Periscópio - Edição 6

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A MARCA DA AUTOESTIMA UM ENSAIO FOTOGRÁFICO DE INSPIRAÇÃO.

START-UPS: A FEBRE NA ECONOMIA JOVEM DIGITAL INFLUENCER: REDES SOCIAIS COMO ESTILO DE VIDA

MEDICINA ALTERNATIVA: CURAS NÃO CONVENCIONAIS CRESCEM NO GOSTO POPULAR

A CONQUISTA DO SONHO: ESPECIALISTAS FALAM SOBRE PASSOS PARA O SUCESSO NO ESPORTE


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Janaina Nunes

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EDITORIAL

Diversidade no alcance do sucesso por Bruna Ogando e Mariana Carpinter

Opiniões e preferências diferentes fazem parte de uma equipe. Prazer, somos os responsável pela 6ª edição da Revista Periscópio. Do mercado da beleza até a vocação religiosa, construímos um material que traz assuntos relevantes de forma leve e instrutiva. Nossos repórteres escolheram os temas que mais lhes agradavam para contar histórias variadas e que preencheram a revista com um material de qualidade. Acreditamos que um dos ingredientes fundamentais para uma boa matéria é “mergulhar de cabeça” no assunto. É claro que na receita não faltou apuração, carinho e entusiasmo, mas amar e conhecer cada linha da reportagem é o segredo. Ao falar de receita, lembramos de gosto e, nessa edição, temos reportagens para todos os gostos: Startups: o futuro; Mercado da beleza resiste às crises; Alimentação fit x fat; Medicinas alternativas; Festas universitárias movimentam a economia; Autoestima que inspira; Digital Influencers; Mochileiros se aventuram pelo mundo; Vida consagrada; Saiba mais sobre a literatura Nacional; Cultura japonesa, animê e mangá; Passo a Passo para conquistar o sucesso no esporte. Queremos chegar a diversos públicos e apresentar um pouco sobre a forma como vemos e interpretamos os ambientes que estão ao nosso redor. Essa edição também sela o fim de um período de

Jornal Laboratório da Faculdade de Jornalismo da Universidade Federal de Juiz de Fora, produzido pelos alunos da disciplina de Técnica de Produção em Jornalismo Impresso

Reitor muito aprendizado, tanto Profº Dr. Marcus David pessoal, quanto profissional. Pessoal porque aprendemos Vice-Reitora a trabalhar em equipe Profª Drª Girlene Alves da Silva respeitando e aprendendo a lidar com as diferenças de Diretor da Faculdade de Comunicação Social cada um. Profissional porque Prof. Drº Jorge Carlos Felz Ferreira amadurecemos nossas técnicas e aprendizados, mesmo diante Vice-Diretora das limitações. A convivência Profª. Drª. Marise Pimentel Mendes diária e intensa fez com que Coordenador do Curso de experimentássemos diversas Jornalismo Integral sensações, entre elas, o de dever Profª Ms. Eduardo Leão cumprido ao final de cada edição Chefe do Departamento de Métodos entregue. Aplicados e Técnicas Laboratoriais O Ensaio Fotográfico “Marcas Profª. Drª. Maria Cristina Brandão de de Sucesso”, da repórter Nayara Faria Martins e do repórter Luiz Carlos Lima vai mostrar para Professoras Orientadoras todos os leitores uma história Profª. Drª. Janaina de Oliveira Nunes motivadora. No lugar de bullying Profª. Drª. Marise Baesso Tristão e negação, vamos falar de uma Repórteres personagem que tem sido fonte de inspiração para muita gente. Aline Negromonte; Bruna Ogando; Bárbara Schmidt; Clara Assis; Através de belas fotos e de uma Giovanna Lima; Gustavo Pereira; entrevista para lá de especial, Lizandra Braga; Luanny Gonçalves; Mariana Mendes vai mostrar Luiz Carlos Lima; Maria Elisa como lida com a pinta no seu Diniz; Mariana Carpinter; Nayara Martins; Thamires Pecis rosto e como a autoaceitação é importante para a construção da Editoras personalidade de cada indivíduo. Bruna Ogando e Mariana carpinter Diante de uma sociedade que impõe cada vez mais padrões, Diagramação a reportagem vem mostrar que Bruna Ogando a beleza de cada pessoa é única Mariana Carpinter e as particularidades existentes Monitoria fazem parte de uma sociedade Leticya Bernadete plural. As fotos de Mariana Mendes retratam singularidade, Projeto Gráfico simpatia e beleza.Obrigada a Bruna Ogando e Mariana Carpinter você leitor que nos acompanha em mais uma edição e obrigada Contato mergulhodiario@gmail.com a você que chega pela primeira facebook.com/mergulhodiario vez em nossas páginas. (32) 2102-3612 Uma boa leitura!


SUMÁRIO

Alimentação Fit x Fat

Mercado da beleza resiste às crises

6 12 16 20 29 25 Startups: O futuro

PARTY ALL NIGHT: festas universitárias movimentam economia

Medicinas alternativas: grande variedade de tratamentos não convencionais avançam no mercado medicinal

AU TO E S T I M A

QUE INSPIRA Conheça a história de Mariana Mendes, mineira que está conquistando o mundo com sua marca de nascimento


pessoas que conquistaram a internet

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Vida Consagrada: vocação para servir a Deus

60 74

Saiba mais sobre a Literatura Nacional Cultura Japonesa: Mangá e Animê

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Mochileiros se aventuram pelo mundo

Digital Influencers:

55 44 PASSO A PASSO PARA CONQUISTAR O SUCESSO NO ESPORTE


STARTUP:

empreendedorismo inovador por Giovanna Lima

Capital inicial baixo, produto escalável e rápido crescimento. Conheça os pilares dessa nova tendência de negócio que é a aposta do mercado atual

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Se engana quem pensa que crise é o momento de fechar as portas para novas oportunidades. Investir em um novo negócio pode parecer assustador quando os índices econômicos do país não são os melhores possíveis. Porém, quando o assunto é startup, o cenário muda completamente. Afinal de contas, estamos falando em capital inicial baixo combinado a um crescimento em ritmo acelerado.

O que são?

São empresas com ideias inovadoras. O empreendedor tem a capacidade de enxergar os problemas e as demandas do mercado e criar uma solução com um diferencial. Essas empresas não requerem um alto investimento para começar a operar e são escaláveis, ou seja, a receita da empresa aumenta, mas os custos se mantêm os mesmos ou não aumentam na mesma proporção. Além disso, o custo de manutenção é baixo. Financeiramente falando, o lucro de uma startup cresce a cada

mês, e ela consegue se sustentar em ambientes de incertezas. Atualmente, as mais comuns são as ligadas às áreas tecnologia ou digital. De acordo com a Startup Base, o modelo mais comum (21%) é o B2B, “Business to Business” (904 no Brasil), configuradas por transações comerciais entre empresas. Em seguida, vem o B2C, “Business to Consumer”, as que vendem para o consumidor final, somando 652 startups no país (15%). As startups são o novo modelo queridinho por muitos pertencentes ao ramo de negócios. Mas possuir experiência empreendedora não é quesito para ser dono de uma, pelo contrário. Muitas startups já são comandadas por jovens com pouco dinheiro, mas muitos sonhos. Por quê? Porque as startups são o futuro. Elas atraem investidores, geram empregos, promovem o empreendedorismo e driblam a crise econômica do país. Atualmente, existem 4.226 startups no Brasil, segundo a As-

2º Minas Gerais

sociação Brasileira de Startups. O estado com maior registro é São Paulo, com 1.322 (31%), e Minas Gerais é o segundo maior detentor do negócio, com 366 startups (9%).

Ajuda que caiu do céu

As startups já são realidade no Brasil e são donas de uma importância significativa na economia brasileira. Quem tem uma veia empreendedora tem o sonho de comandar seu próprio negócio, mas mais do que isso, de mantê-lo firme no mercado. Mas abrir uma empresa sozinho pode ser complicado. É aí que entra a figura de uma “ajuda divina”: os investidores-anjos. No vocabulário empresarial, são pessoas que enxergam o alto potencial de uma empresa e investem seu capital nela. Geralmente, são empresários experientes que já têm empresas consolidadas e, por acreditarem na capacidade de uma empresa nova prosperar, entram com o smart money (confira, ao final da reportagem, nosso vocabulário empresarial).

TOP 5: Os cinco estados brasileiros que mais têm startups

366 startups (9%)

1º São Paulo

O Brasil tem 4.226 startups

1322 startups (31%)

5º Paraná

194 startups (5%)

4º Rio Grande do Sul 213 startups (5%)

3º Rio de Janeiro 343 startups (8%)

Dados: ABStartups

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Um ponto interessante é que essas pessoas são “anjos” porque não se trata somente de recursos exclusivamente financeiros, na verdade. Quando um investidoranjo coloca seu capital em uma empresa, ele coloca também sua expertise e compartilha seus valores e conhecimentos com o empreendedor que recebe essa “ajuda divina”. Mas atenção: eles não se tornam sócios. De acordo com Lessandro Hebert, empresário e integrante da Anjos do Brasil e do fundo de investimento Anjo Bossa Nova, “o investidor-anjo normalmente tem uma participação minoritária no negócio, mas não tem posição executiva na empresa. É como um mentor, um conselheiro.”, aponta.

De Juiz de Fora

para o Mundo: exemplos de startups

que deram certo Case 1: Internet sem barreiras

Você provavelmente já passou pela seguinte situação: sentou na mesa de um bar ou restaurante e pegou seu celular para se conectar à rede sem fio do estabelecimento.

Mas a conexão pede uma senha, e você precisa chamar um atendente para que ele lhe forneça. E até que você o chama e ele te dá – isso quando não te dá o código errado – , o processo gera um certo incômodo. Foi dessa dificuldade que, em 2013 em Juiz de Fora, surgiu o SemSenha.com, um gerenciador de pontos de internet de um local. O estabelecimento que possui o serviço oferece wifi gratuito e sem código de acesso ao cliente, e esse só precisa informar nome e e-mail. Mas a vantagem para o estabelecimento, além da comodidade do consumidor, foi uma dúvida inicial de Alexander Leal, CEO do SemSenha.com, e do Leonardo Pires, CTO. Eles definiram que o benefício seria em forma de publicidade. Quando o dispositivo é conectado ao wifi, são exibidas na tela fotos atrativas do estabelecimento, promoções ou flyers que podem ser gerenciados pelo dono do estabelecimento. Depois, o dispositivo é encaminhado a um endereço de web definido pelo dono, como as redes sociais ou o site. Outra vantagem: o dono passa a ter os dados do cliente,

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CASE 2: Aprendizado divertido

A ideologia do Qranio, startup de Juiz de Fora que nasceu em 2011, é fazer com que os usuários do aplicativo aprendam de modo divertido. A empresa de base tecnológica incentiva esse aprendizado através de games nos quais você consegue acumular Qi$, a moeda virtual do jogo, para trocar por prêmios reais. O usuário do game pode optar por jogar em uma das categorias educacionais, como Enem, Ensino Fundamental, Biologia, Química, Física e Matemática. “Inovamos no modo de ensinar, mostrando que aprender pode ser divertido e Qonseguimos atrair investidores e Qlientes que fizeram a empresa Qranio SA Foto: Arquivo Pessoal

Foto: Arquivo Pessoal

Sócios têm trauma de ouvir “parabéns”, já que, no início da trajetória, empresários os parabenizavam, mas não negociavam

podendo expandir o leque de comunicação com ele. De acordo com Alexander, hoje, o serviço está disponível em mais de 20 estados do Brasil em empresas, hotéis, restaurantes, cafeterias, supermercados, shoppings e até em igrejas. Os planos do SemSenha.com partem de R$ 150 mensais e variam de acordo com o número de conexões simultâneas que o estabelecimento deseja contratar.

Samir nunca gostou de estudar, mas desde sua infância, amava e achava divertido aprender de diversas maneiras


sair do Zero e passar a valer 20 milhões de reais no ano de 2014.”, aponta Samir Iásbeck de Oliveira, CEO do Qranio. E não, ele não escreveu errado. É que o hábito de trocar as letras pela inicial da startup prova que o Qranio não é apenas uma empresa para ele, mas uma ideologia de vida. A sede do Qranio em Juiz de Fora conta com aproximadamente 25 funcionários e tem usuários no mundo inteiro. Em seis anos operando no mercado, a empresa já atraiu não só usuários, mas também investidores e grandes clientes, como o Grupo Pãode-Açúcar e o Bradesco, que usam a plataforma como um meio de aprendizado para seus funcionários.

CASE 3: Cashback de delivery

Um aplicativo que reúne diversos bares e restaurantes de uma cidade para você fazer o seu pedido já não era mais suficiente para Rafael Resende e Rodrigo Marliére, CEO e CFO do MaisApp, respectivamente. O MaisApp está há quase quatro anos operando, mas com o surgimento de outros aplicativos que ofereciam o mesmo serviço em Juiz de Fora, a equipe

se sentiu impulsionada a lançar um algo a mais dos concorrentes. O diferencial encontrado pelo time foi o cashback, e o nome do novo app surgiu como um insight, enquanto o diretor de marketing assistia ao filme “Robin Hood”. Em agosto de 2016, foi lançado o Robin Food, com o slogan “Herói de verdade”. Rafael conta que, mesmo com uma base de usuários maior no MaisApp, com mais de cem mil downloads, há mais pedidos hoje no Robin Food, que tem quase oito mil downloads. Ou seja, a taxa de conversão aumentou de um aplicativo para o outro. A vantagem para o estabelecimento alimentício é a fidelização do consumidor. “Como nós devolvemos parte do dinheiro, algo que o consumidor não ia pedir antes, agora ele vai pedir”, articula Rafael. O estabelecimento cadastrado no Robin Food paga à empresa uma porcentagem sob cada pedido que é feito através do aplicativo. O consumidor recebe a mercadoria e, após uma análise para conferir se nenhum imprevisto ocorreu com a entrega, o aplicativo devolve 5% do valor total. Por exemplo, em um pedido de R$ 40, o usuário recebe R$ 2.

CASE 4: Chofer à disposição

Para quem tem o próprio carro, mas não deseja ser o motorista da vez, o aplicativo Chofer da Hora soluciona o problema. A criadora da plataforma é a Only Drivers, Agência de Capacitação e Prestação de Serviços de Motoristas. A empresa nasceu em Juiz de Fora e, atualmente, atende às principais capitais do país. O usuário do Chofer da Hora contrata somente um profissional capacitado, e é conduzido em seu próprio carro. Segundo José Carlos Silva Mateus, CEO da Only Drivers e criador do Chofer da Hora, o serviço pode ser contratado para qualquer necessidade dentro ou fora do município. O motorista cadastrado no aplicativo passa por um curso, recebe a credencial da empresa se aprovado para, então, se tornar um Chofer da Hora. Foto: Reprodução/Facebook

Foto: Giovanna Lima

Para Rafael, no Brasil, errar é normal no empreendedorismo. Ele o sócio já chegaram a investir mais do que tinham no negócio

Esse crédito fica disponível para o uso dentro do aplicativo, e é possível acumulá-lo até que um outro pedido saia de graça para o usuário, por exemplo. Com dez meses de atuação, o Robin Food já devolveu mais de R$ 80 mil em crédito. Em São Paulo, o serviço começou a operar há dois meses e já abrange 70 estabelecimentos.

Além de empresário, Mateus é também o escritor do livro “Eu quero e posso dirigir melhor”, lançado em 2015

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Com apenas quatro meses de atuação, o app conta com 18 motoristas e dez em curso. José ressalta que o serviço é uma maneira de os motoristas complementarem a renda. Para o cliente, a vantagem é “a certeza de ter um bom motorista particular somente nos dias e horas do seu interesse”, enaltece. O custo é de R$ 30 por hora, sendo a solicitação mínima de uma hora e meia. O valor final é pago diretamente pelo aplicativo.

Ecossistema empreendedor

Juiz de Fora tem diversas empresas e agentes que realizam ações voltadas para o empreendedorismo. No entanto, de acordo com Priscila Pinheiro, consultora de marketing

do Zero40, um ecossistema empreendedor, tudo ocorre de forma isolada, e algumas oportunidades são perdidas. “A proposta do Zero40 é trabalhar uma nova mentalidade em que as pessoas tenham mais noção do valor que é todo mundo trabalhar junto. É como na natureza: se uma parte do ecossistema fica ruim, todo o resto vai ser prejudicado,”, explica Priscila. Para incentivar ainda mais o ecossistema empreendedor, Juiz de Fora ganhou, há um ano, um espaço de coworking, o Multi. spaço. Quem apostou na ideia foi o empresário e investidor Lessandro Hebert, citado no início da reportagem. Ele explica que a ideia surgiu quando entendeu que “a cidade tinha demanda e porte para

uma operação bem montada”, além da “vontade de inovar no segmento e estar próximo do ecossistema empreendedor que pudesse trazer oportunidades de investimento interessante”, Lessandro indica. O espaço dispõe de mais de 30 estúdios individuais ou para mais de uma pessoa, além de um workplace com uma mesa extensa compartilhada com outros profissionais. Quem aluga o espaço usufrui de internet rápida, café liberado, ar-condicionado, recepcionista à disposição, limpeza do ambiente por conta da casa e uma localização central (Avenida Barão do Rio Branco, 3.053). Os preços variam entre R$ 400 mensais por pessoa (workplace ou estúdio individual) até R$ 2 mil mensais (estúdio para até cinco profissionais). Foto: Giovanna Lima Foto: Giovanna Lima

Após um ano de portas abertas em Juiz de Fora, o Multi.spaço conta com uma média de 60 empresas operando no co-working

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Segundo Wagner Arbex, da a startup, que estabelece contatos Oportunidade que chegou aos olhos do Vale do Silício Embrapa Gado de Leite, havia com outras empresas e possíveis Ter o sonho de fundar uma startup e fazer com que ela deslanche pode não ser para qualquer um. Mas oportunidades que dão uma forcinha podem fazer toda a diferença. Um exemplo é o Ideas for Milk, programa idealizado em 2015 pela Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora, e realizado em conjunto com alguns parceiros. Através dele, startups oferecem ideias de software, aplicativos para dispositivos e soluções para o mercado lácteo por meio do “Desafio de Startups”. A primeira edição foi realizada em 2016 e, em 2017, ocorrerá o AGTECH MILK – 2º Desafio de Startups para o agronegócio do leite.

uma carência de integração entre o agronegócio do leite e as tecnologias de informação, e o programa visa a criar um elo entre as duas tribos, oferecendo um ecossistema de inovação para a cadeia do leite. A competição entre empreendedores tem várias etapas. Primeiro, são selecionados 40 projetos inscritos, que vão para a semifinal e, dela, só sobrevivem cinco. As fases classificatória e semifinal são julgadas através de um pitch em vídeo. Essas cinco propostas vão para a final nacional. E o mais interessante: o vencedor não recebe prêmio material ou financeiro do programa. O retorno vem em forma de diversas oportunidades que surgem para

investidores durante todo o programa. Nascido em Juiz de Fora, o Ideas for Milk impactou não só o resto do país, mas chegou em São Francisco (Califórnia, EUA), mais precisamente no Vale do Silício, o maior polo mundial de tecnologia. A edição deste ano de um evento de ecossistema de startups que aconteceu lá em abril deste ano foi voltada para o setor agro. Com isso, a Embrapa foi convidada a apresentar o programa no Vale do Silício, representando o Brasil. Foram 11 países no total, e Juiz de Fora e o Brasil estavam presentes e muito bem representados por um caso de sucesso. Foto: Reprodução/Facebook

Equipe da Embrapa e de parceiros na fase final local do Desafio de Startups, que aconteceu em Belo Horizonte (MG)

Vocabulário Empresarial Start Money: “dinheiro inteligente”. É o investimento nas empresas feito por pessoas experientes no mundo dos negócios. CEO: “Chief Executive Officer”. É o diretor geral e presidente da empresa. CTO: “Chief Technology Officer”. É responsável pela pesquisa e infraestrutura tecnológica.

CFO: “Chief Financial Officer”. Comanda as finanças e orçamentos da empresa. Cashback: “Dinheiro de volta”. Sistema que devolve ao consumidor parte do dinheiro pago por algum produto ou serviço. Coworking: local compartilhado por empreendedores e funcionários que não são necessariamente da mesma empresa.

Workplace: “ambiente de tra-

balho”.

Pitch: é conhecido com o “discurso do elevador”. É uma apresentação de dois a três minutos que o empreendedor prepara para apresentar a um investidor como se ele o encontrasse de surpresa no elevador. As ideias devem ser claras para atrair possíveis investidores. 11


Foto: Reprodução Brigitte Calegari

Mercado da Beleza

A área vem resistindo à crise, atraindo novos profissionais e movimentando a economia 12


Foto: Lizandra Braga Foto: Reprodução Rhema

Foto: Lizandra Braga Foto: Reprodução Rhema

O mercado da beleza vem se destacando economicamente frente à instabilidade vivida no país. Diante de inúmeras incertezas, essa área mantém uma expectativa alta de crescimento até 2026, segundo a Kline - agência de consultoria mundial de Inteligência de mercado de alta qualidade – o que atrai mais profissionais para o ramo e consolida os já existentes. Os cursos profissionalizantes são a principal porta de entrada para os aspirantes que veem na beleza uma oportunidade de mudar de vida. O coordenador de relacionamento da Embelleze – maior instituto de beleza do mundo- de Juiz de Fora, Leandro Pedroso, afirma que esse mercado não é atingido pela crise. “Ele é um mundo a parte da realidade. Quando você fala em crise, não pode incluir a área da beleza. É lógico que o poder aquisitivo das pessoas diminuiu um pouco, pessoas que frequentavam salão de beleza inúmeras vezes no mês podem frequentar menos, mas não deixam de ir”, conta. Além disso, ele comenta que as pessoas enxergam esse mercado como uma válvula de escape, aumentando ainda mais a procura dos cursos. Juiz de Fora conta com mais de 12 mil salões de beleza formais e informais, mas, mesmo com um número tão relevante, o mercado mantém seu crescimento. São pessoas que desejam mudar de profissão, estudantes, universitários buscando uma profissão para intercalar com os estudos, donas de casa e mães são os principais perfis que buscam a beleza como um novo caminho. Esse é o caso da estudante Thaisa Macedo, 22 anos. Ela atualmente trabalha no comércio e entrou para o curso de barbearia, destacando a possibilidade de independência financeira e profissional, “É uma área que tem crescido muito, eu tenho a intenção de sair do ramo do comércio e montar um negócio para trabalhar por mim mesma.”

Ela decidiu investir no público masculino, também muito forte nesse ramo, ao contrário de anos atrás, e afirma ser um diferencial ser uma barbeira mulher, quebrando alguns estereótipos de profissionais. A beleza é uma área que abre um leque de opções de trabalho, você pode abrir seu próprio negócio, atender na sua própria casa, atender em domicílio, trabalhar em um salão, ou seja, as possibilidades são inúmeras, e isso faz com que o mercado consiga absorver tantas pessoas. “Primeiro motivo é que conta números nos argumentos, o Brasil é um dos países que mais movimenta dinheiro em torno desse mercado, possibilitando um retorno financeiro acima da realidade. E o segundo motivo é que não existe coisa melhor do que trabalhar com a autoestima das pessoas, saber que o seu trabalho fez a diferença na vida de alguém”, destaca Leandro sobre os motivos pelos quais vale a pena investir no ramo.

Cursos mais procurados na área da beleza: •Designer de sobrancelha •Cabeleireiro •Maquiador •Barbeiro

Brasil: terceiro mercado mundial da beleza

O Brasil continua seguindo como o terceiro maior mercado consumidor mundial de produtos de beleza, atrás apenas da China e dos Estados Unidos, além de ser o segundo país em número de cirurgia plástica, atrás também dos 13


Foto: Reprodução Rhema Foto: Reprodução Rhema Foto: Lizandra Braga

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Foto: Lizandra Braga

regularizados, beneficiando assim Estados Unidos. O Sebrae – Serviço Brasileiro o setor. Uma lei implantada pelo de Apoio às Micro e Pequenas governo federal, que entrou em empresas – apoia o desenvolvimento vigor em janeiro deste ano, prevê dos novos empreendedores que que o proprietário de um salão de seguem na área da beleza. A beleza precisa fazer um contrato analista do Sebrae, Camila Vilella, de parceria com o seu colaborador. reafirma que o setor da beleza está Para que isso ocorra, o “empregado” continuamente crescendo, aliado precisa ter um CNPJ (Cadastro ao de alimentação e comércio Nacional de Pessoa Júridica), que se configura de roupas, se como um micro destacando como “Esse é um setor empreendedor – o maior em número de micro que esta inovando, MEI - saindo assim e mpre e nd e d ore s sempre melhorando da informalidade e adquirindo seus individuais. “Ele e isso é também direitos e deveres está alavancado, como trabalhador. podemos dizer devido à crise” Para acompanhar que ele não esteja - Camila Villela, o crescimento da só crescendo, mas analista Sebrae área da beleza, o é o que menos Sebrae, em parceria sofreu com a crise, porque as pessoas continuam com com a Prefeitura, está implantando vaidade, tanto os homens quanto esse ano um projeto exclusivo as mulheres. Então, você pode para o setor visando a auxiliar a observar que não só os salões de parte de gestão do negócio. Ele vai beleza e as clínicas de estética desenvolver técnicas de marketing, que ficam cheios, mas também as gestão financeira, habilidades barbearias mais produzidas”, conta. gerencias, trabalho em equipe, entre outros, e o primeiro passo foi os “Seminários da Beleza” que Inovação Um fator de destaque do setor é a estão sendo realizados na cidade. O inovação. Camila afirma que, frente último aconteceu em março desse ao momento econômico do país, ano, reunindo 233 profissionais. “É um mercado que não foi os profissionais precisam buscar novas formas de surpreender os tanto afetado pela crise, então clientes. “As pessoas dão valor você pode avaliar o investimento não só ao serviço, mas também a sem correr tantos riscos, mas é um um ambiente de qualidade. Isso se ambiente de muita concorrência, deve não somente a vaidade, mas você tem que oferecer um produto atendimento diferenciado. também à inovação. Esse é um e setor que está inovando, sempre É preciso também conhecer o melhorando, e isso é também mercado e fazer as contas mesmo, devido à crise.” Ela ressalta sobre o investimento, se é possível que, se os empreendedores não investir e quanto tempo necessário apresentarem novas soluções, para conseguir o retorno”, novos produtos, itens em combo, aconselha Camila para aqueles fidelização do cliente, eles não que pensam em apostar na área. Tão importante quanto investir na sobrevivem. Frente ao avanço do mercado, capacitação prática profissional, é foi preciso que os empregos se capacitar na parte de gestão de informais na área da beleza fossem um negócio.


Foto: Arquivo pessoal Ingrid

Foto: Arquivo pessoal Erika

Foto: Lizandra Braga

Fabiana Gama Rhema Centro de Estética

Iniciou sua trajetória em 1994 aos 14 anos, quando realizou o primeiro curso na área da beleza. Aos 19, abriu o Rhema Centro de Estética ao lado da irmã Renata de Gama, com 14 anos na época. “A gente começou na garagem, com uma cadeira e um espelho”, conta Fabiana, referindo-se à garagem da casa onde hoje o Rhema está localizado, só que agora toma conta de quase toda a construção, após 18 anos de sua inauguração. Ela destaca a importância do conhecimento para ser um bom profissional e considera os cursos profissionalizantes uma boa porta de entrada. “Existe uma crise sim, mas para os bons e para os ótimos, eles sentem, mas não sofrem as consequências.” Fabiana destaca a crise como um motor de inovação, fazendo com que os profissionais busquem um diferencial para se manter, “Você ve na necessidade a mudança. Quando está tudo muito bom, trabalhando, trabalhando, você não percebe, mas quando diminui o movimento você sente”. Sobre as vantagens da profissão, ela destaca que o trabalho é uma grande realização pessoal, além de mexer com a autoestima do cliente, sendo capaz de transformar um pouco a vida da pessoa. Sobre as desvantagens, ela cita os problemas posturais causados por horas de rotina na mesma posição e, também, um pouco da “escravidão” da profissão, com muitas horas de trabalho.

Erika Souza Perfumaria Mundial

Proprietária da Perfumaria Mundial, Erika Souza abriu a primeira loja há 20 anos e comenta que os consumidores, devido à crise, estão mais exigentes na hora de comprar, mas não deixam de adquirir um produto. “Com a crise, as pessoas não deixam de comprar, elas levam um produto mais em conta. Uma coisa que as mulheres não deixam de investir é na beleza”. Sobre a vaidade muitas vezes excessiva, que é um dos principais fatores que estimulam o consumo, Erika acredita que a mídia tem um papel muito forte. Ela destaca que existe um grande número de blogueiras e influenciadores digitais no país, o que favorece esse cenário. A maquiagem está muito forte no ramo e, frente a isso, Erika decidiu, há cinco anos, abrir uma loja especializada, tanto para atender maquiadores, quanto para atender ao público final. “A gente percebeu que tinha uma lacuna na cidade, aqui tem muitos cursos profissionalizantes, e vimos que faltava uma loja direcionada para esse público”, explica. Vivenciando o mercado da beleza há tantos anos, ela rearfirma que vale a pena investir na área. “A beleza é um ramo que está crescendo e vai continuar, ou ao menos se manter estável. É uma área muito gostosa de se trabalhar, você trabalhar com as mulheres, ajudá-las a se sentirem melhor é uma coisa que faz bem para a gente que trabalha. Então, não é só um trabalho, é um prazer”.

Ingrid Salgado Belezaria

Há menos tempo no mercado, Ingrid iniciou a carreira em 2012, quando criou a Belezaria, e relata que não foi muito fácil, além de o investimento ser caro. “A profissão de maquiadora, que eu escolhi, não é uma profissão barata. Você entra sabendo que vai investir muito mais do que vai receber, pelo menos no início é assim mesmo.” Mas o retorno chega, e ele vale a pena. Hoje, mesmo com a instabilidade do país, Ingrid consegue se manter estável na profissão. “Estamos falando em crise, mas esse mercado ainda não foi atingido, a gente sente mais apenas no valor dos produtos.” Além de atender os clientes, ela ministra cursos para novos profissionais e considera que a crise foi uma alavanca para a área. Ela afirma que “ninguém deixou de se arrumar ou de fazer curso por isso, pelo contrário, estão buscando mais. Eles estão vendo no mercado uma saída para dinheiro mesmo”. A entrada de mais pessoas para o setor não é vista por Ingrid como um problema. Ela acredita que o mercado tem espaço para todos. “Está esse boom, todo mundo quer entrar, mas todo mundo tem serviço. Se você procurar uma maquiadora mais ou menos, ela tem maquiagem para fazer, não é que aumentou só a concorrência, mas também a procura”. Ela ressalta que as pessoas estão preocupadas com a aparência e, independemente da crise, elas não abrem mão disso. 15


O preço de uma escolha por Clara Assis

Na hora de escolher o alimento, o consumidor pode optar pelo mais barato, mais prático ou mais saudável. Descubra as principais diferenças entre o mercado fit e o mercado comum, tanto para quem vende quanto para quem compra. Saiba também o que vale mais a pena pro seu bolso e sua saúde. 16


Não importa a situação financeira, se tem uma coisa que as pessoas nunca abrem mão de fazer é se alimentar. E nem podem. Todo ser humano precisa se alimentar para sobreviver. E, mais do que isso, comer faz parte da vida social, da busca pelo prazer, da ocasião e de diversas outras situações. É por isso que, mesmo com a crise, em 2016, o faturamento da indústria de alimentação chegou a R$ 614 milhões em todo o país, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA) e foi capaz de gerar mais de um milhão de empregos diretos. Segundo a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), o setor de alimentos é um dos mais resistentes do Brasil. Hoje são diversas opções, o que faz o mercado crescer ainda mais. Entre as alternativas de alimentos, o mercado fit é o mais recente e vem ganhando cada vez mais espaço. Comidas sem glúten, sem lactose, sem açúcar, sem gordura, entre tantas outras restrições, parecem agradar o consumidor mais exigente. Por outro lado, muita gente não abre mão de um docinho, seja um bolo, um brigadeiro ou um brownie. E, diante de dois mercados tão diferentes, fica a dúvida para investidores e consumidores, onde será mais rentável investir e consumir.

Foto Bruna Quirino

o próprio recurso. O dinheiro do nada por alimentação saudável e investimento não deve ser con- esportes. Sempre preocupada com fundido com o de casa, porque as a minha alimentação e sempre finanças da empresa são diferentes gostei também de cozinhar. Endas contas pessoais. O investidor tão, comecei a fazer receitas para também deve avaliar se o que ele mim, adaptava as receitas comuns vai produzir é algo que está em alta com ingredientes saudáveis. Junto no mercado, se é algo a isso, agreguei o que realmente tem de- “O investidor deve meu lado empremanda. Para isso, pode endedor e resolvi avaliar se o que conversar com pessoas criar a Equilíbrio que já estão no ramo ele vai produzir é Natural.” e com fornecedores, Bruna também algo que está em apostou para já ter em mente na proquais serão os primei- alta no mercado, dução caseira. ros passos e o que será “Hoje a produção se é algo que preciso fazer.” é feita em minha Foi assim que o esrealmente tem casa, mas tenho o tudante de jornalismo, projeto de expandemanda.” Vinícius Polato, 22 são para uma coMichel Souza anos, tomou a decisão zinha industrial. de vender doces, avaA produção e a liando a demanda do mercado. “Eu criação são feitas por mim mesma escolhi o mercado alimentício por- e conto com uma ajudante. É tudo que acredito ser um mercado sem 100% artesanal, o que vejo como fim. Na minha opinião, é o melhor. um diferencial.” Optei pelos doces porque eu notava uma certa demanda nessa área ao meu redor, tanto na faculdade quanto no estágio.” Apesar de ter começado a browneria com o intuito de complementar a renda, hoje, quase um ano depois, o negócio se tornou a principal ocupação. “Eu e minha esposa começamos com a Doce Mundo para nos ajudar financeiramente na época que ela estava desempregada, e eu só tinha um estágio. A venda deu tão certo que esse é meu emprego. Me dediEm qual mercado hoje co 100%. A produção é toda feita devo investir? em casa por nós dois, de forma arO economista Michel Souza ex- tesanal, desde o brownie em si, até plica quais são as principais consi- os recheios e coberturas. Fazemos derações na hora de abrir o próprio diariamente para atendermos toda negócio, principalmente se for uma a demanda com produto fresquiprodução caseira, como acontece, nho.” muitas vezes, no ramo alimentício. Em contrapartida, a estudante “Quando uma pessoa resolve em- de Engenharia de Produção, Bruna preender, ela deve levar em conta, Quirino, 23 anos, resolveu abrir a primeiramente, que o negócio que própria loja de produtos naturais, ela vai colocar em prática deve ter há três meses. “Sempre fui apaixo-

Foto Vinícius Polato

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Comparando os dois mercados Na publicidade

Foto Vinícius Polato

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Foto Bruna Quirino

Tanto Vinícius quanto Bruna fazem suas vendas pelas redes sociais. Vinícius conta que já tem alguns revendedores e clientes fiéis. “Vendo principalmente pelo Facebook e também Instagram. São boas plataformas de divulgação e contato com os clientes. M a s também faço venda porta a porta no centro da cidade, onde já t e n h o m i n h a clientela formada. Além disso, alguns cafés, bares e restaurantes revendem n o s s o s produtos em suas lojas físicas.” B r u n a também acredita na força do Instagram para o seu negócio. “Vejo o Instagram como uma tendência, uma forma tecnológica e atual.” O professor e publicitário Vitor Resende explica que a venda online ganhou muito espaço pela praticidade e também pelos custos. “A vantagem da venda por redes sociais é que os custos são bem menores, pois eliminamse as barreiras físicas para

atendimento, não é necessário estar perto do cliente para que ele compre e há a possibilidade de que o produto seja divulgado para as pessoas que façam parte da rede do consumidor, então atinge mais gente.” Porém, ele ressalta que, assim como na venda física, é preciso ter planejamento também na venda online, lembrando de sempre responder e dar atenção ao cliente que chega através da internet. Falando do mercado de alimentos, V i t o r comenta que é um mercado m u i t o promissor no Instagram, talvez pelo uso das imagens. “A venda de alimentos pela internet é muito interessante pelas possibilidades de publicidade. Em um aplicativo em que as imagens imperam, uma boa fotografia de um alimento pode ser decisiva para despertar o interesse de compra.” Sobre as diferenças entre o mercado comum e o mercado fit nas redes sociais, Vitor ressalta que elas existem. “Basicamente a diferença de postura está ligada ao público. Por exemplo, a fotografia,

para uma empresa fit deve ser mais limpa, remetendo ao frescor dos alimentos, à qualidade e ao fato de serem naturais. No caso de comidas comuns, os atributos costumam ser outros. Mas no fundo, deve-se observar o que o público deseja e qual é a sua necessidade. Dessa forma, a linguagem (tanto verbal como visual), deve ser moldada para atingi-lo.” Porém, ele acredita que um mercado não tire o espaço do outro. “Quanto mais se fala no assunto [comida fit], maior a capacidade de gerar interesse no consumidor. No entanto, não acredito que isso possa se ligar à queda de venda de alimentos ditos comuns, visto que o público para as comidas saudáveis é um público de nicho. O que acontece é que este público, que já existia, que já ansiava por consumir estes produtos, passa a ter mais opções e isso faz com que as vendas sejam impulsionadas. Mas não creio que, em razão disso, outros produtos não enquadrados como saudáveis tenham queda de venda.”

Nos investimentos Bruna Quirino afirma que o público fit vem crescendo, mas também se tornando mais exigente, o que faz com que os seus gastos sejam maiores. “Acho que meu gasto seria menor se vendesse produtos comuns, devido ao maior acesso a eles. O alimento saudável é muito específico, por exemplo, meus bolos são adoçados com xylitol, um adoçante natural, que não encontro em qualquer lugar, como o açúcar comum. Meu


público preza pela qualidade, pela procedência dos alimentos.” Apesar de o público comum também ser exigente, o custo de produção é bem menor, como conta Vinícius. “O gasto é bem menor do que o mercado fit, com certeza, pois a matéria prima para esse tipo de produto é mais cara, logo o valor de venda também é mais alto. Tudo depende da linha de clientes que você quer atrair.” Além do valor, o economista Michel Souza explica outras diferenças significativas nos dois mercados. “Existe sim uma concorrência direta entre o mercado comum e o mercado fit. O mercado comum, além de ser mais barato, por conta do processo industrializado, proporciona maior agilidade. Um acaba substituindo o outro. O produto fit demora mais, é mais caro. O mercado comum ainda é mais lucrativo por trabalhar com escala, mas os produtos fit têm muito potencial para crescer.”

Na demanda Outra diferença entre os dois mercados está na procura. Vinícius conta que não é todo dia que o movimento permanece o mesmo, talvez pelo fato de a cabeça das pessoas estar realmente mudando, e elas passarem a evitar os doces, por exemplo, em dias de semana. “Nós vendemos, em média, 200 brownies por semana, entre vários estilos e sabores. Os primeiros dias da semana são mais calmos, não costuma ter tanta saída quanto no final de semana. Feriados e finais de semana são quando a gente mais recebe pedidos.” Já Bruna, por conta desse mesmo fator, comenta que suas vendas não oscilam tanto. “A demanda é sempre alta, vendo de 15 a 20

produtos por dia. O mercado de comidas naturais é uma tendência. Fico muito feliz em saber que as pessoas têm ficado mais conscientes em relação a alimentação, acredito que a tendência é só crescer. Não tem mais isso de se alimentar bem durante a semana e comer mal final de semana, esse quadro tem mudado. Por isso, minha ideia foi criar produtos realmente saudáveis e saborosos para todos os dias.” Michel Souza confirma essa hipótese de Bruna. “Eu acredito que o mercado saudável seja sim muito promissor. A cultura de consumo alimentar do brasileiro tem mudado, as pessoas estão se preocupando mais com a saúde, com os abusos, com os riscos do consumo de produtos gordurosos. Por isso, a tendência econômica do mercado saudável é crescer. Espaço sempre vai existir para os dois, não acho que o mercado comum vai sumir, mas ele tende a diminuir.”

Hora das compras, e agora? Muitos consumidores já adotaram uma postura diferente em relação à alimentação, buscando itens mais naturais e saudáveis, mas outros ainda não se importam muito com issoe optam pelo mais rápido, prático ou gostoso. Será que essas escolhas fazem diferença financeiramente? Nossa reportagem acompanhou um dia de duas estudantes que moram sozinhas e fazem as próprias compras. A ideia é comparar os gastos de cada uma delas com suas escolhas. Clara Vanucci, 24 anos, conta que sempre optou por comidas mais leves. “Sempre escolho comidas saudáveis e tento comer somente

quando tenho fome. Como muitas carnes, vegetais, frutas, castanhas, além de sempre que possível fazer a comida em casa. Comecei a me alimentar assim para emagrecer, mas tomei gosto e hoje faço pela saúde, por estar sempre bem mais disposta e melhor com meu corpo e comigo mesma.” Já Gabriela Carvalho, 20 anos, não tem muitas restrições alimentares. “Eu costumo ter uma alimentação balanceada por conta de criação mesmo, aprendi a comer de tudo, legumes, verduras, frutas. Mas não tenho restrição de comida, se me der vontade de um salgado ou doce, não deixo de ingerir. E sempre escolho pelo que é mais prático e barato. Tenho a impressão que produtos fit são muito mais caros.”

Cardápio Café da manhã

Gabriela:

Café com leite + pão de queijo = R$ 4,00

Clara:

Omelete + Vitamina de abacate + Chá verde = R$ 3,90

Almoço

Gabriela: (no restaurante)

Refeição + Refrigerante = R$ 13,50 Clara (em casa) Bife de boi + cenoura + beringela + saladas = R$ 9,50

Gabriela:

Jantar

Lanche + Refrigerante = R$ 15,00

Clara:

Creme de abóbora + gengibre + queijo parmesão = R$ 3,80 *Foram consideradas as três principais refeições. Ao todo, Gabriela gastou R$ 32,50 enquanto Clara gastou R$17,50.

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Festas universitárias Por Bárbara Schmidt

O setor que ainda não conhece a crise econômica Enquanto vários setores do país tentam driblar a crise econômica, o segmento das festas universitárias parece não ter sido afetado pela situação. Os eventos realizados em Juiz de Fora vêm crescendo desde o início dos anos 2000, quando algumas empresas começaram a ganhar fôlego na cidade.

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Foto: Divulgação Carnadministrando 2010

Marcelo Gonçalves, diretor administrativo da Viva Eventos, foi um dos precursores das festas universitárias em Juiz de Fora. Em 2003, o então estudante de administração se juntou a mais quatro amigos, dois do direito e dois da odontologia, para fazer uma festa, unindo alunos desses três cursos. Tentando chamar a atenção dos estudantes, idealizaram um nome criativo e cômico que envolvesse as graduações em questão: “Administrando a Boca Direitinho”. Marcelo comenta: “As poucas festas universitárias que existiam no mercado eram pouco estruturadas e pequenas, reunindo cerca de 250 pessoas. Nosso objetivo, desde o início, era fazer algo novo e que chamasse público. Nesse primeiro momento, fizemos algo que nunca havia sido feito por aqui: uma festa que os convidados teriam bebida liberada do início ao fim, com tendas, DJs e estruturas de luz e palco diferenciadas.” Logo na primeira vez que se arriscaram, os jovens empreendedores conseguiram reunir 700 convidados, recorde de público universitário naquela época, e inúmeros pedidos por uma segunda edição. No semestre seguinte, tentaram a sorte novamente, e, dessa vez, receberam 1.350 convidados. “A partir desse momento, a gente foi só quebrando recordes de público. A cada semestre dobrava, até chegarmos a seis mil pessoas, quando já não conseguíamos mais fazer a festa em granjas e tivemos que levála para o Exposhop.” Os estudantes pediam patrocínios para os pais dos amigos que eram empresários para começar a estruturar o evento, e, posteriormente, a própria venda de ingressos custeava o valor final orçado. O diretor administrativo conta que eles

Carnadministrando: o evento era considerado a maior micareta universitária do país

guardavam quase toda a porcentagem do lucro para investirem nas próximas festas, pois não tinham renda própria e ainda eram sustentados pelos pais. Depois de algumas edições, os cinco universitários perceberam que o sucesso era contínuo e que poderiam “desdobrar” o evento em algo maior e tiveram a ideia de fazer a versão micareta do “Administrando a Boca Direitinho”, chamada “Carnadministrando”, que perdurou por dez anos consecutivos. Marcelo destaca que houve muitas mudanças nesse setor nos últimos 14 anos, principalmente na parte burocrática. “Hoje é tudo muito mais difícil. Você precisa de uma centena de autorizações: Corpo de Bombeiros, Polícia Federal, Prefeitura, trânsito, Polícia Militar. Antigamente não existiam tantas exigências. Em termos de festa, hoje em dia todas praticamente trazem atrações de peso, pelo menos um cantor famoso nacionalmente. Naquela época eram apenas atrações locais, regionais ou, no máximo, alguma do Rio de Janeiro; hoje o foco

principal é qual MC famoso vai vir.” O empresário também comentou que antes as festas eram exclusivamente universitárias, enquanto hoje apenas metade do público é destes estudantes e que há exigências de maior sofisticação. Sem revelar valores fixos de festas, Marcelo diz que tudo depende do tamanho das atrações, entre outras questões. O empresário ressalta, por exemplo, que em uma festa que tenha como atração a cantora Anitta, seria preciso arcar com o custo de seu show, que hoje está em torno de R$120 mil, enquanto um DJ local, como o Zulu, terá um custo de R$ 2.500. “Os resultados financeiros sempre foram e continuam sendo muito positivos, por enquanto a crise econômica não afetou e esperamos que continue assim. Sempre tentamos inovar para continuar mantendo os jovens mais festeiros interessados em participar dos nossos eventos e tentando despertar o interesse dos que ainda não têm tanta familiaridade com essa área – o que é raro hoje em dia entre os universitários.”

O lazer que virou negócio Hoje, pouco mais de dez anos depois de seu primeiro evento, os cinco jovens, que começaram sem muitas pretensões, continuam atuando no ramo das festas universitárias - além das formaturas. Como diretores da Viva Eventos eles controlam, além de duas unidades em Juiz de Fora, outras nove franqueadas pelo país. 21


Foto: Wanderson Monteiro

Hoje, um dos diferenciais mais requisitados nas festas são os brindes personalizados Foto: Wanderson Monteiro

No ano passado, a festa “Anatomando” reuniu cerca de 1.500 jovens universitários Foto: Bárbara Schmidt

O último evento universitário realizado pela empresa Phormar foi a denominada “Entra São, Cai & Pira”, festa com temática junina que ocorreu no último sábado

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Nathalia Queiroz é uma das administradoras da Phormar, empresa de formaturas e eventos de Juiz de Fora que já atua no mercado há 20 anos. Ela já produz festas universitárias há dez anos e comentou que a cada vez é “um turbilhão de sensações: ansiedade para ver tudo dar certo, expectativa de que o evento encha e dê lucro e, no fim, a emoção por tudo ter ocorrido conforme planejado”. Nathalia comenta que a média de custo de uma festa universitária bem estruturada é de R$ 120 mil, enquanto a porcentagem de lucros varia bastante. “Já tivemos festa que gerou lucro de R$ 16 mil, outras que geraram R$ 50 mil. E, claro, que já houve festas que não geraram lucro nenhum.” Segundo a administradora, todas as chopadas e calouradas que a Phormar promove partem de ideias vindas das próprias turmas universitárias, que se reúnem na empresa para discutir expectativas e sugestões para a festa. Com as ideias na mesa, Nathalia gera um orçamento e aí fica sob a responsabilidade dos alunos arrecadarem de alguma forma, principalmente com a venda de ingressos, o valor para cobrir posteriormente os custos. Por isso, ela afirma que todo o lucro obtido vai diretamente para eles. “Nós não cobramos deles a organização do evento, por já pagarem para a empresa um valor que inclui nossos serviços.” Uma das festas universitárias mais populares promovidas pela Phormar é o “Anatomando”, realizada pelos calouros da Faculdade de Medicina da UFJF. O evento inicialmente ocorria na granja da empresa e era planejado apenas para comportar os calouros e seus acompanhantes, tendo algumas bebidas liberadas. Hoje, além de já ser tradição entre os jovens e receber, em média, dois mil convidados, a festa conta com diferentes tipos de cantinhos temáticos, contendo diversas e refinadas comidas e bebidas; prova de que esse segmento está sempre em alta e se sofisticando. Sobre a atual crise econômica que o país enfrenta, a empreendedora Nathalia Queiroz defende que o setor de festas universitárias não é afetado. “Toda vez que fazemos dá certo, até porque são festas que o pessoal gosta muito, pela bebida liberada, por já estar tudo incluído no preço do ingresso. Porém há épocas em que acontecem mais festas, principalmente quando algum evento universitário faz muito sucesso. A partir daí, outras turmas animam fazer em seguida. Em outras épocas, acontecem menos, às vezes, por estarem tendo muitos shows na cidade, por exemplo. Mas é um setor que não entra em crise realmente.” .


Foto: Brenda Marques

Um dos mais populares da atualidade, o DJ carioca Yago Gomes foi uma das atrações que agitou o público jovem da “Perdição 2000”

Análise profissional

Já na opinião do analista do Sebrae Minas, Paulo Veríssimo, é perceptível que esse mercado “não para” e está sempre em alta, porém, também é necessário analisar se os custos são os mesmos de anos atrás ou se aumentaram consideravelmente. “Por mais que a gente veja sempre um movimento grande nesses eventos, talvez a margem de lucro que os organizadores tinham no passado não seja mais tão elevada nos dias atuais, dado a inflação, dado que o poder de compra das pessoas diminuiu... Então é preciso analisar isso também, não é porque uma festa está super cheia que o ponto de equilíbrio de gastos dela foi atingido.” Paulo afirma, porém, que é um mercado crescente que conta com uma procura e um acesso muito grandes. Paulo ainda comentou algumas orientações para aqueles que têm vontade de se aventurar nesse setor. “É preciso primeiramente fazer um estudo de mercado: pesquisar quem são seus clientes, qual o potencial de crescimento desse mercado, levando em consideração seus concorrentes e seus fornecedores.” O analista destaca que esse possível empreendedor também deve ficar atento à questão operacional da

realização da festa, pois a realização de eventos exige preparação e planejamento prévios, contando com uma equipe bem estruturada, para se reduzir a chance de imprevistos impertinentes durante a realização do evento em si; além de ter atenção com a desmontagem. Ainda orientando o empreendedor em potencial, Paulo ressaltou que é imprescindível ficar atento à legislação envolvida: “Pegar os alvarás necessários, dentro do prazo correto, verificar os códigos de postura do município, entre outros.” Quanto à questão financeira, o analista do Sebrae Minas comenta que a “matemática” é básica: analisar seu ponto de equilíbrio, o custo estimado para a realização e o potencial de receita estimado. Com estas informações é possível calcular inclusive a possível taxa de lucro e então averiguar se é válido ou não executar o evento.

Opúblico universitário A estudante de jornalismo, Lina Castro de Almeida, 21 anos, é frequentadora assídua das chopadas, calouradas e eventos universitários de Juiz de Fora. Ela também acredita que o setor é inabalável. “Sempre vão ter jovens saindo do Ensino Médio, doidos para começar suas ‘temporadas’ nessas festas, para descobrirem esse

lado da diversão que a maioridade proporciona. Não só eles, como pessoas mais velhas que continuam interessadas em curtir atrações nacionais bacanas.” A estudante de medicina, Tainara Rezende, 20, há dois meses teve a oportunidade de concretizar o sonho de ser uma das “responsáveis” por uma das maiores festas universitárias da cidade. Com 3.700 pessoas lotando o Terrazzo, a festa denominada “Perdição 2000” foi idealizada pela turma de Tainara, além de seus calouros da medicina da Suprema, uma turma de odontologia da UFJF e uma turma de direito do Instituto Vianna Júnior, que contaram com o apoio da Viva Eventos. Os estudantes optaram por contratar apenas atrações que estão em alta e por colocar bebidas e pizzas liberadas ao público, o que resultou em um orçamento final de R$ 145 mil. A realização foi um sucesso, tendo repercutido nas cidades da região, reunindo um dos maiores públicos de festa universitária da cidade. Não somente os estudantes conseguiram abater o preço de custo com as vendas de ingressos, como o lucro final bateu o recorde da empresa, gerando R$ 91 mil para serem distribuídos para o fundo de formatura das quatro turmas participantes. 23


Tentando a sorte

mas o lucro principal era nossa satisfação.” Os organizadores Alguns estudantes tentam a estudam a retomada da festa para sorte de fazer festas universitárias este ano. mesmo sem o respaldo de uma Na Faculdade de Comunicação empresa de eventos. É o caso de da UFJF, é possível encontrar Felipe Lechitz, 24, estudante de um grupo de alunos que faz, há engenharia elétrica, que já fez três anos, uma festa universitária edições da nomeada “GuelaBaxo”. independente. A chamada Em 2010, quando começou, a “Choppadawh”, realizada ideia de Felipe era reunir 40 de pelos membros do Diretório seus amigos do segundo ano do Acadêmico Wladmir Herzog, colégio Apogeu em um churrasco. acontecia inicialmente nos Porém, antes mesmo de tirar tudo próprios corredores da faculdade, do papel, a “festinha” já estava facilitando a organização e repercutindo em outros colégios, possibilitando que a festa ocorresse alcançando 380 interessados em toda primeira quinta-feira do mês. comprar ingresso. O estudante Hoje, com novas normas em vigor convocou mais quatro amigos na universidade, eles optaram por para o auxiliarem a montar um realizar a chopada fora do campus, nome e a estrutura o que tornou o necessária. processo mais No ano seguinte, Fazíamos uma trabalhoso e por com a proporção isso o evento está inesperada e divulgação muito ocorrendo apenas o sucesso do no máximo três intensa, o que primeiro evento, vezes por ano, gerava interesse reunindo uma Felipe e seus amigos decidiram do público e venda média de 250 apostar em outras pessoas. duas edições de ingressos, o que O estudante de da chopada de fato pagava Jornalismo, Vitor “ G u e l a B a x o ”, Gabriel, um dos que reuniram, todo o evento.” responsáveis pela respectivamente, Felipe Lechitz próxima edição 630 e 760 do “Choppadawh”, convidados. Isso tudo com os comenta que os lucros vão para organizadores tendo apenas entre o D.A., mas que não há muito 16 e 18 anos. “Nunca investimos retorno financeiro. Ele explica: um real do nosso bolso na festa. “antes, quando era nos corredores, Porém, fazíamos uma divulgação a gente conseguia vender cerveja muito intensa, o que gerava consignada, e não tínhamos gastos interesse do público e venda de com o local, então gerava um valor ingressos, que de fato pagava todo bacana no final das contas. Hoje, o evento. Com isso, tínhamos infelizmente temos que arcar com inicialmente uma média de R$ esse gasto do espaço, passamos a 6.500 para montar a festa. Na ter que contratar atrações e tornar segunda edição, chegamos a R$ 14 o evento “open bar”, para chamar mil e, na última, R$ 23 mil. O lucro, claro, ficava para nós. Sempre público. Então, não tem muito dividido na mesma proporção retorno mesmo, só a consciência entre os sócios. Era, em média, de ter feito algo bacana para a uns R$ 900 só, não era muita coisa, galera.”

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As muitas formas

de cura

por Mariana Carpinter

Existe um leque de opções terapêuticas para tratamentos e acompanhamentos de saúde, mas devido à falta de conhecimento sobre eles, a medicina acadêmica se mantém como principal forma de cura

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Enxergar o ser humano como um conjunto, um único organismo vivo, que é influenciado pelo equilíbrio e ambiente em que está inserido é uma função das medicinas alternativas, que podem ser chamadas também de terapias não convencionais ou tratamentos alternativos. Esse pensamento iniciou-se com Hipócrates (460 aC - 370 aC), conhecido pela frase “O médico cura, só a natureza torna saudável”, e acreditava que, no processo de tratamento, o prognóstico, resultado do processo de tratamento como um todo, era mais importante do que o diagnóstico, busca por uma conclusão específica. Além da medicina de Hipócrates, outras formas de terapias não convencionais foram ganhando espaço no mundo, principalmente na Europa. Segundo dados da Comissão Europeia de 2010, dos 27 países da União Europeia (UE), cerca de 100 milhões de pessoas recorrem às medicinas alternativas para tratamentos anualmente. Apenas com a homeopatia, com dados de 1995 e 2005, o avanço de investimento total na procura de tratamento foi de cerca de 590 milhões para 930 milhões de euros. Para esse cálculo foram considerados França, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha, Bélgica, Reino Unido e Polónia, os quais correspondem a 90% do mercado europeu.

Contraponto

Indo de encontro com os ideais de Hipócrates, a medicina

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moderna, de René Descartes, a combater o mal”. Mas o clínico passou a ver o corpo humano geral não descarta a medicina como uma máquina na qual acadêmica por completo: “Em suas partes independem umas uma urgência a gente usa. Tem das outras. Esse paciente que toma processo é o que soro, que precisa “Tem um ser vemos atualmente de cirurgia, mas em hospitais e por trás. Que em termos de clínicas médicas procedimentos, 80% pensa, sente, são tratamentos convencionais. Essa bilateralidade não clínicos, 5 a 10% ama, odeia. significa que ambas de internação e 2 Não é uma não possam se unir. a 5% de cirurgia e Segundo Antônio máquina, não é urgência”, completa. José Marques, Indagado se a o Robocop.” médico clínico Antônio José medicina utilizada geral especializado por ele é espiritual Marques na alternativa ou efetiva, Antônio Antroposófica, esse José Marques método está crescendo no mundo afimou que foi provado inteiro devido a cientificamente não ser apenas suas técnicas espiritualidade, e que “hoje o de resgate do que interessa é o ganho [para lado humano. a medicina convencional “No fundo, acadêmica]. Perdeu-se o lado a gente usa humano. O que diz a medicina r e m é d i o s Antroposófica no fundo é o naturais e resgate. Onde está o humano tenta resgatar, nisso tudo? Se resgatar o humano ajudar o corpo a tem o lado espiritual, a gente não trabalhar, o corpo nega. A gente não tem melindre

Algumas opções de terapia alternativa

Acupuntura: é uma das formas de tratar distensões mus-

culares, artrite, dores na lombar, por exemplo. Esse método é focado na musculatura, ou seja, não trabalha com doenças extremamente graves, mas também pode ser utilizada em casos de dor de cabeça excessiva, incontinência urinária, além de problemas psicológicos.

Yoga: é mais utilizada para tratar o psicológico. Não tem o

objetivo de curar um “problema”, tenta associar o corpo com a mente crendo que se um estiver em paz, o outro também estará.

Crença no espiritismo: prega também a elevação do es-

pírito para conquistar a plenitude do ser. Através de contatos energéticos, os praticantes dessa crença se baseiam karma e na luta contra energias negativas.


Foto: Mariana Carpinter

Antônio José Marques, fundador da clínica “Vivendas Sant’anna”, localizada no bairro São Pedro, em Juiz de Fora

de falar o lado espiritual. Existe um lado, tem um ser por trás. Que pensa, sente, ama, odeia. Não é uma máquina, não é o Robocop.” Em contrapartida às alternativas citadas, entre outras ainda existentes, a medicina acadêmica trabalha com o conceito de conhecimento baseado nas teorias científicas que utiliza processos de prevenção, diagnóstico, tratamento, ou seja, é o processo encontrado hoje em postos de saúde, hospitais e na maioria das clínicas. Em Juiz de Fora, assim como em outras cidades do Brasil, as terapias não convencionais não são muito exploradas, perdendo espaço para a mais acadêmica e convencionada. Segundo dados da Associação Brasileira de Medicina Antroposófica (ABMA), é possível encontrar tratamento através da antroposofia no Sistema Único de Saúde (SUS) da cidade, mas pouco se sabe sobre o assunto e não há divulgação do mesmo.

Cultura

A medicina acadêmica evolui a cada dia em termos tecnológicos e, assim como o profissional de saúde, o paciente precisa estar preparado para acompanhar o surgimento de novos métodos terapêuticos e diagnósticos. Muitas são as razões e motivações que levam o paciente a procurar um tratamento alternativo e, em sua maioria, relacionados às crenças e concepções culturais. Outra razão para a busca de terapias alternativas é o nível de “invasão” de alguns métodos préestabelecidos. Dentro desse contexto, o paciente tem poder de agir como uma pessoa autônoma. O médico clínico geral, Bruno Reis, adepto da alopatia, diz preferir trabalhar com respeito aos aspectos culturais do paciente, aceitando suas crenças, mas completa: “Explico detalhadamente o que está acontecendo com o corpo desse paciente, não deixando de conscientizá-lo quanto ao uso 27


de recursos alternativos que, no momento, não auxiliarão em nada e podem acabar sendo prejudiciais à saúde, mostrando também o que pode ser o desfecho se não houver a adoção de métodos mais eficazes. A partir daí, você permite que eles compreendam e vivenciem melhor o processo, tendo agora uma visão mais ampla do que está se passando”. Segundo o especialista Antônio José Marques, a terapia alternativa deve ser descartada caso haja a desconfiança de um caso mais grave de saúde. A suspeita de câncer, tumores malignos, ou até mesmo infecções persistentes devem ser direcionadas para médicos com formação acadêmica e especialização no assunto.

Medicina Tradicional

Medicina Alternativa

Trata consequências

Trata a causa

Segmentada e setorizada

Associativas complementares

Regiões e funções do corpo

Corpo, mente e emocional

Biologia, química...

Energia, equilíbrio...

Outro tipo de tratamento, que começa a ser difundido no Brasil, é o método com cães, comumente utilizado na psicologia fora do país. Sendo capaz de transmitir compaixão e emoções simples, os cachorros são animais dóceis e, quando treinados corretamente, acompanham a evolução psicológica de pacientes com crise de pânico, fobias em geral e principalmente autismo. “Crianças com autismo tendem a se envolver e se recuperar de forma surpreendente com a companhia desses cães”, conta Mila Feital Montezzi, psicóloga com especialização em tratamento com animais. “A utilização da terapia assistida 28

Foto: Mila Feital

Cães auxiliam psicólogos em tratamentos emocionais

A terapia com cães é positiva quando feita com acompanhamento de um especialista

por cães com autistas tem como objetivo inicial despertar o interesse do indivíduo no cão onde se busca estabelecer contato visual e físico com o mesmo”, completa. A psicóloga tem três cachorros treinados que auxiliam em sua clínica, que fica localizada em Ubá, Minas Gerais. Segundo ela, o cão atua como agente facilitador para a terapia, sendo o instrumento mais valioso entre o mundo isolado da pessoa e o meio

social em que ela vive. É ele que dá ressonância aos sentimentos e abre portas. O cão atrai, modifica e faz a conexão entre o autista e o profissional. Mila Feital já observou que o problema dessa terapia é a falta de aceitação do público. Desacreditados da eficiência do tratamento com cães, eles procuram o auxilio de remédios, calmantes, ou, em alguns casos, optam pelo afastamento social.


Marca de Sucesso

por Nayara Martins e Luiz Carlos

Mariana Mendes, a mineira que estรก conquistando o mundo com sua marca de nascimento.

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Marca de Sucesso Texto: Nayara Martins Fotos: Luiz Carlos Lima

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Rompimento dos padrões e celebração da beleza

por Nayara Martins

Todo mundo é diferente; nós nos diferenciamos por meio de nossa altura, cor da pele, tipo físico, formato do rosto, cabelos, cor dos olhos, pintas, nariz, contorno da boca. Diferenças são nossas marcas registradas. E por falar em marcas, quem não tem uma? Aquele sinal em alguma parte do corpo que o acompanha desde o nascimento e o torna único. Recentemente, Mariana Mendes, 24 anos, ganhou destaque no cenário nacional e internacional por sua marca de nascença. A jovem graduada em moda pela Universidade Federal de Juiz de Fora é natural de Patos de Minas, onde atualmente trabalha como assistente de estilista. O sorriso doce combinado à postura alegre e confiante que Mariana expressa em suas fotos nas redes sociais, chamou a atenção de Joshua Saunders, um jornalista britânico que reside em Nova Iorque, isso porquê Mariana possui um nevo melanocítico congênito grande, isto é, uma pinta, localizada entre olhos e nariz. Mariana conta que o jornalista entrou em contato com ela através do Instagram, demonstrando interesse em realizar uma matéria sobre a jovem devido à espontaneidade e autoconfiança que exibe em suas fotos. Ela revela que o fator que chamou a atenção do jornalista foi o fato dela não ter vergonha ou demonstrar timidez por conta de sua pinta, sendo que outras pessoas na mesma situação poderiam não reagir com tanta confiança e naturalidade. Após dois meses

de conversa, o artigo de Joshua foi publicado; Mariana relata que, após a publicação, diversos meios de comunicação do Brasil e do mundo entraram em contato desejando conhecer sua história. O sucesso foi tão grande que a jovem foi destaque até mesmo na Rússia e Alemanha. A pinta foi o diferencial que a colocou em evidência nas redes sociais, sendo hoje uma personalidade que inspira milhares de garotas e garotos a celebrarem sua beleza. Mariana levanta a bandeira da autoestima; mostrando que o bonito não deve ter padrões. Na moda, encontramos muitos exemplos de modelos que se tornaram grandes fenômenos por não possuírem perfil padronizado, destacando-se exatamente por suas diferenças; como a modelo albina sul-africana Thando Hopa, a senegalesa Khoudia Diop, coroada pelos internautas como “deusa da melanina”, devido seu tom de pele único, a portoriquenha Natalia Castellar por suas sobrancelhas grossas e a norte-americana Salem Mitchell por suas sardas. O professor e design Luiz Fernando Ribeiro explica: “A moda vem alterando os padrões, desde a década de 60, quando houve a inserção da mulher negra nas passarelas, hoje à moda é democrática. As marcas e os designs não têm procurado mais por aquele padrão de modelos estilo Calvin Klein: loiras, altas e olhos azuis – americanizadas. Atualmente vemos que existe a preocupação com o públicoalvo. A moda se adequa ao

consumidor que pretende atingir.” Luiz Fernando Ribeiro ainda revela que chegamos a um momento em que as pessoas almejam o diferente. “Nesse mundo padronizado dos iguais às vezes procuramos por pessoas diferentes. E essa questão da busca pelo diferente é muito interessante. Está tudo tão igual que buscamos por personalidade. As pessoas querem tornar-se diferentes, seja com piercings, tatuagens, mudanças no corte e na cor do cabelo, nas roupas. Nós queremos ficar diferentes e para isso vamos utilizando de todos os recursos, inclusive aqueles que a moda nos oferece.” Para a coordenadora do curso de bacharelado em Moda da Universidade Federal de Juiz de Fora, Monica Neder, as diferenças tornam-se sucesso porque atraem olhares. A especialista aponta que a moda não procura pelo diferente, mas destaca aquilo que foge do padronizado. E afirma: “As pessoas se interessam pelo diferente devido ao fator do inusitado ou pela identificação de pessoas que possuem as mesmas características físicas da personalidade em destaque.” E é por esta questão da identificação que Mariana vem inspirando milhares de pessoas. A jovem conta que recebe comentários de diversas partes do mundo, de homens e mulheres que não se aceitavam por causa de uma marca de nascença ou alguma característica física e a partir de sua história começam a repensar sua autoestima.

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Autoestima, aceitação e respeito às diferenças A jovem estilista, conta que nunca sofreu preconceito ou se sentiu desconfortável com sua pinta; o apoio da família, principalmente as palavras de sua mãe foram muito importantes para a construção de uma autoestima elevada. Mariana revela que sua mãe sempre teve uma postura de enaltecimento de sua beleza. Ela sempre me explicou: “Você tem uma pinta, mas não é nada fora do normal. Você é uma criança como as outras, todos temos diferenças. Tem criança que tem cabelo preto e existe criança que tem cabelo loiro. Tem criança que têm pinta e outras que não tem. Sua pinta é linda. Você é linda.” O jeito que ela transmitiu para mim, foi o jeito que passei a transmitir para as pessoas. Sempre encarando minha pinta como algo positivo e natural. A psicóloga Larissa Assis, especialista em psicologia infantil, destaca que o papel da família na formação da autoestima é muito importante: “A construção da autoestima ocorre através do contato com o outro e, pensando na criança, esse contato vem inicialmente da família. E este reforço da autoestima vem não apenas de elogios quanto à aparência física, mas também do apoio ao processo de descoberta e desenvolvimento da criança, mostrando que ela é capaz e a motivando ir além.” Larissa destaca que é muito importante trabalhar as diferenças tanto no ambiente familiar, quanto na escola e que elas devem ser trabalhadas com naturalidade, já que de fato nós somos todos diferentes. A profissional revela que é através do lúdico que a criança passa a compreender a si mesma e o mundo ao seu redor, sendo assim, a psicóloga aponta que no ambiente escolar as diferenças podem ser trabalhadas através de brincadeiras e histórias, com o uso de fantoches e incentivo a imaginação: “Os professores poderiam incentivar a identificação das diferenças entre os alunos, mas mostrando que somos todos diferentes e que não existe uma maneira melhor ou pior de ser. E que são justamente as nossas distinções que nos fazem únicos no mundo.” 32


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Sobre os padrões de beleza muitas vezes impostos pela sociedade, a psicóloga ressalta que eles influenciam na vida da criança dependendo de como o adulto que convive com ela lida com isso. “A criança pequena não codifica esses padrões como uniformes; na verdade, são os adultos quem ditam isso pra ela. Muitas vezes, elas questionam o porquê de só existirem barbies magras, por exemplo. No entanto, à medida que crescem e entram na adolescência, a depender do seu contexto e das próprias experiências, elas podem acreditar que de fato exista um padrão e podem vir a sofrer por tentar se encaixar em algo que não faz parte da sua realidade, chegando até a adoecer.” Larissa também revela que muitas vezes quando apontamos a diferença do outro, estamos tentando esconder a nossa: “Se aprendêssemos desde pequenos a nos perceber, sem dúvida não ficaríamos tão preocupados em julgar o outro. Por isso é muito importante que família e escola estejam atentas ao incentivo das diferenças, favorecendo uma base sólida para a autoestima e autoconfiança.”

Nevos: Nevo é o termo médico que descreve uma lesão na pele popularmente conhecida como pinta. A palavra nevo deriva do latim naevus e significa “marca de nascimento”. A médica dermatologista e preceptora do serviço de dermatologia do Hospital Universitário da UFJF, Maria Cristina Andrade, explica que quando a marca de nascença é formada por células produtoras de pigmento (melanina), ela é denominada “nevo pigmentado” ou “nevo melanocítico”. Estes nevos melanocíticos são pequenas manchas geralmente em tons escuros como marrons ou preto, com formatos regulares na pele que podem ser salientes ou não. 34


“Eu acho que não conseguiria me reconhecer sem a minha pinta. Ela sou eu.”

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Nevo melanocítico congênito x Nevo melanocítico displásico De acordo com a dermatologista Maria Cristina, o nevo melanocítico pode ser congênito ou displásico. Ela explica que o congênito é aquele presente ao nascimento e o displásico, o que surge após o nascimento, portanto é um nevo adquirido. O nevo melanocitico congênito pequeno e o mais comum, apresenta diâmetro menor que 1,5 centímetro. Existem também os nevos melanocíticos congênitos grandes, que possuem diâmetro entre 1,5 a 20 centímetros, e os gigantes, que apresentam diâmetro maior que 20 centímetros. De acordo com informações da federação Naevus Global, um site internacional que visa a conscientização e o apoio às pessoas afetadas por grandes nevos melanocíticos congênitos em todo o mundo, 1 em cada 50 a 100 recém-nascidos tem um pequeno nevo melanocítico congênito, dentre esse número, existem os casos mais raros: o nevo melanocitico gigante, que acontece 1 em cada 20.000 nascimentos. Quanto maiores, mais raros são. O site da federação também destaca que cada nevo é único, sendo todas as raças e etnias sociais igualmente propensas ao nevos em seus povos. A marca de Mariana é considerada um nevo grande. Os nevos melanocíticos displásicos são aqueles que não estão presentes ao nascimento, são nevos adquiridos e costumam apresentar irregularidade no formato ou coloração. Dessa forma, podem ser muito parecidos com um melanoma inicial. Estes nevos adquiridos surgem após os

6 meses de idade devido a fatores genéticos e por exposição solar, geralmente até os 40 anos de idade. Maria Cristina destaca que os nevos congênitos devem ser avaliados por um dermatologista, por se tratarem de lesões que apresentam uma clínica um pouco diferente dos nevos melanocíticos adquiridos. Ela exemplifica que nos nevos adquiridos o formato deve ser simétrico. A borda é regular e bem delimitada. A cor uniforme, e geralmente castanha, marrom ou cor de pele, sendo o diâmetro menor do que 6 milímetros. Ela destaca uma regra que ajuda a acompanhar clinicamente os nevos adquiridos: A regra do ABCDE: • Assimetria no formato, ou seja, quando se divide a pinta em dois lados, eles são diferentes. • Borda irregular ou maldelimitada – não possui formato definido, como oval ou redondo. • Cor variável, geralmente há áreas mais escuras e outras mais claras na mesma pinta. Podendo ser castanha, marrom, marrom escura, vermelha, azul ou preta. • Diâmetro maior do que 6 milímeros. • Evolução anormal, ou seja, modificação no sinal, seja crescimento, alteração no formato ou coloração, ou ainda desenvolvimento de sintomas como coceira ou sangramento. Já em relação aos nevos congênitos, a dermatologista Maria Cristina lembra que apresentam grande variação no tamanho, nas bordas e na simetria, por isso essas lesões devem ser avaliadas com minúcia por um dermatologista.

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Evitando o melanoma: A preocupação com alterações no nevo melanocítico é grande, devido ao risco do desenvolvimento de melanoma (Câncer). Mariana destaca as orientações de seu médico: “Usar sempre protetor e observar se não está mudando de cor ou tendo inchaço porque se mudar algo pode ser sintoma de algum problema.” O site da federação Naevus Global aponta que o melanoma em crianças com nevo melanocítico congênito é raro, apenas 1 a 2% de todas as pessoas com nevo melanocítico congênito desenvolvem melanoma durante toda a vida. Entretanto, a pesquisa e a dermatologista Maria Cristina alertam: apesar de o risco de melanoma ser baixo em nevos adquiridos ou congênitos pequenos e grandes, o nevo gigante apresenta maior risco. Desse modo, quanto maiores e mais numerosos forem, aumentam as chances de desenvolver melanoma. Ao sinal de alguma alteração, a recomendação é que se recorra rapidamente a um especialista, o médico indicará a necessidade de se fazer uma biópsia. Porém, como citado por Maria Cristina e de acordo com a federação Naevus Global nódulos, caroços e mudanças de cor surgem frequentemente de forma totalmente inofensiva, portanto apenas patologistas experientes saberão identificar corretamente se é um caso de melanoma ou não. Por isso, é importante frisar que mesmo se um melanoma for diagnosticado é importante uma segunda opinião vinda de outro médico.

Cuidado com suas marcas registradas:

Sobre os cuidados que se deve ter com as pintas (nevos), a dermatologista Maria Cristina destaca que as mesmas precauções e atenção que damos ao nevo melanocítico congênitos devemos dar aos adquiridos. Segundo a médica, as recomendações da Sociedade Brasileira de Dermatologia são: • Usar chapéus, camisetas e protetores solares; • Evitar a exposição solar e permanecer na sombra entre 10 e 16 horas (horário de verão). • Na praia ou na piscina, usar barracas feitas de algodão ou lona, que absorvem 50% da radiação ultravioleta. As feitas de nylon formam uma barreira pouco confiável: 95% dos raios UV ultrapassam o material. • Usar filtros solares diariamente, e não somente em horários de lazer ou diversão. Utilizar um produto que proteja contra radiação UVA e UVB e tenha um fator de proteção solar (FPS) 30, no mínimo. Reaplicar o produto a cada duas horas ou menos, nas atividades de lazer ao ar livre. Ao utilizar o produto no dia a dia, aplicar uma boa quantidade pela manhã e reaplicar antes de sair para o almoço. • Observar regularmente a própria pele, à procura de lesões suspeitas. • Consultar o dermatologista uma vez ao ano, no mínimo, para um exame completo. Deve-se evitar também traumas repetidos como arrancar os pelos da lesão. Na maioria das vezes, os nevos não necessitam ser removidos, excetuandose aqueles que apresentam alguma suspeita de malignidade, que precisam passar por remoção cirúrgica e realização de biópsia.

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Da redação: por Luiz Carlos Lima & Nayara Martins

A ideia de realizar um ensaio sobre marcas de nascimento, surgiu quando a Nayara leu uma notícia no portal da UFJF sobre a história da Mariana Mendes, em maio deste ano. O artigo falava sobre a visibilidade que a jovem estava alcançando devido ao nevos. “Eu senti uma grande identificação; é muito interessante ver alguém se destacar por um ponto em comum – uma marca de nascença – claro que as proporções de nossas pintas são bem diferentes, mas percebi que os pensamentos da Mariana eram semelhantes aos meus.” “Eu sempre enxerguei minha marca como algo positivo; as pessoas falam coisas lindas para mim e isso me fez crescer amando as pintas, acho todas incríveis e gosto de observá-las no outro.” Embora o nevo melanocítico congênito de Nayara seja menor que o de Mariana, os comentários que elas recebem nas ruas são semelhantes: “Me diverti muito no ensaio, descobri que também falam para Mariana sobre a famosa pinta da Angélica. Acredito que é a representação mais forte que temos do nevos na mídia de massa, por isso as pessoas sempre tentam relacionar.” Apesar da escassa representatividade de médias e grandes marcas de nascimento na mídia, podemos perceber que a maioria dos indivíduos tem algum destes sinais de nascença em seu corpo; como indica o site da federação Naevus Global, por ser algo propenso a todas as raças e etnias, sendo um ponto em comum dentro de toda sociedade. Ainda segundo informações da Naevus Global, não existe no mundo um sinal exatamente igual ao

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outro, sendo todos diferentes, seja no tamanho, formato ou cor, portanto uma marca de nascença pode ser um sinal que diferencia até mesmo os iguais, como no caso de gêmeos. Ao conversar com Mariana e ler os comentários em algumas de suas fotos, observamos que muitas pessoas a procuram para falar sobre aceitação e como a autoestima delas melhorou após conhecer a história da jovem estilista. Tentar se enquadrar em um padrão de beleza imposto e praticamente inatingível têm deixado indivíduos de nossa sociedade doentes, principalmente entre os mais jovens, que ainda estão formando e desenvolvendo sua personalidade. Mas, por qual motivo a beleza deve seguir um padrão? O que é a beleza, afinal? O dicionário diz que é a qualidade daquilo que é belo. Pesquisamos então o significado de belo e numa simples busca no Google encontramos as seguintes definições: “que produz uma viva impressão de deleite e admiração”; “cujas qualidades, presentes em alto grau, o tornam destacado entre os seus congêneres.” Portanto, o belo é tudo aquilo que nos cativa, promove admiração e que se destaca em meio aos iguais. Pensou em alguém assim? Nós pensamos em Mariana e por meio deste ensaio expressamos a exaltação da alegria e da beleza revelando o estilo da jovem estilista a partir do tema “Conexões Urbanas”, apresentando a tendência street através do moderno e do colorido das ruas.

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“Eu amo minhas pintas, as considero lindas. Pesquisando, descobri que nenhuma marca de nascença é igual a outra. É sensacional! Acho que isso nos torna realmente únicos no mundo.”

Nayara Martins

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Digital Influencer Por Maria Elisa Diniz

O compartilhamento do cotidiano de uma pessoas pode se tornar uma profissão bastante atrativa para os investimentos publicitátios. Conheça o perfil e o conteúdo compartilhado por alguns influenciadores da região.

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Uma ideia na cabeça e um smartphone na mão. Parece que só é preciso isso para começar uma carreira na internet. Então qualquer pessoa pode fazer, não é mesmo? Não é tão simples assim. Qualquer um pode se aventurar a gravar vídeos, escrever textos ou, simplesmente, tirar fotos em ferramentas como o Instagram. Porém é preciso dedicação, conhecimento e carisma para conquistar o público da web. As redes sociais têm se tornado um ambiente cada vez mais real na vida das pessoas, principalmente dos jovens. Nesse meio surgem amizades, relacionamentos, busca por informações e também por opiniões. Esse espaço se torna ideal para o surgimento de pessoas influentes. Esse grupo, que anteriormente se restringia aos limites das mídias tradicionais e hoje domina a internet e principalmente as redes sociais, ficou conhecido como Digital Influencer, em português, influenciadores digitais. A profissão de blogger, um pouco mais conhecida desde a popularização da internet, consiste em pessoas que produzem conteúdo para internet e geralmente sobre assuntos determinados como moda, humor, esportes. Já a produção de conteúdo dos digital influencers normalmente vem atrelada à sua rotina, de modo que sua própria vida se torna atrativa para um público específico.

Um mercado promissor

Em alguns anos empresas e marcas começaram a notar o potencial comercial das pessoas influentes nas redes sociais. Segundo dados do IAB (Interactive Advertising Bureau) só no ano passado o investimento em publicidade online cresceu 26% no Brasil, a expectativa é que em poucos anos o orçamento do marketing

em mídias digitais supere o da publicidade tradicional. Esse tipo de publicidade não se restringe aos anúncios nas páginas, as marcas e empresas viram nos influenciadores um nicho promissor de venda, através de parcerias comerciais e patrocínio em publicações.

“Já se sabe que o público da web não gosta de ser incomodado com anúncio. Então uma nova estratégia é fazer com que a marca faça um conteúdo relevante pra essas pessoas e que a publicidade esteja dissolvida no meio disso”,

em divulgação nas redes sociais. O sócio-proprietário e diretor de marketing da empresa, Hugo Amaral, explica que o retorno de visibilidade é bastante eficaz. “Através de permuta, nós investimos em pessoas influentes na nossa região, elas utilizam nossas academias em troca de divulgação nas redes sociais, isso faz com que aumente a visibilidade dos nossos perfis também”. Um método utilizado pelas marcas é a produção de conteúdo próprio, além dos anúncios e patrocínios em pessoas. “Já se sabe que o público da web não gosta de ser incomodado com anúncio. Então uma nova estratégia é fazer com que a marca faça um conteúdo relevante pra essas pessoas e que a publicidade esteja dissolvida no meio disso”, explica Renan.

Realidade Planejada

Renan Caixeiro

O consultor de marketing digital Renan Caixeiro explica que o público fidelizado pelos influenciadores realmente leva em consideração a opinião deles na hora de consumir um produto ou serviço, o que acaba sendo interessante para as marcas que associam seu nome a eles. O simples fato de uma pessoa influente mencionar uma marca, já faz com ela seja atraente para muitos seguidores. “A publicidade online é mais eficaz no sentido de retorno em compras. Apesar de atingir um público numericamente menor ao das mídias de massa, ele atinge uma parcela de pessoas que vão de fato consumir aquele produto”, acrescenta Renan. A rede de academias Fibratech, de Juiz de Fora, investe cerca 80% do seu orçamento de publicidade

Se engana quem acha que a vida dos influenciadores é só fazer looks do dia e exibir os intermináveis mimos das marcas. Ser digital influencer pode vir a ser uma profissão. O poder de influência associado ao investimento de publicidade possibilita que alguns tirem o sustento ao compartilhar suas vidas e experiências. Como qualquer outro trabalho, este também requer conhecimento e dedicação. 45


A estudante Isabella Og, de 18 anos, tem mais de 22 mil seguidores em seu perfil no Instagram, onde divide fotos do cotidiano, viagens e trabalhos como modelo. Isabella conta que desde muito nova já tinha o costume de compartilhar dicas de moda e estilo com amigas. Depois de receber convites para ser fotografada vestindo roupas de uma loja da cidade, a própria marca notou o potencial de influência da jovem. “Eles começaram a perceber que todas as peças que eu usava nas fotos vendiam, as pessoas iam procurar por elas”, relatou Isabella. O hábito virou um trabalho e direcionou até na escolha profissional de Isabella que atualmente cursa Publicidade e Propaganda. “Por já estar no meio eu tenho conhecimento de parte do conteúdo do curso e muita coisa do curso acaba auxiliando no meu trabalho, é uma troca muito interessante”, conta Isabella. Normalmente a influenciadora é procurada por marcas que propõem parceria de divulgação ou até com contratos firmados que garantem número de posts por um período de tempo. Toda a rotina tem que ser calculada, até as fotos que compõem o perfil de Isabella seguem um padrão de edição e uma ordem de postagem. A padronização das postagens atraem mais seguidores e criam um efeito mais harmônico para o feed, ajudando a construir a ideia que se quer transmitir.

representatividade e moda inclusiva. Helena se preocupa em não disseminar discursos de ódio e mostrar autenticidade em suas publicações. “Eu comecei compartilhando dicas e fazendo tutoriais e só depois de algum tempo notei que poderia influenciar pessoas positivamente e negativamente então passei a tratar de assuntos mais sérios e levei esse critério para minhas redes sociais também”. Nem sempre a publicidade favorece quem se encontra fora de um modelo, Helena relata que na região ainda encontra restrições em algumas marcas e muito disso por conta da sua aparência. “O meu perfil é diferente, eu sou gorda e as empresas ainda tem um receio em se associar à minha imagem. Muitas vezes eu tenho público, tenho o engajamento, mas eu não tenho a aparência correta para as marcas que ainda tem um pensamento mais conservador.”. A estética tem seu lugar, mas o conteúdo é o personagem principal de seus posts. “Quando a gente consome influenciadores, fazemos isso para acompanhar a rotina das pessoas e não para Ao contrário do que a grande ver um roteiro pré-definido, maioria faz a blogueira e eu busco mostrar a realidade e influenciadora Helena Gomes nem sempre ela condiz com um criou o blog Garotas Rosa Choque. mesmo filtro ou mesma luz pras A página completa sete anos no fotos.”, acrescenta Helena. ar, trazendo à luz assuntos como

Em contrapartida...

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“Eu busco mostrar a realidade e nem sempre ela condiz com um mesmo filtro ou mesma luz pras fotos”,

Helena Gomes

A intenção é sempre dar o melhor do seu trabalho, com fotos de qualidade e que satisfaçam seus gostos. “Os trabalhos com roteiro e edição tem seu lugar, mas caso a pessoa queira consumir isso ela pode comprar uma revista ou um jornal. É bonito e realmente funciona comercialmente, mas não é o que eu quero transmitir para o meu público.”.


Rio de Janeiro e do Espírito Santo por exercício ilegal da profissão. Em Juiz de Fora o casal de publicitários Pedro Prata e Duda Ventura também compartilham em seu blog e redes sociais a sua rotina fitness. Depois de adotar um estilo de alimentação e atividades mais saudáveis, a também estudante de nutrição passou a postar receitas que ela mesma fazia. O blog Casal Fit cresceu e o cotidiano dos publicitários ganhou destaque no conteúdo compartilhado.

Conteúdo Responsável

Perfis no Instagram com dicas para obter um corpo perfeito, instrução de exercícios físicos e alimentação ganharam destaque. A blogueira Gabriela Pugliesi ficou famosa por compartilhar sua rotina fitness e acabou se envolvendo em algumas polêmicas por conta disso. A musa fitness que soma três milhões e meio de seguidores, foi acusada pelos conselhos regionais de educação física do

“Eu falo que o que as pessoas querem ver no Instagram é gente bonita e sarada, a informação tem que ter, mas o retorno do público é menor”,

publicações que apresentam um maior retorno do público são os posts que mostrando a rotina de treinos e as fotos que comparam a mudança corporal do casal. “Eu falo que o que as pessoas querem ver no Instagram é gente bonita e sarada, a informação tem que ter, mas o retorno do público é menor”, conta Duda “ O que a gente faz é mesclar esse conteúdo à nossa realidade”. A influenciadora Isabella Og também falou sobre o cuidado que tem ao publicar no seu perfil. “Eu prezo muito por passar credibilidade para os meus seguidores, as marcas que são minhas parceiras eu realmente conheço e consumo” acrescentou.

Duda Ventura

De acordo com Duda Ventura, o blog é construído com o auxílio de profissionais especializados como educadores físicos, médicos e nutricionistas. “A gente tem os colaboradores profissionais que dão um embasamento para o que postamos, pra evitar entrar em uma área de formação que não é a nossa”. Apesar do grande cuidado com os posts de saúde e bem estar, as

Palavra de especialista

O consumo exacerbado das redes sociais pode trazer algum tipo de influência negativa para a vida das pessoas. A psicóloga Gilda Moreira aponta que esse cenário faz com que as pessoas sintam-se pressionadas a seguir os modelos repetidos nos perfis do Instagram e Facebook, causando um sentimento de insatisfação e infelicidade. Nem sempre é possível identificar que existe uma intenção comercial no que é divulgado, que existe edição do que é transmitido como cotidiano. “Muita gente acaba se tornando vítima dessa realidade construída, sofrendo por nem sempre se enxergar dentro desses falsos padrões” acrescenta. 47


Liberdade na Mochila, Pé na Estrada Por Luanny Gonçalves

Conheça o mochilão: Uma experiência capaz de mudar sua concepção sobre os desafios de percurso e vivência durante as viagens.

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Uma experiência intensa e diferenciada, que cabe no seu bolso Em algum momento da vida, todos nós já nos deparamos com a vontade de largar tudo que faz parte da nossa rotina, dar uma pausa no estilo de vida atarefado em que nos encontramos. Para isso, cada um, de acordo com seus gostos e personalidades busca nesse momento encontrar equilíbrio em algo que

proporcione prazer e descanso para renovar as energias. Entre as principais escolhas estão as viagens. Ir para um lugar com visual e cultura diferentes, novas pessoas para conhecer e novas experiências de vida para trazer de volta, é, sem dúvidas algo revigorante. Infelizmente, nem sempre essa é uma opção fácil.

Os compromissos com faculdade, trabalho, família ou a falta de dinheiro podem nos obrigar a adiar ou até mesmo cancelar os planos, mas cada vez mais pessoas tem apostado em uma alternativa para tirar a ideia do papel o quanto antes e de forma econômica: o “Mochilão”.

se redescobrir. O mochilão tem conquistado cada vez mais adeptos e quem faz o primeiro garante que não larga mais. Apesar dessa prática ainda não ser muito difundida no Brasil, existem fóruns e sites especializados de compartilhamento de informações e dicas que proporcionam uma boa base para a crescente demanda. As próprias agências de turismo assumem que, mesmo com destinos semelhantes, as experiências finais de quem opta pela orientação de profissionais seriam bem diferentes de quem vai por conta própria. A agente Lívia Rampinelli afirma que o auxílio prestado proporciona maior comodidade e arrisca que exista uma diferença de perfil entre os viajantes: “Acho que,

além da questão financeira, devido às exigências desse estilo de viagem, o público é diferente. Pelo que vejo são pessoas mais jovens e que buscam algo mais que visitar os pontos turísticos”. Para a agente Flávia Valéria da Silva, o mochilão tem um grande diferencial dos roteiros programados com assessoria, que desperta o interesse das pessoas: “Acho que as pessoas que optam por mochilão buscam maior liberdade para aproveitar o percurso. Em agências provavelmente nós vamos montar um cronograma das atividades que serão feitas no local, lógico que tudo de acordo com a vontade do cliente, deixar tudo agendado para evitar preocupações durante o passeio, mas algumas pessoas preferem independência nesse sentido.”

Dedicação física e mental No entanto, o mochilão não é qualquer tipo de viagem, é preciso estar ciente de que apesar do menor custo, ele exige muita dedicação no percurso. A regra de ouro do mochileiro é viajar mais gastando menos, e isso é válido em relação a transporte, hospedagem e alimentação, ou seja, percorrer uma grande distância a pé, pedir caronas e ter menos conforto na hora de dormir faz parte da experiência. Outra carcterística importante destas viagens é o autoconhecimento. Os viajantes que seguem essa vertente geralmente buscam realizála sozinhos ou com pouca companhia, se abrindo mais para vivenciar o lugar e o momento, o que faz desta uma jornada com grande potencial para descontruir limitações pessoais e

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Interação direta com a cultura local A cultura do mochilão é muito abrangente quanto ao perfil dos viajantes e oferece diferentes possibilidades o tempo todo. O contato com moradores locais pode mudar tudo que a pessoa tinha planejado até então. Uma dica de trilha menos conhecida, um bar incomum, uma festa típica da região ou feira artística

que esteja sendo realizada naqueles dias podem contribuir para uma interação mais efetiva com a realidade local. Para as pernoites, as barracas são as preferidas, mas os hostels também são uma opção e com uma boa pesquisa o mochileiro pode encontrar locais que troquem hospedagem pela

execução de algum trabalho, podendo assim estender sua temporada no local. Nada está tão definido na cabeça de um mochileiro que não possa ser negociado e alterado de uma hora para outra durante o percurso, e ainda garantir mais histórias pra contar, relembrar e inspirar o próximo movimento.

Não existe um passo-a-passo pois cada viagem é única, mas mochileiros experientes destacam pontos importantes para o planejamento, que é feito por conta própria. Ficou interessado? Confira no box abaixo!

Uma experiência sob medida 1

Defina quanto você pode gastar na viagem; Escolha o destino que te desperta maior afinidade dentro de seus interesses e condições;

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Pesquise sobre o local: cultura, características geográficas, culinária; Planeje seu roteiro e busque relatos de quem já esteve no local em fóruns de viajantes, por exemplo;

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Sobre os itens: cada destino tem suas particularidades. A recomendação principal é ter uma boa mochila e cuidado para não exagerar na bagagem, que vai o tempo todo com você.


Heranças do mochilão para a vida tipo de viajante são as plaquinhas indicando o destino pretendido, o que passa mais segurança para quem oferece a carona. Douglas conta que no início é provável passar alguns apertos pela falta de experiência e equipamentos adequados, como uma mochila específica ou barraca de camping, mas isso é algo que a cada viagem você vai aprendendo e descobrindo a capacidade de encontrar soluções e se aprimorar para a próxima. O estudante de jornalismo “No meu primeiro mochilão, Douglas Fernandes começou a eu não tinha ainda o material fazer mochilão em 2014, quando adequado para essas viagens e se mudou para Juiz de Fora para isso atrapalha mesmo o percurso. fazer faculdade de Apesar do trajeto jornalismo. Na época, planejado às vezes me o que o motivou a “A gente pode faltava um pouco de entrar nesse estilo foi a chegar onde noção do que fazer. questão financeira: “Eu minha escolha quiser, mas foiA pelo saí do emprego para vir trajeto mais para isso para cá e agora estou curto, mas como eram só estudando, aí falta só cidades pequenas tem que se dinheiro, né?! Então eu tinha muita movimentar” não apostei nas caronas e no circulação de carros e mochilão. Dessa forma como eu não consegui o dinheiro necessário é menor, carona perto da cidade eu acabei destinado apenas para alimentação, me precipitando, resolvi seguir a aluguel de hostel ou camping e estrada em busca de movimento uma quantia de segurança para uma eventual emergência.” Com a questão financeira amenizada, o tempo curto de universitário ainda limita um pouco as viagens, por isso destinos nacionais são os preferidos por Douglas atualmente, que já esteve em Tiradentes, Ibitipoca, Santa Rita do Ouro Preto, Ipatinga e Diamantina. Segundo o estudante, ao viajar dependendo de caronas é necessário se atentar para as melhores rotas em questão de movimento nas estradas, que definem as chances de se conseguir a carona e no caso de cidades turísticas ou universitárias esse processo é mais fácil. Uma particularidade que identifica esse

de carros andei por mais de 3 horas seguidas e nada. Nessa viagem eu senti todas as emoções possíveis desse tipo de viagens, descobri de fato o que é mochilar. Eu passei por extremos, sem equipamentos apropriados, barraca, lanterna, com frio e “perdido” em um lugar desconhecido e deserto. Mas quando você está sozinho, tem que tomar as decisões e enfrentar a situação, não dá só para ficar parado só esperando algo acontecer, é como na vida, foi ali que eu entendi que a gente pode chegar onde quiser, mas para isso tem que se movimentar. Outra coisa importante é que a gente precisa sempre de outras pessoas e esse é o grande paradoxo de mochilar, você vai só com Deus, mas no caminho vai precisar da ajuda de outra pessoa em algum momento e, voltando à analogia da vida, a gente se dá conta de que não importa o buraco que você se meteu sempre vai aparecer alguém para te ajudar se você permitir. E isso é fantástico!”

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Inspiração para caminhada experiência de estar fora do país e conviver diariamente com tantas pessoas, a sensação foi de total descobrimento. “Tinha gente da Alemanha, Portugal, Vietnã, EUA, Suécia, Camboja, Índia... E sempre saia e chegava gente diferente, era uma mistura de nacionalidades, personalidades, simplesmente linda”, ele conta que a questão do idioma ficou baseada no inglês que é o local e No caso do economista Lucas Lopes Daniel, 24, a paixão por mochilões surgiu desde cedo visitando alguns lugares do Brasil. Durante o 5º período da faculdade, ele decidiu trancar os estudos e focar em seus projetos pessoais. “Senti a necessidade de devolver ao mundo o que foi dado a mim levando oportunidades a outras pessoas e decidi fazer isso compartilhando o conhecimento que adquiri”, afirma. Em meio a um trabalho voluntário, ele encontrou a motivação necessária para encarar o mochilão no exterior. Após ser selecionado para um projeto da Association Internationale des Etudiants en Sciences Economiques et Commerciales (AIESEC), que ensina finanças em escolas em diversos lugares do mundo, Lucas optou pelas Filipinas como destino em busca de uma nova cultura. Ao se abrir para essa experiência conheceu e conviveu com pessoas de diversos lugares do mundo, inclusive na própria casa onde ficou durante a realização do projeto, cerca de oito semanas: “Eram em torno de 15 pessoas, gente do projeto e outros intercambistas, e eu era o único da América do Sul”. Para alguém que nunca tinha passado pela 52

todos praticavam juntos. Durante a estadia nas Filipinas além de toda vivência com os novos colegas e com o pessoal das escolas, ele se expandiu ainda mais. “Nossa escala de trabalho era muito variada, aí a gente podia se programar pra viajar por perto. Fizemos umas três para aproveitar o lugar, uma delas chegou a quase uma semana”, lembra.


Lucas não esconde a segurança que adquiriu nessa experiência muito menos a empolgação que o levou à sua viagem desse ano para o Chile. “Queria novamente ir em um lugar onde pudesse ter uma realidade diferente daqui do Brasil e, como gosto muito de aventura decidi ir acampar no Atacama por cinco dias, de lá acabei aproveitando e conhecendo Santiago, Vina del Mar e Valparaíso”. A programação dos 12 dias no Chile foi 100% mochilão, “Foi uma loucura, fiz tudo pela internet, bolei uma estratégia para dormir nas cidades alguns dias e conhecer os pontos turísticos também, além de saber sobre transporte público, etc...” Dessa vez, a comunicação foi mais complicada e o jeito foi improvisar: “No Chile em geral ninguém fala muito bem inglês, eu falava um Portunhol e um Italianol. Várias vezes também tive que ajudar estrangeiros que só falavam inglês, foi assim com um casal de ingleses e uma moça

da Coréia. Mas no geral, com o português você consegue.” Entre barraca e hostel, os dias no país ofereceram a Lucas diversas sensações: “No deserto do Atacama faz temperatura negativa a noite e muito calor durante o dia. Tive realmente que me adaptar principalmente a isso, mas fiz muitas amizades no camping. Eu amei Santiago, moraria lá facilmente. Fiquei impressionado com o valor que eles dão para cultura, praças, coisas ao ar livre. Pessoas se reúnem na praça para tocar

música, recitar poesias, namorar, bater papo, não importa a hora do dia, sempre tem gente fazendo isso! Não gostei de Vina del Mar, achei que tinha muita gente, muito comércio etc.. mas as praias são lindas! Valparaíso é uma cidade meio feia, mas com explosão de cultura urbana, com grafites, vielas tipo labirinto etc.. e lá tive a oportunidade de conhecer uma das casas do Pablo Neruda (La Sebastiana), foi muito bom, eu sou um leitor assíduo de poesias e crônicas.”

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Parceria com instinto aventureiro Apesar de mochileiros em sua maioria optarem por viajar sozinhos, para Livia Mara Silva, 29, e Atila Arthur de Almeida Santos, 28, os mochilões começaram de fato após o casamento. Ela farmacêutica e cursando mestrado e ele engenheiro elétrico, ambos fazem uma verdadeira ginástica para conciliarem suas folgas e conseguirem colocar em prática os planos de viagem. “Nós temos 10 anos juntos, antes de nos conhecermos, viajávamos bem menos. Nos conhecemos ainda jovens e também não tinhamos muitas condições de viajar para longe, mas desde o início, sempre que possível viajamos pelo Brasil”, conta Lívia. Eles contam que apesar de não ser possível planejar tudo nesse tipo de viagem é necessário estudar o básico do lugar e ir devidamente equipado, de acordo com as condições de cada destino. “Olha, tem que ter coragem e fazer bastante pesquisa. Em nosso primeiro mochilão, fomos para a Patagonia e a gente nao tinha nem roupa pro frio. Nem barraca boa pra acampar. Fomos com tudo emprestado, hoje já temos tudo que

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precisamos e assim é bem melhor”, afirma Atila. O último mochilão foi para um clássico trio percorrido por muitos mochileiros de uma só vez, por serem países próximos: Chile, Peru e Bolívia. Lívia conta que essa viagem, em especial, também é fruto de um sonho de criança dela de conhecer Machu Pichu. “Eu tenho uma tia que trabalhou com turismo e sempre que a visitava ficava perdida no meio das revistas de viagens. Foi então que eu vi a foto de Machu Pichu e prontamente aquele destino se tornou um sonho. Aproveitando as condições que eu e meu marido temos hoje, resolvemos estender um pouco mais essa viagem para os países vizinhos, e essa também é uma interessante forma de economizar dinheiro, visto que o mais caro de todas viagens são as passagens aéreas”. No planejamento dessa vez utilizaram fóruns, sites e blogs de relatos de viagem, mas Lívia reconhece que não é possível planejar tudo como nas viagens tradicionais, mas que essa é a melhor parte: “Planejamos as

coisas mais no geral, o básico mesmo. Lá é outra história: surgem vários imprevistos, só vivendo dia após dia mesmo. O caminho que percorremos não foi fácil. Você pensa em desistir várias vezes. A altitude maltrata e cobra um preço caro por te mostrar todo aquele universo. Mas depois de um tempo você não liga mais se a mochila está pesada, se aparecem mais uma ou duas bolhas. Você simplesmente passa a viver como o lugar te exige. E aí é que vem todo aprendizado de um grande mochilão.” Apesar de todas as dificuldades, Lívia completa: “O retorno pra casa é bom. A gente volta mais leve, porque aprende a valorizar o que realmente importa e dar menos importância para uma situação difícil sabendo que não vai durar para sempre”. “A experiência para nós significou recomeço e fortalecimento. Fortalecimento da nossa relação, mais confiança e recomeço de uma nova trajetória, com outros pontos de vista e um interesse ainda maior pelo mochilão. Já estamos pensando no próximo”, completa Atila.


AMedicinas escolha doalternativas Amor Por Bruna Ogando

por Mariana Carpinter

Existem diversos tipos de tratamentos de doenças etc e tal. Entre eles tem o tratamento com cães, a homeopatia, o negocio outro, tem aquele outro também. Desde a antiguidade que isso é legal.

“Senhor, Tu me olhaste nos olhos, a sorrir, pronunciaste meu nome. Lá na praia, eu deixei o meu barco, junto a Ti, buscarei outro mar.” O refrão da música “A Barca”, do Padre Zezinho, inicia essa reportagem que fala sobre vocações, contando histórias de pessoas que escolheram a vida consagrada. 55


O Primeiro Amor

quando ingressou no seminário, 8 de fevereiro de 2015.“Como retornou ao “Primeiro Amor”. assim, eu? Eu padre? Claro que Incentivado a participar dos vocacionais pelo não. Mas não por quê? Não encontros Bispo Dom Nelson Francelino havia possibilidade. Eu não me sentia preparado para entrar no e pelo padre Thiago Toledo, o jovem decidiu ouvir o seminário, achava “Hoje meu pai, chamado, mesmo com que não seria capaz. Mas ao mesmo tempo minha mãe e todas as dificuldades e medos existentes. me perguntava: por minha irmã Num primeiro que não? Será que não é mesmo minha são os maiores momento a decisão vocação? Que fase defensores de foi acolhida na família com surpresa. “Meu pai difícil de pensamentos”. minha de primeira não aceitou Lucas Magela, 22 vocação”. muito bem. Talvez por anos, desde criança já Lucas Magela ser o filho mais velho, “brincava” de ser padre e talvez por medo e celebrar missas. Acompanhando sua avó paterna Dona Emília – por eu estar desistindo de tudo popularmente conhecida como para ingressar na vida religiosa. Dona Rosinha, participava das Porém minha mãe acolheu desde festas da Paróquia de Santo o inicio a ideia e sua docilidade Antônio, em Sapucaia- RJ, convenceu meu pai. Hoje meu celebrações e todas as atividades pai, minha mãe e minha irmã são possíveis na comunidade. Passou os maiores defensores de minha pelo programa Conexão Católica vocação”. “Ele me chamou antes, na rádio comunitária da cidade, queria falar comigo primeiro, pelo ministério de música, por como de costume. Como pais preocupados, mas várias pastorais, mas mesmo assim, ficamos falamos que estávamos ali para Lucas ainda não tinha reconhecido o chamado vocacional. apoiá-lo sempre. Uma coisa que Lucas chegou a concluir o pedimos é que pensasse bem”, quarto período da faculdade explica Regirene Stael, mãe de de Direito, trabalhava, já tinha Lucas. Ela fala também sobre vivido paixões, mas confessa que o orgulho em acompanhar os

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passos do filho: “Hoje a cada dia vemos sua fé e sua perseverança crescerem e nos sentimos muito orgulhosos em vê-lo feliz. Nosso maior incentivo é o amor que nos une e a confiança de que ele pode sempre contar com a gente”. Acordar antes das seis da manhã, ir para a faculdade, fazer as tarefas da casa, ter uma rotina de estudo, participar das missas diárias e dos momentos de oração... essas são algumas atividades que fazem parte do dia a dia de um seminarista e por isso Lucas diz: “Ao contrário do que muitos pensam, o seminário não é um lugar onde a gente fica de mãos postas rezando o dia todo. Seminarista trabalha. No final do dia estamos mortos de sono, mas felizes”. O seminarista reconhece as dificuldades na trajetória, mas pontua que esses são os desafios da sua própria humanidade e que se esforça para a cada dia se tornar mais digno e ser mais lapidado pela Graça de Deus. “O Evangelho te chama do jeito que você é para viver a sua dignidade de filho e filha de Deus. Um evangelho que não demoniza o que você é, pois Deus te fez assim, mas te chama na sua essência a ser Santo”.


A verdadeira felicidade

Victor no seminário, Amália 21 de fevereiro de 2016.“Se procura sempre participar das padre? Logo eu? Por que isso, festividades que a instituição Senhor?” Esses foram alguns dos promove e de uma maneira questionamentos que levaram ou de outra sempre se mostra Victor Pereira, 19 anos, para presente para que o filho sinta a sua missão vocacional. O confiança e siga em frente. A rotina no seminário é jovem conta que o desejo de constituída por orações em ser padre veio ainda mais forte durante uma homilia em uma Comunidade, atividades da casa das missas da trezena de Santo e estudo. Todas essas tarefas têm Antônio realizada na Paróquia horários fixos e estipulados, como de Sapucaia-RJ, sua comunidade o horário de despertar, horário de origem. “Depois de vários de recolher e os momentos livres. ensaios, depois de conversas com Mesmo com todas as atividades, minhas avós, e com a ajuda delas, horários e rotinas do seminário, foi necessário contar para os durante a conversa não ficou meus pais essa decisão”, lembra. difícil notar o quanto Victor “Decidi lagar a “Ser padre é ser está satisfeito com o caminho que faculdade quando vi pai de uma escolheu. Ao ser que já não era mais perguntado sobre multidão, é aquilo que queria, pois não tinha mais levar o necessário como se sente em meio a tudo prazer em estar ali. ao mais que está vivendo, Sem duvida alguma ele diz: “Deus necessitado.” foi uma decisão muito surpreende difícil, porque era um Victor Pereira nos a cada dia, e as “investimento” dos surpresas que Ele nos revela meus pais, era uma circunstância que não envolvia somente eu, e são grandiosas. Seguir esse sim minha família”, fala Victor caminho é algo maravilhoso, quando lembra do momento é uma eterna descoberta, é em que abandonou o curso descobrir um Amor que não tem de Engenharia Ambiental. fim, que transcende tudo isso”. No início de 2017, Victor “Mãe, eu não estou feliz fazendo o que estou fazendo. foi direcionado para a Paróquia Pode ser a melhor faculdade do Imaculada Conceição, na cidade mundo, mas eu não estou feliz. de Paty de Alferes-RJ. Nos finais Eu quero ir para o seminário, eu de semana, ele fica responsável quero ser padre.” Emocionada, por animar a catequese da Igreja, Amália Pereira, mãe de Victor, ajudar o grupo de coroinhas lembra exatamente das palavras e estar à disposição para dar que lhe foram ditas e que deixaram suporte nas outras atividades os sentimentos muito confusos. que necessitem do seu trabalho. O seminarista confessa Hoje, ela vê o filho realizado e reconhece que essa foi a melhor que é difícil nadar contra a escolha, porque ele se encontrou correnteza em um mundo onde de verdade, mas no momento muitos só veem só querem o da revelação, pensou em como enriquecimento pessoal e o ele ia construir uma família e prazer, mas afirma que “Aquele como seria o futuro do filho. que nos chamou nos dá força para Para incentivar a caminhada do viver isso. Ele nos mantém de pé

diante de todas as dificuldades, nos dá fôlego para nadar, para avançar nos seus caminhos”. Em um momento da entrevista, Victor define a sua motivação: “O que mais me motiva a seguir esse caminho é o olhar para com o irmão, essa ajuda que o outro tanto precisa. Ser padre, é ser pai de uma multidão, é levar o necessário ao mais necessitado”.

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Doar-se para a vocação

aceitou bem essa ideia”, recorda. Aos 13 anos, Irmã Waldete “Eu tinha seis anos, me recordo que fui num evento da Igreja em recebeu a visita de Madre Clara, Lima Duarte. Lá tinham muitas que é fundadora da casa da irmãs vicentinas rezando salmos e Congregação das Franciscanas cantando com uma voz que parecia de São Pascoal em Juiz de Fora, de Deus. Perguntei a minha mãe o em busca de donativos para o que era aquilo e ela me explicou trabalho de caridade. Waldete fala que elas eram irmãs de caridade. A que não cansava de pedir a Madre partir daquele momento não tirei Clara para que pudesse passar da minha cabeça que queria ser alguns dias na Congregação e uma irmã de ‘qualidade’, porque eu que ela conseguisse a autorização. não sabia falar direitinho”. (risos) Os pedidos também foram feitos para Ignácio Halfeld, que tinha Foi com esse uma boa relação com depoimento que “O que me a família. “Nas férias a Irmã Waldete encanta e o que de julho, escrevi um Oliveira começou a contar sobre me motiva é esse bilhete para minha tia, como descobriu se entregar sem imitando a letra da minha mãe, pedindo a sua vocação. interesse em nada, que ela me pegasse no Criada de só por amor.” trem e me deixasse na forma rígida, Irmã Waldete Irmâ Waldete Oliveira casa das irmãs. Minha mãe descobriu tudo e lembra que sua mãe só permitia que ela brincasse mandou o juizado de menores com a filha do político Ignácio me buscar”, conta. Depois desse Halfeld. “Morava em Benfica e episódio, a justiça viu que estava minha mãe sempre me vigiava tudo certo com a menina e a muito. Lembro também que toda partir desse dia, a Irmã Waldete na Congregação: vez que falava que queria ir para o ingressou convento eu apanhava. Faz muito “Todas às vezes que ia visitar tempo, mas tem coisas que a gente minha mãe ela se escondia para não esquece. Minha mãe nunca que eu não conseguisse encontrá-

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la. Ela tinha esperança que eu desistisse. Carreguei isso sempre comigo, mas permaneci firme, pois cada um tem seu modo de pensar e eu sempre respeitei o dela, mesmo sem entender que tipo de ‘amor egoísta’ era esse”. A Irmã Waldete trabalhou durante 21 anos com crianças órfãs e abandonadas (no tempo que a sede da Congregação era um orfanato). Ela lembra com saudade das crianças sendo cuidadas e também ajudando a cuidar do pomar e das outras atividades do lar. Hoje, Waldete vive com apenas mais duas irmãs na Congregação, pois muitas já faleceram, e por isso confessa: “Temos que rezar muito pelas vocações femininas. Hoje eu vejo que as pessoas querem estudar, crescer na vida, serem independentes e veem que dessa forma não precisam de Deus. O que a gente tem que fazer para que os jovens entendam que não é assim?” Mesmo em meio as dificuldades, a Irmã diz que “o que me encanta e o que me motiva a cada dia mais é esse se entregar sem interesse em nada, só por amor”.


isso, da minha parte foi bem tranquila, senti nessa decisão um toque de Deus”, explica. Leonardo conta que o carinho das pessoas a sua volta é muito grande e que sua comunidade de origem continua o acolhendo muito bem: “Uma das maiores riquezas do processo vocacional é a sinceridade com você e com Deus, ouvir Deus é necessário. Tanto em Jamapará minha comunidade de origem, quanto em Rio das Flores minha comunidade de pastoral, minha decisão foi acolhida com muito carinho e amor do povo de Deus, vi nos gestos das duas comunidades algo que tinha experimentado na Missa de envio, “Tanto para o seminarista o amor diante a minha decisão”. Para quem pensa que a missão quanto para o padre, a nossa quando Leonardo vocação não é para seminário acabou decidiu se afastar do Seminário, e sim para o povo de Deus. ele explica que Deus chama a Estar junto do povo cada um de nós a todo é satisfatório, é momento para as descanso para a nossa “A vocação mais diversas funções alma missionária”. maior é o – não somente para o Falar de vocação sacerdócio. A vocação é falar em saber Amor: amar maior é o Amor: ouvir a voz de Deus amar ao próximo, e os sinais que Ele ao próximo, amar a Igreja e dá. Na comunidade amar a Igreja amar o povo (que de Sant’Ana, em já é tão machucado e amar o Jamapará-RJ, após por algumas povo.” mais de um ano e circunstâncias meio de encontros Leonardo Baião da vida). “Decidi vocacionais, Leonardo mesmo retomar ao Baião, 24 anos, foi banco da Igreja, enviado para o Seminário, junto da assembleia, mas não onde daria mais um passo para deixo de ajudar onde precisam o seu discernimento religioso. de uma ‘mãozinha’. Estou Mesmo se sentindo muito bem vivendo dias felizes, estou com as atividades de formação podendo contribuir na minha e com o trabalho pastoral que comunidade de origem, no realizava em Rio das Flores-RJ, circulo bíblico da minha rua, no o jovem percebeu que deveria Grupo de Oração da Renovação se afastar do seminário. “O meu Carismática onde brotou minha afastamento foi tomado com vocação. Voltar ao primeiro consciência, oração e comunhão amor é tão necessário quanto com meu diretor espiritual, por dar o sim para lançar as redes”.

Outros caminhos

Discernimento vocacional

Padre Norberto Ernesto faz parte da Congregação do Verbo Divino e está em Juiz de Fora há cinco anos e no Brasil há mais de 60 anos. Já morou em várias cidades, como Belo Horizonte, São Paulo, Barra Mansa e Volta Redonda. “O vocacionado sente um desejo de dedicar-se ao serviço de Deus e da Comunidade.” Padre Norberto explica que o processo de discernimento vocacional é bastante complexo, pois o jovem deve analisar todos os prós e contras e ver se realmente está disposto a ingressar na vida religiosa. Mesmo após entrar no seminário ou no convento, o processo continua, pois é através da vivência e da rotina que o/a jovem pode confirmar sua escolha. Padre Norberto comenta que muitas pessoas desistem da vida consagrada porque durante o processo de discernimento descobrem que suas qualidades podem ser aplicadas em outras áreas da vida: “Tudo na vida é vocação e eu sempre costumo dizer que não é porque uma pessoa não quer ser padre ou freira que ela não seja boa em alguma coisa. Todo mundo tem um dom, basta saber usá-lo”. 59


Vai um livro nacional aí? por Thamires Pecis

O Brasil conta hoje com autores de grandes livros, que não deixam nada a desejar a best-sellers estrangeiros. A questão então é porque eles ainda não tem o mesmo reconhecimento

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Crédito: Thamires Pecis

Thalita Rebouças, Carina Rissi, Marina Carvalho Vanessa Bosso e Leandro Luzone são autores nacionais que conquistam leitores noBrasil

Machado de Assis, José de Alencar, Clarice Lispector, Guimarães Rosa. Nomes facilmente reconhecidos para a maioria da população brasileira. Mas você saberia citar nomes de escritores brasileiros contemporâneos sem pensar duas vezes? Talvez você diga “Paulo Coelho e Augusto Cury”. E se eu perguntar sobre autores de livros estrangeiros? “Jojo Moyes, Nicholas Spraks, Dan Brow, J.K Rowling, George R.R. Martin, Sidney Sheldon, Agatha Christie...”. Provavelmente você pode passar alguns bons minutos citando alguns nomes. Mas você já parou para pensar porque conhece tantos autores estrangeiros e tão poucos nacionais?! A resposta é simples: os brasileiros leem mais os livros que vem de fora. Entre os 20 livros mais vendidos de 2017 no mês de junho, segundo a revista Veja, somente dois são de autores nacionais. Talvez isso aconteça porque muitos acham um livro interessante, até descobrir que ele foi escrito por Maria e não Mary, e automaticamente o livro já não é tão bom. Adaptações podem influenciar Os livros estrangeiros acabam sendo mais procurados, e a doutora em estudos literários Juliana de Brito explica que parte disso acontece

porque as grandes editoras acabam Aí não dá pra comparar mesmo.” obedecendo aos anseios do mercado. “Adaptações cinematográficas de Preconceito livros ajudam muito a popularizá-los, O brasileiro lê muito pouco, seo que não é um fenômeno ruim, já gundo a pesquisa Retratos da Leitura que instiga o conhecimento da pro- no Brasil, 44% dos brasileiros não lê. dução escrita e, consequentemente, Não existe uma pesquisa que mostre sua leitura. Como temos uma vasta o percentual de livros estrangeiros e produção de literatura hoje no Bra- brasileiros lidos, mas se houvesse, o sil através de escritores emergentes, primeiro, sem dúvidas, seria maior. estes acabam procurando editoras O que muitas vezes, começa desde independentes e menores, uma vez cedo. “O preconceito começa na esque o mercado ainda não aposta no cola. Somos obrigados a ler obras sucesso dos desconhecidos e acaba desatualizadas, que não se encaixam fechando as portas. nas nossas preferênIsso acaba influen- “Eu sempre ouço cias. Imagine ter Harciando o que deve ser ry Potter na grade a frase: ‘Eu tinha lido, ofuscando a litercurricular? Percy atura contemporânea tanto preconceito, Jackson? Esses livros do país”. mas quando dei acendem o gosto pela A escritora Letícia leitura e, no Brasil, uma chance e li temos obras tão boas Wierzchowski, autora do sucesso A Casa das um livro nacional, quanto essas. Os clássete mulheres, explica sicos nacionais devem isso mudou.’” que a questão cineser lidos também, mas matográfica influenem um outro mocia muito. “Erico Verissimo e Jorge mento de vida”, destaca a autora de Amado vendiam muito, eram suces- mais de 15 livros Vanessa Bosso. Ela so. Paulo Coelho vende no mundo ressalta ainda que o brasileiro não se todo. Eu não vejo isso de uma for- dá o devido valor e desvaloriza sua ma grave, o que vejo é que livros que própria cultura. “Eu sempre ouço a vão para o cinema, viram séries, são frase: ‘Eu tinha tanto preconceito, muito vendidos nos EUA, já che- mas quando dei uma chance e li um gam aqui numa esteira de sucesso... livro nacional, isso mudou.’” 61


Velhos hábitos mudam, sim! “Velhos hábitos nunca mudam”, esse ditado popular pode servir para muita coisa, mas em relação à leitura, ele está completamente errado. O número de leitores no Brasil pode aumentar, assim como quem não é fã dos livros nacionais pode mudar de ideia. A pós-doutora em estudos literários, Patrícia Botelho, explica que o problema não são as pessoas em si, mas o que falta durante o seu desenvolvimento e afeta assim o seu gosto por literatura. “Falta incentivo financeiro. Também falta incentivo por parte da escola para fazer com que os alunos leiam mais. A família é algo essencial nesse gosto pela leitura também. O governo deveria promover projetos que façam com os as pes-

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soas tivessem descontos para comprar livros, irem ao cinema e teatro”. O escritor Vinícius Grossos explica que o brasileiro ainda lê muito pouco, mas que ape­sar disso, algumas mudanças estão ocorrendo. “Está acontecendo um aumento de potenciais leitores no público jovem, que é um público muito apaixonado. E se esses jovens gostam de um autor, eles vão acompanhar esse autor para sempre, é algo muito legal de se ver. Acho que o preconceito existe porque, por muito tempo, não se tinha literatura nacional contemporânea, então é um preconceito por algo que não se conhece. Se não se conhece, pode ter aquele receio de o livro não ser bom. Mas é algo que está sendo quebrado e está caindo por terra”. Vanessa Bosso, autora de chick-

lits(romance leve e divertido que aborda a vida das mulheres modernas) adorados do público jovem conta que o jeito de escrever também está mudando. “Surgiu uma safra nova de autores com uma escrita contemporânea. Eu faço parte dessa turma e posso dizer que me “formei” em literatura estrangeira, portanto, escrevo o Brasil de um jeito que as pessoas gostam de ler”. Toda regra tem exceção ­ e essa, ainda bem, tem muitas. Grandes autores brasileiros contemporâneos, donos de livros policiais, fantasias, chick lits, terror têm encontrado espaço e leitores fiéis que dão o devido valor para seus trabalhos. Carina Rissi, André Vianco, Thalita Rebouças e Paula Pimenta são alguns exemplos de sucessos atualmente.

Vinícius Grossos - De onde é: Rio de Janeiro -O que já escreveu: O garoto quase atropelado, O verão em que tudo mudou, 1+1: A matemática do amor, Sereia Negra -Gêneros: Fantasia, Young-adult -Como começou a escrever: Desde pequeno eu sempre fui voltado para coisas criativas, de preferir ganhar gibis e livros do que brinquedos. Conforme o tempo foi passando, eu percebi que eu estava com essa vontade de escrever minhas próprias histórias e comecei a fazer isso como hobby. Nunca pensei que eu poderia tornar isso minha profissão, até que uma professora de literatura cruzou o meu caminho e ela foi a responsável por me fazer entender que eu poderia tocar a vida das pessoas com as coisas que eu escrevia lá no quarto da minha casa sem pretensão nenhuma. A partir daí comecei a pesquisar mais sobre a carreira de escritor. -Como é o processo de criação: Meu processo de criação é meio louco, porque eu não consigo planejar uma obra inteira. Eu tenho uma ideia inicial e partir dela eu tenho que sentar e começar a escrever porque a partir daí a mágica acontece, parece que os personagens ganham vida, a história vai se desenrolando e vai acontecendo de uma forma que se eu tivesse planejado inicialmente, não seria algo tão crível. Parece que os personagens ganham sua própria personalidade e eles que vão guiando a história. -Autores preferidos: Markus Zusak e John Green -Próximo lançamento: Lancei agora meu quarto livro em abril, mas eu sempre trabalho alguns passos à frente. O meu quinto livro está pronto e já estou pensando e rascunhando o sexto. -Indica: As pessoas têm que se basear no que elas gostam. Então por exemplo, se você gosta de um filme de ação, então você vai encontrar um livro com uma temática parecida. Acho que é começar mesmo pela temática que mais te interessa. 62


Vanessa Bosso - De onde é: São Paulo -O que já escreveu: O homem perfeito, A aposta, Chuta que é carma, Agarra que é amor e mais 14 obras -Gêneros literários: Romance, Sobrenatural, Aventura, Ficção -Como começou a escrever: A vontade sempre existiu, mas eu não sabia por onde começar. Tentei, tentei, tentei e continuei tentando, até que um dia, o word me avisou que eu já havia digitado 60.000 palavras. Eu tinha um livro! -Como é o processo de criação: Às vezes eu acho que deveria ter um processo, mas depois, lembro que não consigo escrever sob pressão. Não faço roteiros, deixo a intuição me guiar. Em um dado momento, a intuição vai embora e os personagens passam a guiar a história. É uma fórmula que funciona muito bem comigo e nunca me deixou na mão. -Autores preferidos: Sou eclética, mas sou fã de ficção científica e Isaac Asimov é o meu preferido no gênero, vá ser criativo assim lá em Júpiter. -Próximo lançamento: Tenho vários projetos iniciados, mas nenhum realmente “pegou fogo”. Sendo assim, para 2017, acho que ficarei só testando narrativas. Para 2018, acredito que terei um chick lit nascido de algum desses projetos que citei. -Indica: Além dos meus, indico obras de Carina Rissi, FML Pepper, Janaina Rico, Raphael Dracon, Rafael Montes, Danilo Barbosa, dentre tantos outros autores incríveis. E para quem curte um texto mais quente: Josy Stoque, Mila Wander, Nana Pavoulih e outras tantas mulheres incríveis.

Letícia Wierzchowski

- De onde é: Porto Alegre -O que já escreveu: A casa das sete mulheres, Sal, O primeiro e o último verão, Travessia e outras 19 obras -Gêneros: Adulto e infantil -Como começou a escrever: Desde o início da minha adolescência, eu já era uma leitora muito dedicada. Sempre gostei muito de ler. Um dia comecei a escrever. Mas demorou, fiz várias coisas nesse meio tempo. Tentei diversas universidades, que acabei abandonando. Demorou muito tempo, mas publiquei meu primeiro livro com 25 anos. -Como é o processo de criação: Cada livro tem seu processo de criação específico - mas eu costumo pesquisar em livros históricos e estudar os assuntos que envolvem o universo do meu romance em questão. Também leio livros de outros autores que orbitem sobre o assunto. Depois deixo isso tudo decantar até que eu tenha uma linha narrativa clara em mente. Aí começo a escrever... -Autores preferidos: São muitos. Direi alguns: Erico Verissimo, Tabajara Ruas, Nabokov, Sommerseth Maugham, Philip Roth... -Próximo lançamento: Recém lancei Travessia, mas tenho um romance na gaveta - ainda não quero falar sobre ele. -Indica: O Tempo e o vento de Érico Veríssimo 63


De olhos abertos para a cultura japonesa Por Aline Negromonte

Mangás, Animês, Cosplays: o que são, porque têm um grande potencial atrativo e a onda de fãs brasileiros.

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Terra do Sol Nascente tem relações históricas com o Brasil. Este ano, completam-se 109 anos de imigração japonesa em nosso país. O segundo lugar no mundo onde mais se encontram japoneses é, justamente, o Brasil – com uma concentração particular em São Paulo, onde o Bairro da Liberdade é uma referência nacional. Não seria de admirar que muitos aspectos culturais nipônicos influenciem a cultura brasileira como um todo – até mesmo naquelas situações aparentemente improváveis, como no caso das sandálias de dedo, abertamente inspiradas em um calçado típico japonês. A culinária oriental também já passou a fazer parte do prato do brasileiro, o que pode ser observado na relativamente recente obsessão por sushis e temakis, que podem ser encontrados até mesmo no cardápio dos restaurantes selfservice e churrascarias. Mesmo quando não influencia diretamente, a milenar cultura japonesa provoca fascínio: belos quimonos, a sensualidade peculiar das gueixas, a bravura e honra dos samurais estão muito presentes no imaginário ocidental. Mas, de uns tempos para cá, a cultura pop japonesa também têm ocupado um lugar de destaque. Os mangás, os animês, cosplays e gêneros musicais como o J-rock e o J-pop têm cada vez mais fãs, no mundo todo, e no Brasil. Com suas peculiaridades, a ascensão da cultura pop também tem auxiliado a despertar ainda mais o interesse pelo Japão, seus

Mangás e Animês: intrinsecamente relacionados Os mangás são o equivalente japonês das histórias em quadrinhos, e os animês, das animações. Um dos divulgadores do mangá no ocidente foi Osamu Tezuka (1928-1989), o “Deus do Mangá”, que criou boa parte da estética do mangá como é hoje conhecida, como os grandes olhos, traços simplificados de personagens e cenários detalhados. Características como a narrativa cinematográfica e linhas de movimento nos desenhos também foram um pioneirismo dele. Tezuka tem seu próprio museu em Takarazuka, cidade onde nasceu no Japão. Ele é autor de mais de 600 mangás e 60 animês e seu personagem mais conhecido é Astroboy, (Testwan Atom), criado em 1952. De acordo com o jornalista britânico Paul Gravett, especialista em quadrinhos e autor de “Mangácomo o Japão reinventou os quadrinhos”, o termo “mangá” surgiu no século XVIII e foi usado pelo conhecido artista japonês Hokusai em 1814 para designar seus

livros de “rascunhos excêntricos”. Gravett também afirma que o mangá como o conhecemos hoje nasceu do encontro do Oriente com o Ocidente, do velho com o novo. Foi um caso de wakon yosai - “espírito japonês, aprendizado ocidental”. Para ele, parte desse “espírito japonês” se deve tanto aos kanjis, os ideogramas japoneses que utilizam uma linguagem simbólica, quanto à longa tradição nipônica de arte pictórica, que às vezes se aproxima do espírito dos quadrinhos. O professor de História da Arte do CES-JF, Thiago Berzoini, afirma que os mangás possuem traços e narrativas mais dinâmicas, além da leitura ser da direita para esquerda, o que os difere dos quadrinhos do ocidente. Eles podem demorar anos contando uma saga, mas possuem, salvo raras exceções, um final, o que também é bastante diferente da linguagem dos comics (quadrinhos norteamericanos), onde um super-herói pode ter 50 anos de histórias e sequer estar próximo de sua saga ter um fim. Outra característica Foto: Tofugu / Divulgação

A

costumes e idioma.

Osamu Tezuka em 1979 com esculturas de seu personagem Astroboy

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é que esses mangás geralmente são em preto e branco, de formato reduzido (embora, às vezes, com muitas páginas) e impressos em papel jornal. No Japão, é muito comum ver mangás virarem animês, e dentre todo o volume de produção de animações, poucas não são adaptações de mangás. Sobre aquelas de roteiro original, um conhecido diretor no ocidente é Hayao Miyazaki, proprietário do Studio Ghibli, referência internacional em animação, e famoso por A Viagem de Chihiro (2001), longa vencedor do Oscar de Melhor Animação em 2003. Há perceptíveis diferenças culturais entre o mangá e as histórias em quadrinhos ocidentais, mas talvez a mais marcante é que, no Japão, o mangá é definitivamente popular, feito para as massas, e têm públicos diversificados. Para Berzoini, “o mangá possui estilos que tentam agradar todo tipo de público”. No Japão, de acordo com Gravettt, o mangá responde por 40% de todos os livros e revistas vendidos. Existem mangás de inúmeros gêneros, e com um nível de segmentação impressionante – atendem um público tão diverso como um jovem bombeiro e uma dona-de-casa de meia-idade. Duas classificações comuns são shonen, mangás para garotos adolescentes, e shojo, mangás para garotas adolescentes. (Mais informações sobre os gêneros de mangás no box da página a seguir). Além dos citados, há infinitos subgêneros, incluindo mangás e animês didáticos. As obras incluem temáticas difíceis de serem encontradas em outros lugares,

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como histórias em quadrinhos voltadas para o público feminino – shojo – com temas tão específicos como comédias românticas passadas em um universo de ficção científica. (As mangakás - cartunistas ou quadrinistas Souji Hajime, Natsuki Takaya são algumas das autoras que abordaram o tema). Parte do apreço dos fãs vêm do aspecto muito democrático dos mangás e animês, essa noção de que “tem para todos os gostos”. O leitor/espectador se identifica com as obras, se vê representado nelas e tem suas preferências respeitadas. A palavra dos apreciadores O ilustrador e aprendiz de tatuador Hokama Souza, 31 anos, que fez uma ilustração exclusiva para esta reportagem, foi muito influenciado pelo mangá e também pelo animê no passado, embora atualmente sua arte seja “diferente”. Suas principais preferências são os mangás mais antigos: Buda de Osamu Tezuka, Lobo Solitário de Kazuo Koike e Goseki Kojima, e alguns mais recentes como Monster de Naoki Urasawa. Já nos animês, acredita que “cada estúdio possui características próprias”, mas gosta muito de Nausicäa do Vale do Vento, de Hayao Miyazaki, e de Túmulo dos Vagalumes, de Isao Takahata, do Studio Ghibli. Também destaca outros grandes estúdios como o Production I.G e o MadHouse, ambos com obras que gosta muito, como Ghost in the Shell, de Mamoru Oshii (adaptação do mangá de Masamune Shirow) e Perfect Blue, de Satoshi Kon. Já a professora de Artes Camila Sampaio, fluminense de 27 anos, conta que o início de sua trajetória

como fã de cultura pop japonesa e colecionadora começou com um mangá, aos seus 15 anos: Video Girl Ai, de 1985. O que a atrai nos mangás é o fato de gostar da estética em preto-e-branco, o que em sua opinião “não cansa a vista”, e por não terem muitas sequências, são histórias bem delimitadas, com início, meio e fim. Poucos mangás têm uma continuidade ao longo dos anos, como One Piece, por exemplo. Já o animê foi lhe apresentado pela televisão aberta brasileira, na década de 90, com “clássicos como Sailor Moon e Cavaleiros do Zodíaco.” Porém, em geral, ela prefere ler o mangá antes, sempre. “Hoje, meus estilos preferidos são shojo e guro [de terror]”. Outra importante diferenciação apontada por Camila é que ela se considera uma Otaku, uma palavra que tem conotações diversas no Brasil e no Japão. “Aqui, a gente vê o Otaku como um fã de cultura japonesa, só que no Japão, é qualquer pessoa aficionada por determinada coisa, e é com uma conotação negativa.” O mercado de mangás também cresce muito no Brasil. Inicialmente focado em publicações shonen, hoje há espaço para os mais diversos gêneros, como shojo e seinen. Antes dominado pela JBC editora (Japan-Brazil Comunication), atualmente o mercado também é dividido pela Panini, com o selo Planet Manga, L&PM e NewPOP editora, especializada em mangás. Localmente, em Juiz de Fora, a Taberna Conclave, referência em vendas de histórias em quadrinhos, também têm visto o aumento do público de mangás ao longo dos anos.


Gêneros de mangá e animê Kodomo: produzida para crianças bem novas (Hamtaro, Doraemon¹). Shonen: voltada ao público masculino adolescente; (ex: Naruto; Yu Yu Yakusho) Shojo: que é produzida visando as garotas adolescentes. (ex: Sailor Moon; Shojo Kakumei Utena²); Seinen: produzida pensando em um público mais focado em homens jovens e adultos. (ex: Sanctuary³; Monster); Josei: para mulheres jovens e adultas. (exs: Helter Skelter, Paradise Kiss). Gekigá: para jovens adultos, (A lenda de Kamui, Hi No Tori). Gêneros voltados para o público LGBTI: Yuri e Shojo-ai: voltado para lésbicas (Oniisama E; Blue Drop) o Yaoi e Shonen-ai: para gays, (embora muitas mulheres leiam ),(ex: Zetsu Ai, Eroica)

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Gêneros erótico: Ecchi e Hentai, (Love Junkies) Doujinshi: publicações independentes semelhantes aos fanzines. 3

Magia em movimento: os animês O primeiro animê foi realizado para os cinemas em 1917. Já em 1958, foi lançado o primeiro animê colorido e feito exclusivamente para a televisão, Manga Calendar, veiculado pela emissora TBS com produção do estúdio Otogi em 25 de junho de 1962. Um ano depois, Osamu Tezuka lançaria Astro Boy, baseado em seu mangá homônimo, através de seu estúdio de animação Mushi Productions. Para o professor Thiago Berzoini, o estúdio de animação mais relevante do Japão é a TMS Entertainment, que foi fundado em 1946 e continua ativo. “É uma companhia significativa no que diz respeito à produção de animê, e mesmo sendo antiga, continua tendo relevância, assim como o estúdio Ghibli, fundado em 1985, mas que possui grandes obras mais recentes, como A

Viagem de Chihiro, por exemplo.” Berzoini destaca também a Toei Animation, por ser uma das precursoras do animê como febre no Brasil, através das séries Cavaleiros do Zodíaco, que garantiu grande público, e também a série Dragon Ball e One Piece. “Não podemos deixar de lembrar da Madhouse, responsável por Sakura Card Captors e algumas adaptações da Marvel Comics para o público de animês, o que é um trabalho importante de diálogo entre as diferentes culturas de narrativas sequenciais. A casa levou os ícones dessa linguagem no ocidente, como X-Men e Homem de Ferro, para o Japão, em uma estética própria ao estilo dos animês. Existem outros grandes e relevantes estúdios, como a Sunrise (fundada em 1972). Acredito que os estúdios mais importantes continuam ativos desde décadas anteriores, não tendo necessariamente a

distinção entre recentes e antigos, pois mesmo fundados há décadas continuam produzindo cada vez mais e mantendo sua importância.” O fenômeno da popularidade de mangás e animês também mobiliza fãs na internet, alguns muito ativos, que se dedicam a traduzir e disponibilizar conteúdo para outros fãs: os chamados fansubers. “Fansub” é um termo em inglês vindo da junção entre Fan (fã) e Sub (abreviação de subtitle, ‘legenda’). Eles legendam animês e traduzem mangás, tornando-os compreensíveis ao grande público e deixam o download disponível na internet. Há um aspecto nebuloso a ser considerado, em relação aos direitos autorais. Mas muitos coletivos de fansubers se defendem enfatizando que nunca disponibilizam conteúdo licenciado no Brasil, então apenas ajudariam a divulgar a cultura pop japonesa como um todo.

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Arte de Hokama Souza (@noiaillustration). Releitura de personagem de Cannon Fodder, de Katsuhiro Otomo, o mesmo diretor do icônico Akira. O curta é parte da obra Memories, que reúne diversos diretores consagrados de animê.

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Quando o personagem ganha vida Outros aspectos importantes são as práticas cosplayer. Cosplay é uma junção, em inglês, das palavras costume e play, que significam “traje” e “jogar”, respectivamente. Muitos fãs de cultura pop japonesa se vestem de personagens favoritos,

Moda Lolita

e os interpretam parcialmente. Ao menos uma fala ou gestual típico eles devem incorporar, e o traje deve ser feito por eles próprios, no melhor estilo do mantra punk “do it yourself”. Estes cosplayers têm a oportunidade de disputar entre si em grandes eventos, como as referências nacionais Anime Friends (SP) e Ressaca Friends (RJ) e as locais Anime Taikai, e Geek POP. A arquiteta carioca Agna Fabrícia Domingues, 30 anos, residente em Juiz de Fora, faz cosplay há 11 anos e tem seus motivos para preferir mangás e animês. “A estética oriental tem sua particularidade, com traços bem expressivos. Gosto de como conseguem captar emoções tão intensamente. Penso que esta seja uma das diferenças para os quadrinhos americanos... por terem um enredo extenso, os mangás conseguem privilegiar mais emoções e detalhes da narrativa. Outra diferença são os inúmeros segmentos japoneses.” A arquiteta também afirma que

A professora de Artes Camila Sampaio, 27 anos, além de frequentar eventos e ser entusiasta de mangás e animês, é apreciadora do estilo de rua japonês Lolita e participa de um grupo em Juiz de Fora, O Lolika Cute. “O estilo apareceu na década de 80, mas o grande boom internacional foi nos anos 2000. Hoje, há moda Lolita fora do Japão e criações artesanais. A China, por exemplo, é hoje um grande pólo de mercado e de apreciadores. Ele é relacionado à Era Vitoriana, alguns estilos ligados à moda adulta vitoriana e outros à infantil. A moda Lolita é recatada”, explica a professora, ressaltando que muitos mangás retratam personagens Lolita, o que gera identificação no público. Ela conta ainda que este ano foi criado um clube de Lolitas em Juiz de Fora, com mensalidade, bônus frequentes. O clube tem quatro encontros anuais temáticos.

seu primeiro cosplay foi Rogue, do jogo Ragnarok online. “Gostei de me fantasiar de Erza, de Fairy Tail, por sua imponência estética. Também gostei de Nami, de One Piece, e Madoka de Mahou Shoujo Madoka Magica, por serem um dos meus animes favoritos”. E completa: “Cosplay é você se sentir, por um dia, parte do universo fantástico. Um cosplayer eficiente deve, acima de tudo, ser feliz com o que faz”. Fabrícia também é sócia proprietária da Loja Sunny, um “ sonho de fã”, que vende artigos nerd e otakus (Galeria Secreta, São Mateus 262).

Foto: Acervo Pessoal

Alguns fãs de histórias em quadrinhos consideram que o mangá e animê tem uma estética própria identificável, mas seus personagens têm aspecto de ocidentais, tanto ao ponto que apenas alguns, como o mais conhecido longa-metragem Jin – Roh, um seinen, mostra personagens com “olhos puxados”. Mas eles estão entre uma minoria. Independente da estética, o simples fato de muitas histórias se passarem no Japão e retratarem costumes, assim como o empenho de fãs em aprender japonês para traduzirem conteúdos demonstra uma divulgação da cultura japonesa.

Fabrícia Domingues como Madoka, de Mahou Sojo Madoka Magica, em Juiz de Fora

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A multiplicidade dos eventos

HNT eventos e também começou a se interessar por animês com Cavaleiros do Zodíaco, além de Yu Yu Yakusho. Ele trabalha com cultura pop desde 2005. “Em média, fazemos três grandes eventos por semestre, e alguns menores. Como trabalhamos basicamente fora de Belo Horizonte, nossos eventos são Anime Pop, em Juiz de Fora, Anime Norte, em Montes Claros e Uai Drops, em Ipatinga. Em BH temos o Fórum de Quadrinhos de BH. Também temos caravanas para eventos externos, em São Paulo. Hoje temos público para todas as vertentes do universo geek e nerd.”

Fotos: Aline Negromonte

Em Juiz de Fora, a produtora de eventos Priscila Montini, 37, da Tsuru eventos, foi apresentada ao animê em 1995, com Cavaleiros do Zodiáco, e desde então virou fã de animês e mangás. Desde 2014, está à frente do Anime Taikai, que reune fãs de Juiz de Fora. “Ano passado, tivemos o Nichi Festival voltado para cultura japonesa no CCBM. Logo após, a Exposição de Quadrinistas, Mangakás, Ilustradores e Fanfic do Brasil, onde recolhemos obras do Brasil inteiro e expomos no CCBM. Nosso principal evento, porém, é

o Anime Taikai, que reúne mais de 60 atividades contando com salas temáticas e oficinas.” A produtora completa que houve uma mudança também nos temas, que não são exclusivamente nipônicos: “Hoje, as feiras são chamadas de multitemáticas pois reúnem temas de todas as esferas: nerd, otaku, geek e até abrangendo artes e literatura. Então, está bem bacana. Minha satisfação é poder trazer por poucos dias uma Neverland, onde você pode ser o que quiser”. Já o promoter de eventos Mário Guedes de Almeida, belorizontino de 31 anos, é da

Vencedores do Concurso Cosplay do Geek POP em 10 de junho de 2017, em Juiz de Fora. Da esquerda para a direita: 1º lugar: Sasuke Uchiha, do Naruto, 2º lugar: Naruto Uzumaki, 3º lugar: Shoutmon, do Digimon.

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Fotos: Aline Negromonte

Acima, à esquerda: Concurso Cosplay do Geek POP. À direita: Ichigo Kurosaki, e Rukia, do Bleach. Abaixo: Sasuke, do Naruto, visual típico de bandas k-pop, e Natsu, do Fairy Tail.

Estes eventos são voltados para otakus e apreciadores não tão fanáticos, como é o caso de Jefferson Calixto, paulista de 25 anos, técnico em tecnologia da informação. “Os mangás me atraem porque eles são muitos desprendidos de explicação, quando se lê, já se subentende que você já conhece um pouco da cultura japonesa. As histórias que curto são assim, como As Guerreiras Mágicas de Rayaerth e Death Note, que adoro. A história deste é muito complexa e pesada.” Ele gosta de ir a estes eventos, para obter novos conhecimentos, além de “ver gente de cosplay de personagens eu não conhecia antes, conhecer gente nova e me divertir com amigos, criar ciclos de leitura de mangás e trocar experiências”. Eventos maiores, além de reunirem inúmeros fãs de mangás, animês e videogames, e promoverem o desfile de cosplayers,

também difundem os lançamentos de editoras e produtoras de filmes, e têm mostras de cultura japonesa tradicional, como demonstração de lutas de samurais. É também por isso que há quem considere que o mangá e o animê são uma ponte para a curiosidade sobre a cultura japonesa como um todo. Sobre os eventos e a prática cosplayer, é notável, também, um interesse mercadológico envolvido (nenhum dos citados é gratuito, e há merchandising das editoras). Embora não seja esta a intenção porque a cultura cosplay valoriza o faça vocêmesmo, muitos cosplayers compram apetrechos para seus trajes, ainda que sejam apenas alguns acessórios. É por isso que alguns fãs criaram o irônico “cospobre”, uma prática cosplayer bem humorada, em que os cosplays são feitos com materiais do cotidiano. Há quem

encare isto como um ato político, ir a um destes grandes eventos de “cospobre” e não participar do desfile oficial, propositalmente. Outros o fazem apenas por diversão. E é justamente a diversão que une todos. Além dos mangás, animês e videogames, muitos são fãs de música pop e rock japonês, o J-pop e J-rock. O Anime Friends, todo ano, traz músicos de renome e populares no Japão (The Gazette, YUI) para o deleite dos fãs brasileiros, em que muitos decoram ou aprendem a letra com a ajuda dos fansubers da Internet. Para quem é fã, se trata de um espetáculo emocionante. Gostando ou não, a cultura pop japonesa está cada vez mais presente no mundo e no Brasil. A Terra do Sol nascente continua, e continuará, influenciando nossas terras tupiniquins. Sayonara!

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Da Zona da Mata ao outro lado do mundo

Foto: Acervo pessoal

Você já desejou trabalhar com algo que aprecia, desde muito jovem? Pois é exatamente isso que o artista Tulio Almeida da Silva, 31 anos, natural de Matias Barbosa, conseguiu realizar. Tulio Minaki como é conhecido, hoje trabalha numa das maiores empresa de games do Japão, a Square Enix, responsável pela franquia Final Fantasy. Sua função, como “3D Character Artist” é pegar os desenhos que os artistas fazem e construílos em 3D pra que possam ser colocados dentro dos jogos. Super fã do game, é dele a ilustração que abre essa reportagem, uma releitura da personagem Edea Kramer de Final Fantasy. Formado no Bacharelado em Artes na UFJF em 2011, ele mora há quatro anos em Chiba, província ao lado de Tóquio e de lá contou um pouco de sua trajetória.

Há quanto tempo você gosta de mangás e animês? Quais são os seus favoritos atualmente, e por quê? Gosto de animês desde que eles começaram a passar na extinta TV Manchete. Comecei assistindo Cavaleiros do Zodíaco e Dragon ball! Comecei a gostar de mangás logo depois, quando eles começaram a ser lançados no Brasil. Atualmente, o trabalho tem ocupado bastante tempo, então não tenho acompanhado muito a cena. Dos animês que eu vi até hoje, gosto muito do clássico Cavaleiros do Zodíaco e de um animê chamado Nichijou! Recomendo muito. Dos mangás que eu li até hoje, Vagabond, de Kazuo Koike e Goseji Kojima, é um dos melhores na minha opinião.

morando por lá e que às vezes voltavam a passeio e contavam como era o país. Mas meu primeiro contato de verdade veio aos 22 anos, quando fui contemplado com uma bolsa de estudos por um convênio entre a UFJF e a Universidade de Kanda no Japão. A bolsa tinha como objetivo o estudo da língua e da cultura japonesa e, como sempre tive curiosidade, caiu perfeitamente pra mim. O idioma, de início, é bem complicado, porque não se parece com nada que a gente conhece. Mas com o tempo vai ficando mais tranquilo de aprender. A única coisa que ainda acho bem difícil é a leitura... são muitos ideogramas que você tem que aprender e nem mesmo os japoneses sabem todos.

Mangás, animês e games influenciaram nas suas ilustrações, na sua arte? Até que ponto? Quais são suas maiores influências e que autores admira?

Quando decidiu trabalhar com games? Sempre foi seu foco? Como foi o processo de ser aceito no mercado de trabalho nipônico?

Foi o que mais me influenciou, com certeza. Sempre gostei dos traços bem expressivos dos animês e jogos japoneses. Comprava revistas que falavam sobre o assunto e lembro que sempre tentava copiar algum desenho (que na maioria das vezes, era Dragon Ball (risos). Com relação aos autores, gosto muito de dois artistas que já desenharam para Final Fantasy, (minha série de jogos favorita), Akihiko Yoshida e Tetsuya Nomura.

Eu decidi que queria trabalhar com jogos quando eu joguei Final Fantasy VIII, pra PlayStation 1. O jogo era tão bonito (na época) que me impactou de tal maneira a querer trabalhar com jogos no Japão. O processo pra ser aceito na empresa onde eu trabalho hoje foi como normalmente acontece nas empresas do Japão mesmo. Envio de currículo e portfólio e pelo menos três entrevistas. O fato de eu saber japonês pra entrar na empresa contou muito também.

Quando e como foi seu primeiro contato com o Japão? O que achou, à primeira vista, do idioma, dos ideogramas e dos costumes japoneses?

Você que se formou no IAD/UFJF, fez algum outro curso? Onde estudou japonês?

Na verdade meu primeiro contato com o Japão veio desde muito pequeno. Sempre tive tias 72

Não fiz nenhum curso depois do IAD. Meus estudos de japonês começaram em casa, quando eu ganhei um dicionário de uma tia muito querida.


A vida no Japão é muito boa! Mas como tudo na vida tem suas coisas boas e ruins. O que eu mais gosto aqui é a segurança e a praticidade que o país me oferece. Não tenho medo de andar à noite por praticamente nenhum lugar e isso é impagável na minha opinião. Em relação a praticidade, como moro bem próximo a Tóquio, não preciso ter carro, posso depender completamente do transporte público daqui (que no caso são os trens). Gosto muito desse lado prático do Japão. Em contrapartida, a vida pessoal aqui é um tanto quanto solitária. O que eu percebo é que o Japão funciona muito bem como uma sociedade...todos se respeitam e respeitam o que é público também. Mas com relação aos amigos e família, os japoneses têm uma visão diferente da que nós temos. Às vezes dá a impressão que os japoneses não se importam muito com as pessoas que são mais próximas a

Uma coisa que achei curiosa desde que cheguei no Japão é que os japoneses são muito mais viciados em animes do que eu imaginava! Mas eles são MUITO mesmo. Você percebe que algumas pessoas realmente queriam namorar ou ter aquele personagem do animê ao seu lado sempre, sabe. É uma coisa que está em outro nível... E por conta disso, a quantidade de animês que o Japão produz é absurda. Eu não fazia ideia antes de chegar aqui, achava que só tinha aqueles mais famosões mesmo....tipo DBZ e Cavaleiros do Zodíaco. Hoje eu vejo o tamanho absurdo que esse mercado alcança aqui no Japão....e é de se respeitar! Há alguma história peculiar que tenha acontecido com você no Japão que gostaria de compartilhar? Uma coisa que sempre acontece comigo aqui, que acho engraçado, é que, por eu não ser japonês, muitas vezes os japoneses não esperam que eu fale a língua deles. (Eles sabem que é um idioma difícil, mesmo). Então, toda vez que eu vou perguntar alguma informação em uma estaçao de trem, por exemplo, eles sempre tentam me responder em inglês (mesmo eu tendo perguntado tudo o que eu queria em japonês!) Essa é uma situação que eu ainda dou risada e acho engraçado, e que acho que vai continuar a acontecer por muito tempo.

Foto: Acervo pessoal

Sobre animes, mangás e games japoneses, gostaria de acrescentar alguma coisa?

Na exposição “Complete Works of Saint Seiya, em Tóquio, junho de 2006 Foto: Tulio Minaki / Divulgação

Pode contar um pouco da sua vida no Japão? O que mais contrasta com a sociedade e cultura brasileiras, na sua opinião?

eles...mas na verdade é um jeito diferente de gostar mesmo, eu acho. É bem complicado entender como funcionam as relações aqui.

Snow Queen Halia, arte original Foto: Tulio Minaki / Divulgação

Posteriormente, pra reforçar os estudos, fiz um curso de um ano com o professor Marcelo Borges Vieira, aí de Juiz de Fora mesmo, pra ter uma base mais reforçada. Mas como o japonês é uma língua bem complicada, eu só consegui falar e desenvolver o idioma depois de ter vindo estudar aqui no país, em 2008. Frequentei durante um ano e meio a Kanda University of International Studies, na qual tínhamos somente aula de japonês de quatro a cinco dias por semana. Foi uma experiência maravilhosa e que com certeza me ajudou muito a conseguir alcançar meus objetivos.

Versão de Túlio para o personagem Zell Dincht, de Final Fantasy VIII.

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Do sonho à (nem sempre) conquista por Gustavo Pereira Jogadores de voleibol que atuam ou atuaram em Juiz de Fora contam as dificuldades encontradas no caminho até a profissionalização. Especialistas orientam sobre como lidar com as frustrações.

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Vencer por meio do esporte é o sonho de muitos jovens, mas poucos sabem as dificuldades e barreiras enfrentadas até a conquista do espaço em grandes equipes esportivas, seja no país ou no exterior. Em Juiz de Fora, há atletas que, depois de um longo período de esforço, têm conseguido se destacar. Este é o caso de Wagner Pereira da

Silva, 23 anos. Natural de Mar de Espanha, o jovem mudouse para Juiz de Fora e conseguiu apoio na equipe de voleibol do Granbery. Hoje, seis anos depois, o atleta comemora a contratação pela equipe Santa Croce, da Itália. Wagner também tem passagem pelas seleções brasileiras de base do vôlei e fala sobre como se deu esta conquista. A Revista

Periscópio foi buscar estas histórias de superação no esporte e mostra que, pelo caminho, alguns acabam tendo que mudar seus sonhos. Saiba também o que dizem os especialistas sobre a pressão vivida por estes jovens, que, muitas vezes, veem no esporte a maneira de “vencerem na vida” e se tornarem profissionais reconhecidos.

Do anonimato à glória Exemplos de superação e volta por cima não faltam. Notórios atletas, como Cafu, capitão do pentacampeonato da Copa do Mundo pelo Brasil em 2002, que foi rejeitado em nove testes até ser aprovado nas categorias de base do São Paulo, ou de Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho, que saíram ainda jovens de favelas para desfilarem seus talentos nos principais gramados do mundo. Um exemplo atual de alguém que conseguiu conquistar seu espaço no voleibol é o de Wagner Pereira da Silva. Nascido em Mar de Espanha, Wagner está agora com 23 anos de idade. Entretanto, ele contou que foi muito difícil se tornar profissional. “Eu venho de uma cidade pequena, de uma realidade onde tive muita dificuldade para treinar, pois precisava trabalhar e ajudar em casa. Só que, graças a Deus e à minha mãe, pude vir para Juiz de Fora, e aqui comecei a minha carreira ainda como atleta amador, mas o Didi, meu treinador, sempre me disse que eu iria vingar.” Em Juiz de Fora, Wagner iniciouse no esporte pela equipe do Granbery ainda jovem, e treinado por Marcus Vinícius, conquistou vários títulos tanto em âmbito regional, como também mineiro. Além disso, foi em Juiz de Fora que Wagner teve sua primeira sua primeira convocação para a seleção

mineira e brasileira de base.¬ Wagner soma passagens por SesiSP, Santo André, Montes Claros e Bento, equipe pela qual disputou a última temporada da Superliga e foi o maior pontuador do time na competição. O atleta contou um pouco do que o motivou a continuar batalhando por se tornar profissional: “Objetivo, força de vontade. Sempre corri atrás do que eu queria. Sempre assistia à final da Superliga, daí fui me dedicando para chegar aonde cheguei.” O agora jogador do Santa Croce, na Itália, ressaltou as dificuldades de ser tornar um atleta profissional: “Me lembro de ter jogado com muita gente, muitos atletas com potencial, mas que ficaram pelo caminho, seja porque precisaram começar a se sustentar e o dinheiro que recebiam no clube não era Wagner recebendo o troféu Viva Vôlei

passo a passo para se tornar um atleta

Orientação familiar: importante na condução e incentivo da criança/adolescente, principalmente no acompanhamento da sua carreira; Alimentação: Dieta balanceada (equilíbrio entre carboidrato e proteina), evitar frituras e gorduras; Treinos: Importante para o aprendizado e aprimoramento das técnicas; Persistência e foco: essencial não desistir do objetivo.

dúvidas

frequentes Idade: início aos 8 ou 9 anos (salvo raras exceções) até 15 ou 16 anos; Altura: Vôlei e basquete exigem uma maior estatura, embora seja possível chegar ao alto nível sendo “baixo” com uma boa técnica; Escola x Esporte: O melhor é determinar um tempo para cada um e equilibrar os dois; Categoria de base: por mais que haja dom para o esporte, é necessário passagem pela base

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suficiente, ou porque foram dispensados de suas equipes e, devido a não terem outras propostas, foram obrigados a parar.” Após ter se tornado jogador de vôlei, Wagner lembrou que ainda passou por muitas barreiras: “Eu estava vindo de um momento muito bom, tinha voltado da seleção sub-23 muito confiante no meu trabalho, tanto que viajei com a seleção pro mundial e fui campeão da Copa Pan nos USA. Quando voltei ao Montes Claros, não estava conseguindo exercer o mesmo voleibol, era cobrado constantemente, tentei seguir uma linha de raciocínio que não era a minha, tentei ser um jogador que eu não sou, comecei a jogar sem meu sorriso no rosto sem poder de certa forma me divertir dentro da quadra. No meio disso tudo, tive que fazer uma cirurgia inesperada na bexiga que me fez sair do vôlei, e isso me fez perder tudo, tudo o que você pode imaginar. O brilho nos meus olhos foi embora, minha vida profissional não era mais a mesma, nem a pessoal. Quando saí de lá, senti um peso saindo das costas” Questionado sobre seu ídolo e uma frase marcante em sua vida, Wagner não titubeou, “Sempre fui fã do André Nascimento (cuja família reside em Juiz de Fora) pelo vôlei que ele jogava e por

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ser canhoto, tive a oportunidade de conhecê-lo ele e de trabalhar ao lado dele no Montes Claros, fiquei mais fã ainda. Uma frase que sempre vai me marcar, porque eu ouvia muito isso dos meus técnicos é: Você tem que matar um leão por dia, infelizmente o esporte é assim.” Após passagem de sucesso pelo Bento Vôlei, Wagner foi contratado pelo Santa Croce, da Itália, e, apesar de já ter viajado para o exterior para defender a seleção brasileira de base, confessou estar ansioso por sua primeira temporada fora do Brasil: “Essa temporada vai ser muito importante para mim, vai consolidar ainda mais tudo o que eu venho fazendo. Estou muito motivado para essa nova jornada, sei que não vai ser nada fácil, mas estou determinado. Tenho meus objetivos pessoais e ainda sonho em ir para a seleção principal.” Outro que vem conseguindo se manter no mercado do vôlei é o oposto Felipe Moreira Roque, de apenas 19 anos, que disputou sua última temporada pelo Minas Tênis Clube. O juiz-forano contou que, até os 16 anos, jogava vôlei apenas como esporte, mas que seu crescimento inesperado, alcançando 2,06 metros de altura, fez seu treinador ver nele um potencial atleta profissional. “Em meu primeiro campeonato

mineiro, eu percebi que todos me olhavam diferente, e que minha altura me proporcionou coisas boas, já que, após a competição, eu fui chamado para jogar pelo Minas Tênis Clube, um dos mais tradições clubes do Brasil.” Na temporada 2016/2017, o Minas passou por dificuldades financeiras, e, com isso, resolveu apostar em atletas mais jovens e que recebem menos do que medalhões. Devido a isso, o jovem Felipe foi promovido a segundo oposto da equipe. Entretanto, com lesões no plantel, recebeu a chance de ser titular logo em sua primeira Superliga, e, desde então, firmouse na equipe principal. “Essa é a minha primeira Superliga, é uma experiência completamente nova, pois nunca tinha jogado um campeonato desse nível. Ainda tenho que melhorar em muitos aspectos, eu penso em evoluir a cada dia para ser um jogador completo. Assim podendo me estabilizar no mercado do vôlei.” Entretanto, Felipe ressaltou as dificuldades da vida de um atleta: “Nós precisamos abdicar de muitas coisas, sair com os amigos, ter uma rotina certa, ficar com a família. O jogador vive viajando, e, quando não faz isso, está treinando ou descansando para o próximo jogo, e essa rotina é muito desgastante.”


Lado B do esporte Mas nem todos conseguem se sustentar apenas no esporte, e, mesmo que essa seja uma paixão, o sonho, muitas vezes, acaba sendo frustrado, ou é necessário ser mudado. Caso de Vinícius Ribeiro, 24 anos, apaixonado por vôlei desde a infância, o atleta amador contou que ser jogador profissional sempre foi um objetivo distante, e que, apesar de não ter conseguido essa meta, esforça-se para não abandonar sua paixão. Formado em administração, em 2015, Vinícius formou uma equipe de voleibol amador, juntamente com amigos. “A equipe foi formada por ex-atletas da UFJF e do Clube Bom Pastor, além de novos talentos.” Vinícius contou que a criação do time foi muito positiva, pois assim é possível disputar vários campeonatos em Juiz de Fora e região, além de ser uma oportunidade de se aproximar de um atleta profissional. Laerte Stroppa, 22, é um dos atletas da equipe e, na temporada 2015/2016, chegou a ser inscrito na

Univôlei recebe premiação de um dos campeonatos que venceu em 2016.

Superliga pelo JF Vôlei. O estudante de direito e jogador nos tempos vagos falou da importância do vôlei amador, que permitiu a ele essa oportunidade. “Desde novo eu treinava vôlei e pensei até em me profissionalizar, mas só em 2015 voltei a disputar campeonatos e aí surgiu a oportunidade de jogar a Superliga, que é o principal objetivo de quem quer ser atleta, e o Univôlei me ajudou a chegar lá”, destacou Laerte. Marcus Vinícius, mais conhecido como Didi, é outro que sempre foi apaixonado pelo esporte e, quando jovem, sonhava em se profissionalizar. Entretanto não conseguiu essa realização e, após concluir a faculdade de educação

física, viu na carreira de treinador uma oportunidade de não se desligar do vôlei. “Eu sempre quis ser jogador de vôlei, só que era muito baixo (1,63 m), e, com isso, nunca consegui realizar esse projeto na minha vida. Desta forma, tornar-me técnico de voleibol veio como uma possibilidade de continuar vivenciando o esporte, que carrego em meu DNA.” Didi ressalta que viver do esporte é muito difícil: “Sempre trabalhei com o vôlei de base, e, assim, vejo que muitos atletas têm dificuldades em se tornar profissionais e acabam ficando no meio do caminho. Além disso, nós sofremos com viagens, distância da família e baixos salários, o que desestimula muitos atletas.”

Opinião do especialista Larissa Resende, que é psicopedagoga, ressaltou a importância de o jovem ter em mente que esporte e estudos devem andar juntos, principalmente para não ocorrer uma frustração tão grande caso o adolescente não consiga se profissionalizar: “Tanto na escola como no esporte, o que vai sustentar de forma positiva será a auto-organização, planejamento e execução. Sem eles, fica insustentável obter resultados positivos. Ambos geram conhecimento, disciplina, sociabilidade, relação intrapessoal e interpessoal, resiliência, dentre inúmeros processos que o inserem e corroboram com seu desenvolvimento pleno nos dois ciclos.”

Questionada sobre como deve ser o tratamento com a criança/ adolescente que tem como objetivo se profissionalizar no esporte, Larissa enfatizou: “Reforço a tese que tudo pode tomar um caminho diferente, a partir do discurso que é adotado dentro do seio familiar, no momento em que os pais demonstram que estão juntos para apoiá-los em seus sonhos, mas, que, para a realização deste sonho, há um grande caminho a ser traçado e percorrido.” A psicopedagoga destacou ainda que o esporte não pode ser o único foco do jovem: “Caso se tornar profissional seja a única meta do adolescente, existe uma grande chance de ele se frustrar, já que

muitos acreditam que se dedicando unicamente ao esporte podem alçar um lugar de destaque ou que estariam com seus futuros garantidos para o resto de suas vidas, e, quando a realidade não mostra isso, fica complicado reciclar esse sonho.” “Faz-se necessário planejar com eficácia em prol de um grande objetivo de vida, seja ele de que âmbito for, mas, como tudo em nossas vidas, precisamos ser cautelosos em não alimentar e cativar esses sonhos, porque hoje estamos limitados pelo modismo exacerbado de um “auto veículo” condutor, perturbador e regulador que é a mídia, que cria em muitos jovens um sentimento de que o esporte pode torná-lo famoso e rico.” 77


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