com uma média mensal de mais São Mateus e tem sua especialidade bem explícita: a cerveja artesanal de 13 mil litros da bebida produzida, e as comidas gourmet. Para quem a cervejaria já tem alcançado outras busca qualidade, exclusividade cidades: “Além de Juiz de Fora, e pode pagar um pouco mais, o vendemos em mais quatro pontos no bar oferece uma cerveja de alta Rio de Janeiro e um em Ibitipoca”, qualidade. E esta é fabricada em solo explica Lucas. Em relação ao
A frase acima é do cervejeiro Fabrício Costa, que se autodenomina paneleiro, nome dado a quem faz cerveja em panela em casa. Ele produz sua bebida há três anos. Fabrício está em um projeto que deve inaugurar, em breve, a Cervejaria Escola Mirante. O cervejeiro conta que o interesse surgiu após uma viagem ao exterior. Ao lado de dois amigos, a intenção é “ter, em um mesmo espaço, a oportunidade de as pessoas aprenderem como fazer, efetivamente, e, após todo o processo, beber a cerveja”. Segundo o empreendedor, as vendas de cerveja artesanal no Brasil representam cerca de 1,2% de total de cervejas. Apesar de o número parecer pequeno, o crescimento anual está na casa de 20%. Fabrício ressalta que as pessoas estão adquirindo o hábito de beber cerveja artesanal: “O juizforano descobriu este tipo de cerveja há algum tempo, e é uma realidade hoje em dia. A cada ano, aumenta e não pode ser considerado um modismo. Dono de estabelecimento que não colocar a opção de cerveja artesanal em sua prateleira vai ficar para trás.”
Força do negócio local
Durante a criação da APL, no último dia 26, o assessor da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de Juiz de Fora (Sedettur), Marcos Henrique Miranda, revelou que, “além das 12 empresas cadastradas na cidade, há outras seis em processo de regularização, fazendo com que o setor gere cerca de 400 empregos diretos, 1.600 indiretos e a produção das cervejarias somadas, chegando a 350 mil litros por mês.
UFJF Empresas Juniores são diferencial para o mercado de trabalho e a vida profissional do estudante
Na UFJF existem 12 Empresas Juniores que abrangem as três àreas do conhecimento Por Lizandra Braga Foto: Lizandra Braga
para minha primeira experiência no mercado de trabalho”, ressalta Daniela. Ela comenta que logo que saiu da Mais Consultoria Jr., em 2015, um empresário que ela conheceu através do MEJ a convidou para trabalhar na empresa dele dispensando entrevistas e demais processos de seleção. Além dessa experiência, ela conta sobre o que está vivendo atualmente, como estagiária na quinta maior empresa de alimentos do mundo, a Kraft Heinz. De acordo com Daniela três aprendizados proporcionados pelo MEJ foram fundamentais para essa conquista: “É preciso ter atitude de dono parar encarar grandes desafios; é preciso trabalhar duro para gerar grandes resultados; meu crescimento está diretamente relacionado aos meus resultados. É isso que a empresa procura, algo que consegui mostrar no A Campe Consultoria Jr. conta com 20 colaboradores dos cursos de Economia, Ciências Contábeis e Administração processo seletivo pelas experiências práticas que tive no movimento”. Em Quando o aluno ingressa no ensino no mercado sênior, onde estão as Exemplo que inspira superior são apresentadas a ele várias empresas tradicionais fora do âmbito Daniela Marota é estudante do 2017, a Kraft Heinz se tornou parceira oportunidades, algumas com um viés das universidades. curso de Engenharia de Produção da da Brasil Júnior, passando a ter processo mais acadêmico, como os projetos de Em 2016, as Empresas Juniores UFJF e entrou no MEJ em 2013, na seletivo exclusivo para os empresários iniciação científica e o PET (Programa faturaram R$12,2 milhões de reais, Mais Consultoria Jr. Após passar pelos juniores. de Educação Tutorial), e outras com através de projetos e consultorias cargos de gerente de projetos e atuar uma vertente mais empresarial, como é realizadas para empresas já existentes na setor da qualidade, ela se tornou Campe: 25 anos de história o caso das Empresas Juniores (EJ’s). Na no mercado, segundo dados da Brasil presidente da empresa em 2015. Junto A Campe Consultoria Jr. é a Empresa Universidade Federal de Juiz de Fora Júnior. Como o trabalho realizado na a isso, ela também já foi assessora de Júnior mais antiga da UFJF, ela abrange (UFJF) existem 12 EJ’s, que abrangem EJ é voluntário, o dinheiro recebido desenvolvimento, coordenadora de os cursos de Administração, Ciências todas as áreas do conhecimento: é utilizado para reinvestir nos suporte e diretora de desenvolvimento Contábeis e Economia. Membro do humanas, saúde e exatas. membros e na empresa, tornando- na FEJEMG, maior federação do mundo. Comitê de Gestão de Pessoas, Thays O diretor Administrativo- se assim um círculo virtuoso. Outro “É comum as pessoas entrarem no Cristina Lopes, afirma que pelo fato de Financeiro da Federação das grande diferencial do movimento é movimento buscando um diferencial ser a primeira EJ da universidade, é um Empresas Juniores do Estado de que além da parte prática, os alunos curricular, comigo não foi diferente. No exemplo de consolidação. Ela destaca Minas Gerais (FEJEMG), Pedro aprendem a parte de gestão de uma entanto, as surpresas foram grandes. O que nos últimos anos a empresa vem Augusto Fernandes, conta que o empresa, uma vez que ocupam desde diferencialcurricularficoucomosegundo se renovando muito para se adaptar ao movimento surgiu na França em 1967 os cargos de trainees até a presidência. plano e o que realmente fez diferença mercado atual. com a ideia de formar os estudantes Os professores atuam apenas como foi o desenvolvimento profissional Pelo fato de ser composta por alunos na vivência prática ainda durante a orientadores dos projetos. Desse e, principalmente, que buscam se tornar graduação. Já no Brasil, o movimento modo, os três pilares do movimento pessoal. Aquele papo “Meu empreendedores, a ideia chegou em 1987, quando a Câmara são: o aprendizado por gestão, o de que colocar a teoria inovação é muito bem crescimento está de do Comércio Brasileira, juntamente aprendizado por projetos e a cultura aprendida em sala de aceita e implementada com a Francesa, trouxe a iniciativa empreendedora. diretamente aula na prática é verdade na empresa e nos para alunos da Faculdade Getúlio Na UFJF, foi fundada em 2014 a e é essa prática que faz a projetos desenvolvidos ligado aos meus Vargas (FGV), numa época em que Liga das Empresas Juniores com o diferença na faculdade”, para os clientes. “O o Brasil passava por um momento de objetivo de integrar as EJ’s já existentes conta. Além disso, ela resultados” nosso crescimento instabilidade econômica. e dar suporte para as que viriam a destaca que aprendeu a também está veiculado - Daniela Marota, De acordo com Pedro, o objetivo ser fundadas. A presidente, Marina lidar com diferentes tipos estudante ao crescimento da do Movimento Empresa Júnior (MEJ) Duarte, explica de que forma a Liga pessoas, a se comunicar empresa como um todo”, é tornar os universitários capazes de atua: “Buscamos sempre a integração e melhor, a encarar grandes desafios com destaca Thays. transformar o Brasil em um lugar alinhamento entre as EJ’s, assessorando mais confiança, sem medo de errar, e Ela conta que os alunos que melhor, com a “formação de um país a regulamentação, estimulando e resolver desde problemas simples aos participam da EJ e ex-membros mais empreendedor, por meio da orientando as iniciativas e sendo a mais complexos. são constantemente solicitados por formação de mais empreendedores”. representatividade do MEJ juiz-forano”. “Uma das grandes vantagens que empresas seniores. “Toda semana Para que isso ocorra, o estudante que Segundo Marina, a liga possui total o movimento tem é a rede de contato chega email oferecendo vaga de estágio vivencia o MEJ é capaz de impactar apoio da Universidade Federal de Juiz que fazemos não só com universitários especialmente para estudantes do MEJ, as faculdades, o mercado e o país, à de Fora, que se mostra favorável ao do mundo inteiro, mas também o mercado como um todo consegue ver medida em que forma mais pessoas, MEJ e aos benefícios para os estudantes com o ecossistema empreendedor e que quem participou de EJ chega mais para executar mais projetos e atuar e a sociedade como um todo. este foi um ponto muito importante capacitado”.
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UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora oferece serviços para a comunidade local O objetivo dos projetos é proporcionar lazer e qualificação para população juiz-forana Por Gustavo Pereira Foto: Gustavo Pereira
Projetos de Extensão
Pessoas de todas as idades se divertem com brincadeiras e atividades de lazer durante as manhãs de domingo na UFJF
Para além da produção acadêmica e formação de profissionais, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) é também um local de desenvolvimento de projetos que buscam atender à comunidade, seja a partir da Pró-Reitoria de Extensão ou por meio de parcerias. No edital do primeiro semestre de 2017 foram contemplados 305 projetos e 23 programas de extensão para os campi de Juiz de Fora e Governador Valadares. Além disso, a UFJF conta com uma parceria junto à ex-reitora e deputada federal, Margarida Salomão (PT-MG), que destina parte de sua verba proveniente de emendas parlamentares para auxílio de projetos de extensão. O diretor da Imagem Institucional, Márcio Guerra, falou sobre a utilização desses recursos: “A legislação da Universidade não permite verbas para obras e nem para compra de equipamentos, principalmente porque precisam ficar alocados na UFJF. Os recursos podem ser usados para pagamento de oficineiros, e para materiais necessários para realização das oficinas, além de objetos essenciais para o acontecimento do projeto.”
Domingo no Campus Um dos projetos desenvolvidos na Universidade Federal de Juiz de Fora é o Domingo no Campus, que acontece aos primeiros e últimos domingos de cada mês e tem como principal objetivo atrair pessoas da comunidade para a Praça Cívica da UFJF, além de promover lazer e resgatar o espírito de brincadeira em todas as idades. A
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vice-reitora da UFJF, Girlene Alves, a importância do trabalho: “Nós destacou a importância do projeto: julgamos como positiva a ministração “sempre que eu posso eu participo, é desse curso sobre cuidadores de uma iniciativa muito positiva, porque idosos, primeiro porque existe uma Juiz de Fora não tem muitos espaços carência desse tipo de profissional de lazer, principalmente para as no mercado, a população está crianças. Eu acho muito interessante, envelhecendo. E depois devido a é um momento de troca”. oportunidade de empregar pessoas de A oficineira de ginástica e carteira assinada, e possibilitar a elas alongamentos para a terceira idade, uma chance a mais de trabalho.” Vanessa Cuppertino, A professora de ressaltou que o projeto “é enfermagem da UFJF e muito gratificante, por “Eu acho muito oficineira no curso de poder trazer exercícios cuidadores de idosos interessante, é práticos e fáceis de Ângela Maria Gonçalves serem feitos, e com isso um momento de destacou o atual as pessoas presentes panorama da profissão: troca”. podem reproduzir “tem muita gente que Girlene Alves, os movimentos precisa desse cuidado, vice-reitora da UFJF mesmo em casa”. Já mas atualmente muitas Jerônimo Lopes, que pessoas leigas é que trabalha com o grupo de resgate prestam esse serviço. A oficina de brincadeiras e jogos populares, permite a essas pessoas aprenderem ressalta a importância dessa ocupação como cuidar de idosos e ainda do espaço público oferecendo opções representa uma forma de capacitação de lazer para a comunidade do aos participantes” entorno da universidade. “Uma das A auxiliar de sanitização, Ísis dos mais positivas coisas do Domingo no Santos contou o motivo de estar Campus é o fato de nós conseguirmos participando do curso: “Eu perdi fazer com que pais e filhos minha mãe quando tinha 6 anos e, compartilhem momentos juntos”, desde então, sempre tive vontade de enfatiza. cuidar das pessoas. Eu queria criar uma ONG, mesmo sendo muita nova. Mas aí, fui crescendo, e com 10 anos Cuidadores de Idosos comecei a cuidar de idosos na minha Outro projeto desenvolvido família”. Já a cuidadora de idosos em parceria com a Universidade Ana Cristina Rosa ressaltou sobre a Federal de Juiz de Fora é a oficina de importância dessa capacitação. “Eu cuidadores de idosos na Associação vim para aprender novas técnicas e de Apoio à Crianças e Idosos (AACI), me aperfeiçoar mais na área que eu no bairro Nova Era. O coordenador trabalho. Esse curso me abre portas da oficina, Flávio Galone, falou sobre para o mercado de trabalho.”
A UFJF busca auxiliar a comunidade do seu entorno e uma das maneiras de servir a população juiz-forana é por meio dos projetos de extensão, que fazem um elo entre universidade e comunidade. Um desses projetos é o Arte em Trânsito, criado em 2011, que desenvolve atividades no colégio João XXIII. De acordo com a coordenadora Renata Caetano, são realizadas algumas ações anuais, afim de apresentar proposições artístico-pedagógicas desenvolvidas no João XXIII, e uma das principais atividades ocorre normalmente em setembro, que é a Mostra Cultural. “Além disso, ainda fazemos o Colóquio Arte em Trânsito, que visa a debater importantes questões sobre a arte e seu ensino. Outras ações do projeto são o ConVida, que realiza exposições de arte na Galeria Edson Pável Bastos (CAp João XXIII); a Residência Artística, que é um trabalho colaborativo geralmente realizado entre um artista e os estudantes; o gerenciamento de site e redes sociais com conteúdo sobre o projeto e artigos sobre arte e artistas em geral; e o Pés na estrada, que trabalha a formação de professores das redes municipal e estadual de outras cidades. Outro projeto de extensão desenvolvido na UFJF é o Ponto de Samba. “Foi criado em 2012, no intuito de organizar eventos musicais no cenário do samba de Juiz de Fora e região, e em 2014 passou a ser um projeto de extensão da UFJF. Isso permitiu ampliar as ações para a pesquisa sobre a memória do samba e dos artistas da cidade. A pesquisa também abrange metodologias de ensino dos instrumentos de percussão do samba”, destaca o coordenador Carlos Fernando Cunha. Ele também afirma que são realizadas oficinas e seminários para a comunidade. “Gravamos um CD com sambas desde a década de 1930 até os compositores atuais, e estamos em processo de gravação de outro”, ressalta. A UFJF conta também com projetos interdisciplinares, que buscam trazer a comunidade para apropriar-se do seu espaço, como é o caso do Nutrição e CRIA (Centro Regional de Iniciação ao Atletismo). O bolsista do projeto Dhiego Gustavo Torga explica como ele funciona: “O principal objetivo é dar oportunidades para crianças e adolescentesiniciaremapráticaesportiva. Além disso, o grupo promove oficinas, palestras, jogos e gincanas relacionados à educação alimentar nutricional.”
CULTURA Cineclubes em Juiz de Fora são alternativa para apreciadores da sétima arte Com fim do Palace, cinéfilos ainda têm outras opções para sair do circuito comercial Por Aline Sotto Maior Negromonte
Cineclubes na UFJF
O Cineclube Movimento, do Instituto de Artes e Design, iniciou suas atividades em 2014 e tem uma mostra por semana. Atualmente, conta com a atuação de bolsistas e orientação da professora Alessandra Brum. Ela conta que o cineclube é um projeto de
FOTO: DIVULGAÇÃO COMPLEXO CASA
A notícia de que o tradicional cinema de rua Cinearte Palace iria fechar as portas deixou muita gente desapontada, gerou o movimento Salve Cine Palace e plantou uma dúvida nos fãs da sétima arte. O espaço oferecia, além do catálogo comum, filmes fora do circuito comercial, além de sediar os festivais Primeiro Plano e Varilux de Cinema Francês. Juiz de Fora, porém, tem onde reunir seus cinéfilos. Diversos cineclubes estão presentes na cidade. Só na UFJF, são dois: Cineclube Lumiére e Cineclube Movimento. Há o Cine Sesc, com mostras temáticas, ou a mostra Kinofrei de cinema alemão, no Anfiteatro João Carriço. Estes são alguns dos sete cineclubes ativos no município. Todos, exceto a mostra do Cinema Complexo, são gratuitos.
Cinema a céu aberto Cinema Complexo, no Complexo Casa extensão do Grupo de Pesquisa CPCine – História, Estética e Narrativas em Cinema e Audiovisual, desenvolvido por professores e alunos do Bacharelado em Cinema e Audiovisual. Ele foi concebido a partir de uma demanda dos discentes do IAD e, em especial, da aluna e ex-bolsista do projeto, Yammaris Oliveira, que o concretizou. “O Cineclube Movimento parte do seguinte princípio: Kínema, origem grega da palavra Cinema, significa ‘movimento’. Palavra cara à história do cinema: foram movimentos o Neorrealismo, a
Nouvelle Vague e o Cinema Novo. Não é possível falar da circulação de filmes no Brasil sem falar do movimento cineclubista. E movimento é tudo aquilo que realça a capacidade de invenção política e cultural de artistas, do público e dos estudantes”, ressalta Alessandra. Destinado a docentes, discentes e a toda a população, o cineclube pretende “utilizar o audiovisual como elemento de formação de senso crítico e estimular os conhecimentos sobre a produção cinematográfica e sua utilização nos ambientes educativos”.
Ainda na UFJF, o Cineclube Lumiére e cia é da Faculdade de Comunicação e foi criado em julho de 2013, idealizado e coordenado pela professora Erika Savernini. São realizadas uma mostra por semestre letivo, entre dez e 12 sessões semanais, às 14h30 até as 17h das quintas-feiras. As sessões são abertas ao público e podem ser usadas como disciplina optativa por estudantes da UFJF. “Desde o início, temos parceria com o PET-Facom, que tem o Cineclube como uma das suas ações no âmbito da extensão”, afirma Erika. Ela enfatiza que as mostras são montadas de forma a que os filmes dialoguem entre si, apresentando ângulos diferentes e aprofundamento em torno da temática central. “O objetivo do Cineclube Lumière e cia é estimular a formação de uma cultura cinematográfica, cujos desdobramentos, relacionam-se ao desenvolvimento da capacidade de entender, fazer uma leitura crítica, analisar e pensar de forma audiovisual. Para tanto, a dinâmica das sessões é de exibição do filme seguida de análise aprofundada e debate.
Um toque germânico
Outros territórios cinematográficos Nem só da academia vive o cineclubismo juizforano. O Cine Sesc, por exemplo, acontece todas às quartas, às 19h, e existe há cinco anos. De acordo com a analista de serviço social do Sesc Juiz de Fora, Cadija Costa, em 2016, a programação passou a ser planejada regionalmente, ou seja, todas as unidades do Sesc em Minas Gerais exibem semanalmente o mesmo filme. Além destas exibições, há edições especiais e escolares. “Entendemos a importância do audiovisual e acreditamos que esta ação contribui para que grandes obras cinematográficas alcancem, de forma gratuita, grandes públicos, de forma ampla e irrestrita”, finaliza Cadija. Já o Cineclube Bordel sem Paredes foi idealizado pelo produtor cultural e cinéfilo Daiverson Machado. Em maio
deste ano, o projeto completou sete anos. Tudo começou como um trabalho de conclusão do curso de Daiverson e sua equipe no curso do Observatório da Diversidade Cultural, uma ONG de Belo Horizonte. Ao ser aprovado, o cineclube surgiu no Corredor Cultural em 2010, com a mostra Cinema Marginal. “Foi bem interessante, e, desde então, a gente não parou mais. Começamos no Anfiteatro João Carriço, passamos pelo CCBM (Centro Cultural Bernardo Mascarenhas) e estivemos também na sala do Mamm (Museu de Arte Murilo Mendes)”, declara Daiverson. Atualmente, o produtor mora no Rio de Janeiro, mas continua “fazendo a gestão à distância” das mostras, juntamente com o colaboradores e o organizador Guilherme Rezende Landim. “O
principal objetivo é difundir o cinema não-comercial, revelar e discutir outros olhares e temáticas sobre a realidade através do cinema", conclui. E que tal um cinema a céu aberto? O Cinema Complexo, realizado no Complexo Casa há quase um ano, possibilita essa experiência. Idealizado pela proprietária, Maria Fernanda Manna, o cinema ocorre no quintal do Complexo Casa. "O lance do Cinema a céu aberto sempre me chamou atenção. Até por lembrar a época dos drive-ins. O Complexo tem um quintal incrível, bem cuidado, propício pra cinemas assim. Então, por que não?” A proprietária também fala sobre a dinâmica do evento. “A verdade é que não tem periodicidade certa, até porque depende da situação climática...”
Para quem vê o cinema como porta de entrada para outras culturas, há duas oportunidades: as mostras de cinema alemão Kinofrei e do Cinema Alemão. O cineclube Kinofrei é coordenado pela tradutora Gercélia Batista de Oliveira Mendes, que existe desde novembro de 2016 e acontece no Anfiteatro João Carriço. “O objetivo principal é chamar a atenção das pessoas para a língua alemã. Secundariamente, queremos contribuir com o cenário cultural, porque são filmes fora de circuito, não comerciais e até inéditos aqui no Brasil,” declara Gercélia. Já o Instituto Autobahn oferece o Cinema Alemão para seus alunos e o público em geral toda última sexta feira do mês, às 19h. Idealizado pela diretora e professora alemã Christine Müller Hill Maestrini, a mostra existe desde 2014. Após a sessão, que inclui legendas em português, a professora revela “detalhes, fatos, costumes, curiosidades” e contextualiza a cultura alemã para os espectadores. O professor Alexandre Muller Hill Maestrini afirma: “Temos hoje mais de 50 mil descendentes de alemão em uma cidade de imigração alemã. A mostra é importante para eles e para alunos de intercâmbio”.
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CULTURA Bandas locais buscam reconhecimento no cenário nacional Músicos juiz-foranos comentam sobre as dificuldades e oportunidades da trajetória Por Bárbara Schmidt
A Nova Geração
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Foto: JP Souza
Etcoetera, que se apresentou no início deste mês no Cultural, prepara-se Grupo Alquimia comemora as apresentações mensais na roda se para participar do WebFestValda, na Fundição Progresso, no Rio samba da Boate All In, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro
lugar ao Etcétera, podendo inclusive ser abreviado para ETC, significando que a banda é reggae, é samba, é pop, e etc; é um pouquinho de cada coisa. Os músicos também planejam alterar a identidade visual, mas garantem que fazer o melhor som possível continua sendo o principal objetivo. Outro exemplo de amigos juizforanos que vêm batalhando para conquistar espaço no cenário nacional são os meninos do Grupo Alquimia. Tudo começou no Colégio dos Jesuítas, quando se reuniram para participar de um Festival de Talentos, o que gerou certa visibilidade e acabou desencadeando convites para pequenos eventos, como churrascos e aniversários de amigos e familiares. Com o tempo, o que era só diversão acabou se tornando investimento profissional: hoje o grupo é composto
por dez músicos, já tendo lançado CD, EP e hits de sua própria autoria tocados nas rádios da cidade. O vocalista Mateus Marchiote conta que, desde o momento em que os jovens escolheram levar esse projeto como profissão, a maior ambição é rodar o Brasil fazendo shows, uma vez que o samba está presente em todos os tipos de eventos de alguma forma. Ele conta um pouco da trajetória do grupo: “Primeiro foi muito importante consolidar o Alquimia na cidade para termos a credibilidade e maturidade na busca de novos desafios fora de Juiz de Fora. Em meio a isso, gravamos um CD no Rio de Janeiro, no Studio do Wilson Prateado, na época produtor do Sorriso Maroto e hoje do Thiaguinho. Com esse projeto e afirmação do grupo na cidade, tivemos material e respaldo para nos apresentar em casas de shows
na região e no próprio Rio.” Mateus ressalta que um dos melhores caminhos para se alcançar o reconhecimento nacional ainda é colocar músicas autorais em trilhas de novelas, já que a população do Brasil é culturalmente “noveleira”, mas que, felizmente, hoje as redes sociais ocupam um lugar quase tão forte quanto estas. “Número de seguidores, curtidas em postagens e principalmente visualizações no Youtube são seguimentos tão importantes quanto novelas. E é claro, tudo isso sendo gerido por uma pessoa que tenha influência no mercado musical para que os passos sejam dados de maneira correta.” O Grupo Alquimia já tem três clipes gravados, e o vocalista conta que já recebeu mensagens de fãs até mesmo de Goiás, que ouviram e curtiram o som.
Banda Onze:20 consegue alcançar o sonho da carreira nacional
Ainda em meio a essa nova desvalorização dos artistas, geração de músicos de Juiz de sendo estes os maiores Fora seria impossível deixar desafios de se fazer música de citar uma das bandas locais nos dias de hoje”. mais consagradas no cenário Vitin ainda aconselha nacional, que criou seu próprio as bandas que estão estilo, o “RootsRockReggae”. começando: “Sempre A banda Onze:20 conseguiu trabalhar duro e fazer muita ficar nacionalmente conhecida música autoral. Afinal, já em 2012, após lançar o single dizia o ditado: ‘nada substitui “Meu Lugar”, do seu segundo o talento’, porque, quando a álbum. Hoje, três CDs, dois Onze:20 leva milhares de pessoas aos shows e já tocou até no Japão oportunidade aparece, você EPs, inúmeras entrevistas tem que mostrar que merece e shows depois, os músicos continuam que nos ajudou a crescer no país”. Nessa estar ali.” O músico contou que começou em alta e somam quase 174 milhões de época, o grupo nem poderia imaginar a perceber que estava chegando perto do visualizações em videoclipes oficiais no que, alguns anos depois, em 2015, um de seu sonho a cada show marcado longe de seus CDs (“Vida Loka”) seria indicado casa; quando estava em um lugar bem Youtube. Chegaram longe! O vocalista do Onze:20, conhecido ao Grammy Latino, na categoria Melhor distante e via as pessoas cantando as como Vitin, garante que ele e seus colegas Álbum Pop Contemporâneo, sendo músicas próprias de sua banda. sempre foram pró-ativos, fazendo seus eles os únicos representantes do país a Ao final da entrevista, o vocalista próprios eventos em Juiz de Fora e tocarem no evento, em Las Vegas. complementou: “Fico muito feliz por Embora a banda tenha alcançado o tudo o que fizemos, principalmente por fazendo “tratados” com bandas de outras cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo. sucesso e até se apresentado em outros trazer mais olhos para as bandas de Juiz “Chamávamos de troca de cebolas, íamos países, o vocalista comentou que o de Fora. Temos inúmeros talentos aqui e tocar a troco de divulgação. Acho que foi cenário musical está banalizado. “Ocorre acho que muitos precisam apenas de um esse contato com bandas de outras regiões a falta de estrutura, de oportunidades e a “empurrãozinho”. Foto: Bernardo Traad
A banda Etcoetera, fundada em 2011, apresenta um repertório que mescla rock, reggae, pop e MPB. Nos shows fica claro o cuidado de selecionar músicas que transmitem um clima de positividade, enquanto o público canta entusiasmado. A formação atual tem três amigos que sempre tiveram gostos em comum: Eduardo Fávero (voz e violão), Vinícius Vieira (baixo) e Felipe Balut (bateria), que hoje têm quase 43.500 fãs na página do Facebook. Os músicos contam que, desde o início, tiveram a preocupação em fazer eventos para divulgar seu trabalho, além de aceitar as oportunidades e participar de todo tipo de festa, como exposições, chopadas universitárias, formaturas e shows em casas noturnas. Com isso, conseguiram chamar a atenção não somente do público conterrâneo, mas de produtores musicais da região, que os permitiram expandir seu sucesso para além do mercado local. “Fomos presenteados com a oportunidade de nos apresentar no palco da Fundição Progresso no Rio de Janeiro. Seguimos dando um passo de cada vez”, diz o baixista Vinícius. Embora a banda já tenha um CD lançado, o baixista destaca uma dificuldade: “Um dos maiores desafios tem sido criar um conceito forte para nossa música, que possa ser aceito por pessoas de culturas e realidades tão diversas do Brasil. E, a partir daí, conseguir parceiros que acreditem nesse conceito.” Além disso, o exótico nome da banda, “Etcoetera”, vai dar
Foto: Marco Macedo
Juiz de Fora é uma cidade repleta de jovens e universitários interessados em aproveitar os fins de semana nas casas noturnas e de shows, onde atrações locais e nacionais, de todos os gêneros, agitam as noites. Para a sorte dos baladeiros, o que não falta por aqui são músicos com muita vontade de se apresentar. Afinal, fazer da música uma profissão e um negócio de sucesso é o sonho de muitos, principalmente pelas consequências: fama, reconhecimento, fãs e estabilidade financeira. Mas essa trajetória não é fácil, sobretudo por haver muitos interessados e nem tantas oportunidades no mercado. Juiz de Fora é cidade natal de músicos que conseguiram alcançar carreira nacional, como a cantora Ana Carolina, que já vendeu mais de cinco milhões de discos, e a banda Strike, que já teve até um de seus singles como abertura da novela “Malhação”. Espelhando-se nesses e em outros artistas, a atual geração de músicos amadores da cidade têm corrido atrás do sucesso e merecem destaque.
ESPORTE Idosos que praticam esporte têm expectativa de vida aumentada em dez anos, afirma especialista
Avaliação médica é necessária para um idoso começar a praticar qualquer modalidade Por Giovanna Lima Foto: Giovanna Lima
capazes de aumentar a expectativa de vida: “Você pode chegar tranquilamente aos 80 anos, no caso dos homens, e até aos 90 no caso das mulheres. A gente fala que as mulheres são o sexo frágil quando, na verdade, elas vivem muito mais do que nós homens por se cuidarem mais”, relaciona.
Verdadeiros campeões
Foto: Giovanna Lima
Apesar da pesquisa do IBGE apontar que a expectativa de vida no Brasil é de 75 anos em média, tem gente que anseia viver muito mais, e com muita saúde e bem-estar. Exemplo disso é o grupo de idosos do Sesc de Juiz de Fora que pratica boliche, vôlei, natação e lancebol. A professora do grupo, Paula Moreira, aponta que a socialização é um dos principais benefícios para os idosos que frequentam o local para a prática desses esportes. “Há idosos que são Therezinha Leite Haddad, de 91 anos, se orgulha em mostrar as dezessete medalhas de commuito sozinhos, então quando vêm petições de natação que ainda guarda em sua casa para cá, eles conversam, se divertem Não é novidade para ninguém Poder preventivo e interagem com outras pessoas, além que o esporte pode trazer inúmeros Um dado curioso vem do Instituto de terem todas as vantagens que benefícios para os que o praticam. de Assistência Médica ao Servidor o esporte proporciona”, esclarece. Quando a referência é esporte na Público No fim de todo (Iamspe): terceira idade, então, as vantagens idosos que praticam ano, em meados de “Quando me são ainda maiores. Seja para quem exercícios novembro, é realizada físicos acham muito bem pratica atividade física desde novo r e g u l a r m e n t e a Copa Master Sesc, ou quem começou já em uma idade procuram um campeonato de menos de saúde, eu falo mais avançada, a qualidade de vida atendimento médico atividades adaptadas aumenta perceptivelmente com o do que os sedentários. para a pessoa ‘Ah, para a terceira esporte. De acordo vai nadar’, e mando idade como boliche, A expectativa de vida média no com o geriatra e buraco, vôlei, todo mundo ir Brasil atualmente, segundo pesquisa cardiologista Márcio lancebol, natação, do Instituto Brasileiro de Geografia Borges, o esporte sinuca, ping pong e nadar! e Estatísticas (IBGE), é de 75 anos, aumenta a expectativa peteca. Therezinha Haddad, Outra inspiração 5 meses e 26 dias. São números de vida em dez anos, 91 anos é a aposentada que até assustam com tamanha exercita o coração exatidão, porém, algumas pessoas e a musculatura Therezinha Leite não se deixam amedrontar com esse e previne problemas como Haddad, que tem 91 anos e muita cálculo e só querem saber de viver hipertensão, obesidade e fraqueza história para contar, afinal, mais do que isso. muscular. Márcio explica que não pratica natação desde os 9. Segundo o Estatuto do Idoso, há uma regra geral sobre a limitação Chegando em sua casa, quem atinge a marca dos 60 anos de de esportes para idosos devido ela logo exibe com idade é considerado idoso no Brasil. à heterogeneidade dessa classe. orgulho e admiração No entanto, a qualidade de vida “Há pessoas que têm 70 anos, mas as 17 medalhas que cresce consideravelmente a cada aparentam ter 80. E há quem tenha conseguiu guardar. dia e essa consideração passou a ser 70, mas aparenta ter 40. Por isso, Isso porque outras duvidosa por alguns. Uma pesquisa cada um deve fazer uma avaliação tantas foram doadas do Ministério do Esporte do Brasil médica e consultar qual esporte é aos filhos e netos e ela de 2013 revelou que o principal o mais indicado para evitar futuros diz que nem lembra motivo para a prática de esportes, problemas na coluna vertebral ou mais quantas foram no apontado por pessoas entre 65 e 74 fraturas”, ele acrescenta. total. anos, foi a busca por qualidade de Therezinha é fiel a seu O geriatra revela ainda que quem vida e bem-estar. O segundo motivo pratica esporte tem uma tendência esporte preferido. Nunca apontado pelo estudo foi a indicação maior a não fumar e a ter uma praticou outra atividade e, até médica. alimentação balanceada, fatores hoje, vai para a piscina logo cedo, às
sete horas da manhã, todos os dias, exceto segundas e sábados. “Natação é o ideial, me completa e eu faço com prazer até hoje. Ela mantém minha memória, as amizades e não deixa eu ficar isolada em casa. Quando me acham muito bem de saúde, eu falo para a pessoa ‘Ah, vai nadar’, e mando todo mundo ir nadar!”, brinca. O também aposentado Raimundo Boscaro, 74, é um amante da corrida e já chegou a competir meia maratona, que corresponde a 21 quilômetros completos. Ele começou a participar das corridas de rua há 30 anos e hoje alia o esporte à musculação e ao spinning na academia que frequenta de segunda a sexta-feira. Raimundo garante que, com a idade que possui, está muito bem fisicamente: “Melhorou meu condicionamento físico, os exames médicos estão sempre no gabarito e tenho uma qualidade de vida muito melhor”.
Raimundo corre no “2º Treinão do Brugiolo”
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COMPORTAMENTO Yoga, meditação e florais: recursos holísticos ganham espaço na luta contra a ansiedade Psicóloga afirma que o conceito de Mindfulness já é considerado uma forma de tratamento Por Clara Carvalho Foto: Diogo Albino
Conti, 23 anos, recorreu ao tratamento de terapia com florais. “São essências das flores que você toma em gotas e cada essência tem uma causa específica. Com o tempo, ela vai dissolvendo os problemas que visa melhorar. Os florais trabalham o ser como um todo, na plenitude. Foi então que realmente senti que estava livre da ansiedade, quando aprendi a lidar com os meus problemas, me controlar e acalmar.”
Projetos unem medicina tradicional e holística
Projeto Essência promove eventos que oferecem yoga, meditação e palestras em busca de autoconhecimento e bem-estar
Ansiedade. A palavra que define o que tanta gente sente sem dizer. O “transtorno do século” atinge, no Brasil, 18 milhões de pessoas, segundo dados de fevereiro desse ano da Organização Mundial de Saúde (OMS). Com esse número, o país fica em primeiro lugar no mundo com a maior ocorrência da doença. No caso global, são 264 milhões de pessoas com ansiedade. Mas você sabe o que é esse transtorno e porque ele está atingindo cada vez mais pessoas? A psicóloga Larissa Assis explica que, normalmente, a ansiedade surge por questões emocionais e está ligada a previsão de algo que não aconteceu ainda, mas que gera insegurança e preocupação. “A gente se cobra muito, na crença de que temos que dar conta de tudo. São inúmeras escolhas que podemos realizar em nossa vida e isso gera uma apreensão em não errar. Não aprendemos a lidar com a velocidade da informação que chega até nós, e acreditamos que também devemos ser rápidos em tudo. Isso é um prato cheio para desencadear os processos ansiosos.” A estudante de medicina veterinária, Júlia Parisi, 21 anos, passou por isso. “A faculdade e todas as cobranças que ela envolve foram os principais motivos para eu ficar ansiosa. São cobranças dos professores, dos pais, mas principalmente da gente mesmo. Cobrança por boas notas, para conseguir um bom estágio, melhorar
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o currículo e conseguir um bom emprego depois de formada.”
Ansiedade não é frescura
Apesar do grande número de pessoas que sofrem com o problema, ele às vezes é visto como drama ou exagero. “A ansiedade é sim uma doença e pode prejudicar a rotina, gerando sofrimento físico e emocional, além de sintomas como batimento cardíaco acelerado, tensão muscular, problemas estomacais, dificuldade de concentração, pensamento acelerado, preocupação intensa, irritabilidade, dificuldade em dormir, tristeza, entre outros”, enumera a psicóloga Larissa Assis. A jornalista Thalita Delgado, 26 anos, sofreu com os sintomas, e ainda mais com as críticas. “Quando não tem apoio é muito difícil, principalmente quando você toma remédio. As pessoas falam que você não precisa daquilo. Acham que quem sofre de ansiedade são pessoas mimadas, que não sabem lidar com as frustações. Isso faz a gente achar que realmente não precisa de tratamento, e acabamos nos culpando mais. Quem sofre de ansiedade não precisa de julgamentos, precisa de espaço para falar e se abrir.”
Tratamentos holísticos
Segundo a psicóloga Larissa Assis, como os sintomas da ansiedade podem ser físicos e emocionais, o tratamento
precisa estar nas duas frentes. “Os pensamentos e o modo como interpretamos as situações fazem toda a diferença. Por isso, o tratamento é feito com psicoterapia e, quando necessário, uso de medicamentos”, afirma. Ainda segundo Larissa, o conceito de Mindfulness, que é a capacidade de prestar atenção em nós mesmos, também vem sendo usado por profissionais como forma de tratamento. “A consciência plena designa um estado mental de autorregulação da atenção para a experiência presente. A ideia é estar consciente do que se passa no corpo, na mente, nos pensamentos e nas emoções.” Nesse sentido, os tratamentos holísticos ganham espaço, pois consistem em tratar um problema não apenas na sua vertente física, mas também como resultado de desequilíbrios energéticos e emocionais. A jornalista e blogueira Laila Hallack, 29 anos, procurou por outros tratamentos, além da terapia e dos medicamentos. “Sempre soube que se não tratasse as causas da ansiedade, o problema não ia passar. Vi na meditação e no yoga uma forma de me conectar com o que estava deixando de lado, minha espiritualidade e essência. Acredito que a ansiedade é um grito de socorro do corpo e da mente apontando que algo está errado.” A estudante de psicologia, Marina
A estudante de administração, Rafaela Salgado, 22 anos, criou um projeto que busca a prática de um estilo de vida mais leve e saudável, com ajuda de profissionais, como coach e professores de yoga e meditação. “Sempre fui ligada a isso, e em conversa com uma amiga percebemos uma carência de eventos nessa área. O Essência veio para transformar vidas de forma integral, ajudando as pessoas a terem mais consciência e autoconhecimento.” Com o projeto, Rafaela acredita ser capaz de amenizar os sintomas da ansiedade. “Todo mundo anda muito ocupado. Tantas imposições da sociedade que as pessoas pensam em ter e esquecem de ser, deixando de lado sua individualidade. O Essência ajuda nesse sentido, em despertar o melhor de cada um. Você passa a se amar mais, se valorizar e isso ajuda a diminuir a ansiedade, a tensão, a depressão, porque você passa a ver o seu valor.” A nutricionista Paula Martins, 32 anos, está com uma iniciativa que busca unir medicina tradicional e holística, na Clínica Bom Pastor. “Acredito na medicina tradicional para cuidar dos sintomas mais agudos, mas acho que é preciso tratar também o lado espiritual. Resolvi juntar as duas coisas para que as pessoas tenham oportunidade de se cuidar por inteiro, tratando o sintoma e a causa.” Paula Martins acredita que com essa união, o paciente terá mais caminhos para escolher. “Não acho que são dois extremos, acredito que são coisas que se encontram. Quando a pessoa se entende o tratamento flui melhor, os resultados são mais rápidos e positivos. A clínica vai trabalhar com a saúde integrada: o corpo, a mente e o espírito, que é o que eu acredito que dê mais resultados.”
COMPORTAMENTO Mulheres empoderadas: A figura feminina na cena hip hop No movimento marcado pela busca da igualdade econômica e racial existe preconceito de gênero Por Nayara Martins FOTO: NAYARA MARTINS
fato de ser mulher, mas as agressões não pararam por aí. A jovem revela que, em uma cypher – roda de dança em estilo livre, onde qualquer pessoa pode entrar e mostrar seu talento – um garoto a empurrou dizendo que ali não era o seu lugar. Letícia destaca que o cenário melhorou há cerca de um ano, quando os homens passaram a ter um maior conhecimento sobre o feminismo, mas a luta continua.
Colorindo ideias
Representantes do hip hop local, Sol, Letícia, Carola e Amanda posam em frente aos grafites de Tia e Pekena na UFJF
Diversas manifestações artísticas atuam na busca por igualdade e no combate às opressões. Na música, o rap destaca-se como um gênero que atua neste contexto, apresentando letras em sua maioria de protesto que visam a dar voz e representatividade àqueles que a sociedade deixou de lado; porém, mesmo neste cenário, as mulheres ainda enfrentam preconceito. A rapper Pri Moreira, do coletivo Vozes da Rua, conhece bem esta realidade. Ela afirma que o cenário da mulher no rap teve um avanço nos últimos anos, mas revela que o preconceito e a discriminação por gênero ainda existem. Pri relata que, em muitas batalhas de MCs ou em apresentações, a prioridade é dos homens, destacando que, em alguns casos, a mulher só consegue espaço para mostrar seu trabalho ao final do evento, sendo incluída apenas se não existirem rappers do gênero masculino para apresentar-se. Porém, ela lembra que, apesar dos episódios de machismo e preconceito que precisou enfrentar, pôde contar com o apoio de alguns homens como seus parceiros da posse de cultura hip-hop Zumbi dos Palmares (PZP) e o MC Aice NP, assassinado em maio de 2015, que sempre a incentivou a expressar suas mensagens de militância feminista através do rap.
Arte e Inspiração
As maiores inspirações de Pri Moreira no rap nacional são: PretaRara, Nega Gizza, Kmila CDD, o grupo Odisseia das Flores e Dina Di. Sobre esta última, Priscila conta que foi a primeira mulher que ela viu cantando rap na vida. “Eu pensei 'gente, mulher canta rap também! Então eu posso'”, exclama, recordando-se do seu despertar para a possibilidade de fazer rap. Hoje, assim como Dina Di,
Chris Assis, 29 anos, é grafiteira, conhecida no movimento como Tia, devido a sua formação em pedagogia. Criadora dos projetos Educarte hiphop e Educação e hiphopologia, ela proporciona a várias meninas e meninos a oportunidade de expressar sua arte. A grafiteira revela que já enfrentou muito preconceito por ser mulher, mas, hoje, nos eventos que organiza, existe respeito. “Eu deixei claro, para participar não pode ter a mente limitada. Precisa existir o respeito, ou não participa.” A Praça Cívica da UFJF, recentemente, ganhou mais cor e beleza graças a um destes projetos. Chris expressou as raízes da cultura hip-hop representando o Afrika Bambaataa e a Zulu Nation, no painel de grafites da matriz africana. Neste mesmo painel, Fernanda Toledo, 27 , a Pekena, estampa uma personagem feminina de turbante. Pekena iniciou no movimento hip hop nas aulas de breakdance e grafite. Da dança herdou apenas o apelido; há dez anos grafitando, ela revela admirar o trabalho da carioca Panmela Castro (Anarkia Boladona) e da alemã MadC. Ela conta que, certa vez, um garoto disse sobre MadC: "Conheci o trabalho dela na 'gringa', ela é tão foda que não pode ser mulher.” Indicando que uma mulher não poderia realizar um trabalho tão bom no grafite. Apesar disto, Pekena revela que hoje os homens não fazem tantos comentários machistas. Quando o fazem, as garotas do movimento buscam conscientizá-los e destaca que hoje eles têm apoiado mais as mulheres.
Pri também inspira a nova geração de do movimento, ou ela precisa ser um garotas que desejam manifestar esta objeto dele ou igualar-se a ele. E nós não forma de arte, como a jovem MC Carola. precisamos ser uma coisa, nem outra.” Ana Carolina, a MC Carola, 16 anos, Ana Marcela, a Sol, 18, é dançarina de é nova na idade, mas bastante conhecida breakdance, uma das únicas b-girls de na cena hip hop juiz-forana. A jovem Juiz de Fora. Ela está presente na cultura revela que a vontade de fazer rap surgiu hip hop há dois anos e concorda com aos 8 anos, a partir de canções que sua Amanda sobre a postura dos homens do mãe escutava e destaca que as palavras movimento: “Eles enxergam a mulher de apoio e motivação da família e de como um adorno. Ou você é a 'mina' Pri Moreira foram fundamentais para deles ou está contra eles. Não podemos sua permanência na música. Carola generalizar, existem os caras legais, era muito jovem e precisou lidar mas já sofri e sofro muito preconceito com diversas críticas por ser garota por ser mulher e dançar break”. Sol e rapper: “A partir do momento que destaca que, devido à escassez da percebi o preconceito dos meninos, presença feminina no break, ela costuma participar de fiquei desapontada com a visão que eu tinha da batalhas de dança sempre “Eu pensei contra homens e revela cultura hip hop.” A jovem 'gente, mulher que já foi hostilizada por conta que teve princípio um grupo de garotos de depressão, pois eram canta rap em uma batalha. “Eles críticas muito severas, mas também! Então decidiu continuar fazendo debocharam de mim, enquanto eu dançava. rap, pois, apesar das eu posso.'” dificuldades, é cantando Pri Moreira, Depois desse episódio, que ela revela suas rapper eu treinei dia e noite por seis meses, depois tive a ideologias e mostra que as mulheres possuem espaço na sociedade. oportunidade de batalhar com eles e “Hoje, os mesmos garotos que me venci a competição. Eles me pediram ofendiam, pedem para fazer músicas em desculpas e me elogiaram bastante." Letícia Livramento, 20, é dançarina parceria comigo", enfatiza orgulhosa, lembrando que valeu a pena continuar. de hip hop freestyle há três anos. Assim como a Sol, ela também já sofreu muito preconceito verbal, apenas pelo Meninas do Hip Hop Os quatro pilares essenciais da cultura hip-hop são: o rap, o DJing, Feminismo não é femismo breakdance e o grafite. Amanda Nos últimos anos, as mídias têm debatido questões importantes, Messias, 28 anos, é DJ de hip hop, trapcomo a igualdade de gênero, porém basta falar desse assunto em uma funk e produtora. Ela reafirma que, na roda de conversa entre amigos para percebermos o quanto a palavra cena hip hop, o machismo é bastante feminismo ainda causa estranhamento e incômodo. comum, destacando que o movimento Na concepção de muitas pessoas, declarar-se feminista significa é filho de uma sociedade machista e colocar o sexo feminino acima do masculino; mas a ideia da mulher que a cultura hip hop ainda é bastante exercer opressão ou domínio sobre o homem é denominada “femismo” marginalizada, tendo homens que lidam e não é compatível com o movimento feminista. O feminismo é um de maneira bruta com as mulheres. “Esse homem marginalizado do hip movimento que luta pelo fim da superioridade de um gênero sobre hop acha que, para a mulher participar outro, defendendo a equidade entre homens e mulheres.
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COMPORTAMENTO
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Eles enxergam a mulher como um adorno. Ou você é a ‘mina’ deles ou está contra eles. Não podemos generalizar, existem os caras legais, mas já sofri e sofro muito preconceito por ser mulher e dançar break.” Sol, 18, dançarina de breakdance
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