Mariana Carpinter

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As muitas formas

de cura

por Mariana Carpinter

Existe um leque de opções terapêuticas para tratamentos e acompanhamentos de saúde, mas devido à falta de conhecimento sobre eles, a medicina acadêmica se mantém como principal forma de cura

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Enxergar o ser humano como um conjunto, um único organismo vivo, que é influenciado pelo equilíbrio e ambiente em que está inserido é uma função das medicinas alternativas, que podem ser chamadas também de terapias não convencionais ou tratamentos alternativos. Esse pensamento iniciou-se com Hipócrates (460 aC - 370 aC), conhecido pela frase “O médico cura, só a natureza torna saudável”, e acreditava que, no processo de tratamento, o prognóstico, resultado do processo de tratamento como um todo, era mais importante do que o diagnóstico, busca por uma conclusão específica. Além da medicina de Hipócrates, outras formas de terapias não convencionais foram ganhando espaço no mundo, principalmente na Europa. Segundo dados da Comissão Europeia de 2010, dos 27 países da União Europeia (UE), cerca de 100 milhões de pessoas recorrem às medicinas alternativas para tratamentos anualmente. Apenas com a homeopatia, com dados de 1995 e 2005, o avanço de investimento total na procura de tratamento foi de cerca de 590 milhões para 930 milhões de euros. Para esse cálculo foram considerados França, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha, Bélgica, Reino Unido e Polónia, os quais correspondem a 90% do mercado europeu.

Contraponto

Indo de encontro com os ideais de Hipócrates, a medicina

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moderna, de René Descartes, a combater o mal”. Mas o clínico passou a ver o corpo humano geral não descarta a medicina como uma máquina na qual acadêmica por completo: “Em suas partes independem umas uma urgência a gente usa. Tem das outras. Esse paciente que toma processo é o que soro, que precisa “Tem um ser vemos atualmente de cirurgia, mas em hospitais e por trás. Que em termos de clínicas médicas procedimentos, 80% pensa, sente, são tratamentos convencionais. Essa bilateralidade não clínicos, 5 a 10% ama, odeia. significa que ambas de internação e 2 Não é uma não possam se unir. a 5% de cirurgia e Segundo Antônio máquina, não é urgência”, completa. José Marques, Indagado se a o Robocop.” médico clínico Antônio José medicina utilizada geral especializado por ele é espiritual Marques na alternativa ou efetiva, Antônio Antroposófica, esse José Marques método está crescendo no mundo afimou que foi provado inteiro devido a cientificamente não ser apenas suas técnicas espiritualidade, e que “hoje o de resgate do que interessa é o ganho [para lado humano. a medicina convencional “No fundo, acadêmica]. Perdeu-se o lado a gente usa humano. O que diz a medicina r e m é d i o s Antroposófica no fundo é o naturais e resgate. Onde está o humano tenta resgatar, nisso tudo? Se resgatar o humano ajudar o corpo a tem o lado espiritual, a gente não trabalhar, o corpo nega. A gente não tem melindre

Algumas opções de terapia alternativa

Acupuntura: é uma das formas de tratar distensões mus-

culares, artrite, dores na lombar, por exemplo. Esse método é focado na musculatura, ou seja, não trabalha com doenças extremamente graves, mas também pode ser utilizada em casos de dor de cabeça excessiva, incontinência urinária, além de problemas psicológicos.

Yoga: é mais utilizada para tratar o psicológico. Não tem o

objetivo de curar um “problema”, tenta associar o corpo com a mente crendo que se um estiver em paz, o outro também estará.

Crença no espiritismo: prega também a elevação do es-

pírito para conquistar a plenitude do ser. Através de contatos energéticos, os praticantes dessa crença se baseiam karma e na luta contra energias negativas.


Foto: Mariana Carpinter

Antônio José Marques, fundador da clínica “Vivendas Sant’anna”, localizada no bairro São Pedro, em Juiz de Fora

de falar o lado espiritual. Existe um lado, tem um ser por trás. Que pensa, sente, ama, odeia. Não é uma máquina, não é o Robocop.” Em contrapartida às alternativas citadas, entre outras ainda existentes, a medicina acadêmica trabalha com o conceito de conhecimento baseado nas teorias científicas que utiliza processos de prevenção, diagnóstico, tratamento, ou seja, é o processo encontrado hoje em postos de saúde, hospitais e na maioria das clínicas. Em Juiz de Fora, assim como em outras cidades do Brasil, as terapias não convencionais não são muito exploradas, perdendo espaço para a mais acadêmica e convencionada. Segundo dados da Associação Brasileira de Medicina Antroposófica (ABMA), é possível encontrar tratamento através da antroposofia no Sistema Único de Saúde (SUS) da cidade, mas pouco se sabe sobre o assunto e não há divulgação do mesmo.

Cultura

A medicina acadêmica evolui a cada dia em termos tecnológicos e, assim como o profissional de saúde, o paciente precisa estar preparado para acompanhar o surgimento de novos métodos terapêuticos e diagnósticos. Muitas são as razões e motivações que levam o paciente a procurar um tratamento alternativo e, em sua maioria, relacionados às crenças e concepções culturais. Outra razão para a busca de terapias alternativas é o nível de “invasão” de alguns métodos préestabelecidos. Dentro desse contexto, o paciente tem poder de agir como uma pessoa autônoma. O médico clínico geral, Bruno Reis, adepto da alopatia, diz preferir trabalhar com respeito aos aspectos culturais do paciente, aceitando suas crenças, mas completa: “Explico detalhadamente o que está acontecendo com o corpo desse paciente, não deixando de conscientizá-lo quanto ao uso 27


de recursos alternativos que, no momento, não auxiliarão em nada e podem acabar sendo prejudiciais à saúde, mostrando também o que pode ser o desfecho se não houver a adoção de métodos mais eficazes. A partir daí, você permite que eles compreendam e vivenciem melhor o processo, tendo agora uma visão mais ampla do que está se passando”. Segundo o especialista Antônio José Marques, a terapia alternativa deve ser descartada caso haja a desconfiança de um caso mais grave de saúde. A suspeita de câncer, tumores malignos, ou até mesmo infecções persistentes devem ser direcionadas para médicos com formação acadêmica e especialização no assunto.

Medicina Tradicional

Medicina Alternativa

Trata consequências

Trata a causa

Segmentada e setorizada

Associativas complementares

Regiões e funções do corpo

Corpo, mente e emocional

Biologia, química...

Energia, equilíbrio...

Outro tipo de tratamento, que começa a ser difundido no Brasil, é o método com cães, comumente utilizado na psicologia fora do país. Sendo capaz de transmitir compaixão e emoções simples, os cachorros são animais dóceis e, quando treinados corretamente, acompanham a evolução psicológica de pacientes com crise de pânico, fobias em geral e principalmente autismo. “Crianças com autismo tendem a se envolver e se recuperar de forma surpreendente com a companhia desses cães”, conta Mila Feital Montezzi, psicóloga com especialização em tratamento com animais. “A utilização da terapia assistida 28

Foto: Mila Feital

Cães auxiliam psicólogos em tratamentos emocionais

A terapia com cães é positiva quando feita com acompanhamento de um especialista

por cães com autistas tem como objetivo inicial despertar o interesse do indivíduo no cão onde se busca estabelecer contato visual e físico com o mesmo”, completa. A psicóloga tem três cachorros treinados que auxiliam em sua clínica, que fica localizada em Ubá, Minas Gerais. Segundo ela, o cão atua como agente facilitador para a terapia, sendo o instrumento mais valioso entre o mundo isolado da pessoa e o meio

social em que ela vive. É ele que dá ressonância aos sentimentos e abre portas. O cão atrai, modifica e faz a conexão entre o autista e o profissional. Mila Feital já observou que o problema dessa terapia é a falta de aceitação do público. Desacreditados da eficiência do tratamento com cães, eles procuram o auxilio de remédios, calmantes, ou, em alguns casos, optam pelo afastamento social.


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