Thamires Pecis

Page 1

Vai um livro nacional aí? por Thamires Pecis

O Brasil conta hoje com autores de grandes livros, que não deixam nada a desejar a best-sellers estrangeiros. A questão então é porque eles ainda não tem o mesmo reconhecimento

60


Crédito: Thamires Pecis

Thalita Rebouças, Carina Rissi, Marina Carvalho Vanessa Bosso e Leandro Luzone são autores nacionais que conquistam leitores noBrasil

Machado de Assis, José de Alencar, Clarice Lispector, Guimarães Rosa. Nomes facilmente reconhecidos para a maioria da população brasileira. Mas você saberia citar nomes de escritores brasileiros contemporâneos sem pensar duas vezes? Talvez você diga “Paulo Coelho e Augusto Cury”. E se eu perguntar sobre autores de livros estrangeiros? “Jojo Moyes, Nicholas Spraks, Dan Brow, J.K Rowling, George R.R. Martin, Sidney Sheldon, Agatha Christie...”. Provavelmente você pode passar alguns bons minutos citando alguns nomes. Mas você já parou para pensar porque conhece tantos autores estrangeiros e tão poucos nacionais?! A resposta é simples: os brasileiros leem mais os livros que vem de fora. Entre os 20 livros mais vendidos de 2017 no mês de junho, segundo a revista Veja, somente dois são de autores nacionais. Talvez isso aconteça porque muitos acham um livro interessante, até descobrir que ele foi escrito por Maria e não Mary, e automaticamente o livro já não é tão bom. Adaptações podem influenciar Os livros estrangeiros acabam sendo mais procurados, e a doutora em estudos literários Juliana de Brito explica que parte disso acontece

porque as grandes editoras acabam Aí não dá pra comparar mesmo.” obedecendo aos anseios do mercado. “Adaptações cinematográficas de Preconceito livros ajudam muito a popularizá-los, O brasileiro lê muito pouco, seo que não é um fenômeno ruim, já gundo a pesquisa Retratos da Leitura que instiga o conhecimento da pro- no Brasil, 44% dos brasileiros não lê. dução escrita e, consequentemente, Não existe uma pesquisa que mostre sua leitura. Como temos uma vasta o percentual de livros estrangeiros e produção de literatura hoje no Bra- brasileiros lidos, mas se houvesse, o sil através de escritores emergentes, primeiro, sem dúvidas, seria maior. estes acabam procurando editoras O que muitas vezes, começa desde independentes e menores, uma vez cedo. “O preconceito começa na esque o mercado ainda não aposta no cola. Somos obrigados a ler obras sucesso dos desconhecidos e acaba desatualizadas, que não se encaixam fechando as portas. nas nossas preferênIsso acaba influen- “Eu sempre ouço cias. Imagine ter Harciando o que deve ser ry Potter na grade a frase: ‘Eu tinha lido, ofuscando a litercurricular? Percy atura contemporânea tanto preconceito, Jackson? Esses livros do país”. mas quando dei acendem o gosto pela A escritora Letícia leitura e, no Brasil, uma chance e li temos obras tão boas Wierzchowski, autora do sucesso A Casa das um livro nacional, quanto essas. Os clássete mulheres, explica sicos nacionais devem isso mudou.’” que a questão cineser lidos também, mas matográfica influenem um outro mocia muito. “Erico Verissimo e Jorge mento de vida”, destaca a autora de Amado vendiam muito, eram suces- mais de 15 livros Vanessa Bosso. Ela so. Paulo Coelho vende no mundo ressalta ainda que o brasileiro não se todo. Eu não vejo isso de uma for- dá o devido valor e desvaloriza sua ma grave, o que vejo é que livros que própria cultura. “Eu sempre ouço a vão para o cinema, viram séries, são frase: ‘Eu tinha tanto preconceito, muito vendidos nos EUA, já che- mas quando dei uma chance e li um gam aqui numa esteira de sucesso... livro nacional, isso mudou.’” 61


Velhos hábitos mudam, sim! “Velhos hábitos nunca mudam”, esse ditado popular pode servir para muita coisa, mas em relação à leitura, ele está completamente errado. O número de leitores no Brasil pode aumentar, assim como quem não é fã dos livros nacionais pode mudar de ideia. A pós-doutora em estudos literários, Patrícia Botelho, explica que o problema não são as pessoas em si, mas o que falta durante o seu desenvolvimento e afeta assim o seu gosto por literatura. “Falta incentivo financeiro. Também falta incentivo por parte da escola para fazer com que os alunos leiam mais. A família é algo essencial nesse gosto pela leitura também. O governo deveria promover projetos que façam com os as pes-

Conheça mais...

soas tivessem descontos para comprar livros, irem ao cinema e teatro”. O escritor Vinícius Grossos explica que o brasileiro ainda lê muito pouco, mas que ape­sar disso, algumas mudanças estão ocorrendo. “Está acontecendo um aumento de potenciais leitores no público jovem, que é um público muito apaixonado. E se esses jovens gostam de um autor, eles vão acompanhar esse autor para sempre, é algo muito legal de se ver. Acho que o preconceito existe porque, por muito tempo, não se tinha literatura nacional contemporânea, então é um preconceito por algo que não se conhece. Se não se conhece, pode ter aquele receio de o livro não ser bom. Mas é algo que está sendo quebrado e está caindo por terra”. Vanessa Bosso, autora de chick-

lits(romance leve e divertido que aborda a vida das mulheres modernas) adorados do público jovem conta que o jeito de escrever também está mudando. “Surgiu uma safra nova de autores com uma escrita contemporânea. Eu faço parte dessa turma e posso dizer que me “formei” em literatura estrangeira, portanto, escrevo o Brasil de um jeito que as pessoas gostam de ler”. Toda regra tem exceção ­ e essa, ainda bem, tem muitas. Grandes autores brasileiros contemporâneos, donos de livros policiais, fantasias, chick lits, terror têm encontrado espaço e leitores fiéis que dão o devido valor para seus trabalhos. Carina Rissi, André Vianco, Thalita Rebouças e Paula Pimenta são alguns exemplos de sucessos atualmente.

Vinícius Grossos - De onde é: Rio de Janeiro -O que já escreveu: O garoto quase atropelado, O verão em que tudo mudou, 1+1: A matemática do amor, Sereia Negra -Gêneros: Fantasia, Young-adult -Como começou a escrever: Desde pequeno eu sempre fui voltado para coisas criativas, de preferir ganhar gibis e livros do que brinquedos. Conforme o tempo foi passando, eu percebi que eu estava com essa vontade de escrever minhas próprias histórias e comecei a fazer isso como hobby. Nunca pensei que eu poderia tornar isso minha profissão, até que uma professora de literatura cruzou o meu caminho e ela foi a responsável por me fazer entender que eu poderia tocar a vida das pessoas com as coisas que eu escrevia lá no quarto da minha casa sem pretensão nenhuma. A partir daí comecei a pesquisar mais sobre a carreira de escritor. -Como é o processo de criação: Meu processo de criação é meio louco, porque eu não consigo planejar uma obra inteira. Eu tenho uma ideia inicial e partir dela eu tenho que sentar e começar a escrever porque a partir daí a mágica acontece, parece que os personagens ganham vida, a história vai se desenrolando e vai acontecendo de uma forma que se eu tivesse planejado inicialmente, não seria algo tão crível. Parece que os personagens ganham sua própria personalidade e eles que vão guiando a história. -Autores preferidos: Markus Zusak e John Green -Próximo lançamento: Lancei agora meu quarto livro em abril, mas eu sempre trabalho alguns passos à frente. O meu quinto livro está pronto e já estou pensando e rascunhando o sexto. -Indica: As pessoas têm que se basear no que elas gostam. Então por exemplo, se você gosta de um filme de ação, então você vai encontrar um livro com uma temática parecida. Acho que é começar mesmo pela temática que mais te interessa. 62


Vanessa Bosso - De onde é: São Paulo -O que já escreveu: O homem perfeito, A aposta, Chuta que é carma, Agarra que é amor e mais 14 obras -Gêneros literários: Romance, Sobrenatural, Aventura, Ficção -Como começou a escrever: A vontade sempre existiu, mas eu não sabia por onde começar. Tentei, tentei, tentei e continuei tentando, até que um dia, o word me avisou que eu já havia digitado 60.000 palavras. Eu tinha um livro! -Como é o processo de criação: Às vezes eu acho que deveria ter um processo, mas depois, lembro que não consigo escrever sob pressão. Não faço roteiros, deixo a intuição me guiar. Em um dado momento, a intuição vai embora e os personagens passam a guiar a história. É uma fórmula que funciona muito bem comigo e nunca me deixou na mão. -Autores preferidos: Sou eclética, mas sou fã de ficção científica e Isaac Asimov é o meu preferido no gênero, vá ser criativo assim lá em Júpiter. -Próximo lançamento: Tenho vários projetos iniciados, mas nenhum realmente “pegou fogo”. Sendo assim, para 2017, acho que ficarei só testando narrativas. Para 2018, acredito que terei um chick lit nascido de algum desses projetos que citei. -Indica: Além dos meus, indico obras de Carina Rissi, FML Pepper, Janaina Rico, Raphael Dracon, Rafael Montes, Danilo Barbosa, dentre tantos outros autores incríveis. E para quem curte um texto mais quente: Josy Stoque, Mila Wander, Nana Pavoulih e outras tantas mulheres incríveis.

Letícia Wierzchowski

- De onde é: Porto Alegre -O que já escreveu: A casa das sete mulheres, Sal, O primeiro e o último verão, Travessia e outras 19 obras -Gêneros: Adulto e infantil -Como começou a escrever: Desde o início da minha adolescência, eu já era uma leitora muito dedicada. Sempre gostei muito de ler. Um dia comecei a escrever. Mas demorou, fiz várias coisas nesse meio tempo. Tentei diversas universidades, que acabei abandonando. Demorou muito tempo, mas publiquei meu primeiro livro com 25 anos. -Como é o processo de criação: Cada livro tem seu processo de criação específico - mas eu costumo pesquisar em livros históricos e estudar os assuntos que envolvem o universo do meu romance em questão. Também leio livros de outros autores que orbitem sobre o assunto. Depois deixo isso tudo decantar até que eu tenha uma linha narrativa clara em mente. Aí começo a escrever... -Autores preferidos: São muitos. Direi alguns: Erico Verissimo, Tabajara Ruas, Nabokov, Sommerseth Maugham, Philip Roth... -Próximo lançamento: Recém lancei Travessia, mas tenho um romance na gaveta - ainda não quero falar sobre ele. -Indica: O Tempo e o vento de Érico Veríssimo 63


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.