ANO 1 | N°3 | OUTUBRO 2016
OS 20 ANOS DOS MÉDICOS DO BARULHO
O projeto já visitou mais de 600 mil pessoas nesses anos. Você confere o trabalho na construção de cada personagem e a emoção dos pacientes que recebem as visitas.
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA X PARTO HUMANIZADO
Mães e profissionais de saúde falam sobre as suas experiências e alertam sobre o impacto de intervenções na saúde da mãe e do bebê. 1
a s s No e p i u Eq
Amanda Cadinelli
Amanda Cordeiro padilha
franco ribeiro
gabriella weiss
laura sanábio
ludmila azevedo
Caio Gonzaga
Cynthya marangon
Matheus Andrade
larissa alves
luiza dias
maria fernanda pernisa
EXPEDIENTE
cial Prof. Dr. Jorge Carlos Felz Ferreira
Revista Laboratório da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Juiz de Fora, produzido pelos alunos de Técnica de Produção em Jornalismo Impresso.
Vice-Diretora Profª. Dra. Marise Pimentel Mendes
Reitor Prof. Dr. Marcus David Vice-Reitora Profª. Dra. Girlene Alves da Silva Diretor da Faculdade de Comunicação So-
Coordenadora do Curso de Jornalismo Integral Profª. Dra. Claúdia de Albuquerque Thomé Chefe do Departamento de Metódos Aplicados e Técnicas Laboratoriais Profª.Dra. Maria Cristina Brandão de Faria
Davi carlos
Laura conceição
matheus soares
Professores Orientadores: Prof. Dr. Marco Antônio Bonetti Profª. Me. Marise Baesso Tristão Projeto Gráfico Caio Gonzaga e Luiza Dias
Editorial
VAMOS À REPORTAGEM!
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ma revista produzida por alunos, que buscam resgatar o jornalismo mais aprofundado e tecido com histórias e personagens. Assim, chegamos a mais uma edição da Periscópio, publicação dos estudantes da disciplina Técnica de Produção em Jornalismo Impresso da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O propósito desta revista, criada em 2016 na Facom, é resgatar o jornalismo feito com maior detalhamento, o que exige uma apuração com idas e vindas às ruas, com entrevistas exclusivas e realizadas pessoalmente, com dados e com maior período de tempo. O propósito é ainda resgatar o olhar de cada futuro jornalista, levando-o a descobertas e ao prazer da escrita. Um olhar que começa a ser despertado para o outro, para a cidade e que ainda precisa ser treinado para cumprir a função social do jornalismo, para denunciar, para informar, para formar, para entreter. Para estes futuros jornalistas, as reportagens que aqui estão foram um primeiro desafio. Como encadear tudo o que disseram as fontes, como colocar no papel, ou melhor na tela do computador, tudo o que viram, tudo o que sentiram? Alguns se emocionaram. Foram vários “nãos” recebidos, dificuldades para encontrar números, corrida contra o relógio, afinal são jovens e fazem dezenas de coisas ao mesmo tempo. Mas o resultado valeu a pena. A edição traz matérias que tratam de forma mais aprofundada
ou com leveza diferentes temas. Os assuntos vão desde as novidades do mundo PET, com produtos como a cerveja para cachorro, passando pelo belo trabalho solidário de uma trupe de palhaços que comemora 20 anos de ações nos hospitais e de um grupo de voluntários que refaz os arranjos de flores de casamentos e outras festas para levar alegria aos idosos, até chegar à denúncia sobre a violência obstétrica e a dor de mães que viram os filhos mortos pela violência em Juiz de Fora. Também passamos pela educação, trazendo o posicionamento de educadores sobre a polêmica proposta do Governo Federal em relação às mudanças no ensino médio. Na saúde, levantamentos o quadro do risco da obesidade infantil e chegamos na política, na qual trazemos uma análise do quadro da inovação no Brasil feita pelo professor Ignacio Delgado e pelo ativismo nas redes sociais. Na economia, destacamos o crescimento do marketing digital nas empresas locais. A edição trata ainda de temas como a ocupação das ruas, praças e muros pelas artes urbanas e a chegada de grandes espetáculos internacionais de teatro ao país. Claro! O esporte também tem espaço, com o Centenário do Sport Club, e com o sonho dos jogadores brasileiros de irem para a Europa. Convidamos você, leitor, a fazer um passeio pela Periscópio, rendendo-se às narrativas, com a certeza de que o jornalismo é transformador e tem fôlego para caminhar ainda por muito tempo. Então, mergulhe com a gente! 3
05. Desafios do Brasil no cenário mundial Médicos do Barulho
Uma comparação entre a estrutura brasileira e de outros países em desenvolvimento 11. Ativismo além do sofá A transformação do ativismo através da internet 16. Alimentação balanceada desde a infância Excesso de alimentos calóricos e falta de atividade física
FOTO: LAURA SANÁBIO
aumenta obesidade entre crianças e adolescentes 22. Empoderamento materno A importância da informação sobre a violência obstétrica 26. Dor irreparável O trauma das mães que perderam seus filhos para a violência 30. Ninguém tira o trono do estudar Violência Obstétrica
Alunos e educadores de Juiz de Fora repudiam reformas na eduacação anunciadas por Temer 62. De quem é esse espaço? Movimentos artísticos tomam as ruas e tornam-se parte do dia a dia da sociedade que retratam 38. Os 20 anos dos Médicos do Barulho As visitas dos Médicos do Barulho alegram pacientes em hospitais da cidade 45. Projeto Florir
FOTO: PIXABAY
De uma conversa de corredor, seis amigas decidem trazer projeto social voltado para idosos, para Juiz de Fora 49. Marketing Digital: a revolução do consumo O Marketing Digital se tornou a estratégia mais acessível e assertiva na conquista de novos clientes 55. Empreendedorismo a quatro patas Teatro em Juiz de Fora
Negócios voltados para bichos de estimação emergem na cidade 58. O sonho que atravessa o oceano Êxodo de jogadores brasileiros tem reflexos diretos na Seleção 63. Periquito centenário
FOTO: DIVULGAÇÃO/T4F
Sport completa 100 anos com o desafio de conseguir auto de vistoria do Corpo de Bombeiros 70. Evoé: a visibilidade do teatro juizforano Teatro tradicional tem público fiel na cidade, enquanto produções independentes batalham por apoio
Desafios do Brasil no cenário mundial Matheus Andrade
Diretor de Centro de Inovação e especialista em economias comparadas, professor Ignacio Delgado compara estrutura brasileira e de outros países em desenvolvimento e explica importância da pesquisa inovadora em universidades.
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Política
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tualmente diretor do Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o professor Ignacio Delgado recebeu a reportagem para dois dias de entrevista em sua sala na sede da instituição. Delgado frequentou a London School of Economics and Political Science entre 2011 e 2012, um dos mais renomados centros no mundo quanto a economias comparadas, e nesta conversa falou sobre a posição do Brasil no mundo, as dificuldades que o país enfrenta, e como os centros de ensino podem auxiliar no desenvolvimento nacional, tudo perpassando por um tema: inovação. O professor acredita que parte das dificuldades que o Brasil enfrenta hoje se deve ao fato
Periscópio: Diferentemente de outros países em desenvolvimento, o Brasil não teve uma ruptura tão grande em seu modelo. Faltou isso para incentivar o país?
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de o país ter constituído desde cedo uma economia voltada ao setor externo, por exemplo, com uma fração considerável do capital produzido no país ter vinculação com multinacionais. Enquanto o país criou uma política voltada à exportação desde o fim da Segunda Guerra Mundial, nações de nível semelhante, em especial Índia e China, desenvolveram sistemas econômicos nacionais importantes, como nas áreas nucleares e siderúrgicas. O professor vê com bons olhos movimentos inovadores como os das start-ups, mas acredita que os problemas enraizados no país para este tipo de projeção também afetam este nicho no Brasil. No Critt, Delgado auxilia iniciativas deste tipo na UFJF e na região, assim como outros nichos de ativida-
des como o Movimento de Empresas Juniores que foi recentemente incorporado ao centro. O professor apresentou também um espaço em construção no Critt dedicado ao coworking, no qual estudantes, professores e pesquisadores terão acesso para compartilhamento de conhecimento no sentido de produzir inovação, e que é dotado de boa parte dos equipamentos necessários à pesquisa. Para Delgado, o espaço se faz extremamente necessário em uma conjuntura atual de conhecimento bastante diversificado. A previsão é que a obra termine em março de 2017. Ignacio Delgado também é formado em História pela UFJF, mestre em Ciências Políticas e doutor em Sociologia e Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Confira a entrevista:
Ignácio: Empresas brasileiras normalmente tinham colaborações com alguma internacional, mas não aprendiam, não faziam como os asiáticos.
Política
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Empresas brasileiras normalmente tinham colaborações com alguma internacional, mas não aprendiam, não faziam como os asiáticos. Ignácio Delgado Diretor do Critt
Periscópio: Diferentemente de outros países em desenvolvimento, como Índia e China, que sofreram importantes mudanças no século XX, além da Rússia, que mudou seu sistema econômico, e da África do Sul, que teve o fim do Apartheid, o Brasil não teve uma ruptura tão grande em seu modelo. Faltou isso para incentivar o país? Ignácio: O Brasil tem uma trajetória em que fez uma opção na década de 50 para acelerar o seu processo de industrialização a partir da incorporação muito intensa de capital externo. Isso fez com que nós, em contraste com outros países em desenvolvimento, alcançássemos com muita rapidez os indicadores de uma sociedade urbanizada e industrializada. Mas com um custo, porque, com um espaço econômico doméstico muito internacionalizado, nós não nos preparamos para sermos uma economia inovadora. Os bolsões de inovação tecnológica na economia brasileira ficaram basicamente restritos às empresas estatais e agências do setor público, porque as multinacionais, pela hierarquia de comando, na qual elas estão submetidas, preferem concentrar as atividades inovadoras nas suas sedes. O que passa é que as empresas brasileiras, em um ambiente que já é muito internacionalizado, e em um quadro internacional em que o mercado de tecnologia era relativamente de fácil acesso, adotaram aquilo que o cientista político Eduardo Viotti chamou de “modelo de aprendizado passivo”. Empresas brasileiras normalmente tinham colaborações com alguma internacional, mas não aprendiam, não faziam como os asiáticos, que eventualmente
imitavam uma tecnologia externa, mas faziam o processo de engenharia reversa, ou seja, tentando entender como aquilo funcionava, para depois desenvolver e até avançar.desde cedo, se constituísse uma indústria automotiva para o mercado interno, o que não seria possível na Coreia, já que a renda não era tão concentrada e a população era menor. A estrutura tributária brasileira também é muito perversa. Não é o problema da carga, que é normal para um país industrializado. É menos de 40% do PIB, enquanto, nos Estados Unidos e nos países escandinavos, ela é maior do que 50% do PIB. O problema da estrutura brasileira é que ela também estimula a concentração de renda. A maior taxa do nosso imposto de renda é de 27%, e, nos países escandinavos, esta chega a 60%. Então, quando a tributação não incide sobre a renda e a propriedade, mas sobre a produção, o consumo, ou a circulação, ela acaba fazendo via preço com que a renda também se concentre. Periscópio: E o melhor exemplo deste aspecto de desenvolvimento na Ásia seria a Coreia do Sul? Ignácio: A Coreia do Sul é um país que conseguiu fazer esse giro. Muito se fala que a Coreia é o que é por conta do investimento em educação, o que é importante. Mas o Brasil, em que se pese, fez um esforço monumental para integrar sua população no sistema educacional. Nos anos 80, e com a Constituição de 1988, nós praticamente colocamos todos dentro da escola. E nós temos 7
Política
um ensino superior, um sistema de ciência e tecnologia, que ponteia no mundo. Então não é por isso que a gente não inova. Não somos uma economia inovadora em função de outros elementos. Além do esforço educacional, que não se pode dizer que o Brasil não fez, a Coreia tem três outras coisas que distinguem das escolhas brasileiras: primeiro que ela tinha um sistema tributário de taxar fortemente o chamado consumo supérfluo, e isso foi muito importante para orientar a economia coreana para a exportação; segundo, ela fez uma reforma agrária, o que significa dizer que ela evitou essa estrutura de renda concentrada como no Brasil; em terceiro lugar, ela deu ênfase a partir da empresa nacional. Enquanto isso, no Brasil, mesmo com a concentração de renda, por ser um país muito grande, nos anos 60, você tinha um mercado para produtos sofisticados muito dinâmico, o que permitiu que, desde cedo, se constituísse uma indústria automotiva para o mercado interno, o que não seria possível na Coreia, já que a renda não era tão concentrada e a população era menor. A estrutura tributária brasileira também é muito perversa. Não é o problema da carga, que é normal para um país industrializado. É menos de 40% do PIB, enquanto, nos Estados Unidos e nos países escandinavos, ela é maior do que 50% do PIB. O problema da estrutura brasileira é que ela também estimula a concentração de renda. A maior taxa do nosso imposto de renda é de 27%, e, nos países escandinavos, esta chega a 60%. Então,
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quando a tributação não incide sobre a renda e a propriedade, mas sobre a produção, o consumo, ou a circulação, ela acaba fazendo via preço com que a renda também se concentre. Periscópio: Nos Estados Unidos, a carga é bem voltada para a propriedade, em especial com a herança... Ignácio: Sim, e quando se taxa é o consumo, não se taxa a produção. Por exemplo, aqui no Brasil, um imposto como o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) aumenta o preço do produto. Já se você tivesse um VAF (Imposto sobre Valor Agregado), ele é cobrado na ponta, e o comerciante pode decidir se desconta ou não no preço que será exercido. Ou seja, ele não encarece a produção como aqui no Brasil. Algo precisaria ser feito, mas como é uma situação em que muitos vetam, como governadores que temem perder a arrecadação caso mude a estrutura tributária, já que pode haver migração para outro estado, há uma paralisação em que você não consegue fazer uma mudança. Assim a produção fica pouco competitiva, o que se soma em uma economia mais aberta, à dificuldade das empresas de inovar, e assim chegamos ao impasse que estamos hoje. Periscópio: Dentro do cenário da inovação, como o senhor avalia o movimento das start-ups? Ignácio: O movimento de start-up nasceu principalmente nos Estados Unidos e vem se expandindo para outros países e, fundamentalmente, tem a ver
Confira um resumo dos quatro principais debates entre os candidatos à Prefeitura de Juiz de Fora: Instituto Vianna Júnior O primeiro da série contou com um marco histórico, o primeiro debate entre os candidatos a vice prefeito de Juiz de Fora. Cinco dos sete postulantes ao segundo cargo na sucessão da cidade estiveram presentes, e expuseram suas visões e propostas antes do principal evento da noite, a reunião que contou com seis dos sete que possuíam chances de assumir a Prefeitura. O primeiro debate foi marcado pelo antagonismo de Bruno Siqueira (PMDB) e Lafayette Andrada (PSD), principalmente por conta de uma propaganda do segundo criticando o que o prefeito não haveria realizado durante sua gestão. Centro de Ensino Superior (CES) O debate no CES contou com a mais intensa das participações da plateia entre os principais encontros. Os presentes, a maioria estudantes do curso de Jornalismo / Publicidade da instituição, tiveram a chance de fazer diretamente perguntas aos candidatos, levantando temas polêmicos, como a questão das minorias na cidade. Além disso, os seis candidatos presentes tiveram intensos questionamentos sobre o cenário político nacional, sendo comuns gritos de “Fora Temer”, e com o impeachment de Dilma Rousseff abordado especialmente pela candidata Victória Mello (PSTU). Rádio CBN / Tribuna de Minas O primeiro encontro transmitido ao vivo por algum grande
Política
veículo da cidade, a Rádio CBN, colocou os sete candidatos frente a frente em um momento decisivo da campanha. Realizado na quinta-feira, 30 de outubro, a apenas três dias da votação, as tendências gerais das eleições já vinham se desenhando. Os candidatos Bruno Siqueira e Margarida Salomão (PT), à frente nas pesquisas tomaram uma postura menos combativa em relação a encontros anteriores. Por sua vez, os outros postulantes colocaram em pauta o polêmico tema da educação na cidade, em especial com relação ao “Artigo 9”, bastante questionado por professores municipais. TV Integração O último debate, e que contou com maior audiência, não colocou todos os candidatos no mesmo espaço. Maria ngela (PSOL) e Victória Mello não obtiveram ao menos 5% das intenções de voto nas pesquisas, patamar mínimo exigido pela Rede Globo para a participação nos debates promovidos pela emissora. O encontro seguiu a tendência da campanha, levantando poucos temas novos para a cidade, e caindo em acusações e propostas divulgadas desde o começo do processo eleitoral. com a constituição de empresas novas que nascem no ambiente de inovação, principalmente com estudantes e pesquisadores. São empresas inovadoras em que o principal ativo do empreendedor é seu próprio conhecimento e a capacidade de inovar. O que dificulta o desenvolvimento da start-up é que, em geral, elas são dotadas de poucos recursos financeiros, então, normalmente, uma iniciativa inova-
dora passa por um período de incubação nas universidades ou em outras agências. Aqui no Critt, por exemplo, estamos com a incubadora de base tecnológica, que algumas empresas desenvolvem seu produto e seu plano de negócios, entram no mercado e passam a ter uma rentabilidade para manter-se e ter a chance de escalar. Agora, existe outra parte que é que, quando elas se graduam, precisam de um aporte de recursos para poder fazer esta escalada e alcançar patamares mais elevados. Nesta situação, o instrumento que se tem utilizado é a aceleradora, que é uma agência que pode ser sustentada por uma empresa ou uma fundação, como a Fundep, em Belo Horizonte, que é a fundação de apoio da UFMG. O que a aceleradora faz é procurar contato com investidores que procuram empreendimentos inovadores, em geral com taxas mais razoáveis que as do sistema financeiro. Ou então com linhas de crédito dentro do sistema financeiro que servem para estimular a escalada destas empresas. Periscópio: E com estas empresas constituídas, qual o ganho para o país? Ignácio: Esta é minha inquietação com relação a isso. É um processo vital, mas por conta das tradições já conversadas, temos uma tradição pouco voltada para inovação. Em boa parte dos casos, este processo das start-ups acaba culminando na absorção deste trabalho por uma multinacional. Na verdade, você está fazendo
uma terceirização da atividade inovadora, já que, quando estas empresas fazem a compra, acabam eliminando uma nacional inovadora, e colocou esta inovação dentro do circuito da multinacional. Isto, ao invés de se gerar a estrutura de um ecossistema de inovação com agentes nacionais. Meu elemento de prova é que não existe país no mundo de médio para grande em território e população em que o bom desempenho inovador não esteja associado a empresas nacionais inovadoras. Nós temos que encontrar arranjos em que o processo de aceleração venha a ser feito ou por grandes empresas nacionais ou por fundações universitárias. Periscópio: Como o Critt da UFJF se enquadra neste cenário? Ignácio: Como o nome diz, é um centro de inovação e transferência de tecnologia e tem as seguintes missões: a primeira é a proteção ao conhecimento, por exemplo, temos um setor aqui que faz o registro de patentes, marcas, modelos de atividades, que são formas de proteção; tem o setor da transferência de tecnologia, que faz prospecção de demandas do universo empresarial e, a partir daí, faz também a prospecção das expertises que a Universidade tem para ver se pode haver alguma transferência de conhecimento da Universidade para a empresa, de acordo com a demanda, e também ao inverso; a terceira atividade é a incubação de empresas, que é uma espécie de chocadeira, em que,
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Periscópio: Como é a relação do Critt com movimentos da Universidade, como as Empresas Juniores e outros grupos? Há FONTE: THE ECONOMIST
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falta de integração do Critt com outros setores internos? Ignácio: As empresas juniores foram incorporadas à diretoria do Critt, então a liga destas empresas tem assento garantido aqui, mas, por ser algo muito recente, ainda não se consolidou muito. Mas falta uma integração, estamos inclusive trabalhando com uma estratégia de marketing dentro da própria Universidade para que os estudantes venham recorrer ao Critt com mais intensidade. No ano que vem, lançaremos vários desafios dentro da UFJF, em que a ideia é que haja articulação com algumas empresas de setores chaves, e teremos uma grande mobilização para que, no meio dos estudantes, aflorem soluções inovadoras para os problemas que estas empresas colocam. Além de tudo, conversamos com a Reitoria para adotar o modelo do desafio para a resolução de problemas da própria Universidade, para estimular este espírito inovador. Por exemplo, tem
FOTO: MATHEUS ANDRADE
ra, tendo sido aprovada em uma seleção por recorte de um edital, o projeto fica três anos aqui e passa por todas estas fases. Além disso, outra frente que estamos desenvolvendo é o que chamo de parcerias para o desenvolvimento, em que estamos procurando o universo empresarial da cidade, para atuar juntos na identificação de demandas e na oferta de soluções por parte da Universidade. Porque o setor de transferência do conhecimento responde a demanda, se tem uma patente, a empresa procura. Então, ao invés de fazer isso, agora estamos criando uma rede, com o grupo de inovação chamado “Grupo de Desenvolvimento da Zona da Mata Mineira”. Esse grupo faz uma prospecção nas instituições de pesquisa e procura desenvolver soluções.
Delgado assumiu desafio no Critt por conta da inovação
um grupo na Engenharia com um aplicativo para se ter acesso mais fácil ao SIGA (Sistema Integrado de Gestão Acadêmica) e também tem o do RU (Restaurante Universitário), tudo coisas
ATIVISMO ALÉM DO SOFÁ Gabriella Weiss
A internet transforma o ativismo como conhecíamos: maior circulação de informações, mobilização e organização dos movimentos sociais, financiamentos coletivos, e formatos que surgem a cada dia. O ativismo acompanha o desenvolvimento digital. Mas podemos ser ativistas efetivos do sofá da nossa casa? 11
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FOTO: GABRIELLA WEISS
s movimentos sociais, bem como a sociedade, estão em constante mudança. Assim, o ativismo no século XXI não pode ignorar a forma de informação mais forte na contemporaneidade: a internet. As mídias sociais se tornaram ferramentas fundamentais para a circulação de informações, mobilização e para gerar visibilidade a causas que não atingiam a todos. Com a democratização da informação, da comunicação e imersão do conhecimento, as redes sociais se tornaram espaço de interatividade, convivência e debate. O ambiente online se torna uma representação de inteligência coletiva e empoderamento, o que poderia gerar a criação de identidades de grupo que, embora não dividam o mesmo lugar no espaço geográfico, se reúnem em um universo online que propicia o pensamento coletivo de movimentos com as mais distintas temáticas e sua articulação. As redes sociais se tornaram um ambiente de fundamental importância no que diz respeito à possibilidade do indivíduo expressar posições e concepções políticas e sociais de forma a produzir con-
cos e limitados: “Aparentemente, a internet é um território aberto às possibilidades de formação de opinião, mas também de reforço e conversão de perspectivas de acordo com o tipo de consumo de informações de cada indivíduo. As estruturas que permitem estes processos interativos, neste sentido, devem ser discutidas tendo em vista que as redes sociais selecionam o que vai ou não ser exibido na linha do tempo de cada indivíduo e também acompanham toda a sua movimentação no mundo virtual”, lembra Gustavo. O ativismo online acontece de diferentes formas que têm aparecido e ganhado forças a cada dia. Ganham espaço, por exemplo, plataformas que têm como intuito angariar apoio para determinadas causas a partir de abaixo-assinados, financiamento coletivo e pressão de orgãos públicos. Sites como Avaaz, de petições públicas, e Catarse, de financiamento coletivo, permitem que internautas em todo mundo participem de causas que qualquer um pode criar, que vão de mudanças climáticas a combate a guerras. A estudante Luiza Rabelo explica que já participou de diversas campanhas online, especialmente relacionadas a causas ambientais: “Nem sempre as petições dão certo, mas acho que existe a sensação de que estamos ajudando uma causa em que acreditamos. Por mais que ainda não alcance o objetivo esperado, mostra uma voz e insatisfação coletiva, e por isso tem impactos.” Outra forma de realização de campanhas online acontece através do que chamamos de ‘viralização’. Campanhas com formato mais lúdico se tornam virais ao atingir um grande número de pessoas com um mesmo objetivo. Luciana Rodrigues cita o exemplo do O mestrando em comunicação política Gustavo Paravizo questiona os limites ‘desafio do balde de gelo’ como impostos pelas redes sociais para acesso a conteúdos mais diversos.
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teúdo que convida à interação. É neste contexto que surge o ciberativismo, em que expressões de posicionamentos de direitos humanos, políticos, ambientais, sociais, entre outros se somam, formando uma inteligência coletiva conectada em uma nova forma de vínculo social, transitando pelas interfaces virtual-presencial e presencial-virtual. O ciberativismo não se restringe às redes sociais, mas é um reflexo do que acontece fora e a partir delas, influenciando e sendo influenciadas pelo mundo offline. Segundo a mestre em comunicação e ativismo online Luciana Rodrigues, os movimentos sociais se tornaram mais acessíveis na internet pela possibilidade em divulgar suas ideias e atingir novos adeptos a um baixo custo em um novo espaço. “Mas é preciso sempre ter em mente essa questão de que há sim alguns entraves para a democratização total da informação - e talvez seja uma boa pauta a ser levantada por esses movimentos sociais”, pondera Luciana. O mestrando em comunicação política Gustavo Paravizo reitera que ainda existem barreiras que limitam o acesso dos internautas a conteúdos específi-
FOTO: GABRIELLA WEISS
Política
A estudante Luiza Rabelo tem o hábito de participar de causas online relacionadas ao meio ambiente
arrecadado, foi financiada uma pesquisa que descobriu o gene Nek1, relacionado à doença”, explica a estudiosa. Segundo Gustavo, “a possibilidade de haver empatia e ação por parte dos indivíduos em relação a questões que vão além de sua capacidade presencial de acompanhamento. Ao mesmo tempo, o principal problema disso, ao meu ver, é que a possibilidade de verificação das razões e das circuns-
FOTO: AVAAZ/DIVULGAÇÃO
um exemplo clássico de viralização: “Algumas ações virais acabam sendo desvirtuadas e se tornam apenas uma brincadeira. Muitas pessoas receberam o conteúdo sem saber que se tratava de uma conscientização sobre o ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), o que faz com que se perca a eficiência da ação ativista. Mas mesmo assim, é sabido que a ação acabou surtindo um importante resultado: com o dinheiro
tâncias destas questões também diminui substancialmente”. Gustavo vê como principal motivo para cuidado a apuração adequada de informações que circulam na internet, que poderiam levar a posições que não condizem com os acontecimentos. “Em um país no qual a concentração de veículos de comunicação gera desconfiança em relação à verificação dos fatos e enquadramentos noticiosos, as redes sociais aparecem como opção informativa, mas não dão as garantias de checagem de fontes e apuração dos fatos que o bom jornalismo costuma oferecer”, pondera Gustavo. Luciana Rodrigues lembra, no entanto, o papel da internet na articulação e cobertura de manifestações utilizando mídias alternativas aos grandes meios de comunicação: “Talvez um dos maiores exemplos disso no Brasil sejam as Jornadas de Junho. As manifestações eram basicamente locais, com protestos sobre o aumento da tarifa de ônibus em cada cidade. Com a repercussão da repressão policial em São Paulo, volta-se o movimento com o apoio a essas manifestações na capital paulista e, posteriormente, a pautas mais amplas. E haveria uma dificuldade maior de propagação sem a Internet, já que a grande mídia omitiu por muito tempo o que estava acontecendo em São Paulo”, explica Luciana.
Petição realizada no site Avaaz reuniu mais de 1,3 milhões de assinaturas pedindo a cassação do mandato de Eduardo Cunha.
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Política
IMAGEM: THINK OLGA/AGÊNCIA IDEAL
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FOTO:TWITTER/@TALITACARDIAL
#Ativismo As hashtags têm sido utilizadas como ferramentas online para a articulação de manifestações, como ocorreu na Primavera Árabe, para a organização dos manifestantes, e nas Jornadas de Junho, onde foram emplacadas várias hashtags entre as mais comentadas nas redes sociais, como #VemPraRua e #OGiganteAcordou. Além disso, as hastags têm a função de organizar categorias que auxiliam na elaboração de campanhas para a conscientização de pautas cotidianas. A estudante da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Dandara de Paula foi uma das responsáveis pela hashtag #MeuAmigoSecreto, que ganhou a rede com relatos sobre comportamentos machistas vivenciados no cotidiano. “Eu e mais cinco meninas que conheci através da militância feminista nos juntamos no post de uma delas no Facebook, onde fizemos uma compilação de várias piadas e ironias sobre o ‘amigo secreto’. No início, não era nem uma hashtag, aí o post viralizou muito rápido, e criamos a hashtag e a página.” Em quatro horas, a página no Facebook ‘Meu amigo secreto’ já tinha mais de cinco mil inscritos. Segundo a jovem, a ideia era a denúncia de opressões sofridas pelas mulheres no cotidiano,
A hashtag #meuamigosecreto reuniu relatos nas redes sociais com o propósito de questionar comportamentos machistas cotidianos
tirando algumas ações consideradas comuns e demonstrar o machismo presente nelas. Dandara acredita que a internet atua como uma porta de entrada para os movimentos sociais: “Tem gente que só pode militar online, e por que isso deveria ser ruim? Eu acho que as redes sociais têm um poder muito grande pro bem, sabe? Claro que isso não substitui o presencial, mas acho que ajuda muito a trazer gente nova pro movimento, gente que, se não fosse a Internet. nem pensaria sobre o assunto. A Internet ajuda muito o movimento
offline e vice-versa. São coisas complementares hoje em dia”, explica Dandara. Ela cita ainda a identificação como um grande mecanismo para que as mulheres compartilhassem relatos e buscassem saber mais sobre o feminismo, mesmo aquelas que não se interessavam pela causa anteriormente. Uma pesquisa elaborada pelo coletivo Think Olga em parceria com a Agência Ideal demonstra que o número de buscas no site Google pelo termo ‘feminismo’, por exemplo, cresceu 86,7% no período de janeiro de 2014 a outubro de 2015.
Pesquisa realizada pelo coletivo Think Olga e Agência Ideal mostra o aumento de pesquisas no site de buscas Google pelo termo ‘Feminismo’ nos anos de 2014 e 2015.
FOTO: JF INVISÍVEL/DIVULGAÇÃO
Política
Rafael, pessoa em situação de rua e catador de materiais recicláveis em Juiz de Fora, entrevistado pelo JF Invisível
JF Invisível O projeto JF Invísivel, criado por um grupo de estudantes, reúne depoimentos de pessoas em situação de rua e vulnerabilidade em uma página na rede social Facebook. Os relatos são escritos em primeira pessoa pelos depoentes acompanhados de fotografias tiradas pela equipe. Segundo uma das colaboradoras da equipe Maria Clara Nardy, o projeto tem como objetivo dar voz àqueles que são invisíveis socialmente e conscientizar a população juiz-forana através de postagens na página do Facebook, onde são disponibilizadas fotografias e relatos das personagens da cidade. Maria Clara explica que as personagens escolhidas se encontram em uma marginalização não apenas social, mas também estereotipada pelo olhar dos que passam. “A página tenta mostrar isso, qual
a real história daquela pessoa, o que a levou estar ali e mais, como ela se sente estando ali e não sendo vista, e quando vista, com um olhar preconceituoso. Acreditamos que, mudando esse olhar, muda também a realidade, e faz com que mais pessoas possam ajudar e se sensibilizar”, explica a estudante. O JF Invisível, além da divulgação das histórias, já realizou campanhas de arrecadação de agasalhos em parceria com grupos e ONGs envolvidos com a população de rua. “Na última realização havia oficinas de arte, doação de roupa, atendimentos médicos, música e outros atendimentos”, cita Maria Clara. Maria Clara cita a ferramenta Facebook como grande responsável pela mobilização e organização das pessoas em relação à causa: “Hoje o mundo se move
e se comunica quase que inteiramente pela internet. Então é nela que ações de conscientização, ações de mudança e ativismos irão se formar também, acompanhando tudo isso. No nosso caso, a internet possibilita a visibilidade dos invisíveis”. Além disso, a estudante relata o desejo de ampliar o projeto e contar a história de outros setores marginalizados da sociedade, a fim de modificar o olhar da população em relação a estas pessoas: “Acreditamos que qualquer prática efetiva que traz esse intuito de mudança social, essa carga de transformação da realidade atual, que é extremamente segregada e desigual, seja uma forma de ativismo. Transformando, assim, as gerações futuras para que um dia o JF invisível não seja mais necessário existir”, sonha Maria Clara.
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Alimentação desde a i Amanda
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balanceada infância Cadinelli
Excesso de alimentos calóricos e falta de atividade física aumentam obesidade entre crianças e adolescentes.Especialistas alertam para necessidade de regrar alimentos desde a primeira infância.
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três vezes na semana. Essas atividades físicas podem ser feitas na própria escola, ou os pais podem optar por aulas extracurriculares, como futsal e natação. A partir do momento em que é notada a situação de obesidade da criança, a orientação dada pelo pediatra é que essa criança seja acompanhada não só pelo médico como também por um nutricionista. O ideal é que tenha um cardápio específico para sua condição e que sejam
estabelecidos horários e locais para as refeições. Mariana Cordeiro, mãe do Miguel de 4 anos e do Lucas de 1 ano, se preocupa em dar uma alimentação balanceada para os seus meninos desde novinhos: “Até os 6 meses eu dei leite materno exclusivamente. Com 6 meses, introduzi as frutas e aos 7 a comida salgada”. Mariana garante que a alimentação deles tenha sempre um carboidrato (arroz ou macarrão) e feijão, legumes e verduras.
FOTO: GUILHERME CADINELLI/ARQUIVO PESSOAL
obesidade infantil é hoje um dos principais problemas de saúde das crianças brasileiras. Entre as principais causas estão o excesso de alimentos calóricos e a falta de atividade física. Tendo acesso a este tipo de alimentos, as crianças tendem a preferir aqueles com mais açúcar e gordura, devido ao gosto. Pediatras e nutricionistas infantis afirmam que cabe aos pais controlarem essa alimentação de forma que os filhos se alimentem de maneira balanceada e só comam produtos mais calóricos em ocasiões específicas. O pediatra Edson Luiz da Silva alerta que, para evitar a obesidade, é preciso que o cuidado comece desde cedo. O controle deve ser feito nos dois primeiros anos de vida, pois, às vezes, é durante esse período que a criança começa a adquirir o ganho excessivo de peso. Para as crianças maiores, a preocupação é com a refeição feita em frente à TV – ou com qualquer outro tipo de distração -, pois a criança não está prestando atenção no alimento e, muitas vezes, acaba comendo mais do que o necessário, além de mastigar pouco a comida. As crianças devem sempre se alimentar à mesa, com uma mastigação de qualidade. Outro ponto crucial é a atividade física. Com a grande variedade de brinquedos elétricos disponíveis e o aumento da violência nas ruas, cada vez mais as crianças estão se distraindo dentro de casa. Dessa forma, se a criança não tem educação física na escola, muitas vezes, fica privada dos exercícios físicos necessários. É essencial que os pequenos se exercitem pelo menos
Exercícios para os pequenos A musculação é indicada para adolescentes que já passaram pela puberdade. Nas meninas, isso costuma ocorrer entre 12 e 14 anos e, nos meninos, entre 14 e 16 anos. Ao iniciar a musculação antes desse processo, pode haver prejuízo no crescimento e em estruturas, como joelho e coluna. Mayná aconselha: “Para que a criança inicie suas atividades na musculação, é necessário uma avaliação física individualizada e um acompanhamento bem de perto durante a sua prática. Outro fator importante seria a interdisciplinaridade entre os profissionais que a acompa-
nham, como pediatras e educadores físicos, dando ainda mais respaldo a essa prática.” FOTO: :ARQUIVO PESSOAL
A prática de uma atividade física na infância diminui o risco de obesidade, estimula a coordenação motora, o condicionamento cardiovascular e ajuda no desenvolvimento intelectual da criança. Segundo a profissional de educação física Mayná Castro, antes de se iniciar a atividade, é preciso entender as individualidades biológicas de cada um, bem como as necessidades para cada faixa etária. Para os menores, as atividades devem se aproximar dos movimentos naturais, como correr, saltar e rolar. Após esse estágio, deve-se inserir as práticas esportivas, como futebol, natação e judô, pois a criança já adquiriu habilidades motoras para tal e precisa de um processo de integração social.
A nutri responde
As dicas de hoje são da profissional Roberta Lamarca Começando pela criança: ela precisa de leite. Isso porque o leite é uma fonte grande de proteína e vitaminas minerais, e o corpo, no processo de desenvolvimento, precisa desses nutrientes. O adulto, por outro lado, não vai crescer mais, então o leite pode ser substituído por outro alimento. Na criança, o leite é essencial, seja ele de origem animal ou vegetal. Além disso, a criança tem os ossos da face abertos (mo-
leira, maxilar, dentição) e precisa de uma grande quantidade de cálcio. O leite fornece essa grande quantidade. Já entre o adulto e o idoso, deve haver uma diferença no valor calórico dessas dietas. Um adulto tem que ingerir mais calorias que um idoso, uma vez que o idoso não se exercita mais com muita frequência, então ele demanda menos energia. Nessa idade também, ele perde o tônus muscular, e seu intestino fica
mais “preguiçoso”, por isso ele precisa comer muitas fibras. No entanto, conforme o tempo passa, o idoso vai tendo mais dificuldade de deglutição porque a musculatura do esôfago fica flácida. Quando isso acontece, é preciso modificar a consistência da alimentação, transformá-la em algo mais pastoso, que é mais fácil de engolir, preocupando-se sempre em não deixar de ingerir as fibras.
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Saúde
Bons hábitos são importantes na escola frutas, legumes e cereais integrais, têm um cardápio baseado nas estações do ano e participam da elaboração das refeições plantando, colhendo e preparando pães, biscoitos, geleias e outros. No lanche, por exemplo, é sempre oferecido uma fruta, um suco natural e um carboidrato (ou o pão integral ou um bolo, que também é feito com farinha integral). A nutricionista da creche, Roberta L amarca, conta que eles fazem um trabalho de estimulação alimentar : “Por exemplo, caiu uma uma manga hoje, então as turminhas vão ao refeitório, e aquela manga é ofe-
recida em natura, ou seja, ela vai direto do pé para a mesa, daí as crianças pegam a manga, cheiram, apertam, a tia descasca a manga e só então eles provam.” C om essa metodologia, a escolinha acaba criando hábitos alimentares saudáveis. “Desde muito pequeninhas, as crianças conhecem as frutas e legumes, através de uma estimulação olfativa, tátil, visual. As crianças desenvolvem gostos, claro que nem todos gostam de tudo, mas eles criam esses hábitos alimentares saudáveis desde novinhos”, completa a Roberta.
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Além da alimentação dentro de casa, especialistas alertam para a importância dos bons hábitos alimentares na escola e nas creches, onde a criança passa grande parte do dia. Em Juiz de Fora, um bom exemplo vem da escola particular S ol Dourado. A escola é uma instituição antroposófica, que propõe recriar o conhecimento científico com uma visão artística-espiritual mais humanizada. Dentro desse viés, a alimentação também é incluída e, assim, não entram alimentos industrializados na escola. As crianças comem
Colégio Sol Dourado traz espaços de recreação e atividades que desenvolvem o lado humano das crianças, respeitando o tempo de desenvolvimento de cada uma
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Saúde
Meu filho não come nada. O que eu faço? A nutricionista Roberta Lamarca aconselha a oferecer lanches sólidos antes de entregar a mamadeira e se preocupar em comer com eles, já que as crianças tendem a imitar as pessoas. O ideal é ir tentando inserir os alimentos aos poucos, antes de dar a mamadeira. Se o adulto não oferecer o alimento, a criança não vai ter acesso, então é necessário deixar ao alcance das crianças os alimentos saudáveis, como frutas por exemplo. Assim, quando a criança sentir fome, ela vai procurar esses alimewntos. O problema é que, quando a mãe vê que o filho não está comendo, costuma se apavorar e dar a mamadeira, e, nessa mamadeira, ela coloca farináceos, como farinha láctea, que não alimentam, só engordam. Uma boa alternativa é o leite com fruta e aveia, que é integral e rico em vitaminas. Outra coisa importante é promover um ambiente agradável na hora da alimentação. Deixar a criança comer no seu tempo e em um local calmo, transformando o alimento em algo agradável aos olhos. Evitar as papinhas pode ser uma boa tática. Apostar em pratos coloridos e deixar que a criança coma os alimentos separados, conhecendo o gosto de cada um e percebendo do que gosta e do que não gosta. Apresentar a comida como algo bonito e divertido, estimulando os sentidos das crianças, faz com que ela sinta vontade de comer aquele alimento. ,
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EMPODERAMENTO MATERNO Amanda Cordeiro Padilha
A experiência do parto pode ser mágica para algumas, mas para muitas, pode significar um momento que acarreta em traumas e sofrimento. A violência obstétrica representa no Brasil uma das principais preocupações de mamães e profisisonais de saúde que se mobilizam para informar gestantes sobre o que elas vão enfrentar no pré-parto, no trabalho de parto e também no pós-parto.
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Mudei de médico no parto seguinte e me cortaram de novo. No outro, a mesma coisa.” Denise Feliciano sempre sonhou com um parto normal, mas, em 2011, apesar de ter planejado este procedimento durante todo o pré-natal, foi submetida a uma cesariana desnecessária. Ela, que é psicopedagoga e psicóloga, conta que a médica disse que o bebê já não estava bem dentro da barriga e deu um prazo para ele nascer. Se ele não nascesse até esse dia, ela iria fazer uma cesárea. “Eu me senti a pior mãe do mundo. Como eu, que amo tanto, posso estar fazendo mal a ele?!” Mesmo tendo contrações e entrando em trabalho de parto no prazo combinado, a médica fez a cirurgia. “Até o último segundo eu achei que teria o meu filho de parto normal. No vídeo, eu estou forçando para não sair nenhuma lágrima de emoção. Eu estava decepcionada, eu não estava acreditando no que estava acontecendo”. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que apenas 15% dos partos sejam feitos por cirurgia, mas, no Brasil, a cesariana representa 58% dos nascimentos, o índice mais alto do mundo. No Sistema Único de Saúde (SUS), 40% dos partos são feitos
FOTO: PIXABAY
magine a sensação de se descobrir grávida, ouvir o coraçãozinho do bebê batendo pela primeira vez, comprar as roupinhas do enxoval, preparar o quartinho e, quando chega a hora do nascimento, ter toda essa alegria e expectativa dissolvida na angústia de não ter voz durante o seu próprio parto. A violência obstétrica, um tipo de violência ainda pouco denunciado, atinge uma em cada quatro mulheres no Brasil, de acordo com a Fundação Perseu Abramo. O desrespeito às vontades da paciente, a fala hostil e os procedimentos obsoletos, como Kristeller (empurrão para forçar a saída do bebê) e a episiotomia (corte na região entre a vagina e o ânus para aumentar o canal de parto), são algumas características desse tipo de violência. Márcia Leal, professora aposentada e mãe de três filhos nascidos de parto normal, conta que sofreu episiotomia sem autorização em seus três partos e a manobra de Kristeller em um deles. “Eu procurei fazer o pré-natal e o parto na rede particular achando que isso era uma garantia de que a minha vontade seria realizada. No dia do nascimento da minha filha, eu não tive acompanhante, me cortaram e uma enfermeira subiu na minha barriga e ficou pulando e forçando até que ela nascesse.
A violência obstétrica caracteriza desrepieto à mãe e ao bebê.
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Saúde
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“As vítimas de violência obstétrica sofrem pelo desrespeito, não pela dor do parto. O parto humanizado não são as palavras, são as atitudes do profissional, com respeito à mulher”. Inês Gomes - Enfermeira Obstetra
pela incisão abdominal e, na rede privada, 84%. De acordo com Inês Gomes, professora do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), ex-enfermeira obstetra da Santa Casa e da Casa de Parto de Juiz de Fora e membro do Comitê Municipal de Prevenção à Mortalidade Materna, apenas 10% das cesarianas têm real indicação, quando o parto natural oferece algum risco à saúde da mãe e do bebê. Ela atribui a posição do Brasil no ranking mundial à não valorização da mulher. “O parto ainda está muito nas mãos dos médicos. O parto é dela. Ela é a protagonista. Nós, os profissionais,
somos apenas coadjuvantes.” Para diminuir o número de nascimentos por cesariana no Brasil e o alto índice de mortalidade materna em Juiz de Fora (onde 93% dos casos são evitáveis), o parto humanizado traz esperança às mamães e também ao governo, que criou regras no início desse ano para que a saúde privada reduza o número de cesarianas. Arthur Chioro, ministro da Saúde, disse em bate-papo com internautas que as taxas de mortalidade materna por cesariana são três vezes superiores às taxas decorrentes de parto normal e os índices de mortalidade infantil por esse tipo de parto são 24% maiores que os níveis em ra-
zão do parto normal. Segundo Inês Gomes, a cesariana pode ser humanizada, quando feita com indicação real de risco e com respeito à mãe a ao bebê, mas a falta de informação faz com que as mulheres fujam por causa da ansiedade, do medo e da dor. Um atendimento de qualidade durante o pré-natal incentiva o parto normal, trazendo informação sobre como o parto é um evento fisiológico natural, os malefícios que uma cirurgia oferece e os cuidados com o bebê após o nascimento. “A maior violência é essa. É a mulher não saber, não participar, não ter a informação”, reitera Inês, que já acompanhou mais de mil partos.
O que é violência obstétrica? Constranger, gritar e proibir a mulher de conversar e gritar durante o parto
Não manter a mulher informada sobre tudo o que acontece durante a gravidez, o trabalho de parto e o parto
Manter a mulher isolada e sem acompanhante
Desrespeitar os direitos da mãe e do bebê
Agressões e humilhações verbais
Utilizar meios farmacológicos sem autorização
Forçar jejum
Obrigar a mulher a ficar em uma determinada posição
Restringir a grávida apenas ao leito
Episiotomia e Manobra de Kristeller
Fonte: Inês Gomes, enfermeira obstetra.
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Saúde FOTO: LINE SENA
No parto de sua segunda filha, Denise recebeu o apoio de uma doula e quis fazer o mesmo por outras mulheres.
lar, pois tinha que pesquisar como iria garantir que dessa vez teria um parto normal. O marido insistiu que fosse realizado em um hospital, mas, após assistir ao filme O Renascimento de Parto, concordou com um parto domiciliar. A segunda filha do casal veio ao mundo no conforto de sua casa no fim de 2013. Desde então, Denise divide sua experiência doulando partos domiciliares na cidade de São Paulo. O parto domiciliar é o mais seguro para mulher, considerando-se uma gravidez de risco habitual, de acordo com Inês Gomes.
Mobilização Uma corrente de mamães e futuras mamães se une em grupos e páginas do facebook, blogs e sites especializados e encontros para promover a conscientização sobre o empoderamento de mulheres que desejam se preparar para a vinda de um filho. O debate sobre a humanização do parto e do nascimento cresce e é preciso que os profissionais da saúde obstétrica compreendam que a história não é deles. As protagonistas são as mulheres.
FOTO: LARISSA AMARAL
Após a frustração do primeiro parto, Denise começou a pesquisar mais sobre o parto humanizado e decidiu estudar para ser doula, profissional que acompanha a gravidez da mulher e oferece apoio emocional, psicológico e afetivo durante o trabalho de parto e o parto. “Quando eu descobri que a minha cesariana havia sido desnecessária, eu chorei todos os dias do curso. É um momento que nunca mais vai voltar. Tiraram de você o momento mais importante da sua vida. Roubaram, me enganaram.” Ela compartilha uma das histórias que ouviu de uma amiga de curso. “Ela chegou até o finalzinho e disse que não aguentava mais, então a médica fez a cesárea. Eu disse para ela que pelo menos ela poderia contar para a filha que havia tentado. Eu nem tive essa chance? O que falria para o meu filho?” O curso de doula foi feito no Grupo de Apoio à Maternidade Ativa (Gama), de São Paulo. Ao fim do curso, ela descobriu que esperava o segundo bebê e não começou a dou-
Denise Feliciano oferecendo apoio a uma gestante durante o trabalho de parto. A doula
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DOR IRREPARÁVEL Davi Carlos Acácio
O trauma das mães que perderam seus filhos para a violência
OTO: DIVULGAÇÃO
Davi Carlos
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Geral
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do fora, ele me ligava todos dias. Aí eu te pergunto, quando isso vai passar? Nunca”, desabafa. Adriana, 41 anos, é moradora do Bairro Santa Efigênia, Zona Sul de Juiz de Fora. No dia 10 de dezembro de 2015, ela diz ter vivido o pior dia de sua vida. O filho, de 24 anos, Rally Ribeiro, foi assassinado há poucos metros de distância da sua casa. Segundo a mãe, tudo começou quando Rally emprestou uma quantia em dinheiro para um suposto amigo, até então, desconhecido da família. Rally não recebeu o dinheiro emprestado, e, então, por conselho da família, abriu mão do pagamento. No entanto, o devedor fazia ameaças ao jovem. Foi então que, naquele domingo, 10 de dezembro, Rally recebeu uma ligação na hora do almoço e, de repente, saiu. Foi
até o Bairro Sagrado Coração, a poucos metros de casa, sendo surpreendido pelo suposto amigo e alvejado com dois tiros. A angústia e a sede por justiça secaram as lágrimas do luto. O termo justiça encabeça os discursos de Adriana Ribeiro. É o que a família mais anseia no momento. Toda semana a mãe vai ao Fórum Benjamin Colucci para se informar sobre o andamento do processo. “É muito difícil. Há muitas mães cuja forma de defesa é se lamentar. Eu tenho mais três filhos. É triste? É, muito triste, é uma dor que às vezes sufoca. Sufoca a falta dele, nós sempre fomos muito ligados. Mas o que me resta além de lutar e buscar justiça?” “Vai ficar pra sempre um vazio mortes foi alavancada, de forma
FOTO: DAVI CARLOS ACÁCIO
olhar marejado, distante e disperso em certos momentos carrega uma certeza melancólica: ele não vai voltar. Lembranças, saudades de tudo que viveu e do que poderiam ter vivido juntos, o inconformismo da perda e a busca por justiça caracterizam o cotidiano delas. É assim que vivem Adriana, Nívea e tantas outras mães cujos filhos são vítimas da violência urbana, uma triste realidade que faz parte do cenário de algumas famílias brasileiras. No sofá da sala de sua casa, Adriana Ribeiro Andrade Melo Franco se emociona ao tocar nas lembranças. “Tudo lembra ele, chega sexta-feira, 18h, a hora que ele chegava, eu ainda costumo ouvir os passos dele. Era um tal de mãe pra lá, mãe pra cá o tempo todo. Mesmo trabalhan-
Nívia Goldoni, mãe de Matheus Goldoni
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Vai ficar pra
sempre um vazio nessa família. Nós só vamos colocar um ponto final e recomeçar depois do julgamento. Adriana Ribeiro nessa família. Nós só vamos colocar um ponto final e recomeçar depois do julgamento. É o máximo que podemos fazer, não podemos ir além do juiz.” Adriana Ribeiro pretende voltar para Goiás, sua terra natal, após o julgamento final. A família não se sente segura em continuar em Juiz de Fora, quer evitar um reencontro com o assassino de seu filho nas ruas. Adriana não é exceção Segundo o Mapa da Violência do Brasil, elaborado pela Faculdade das Américas de Ciências Sociais, entre 1980 e 2014, morreram 967.851 no país, por disparo de armas de fogo. Nesse período, as vítimas saltaram de 8.710, no ano de 1980, para 44.861, em 2014, o que representa um crescimento de 415,1%. Considerando que, nesse intervalo, a população do país cresceu em torno de 65%. Mesmo assim, o saldo líquido do crescimento da mortalidade por armas de fogo, já descontado o aumento populacional, ainda impressiona pela magnitude. Essa eclosão das 28
quase exclusiva, pelos Homicídios por Arma de Fogo (HAF), que cresceram 592,8%, setuplicando, em 2014, o volume de 1980. No ano de 2014, 42 mil pessoas foram vítimas de homicídios por arma de fogo. Desse número, pouco mais de 2 mil são mulheres, e, mais de 25 mil tinham entre 15 e 29 anos. Em Juiz de Fora, segundo a Polícia Militar, nos anos de 2015 e 2016, até setembro, considerando jovens e adultos do sexo masculino entre 12 e 35 anos, foram consumados 150 homicídios. Nem sempre, as vítimas são mortas por arma de fogo. Nem por isso, a dor é menor. No mesmo Bairro Santa Efigênia, a poucos metros da casa de Adriana, mora Nivea Goldoni Soares Ribeiro, de 42 anos. Ela convive com o trauma da perda do filho Matheus Goldoni Ribeiro há quase dois anos. A sala de estar com quadros de santos e terços logo evidenciam a fé na religião católica. Segundo Nivea, a crença em Deus é o grande alicerce para se manter esperançosa na busca por justiça e em paz consigo mesma. De acordo com Nivea Goldoni, o filho saiu para ir a uma casa de shows na cidade de Juiz de Fora. Feliz por uma recém promoção no emprego, Matheus foi curtir com os amigos a sexta-feira, 14 de novembro de 2014, véspera de feriado. Depois que saiu, não voltou mais. O jovem foi morto por asfixia, segundo o laudo da perícia. Nivea conta que diversas versões já foram contadas pelos acusados no tribunal. A história que mais se aproxima da verdade, que a família busca encontrar no final do processo, é a de que Matheus Goldoni foi retirado brutalmente da boate e per-
seguido por seguranças que o asfixiaram e o jogaram na mata que cerca a boate. A família buscou pelo jovem no sábado entre arredores da boate, mas não o encontrou. No domingo, acionaram os bombeiros, mas o corpo só foi achado na segunda-feira pela manhã, dia 17 de novembro daquele ano. A princípio, foi repassado à família que Matheus tinha se envolvido em uma briga, estava sob efeito de álcool e drogas e que desceu a rua quebrando retrovisores. No entanto, os depoimentos comprovaram que a equipe de segurança da casa estava mentindo. Em um dos depoimentos, o rapaz envolvido na suposta briga afirmou que Matheus não o agrediu, pelo contrário, a vítima foi agredida e não iniciou a confusão. O exame toxicológico deu negativo, e uma outra testemunha não o viu quebrar retrovisores, observando apenas quando ele descia o morro correndo. A partir daí, Nivea Goldoni e sua família começaram a busca pela veracidade do caso “No início, ouvimos comentários preconceituosos, falando que a tragédia havia ocorrido por efeito de drogas. Mas nos empenhamos e fizemos uma manifestação em protesto contra o que aconteceu e em prol da vida. A partir daí, recebemos o apoio de várias pessoas”. A mãe acredita que pode ter havido uma seletividade ao escolher quem tirar na suposta confusão na boate. Matheus não era frequentador assíduo da casa, estava com o cartão de consumo zerado. Contextualmente, tudo isso é motivo de suspeita para ela. “Nós estamos acompanhando tudo, por dentro do que está acontecendo. A cobrança vem
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sendo intensa. Insistência no caso jurídico e com as autoridades. Sempre convivendo com demoras, mas nada que nos fizesse desistir. Desistir jamais!” O trauma fez com que o marido de Nivea ficasse durante o tempo do julgamento parado do trabalho, ela e o marido acompanham o caso desde sua abertura. “Vamos pelo menos duas
ou três vezes por semana no Fórum para saber como o caso está andando. Paramos nossas vidas em busca da verdade.” “Toda vez que voltamos aos processos, vivemos tudo novamente. Enquanto não finalizarmos essa etapa, não daremos sequência para um recomeço. Precisamos que isso acabe para que possamos respirar com um
sentimento de que a justiça foi feita. Nossa preocupação é com as outras pessoas. Que haja justiça para que isso não volte a acontecer com ninguém. Não pode haver impunidade. Mesmo você tendo uma boa condição financeira não pode cometer um ato de brutalidade desses e achar que nada vai acontecer”, afirma, com um olhar esperançoso.
O trauma do luto também é problema de saúde pública Os centros de atendimento de saúde voltados ao sistema psicológico em Juiz de Fora não têm um atendimento específico para vítimas que sofreram o trauma do luto de seus filhos. No entanto, esse tipo de trauma torna-se um problema de saúde pública. Após perder o filho Rally, Adriana afirma ter ficado hipertensa, que está fazendo uso de remédios e tem acompanhamento com um psiquiatra. “A sensação que eu tinha é que estava a um passo da loucura, sozinha eu não ia dar conta”, afirma.
Por outro lado, Nivea preferiu não procurar nenhum serviço de saúde para recorrer ao trauma sofrido. Segundo a mãe, a fé na religião católica e a ajuda do Padre Pierre foram fundamentais. Foram as palavras do religioso que tocaram os familiares e os fizeram optar pelo caminho da igreja. Assim, a família tentar superar a dor e a tragédia. De acordo com o professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Wedencley Alves, qualquer forma de trauma de cunho social
ou que envolva o luto deveria preocupar a sociedade, e, em particular, os profissionais de saúde: “Evidentemente, a perda de um filho não é só uma questão de dar o tempo necessário para que seja superado. Pessoas ficam traumatizadas, ficam marcadas com esses atos de violência que vitimaram um ente querido. Portanto, isso deve ser considerado um traumatismo a ser levado para as autoridades médicas, tornando-se uma preocupação para o nosso sistema de saúde pública.”
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Ninguém tira o trono do estudar Laura Conceição
Alunos e educadores de Juiz de Fora repudiam reformas na educação anunciadas por Temer
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Educação
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Governo federal apresentou, no dia 22 de setembro, a medida provisória (MP) sobre a reforma do ensino médio. As mudanças afetam conteúdo e formato das aulas e também a elaboração dos vestibulares e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). De acordo com o Ministério da Educação (MEC), a ideia é que a reforma seja aplicada já para as primeiras turmas de 2018. Uma das mudanças determinada pela medida provisória é que o conteúdo obrigatório será voltado para privilegiar cinco áreas de estudo: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional. Para o Governo federal, a alteração é positiva e busca incentivar que as redes de ensino ofereçam ao aluno a chance de dar ênfase em alguma dessas cinco áreas. Entre os conteúdos que deixam de ser obrigatórios nesta fase de ensino estão artes, educação física, filosofia e sociologia. Educadores sobre a medida Desde o dia em que foi anunciada pelo atual presidente Michel Temer (PMDB), a medida provisória tem provocado muitas discursões no âmbito da educação. Grande parte dos educadores de Juiz de Fora se posicionou contra a aprovação da medida por inúmeros motivos. Maria Angela de Oliveira é professora de história na rede estadual e particular. Para a educadora, a reforma é absurda. Ela critica, principalmente, o fato de ser permitida a contratação de profissionais de notório saber para lecionar. “Temo uma desvalorização além do comum para com o professor licenciado. Agora, qualquer profissional
poderá trabalhar como professor, havendo um total desrespeito ao profissional com licenciatura, que tenha escolhido a profissão e estudado para isso”, afirma Angela, que ainda completa: “Não houve participação de profissionais que estejam atuando em sala de aula na formulação dessas mudanças.” A inclusão do ensino de educação física dependerá do que será estipulado pela Base Nacional Comum Currícular, ensino este que, até então, era obrigatório nas escolas de todo país. “Não cabe dúvidas sobre a importância da pratica de atividades físicas na escola. Crianças e adolescentes em fase de crescimento e aprendizado precisam se movimentar e cuidar da saúde. A educação física orienta o jovem a cuidar de seu corpo. Nossos alunos não podem ser tratados como máquinas de prestar vestibular. É um absurdo", afirma Pedro Paulo Andrade, professor de educação física na rede municipal de educação. Assim como educadores físicos que lecionam em escolas, professores de artes, filosofia, sociologia e disciplinas da área das Humanidades estão majoritariamente se posicionando contra as reformas propostas. Para Gerson Romero, professor de geografia em escolas de ensino médio, a reforma está fora nexo. "Não vejo ponto positivo na reforma, principalmente por vir em forma de medida provisória que é uma imposição do Poder Executivo. Existe uma ausência de debate com educadores e alunos. Ensino médio requer uma formação integral e não especializada", afirma Gerson. Ele ainda acrescenta que a
aprovação da medida provocaria um esvaziamento do pensamento crítico. "Ideologicamente é interessante para o atual presidente Temer, que está no poder através de um golpe, a formação de jovens sem pensamento crítico” CEEDS O Centro de Estudos Educação e Sociedade (CEDES) é um grupo de pesquisa resultado da atuação de alguns educadores preocupados com a reflexão e a ação ligadas às relações da educação com a sociedade. Quando Temer anunciou a proposta de reforma, o CEDES publicou uma carta de repudio às mudanças. No documento, eles alegam que a reforma ignora as discussões em andamento para mudanças no ensino médio e desrespeita educadores e alunos. Aspecto Legal A medida provisória altera artigos da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), e da Lei nº 11.494, de junho de 2007, Lei do Fundeb. De acordo com Lucas Alcantra, especialista em leis educacionais, por ser uma medida provisória, a proposta passa a entrar em vigor após a sua edição pelo Executivo. “Para a medida virar lei definitivamente precisa ser aprovada por uma comissão no congresso em até 120 dias de validade.”
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Educação
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De quem é esse espaço
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Larissa Alves
A expressão artística em si está ligada à cultura de um povo, à sua forma de ver, entender e explicar o mundo ao redor. E se antes movimentos, espetáculos e intervenções ficavam restritos aos espaços fechados de galerias, museus e afins, hoje eles tomam as ruas e tornam-se parte do dia a dia da sociedade que retratam.
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A exposição em lugares fechados é só aquilo ali mesmo, naquele número certo de dias, e não é todo mundo que vai conseguir ver. Vai mesmo só quem já tem interesse no assunto, enquanto na rua todo mundo que passar vai ver”. Luiz Gonzaga, artista
artística inserida no campo das artes visuais, a Arte Urbana. O grafite, como conhecemos hoje, começou a se estabelecer no final da década de 1960 e início da década de 1970, mais fortemente nas ruas de Nova York, nos Estados Unidos, como uma espécie de marcação de território. No Brasil, o grafite chegou na década de 70, em uma das maiores cidades do país: São Paulo. Os grafiteiros brasileiros desenvolveram seu próprio estilo e acrescentaram características que fizeram, e fazem até hoje, o grafite “verde e amarelo” ser um dos mais apreciados pelo mundo. Em Juiz de Fora, essa arte está ligada a diversos projetos sociais
e escolas e vem ganhando força com a Associação Juizforana de Hip Hop. O grupo surgiu em 27 de julho de 2010 e, desde então, vem promovendo diversas mostras de grafite, oficinas, festivais, em Juiz de Fora e em outras cidades da região. Além disso, artistas locais têm se empenhado em tornar o ambiente da cidade mais significativo. Um exemplo é o trabalho realizado por Luiz Gonzaga, que sob o pseudônimo de “Gonzaguianos”, cria intervenções na paisagem da cidade. Autor do grafite “Sinalizador”, que fica na Avenida Brasil, próximo ao Bairro Santa Terezinha, também participou do projeto “Arte na Faixa” sobre
FOTO: LARISSA ALVES
uiz de Fora e tantos outros centros urbanos seguem esse movimento de tornar a arte parte da vida das pessoas e, cada vez mais, tem aumentado o número de artistas que se aventuram pelas ruas, praças, muros e outros cantos públicos que a cidade oferece. Tradicionalmente a street art (arte de rua) é a primeira referência quando se fala em movimento artístico nas vias públicas e ainda é a principal forma de manifestação. Quem passeia pelas ruas da cidade, vez ou outra se depara com grafites em paredes de prédios, muros, quadras e em tantos outros lugares que passaram a caracterizar os grandes centros urbanos, que o diga Nova York, Londres, Paris, Munique, Barcelona, São Paulo, Buenos Aires, cidades onde o grafite tem se feito cada vez mais presente. O termo grafite vem do italiano graffiti e refere-se a alguns tipos de inscrições feitos em paredes no Império Romano. Tomando um novo significado, passou a representar uma forma de expressão
O grafite entitulado “Sinalizador”, criado por Luiz Gonzaga, está na Avenida Brasil. Luiz costuma se colocar nas pinturas como o “Menino de boné vermelho”
SAIBA MAIS
Hoje, para utilizar qualquer espaço público da cidade para qualquer tipo de evento é preciso primeiro conseguir uma licença com a Secretária de Atividades Urbanas (SAU). A regulamentação dos eventos ocorre por meio de pedido realizado no Espaço Cidadão, no Parque Halfeld. O artigo 16 do Código de Posturas do Município ainda estipula que as atividades em vias públicas devem ter autorização da Prefeitura. O solicitante deve recorrer ao Espaço Cidadão, preencher um formulário de inscrição, descrevendo o evento ou atividade que deseja exercer e o local. A avalição dura de 15 a 20 dias ou 25 dias para eventos de grande porte. No caso de espaços tombados, a avaliação fica por conta do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (COMPAC) juntamente com a SAU. Além disso, é necessário que o pedido seja feito com antecedência, já que o solicitação precisa da aprovação do conselho que se reúne mensalmente. Com a falta dessa documentação, o artista está sujeito a detenção ou multa a ser definida pelos órgãos competentes.
Parque Halfed. Luiz Souza, um dos organizadores, conta que, no início, o encontro também passou a ter uma sede fixa: “Também funcionamos por muito tempo no DCE centro. Para mim, foi uma das melhores fases. Lotávamos aquele espaço com rimas Grafitte Break dance e skate, tudo isso ao vivo e gratuito. Reformamos o DCE, pintamos o prédio totalmente por dentro e acabamos perdendo o espaço por denúncias e proibições por parte da polícia. Hoje o Encontro conta com oito organizadores cada um se dividindo em funções específicas ,como João Victor e Oldi na parte audiovisual, Fábio, na sonora, Brenda Andrade, com a parte burocrática e alimentação de mídias sociais, como fã page e Instagram, entre outras funções essenciais para o coletivo Encontro de Mcs. Os encontros acontecem quinzenalmente na Praça da Estação ,com a Roda de Sexta, trazendo batalhas de Mcs Bboy e sempre convidando um artista da cidade para mostrar seu trabalho. Mesmo com a tradição do
FOTO: ARQUIVO/ENCONTRO DE MCS
FOTO: ARQUIVO - DIVULGAÇÃO
conscientização de pedestres, promovido pela Secretaria de Trânsito. Luiz conta que decidiu começar a fazer trabalhos artísticos nas ruas há mais ou menos três anos. Segundo ele, a visibilidade da obra é muito maior: “A exposição em lugares fechados é só aquilo ali mesmo, naquele número certo de dias, e não é todo mundo que vai conseguir ver. E vai mesmo só quem já tem interesse no assunto, enquanto, na rua, todo mundo que passar vai ver.” Outro movimento já consolidado na cidade é o Encontro de MCs, que acontece periodicamente na Praça Antônio Carlos. O evento foi criado em fevereiro de 2011 com o propósito de fomentar a cultura hip-hop na cidade nos espaços públicos. No início, passou a funcionar aos domingos quinzenalmente, cada dia em uma praça da cidade. O primeiro encontro aconteceu na Rua Halfeld com pouco mais de dez pessoas, descendo para as galerias do Calçadão até chegar em espaços públicos, como a curva do Lacet, represas, praças da cidade e pontos centrais, como o
O Encontro reúne não só as batalhas de HIP HOP, como também trabalha com diversas intervenções artísticas, como mostra de grafites
Cidade
FOTO: ARQUIVO/ENCONTRO DE MC'S
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FOTO: ARQUIVO/ENCONTRODE MC'S
evento na cidade Fábio conta que houve problemas quanto à realização do evento: ”A única vez que fomos realmente impedidos foi quando realizávamos a roda de sexta na Praça Antônio Carlos. Não procurávamos permissão porque não considerávamos um evento, e sim uma reunião que acabou tomando uma proporção um pouco maior. No dia, acabou acontecendo uma briga próximo ao público. Assim que a roda acabou,um comandante da Polícia Militar falou que nunca mais iríamos realizar a roda sem autorização da Prefeitura. Com isso, demos uma pausa.” Para legalizar a manifestação, os organizadores contaram com o artigo 5º da Constituição que determina que nenhuma reunião pode ser frustrada ou impedida se a mesma for avisada com antecedência a algum órgão competente, não restrito a Prefeitura, mas também órgãos como a Polícia Militar. Além disso, contaram com o apoio da Secretaria de Desenvolvimento Social e desenvolveram um aviso prévio, que explica basicamente o que é a Roda, a duração e a expectativa de público e a segurança do even-
Varal de desenhos expostos durante o evento possibilita a exibição de trabalhos autorais de novos artistas locais e apaixonados
to com a Polícia Militar. O apoio, por parte dos órgãos públicos, é escasso. Segundo Brenda Andrade, co-ganizadora, o apoio recebido por parte da Prefeitura acontece no Festival Anual, quando tentam conseguir os banheiros químicos e, em cinco anos, só conseguiram barraquinhas e módulos para a montagem do palco. O restante é conseguido através de patrocínios: “Com dois anos de existência, o coletivo de Uberaba tem palco toda sexta feira, além de equipamento de som e ilumina-
ção de primeira, montada e desmontada pela própria Prefeitura. Como um evento de quase dois anos de existência conseguiu isso? Nós, de quase seis, estamos onde estamos e não temos? A ajuda do setor público é importantíssima para nós.” De acordo com a assessoria da Funalfa, a ocupação das praças deve ser analisada pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Compac) em caso de serem áreas tombadas e pela Secretaria de Atividades Urbanas (SAU) em todos os casos.
Evento, realizado na Praça da Estação, busca reunir o máximo de pessoas, entre participantes assíduos e passantes
Mร DICOS DO BARULHO
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ANOS
Laura Sanรกbio
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“O palhaço não vem hoje?”
A
pergunta de dona Ana não foi feita em um circo, nem em um teatro. Da sala de hemodiálise do Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Juiz de Fora, ligada a aparelhos, a senhora procura pelo Palhaço Fuzil, que ali esteve no dia anterior. Fundador dos Médicos do Barulho, Amaury Mendes, 52 anos, decidiu há 20 anos que levaria alegria a pessoas hospitalizadas. De repente, surge o palhaço. E os servidores do hospital desafiam: “Duvidamos que você consiga tirar um sorriso hoje de dona Ana.” Não demora nem cinco minutos, e o sorriso vem. Sempre é assim, o jaleco branco ganha cor com desenhos bordados e espalha leveza em um ambiente de silêncio e quase sempre de tristeza. Na maleta do “médico”, o único remédio existente é o riso. Inspirado nos Doutores da Alegria, um grupo criado em São Paulo, em 1991, a trupe de Juiz de Fora tem muito o que comemorar nessas duas décadas de existência, completadas em agosto. Apresentando a “besteirologia”, os palhaços compartilham emoções e senti-
mentos positivos, que, comprovadamente, ajudam no tratamento médico. Aline Cristina Cunha, que participa dos Médicos do Barulho há quase dez anos, brinca que “caiu de paraquedas” na palhaçaria: “Eu sempre achei que, para ser palhaça, era só colocar um nariz vermelho, uma roupa colorida e uma maquiagem que chamasse atenção. Mas não é tão simples assim. Aos poucos, fui descobrindo essa arte maravilhosa que é a palhaçaria, que exige muito estudo e preparação técnica”. Quando Aline se mudou de Lima Duarte para Juiz de Fora, sentiu falta do trabalho voluntário que fazia. Cursando pedagogia, na época, ela se interessou pelo processo seletivo do projeto e, apesar de não ter experiência na área, topou o desafio. Para essa criação, é essencial que a pessoa chegue ao autoconhecimento, descobrindo suas potências. Aline fez diversos cursos em Juiz de Fora, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte para encontrar suas qualidades, mas, principalmente, seus defeitos.
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A construção de um personagem O Palhaço Fuzil, personagem de Amaury Mendes, surgiu dez anos antes da criação dos Médicos do Barulho. Poderia ser mais um caso de um jovem que entrou no mundo das artes por causa da timidez, mas a brincadeira virou coisa séria. Ele conta que começou a fazer teatro para “melhorar seu jeito”. Em sua primeira peça, seu personagem tinha um palhaço, mas não era um deles. Depois disso, não parou mais. Começou a fazer animação de festas infantis com uma outra colega. Sobre a escolha dos nomes, Amaury conta que eles surgem espontaneamente. No caso do Fuzil, ele conta como foi: “Eu ia fazer uma apresentação de teatro em um clube, aí não tinha nome. Eu era muito magro. O professor olhou para mim e falou Fuzil.
Aí agora o Fuzil virou canhão”, brinca. Lilica, por exemplo, foi o nome que Aline Cristina escolheu para sua palhaça. O apelido de infância dado pelo pai nomeia uma criança “sapeca”, de 5 anos, que usa tudo cor de rosa. Honrando seu nariz de palhaço, dado no dia do “batismo”, Aline se sente muito orgulhosa: “É uma condição divina que eu sei que poucas pessoas têm, de lidar com esse sofrimento alheio e levar um pouco de alegria, de arte e de cultura para esse público especial”.
Hospital Universitário e no Instituto Oncológico. Além disso, eles incentivam campanhas durante todo o ano, como a do Hemominas de doação de sangue e a do Dia da Crianças, para presentear meninos e meninas carentes. Nos 20 anos de palhaçaria, o fundador calcula que foram cerca de 600 mil pacientes assistidos, contando com visitas que fizeram ao Rio de Janeiro e a Belo Horizonte. Para dar conta de todo o trabalho, o grupo conta, nesse momento, com 156 voluntários, entre recreadores e palhaços, que se revezam para levar alegria a todos os quartos. Nem todos são palhaços, mas todos possuem a única caracAtualmente, a trupe faz visitas terística exigida: a vontade. Fuzil a crianças e adultos, de segunda a ainda explica: “A gente não exige quinta-feira, na Santa Casa de Mi- nada. A pessoa que se seleciona. sericórdia, nas duas unidades do Quanto mais ela visitar, mais ela
Os voluntários
FOTO: LAUEA SANÁBIO
Amaury Mendes, o Palhaço Fuzil, em visita ao setor de Hemodiálise do Hospital Universitário
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FOTO: LAURA SANÁBIO
vai estar sendo voluntária, porque ser voluntário é participar.” Luis Fernando Barros, que tem 21 anos e está desde março de 2015 no grupo, ainda completa: “A gente dá o caminho, quem tem que seguir é a pessoa”. Ele conta como surgiu o interesse pelo projeto: “Eu sempre tive muita vontade de ajudar as pessoas, mas não sabia como. Um dia, eu vi o filme do Patch Adams e me deu um clique porque eu já tinha visto os Médicos do Barulho. Aí eu perguntei para mim mesmo o porquê de eu não ter procurado até aquele momento. Pesquisei na internet e achei. Falei com o Amaury e estou aqui até hoje”, conta o jovem. O filme a que Luis se refere é Patch Adams - O Amor é contagioso, de 1998. Estrelado por Robin Williams, busca contar a história do médico que uniu, pela primeira vez, medicina tradicional e métodos de tratamento alternativos com palhaços.
Luis Fernando (à esq.), com Amaury e Carla, todos voluntários do projeto
Patch Adams
Quanto mais ela visitar, mais ela vai estar sendo voluntária, porque ser voluntário é participar.” Luis Fernando Barros, que tem 21 anos e está desde março de 2015 no grupo, ainda completa: “A gente dá o caminho, quem tem que seguir é a pessoa”. Ele conta como surgiu o interesse pelo projeto: “Eu sempre tive muita vontade de ajudar as pessoas, mas não sabia como. Um dia, eu vi o filme do Patch Adams e me deu um clique porque eu já tinha visto
os Médicos do Barulho. Aí eu perguntei para mim mesmo o porquê de eu não ter procurado até aquele momento. Pesquisei na internet e achei. Falei com o Amaury e estou aqui até hoje”, conta o jovem. O filme a que Luis se refere é Patch Adams O Amor é contagioso, de 1998. Estrelado por Robin Williams, busca contar a história do médico que uniu, pela primeira vez, medicina tradicional e métodos de tratamento alternativos com palhaços.
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A preparação Seguindo os conselhos de Adams, os Médicos do Barulho buscam deixar os problemas de lado para levar diversão aos pacientes. Luis Fernando conta que desde a primeira vez que ele entrou em um quarto de hospital, há um ano e meio, as mudanças vêm aparecendo: “A gente fala que tem que deixar tudo aqui na hora que sai, mas acaba que a parte boa a gente tenta levar para a vida. Porém, se a gente não vier preparado para a parte ruim, só vai entrar uma vez e nunca mais vai voltar”. Aline, que já tem mais experiência que Luis, diz que ainda faz uma preparação para cada sessão: “Quando eu comecei, há mais de nove anos, eu me envolvia muito com os pacientes. Eu chegava em casa com aqueles problemas e isso não estava
certo. Ao invés de eu estar aju- O próprio tempo ensina a lidar dando, eu estava carregando os com a situação. Lógico que tem problemas para mim. Com o situações que pegam de surprecrescimento, a experiência e as sa, mas é deixar a visita aconvivências você vai conseguindo tecer, cada dia um dia. Hoje foi separar os problemas do hospi- um dia diferente, amanhã vai tal dos pessoais”. Ela também ser outro, com certeza”. busca levar os pilares da palhaçaria para a vida: honestidade, leveza, generosidade, simplicidade e prazer passaram ser, além de valores de palhaço, uma filosofia de vida. Com 20 anos de carreira, Amaury está preparado para entrar em cena a qualquer momento: “Acredito que, no início do trabalho, eu me preparava mais. Agora, nessa altura do campeonato, já faz parte de mim. Palhaço Fuzil em sua preparação e em visita ao
Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora
FOTOS: LAURA SANÁBIO
Benefícios para a saúde
Maria Amália Garcia é pediatra da Santa Casa e acompanha os Médicos do Barulho desde as primeiras visitas. Ela conta que é perceptível a mudança no semblante de cada criança, que passa a se divertir: “Parece que, de repente, naquele lugar que
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tem dor, tristeza, preocupação, consegue ter um ambiente de tranquilidade, descontração, carinho e diversão. Depois que eles vão embora, a gente percebe que as crianças têm uma adesão melhor ao tratamento, como se elas tivessem mais tranquilidade.” A médica explica que o humor e o riso liberam endorfina, que ajuda na eficácia do tratamento. Pesquisas mostram que terapias coadjuvantes, principalmente em casos que envolvem dor, ajudam na melhora e na cura do paciente. Maria Amália ainda completa que, “como diria
Chaplin, o riso é contagiante, e é extremamente importante o humor, a felicidade e a alegria. É exatamente isso que eles levam a cada paciente dentro do hospital”.
Respeitável público José Luiz de Souza conheceu o projeto no ano passado, quando foi colocar um stent na Santa Casa. Atualmente, ele é paciente do setor de hemodiálise do Hospital Universitário e faz três sessões por semana. “ Quando eles chegam, todo mundo fica satisfeito, alegre. Tem gente que não gosta tanto de brincar, mas acaba brincando porque eles são engra-
çados. O tempo passa muito mais rápido”, diz. Ele conta, ainda, que a filha o acompanhava na cirurgia para colocar o stent e se sentiu tão alegre com a visita dos “médicos” que decidiu acompanhá-los no resto do percurso.
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
“O público do circo e do teatro vai para ver essa apresentação. No hospital, não. Somos nós que levamos o espetáculo para aquele público específico, que não estava esperando aquela palhaçaria dentro do quarto de hospital. Tem que ter um olhar diferenciado para aquele público que não escolheu estar aí”, diz Aline Cristina Cunha. Para conseguir encarar situações complicadas, os Médicos do Barulho utilizam a linguagem do olhar. “Estamos lidando com pessoas hospitalizadas em tratamentos dolorosos, repetitivos. Elas vão ficando cansadas, estressadas e com imunidade baixa, tendo que ter muita calma e paciência. A gente tem que ter isso também e, pelo olhar, dá para sentir o momento”, comenta Amaury. Os voluntários observam o lugar e as pessoas, sem forçar as brincadeiras. O importante é tentar modificar o ambiente com energias positivas. O público, bastante diversificado, responde de várias maneiras diferentes. Aline Cristina ressalta que as crianças, por exemplo, são muito sinceras, já que costumam dizer se estão gostando ou não. Ela ainda afirma que o retorno que os Médicos do Barulho têm também é bastante evidente. “É muito engrandecedor você receber um sorriso de uma criança, um desenho. Uma menina estava no CTI porque tinha passado por uma cirurgia delicada. Eu brinquei com ela e com a mãe e visitei o resto do CTI. Quando eu voltei, a menininha tinha feito um desenho para Lilica. Ela escreveu o nome e colocou um monte de beijos cor de rosa. É o tipo de coisa que eu carrego com muito carinho comigo. São histórias que me fazem muito melhor como pessoa e como profissional.”
Lilica com o desenho que recebeu de uma criança que visitou no hospital
Incentivos Em 2015, foi criada uma lei que obriga hospitais de Buenos Aires, Argentina, a oferecer visitas de palhaços, humanizando o tratamento com crianças doentes. Os chamados “palhaços hospitalares” são pessoas especializadas que desenvolvem atividades lúdicas em hospitais públicos provinciais e municipais, não sendo, necessariamente, médicos. No Brasil, foi criada, em 2003, a Política Nacional de Humanização. O Ministério da Saúde, através do Humaniza SUS, está buscando, desde então, propagar projetos que ajudem a amenizar os efeitos negativos de uma internação hospitalar.
Apesar de alguns grupos conseguirem apoio de outras instituições, os Médicos do Barulho, atualmente, encontram dificuldades para ganhar incentivos financeiros. Anteriormente, eles participavam da Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura, mas, há alguns anos, eles se mantêm através da organização de eventos. Na comemoração dos 20 anos, aconteceu um bingo para arrecadar fundos e, além disso, eles farão um piquenique para as crianças e um churrasco no dia 10 de dezembro, celebrando o Dia do Palhaço.
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O que existe por trás do nariz vermelho
FOTOS: LAURA SANÁBIO
“O palhaço é um sujeito que cai no chão, que tropeça, que se dá mal. Ele dá sempre com a cara no chão, e as pessoas riem justamente dos tropeços dele. O nariz vermelho é por causa do tombo no chão e do machucado de tantas vezes. Como ser humano, ele fica de pé e continua andando depois dos tombos. É um exemplo de superação que se assemelha ao que o homem é. Todo homem é um palhaço que toma seus tombos, que se machuca, mas no final das contas se levanta para erguer”, explica o psicólogo e palhaço Rodrigo Bastos. Depois de acompanhar mais um dia no hospital, pude perceber a grandeza de gestos mínimos. Mínimos no sentido da simplicidade, máximos no que diz respeito ao poder de estimular a felicidade. Por diversas vezes, confesso, quase troquei o sorriso, que os Médicos do Barulho oferecem tão facilmente, por lágrimas. Não de tristeza, mas de emoção. Uma sensação intensa que tomava conta de mim toda vez que ouvia algo como “a gente fica triste preso a uma máquina” ou “tenho que vir, não tem outro jeito”, mas que mudava um pouco quando escutava um “obrigado” ou “que Deus os ilumine”. E assim eu saí, iluminada e honrada por poder participar, mesmo que por pouco tempo, desse projeto encantador.
Médicos do Barulho em visita ao Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora
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De uma conversa de corredor, seis amigas decidem trazer projeto social voltado para idosos, para Juiz de Fora
PROJETO FLORIR Maria Fernanda Pernisa Pinto
Cidadania
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FOTO: DIVULGAÇÃO/ PROJETO FLORIR
aria Helena tem 68 anos, é divorciada e morava sozinha até o dia em que seus filhos chegaram em seu apartamento e a encontraram trancada em seu banheiro. Eles ficaram preocupados com a mãe, que tem Alzheimer, e resolveram levá-la para a Pousada Maria Veiga. É em lares como esses, cheios de idosos que querem carinho e atenção, que o Projeto Florir busca levar cor e alegria. Criado em São Paulo com o nome de Instituto Flor Gentil, o projeto foi trazido para Juiz de Fora por seis amigas de trabalho. Elas entraram em contato com o Instituto e foram incentivadas pelo mesmo a realizarem as ações aqui: ”Eles só nos pediram para que criássemos um outro nome. Assim, desde julho do ano passado, começamos a fazer as visitas. Nós pegamos doações de flores de decoração de festas e as rearranjamos para levar para os lares de idosos”, conta Joice Castilho, responsável pela comunicação. A jornalista conta que o projeto ganhou vida a partir de uma conversa de corredor entre as amigas de trabalho, que tinham vontade de encabeçar alguma ação social. Sabendo do Instituto Flor Gentil, elas decidiram fazer o mesmo em Juiz de Fora. Hoje, elas possuem uma lista de 16 instituições de idosos que aceitam receber as visitas. Além disso, elas contam com uma lista de 50 voluntários que se disponibilizaram a auxiliar na entrega. Joice, Maria Fernanda, Márcia, Danielle, Polliana e Lilian trabalham na Fiemg e viram no desperdício da decoração utilizada nos eventos do órgão uma fonte de material para as ações. As visitas ainda não possuem uma regularidade, dependendo do contato de possíveis doadores. Muitas noivas entram em contato
As realizadoras do projeto em JF: Maria Fernanda Quirino, Márcia Mendonça, Danielle Gerheim, Polliana Martins, Joice Castilho, Dayse Moraes e Lilian Jabour
dizendo ter interesse em doar as flores do casamento para o Projeto: ”O ideal é que falem conosco com um mês de antecedência à data do evento, pois precisamos fazer contato com as instituições para ver qual pode receber nossa visita e ainda temos que fazer o processo de triagem das flores. Nós buscamos no local do evento logo no dia seguinte, levamos elas para o Sesi Campestre, nosso único parceiro, que permite que usemos um espaço para esse processo de conferir as flores que estão boas e a remontagem dos arranjos. Nós criamos um arranjo para cada idoso da instituição”, explica. Juliana Marangon, fonoaudióloga, conheceu a ideia por meio da sua amiga que doou para o Florir em outubro do ano passado: “Achei legal a atitude dela e fui procurar informações na internet. Vi que eles recolhem as doações de flores de todos os tipos de evento e levam para lares de idosos, tentando alegrar um pouco mais a vida dessas pessoas. Enviei um e-mail perguntan-
do como fazia para doar, e elas me responderam bem rápido. Preenchi uma ficha sobre o local, data e o tipo do evento afirmando que estava doando as flores de livre e espontânea vontade, autorizando a retirada das flores. Assinei e avisei aos fornecedores do meu casamento que havia feito a doação e que elas iriam buscar o material. Foi bem tranquilo”, conta. Já Roberta Barreto possui um projeto social com as amigas em que elas recolhem doações em épocas festivas e, por isso, quando ela ficou sabendo do Florir, decidiu que iria doar os enfeites do seu casamento: “Vi o projeto às vésperas do meu casamento na televisão. Fui para internet pesquisar e fiz o primeiro contato. Me explicaram todo o procedimento e me disseram que minhas flores seriam doadas para a Fundação Espírita João de Freitas. Sou filha de pai solteiro, e a minha avó sempre ajudou a nos criar e, por isso, a chamo de mãe. Hoje, ela tem 84 anos e pensei que, por algum acaso, poderia
Cidadania
FOTO: CASAMENTO JULIANAMARANGON
FOTO: CASAMENTO ROBERTA BARRETO
ser ela na situação de alguma daquelas idosas. Fiz exatamente o que faria por ela, doei cor e amor para o ambiente delas”, conta a jornalista. Para as instituições, o momento de receber a visita traz muita alegria para o ambiente em um momento não muito fácil da vida: “Quanto mais atividades e eventos, mais eles esquecem dos problemas. Nós recebemos
visitas trimestrais do projeto e é sempre um dia muito bacana, de socialização. Lembro de um senhor que, ao receber as flores, chorou e disse que nunca tinha recebido nenhuma flor na vida dele. É isso, eles querem atenção, conversar, se sentirem ativos”, conta Henrique, da Pousada Maria Veiga. E é justamente isso o que Joice e as amigas querem levar: “Na maioria das vi-
sitas, temos uma recepção muito boa. Nem todos, no começo, querem receber as flores, À medida que a visita vai se estendendo, eles vão se abrindo. Lembro de um senhor no Abrigo Santa Helena que não conseguia se levantar sozinho, mas fez questão de receber as flores. Ao sentar e pegar o arranjo ,começou a chorar de felicidade. Acaba que, ao ir lá doar, a gente que recebe”, fi-
“No dia do meu casamento, pedi para que não levassem os arranjos, pois eles seriam doados para o Projeto Florir. Com a divulgação, minha prima também quis doar depois “, conta Roberta.
Juliana ficou sabendo do projeto através de uma amiga e decidiu doar as flores de decoração do seu casamento para o Projeto Florir.
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FOTO: DIVULGAÇÃO/ PROJETO FLORIR
FOTO: DIVULGAÇÃO/ PROJETO FLORIR
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Laerte Mendonça, morador da Pousada Maria Veiga, uma das instituições que recebe as doações.
Saiba mais FOTO: MARIA FERNANDA PERNISA
Polianna Martins e Maria Fernanda Quirino se conheceram no trabalho e hoje fazem parte de um grupo de seis amigas que formam o Projeto Florir.
Maria Mariza de Oliveira nasceu em Senador Firmino e ficou órfã aos 12 anos de idade. Sua mãe, Maria da Veiga Oliveira foi sua grande inspiração em causas humanitárias. Maria da Veiga teve 12 filhos, sendo seis homens e seis mulheres. Após o seu falecimento, a família resolveu mudar-se para São Paulo. Mariza tinha apenas 7 anos quando isso aconteceu. Logo teve que aprender a se virar sozinha. Formou-se em educação física e voltou para Juiz de Fora. Aqui, formou-se também em filosofia e se especializou em gerontologia. Por muito tempo, deu aula de recreação em casas de repouso e foi voluntária da Igreja do São Pedro durante oito anos. Depois de um tempo, Mariza decidiu ter o seu próprio espaço de cuidado com os idosos. Para ela, o importante era provê-los com um ambiente de casa de vó e que possibilitasse a socialização. “Engraçado que eu fui procurar uma mãe e achei várias filhas”, conta Mariza, ao relatar a sua relação com as senhoras da Pousada. “Minha mãe foi um exemplo de força e mulher guerreira. Aprendi a fazer as coisas por propósito, me perguntando o que eu posso fazer de bom por essas pessoas. Faço tudo com amor, astral bom para amenizar o sentimento de abandono e sofrimento”, conta.
Marketing Digital A revolução do consumo Cynthya Marangon
O Marketing Digital tornou-se a estratégia mais acessível e assertiva na conquista e fidelização de clientes. Empresas apostam em publicações patrocinadas, conteúdo informativo em blogs e plataformas de venda online para conquistar mais clientes e garantir o conforto do consumidor. Entenda quais são as estratégias mais rentáveis dessa nova face mercadológica.
Economia
A
internet revolucionou as relações interpessoais, reduzindo distâncias, possibilitando maior rapidez na troca de informações e flexibilidade na comunicação interpessoal. Era de se esperar que, tamanha revolução comunicacional beneficiasse os negócios e o comércio. Logo, as estratégias de marketing atingiriam o universo online, nascendo assim o conceito de marketing digital. O marketing digital é o conjunto de atividades que uma empresa executa online com o objetivo de atrair novos negócios, criar relacionamentos e desenvolver uma identidade de marca. Em 2016, já são mais de 95,4 milhões de brasileiros que têm acesso à internet em casa, como aponta a Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em abril deste ano. Logo, se os consumidores estão conectados, as marcas precisam estar online para garantir um alto índice de vendas. Portanto, é cada vez mais crescente o número de empresas que investem em presença nas mídias sociais. Entre as estratégias mais utilizadas, está o patrocínio de publicações no Facebook, a criação de contas no Instagram, Twitter, Snapchat e também a produção de conteúdo informativo para os clientes em blogs. De acordo com uma pesquisa realizada em janeiro de 2016 pelo Interactive Advertising Bureau (IAB Brasil), associação que reúne mais de 230 empresas dos diferentes segmentos do mercado digital, o investimento em mídia digital pelas empresas no Brasil têm previsão de crescimento de 12% neste ano, totalizando R$ 10,4 bilhões. Para Gihana Fava, sócia da 50
E-dialog Comunicação Digital, maior agência de marketing digital de Juiz de Fora, o marketing na internet é um investimento mais baixo e mais assertivo pelos empresários. “Os custos de uma inserção no intervalo comercial da TV ou até mesmo, no veículo impresso, é bem mais alto do que um investimento em mídia paga para Google e Facebook principalmente quando entendemos também que no marketing digital é possível criar uma segmentação altamente personalizada de acordo com o perfil do consumidor, o que torna o marketing digital mais assertivo”, ressalta. Outra vantagem de investir nas ferramentas de marketing “Antes de pensar em investir em conteúdo, anúncios em buscadores como o Google, vídeos interativos ou postagens patrocinadas, é preciso alinhar o discurso às expectativas do público, entendendo quais os anseios e necessidades dos consumidores da marca.” digital está no relacionamento entre a empresa e o cliente. Afinal, mesmo que uma empresa não tenha canais oficias de comunicação na internet, o público a todo momento poderá estar comentando, buscando interação ou até mesmo fazendo críticas à marca, em seus perfis pessoais. Logo, é imprescindível que as marcas estejam presentes nas mais diversas redes sociais. “Ter canais oficiais garante que a marca está aberta ao relacionamento em diversas frentes, potencializado o seu negócio, mostrando credibilidade, segurança e o posicionamento adequado ao público. Esse novo cenário demanda empresas mais transpa-
rentes e abertas a dialogar com as pessoas”, enfatiza Gihana.
Construindo uma boa estratégia
Para investir em marketing digital é necessário, primeiramente, conhecer o público com o qual se comunica. Antes de pensar em investir em conteúdo, anúncios em buscadores como o Google, vídeos interativos ou postagens patrocinadas, é preciso alinhar o discurso às expectativas do público, entendendo quais os anseios e necessidades dos consumidores da marca. Por isso, uma das ferramentas essenciais na construção de uma estratégia eficaz de marketing digital é a elaboração da persona. Persona é a representação fictícia do seu cliente ideal. Ela é baseada em dados reais sobre comportamento (idade, cargos, preferências) e características demográficas dos clientes, assim como uma criação de suas histórias pessoais, motivações, objetivos, desafios e preocupações. Uma persona é a criação de um personagem que represente, da forma mais fiel possível, o perfil do consumidor. Delimitadas as características do público-alvo, é imprescindível ter foco nos objetivos da marca. Portanto, os empreendedores devem entender qual o seu desejo primordial – se desejam fidelizar clientes, conquistar novos, consolidar sua marca como a melhor do setor ou garantir máxima presença no ambiente digital, por exemplo. Gihana ressalta que, além da atenção aos objetivos e à persona, é essencial realizar testes de interação. “Uma questão primordial para marketing digital também são os testes, por isso durante a execução de qualquer estratégia, deve-se anali-
“
Economia
Os custos de uma inserção no intervalo comercial da TV é bem mais alto do que um investimento em mídia paga para Google e Facebook - principalmente quando entendemos que no marketing digital é possível criar uma segmentação personalizada de acordo com o perfil do consumidor, o que o torna mais assertivo”. Gihana Fava, sócia da E-dialog Comunicação Digital
sar os resultados para entender o que mudar e o que otimizar para que as ações tenham mais efeitos”. Logo, para encontrar a melhor estratégia, uma empresa deve explorar as diversas mídias sociais, anúncios e conteúdos e entender quais artifícios geram maior engajamento e interação do público.
Mais do que interação, conteúdo
FOTO: REPRODUÇÃO/ROCK CONTENT
Uma das ferramentas de marketing digital mais assertivas e acessíveis às empresas atualmente é o Marketing de Conteúdo. Essa é uma tática para atrair clientes pela elaboração de conteúdo informativo e relevante. Enquanto no marketing tradicional é necessário ir até ao consumidor para puxar a sua aten-
ção, no marketing de conteúdo a lógica é oposta. O objetivo é oferecer ao leitor informação à respeito de um produto e serviço que ele deseja, mostrando, posteriormente como os serviços da empresa pode ajudá-lo. É no Marketing de Conteúdo que destaca-se o uso dos blogs e dos e-mail marketing, que corresponde ao envio de informações diretamente para a caixa de entrada dos clientes. Essa estratégia é a mais importante se uma organização deseja consolidar sua marca a menores custos: “A vantagem que essa ação representa frente às outras é que enquanto nos anúncios de performance o empresário precisará diretamente de um investimento para obter resultado, no Marketing de Conteúdo, a ideia é que ele alcance a médio/longo prazo
bons resultados de forma orgânica, ou seja, sem pagar para estar posicionado em um resultado de busca, por exemplo, e se tornar autoridade em determinado assunto”, enfatiza Gihana. Para que a estratégia de Marketing de Conteúdo seja eficaz, os empreendedores devem criar artigos para blog que respondam às dúvidas e fomente o desejo de consumo de seus clientes ou investir em dicas, via e-mail, para a resolução de problemas comuns do seu nicho de atuação. Para orientar o conteúdo a ser produzido, os empreendedores podem valer do Funil de Vendas. Essa ferramenta orienta a conquista do cliente em três etapas: atração, consideração e conversão. Entenda cada uma das etapas e em qual produto é ideal investir em cada uma delas:
O Funil de Vendas descreve os tipos de conteúdos a serem produzidos no Marketing Digital, em três etapas de conquista do cliente
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Economia
O crescimento e-commerce
do
Juiz de Fora e o Marketing Digital Na manchester mineira, o investimento por parte das empresas em marketing digital e no modelo e-commerce é crescente. Em destaque, podemos citar a marca de camisetas criativas Chico Rei e o gerenciador de motoboys TANAESCUTA. A Chico Rei surgiu em 2008, por meio de uma parceria entre dois estudantes de Artes e Design, que desejavam criar camisas com as quais o consumidor
FOTO: CYNTHYA MARANGON
Um dos fatores mais evidencia a solidez do marketing digital é o crescimento do modelo e-commerce. Esse sistema corresponde às chamadas “lojas virtuais”, ou seja, toda compra realizada virtualmente é feita por meio de um e-commerce. Esse tipo de comércio vem ganhando espaço, porque, além de ser capaz de formalizar processos e informações, é muito seguro, ágil e confortável para os clientes, que aproveitam melhor seu tempo, encontrando com mais facilidade o que procuram sem o mínimo de deslocamento. Estima-se que o mercado e-commerce vem crescendo 10% ao ano. De acordo com 34º Ebit WebShoppers, o principal relatório de vendas digitais no Brasil, no primeiro
semestre de 2016 as vendas pela internet alcançaram um faturamento de R$ 19,6 bilhões, o que representa um crescimento nominal de 5,2% na comparação com o mesmo período no ano passado. A maior participação nas vendas pertence às classes A e B.
A aposta no modelo e-commerce é crescente no cenário empreendedor de Juiz de Fora
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pudesse expressar sua personalidade e preferências culturais. Desde à fundação, o comércio dos produtos é feito exclusivamente, online. “Acreditamos que uma marca que está a apenas um clique de distância do cliente tem muito mais chances de se destacar. A principal vantagem é estar ao alcance de todos, 24h por dia. Nossos clientes se sentem em casa e mais livres para navegarem e escolherem os produtos com calma sem a pressão de um vendedor”, comenta Bruno Imbrizi, sócio da marca. A criatividade e o relacionamento despojado nas redes sociais, durante todos esses anos, contribuíram para que hoje a Chico Rei se tornasse o maior e-commerce de camisetas do país. Hoje, a empresa também vende por atacado para lojistas de todos os estados do Brasil. Há, atualmente mais de 400 multimarcas no país que revendem Chico Rei. A marca ainda conta com um quiosque no Independência Shopping, mas o potencial de vendas continua no e-commerce. Assim como Gihana Fava, os sócios afirmam que a mídia online é mais assertiva e acessível que o investimento em mídia tradicional. E o que garante tamanho sucesso nas redes sociais e no e-commerce é a consciência de que o e-commerce é um modelo competitivo e que os consumidores são exigentes. Logo, para se destacar, a Chico Rei aposta na criatividade, no relacionamento e em ações de marketing online para aquisição, retenção e fidelização de público, sempre com o objetivo de surpreender positivamente. “Nossa estratégia é o marketing de conteúdo com foco no público certo através da segmentação
Economia
FOTO: DIVULGAÇÃO/CHICO REI
de interesses que as plataformas nos permitem utilizar. Quando uma pessoa está no Facebook, por exemplo, ela está buscando relaxar e se distrair ao acessar conteúdos interessantes, divertidos e criativos. Por isso fazemos uma abordagem menos comercial, menos invasiva e mais atrativa mostrando produtos como forma de conteúdo e entretenimento, incentivando a interação e estabelecendo um contato com o cliente de forma muito mais próxima e pessoal”, enfatiza André Pereira,
André Pereira e Bruno Imbrizi, sócios da Chico Rei
sócio da Chico Rei. O diálogo com o cliente, segundo a Chico Rei, é fundamental para garantir a satisfação do consumidor e aumentar assim, a confiança e o hábito de comprar pelo e-commerce. “Nossa linguagem é sempre bastante descontraída e pessoal. O marketing de relacionamento é a base de todo trabalho que construímos com muito carinho diariamente. Trabalhamos com o desafio diário de unir moda e conceito em peças que caiam bem em qualquer ocasião. Acreditamos que ao surpreendermos um cliente com nossa qualidade, estamos também aumentando a confiança no e-commerce em ge-
ral. Quando alguém compra na Chico Rei e fala bem nas redes sociais, por exemplo, ela está beneficiando a todos que trabalham sério no ambiente online”, ressaltam os sócios Bruno e André. Já no setor mobile, uma das grandes novidades juiz-foranas é o TÁNAESCUTA. O aplicativo de smartphones é um e-commerce de serviços de entrega, pensado exatamente para as pessoas que desejam encontrar motoboys no dia a dia, mas que, muitas vezes não têm acesso à profissionais nas proximidades. Para Fabiano Nejaim, sócio do aplicativo, investir no modelo e-commerce garante o conforto dos clientes e reduz custos com espaço físico e pessoal. “Essa modalidade vem, a cada dia, ganhando mais espaço, devido à segurança e a formalização de processos e de informações, eliminando eventuais erros de exercício humano e expondo relatórios ricos para apreciação. O conforto, a velocidade e o poder de ter o mundo na palma de suas mãos, são fatores que encantam e impulsionam os usuários. Além desses fatores, seguem outros, no caso do comércio eletrônico que consideramos como empresários o corte de gastos com aluguel, eventualidades e mão-de-obra”. Mas não é só no e-commerce que investe o TÁNAESCUTA. Para conquistar mais usuários, os sócios apostam 80% de sua verba de divulgação em outras estratégias digitais, como o gerenciamento de mídias sociais. Hoje, o TÁNAESCUTA é cliente de uma das principais agências de Marketing Digital de Juiz de Fora, o Grupo Emedia. A empresa aposta em conteúdo informativo veiculado nas redes sociais, como Facebook e Insta-
gram. “No início acreditávamos que era de muita importância nossa presença nas mídias sociais. Hoje temos inúmeros relatórios que comprovam essa veracidade. Nosso retorno vem sendo medido com os resultados obtidos, sendo eles, sempre monitorados e readequados conforme os feedbacks recebidos. Observamos neste caso as informações como grande vantagem, diferente de outros práticas de comunicação, que ocorrem de maneira abrangente e pouco ponderada. Neste caso podemos comparar com uma panfletagem, onde essa comunicação é entregue individualmente, a um grande volume de pessoas que certamente não tem o interesse no seu produto/ serviço naquele momento. Diferente disso o mercado digital lhe permite ser mais assertivo”, enfatiza Fabiano.
Vem pro Digital Mas não é só o ramo do e-commerce que é o destaque em marketing digital em Juiz de Fora. No dia 22 de setembro, a cidade recebeu o primeiro e maior seminário de Marketing Digital e Vendas da Zona da Mata, o On Marketing. O evento, promovido pelo Grupo Emedia, reuniu cerca de 250 participantes, entre estudantes e empresários, durante o dia todo, no Premier Parc Hotel. Os palestrantes vinham das maiores empresas de Marketing Digital e Negócios do país: Breno Koscky, do Mercado E-commerce, Saulo Medeiros, da 5Seleto, Fabiano Cancela, co-fundador da Rock Content e Giovana Rebelatto, da Resultados Digitais.
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FOTO: AMANDA CORRÊA
Economia
Cerca de 250 empreendedores e estudantes participaram da primeira edição do On Marketing, no dia 22 de setembro, em Juiz de Fora
Durante mais de oito horas de evento, os congressistas puderam aprender mais sobre o crescimento do modelo e-commerce, o marketing educacional, que consiste nas estratégias de marketing digital voltadas às faculdades, os primeiros passos do marketing de conteúdo e o inbound marketing. Danilo Martins é gerente-comercial do Zine Cultural, maior portal de eventos da cidade e apontou a relevância do evento para o mercado regional: “Para nós que somos da área comer-
cial, a principal função desse evento foi nivelar um discurso de vendas. Catequizou o mercado de Juiz de Fora e são raras as oportunidades de encontrar um evento tão qualificado, um público tão interessado e uma estrutura diferenciada”. Para os estudantes, a oportunidade de aprender mercado digital também foi muito importante, uma vez que, nas salas de aula dos curso de comunicação, o assunto ainda é pouco explorado. “As palestras tiveram um conteúdo muito relevante
e eu acredito que o On Marketing foi um marco na história da comunicação digital aqui em Juiz de Fora”, ressalta Isabella Paiva, estudante de Jornalismo e estagiária de Atendimento da E-dialog Comunicação Digital. O Marketing Digital continua crescendo exponencialmente. Segundo a agência E-marketer, a previsão para 2017 é R$2,7 bilhões sejam investidos em publicidade em dispositivos móveis pelas empresas.
Marketing Digital em Juiz de Fora – Onde investir? E-dialog Comunicação Digital – www.edialog.com.br – R. Barbosa Lima, 322, sala 105, Centro Go! Mídia – gomidia.com.br – R. Evilásio Franco, 12, Quintas da Avenida Grupo Emedia – www.grupoemidia.com – R. Moraes e Castro, 725, 601, Alto dos Passos República Comunicação – www.republicanet.com.br – Av. Barão do Rio Branco, nº 5144, Passos
Quer saber mais sobre Marketing Digital? Assine as newsletters: Rock Content – www.rockcontent.com Resultados Digitais – www.resultadosdigitais.com.br 5Seleto – www.5seleto.com.br Mercado E-commerce – www.mercadoecommerce.com.br 54
Empreendedorismo a quatro patas Desde as pet shops com produtos exóticos até hotéis, creches e babás especializados em animais de estimação, os negócios voltados para os bichinhos emergem na cidade
FOTOS: LUDMILA AZEVEDO
Ludmila Azevedo
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cada animal”, continua. Apaixonada pelo trabalho, a Senhorita Patinhas se comove com as dificuldades de alguns dos bichos dos quais cuida. “Alguns animais têm problemas psicológicos e não podem ficar sozinhos. Outros são cheios de manias, como o Chico, um gato que se comportou de maneira oposta à que os donos descreveram. Cada um me marca de um jeito diferente”. Com capacidade para até 25 cães, o hotel Animundi tem grande lotação nos feriados. “Quando as famílias querem viajar e não têm com quem deixar os bichinhos, elas nos procuram”, comenta a veterinária Cláudia Galvão, proprietária do estabelecimento. “Recebemos cães e gatos, apesar de a procura para gatos ser um pouco menor. Os gatinhos ficam soltos em um quarto cheio de prateleiras, arranhadores, brinquedos, caixinha de areia, então eles ficam bem à vontade, como se estivessem em casa mesmo”. O hotel de Cláudia também funciona como pet shop, banho e tosa, clínica veterinária e creche canina. “Independentemente do tamanho do animal, cobramos a diária de R$ 50. Recebemos cães e gatos a partir dos quatro ou cinco meses, quando todas as vacinas já estão em ordem. Se houver alguma dúvida em relação à data em que o animal foi vermifugado, a gente oferece esse serviço na hora da entrada do animal, assim como o controle de pulga e carrapatos”, completa. “Sentimos falta desse tipo de serviço, já popular em outras cidades, em Juiz de Fora, e por isso resolvemos estender a clínica para hotel e creche. Deixar o animal conosco durante o dia, enquanto o dono trabalha, ajuda muito na socialização com os outros cães”. Laura Paes Leme, veterinária e
Raíra, a Senhorita Patinhas, se afeiçoou ao cachorro Samba, um de seus clientes
FOTO: ARQUIVO PESSOAL/RAÍRA GARCIA
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á algum tempo, as opções de negócios voltados para os bichos de estimação não se limitam aos pet shops com banho e tosa. A falta de um lugar para deixar o bicho de estimação trouxe iniciativas, como a criação de hotéis e creches e os “pet sitters”, serviços que estão crescendo e se especializando. Formada em comunicação, Raíra Garcia não quis trabalhar na área depois de formada. “Após um ano trabalhando com jornalismo, tive a certeza de que aquela não era a minha praia. Um dia surgiu a oportunidade de eu fazer uma viagem, mas eu não tinha ninguém para tomar conta dos meus bichos de estimação.”, lembra. “Como eu tenho muitos animais, sendo seis cachorros e três gatas, deixá-los em um hotel seria inviável, ficaria muito caro”. Como sempre gostou muito de animais, teve a ideia de trabalhar com eles. “Sempre quis ser veterinária, mas por questões particulares nunca me arrisquei. Quando precisei de um lugar para os meus bichinhos, pensei que deveria haver mais pessoas na minha situação, com muitos pets. Assim, inventei o nome de ‘Senhorita Patinhas’ e comecei a divulgar o serviço de ‘babá pet’. Fiz alguns cartões de visita e montei uma página no Facebook, e, dois meses depois, tive meu primeiro cliente”, conta. Priorizando a rotina do animal, a babá se oferece para ir à casa dos donos. “Ele mantém sua rotina em seu próprio ambiente. Cobro R$ 30 por dia a cada dois animais, independentemente de raça e tamanho. Para passar a noite, o valor é R$ 45. O mais comum é que eu durma e faça algumas visitas durante o dia, mas cada caso é um caso. Procuro atender às individualidades de cada dono e
FOTO: ARQUIVO PESSOAL/RAÍRA GARCIA
Economia
Haroldo foi o primeiro coelho atendido pela babá pet
Quando os donos não estão em casa, os animais passam o dia interagindo uns com os outros na creche canina
dona do Pet Spa, que atende apenas cães, ressalta que os animais passam o dia na creche, brincando ao ar livre, em contato com a natureza. “Durante a noite, cada um tem seu quartinho, que a gente chama de baia. Muitos donos levam pertences pessoais para ajudar na adaptação do bichinho, como a casa e a caminha. Ele passa as noites nesse ambiente nas épocas de maior frio, como agora, ficando sozinhos, a não ser que haja mais de um cão do mesmo dono que ele pede para deixar juntos”. A diária do estabelecimento varia de R$ 50 a R$ 70, de acordo com o porte do animal, enquanto a diária da creche, sem pernoite, varia de R$ 45 a R$ 55. Também é possível combinar pacotes na creche, que podem custar entre R$ 140 e R$ 500 por mês. “Separamos os animais de acordo com o comportamento”, prossegue Laura. “Temos cães grandes que convivem bem com pequenos, mas há quatro ambientes distintos para separar os que forem mais ariscos. Quando chega um cachorro novo, a gente pergunta
FOTO: SAMIR ALBERTO MOYSÉS
FOTO: LUDMILA AZEVEDO
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A cerveja para cães é um dos produtos curiosos oferecidos pela Animaniacs Pet Shop
ao dono sobre o comportamento dele, e, assim, a gente agrupa os cãezinhos. As fêmeas ficam junto com os machos, mas não permitimos a entrada de fêmeas no cio”. “É ótimo para o cachorro ter esse espaço para brincar e conviver com os outros animais. Temos 16 baias e pedimos que as vacinas e o controle de parasitas estejam em dia antes de aceitarmos o cão como hóspede”.
Novidades A Animaniacs Pet Shop procura atualizar seu estoque de acordo com as novidades do mercado. “Alguns produtos nós adquirimos apostando no inusitado, e outros de acordo com a procura de nossos clientes”, afirma Samir Alberto Moysés, sócio da loja. “A cerveja canina é bastante procurada sim por se tratar de um produto curioso. Sem álcool, o produto é vendido para satisfazer o dono, que quer compartilhar um momento de descontração com seu pet.” O estabelecimento tem outros produtos diferentes, voltados
para o bem-estar do animal. “Há um comedouro especial para o cachorro se alimentar mais lentamente e, dessa forma, evitar gastrite, torção no estômago e outras complicações. Existe também uma linha de tratamento em floral, 100% natural, que controla hábitos como estresse, latido excessivo e gravidez psicológica. O uso é via oral, e seu efeito demora em torno de dez a 15 dias para começar”, explica. Segundo o sócio da loja Animaniacs, o diferencial do pet shop é a orientação profissional no momento da compra dos produtos. “Procuramos sempre fornecer informações, explicando aos nossos clientes o diferencial de cada ração para cada tipo de cachorro ou gato. A cada dia que passa, há mais estudos para melhorar a qualidade das rações, com a retirada dos corantes que prejudicam animais que têm problemas de pele, por exemplo. Além disso, alguns fabricantes já estão retirando os produtos transgênicos pela possibilidade de câncer no animal”, conclui Samir Alberto Moysés. 57
O sonho que atravessa o oceano Franco Ribeiro
Desejo de atuar no continente europeu é grande entre a maioria dos jovens futebolistas do Brasil. Êxodo de jogadores tem reflexos diretos na Seleção
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Esporte
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m boa parte do século XX, o sonho de ser jogador de futebol para qualquer brasileiro poderia ser traduzido em vestir a camisa do clube de coração e ganhar vários títulos, sobretudo em cima dos rivais. Entretanto, a forte investida de times europeus e asiáticos vem alterando o pensamento dos jovens futebolistas. Na década de 1980, as equipes medianas da Europa, principalmente as italianas, vinham até o Brasil para contratar atletas consagrados e quase veteranos. Em 1983, Zico, com 30 anos, saiu do Flamengo para jogar pela Udinese-ITA. No ano seguinte, Sócrates, também com 30, foi para a Fiorentina-ITA, enquanto que Júnior acertou com o Torino-ITA. Já nos anos 1990, o perfil das transferências mudou. Os clubes europeus passaram a atrair os futebolistas que estavam no auge como, por exemplo, o meio-campista Raí, vendido ao Paris Saint-Germain-FRA logo após ser eleito o melhor jogador do Mundial Interclubes conquistado pelo
São Paulo em 1992. A virada para o século XXI provocou novas transformações no êxodo de atletas brasileiros. Nesse período, as principais equipes do mundo destinaram parte dos seus investimentos para a aquisição de jovens astros do Brasil. O Paris Saint-Germain-FRA acertou em 2001 com Ronaldinho Gaúcho que havia sido o artilheiro e melhor jogador da Copa das Confederações de 1999, além de ter ganhado a Bola de Prata da Revista Placar em 2000. Três anos mais tarde, o Milan-ITA levou o pentacampeão mundial e Bola de Ouro da Revista Placar de 2002, Kaká, para a “terra da bota”. Já o Real Madrid-ESP, tirou Robinho do Santos, após o atacante ser bicampeão brasileiro (2002 e 2004), melhor jogador do país (2002), Bola de Ouro da Revista Placar (2004), entre outras premiações. Nos últimos anos, com a intervenção de empresários, tem sido cada vez mais comum vermos jovens atletas saindo do Brasil antes mesmo de ter uma carreira consolidada no país. Alguns con-
seguem obter o sucesso, como o meia-atacante Philippe Coutinho, que, aos 18 anos, trocou o Vasco pela a Inter de Milão-ITA em 2010, e, atualmente, é o principal jogador do Liverpool-ING, além de ser frequentemente convocado para a Seleção Brasileira. Outro selecionável que seguiu para a Europa assim que atingiu a maioridade foi o zagueiro Marquinhos, do Paris Saint-Germain-FRA, que teve a Roma-ITA como porta de entrada. Por outro lado, a promessa da base são-paulina, Lucas Piazon, acertou com o Chelsea, também após completar 18 anos, em janeiro de 2012. Até hoje, o atacante não conseguiu ter uma sequência de jogos no time londrino, tendo, inclusive, reclamado de ser emprestado a diferentes clubes sucessivamente. No entanto, o grande exemplo de que nem sempre a chegada precoce às terras europeias é positiva é o caso do badalado menino Jean Chera, que trocou o Santos pelo Genoa-ITA com apenas 15 anos de idade e, após passar por diversas equipes, viu-se desempregado aos 21.
Principais expoentes de cada época do êxodo de jogadores para a Europa 1980
Zico foi para a Udinese com 30 anos
1990
Raí acertou com o PSG aos 28 anos
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Robinho mudou-se para Madrid com 21
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Coutinho chegou à Inter logo após atingir a maioridade 59
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23 dos selecionados foram para a Europa com no máximo 21 anos de idade. Brasil nas últimas De todos os convocados pelo Copas do Mundo treinador para integrar a SeleTotal de ção, dois não se profissionaliEdição atletas zaram em terras brasileiras. O zagueiro gremista Pedro Geromel saiu da base do Palmeiras, 22 10 12 1990 onde não era muito prestigiado, 1994
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1998
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2002 2006
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Marquinhos zagueiro 22 anos
Thiago Silva zagueiro 31 anos
Chegada à Europa (Clube/Idade): Roma-ITA/18 anos
Chegada à Europa (Clube/Idade): Porto-POR/20 anos
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O investimento dos estrangeiros nos futebolistas brasileiros é refletido diretamente na Seleção. Desde a Copa do Mundo de 1990, que a lista de convocados para esse torneio é formada, em grande parte, por atletas que jogam fora do país. Naquela competição, mais da metade dos representantes brasileiros atuavam em território estrangeiro. De lá pra cá, apenas na Copa do Mundo de 2002, ano em que a Seleção conquistou o pentacampeonato, que o elenco foi composto em sua maioria por jogadores de clubes do Brasil. Sob o comando do técnico Tite, que assumiu em junho deste ano e já fez duas convocações para as Eliminatórias da Copa do Mundo de 2018, o Brasil já teve 31 nomes chamados. Destes, 22 jogam fora do Brasil atualmente. Entretanto, o dado mais impressionante é o de que 60
e foi tentar a sorte no Desportivo de Chaves-POR que estava na segunda divisão portuguesa. Já o volante Paulinho iniciou a sua trajetória profissional aos 17 anos, no Vilnius da Lituânia. Confira abaixo quais jogadores já convocados na era Tite foram para a Europa com no máximo 21 anos:
Miranda zagueiro 32 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): Sochaux-FRA/20 anos
Dani Alves lateral 33 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): Sevilla-ESP/19 anos
Wendell lateral 23 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): Bayer Lev.-ALE/20 anos
Paulinho volante 28 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): Vilnius-LIT/17 anos
R. Augusto meia 28 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): Bayer Lev.-ALE/20 anos
Willian meia 28 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): Shakhtar/19 anos
Firmino atacante 25 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): Hoffenheim-ALE/19 anos
Geromel zagueiro 31 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): Chaves-POR/18 anos
Fágner lateral 27 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): PSV-HOL/17 anos
Casemiro volante 24 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): R. Madrid B-ESP/20 anos
R. Carioca volante 27 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): Spartak-RUS/19 anos
Oscar meia 25 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): Chelsea-ING/20 anos
Neymar atacante 24 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): Barcelona-ESP/21 anos
Gabriel atacante 20 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): Inter-ITA/19 anos
Marcelo lateral 28 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): Real Madrid-ESP/18 anos
Filipe Luís lateral 31 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): Ajax-HOL/18 anos Fernandinho
volante 29 anos
Chegada à Europa (Clube/Idade): Shakhtar-UCR/20 anos
Giuliano meia 26 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): Dnipro-UCR/20 anos
P. Coutinho meia 24 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): Inter-ITA/18 anos
D. Costa atacante 26 anos Chegada à Europa (Clube/Idade): Shakhtar-UCR/19 anos
G. Jesus atacante 19 anos Chegará à Europa (Clube/Idade): Man. City-ING/19 anos
Esporte
FOTO: FACEBOOK DE WENDEL LOMAR
Vivendo o sonho
A Zona da Mata Mineira também tem seus sonhadores. Dois jovens jogadores ligados a essa região completaram um ano de futebol europeu em meados de 2016. Um deles é o zagueiro Wendel Lomar, de 20 anos, que atua na terceira divisão francesa pelo AS Béziers. O atleta começou a Wendel Lomar posa com a camisa do sua trajetória no Sport Club de AS Béziers na apresentação oficial Juiz de Fora e, aos 13 anos, foi Saída do Brasil para o Fluminense. Em Xerém, “Os motivos que me fizeram conquistou diversos títulos das mudar para fora do Brasil categorias de base, inclusive o foram a oportunidade de viver mundial de clubes sub-19, en- o sonho de jogar na Europa frentando equipes como a Inter e de me profissionalizar. de Milão-ITA pela semifinal e Ao conversar com a diretoria do o Paris Saint Germain-FRA, na Fluminense sobre planejamento final. de carreira, foi informado que eu Na preparação para a Copa do não seria mais aproveitado pelo Mundo de 2014, Wendel foi um clube. A partir dessa conversa, fiz dos atletas da base tricolor que um vídeo com os meus melhores treinou com a Seleção Brasileira lances e publiquei no Youtube. na Granja Comary, em TeresóApós alguns dias, olheiros do polis. Em julho de 2015, após o Brasil ligados ao AS Béziers se fim do seu contrato com o clube interessaram pelo meu material carioca, o zagueiro acertou com e entraram em contato comigo o Béziers-FRA (clube onde ese com o clube, que aprovou o treou profissionalmente). Outro jovem oriundo da Zona vídeo e me enviou uma proposta da Mata é o centroavante Ronan de contrato. Analisei calmamente David (21 anos), do Rio Ave- com minha família e decidi viver -POR. Natural de Tocantins- meu sonho na França.” -MG, Ronan esteve, dos 11 aos 18 anos, na base do Fluminense. Reação da família “Foi uma mistura de alegria e Também passou pelo Grêmio, clube no qual fez sua estreia preocupação. Alegria pelo fato profissional sob o comando do do reconhecimento e aposta em uma carreira promissora, já que técnico Luiz Felipe Scolari. Em 2015, após quase dois anos muitos atletas na minha faixa de inatividade devido a proble- etária começam a tomar outros mas contratuais, Ronan acertou rumos diferentes do futebol sua ida para o Sanjoanense, da pela falta de oportunidade e terceira divisão portuguesa. até mesmo pelas dificuldades Após marcar 7 gols em 19 jogos de obter um empresário pelo time de São João da Ma- para assessorar a carreira. A deira, o atacante foi contratado preocupação foi devido ao pelo Rio Ave, da Primeira Liga choque de cultura, idioma e de Portugal. A Periscópio con- convívio social, principalmente versou com os dois atletas. por conviver com um tipo de sociedade conservadora e sem
o calor humano que temos no Brasil.” Principais dificuldades “Para mim, é difícil falar o francês e me expressar com as pessoas sem saber falar a língua. Mas a maior dificuldade foi a saudade da família, da namorada e dos amigos. Quando passamos por algum momento de dificuldade, não temos ninguém mais íntimo para desabafar, a não ser Deus e você mesmo. Apesar disso, não passei por grandes problemas, pois tive muita ajuda de outros brasileiros que já jogavam na França e falavam o idioma. Qualquer coisa que eu precisasse, recorria a eles.” Moradia “A questão da moradia foi resolvida antes mesmo de vir para França. Na proposta de contrato, o clube disponibilizou um apartamento pra mim." Diferenças no jogo “As principais diferenças entre a França e o Brasil dentro de campo são que o futebol francês é mais pegado, intenso, dinâmico, de muita força física e de uma exigência tática maior dos jogadores do que o futebol brasileiro. O futebol brasileiro é mais técnico, um pouco menos dinâmico, tem mais jogadas ousadas e bom improviso.” Comprometimento de clubes e jogadores “Os clubes franceses, antes de iniciar a temporada, precisam enviar o orçamento da temporada inteira para a federação francesa. Se o orçamento não estiver de acordo com as pendências a serem
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Esporte
Inspiração em atletas da Seleção de 2014 que foram jovens para a Europa “Para trocar seu país de origem por um desconhecido em busca do seu sonho, sem a companhia da família ou alguém que desejaria, é preciso força de vontade! Eles conseguiram, superaram os obstáculos, venceram e alcançaram os seus sonhos. Por isso, eles são motivos de inspiração pra mim, a não desistir do que estou vivendo e me manter focado na realização do meu sonho!” Futuro “Quero concretizar o sonho de me tornar um jogador de alto nível. Jogar os principais campeonatos nacionais e internacionais, como a Champions League, e fazer uma carreira sólida e de sucesso na Europa!” Conselho para os jovens “Queria dizer a toda garotada que sonha em ser jogador de futebol que nunca desista dos seus sonhos. Dediquem-se ao máximo nos treinamentos de passe, domínio, cabeceio... Parece bobo, mas os fundamentos são a base do futebol. Esteja sempre preparado e não se compare aos outros, pois cada um tem o seu momento. Se não chegou ainda, continue trabalhando porque vai chegar!”
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Em 2016, Ronan acertou um contrato de 4,5 temporadas com o Rio Ave
FOTO: FACEBOOK DE RONAN DAVID
pagas, o time cai de divisão. Por isso,tive salário atrasado aqui! O comprometimento dos atletas com os treinamentos é maior do que no Brasil. Aqui, temos folga durante a semana que tem jogo. No Brasil, se tu der folga numa quarta-feira, tendo jogo na sexta, alguns jogadores ‘quebram tudo na noite’.”
Mudança para o Velho Continente “Hoje em dia, o desejo de qualquer jogador brasileiro é atuar na Europa, e eu também sempre tive essa vontade. Fui procurado por empresários portugueses com boas propostas e projeto a longo prazo que me encorajaram a seguir o sonho de jogar na Europa e vir para Portugal.” Terceira divisão como porta de entrada “Escolhi o Sanjoanense devido ao projeto apresentado pelo clube e pelo empresário responsável pela transação. Eu estava há muito tempo sem jogar, estive quase dois anos parado. Então, foi importante fazer a escolha por um clube de escalão inferior, onde teria muito tempo para trabalhar e me condicionar novamente.” Dificuldades no primeiro ano de Europa “A minha maior dificuldade é a intensidade do jogo, pois, como sou um jogador muito alto (1,95m), tenho problemas para me condicionar. Acho que ainda vou precisar de um tempo para atingir um ritmo competitivo alto e dar o melhor de mim.” Moradia “Quando vim para o Sanjoanense, dividia apartamento com
outros jogadores, quatro brasileiros e dois colombianos. Era um clube pequeno, nos dava boas condições, mas não tinha tanto dinheiro. Já no Rio Ave é um pouco diferente. É um clube estável, que não tem tantos problemas financeiros. Aqui, tenho apartamento, carro e tudo que preciso.” Diferenças no jogo “Futebol é igual em qualquer lugar do planeta (risos)! O futebol europeu é mais rápido que o futebol brasileiro. Aqui, você não tem muito tempo para pensar e tem sempre que estar disponível para o jogo.” Momento marcante “Em 2014, tive a oportunidade de trabalhar com o Felipão no Grêmio. Ele tinha acabado de sair da Copa do Mundo e, para mim, foi maravilhoso trabalhar com ele, receber elogios e conselhos que vou levar para toda vida.” Objetivos “Tenho muitos, nem sei se vou ter tempo de realizar todos! A princípio, quero ter mais estabilidade, preciso me afirmar e ter maior reconhecimento. E depois, continuar trabalhando para alcançar meus sonhos: jogar em um grande clube da Europa e chegar à seleção. Tudo é possível!” Recado para os mais novos “O que eu sempre digo para os mais jovens é para nunca desistirem dos seus sonhos. Por mais difícil que seja, acredite sempre! Tudo na vida tem uma recompensa, assim como tem um preço a pagar. Trabalhe, trabalhe, trabalhe e acredite sempre em si. Se houver 1% de chance de acontecer, não desista!”
FOTO: MATHEUS SOARES
Periquito centenário
Matheus Soares
Sport completa cem anos com desafio de conseguir auto de vistoria do corpo de bombeiros para realizar obras na sede em prol dos sócios. Torcedores pedem retorno ao nível profissional com o desejo de ver o clube voltar aos tempos de glória no esporte 63
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ram o então presidente da Câmara Municipal, José Procópio Teixeira – que dá nome ao estádio do clube -, que alugou um terreno de sua propriedade próximo ao Largo do Riachuelo. Em uma assembleia, decidiu-se trocar o nome da agremiação. Nascia assim o Sport Club Juiz de Fora.
Presidente cita dificuldades financeiras como empecilho para que o clube retorne ao futebol profissional
FOTO: MATHEUS SOARES
de quando o Sport disputava o vôlei, o basquete. Não tivemos como fazer, pois pegamos um clube que ainda tinha dívidas com terceiros, pagamento de fornecedores atrasados. Nós temos projetos sociais, concedemos bolsas. Temos que incrementar a questão das escolinhas.” Felipe Mendes Garcia de Oliveira joga na equipe sub-22 do JF Celtics, time de basquete do Sport, e é um exemplo da importância das escolinhas. “Comecei a treinar aqui aos 11 anos. Disputamos campeonatos aqui em Juiz de Fora e em outras cidades. Jogamos Campeonato Mineiro, outros torneios no Rio de Janeiro. Desde sempre gostei do basquete e decidi vir treinar no Sport por conta própria”. Fundado no dia 24 de setembro de 1916, o clube surgiu a partir da Sociedade Recreativa Comercial Clube. Mais tarde foi criado o departamento esportivo que recebeu o nome de Sociedade Esportiva Comercial Clube. Sem uma sede, os dirigentes procura-
FOTO: MEMÓRIA MÁRCIO GUERRA
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em anos não são cem horas, nem cem dias. Não se constrói um presente e nem pensa num futuro se não tiver um passado.” A frase é do atual presidente do Sport Club Juiz de Fora, Jorge Ramos, que está no comando do clube no biênio 2015/2016. Nestes cem anos, o clube já viveu momentos de glória no futebol e vôlei, inclusive com conquista de medalhas nacionais nos tempos áureos. Hoje uma das frustrações dos sócios e torcedores é a inexistência das equipes profissionais. Um dos motivos é a falta de patrocínio. Jorge Ramos ressalta as dificuldades financeiras e a importância de se investir em outros esportes, além de dar atenção aos jovens. “A gente vê o Tupynambás tentando voltar, o Tupi tendo dificuldades com patrocinadores. Se não tiver recursos financeiros, você não consegue chegar. O futebol profissional é muito difícil. Precisamos vocacionar o esporte. Tenho saudade
Com o Tupi disputando o Campeonato Brasileiro da Série B e o Tupynambás buscando o retorno à elite do futebol mineiro, torcedores criam expectativa para que o Periquito da Avenida monte uma equipe profissional
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Se por um lado montar um time profissional é uma tarefa complicada para o clube atualmente, em outros tempos o Sport se destacava dentro das quatro linhas. “A inauguração do Estádio Radialista Mario Helênio com a vitória de 2 a 0 em cima do Tupi foi muito marcante. É sempre muito bom ganhar do seu maior adversário, por ter sido na inauguração do estádio, foi um momento mais especial ainda”, lembra Márcio Guerra, professor da Comunicação na UFJF e torcedor fanático do Periquito da Avenida desde criança. Quando
“
perguntado sobre o que gostaria de ver no clube daqui pra frente, Márcio é enfático: “O retorno ao futebol profissional o mais rápido possível!”.
Seu Caputo
Ex-dirigente do clube, Márcio Guerra se recorda de uma figura de extrema importância para o Sport: o ex-presidente Francisco Queiroz Caputo. “Foi muito importante para a história do Sport. Está no Guiness Book como o presidente com mais tempo em exercício à frente de um clube (foram 52 anos
na direção do Sport). A morte do Seu Caputo me marcou bastante. Ele foi velado na sede do clube. Antes de morrer, ele fez um pedido: que dessem uma volta com seu corpo no entorno do campo do Estádio Procópio Teixeira. A arquibancada estava lotada, com todo mundo aplaudindo de pé. Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida.” Ligado ao clube como torcedor, dirigente e jornalista, Márcio Guerra irá lançar, ainda este ano, um livro com fotografias que contam a história do Sport Club Juiz de Fora.
A morte do Seu Caputo me marcou bastante. Ele foi velado na sede do clube. Antes de morrer, ele fez um pedido: que dessem uma volta com seu corpo no entorno do campo do Estádio Procópio Teixeira. A arquibancada estava lotada, com todo mundo aplaudindo de pé.
FOTO: ARQUIVO/MEMÓRIA MÁRCIO GUERRA
Márcio Guerra - Torcedor e ex-dirigente do clube
Ex-presidente, Seu Caputo ficou no comando do clube por 52 anos, se tornando o dirigente que ficou por mais tempo à frente de um clube. Seu corpo foi velado na sede social do clube
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Esporte
FOTO: MEMÓRIA MÁRCIO GUERRA
O auge: bicampeonato mineiro de vôlei feminino
Sport conquistou o Campeonato Mineiro de maneira inédita em 1983 contra o Minas Tênis Clube
No livro de Márcio Guerra com certeza haverá fotos de um momento de grande orgulho para o Sport Club Juiz de Fora: o bicampeonato mineiro de voleibol feminino. Hoje professor, Márcio cobria os jogos como repórter ao lado do locutor Cláudio Temponi na antiga emissora de rádio PRB3. A ex-oposto e atual treinadora das divisões de base do vôlei feminino no Sport, Carla Caniato, relembra seu início nas quadras quando criança até chegar aos títulos com o Sport, quebrando a hegemonia do Minas Tênis Clube. “Sempre fui muito moleca, brincava na rua em que eu morava em Santa Terezinha, onde havia muitos meninos. Estudava no colégio Tiradentes e nas aulas de educação física tinha um professor que era sargento. 66
Ele me via jogando e achava que eu tinha potencial para jogar voleibol, assim, ele incentivou a mim e a minha irmã a treinarmos no Sport e fomos quando eu tinha 11 anos. Começamos sendo treinadas pelo Gil Barrote, mais tarde tivemos como técnico o Inaldo Manta, que foi o período em que chegamos ao auge no Sport”. Carla se recorda da parceria do time com a Cia. Mineira de Refrescos (Coca-Cola), que possibilitou a formação de uma equipe muito forte, que culminou nos dois títulos mineiros em 1983 e 1984. A equipe tinha Inaldo Manta como treinador e André Muzzi, que atualmente também treina as jovens do Sport, como auxiliar-técnico. “Foi muito interessante porque uma das nossas jogadoras,
a Wania da Silva Alves, que era levantadora da equipe, estava paquerando um dos diretores da Coca-Cola. Como ela estava jogando aqui, acabou influenciando-o a patrocinar o vôlei do Sport. Com esse apoio, fomos bicampeãs mineiras, além de termos ido muito bem no Campeonato Brasileiro, ficando duas vezes em quinto lugar. Nós treinávamos muitas horas por dia, cerca de oito horas. O diretor pegou as jogadoras reservas de grandes clubes e trouxe para Juiz de Fora. Tudo aconteceu no tempo certo: as meninas certas, a diretoria certa, os treinadores certos. Deu tudo certo por causa disso, todo mundo queria o mesmo objetivo, isso foi muito legal. As reservas que vieram de fora não tinham a noção do que era o Sport Club Juiz de Fora,
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voleibol aqui em Juiz de Fora com a entrada do patrocínio da Coca-Cola porque a gente é conhecido a nível nacional. Tem que valorizar muito esse centenário, não é qualquer um que consegue isso. Nós somos mais velhos que o Cruzeiro. Essa é uma data muito importante. Quando digo que ficamos conhecidos nacionalmente, é porque saíram cinco jogadoras para a Seleção Brasileira daqui, e foi o André que treinou essas jogadoras. A própria Márcia Fu, medalhista olímpica, saiu de dentro da nossa escolinha. Então isso é muito gratificante, sabendo que tem um profissional gabaritado para trabalhar. Só o que a gente não tem é patrocínio. Se a gente tivesse um empresário grande daqui que investisse no vôlei, não digo nem em alto rendimento, mas para fazer escolinha de base e ir crescendo, ajudaria muito”.
FOTO: ARQUIVO PESSOAL/WANIA SARMENTO
como eu e o André tínhamos, grupo do Apogeu não acontece pois fomos praticamente cria- isso porque elas têm bolsa de dos aqui dentro”. estudo, ninguém paga para estudar, por isso elas têm obrigaFalta de recursos gera ção de vir treinar. Se não fosse dificuldades por isso, os pais já teriam tiraSe o vôlei feminino do Sport do elas daqui. Como não temos já viveu grandes momentos no patrocínio, espelho, nem nada, passado, hoje enfrenta muitas elas irão optar logicamente pelo dificuldades e possui uma ca- estudo. Tem menina aqui que tegoria de base que sobrevive mora na Barreira do Triunfo, através de uma parceria com o vem aqui e fica a tarde toda, não colégio Apogeu. “Hoje passa- tem condição de lanchar. Antimos muito aperto porque não gamente era muito mais fácil, temos patrocínio de ninguém. mais barato. Não é todo pai que Temos que correr atrás de al- tem dinheiro para bancar todos guém que possa nos patrocinar os dias, cinco vezes na semapara irmos para um torneio. Na na.” Tendo jogado dos 11 aos 32 época da Coca-Cola, tínhamos anos de idade no Sport e agora 300 crianças aqui dentro, por- atuando como treinadora, Carque havia um espelho, um time la Caniato fala do centenário do profissional”, afirma Carla. “A clube e reafirma a importância nossa maior dificuldade está de apoio para que o voleibol sendo porque, quando os ado- do Periquito da Avenida volte lescentes chegam ao ensino mé- a crescer. “Para nós, o centenádio, abandonam o vôlei para se rio é muito importante, eu e o dedicar aos estudos. Claro que André fazemos parte disso. O esse é um pensamento que vai Guilherme Sarmento deu uma de acordo com os pais. Com esse alavancada muito grande no
Carla Caniato, (na fileira da frente, primeira da direita pra esquerda), diz que falta de apoio prejudica e faz com que as jovens se afastem do voleibol optando pelos estudos
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FOTO: MATHEUS SOARES
Clube busca auto de vistoria para retomar eventos na sede social
Para atender melhor os sócios e gerar receita com eventos, clube necessita de auto de vistoria do Corpo de Bombeiros
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oje, ao completar cem anos de existência, o clube busca retomar sua tradição como referência esportiva na cidade. Para isso, é necessário deixar as dependências em bom estado para os sócios, segunda afirma o presidente. “Temos que manter o nosso maior matrimônio, que são os sócios, os funcionários, os parceiros. Temos que deixar o clube em condições de uso para os sócios, pois são eles que mantêm o nosso patrimônio. Além disso, temos de honrar todos os nossos compromissos. Estamos muito tranquilos em termos financeiros, mas não está sobrando. A única pendência que não é da nossa administração -, é uma dívida com a Fazenda Nacional, que, a meu ver, é impagável. Está na ordem de R$ 4,5 milhões.” 68
Para que a sede fique em melhores condições, é preciso a avaliação do Corpo de Bombeiros, para que sejam feitas as obras necessárias em prol do espaço físico do clube. “O nosso grande desafio é a realização do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). O projeto já está pronto e está em uma segunda fase junto ao Corpo de Bombeiros. Isso dá a condição de fazer o uso de todas as instalações: fazer eventos, aluguel de ginásio, promover campeonatos”, explica o presidente. “Temos que buscar parceiros, mas para isso, temos que ter a vistoria dos Bombeiros. Já tivemos grandes eventos aqui, como show do Roberto Carlos, mas sem o AVCB, não podemos fazer. O nosso grande compromisso é deixar o projeto do AVCB pronto para iniciar. ”
coluna - Sport em números 100 anos completou o periquito da avenida 1916 foi fundado o sport clube juiz de fora 52 anos francisco queiroz caputo ficou na diretoria do clube 1983 vôlei feminino conquista campeonato mineiro inédito sobre o minas tênis clube 2 títulos mineiros conquistados pelo clube (1983 e 1984) 1987 o sport disputou a primeira divisão do campeonato mineiro de futebol
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EvoĂŠ!: a visibilidade do teatro juiz-forano Caio Gonzaga e Luiza Dias
Palco do Fórum da Cultura. Casa de atividades do Grupo Divulgação há anos.
Cultura
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ção pela qualidade. A consolidação dessas produções ocorreu, principalmente, em 2001, com a vinda do musical Les Misérables para São Paulo. A peça teatral é baseada no romance francês homônimo de Victor Hugo. Em março de 2016, uma produção de destaque, também vinda da Broadway, foi Wicked. O musical, que ainda está em cartaz no Teatro Renault, conta a história das Bruxas de Oz, da história infantil O Mágico de Oz. A produção é a mais lucrativa da história da Broadway, batendo a famosa Rei Leão. O musical é uma das maiores produções já vistsa no país, já tendo faturado mais de 3.9 bilhões de dólares ao redor do mundo. Com as músicas adaptadas para o português, a peça conta com um elenco de peso e patrocínios milionários. Mas o que acontece com as produções independentes nacionais que não têm acesso a patrocínio ou qualquer outro tipo de incentivo cultural? Elas existem e resistem, e é possível encontrá-las no interior de Minas Gerais, em Juiz de Fora.
Curiosidades Wicked - Foram utilizados 115 quilos de gelo seco por show na Broadway. Provavelmente, usarão 90 quilos por show na estrada. - O departamento elétrico usa eletricidade suficiente para abastecer 12 casas, aproximadamente. Se forem incluídos os departamentos de som e automação, esse número sobe para 18 casas. - Mais de 300 metros de cabo de aço são usados para o voo do macaco alado durante um ano de temporada na Broadway. - A preparação das máscaras dos animais leva de 2 a 3 horas, e a pessoa perde a maioria dos seus sentidos (olfato, visão, audição e fala) durante esse período. - Há 179 diferentes tipos de acabamentos de couro usados em sapatos, luvas, chapéus e cortes de figurinos para WICKED.
FOTO: DIVULGAÇÃO/T4F
uando o teatro começou no Brasil, no século XVI, o seu intuito era completamente diferente do que estamos acostumados a ver hoje nos palcos. Inicialmente, era utilizado como forma de catequização. Com a chegada da família real no país, foi estabelecido que grandes teatros deveriam ser construídos para que a nobreza tivesse uma forma de diversão. A partir daí, o teatro começou a tomar a forma que conhecemos. Os grandes espetáculos vinham de fora do país, como ainda acontece hoje em dia, mas, com o passar dos anos, companhia teatrais unicamente brasileiras foram formadas, e o teatro brasileiro nasceu. Hoje, o teatro ocupa as noites com grandes e pequenas produções em grandes ou pequenas cidades, mas ainda assim, seu público é restrito. Há um crescimento na divulgação dessa arte pelo país, principalmente em metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo. Essas capitais têm investido em produções vindas de fora do país, de lugares, como a Broadway, em Nova York, que chamam aten-
O musical Wicked estreou no Teatro Renault em São Paulo, em março de 2016 e continua em cartaz até dezembro
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Cultura
É muito trabalho, muita dedicação, muito estudo, e muito amor pelo teatro. Precisamos ter uma crença de que o teatro ainda pode fazer diferença na vida das pessoas e na nossa individualmente também.
O teatro juiz-forano na década de 1980 foi caracterizado pela censura da ditadura militar e pela descoberta de espaços alternativos para as apresentações. Com o fim da censura, começaram a surgir grupos voltados para o besteirol e uma série de autores que se firmaram. As pessoas passam a relaxar em relação à crítica e à ditadura e começaram a contar mais histórias. Esse foi um tempo de solidificação para o grupo de teatro mais tradicional da cidade: o Divulgação. Formado por professores e acadêmicos, o Grupo Divulgação é um núcleo de ensino, pesquisa e extensão em artes cênicas. Nascido em 1966, o grupo se organiza em três núcleos básicos de produção de espetáculos: o de universitários, o de secundaristas e o da terceira idade. O grupo de teatro possibilita a difusão de conhecimentos e a extensão de uma vasta produção teatral junto às comunidades, visando a inclusão social e a construção de cidadania. Há 50 anos o “GD”, como é apelidado, desenvolve um trabalho em prol da cultura e do teatro da cidade e, neste ano, recebeu uma medalha do Mérito Legislativo, honraria oferecida pela Câmara Municipal de Juiz de Fora. A comemoração dos 50 anos da companhia contou com uma programação especial no mês de julho, recheando a agenda do Fórum da Cultura com apresentações
Márcia Falabella, atriz
inéditas e também um roteiro de visitas pela cidade. Márcia Falabella é atriz há 29 anos no Grupo Divulgação, com participação em mais de 60 espetáculos e atua também como professora há 20 anos na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Segundo ela, o sucesso e a longevidade do grupo não têm segredo ou receita mágica. “Muito trabalho, muita dedicação, muito estudo, muito amor pelo teatro. E uma crença de que o teatro ainda pode fazer diferença na vida das pessoas e na nossa individualmente também”. Marcinha, como é chamada, vê com bons olhos as megaproduções de teatro no Brasil, como o caso do musical Wicked. “É produto do tempo. Do mundo globalizado, da cultura intermidiática, da diluição das fronteiras. Acho que dá a chance de quem não pode, por exemplo, ir à Broadway, de assistir a grandes produções”, compara. Segundo ela, o teatro em grandes centros não já não anda tão bem. Os espetáculos ficam menos tempo em cartaz, as apresentações acontecem em poucos dias da semana, houve uma queda de público e patrocínio, com algumas exceções. “O teatro é uma atividade com fins lucrativos, salvo para os grupos amadores. Portanto, para quem quer sobreviver de teatro, é preciso criar uma infraestrutura para que as coisas aconteçam. E
isso não é fácil!”, desabafa. Juiz de Fora não tem um histórico de patrocínio à cultura. “A Lei Murilo Mendes ainda tem sido um respiro para diversas produções. Mas é muito pouco”. Apesar dos pesares, as artes cênicas na cidade vêm crescendo e se desenvolvendo. A inauguração de um novo espaço, o Teatro Paschoal Carlos Magno, traz mais expectativas para o setor. A obra ficou paralisada por quase três décadas, mas foi retomada no último ano. O local vai abrigar um teatro com capacidade para 400 lugares e opções como galeria de arte, anfiteatro, espaço para ensaios e bar, entre outros. Em Benfica, na Zona Norte, um novo teatro também está funcionando. Há o curso de Produção Teatral, na Faculdade Machado Sobrinho. “Acho que tudo contribui para o crescimento da atividade teatral na cidade. Entretanto, ainda falta trabalhar mais a formação de público. Não é fácil fazer teatro!”, afirma Márcia. No ano passado, ela lançou o livro “Théâtre du Soleil e Grupo Divulgação – A aventura teatral possível”, que registra a história do Divulgação. A ideia de escrever o livro surgiu em 2000, quando conheceu o Théâtre Du Soleil no Encontro Mundial de Teatro. Márcia ficou fascinada com o trabalho, pois percebeu que a preparação, a vivência e o cotidiano do Soleil era muito parecidos com a realidade do Divulgação. 73
Cultura
FOTO: CAIO GONZAGA
"A Casa do Caminho" realiza reuniões públicas duas vezes por semana, sobre o estudo do Espiritismo
Produções independentes em Juiz de Fora
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FOTO: LUIZA DIAS
Juiz de Fora tem uma grande tradição no teatro com o Grupo Divulgação, porém existem diversos outros grupos teatrais na cidade, cada um com suas características únicas. Álvaro Dyogo, Taysa Ferreira e Yago Navarro são jovens, que já passaram pelo Grupo Divulgação e agora fazem parte do grupo teatral Quem Sou Eu. O grupo surgiu após a produção independente de um musical, também chamado Quem Sou Eu. A peça rodou a cidade e redondeza, reunindo diversos prêmios na área. Os três também produziram e atuaram no Broadway In Concert no início de outubro, uma produção musical onde performaram clássicos de musicais da Broadway. “Nosso grupo vai estrear um novo musical autoral em novembro, e pensamos que seria uma ideia interessante fazer algo mais clássico antes disso. Daí surgiu a ideia de performarmos músicas famosas de musicais da Broadway que todos conhecem”, explica Yago
"A Casa do Caminho" realiza reuniões públicas duas vezes por semana, sobre o estudo do Espiritismo
Navarro de onde surgiu a ideia de fazer a apresentação. Taysa Ferreira e Álvaro Dyogo também reforçam que um dos principais motivos para a execução do Broadway In Concert foi a arrecadação de fundos para o novo musical autoral do grupo, já que eles não possuem nenhum patrocínio e contam com recursos limitados. “Infelizmente não temos nenhum grande apoio. Temos uma parceria com a Casa D’Itália, que está promovendo a 1ª Semana Cultural e nos inseriu na agenda com o Broadway In
Concert, mas não temos nenhum patrocínio. Tudo é por nossa conta”, esclarece Álvaro. “Apoio vem dos nossos familiares, amigos e pessoas que gostam do nosso trabalho. Por exemplo, se a mãe de um dos participantes sabe costurar, ela nos ajuda com o figurino, se o pai de um amigo é marceneiro, ele nos ajuda a fazer o cenário. É basicamente esse apoio que nós temos”. Taysa, que é a idealizadora do grupo comenta que uma das maiores dificuldades de fazer teatro independente é encon
FOTO: LETICYA BERNADETE
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Diretor geral do Grupo Divulgação, José Luiz Ribeiro, na peça Calígula (1976)
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Cultura FOTO: DIVULGAÇÃO
trar pessoas que tenham a mesforça de vontade para colocar o projeto de pé. “Na produção independente fazemos mais por amor do que por dinheiro, o dinheiro é o último a chegar, isso quando chega”. Os três reforçam que existe público teatral em Juiz de Fora, principalmente para o teatro mais tradicional, como o do Grupo Divulgação. Mas ainda falta muito incentivo e a divulgação nos meios culturais para produções menores e independentes. Uma opção encontrada pelos artistas é a Lei Murilo Mendes, porém com a alta demanda, muitos projetos não conseguem ser aprovados.
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"A Casa do Caminho" realiza reuniões públicas duas vezes por semana, sobre o estudo do Espiritismo
Na produção independente, fazemos mais por amor do que por dinheiro, o dinheiro é o último a chegar, isso quando chega. Taysa Ferreira, atriz
Projetos de Incentivo à Cultura Lei Municipal de Incentivo à Cultura
Criada em 1990, a Lei Municipal de Incentivo à Cultura, mais conhecida como Lei Murilo Mendes, é uma iniciativa que destaca Juiz de Fora. Todo ano é lançado um edital e os interessados devem redigir um projeto de acordo com as especificações. Quando aprovado, o recurso necessário para a realização do projeto é disponibilizado. Infelizmente, a Lei Murilo Mendes não comtempla todas as áreas culturais encontradas na cidade, e a quantidade de recursos é limitada, não sendo possível atingir todo a população artística da cidade. Com a crise econômica instaurada no Brasil no último ano, o valor destinado para o financiamento de projetos e produtos culturais diminuiu. Em 2014, foram destinados 1 milhões de reais, em 2015, 850 mil reais e em 2016, esse valor continuou caindo, chegando a 750 mil reais. 76
Comportamento
Escola de Espectador do Grupo Divulgação A Escola de Espectador é um projeto de extensão realizado há 25 anos e tem como objetivo oferecer a alunos de escolas públicos de grupos comunitários de Juiz de Fora e região entradas gratuitas aos espetáculos teatrais do Grupo Divulgação. Atualmente, o projeto conta com mais de 200 núcleos cadastrados no município de Juiz de Fora e redondezas. Todo ano o cadastro para a Escola do Espectador é aberto ao público. Ou seja, os alunos podem ter acesso à toda programação de espetáculos produzidos pelo Grupo Divulgação e mostras realizadas no Fórum da Cultura. O projeto é de extrema importância para a criação do público teatral, que ainda é restrito no país e também em Juiz de Fora Além de ajudar a difundir a arte teatral e possibilitar grande engrandecimento cultural.
Gente em Primeiro Lugar O programa Gente em Primeiro Lugar é desenvolvido pela Funalfa (Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage) e gerenciado pela ACAV (Associação Cultural Arte Vida) desde 2009. O programa oferece a crianças e adolescentes, de 6 a 14 anos, de diversas comunidades de Juiz de Fora o acesso a atividades de culturais gratuita, com objetivo de proporcionar noções de direito e deveres do cidadão e socialização dos participantes através de oficinas. As oficinas culturais abrangem seis áreas: Artes Visuais (desenho, pintura e graffiti), Artesanato, Capoeira, Dança (danças urbanas, balé, jazz, sapateado e contemporâneo), Música (flauta, violão e percussão) e Teatro.
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