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d r i v e y o u r w o r l d

M I T R E V I S T A 6 1 j u n h o 2 0 1 6

leia tambĂŠm a mit no tablet

amora mautner A grife da Globo




Editorial por fernando paiva, diretor editorial

Acima dos preconceitos

H

á 25 anos, em 8 de outubro de 1991, a Mitsubishi Motors passou a existir oficialmente no país, com a inauguração de sua sede em São Paulo. Passados sete anos, em 15 de julho de 1998, a

primeira cabine dupla Mitsubishi L200, mais brasileira que japonesa, saía da nova fábrica em Catalão (GO). A saga completa, coroada com mais de 630 mil veículos, está narrada em detalhes nesta edição. divulgação

Que traz também a história de uma lenda viva: Mitsubishi

Mitsubishi Pajero Full

Pajero. Lançado em 1982 e fabricado no Brasil a partir de 2002, o carro venceu 12 vezes o Rally Dakar e um preconceito: veículos 4x4 não podiam ser confortáveis. Derrubar preconceitos, aliás, é o mote da carioca Amora Mautner, nossa capa. Trata-se da primeira diretora de novelas a brilhar num espaço tradicionalmente reservado aos homens. Dublê de piloto e criador de gado, o paulistano Felipe Maluhy é outro que soube acelerar para superar – e vencer – obstáculos. Outro ótimo exemplo é o do italiano Angelo Gaja, que, com seus vinhos formidáveis, derrotou inúmeros prejulgamentos. O Brasil, aliás, também tem feito bonito nesse terreno. Por décadas, ouviu-se que não tínhamos nem sequer condições geográficas para produzi-los. Uma cuidadosa reportagem na Serra Gaúcha revelou o contrário. Os rótulos nacionais andam cada vez melhores. Para completar, em um número repleto de histórias sobre vitórias improváveis, o especialista Silvio Lancellotti nos brinda com diversas delas, em pílulas, numa revisão bem-humorada dos Jogos Olímpicos. Boa leitura!

4

Mit revista

junho 2016


São Paulo: Boutique TAG Heuer - Frattina - Julio Okubo - Montecristo The Graces Sorocaba: Arrais Joalheria Campinas: Lafith Rio de Janeiro: Celini – Lafry Joias Porto Alegre: DvoskinKulkes Fortaleza: Tânia Joias Curitiba: Bergerson Brasília: Grifith Belo Horizonte: Manoel Bernardes




sumário n junho 2016 n edição 61

66

82

40 A grife da Globo

58 Olympia!

76 Fazendeiro veloz

Amora Mautner é a mais moderna

Uma saga milenar que reuniu heróis

Felipe Maluhy segue os passos do pai:

diretora de novelas da emissora. Ela

inesquecíveis. Aqui estão os maiores

pilota bem nas pistas de corrida e

comandou nada menos que 22 delas

nomes das história das Olimpíadas

conduz com êxito os negócios rurais

48 3 vezes Soho

66 Il signore del vino

82 Evolução genética

Londres, Nova York e Buenos Aires têm

Angelo Gaja tornou-se o produtor de

O Pajero rompeu com a ideia de que

um bairro com o mesmo nome e as

vinhos mais respeitado na itália, com

veículo off-road não podia ser ao

mesmas boemia, juventude e vanguarda videiras no Piemonte e na Toscana

mesmo tempo resistente e confortável

54 The top ten

70 Latitude com atitude

86 25 anos de Brasil

Todo dia aparece um novo produto

A posição geográfica da Serra Gaúcha

Em um quarto de século de atuação no

conectado à web. Tudo para facilitar a

ajuda muito. Mas, além dela, há uma

país, a Mitsubishi se prepara para ganhar

sua vida. Selecionamos os dez melhores estrutura para tornar a visita inebriante

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Mundo 4x4

Mit revista

junho 2016

cada vez mais terreno

divulgação

40

mundo sem fronteiras

andrea d’amato

Jorge Bispo

mundo URBANo





dri v e

y o u r

w o r l d

Publicação da Custom Editora Ltda. Sob licença da HPE Automotores do Brasil S.A. CONSELHO EDITORIAL André Cheron, Fernando Julianelli, Fernando Paiva e Fernando Solano REDAÇÃO Diretor Editorial Fernando Paiva fernandopaiva@customeditora.com.br Diretor Editorial Adjunto Mario Ciccone mario@customeditora.com.br Redator-chefe Walterson Sardenberg Sº berg@customeditora.com.br Repórter Juliana Amato julianaamato@customeditora.com.br ARTE Diretor Ken Tanaka kentanaka@customeditora.com.br Editor Guilherme Freitas guilhermefreitas@customeditora.com.br Prepress Daniel Vasques danielvasques@customeditora.com.br Projeto Gráfico Ken Tanaka PRODUÇÃO EXECUTIVA E PESQUISA DE IMAGENS Raphael Alves raphaelalves@customeditora.com.br COLABORARAM NESTE NÚMERO Texto Alessandra Lariu, André Julião, Daniel Japiassu, Décio Costa, Edgard Reymann, Joaquim Ferreira dos Santos, Luciana Lancellotti, Luis Patriani, Luiz Maciel, Marcello Borges, Mauro Marcelo Alves, Paulo Mancha D’Amaro, Peu Araújo, Sergio Crusco e Sílvio Lancellotti Fotografia Andrea D’Amato, Augusto Carvalho, Jorge Bispo, Marcelo Correa e Marcelo Spatafora Mapa e Ilustração Luiz Fernando Martini e Pedro Hamdan Tratamento de imagens Felipe Batistela Revisão Jaqueline Silva Capa Retrato por Jorge Bispo

PUBLICIDADE E COMERCIAL Diretor Executivo André Cheron andrecheron@customeditora.com.br Diretor Comercial Oswaldo Otero Lara Filho (Buga) oswaldolara@customeditora.com.br Gerente de Publicidade e Novos Negócios Alessandra Calissi alessandra@customeditora.com.br Executivo de Negócios Northon Blair northonblair@customeditora.com.br Executiva de Negócios Bruna do Vale brunadovale@customeditora.com.br REPRESENTANTES BBI Publicidade Interior de São Paulo Tel.: (11) 95302-5833 Tel.: (16) 98110-1320 / (16) 3329-9474 comercial@bbipublicidade.com.br GRP - Grupo de Representação Publicitária PR – Tel.: (41) 3023-8238 SC/RS – Tel.: (41) 3026-7451 adalberto@grpmidia.com.br CIN - Centro de Ideias e Negócios DF/RJ – Tels.: (61) 3034-3704 / (61) 3034-3038 paulo.cin@centrodeideiasenegocios.com.br DEPARTAMENTO FINANCEIRO-ADMINISTRATIVO Analista Financeira Carina Rodarte carina@customeditora.com.br Assistente Alessandro Ceron alessandroceron@customeditora.com.br Impressão e acabamento Log&Print Gráfica e Logística S.A. Tiragem 60.000 exemplares Custom Editora Ltda. Av. Nove de Julho, 5.593 - 90 andar - Jd. Paulista São Paulo (SP) - CEP 01407-200 Tel.: (11) 3708-9702 E-mail: mit.revista@customeditora.com.br ATENDIMENTO AO LEITOR atendimentoaoleitor@customeditora.com.br ou tel. (11) 3708-9702 MUDANÇA DE ENDEREÇO DO LEITOR Em caso de mudança de endereço, para receber sua MIT Revista regularmente, mande um e-mail com nome, novo endereço, CPF e número do chassi do veículo

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Mit revista

junho 2016


Bruno Veiga

colaboradores

Joaquim Ferreira dos Santos

Tivesse seguido os passos da família,

Jornalista desde o primeiro número

achou um intervalo do livro que está

repleta de atores, Jorge Bispo poderia

de Veja, em 1968, Sílvio Lancellotti

escrevendo, para conversar com Amora

estar agora diante das câmeras sob

acompanhou a saga de Pelé em busca

Mautner e batucar nas pretinhas (como

a direção de Amora Mautner, a quem

do seu gol de número mil, em 1969.

diziam os jornalistas da sua geração) a

retratou para a reportagem de capa. Ele

Mino Carta, o diretor da redação, gostou

reportagem de capa. Foi um encontro

bem que tentou a carreira de ator. Até

e lhe entregou parte da cobertura da

de dois hipercariocas. Nascido e criado

que, sem maior pretensão, comprou

Copa de 70, no México. Daí, em IstoÉ,

na Penha, Joaquim é dono de um dos

uma câmera fotográfica para registrar o

Folha de S. Paulo, Band e Record,

textos mais saborosos do país e autor

cotidiano e as viagens. Descobriu a real

escoltou uma dúzia de edições da Copa

das biografias de Antônio Maria e Leila

vocação. Com sua Canon 5D, tornou-se

e dos Jogos Olímpicos. Em 1996, lançou

Diniz. Sua nova obra é outra biografia: a

um dos melhores fotógrafos do Brasil –

o livro Olimpíada Cem Anos. Os Jogos

do jornalista Zózimo Barroso do Amaral.

e um requisitado diretor de clipes.

são o seu assunto nesta edição.

Andréa D’Amato, formada em

Luciana Lancellotti (nenhum

Jornalista, escritor e chef de cozinha,

jornalismo e pós-graduada em

parentesco com o Sílvio) foi crítica de

Mauro Marcelo Alves conhece

fotografia, tem a estrada como

restaurantes da Playboy e diretora de

vinícolas em vários países, mas poucas

companheira. Suas imagens foram

redação da revista Wine.com.br. Rodou

lhe deram tanta alegria quanto a de

publicadas em revistas como National

o mundo e experimentou de camarões

Angelo Gaja, sobre o qual escreve nesta

Geographic Brasil e Viagem e Turismo.

vivos a carpaccio de guanáco (além

edição. Em um domingo inesquecível, foi

Dedica-se também às artes visuais e

de um ou outro Alain Ducasse pelo

recebido na casa do “Deus do Piemonte”

é professora universitária. Para este

caminho, porque ninguém é de ferro).

em Barbaresco e, pelas mãos dele,

número, clicou a Serra Gaúcha, onde

Dessa vez, fez o sacrifício de voar para o

saboreou um cordeiro e um macarrão

esteve pela terceira vez, disposta a

Sul e degustar vinhos e cervejas entre as

ao funghi porcini. Com seus vinhos

encontrar novas histórias. E vinhos.

belas paisagens da Serra Gaúcha.

acompanhando, per Bacco! junho 2016

Mit revista

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mundo URBANo

A arquitetura de Frank Gehry ganhou mais cores

Les temps modernes Em Paris, prédio da Louis Vuitton ganha uma intervenção inusitada Por Sergio Crusco

N

ovinho, o prédio da fundação

Disney Concert Hall de Los Angeles

agregar qualquer corpo tridimensional ao

Louis Vuitton, em Paris, é um

– ganhou novas cores e luzes com a

projeto. “Adicionar cor à estrutura muda-

bebê de chupeta e chocalho,

intervenção Observatory of Light, do

ria radicalmente a impressão que ela nos

comparado aos museus da

artista plástico francês Daniel Buren.

dá”, disse, em entrevista à historiadora de

cidade. Erguido em 2014 e projetado

Filtros de 13 matizes diferentes foram

arte Suzanne Pagé.

pelo arquiteto canadense Frank Gehry,

aplicados aos vidros, num desenho que

ele nasceu para se firmar como um dos

imita um tabuleiro de xadrez. Isso mudou

mas pediu que Buren detivesse sua rea-

focos de identidade visual da capital fran-

a percepção da obra de Gehry por quem

lização por um ano, pelo menos. Queria

cesa. O conjunto de 12 “velas” de vidro

a vê de fora e para quem está dentro,

que as pessoas se acostumassem à visão

enfunadas, que sugerem uma embarca-

banhado pelas sombras e projeções que

da fundação como foi concebida, para

ção gigante, navegando em meio ao Bois

os filtros provocam.

depois se surpreenderem com sua nova

de Boulogne, já concorre à categoria de

face, que, segundo a fundação, deve ser

ponto de referência e encontro – a exem-

o arquiteto e o artista desde 2015, mas

temporária. “Quando desenho um mu-

plo da torre Eiffel, do arco do Triunfo, do

Gehry tinha outra ideia na cabeça.

seu, é para que os artistas façam o que

centro Georges Pompidou ou da catedral

Pensou em algo como bandeiras que

desejem dentro dele, até o destruam”,

de Notre Dame.

flamulassem entre suas velas, nos dois

exagerou Gehry no papo com Buren. Mas

grandes terraços da construção. Buren

o artista francês utilizou apenas cores –

do museu Guggenheim de Bilbao, da

quis quebrar o monocromatismo do

com seus reflexos e suas transparências.

Casa Dançante de Praga e do Walt

prédio – que considerava creamy – sem

A criação parisiense de Gehry – autor

14

O plano vinha sendo tramado entre

Gehry adorou a proposta dos filtros,

Mit revista

junho 2016

fondationlouisvuitton.fr

divulgação

o melhor da vida nas cidades



mundo sem fronteiras onde o concreto encontra a terra

Cruzando as Rochosas

No Canadá, a bordo do Rocky Mountaineer e do The Canadian, você vê um país inteiro passar pela janela por edgard reymann

F

errovias são as artérias de um

cadeia que também corta o noroeste dos

de trem onde já fiquei”, conta. “E saí im-

país. Apesar de antigo, o clichê

Estados Unidos. Isso graças ao vagão

pressionado pela excelência do serviço

ainda é verdadeiro. Especial-

panorâmico do luxuoso trem Rocky

prestado pelo staff a bordo.”

mente se falamos do Canadá. A

Mountaineer, com o teto todo de vidro.

A travessia funciona o ano todo – a

linha férrea transcontinental, implantada

O trem para em Jasper, com tempo para

alta temporada vai de maio a dezembro.

no século 19, foi fundamental para unifi-

conhecer o parque nacional local e o

A linha também integra o exclusivíssimo

car o território e auxiliar na coexistência

idílico Lake Louise, cenário de diversos

roteiro Volta ao Mundo de Trem. Ele sai

de províncias e culturas. Hoje, a peça-

filmes. A região concentra ainda algumas

de Lisboa e termina em Nova York. O tra-

-chave dessa engrenagem é o turismo.

das mais charmosas estações de esqui

jeto é feito a bordo do TGV (o trem-bala

E nada mais charmoso do que cruzar o

do planeta. Ali, os passageiros embarcam

francês), do Expresso Paris-Moscou e da

país do ocidente para o oriente. São exa-

no The Canadian.

Transiberiana (passando pelo mítico lago

tos 4.466 quilômetros de extensão, de

Baikal), até Vladivostok. De lá, cruza-se o

Pablo Bernhard, executivo da TT

Pacífico na primeira classe da Korean Air

Vancouver, no extremo oeste, a Toronto,

Operadora, empresa de turismo que tra-

nas margens do lago Ontário. A viagem

balha com viagens de trem, entre outros

até Vancouver. E dali até a cinematrográ-

dura quatro noites e três dias. Boa parte

produtos, percorreu a linha instalado na

fica Grand Central Station, no coração de

cruza a extensa planície que marca as

luxuosa suíte Prestige Sleeper Class. “É a

Manhattan.

pradarias das províncias de Alberta,

maior cabine

viarail.ca voltaaomundodetrem.com.br

Saskatchewan e Manitoba, e a belíssima região dos lagos de Ontário. A intensa atividade da fauna é uma das atrações da viagem. Águias, falcões, alces, renas, bisões, ursos e coiotes, entre diversos outros animais, podem ser observados ao longo do trajeto. Mas, sem dúvida, a parte de tirar o fôlego fica entre as províncias de Alberta e da Colúmbia Britânica, divididas pelas

creative commons

Montanhas Rochosas – extensão da

Cabine luxuosa e paisagem adorável. Precisa mais?

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Mit revista

junho 2016



Mundo 4x4 por um planeta sem asfalto

istock

No subsolo, belas cavernas

Catedrais subterrâneas Mergulhar nos cenotes mexicanos é uma experiência do outro mundo por luís patriani

A

falta d’água é um dos principais

subterrâneo é tão vasto que ainda há

chuva se infiltrando no calcário e criando

problemas da Cidade do Méxi-

muito a mapear. Embora a região já fosse

fissuras no solo”, explica o instrutor de

co e de seus 8,9 milhões de ha-

habitada antes da chegada de Colombo,

mergulho Ricardo “Lalo” Meurer, da

bitantes. Tanto que a absoluta

sabe-se que há centenas deles por ser

escola paulistana Scuba Point. Lalo já

ausência de rios na região levou o escritor

descobertos. Os maias acreditavam que

levou milhares de brasileiros ao México.

mexicano Octavio Paz (1914-1998), em

os cenotes eram ligações sagradas com o

“Entrar nos túneis com ligação com o

passagem por São Paulo, a invejar o fétido

outro mundo. E são mesmo.

mar é só para especialistas tarimbados

Desbravar um cenote é uma experi-

região de cavernas alagadas do planeta

ência memorável. Mística, até. Você entra

– os cenotes. Vários são interligados por

naquele poço diminuto, começa a descer

rios subterrâneos; alguns se comunicam

e... de repente se encontra num salão

requer grande esforço, ao contrário. É

com o mar. Vistos de cima, não passam

monumental, do tamanho da nave de

obrigatória a presença de um guia, que vai

de pequenos poços de água límpida. Mas

uma catedral gótica. Dali, pode seguir para

explicar a você alguns macetes básicos

basta mergulhar para que o visitante fique

diversas câmaras, todas decoradas por

do mergulho em caverna. A temperatura

de queixo caído.

água é muito forte.” Mas explorar um cenote normal não

incríveis estalactites (formações calcárias

da água é deliciosa: 24 ºC. Não há cor-

Os mais belos cenotes ficam no

que caem do teto) e estalagmites que

renteza e a visibilidade, em alguns deles,

sudeste do país, banhado pelo mar do

brotam do solo. Um cenário fantástico,

passa dos 100 metros. Se aventurar nes-

Caribe. No estado de Quintana Roo, onde

fantasmagórico e sedutor, que parece ter

se universo de cristal líquido é tão bom

cintilam as concorridas praias de Cancún,

saído da prancheta do célebre arquiteto

quanto visitar as ruínas maias ou pegar

Playa del Carmen e Tulum, você encon-

catalão Antoni Gaudí.

uma praia na região. Que, aliás, também

tra os melhores: Ik Kil, The Pit, Dos Ojos, Temple of Doom e Car Wash. O complexo 18

ou profissionais”, alerta. “O refluxo da

Tietê. Por ironia, o México tem a maior

Mit revista

junho 2016

“Os cenotes se formaram em um processo de milhões de anos, com a água da

fazem parte do programa. www.scubapoint.com.br



PORTA-MALAS

a bagagem do viajante

por daniel japiassu

Istock

Antes de ser esporte, foi técnica de sobrevivência

Caminho nada suave O trekking é uma modalidade feita para quem topa andar muito e não reclama

M

uita gente confunde hiking com trekking. Afinal, em ambos os esportes o que vale é andar em

Alguns dos desafios mais fabulosos só foram vencidos

meio à natureza. Mas existe uma grande diferen-

graças a caminhadas insólitas, “impossíveis” até o momento em

ça. Quer ver? Então, responda: sua caminhada

que alguém decidiu quebrar a barreira do senso comum. Gente

é do tipo bate e volta, sem necessidade de barraca? Sua única

como sir Edmund Hillary e Tenzing Norgay; Reinhold Messner e

recompensa é apreciar a beleza do cenário? Se ambas as res-

Waldemar Niclevicz; Livingstone e Stanley; Ernest Shackleton e

postas foram “sim”, então você está apenas caminhando – ou

Roald Amundsen. Para conquistar o teto do mundo, o coração

praticando hiking. Agora, se a resposta foi “não” às duas, você é

das trevas africanas ou o Polo Sul, eles andaram muito a pé.

um aventureiro que gosta de trekking. Ou seja, quer conquistar

Enfrentaram todo tipo de perigo. Mas chegaram lá.

algo além de uma bela paisagem para aquela selfie. E... vai sentir dor. De início, bastante dor. O trekking nasceu na África do Sul, no começo do século

Esdras Martins é diretor do departamento de trekking da Abea – Associação Brasileira de Esportes de Aventura. E conta que no Brasil a modalidade teve suas primeiras provas em 1985,

19 e não era exatamente um esporte – mas uma técnica de

em Minas Gerais. “Mas foi somente depois de ter sido levado

sobrevivência. Os primeiros trekkers eram trabalhadores holan-

para São Paulo que o trekking adquiriu a forma atual”, explica.

deses, gente simples, cuja missão colonialista imposta pelo rei

“Isso aconteceu em 1992, quando se adaptaram a ele as regras

se resumia a desbravar e ocupar o país. Eles utilizavam o termo

dos enduros de moto e 4x4.” Ah, sim: e se você é fã de ficção

trekken para designar sofrimento e resistência física. Só quando

científica, saiba que o termo utilizado na série Star Trek mantém

os ingleses chegaram à região é que a palavra trekking passou a

o significado primitivo da palavra em inglês – viajar, migrar,

significar longas caminhadas.

mudar de região. Quem conhece o mantra da Enterprise sabe

Trekking é também ir ao limite das próprias forças, mas nun-

20

que faz – jamais se aventure sozinho. Isso multiplica os riscos.

bem: Kirk, Spock & Cia. tinham total consciência do tamanho

ca além. Ou seja, exige preparação física e mental e comprome-

da encrenca em que se meteriam – sempre que rumavam, com

timento total. Além, claro, de uma equipe de apoio que saiba o

audácia, para onde ninguém jamais tinha posto os pés.

Mit revista

junho 2016


Com a casa nas costas entre os trekkers. “Levo sempre duas, uma

res localizadas nos pontos em que ela não

precisou de ajuda para transportar obje-

cargueira de 65 litros e uma de ataque de

estiver bem encaixada ao corpo.”

tos. Mas se a história da primeira mochila

35 litros para caminhadas mais curtas

– um saco de pele de animal amarrado

e treinos durante as trilhas”,

barrigueira. Os modelos da

com tiras de couro cru – se perdeu na

explica Gustavo Ziller, cria-

Thule, por exemplo, têm

noite dos tempos, a das mochilas atuais

dor da série 7 CUMES

barrigueira com sistema de

tem certidão de batismo datada de 1908.

do canal Off. O autor

pivô articulado. Isso faz com

Ano em que o norueguês Ole F. Bergans

dos livros Escalando

que a mochila possa ser

patenteou sua invenção. Era fixada ao

Sonhos e Aconcágua

movida em ângulos de até

corpo com um pedaço de couro e um sis-

prossegue: “O ideal

30 graus, acompanhando

tema de placas de madeira às costas. Fez

é testar bem, encher

os movimentos do corpo

tanto sucesso que o exército da Noruega

a mochila, já que o

durante a caminhada.

adotou o aparato como equipamento

peso altera o centro

padrão em 1913.

de gravidade”. Ziller

Desde que o homem saiu da caverna,

Hoje, marcas icônicas são a alemã

Preste atenção também à chamada

n thule.com n deuter.com.br n catalog.bergans.eu n mountainhardwear.com n thenorthface.com.br

reitera que esse controle

Deuter, que dispõe de diversos (e colori-

é fundamental. “Caso

dos) modelos ditos técnicos completos, e

contrário, você vai

a Thule, além da Bergans, verdadeiro mito

sentir muitas do-

Os modelos Thule facilitam a jornada

Bruto, mas confortável Eis um item mais do que

do trekking. “Acre-

fundamental para quem pre-

dite, o frio pode te

tende se candidatar a trekker.

derrubar.” Assim, se

a tecnologia thermoball da americana The North Face. “Não pode faltar também um bom

o desafio terá lugar

anoraque, uma jaqueta de pluma leve e

qualquer desafio se torna

em áreas nevadas

dois fleeces”, enumera Ziller. “Agora, se o

impossível. Falamos de

ou geladas, são

bicho for pegar mesmo, o remédio é uma

segundas peles, fleeces,

necessárias de

jaqueta ou parca de pluma grossa.” Na

moletons, calças e jaque-

três a quatro ca-

hora de dormir, calças de fleece deixam o

madas de roupas.

sono mais confortável.

Sem a roupa adequada,

tas impermeáveis e corta-vento. Gustavo Ziller diz

E aí entra em cena

que as roupas precisam ser

A roupas North Face mantêm o calor

compatíveis com o clima do local

n columbia.com n thenorthface.com.br n trespass.com n benevento.com.br n orientista.com.br n penatrilha.com.br n decathlon.com.br

Mosquetão, capacete e bastão “Se houver escalada durante o trekking, é fundamental levar alguns mosquetões”, ensina Ziller. “Para escalada no gelo, mosquetão com trava.”

marca Black Diamond. n doite.cl/es n blackdiamondequipment.com n decathlon.com.br n orientista.com.br n penatrilha.com.br

Para áreas de risco, não se esquecer de um capacete confiável. “E o mais caminhada não podem faltar.” Ziller prefere os da chilena Doite, de fibra de carbono. “São leves, brutos e ótimos.” Outra boa pedida são os bastões da

Escaladas exigem um acréscimo de equipamento

fotos: divulgação

importante, indispensável: bastões de


PORTA-MALAS Minha barraca, minha vida expedição, o número de pessoas, o

frio intenso, aliás, isolantes como os da

descobriram no norte da atual Rússia

clima, o peso, a facilidade para armá-la

Sea to Summit são imprescindíveis.

vestígios de tendas datados de nada

e o espaço que ela ocupa embalada.

menos do que 40 mil anos a.C. E a

“Recomendo a mais leve e bruta

própria Bíblia, em Isaías 54:2, ensina

disponível”, ensina Ziller. “Mountain

como montar direito uma barraca:

Hardwear e The North Face têm

“Amplia o lugar da tua tenda, e

modelos ótimos.” Saco de dormir?

estendam-se as cortinas das tuas

Quanto mais leve, melhor.

habitações; não o impeças; alonga

“Uso um Deuter, para

as tuas cordas, e firma bem as tuas

climas mais quentes

estacas”.

e o Inferno, da

Recentemente, arqueólogos

Ainda que você não pretenda

n mountainhardwear.com n thenorthface.com. br n orientista.com.br n penatrilha.com.br n decathlon.com.br n seatosummit.com.br

A Mountain Hardwear está entre as marcas indicadas

The North

fazer um trekking radical como o

Face,

daquele senhor, que passou 40 anos

quando

caminhando pelo deserto, barraca é

a friaca

fundamental. Leve em conta o tipo de

é braba.” Para

fotos: divulgação

Os pés que nos protegem Solado Vibram. A tecnologia que

consegue andar e frear com segurança

revolucionou o trekking e o montanhis-

na chuva, graças à ranhura nos pneus,

mo só surgiu em 1935, após a morte

por que uma bota não? Um amigo de

de meia dúzia de alpinistas. Eram 19

sobrenome autoexplicativo ajudou

homens que buscavam a Punta Rasica,

muito: Leopoldo Pirelli. E logo nasceu

cume na fronteira da Suíça com a Itália,

o solado Vibram (Vi de Victor, bram de

a 3.300 metros de altitude. Chovia

Bramani).

muito e os calçados tinham sola de câ-

Não à toa, alguns dos melhores

nhamo. Os escaladores ficaram ilhados.

calçados esportivos são italianos. “A

Seis despencaram no abismo.

La Sportiva tem botas de alta perfor-

Depois da tragédia, um dos sobreviventes, Vitale Bramani, tomou uma decisão: investir tempo e dinheiro em sapatos antiderrapantes.

junho 2016

pos de gelo. E também meias grossas. O especialista diz que não importa a marca – mas que elas vistam bem os pés e sejam compradas em lojas especializadas. “Lembre-se: durante um

se um

trekking, seus pés precisam ficar secos

La Sportiva: botas de alta performance

Mit revista

nevadas pedem calçados com gram-

Pensou: carro

22

mance”, conta Ziller. Trekking em áreas

e confortáveis o máximo possível.” n lasportiva.com n gore-tex.com/en-us/home n seatosummit.com.br n orientista.com.br n penatrilha.com.br n mountainhardwear.com n decathlon.com.br


Onde estou, quem sou eu? Trekking não é um passeio no parque. Assim, não leve qualquer GPS. “Invista em aparelhos mais robustos, de empunhadura emborrachada, tecnologia antiqueda e à prova d’água”, aconselha Gustavo Ziller. Garmin e Satmap são as melhores marcas – e as mais caras. Experimente os Garmin eTrex 30x ou GPSMAP 64st. Ou o recém-lançado Satmap Active 12 GB Edition. São os melhores amigos de quem encara uma trilha pela primeira vez.

O modelo eTrex 30x da Garmin: recomendado

n satmap.com n garmin.com/br

Não deixe de levar também... Eis as dicas finais de Gustavo Ziller,

3. Para a neve pesada, uma viseira

que já enfrentou – e venceu – cumes

de esqui de lente dupla é mais do que

como o Annapurna e o Aconcágua.

aconselhável.

1. Tenha sempre por perto protetor

4. E jamais saia sem uma lanterna de

solar, óculos escuros categoria 3 ou 4,

cabeça e garrafas para água –Nalgene

bandanas e gorro de Gore-Tex ou lã.

ou Camelbak.

2. Importante levar na mochila um bom par de luvas adequadas à tempe-

A garrafa Nalgene: imprescindível

n www.nalgene.com n www.camelbakbrasil. com.br n www.gore-tex.com

ratura do local.

Bons (e maus) caminhos para você se aventurar n Aparados da Serra (SC-RS)

Cachoeiras são atrações da Serra da Bocaina

Um dos mais belos trekkings do Brasil, a trilha do Rio do Boi passa pela fenda do cânion do Itaimbezinho, no Parque Nacional Aparados da Serra. São 12 quilômetros entre maciços de pedra e o leito do rio. O plus do trajeto inclui explorar os quase 6 quilômetros (e 720 metros de profundidade) do cânion.

creative commons

n Serra da Bocaina (SP-RJ) Aqui a estrela é a trilha do Ouro, principal atrativo do Parque Nacional da Serra da Bocaina. No trajeto, cachoeiras, mata atlântica preservada e piso pé de

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Mit revista

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PORTA-MALAS

fotos: creative commons

Parque Dead Horse, em Utah

riantes mais cur-

sobe o monte Huashan, tem trechos

tas. A altitude é o

totalmente verticais e bastante

maior problema.

perigosos. A recompensa é contemplar

Nada que mascar

o magnífico templo taoísta do século 2

um punhado de

a.C., a mais de 2 mil metros de altitude.

folhas de coca

O trajeto é curto, mas de dificuldade

não resolva.

extrema. No percurso, intermináveis escadarias, plataformas de madeira,

A Ásia está no topo, no Caminho da Morte ou no Nepal

n Rota do Che

pontes sobre precipícios e um pouco

(Bolívia)

de montanhismo, com o uso de

moleque. São três dias de caminhada a

O Che em questão é Ernesto Guevara.

partir da portaria do parque.

A ruta cobre os últimos lugares pelos quais o argentino passou antes de

n Pays Dogon (Mali)

n GR20 (França)

ser emboscado e morto pelo exército

A trilha, que pode durar até dez dias,

A trilha tem 200 quilômetros (!) e

boliviano na Quebrada del Yuro, em

percorre a região do povo dogon,

atravessa toda a ilha da Córsega. Liga

1967. A aventura começa na cidade de

conhecido por seus dançarinos

Calenzana, na Balagne, à Conca, ao

Vallegrande (a 6 horas de Santa Cruz

mascarados. No trajeto, penhascos

norte de Porto Vecchio. Pelo caminho,

de la Sierra), com direito a parada para

da falésia de Bandiagara, que servia

paisagens de sonho: lagos, florestas,

fotos em Señor de Malta, hospital onde

de refúgio natural para a etnia dogon.

picos nevados, planícies, glaciares e

o corpo do guerrilheiro foi exposto.

As casas, feitas de argila, palha e esterco bovino, ficam praticamente

crateras criadas pela ação do vento.

invisíveis à distância.

O percurso foi criado em 1972. Muita

n Campo Base do Everest (Nepal)

subida e descida, trechos pesados de

A 5.500 metros de altitude, o campo

pedras e rochas escorregadias. Para

base da mais alta montanha do mundo,

n Narrows (Estados Unidos)

os experientes.

no Himalaia, é o destino deste clássico

Esta é uma aventura bem diferente:

do trekking. A trilha sai de Lukla e

o trekker passa 50% do tempo

n Trilha Inca (Peru)

leva, dependendo da capacidade

caminhando em águas rasas e,

Esta vereda ancestral que leva a Machu

do grupo, até 16 dias. A vista é um

algumas vezes, nadando pelo rio

Picchu é percorrida por milhares de

deslumbramento, e o viajante tem a

Virgin – de água gélida e corrente

aventureiros todos os anos. Atravessa

oportunidade de conhecer, durante o

vigorosa. Nas margens, uma coleção

montanhas com picos congelados, flo-

trajeto, uma série de vilarejos e seus

de pedras escorregadias. São 26

restas altas, ruínas e penhascos. Mais

monastérios budistas.

quilômetros cortando os cânions do Zion National Park, com direito a

seco e quase sem chuvas, julho é o mês

24

mosquetões e correntes.

ideal para encarar os 45 quilômetros

n Caminho da Morte (China)

jardins suspensos, fontes naturais e

em quatro dias de trekking, mas há va-

O nome já diz tudo. O caminho, que

grutas de arenito.

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junho 2016



clássicos

lugares e objetos que nasceram para ser eternos

fotos: divulgação

por andré julião

Dos lenhadores às celebridades Criada para o trabalho pesado rural, a yellow boot da Timberland tornou-se um símbolo urbano

S

idney e Herman Swartz

de sapatos criaram um símbolo fashion.

comprou uma parte da fábrica Abington

queriam apenas fazer botas de

A yellow boot (bota amarela), lançada

Shoe Company. Três anos depois, adqui-

couro à prova d’água para os

em 1973, atravessou com passos firmes

riu o restante e levou os filhos Sidney e

lenhadores da gélida região na

quatro décadas, conquistando fãs cada

Herman para ajudá-lo. O objetivo passou

vez mais diversificados.

a ser criar botas impermeáveis e que

Nova Inglaterra, no nordeste dos Estados Unidos. Daí batizarem o calçado com

26

Muita lenha foi queimada antes de

mantivessem a temperatura dos pés.

o nome Timberland. A palavra significa

a yellow boot chegar às lojas. A origem

Se os Swartz alcançassem tal intento,

terra da madeira, ou melhor, floresta. Vale

dessa história está em 1918, quando o

teriam a preferência dos lenhadores e

lembrar: quando uma árvore grande é

imigrante russo judeu Nathan Swartz

outros profissionais sujeitos a trabalhar

cortada e vai cair, o grito de aviso é “tim-

começou a manufaturar calçados em

ao relento numa região em que a tempe-

-ber!”, assim como o nosso “ma-dei-ra!”.

Boston, trabalhando em máquinas – o

ratura cai a 20 graus negativos.

Sem querer, os dois irmãos fabricantes

que lhe custou alguns dedos. Em 1952,

Mit revista

junho 2016

O passo decisivo foi dado em 1965,


quando a Abington introduziu o sistema

populares do que o tênis Air Jordan da

d’água em Hong Kong, onde a marca

de injeção. A parte superior do calçado,

Nike. Mas a empresa jamais assumiu

havia acabado de chegar, ele cravou:

feita de couro, passou a ser unida à sola

esse público como alvo, o que gerou

“Ninguém precisa, mas todo mundo

sem costuras ou emendas. Vieram os

acusações de que a marca era racista.

idealiza a vida ao ar livre”.

testes. De noite, os Swartz deixavam

O herdeiro Jeffrey Swartz respon-

os calçados imersos em um balde. Pela

deu com a campanha “Give racism the

manhã avaliavam se permaneciam

boot”. Ou “Dê um chute no racismo”. Ao

secos. Assim, chegaram à yellow boot

mesmo tempo, a Timberland encampou

totalmente impermeável. O sucesso foi

campanhas ecológicas. Em 2011, quando

imediato. Primeiro entre lenhadores, ca-

vendeu a empresa por US$ 2,2 bilhões

minhoneiros e caçadores. Depois, entre

para a gigante VF – dona da Lee, North

os amantes da vida ao ar livre, como até

Face e Wrangler –, Swartz admitiu que a

hoje a marca define seu público. Não

marca não soube aproveitar o público do

tardou e a empresa mudou o próprio

hip-hop a seu favor, embora uma deriva-

nome para Timberland. Começavam as

ção do modelo clássico, a Bee Line, seja

exportações.

assinada pelo rapper Pharrell Williams

O primeiro país estrangeiro foi a Itália. Ali, no início dos 1980, as botas viraram

desde a década de 2000. Hoje, as amarelinhas estão nos pés

mania entre os paninari, jovens que

de celebridades negras, de Jay Z e

adotaram a cultura americana como

Beyoncé (e da filhinha deles, Blue Ivy) a

modo de vida. O nome advém de Panino

Kanye West e Rihanna. Astros brancos de

Caffè de Milão, onde a turma fazia ponto.

Hollywood, como Jake Gyllenhaal e Ryan

Logo a yellow boot era um hit em toda a

Gosling, também cele-

Europa e também no Japão. No Brasil,

bram as Timbs. Apesar

chegou oficialmente em 1996, licenciada

do sucesso no asfalto, a

pela Alpargatas. Por aqui, em virtude

marca mantém-se fiel

da valorização do dólar, um modelo

ao público “aventureiro”

custa em torno de R$ 900. Salgado para

em suas propagandas,

lenhadores.

seguindo o que disse

Foi nos próprios EUA, já nos anos

Sidney Swartz: Orgulhoso de sua criação

Jeffrey Swartz numa

1990, que outra tribo urbana se apro-

entrevista em 1991,

priou das amarelinhas: os rappers. Eles

ano em que se tornou

teriam se inspirado nos traficantes de

presidente da empre-

rua dos bairros negros, que usavam a

sa fundada pelo avô.

yellow boot noites adentro para se livrar

Quando lhe pergun-

do frio. Em pouco tempo, as Timbs,

taram por que

como passaram a ser chamadas pelos

alguém precisa-

rappers, esquentavam os pés dos astros

ria de botas

Tupac e Wu-Tang Clan. Não parou por aí.

à prova

Notorious B.I.G cita as Timbs na letra de “Suicidal Thoughts”. Elas inspiraram até nomes artísticos, como os de Timbaland e Timbo King. Nos bairros negros das grandes cidades americanas, as botas se tornaram ainda mais

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qual o seu mundo

pessoas que fazem a diferença

por juliana amato

Mineirinho do Guarujá

fotos: divulgação

Adriano Elias de Souza começou no surfe com uma prancha de trinta reais. Depois de dez anos na elite do esporte, tornou-se campeão mundial

O surfista e seu Pajero HPE-S

E

le deixou a casa na periferia do Guarujá (SP), a 40

do mundo, agradeceu publicamente ao irmão pelos R$ 30

minutos do mar, para se tornar campeão do mundo.

investidos em sua primeira prancha. A paixão do camisa 13

Adriano Elias de Souza, o Mineirinho, 29 anos, é um

das ondas (número de sorte que ele carrega nas costas e

dos mais experientes atletas da chamada Brazi-

código de área de sua terra natal) começou cedo. Aos oito

lian Storm, a geração de surfistas brasileiros que encara o

anos, Mineirinho saía da comunidade de Santo Antônio, no

esporte no mesmo nível dos cobrões. Quando outro paulista,

Guarujá, para acompanhar as manobras do mano surfis-

Gabriel Medina, conquistou o título mundial em 2014, Adriano

ta. Aos dez, já participava de torneios e competições. Ele

estava prestes a completar uma década na elite mundial. No

relembra: “Como morava longe e só podia ir à praia aos fins

ano seguinte, finalmente levou a taça. Com todos os méritos.

de semana, era o primeiro a cair na água e o último a sair”. Já

Na atual temporada, ele segue entre os protagonistas.

adolescente, driblava a vigilância do pai (estivador), da mãe

“Quero conquistar sempre mais”, avisa. Além de campeão

(doméstica) e do irmão (policial) para cabular aulas e cair em

no WCT, pode se orgulhar de outra façanha: foi o brasileiro

seu habitat natural

que mais vezes venceu o mitológico americano Kelly Slater,

28

Desde que se casou, em janeiro de 2016, Mineirinho mora

da Flórida, 11 vezes campeão do mundo. Em 14 confrontos

com a mulher, a empresária e modelo catarinense Patricia

diretos, o pequeno Mineirinho (1,67 metro) ganhou 11. Quem

Eicke, em um apartamento na praia do Campeche, em Flo-

não tinha ouvido falar do surfista brasileiro até o título, logo

rianópolis, na ilha de Santa Catarina. Rapaz de sorte, apenas

quis saber quem era aquele rapaz que, ao sagrar-se campeão

algumas passadas o separam hoje do mar.

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fotos: divulgação/reprodução

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n 1. CINEMA – Ele é fã de comédias e de filmes de ação. “Considero épicos os dois Tropa de elite.” n 2. TELEVISÃO – Na telinha, os esportes são a maior diversão. Com muito futebol. “Principalmente para ver o meu Timão jogar.” n 3. LIVRO – “Aquele que está na cabeceira da cama no momento. Hoje é Sonho grande, do empresário brasileiro Jorge Paulo Lehman.” n 4. OBJETO – Sempre foram as pranchas. Isso mudou. “Agora são meus troféus de campeão. Não deixou nem a Patricia abraçá-los muito.” n 5. VIAGEM – A da lua-de-mel. Mineirinho e Patricia foram para o Vietnã e as ilhas Maldivas. n 6. MÚSICA – “Cada hora estou ouvindo uma coisa diferente. Tem dias que adoro escutar o DJ David Guetta. Em outros boto o Led Zeppelin a todo volume.”

Por que o apelido Mineirinho?

Herdei do meu irmão, que era chamado assim por ser muito quieto.

o cronograma. Para compensar, cheguei

Já tomei muitos. Difícil me lembrar

antes para treinar na Austrália.

só de um. Prefiro me lembrar das vitórias

É bom olhar para trás e ver o tanto

[risos].

também me leva a querer mais. E faço de tudo para conseguir.

ço do ano. É que me casei, e isso mudou

Qual foi o maior caldo da sua vida?

Que tal ter ganho o título mundial?

que lutei e o quanto conquistei. Mas isso

Quanto tempo você passa fora de casa ao longo do ano?

É mais fácil perguntar quanto tempo

Como é estar sempre no Havaí?

O Havaí é um lugar lindo e com ondas perfeitas. Um paraíso para todo surfista. Procuro estar sempre por lá, até porque três das principais disputas ocorrem ali.

O esporte pode mudar o mundo?

eu fico em casa. Em 2015, foram menos

Mas nunca morei lá, nem pretendo. Se

Claro que sim. O esporte já se

de três meses.

você quer saber, adoro o Brasil e o meu

mostrou capaz até de parar guerras, como aconteceu no Haiti com a seleção brasileira de futebol. Foi um momento

Qual o mar mais desafiador que você já surfou?

Outra pergunta difícil. São dois.

incrível [Mineirinho se refere ao Jogo da

Teahupo’o, na Polinésia Francesa, e

Paz, entre Brasil e Haiti, realizado em

Pipeline, no North Shore da ilha de Oahu,

2004 no país caribenho, iniciando uma

no Havaí.

campanha de desarmamento em meio à guerra civil]. De onde vem o sucesso?

Fala-se que você trocou a estraté-

cantinho em Floripa. E como é lidar com os surfistas locais, muitas vezes agressivos, que comandam o North Shore?

No começo foi mais complicado, talvez por ser mais jovem e não entender muito bem as regras. Agora, com o tem-

gia neste ano. Qual foi a mudança?

po, já está bem diferente. Respeito todo

Minha estratégia segue a mesma.

mundo e acredito que conquistei o meu

Encaro cada bateria como uma guerra

respeito por lá. E, com respeito, o mundo

ser o melhor e dar uma boa condição

e busco uma constância nos resultados.

é um lugar melhor.

para minha família. Consegui tirá-los da

Isso é essencial na corrida pelo título. A

pobreza da comunidade onde vivíamos.

única coisa que mudou foi não ter feito

Abracei o surfe como estilo de vida e

uma pré-temporada no Havaí, no come-

Do trabalho, da vontade de querer

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forma de tirar meu sustento.

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Qual é o seu mundo?

O mundo inteiro! É rodar em busca das melhores ondas.



combustível

bebidas para abastecer a alma

por marcello borges

À sombra do vulcão O limoncello leva apenas açúcar, álcool, água e limão. Mas os melhores vêm das frutas plantadas no sopé do Vesúvio e do Etna

N

a canção “I Can Do

Vesúvio, na Costa Amalfitana. Ou da

Better”, que com-

Sicília, de preferência produzidos perto

pôs em parceria

do vulcão Etna.

com o americano

Lucasz Gottwald, a cantora canadense Avril Lavigne

Um de seus segredos: a escolha dos

limoncello que puder”.

limões, chamados ovais de sorrento.

Se faltava alguma prova

Eles receberam em 2000 a qualificação

de que, decisivamente,

de IGP – Indicação Geográfica Protegi-

o licor digestivo italiano

da. O Villa Massa custa em torno de

conquistou o mundo,

R$ 125 e vai muito bem em coquetéis,

ei-la. Um dos motivos

com espumante ou tônica. da Costa Amalfitana, ostenta 32% de

limoncino, é a fórmula

teor alcoólico. Mesmo assim, mantém

bem simples. Ela requer

aromas como doce de limão, mentol e

apenas limão, açúcar,

notas de pimenta-branca, com notável

água e álcool (há quem

acidez. O segredo dessa paleta aromá-

utilize vodca). Outra é o

tica reside na composição da bebida:

preço. Começa em

10% a 15% de limões verdes, não

R$ 60. Não à toa, tornou-

maduros. Ele apresenta ainda um toque

-se o segundo destilado

herbáceo, como alguns vinhos Sauvig-

mais popular da Itália. Só

non Blanc do Novo Mundo. Seu preço

perde para a grappa. Há

por aqui gira em torno de R$ 140. Brasil. Pois é. O Il Cello provém de uma

da acidez e do frescor:

receita da família de um dos sócios.

basta manter a garrafa no

Tem teor alcoólico um pouco mais bai-

vodca, o limoncello não congela. Há um detalhe, porém. E que muda

fotos: divulgação

Há um bom limoncello feito no

para o alto consumo, além

congelador. Assim como a

junho 2016

Já o Caravella, também oriundo

também chamada de

ainda um terceiro motivo

Mit revista

É produzido com 30% de teor alcoólico.

brada: “Vou beber todo

da expansão da bebida,

32

De Sorrento vem um dos limoncelli mais vendidos no Brasil, o Villa Massa.

xo do que o tradicional: 28%. A garrafa é pintada artesanalmente. Vendido em alguns empórios e restaurantes,

tudo. Os grandes limoncelli são feitos

como o Piselli, em São Paulo, por algo

de limão sorrento, também chamado

em torno de R$ 70, o licor tem sabor

sfusato ou femminello Santa Tere-

agradável e presença em boca. Faz jus

sa. Eles crescem melhor em terreno

ao lema estampado na garrafa: “Por-

vulcânico. Daí porque os mais cotados

que os gestos simples trazem sempre

vêm de Sorrento, cidade próxima ao

grandes emoções”.


Mit4fun

equipamentos com a marca dos três diamantes

Lazer e mais lazer Peças ideais para quem é esportista 1

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fotos: divulgação

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5 6

n 1. moletom drive club Prático, o moletom Drive Club é o parceiro ideal para gentleman’s drivers. Nas cores cinza e preta. n 2. polo ml legend Camisa com mangas compridas, exclusivamente em malha vermelha. Perfeita durante a aventura para aqueles dias mais frios.

n 3. camiseta lama T-shirt com 100% de algodão. À venda nas cores branca, vermelha e preta.

n 6. guarda-chuva Peça produzida com cabo de plástico e varetas de fibra de carbono, nas cores preta e vermelha.

n 4. Boné MIT4FUN Confeccionado preto de brim com tela inglesa e acabamento de sarja. n 5. mochila work A mochila vai do trabalho ao rali. De casa até aquela esticada na praia.

Confira estes e outros produtos no site mit4fun. com.br. Venda exclusiva nas concessionárias e nos eventos Mitsubishi

/mit4fun

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painel

objetos do desejo com alta tecnologia

por Alessandra Lariu, de Nova York

O futuro hoje Ideias que chegam para mudar o seu cotidiano

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fotos: divulgação

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n 1. Leve mesmo Em geral, as bicicletas portáteis são pesadas – e pouco portáteis. Isso motivou a Humming Bird a criar uma bike leve de verdade. Pesa inacreditáveis 6,5 quilos, três a menos que as concorrentes. Uma pluma. hummingbirdlike.com n 2. Água pra quê? Lavar roupa é coisa do passado – ao menos para a Odo, que acaba de inventar o primeiro jeans autolimpante. O tecido tem microfibras de prata que repelem qualquer tipo de sujeira ou líquido (até suor). Resultado: meses sem lavar. A empresa diz que cada peça economiza cinco anos de água. ododenim.com 34

Mit revista

junho 2016

n 3. Rota instantânea Muitos ciclistas usam aplicativos que mostram o roteiro no celular. O problema é ter de parar para consultar. Do tamanho de um relógio de pulso, o Haize, da Onomo, resolve a parada. Encaixado no guidão, ele conversa com o aplicativo do smartphone onde a rota foi previamente marcada. E, por meio de sinais sonoros e visuais, ‘guia’ o ciclista enquanto ele pedala. onomo.myshopify.com n 4. Cubo mágico Ele se chama Wonder Cube, vem em forma de chaveiro e é mesmo um cubo maravilhoso. Versátil, funciona como carregador portátil (USB ou

a pilha), cartão de memória de 64 GB, sincronizador de arquivos e até lanterna. Uma maravilha para quem vive na estrada. thewondercube.com n 5. Para apressadinhos Dizem que a Revl surgiu para competir com a GoPro. A câmera edita vídeos em tempo real. Ou seja: assim que gravadas, as imagens podem ser imediatamente compartilhadas. A Revl vem ainda com um estabilizador eletrônico. Ele mantém a imagem nivelada no plano horizontal, sem tremores. Ótimo para quem não gosta de tripé. indiegogo.com


MUNDO MITSUBISHI por juliana amato

as boas-novas da marca dos três diamantes pelo mundo

ilustração pedro hamdan

Sempre adiante! Uma câmera amadora que retrata detalhes da Lua. Uma máquina de vender refrigerante que analisa o consumidor. Saiba o que rola em termos de altíssima tecnologia nas empresas do grupo Mitsubishi

Mitsubishi Gas Chemical

Energia limpa O éter dimetílico é uma fonte de energia limpa. De olho no futuro do planeta, a Mitsubishi Gas Chemical começou

começa em março de 2019. A história da Mitsubishi Gas Chemical com o metanol

a construir, em setembro do ano passado, no arquipélago

começou em 1952, ano em que a empresa, pioneiríssima,

de Trinidad e Tobago, no Caribe, uma usina desse gás. Há

passou a obter esse produto a partir do gás natural. Em

demanda crescente pelo produto nas Américas, na Europa

1983, construiu sua primeira usina de metanol, na Arábia

e em países asiáticos. A usina caribenha ficará pronta em

Saudita. E nos anos de 1994 e 2010, inaugurou outras duas,

2018, e também se incumbirá de gerar metanol. A produção

na Venezuela e no sultanato do Brunei, respectivamente.

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Mit revista

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mundo mitsubishi Tríplice coroa O Good Design Award, organizado pelo Instituto de Design do Japão, é uma das premiações mais prestigiadas de desenho industrial no mundo. Desde 1957, elege as melhores criações. Em 2015, o Grupo Mitsubishi recebeu uma série de prêmios, incluindo a celebrada categoria Design for the Future. Conheça três deles:

Mitsubishi Estate

1- Home sweet home Um prédio de luxo diante do Palácio Imperial, em Tóquio,

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descortina-se um maravilhoso bosque de cerejeiras. A ele se

equivale a um edifício na Praça Vêndome, em Paris, ou em frente

alia o arrojo da avenida Uchibori-dori e seus arredores. Isso sem

ao Central Park, em Nova York. Ou seja, estamos falando de um

mencionar que, das confortáveis varandas, os condôminos

dos mais disputados metros quadrados do planeta. É o que

podem ver as cinco fogueiras gigantes acesas nas montanhas

acontece com o Parkhouse GRAN Chidorigafuchi, construção

durante o festival Daimonji, em agosto. Além do atributo de

residencial de 73 apartamentos, recém-erguida pela Mitsubishi

adorável mirante, o novo prédio prima pelo design ousado – que

Jisho no distrito de Chiyoda Ward, em meio ao bosque histórico

aponta para o futuro sem se esquecer da tradição nipônica,

de Chidorigafuchi. Ele é considerado o mais valorizado imóvel do

nítida nas formas do telhado e do beiral das janelas. O projeto

gênero em todo o Japão. A localização, incluindo a vizinhança

inovador conta com a mais moderna estrutura à prova de terre-

aristocrática, por si só é privilegiadíssima. Dos apartamentos

motos e um novíssimo sistema de revestimento acústico.

Mit revista

setembro 2015


Nikkon Group

2- A Lua a seus pés A Coolpix P900 é uma câmera fotográfica digital compacta de alto desempenho. Sua lente Nikkor com zoom óptico de 83 vezes (!) equivale a uma objetiva de 2.000 mm. De tão poderosa, permite até fotos detalhadas da superfície da Lua. Não bastasse, o zoom digital de ajuste fino ainda dobra o alcance, chegando a 166 vezes, semelhante ao de uma tele de 4.000 mm. A P900 tem ainda GPS embutido, sensor de 16 megapixels e tela de LCD de 3 polegadas – com resolução de 921K. Além de fotos, ela faz vídeos de até 60p em qualidade Full HD e se comunica com outros dispositivos via wi-fi e NFC.

Mitsubishi Heavy Industries

3- Chiquitito, pero... Ele é pequeno, gera “apenas” 250 kW e é completamente eco-friendly. Eis o Hybrid-FC gerador de energia cuja eficiência se compara à de uma central elétrica de grande porte. E não é só isso. O aparelho pode fornecer energia elétrica e térmica ao mesmo tempo, o que reduz significativamente as emissões de dióxido de carbono. O Hybrid-FC utiliza Sofc (Solid Oxide Fuel Cell), ou seja: células de combustível de óxido sólido capazes de transformar energia química em eletricidade.

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Mit revista

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mundo mitsubishi

Mitsubishi Eletric

De olho no cliente Sabe aquelas máquinas de estação de metrô, que oferecem de refrigerantes a livros em troca de uma ficha ou de dinheiro? Pois bem. O que não falta no Japão são elas. E o que mais se vê é uma diferente a cada dia. Bom exemplo são as recentes máquinas automáticas criadas pela Mitsubishi, que examinam até o consumidor! Por meio de sensores, elas decifram idade e sexo do cliente e oferecem produtos apropriados. Tudo, claro, levando-se em conta a hora do dia e a estação do ano. Nas cidades mais sujeitas a desastres naturais, ela são controladas remotamente por um supervisor, que, no caso de uma emergência, pode liberá-las para oferecer bebidas gratuitamente.

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setembro 2015



mua mundo urbano capa

Amora

a grife da Globo Com 22 novelas e outras produções no currículo, ela é a mais moderna (e bela) diretora da emissora

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tr

e

n

por joaquim ferreira dos santos retratos jorge bispo


Com seu novo blazer Balmain

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mundo urbano capa

A

mora Mautner fez 41 anos e um dos presentes que se

A diretora tem feito, novela a novela, desde que começou a

deu, além de mais um blazer Balmain de US$ 5 mil

dirigir uma — e a primeira foi O Cravo e a Rosa em 2001 —, uma

para sua coleção, foi praticar sem culpa as delícias

série de pequenas revoluções no gênero, a mais deliciosa jabu-

do ócio. Trata-se de um direito que ela acha ser pos-

ticaba inventada pelo Brasil para o quintal da TV. Já assinou 22.

sível só aos que já chegaram à maturidade e apresentam lastro

Em Cordel Encantado, de 2011, tornou pop a comédia burlesca

de boas realizações no trabalho. Ela é a mais moderna diretora

que misturou a nobreza europeia ao cangaço brasileiro, salvando

de novelas da televisão brasileira – e, desde 2014, também di-

com bom gosto o que poderia, nas mãos de outro diretor, virar

retora de núcleo da Rede Globo. Está em férias. Desde março,

uma chanchada tosca. Em 2012, reinventou a maneira

quando foi ao ar a última cena de A Regra do Jogo, Amora tem se

de se dialogar na TV. Fez todo o núcleo suburbano de

dedicado a um quase nada – e isso é o avesso do avesso de sua

Avenida Brasil falar ao mesmo tempo, transgredin-

imagem de workaholic temperamental. Certa vez, contratou 80

do a regra de não sobrepor conversas; e estabeleceu

caminhões de areia para melhorar a cor de uma praia onde iria

um clima divertido e reconhecível por todos. Era

rodar uma cena.

te, em A Regra do Jogo, escondeu as câmeras

que Amora foi vista ontem, nos estúdios do Projac, no Rio de Ja-

do estúdio, como se fosse um Big Brother, para

neiro, chicoteando, com palavras duras e um tom acima do reco-

desbloquear os atores de marcações antigas

mendável pelo RH, um ator de criatividade sonolenta. A vocação

e sacudir as imagens. Há sempre alguma no-

para general lhe é intrínseca e quem afirma é ela mesma. Gosta

vidade. Não há tempo morto quando se

de mandar. Está apenas dando um tempo longe do campo de

está trabalhando com Amora

batalha. Se neste momento não estiver em Berlim, usando os

Mautner, e alguns su-

ingressos do carnê que comprou para toda a temporada da Fi-

balternos têm

larmônica, é quase certo que ande às voltas com uma atividade

dificul-

descoberta recentemente, as aulas de dança urbana da academia no bairro onde mora, o Leblon, no Rio de Janeiro. “Dançar sem o compromisso do social de festa – tem coisa melhor?”, pergunta, e, sempre agitadíssima, levanta os braços, e joga as pernas, e balança os cabelos, como se tivesse começado a tocar uma música em sua cabeça e fosse impossível não sair dançando.

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uma casa brasileira com certeza. Recentemen-

Por algum tempo, as colunas de fofoca deixaram de publicar

Mit revista

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corbis

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Mit revista

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mundo urbano capa

dade em ajustar suas baterias à mesma alta voltagem.

cesso na disco music dos anos 1970. Uma outra música que já

“Às vezes, ela enche o saco, é uma insanidade”, diz o ator Ale-

apareceu nas aulas é a emblematicamente libertária “Livin’ la

xandre Nero, o vilão Romero Rômulo de A Regra do Jogo, que

Vida Loca” – e eis o item mais importante da agenda de uma

adora as provocações da diretora. Em Joia Rara, uma das nove-

workaholic em férias, quase zero de compromisso profissional.

las que Amora comandou, em certos dias ela dispensou a clás-

Neste momento, ela talvez possa ser vista flanando sem o casa-

sica passagem de texto em troca de um exercício que naquele

co de general, mas um biquíni que revela um corpo bem apru-

momento achava mais produtivo para energizar a turma – botou

mado, nas areias do Leblon.

todo o elenco para dançar a música eletrônica da dupla francesa

Para não perder as referências intelectuais que lhe são intrín-

Daft Punk. Gosta de mexer com os confortos consolidados em

secas, Amora cita como definidora de sua vida no momento a

anos e anos de cacoetes televisivos.

célebre palavra usada por Guimarães Rosa para abrir o romance

“Não tenho tesão por ator que sai de casa todo preparado”,

Grande Sertão: Veredas. Nonada.

diz Amora. “Quero mais vivência e menos interpretação.” Ela

Tem dado à Julia, de 8 anos, uma vida de filha nova rica, com

nunca entendeu aonde Alfred Hitchcock, um de seus ídolos, que-

o súbito luxo de uma dedicação materna em tempo integral.

ria chegar com a frase “atores são gado”. Garante amar os ato-

Leva ao colégio, às aulas de natação, às de patins e o que mais

res, profissionais sensíveis dedicados a uma carreira que define

estiver na agenda, esta sim, movimentada, da menina. A propó-

como muito difícil, dilacerante, uma gente sempre sangrando e

sito, a data de nascimento de Julia, fruto do casamento de sete

se expondo muito. Foi atriz por um breve tempo, nos anos 1990, e

anos com o ator Marcos Palmeira, é a mais recente tatuagem

detestou. “Eu digo, brincando, que atores são como os Gremlins”,

de Amora, desenhada na parte de dentro do braço direito. Tem

sorri. “Fofinhos, mas quando entra água, viram monstros.”

outras sete pelo corpo. Desenhos de flores, raios, estrelas, sinais

Neste final de 2016, o papo é sabaticamente outro. Amora quer saber de si própria. O projeto profissional mais próximo é uma novela em 2018, para o horário das 23 horas, escrita por Euclides Marinho. Até lá, a generala descansa – se é possível flexionar um verbo desses tendo a frenética Amora Mautner como su-

A filha, Julia, está com oito anos. É fruto da união que durou sete anos com o ator Marcos Palmeira. Há três, Amora namora o empresário Arnon de Mello, filho do ex-presidente Collor

de Iansã, uma cruz indígena, simbolizando transformação. E uma adaga, também recente, quase uma outra cruz, que desce agressivamente sensual da altura do quadril direito até o início da coxa. É uma mulher bonita, tem os evidentes traços de uma ascendência europeia, de neta de austríacos, os

jeito. Uma vez, Mãe Carmem, herdeira do terreiro do Gantois,

cabelos em mechas louras, que gosta de deixar caídas sobre os

na Bahia, jogou os búzios. E ficou intrigada porque a Amora, à

olhos. Tudo bem adaptado a uma postura corporal meio Madon-

sua frente, estava lhe parecendo “calminha” demais para o que

na, meio Gisele Bündchen, e todas essas outras mulheres mo-

estava sendo revelado no tabuleiro: uma filha dos explosivos

dernas que cabem dentro do rótulo semanticamente feio, mas

Xangô e Iansã. “Calminha? Eu?”, respondeu a consulente. “É só

expressivo, do que se chama agora de as empoderadas. Amora

por respeito que estou aqui ajoelhada.”

prefere se situar dentro do estilo de uma poderosa francesa, Emmanuelle Alt, a editora-chefe da revista Vogue parisiense, que,

NOS BRAÇOS DE ARNON

como ela, tem poucos vestidos no guarda-roupa e aposta em

Zerar o QI, como gostam alguns, não é com ela. Continua as-

calças grifadas.

sistindo a Transparent, dramédia sobre o relacionamento de uma

A arte-final dessas qualidades tem um design chique e con-

família de classe média às voltas com a questão de transgêne-

temporâneo, com ótimos resultados diante do sexo oposto. A

ros – e que é a sua série de TV preferida no momento. Mas tem

relação de seduzidos vai do poeta e roteirista Geraldinho Car-

pegado leve. Se durante a temporada de trabalho ela reverencia

neiro, passa pelo ator-galã Rômulo Arantes Neto, pelo diretor de

como ídolo o diretor naturalista nova-iorquino John Cassavetes,

cinema Guilherme Coelho e hoje está consolidada nos braços de

que procurava passar nos atores a sensação de que nada foi en-

Arnon Affonso de Mello, filho do ex-presidente Fernando Collor e

saiado, Amora cita agora como referência principal para tocar a

de Lilibeth Monteiro de Carvalho.

vida, e se abrir para novos sentidos dela, as coreografias do professor Justin, da academia do Leblon. Quer brincar mais, relaxar.

44

UM VOVÔ AGONAL

Uma das suas colegas de dança, e os paparazzi que investi-

As revistas de fofoca adoram separar Amora e Arnon (inventa-

gam cada esquina do bairro ainda não sabem desse encontro,

ram para ele um romance com Grazi Massafera, a quem, o rapaz

é a atriz Juliana Paes. As duas abrem suas asas, soltam suas

jura, nunca sequer foi apresentado), mas o casal se mantém jun-

feras, e, se bobear, acabam revivendo As Frenéticas, grande su-

to há três anos, em casas separadas, e com anel de noivado. Ela

Mit revista

junho 2016


Arquivo Pessoal jane müller

Arquivo Pessoal Elizabeth de Fiore

O compositor e escritor Jorge Mautner com sua filha única, em 1975

Fazendo carinha de sapeca, aos 8 anos, no Rio de Janeiro

A mãe, a historiadora Ruth Mendes dos Santos, no início dos anos 1970

Com o namorado Arnon, numa festa carioca

Entre Marco Pigossi e Alexandre Nero em A Regra do Jogo

globo/João miguel

fotos: agencia o globo

Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal ruth mendes

Os pais, Ruth e Jorge, pegando uma praia em Paraty (RJ) em 1968

junho 2016

Mit revista

45


mundo urbano capa

é o que se costuma chamar de mulher intensa, de dicção afirma-

referência às festas da antiga Roma ao deus Jano, aquele que

tiva, de olho no olho, capaz ainda de uma risada particular, nem

tem duas faces. Mas, como na semana anterior pegara o avô ex-

aí para etiquetas que pedem menos volume – e Amora escande

plicando à menina o significado de estoico, ficou firme nos seus

alto um chorrilho divertido de ha-ha-ha. Alguns homens podem

princípios de não interferir. E admirou ainda mais a disponibilida-

ficar assustados com a postura nada fofinha. Não deveriam. De

de dele para educar a neta.

perto, se lhe perguntarem, ela anuncia uma perspectiva de relacionamento dos sexos que não tem nada a ver com a clicheria de arrogância que acompanha as fêmeas contemporâneas. “Mulheres são submissas diante de seus homens, somos re-

Como pai (“Ele me ensinou a levar a vida de um jeito livre e levar a transgressão para o trabalho”, elogia a filha diretora de van-

féns deles, por mais poderosas que possamos ser”, e ela diz que

guarda), Mautner tinha menos tempo e usava um truque. A cada

aprendeu isso ao ler na adolescência O Segundo Sexo, de Simo-

livro que Amora lesse, ela ganhava uma roupa ou a prenda que

ne de Beauvoir. Está dedicada ao romance com Arnon, mas aten-

estipulasse. Foi assim, nesse troca-troca, que ainda adolescen-

ta ao fato de que é preciso observar as flutuações inevitáveis de

te, e hoje eternamente agradecida, se iniciou em textos de física

um encontro já tão longo e se adaptar a elas. Se acabar, vai sofrer,

quântica (está lendo As Sete Breves Lições de Física, do italiano

vai chorar, uma pena – e vida que segue. “Sou tão autocentrada,

Carlo Rovelli), ciência (“O documentário Wonders of the Universe,

que ficar sozinha comigo mesma me faz muito bem.”

da BBC, é o melhor produto audiovisual que vi nos últimos tem-

Ela frequenta o divã psicanalítico desde os 7 anos (como res-

pos”), neurociência (O Homem que Confundiu sua Mulher com

ponder ao bullying escolar de que seu nome não era uma fruta,

um Chapéu, de Oliver Sacks, foi o livro que a iniciou na matéria, e

e sim o feminino de amor?). Mas foi na casa paterna que Amora

devora ainda tudo da brasileira Suzana Herculano-Houzel) e até

teve um exemplo fundamental de que é preciso sensibilidade

literatura russa (está adaptando para a televisão Os Irmãos Ka-

aguçada para acompanhar o movimento do grande barco das paixões, perceber suas transformações e não desistir facilmente. Seus pais, a historiadora Ruth Mendes dos Santos e o cantor, compositor e escritor Jorge Mautner, se separaram. Entre os relacionamentos que Ruth teve a seguir houve o namoro com Nelson Jaco-

Ela frequenta o psicanalista desde os sete. Na escola, enfrentou muito bullying. Afinal, como explicar que seu nome não era uma fruta e sim o feminino de amor?

ramazov, de Fiodor Dostoievski, com a roteirista Manoela Dias). “A televisão brasileira é ousada e educou o povão brasileiro, do interior da Amazônia às periferias do Rio, com uma linguagem visual de qualidade”, elogia. “As novelas são líderes nesse processo e vão ter longa vida.” Os interesses de Amora Mautner

bina, padrinho de Amora e parceiro musical de Jorge. Nelson e

são amplos – outro lugar onde ela pode estar é fazendo o cur-

Ruth terminaram o namoro, Ruth voltou com Jorge, e os três,

so de fotografia em Nova York –, mas fora do trabalho. E, nesse

mais Amora, ficaram vivendo, liberalíssimos, na mesma casa. A

mundo de fantasia em que circula no momento (talvez esteja

propósito, com toda a fama de maluco beleza que carrega, Jor-

procurando apartamento para comprar em Berlim), pouca coisa

ge, uma espécie de filósofo-guru da geração tropicalista, vive até

a acelera mais do que falar em moda.

hoje com Ruth (Jacobina morreu em 2012), num dos relacionamentos mais longevos no meio artístico nacional.

É viciada em sites como The Sartorialista, Garance Doré e no Pinterest, onde tem mais de 4 mil fotos de roupas marcadas

De perto ninguém é normal, disse Caetano Veloso, e décadas

como sonho de consumo. Seu salário anda na faixa dos R$ 150

atrás – quando ia de sunga buscar Amora na escola ou andava

mil. Um dinheiro expressivo, mas em alguns momentos os gastos

nu pela casa, inclusive na frente das amiguinhas dela –, Jorge

com roupas – e também com a decoração da casa – chegaram

Mautner podia parecer menos normal ainda. Hoje é um avô nor-

a tal excesso que ela precisou pedir socorro à empresa de Flo-

malíssimo; bem, digamos, quase. É ele quem faz os trabalhos

ra Gil, que agora lhe administra os bens. Amora tenta controlar

da escola com a neta Julia, o que o torna superlativo e autoriza

também a vaidade. Recentemente, retirou o perfil do Instagram,

Amora a chamá-lo – logo ele, o primeiro escritor beat brasileiro

onde postava seus looks e suas marcas.

com o romance Kaos, em 1963 – de “uma babá quase perfeita”.

“Sou toda grifada”, anuncia, e as roupas da sessão de fotos

Outro dia, Amora chegou em casa e abriu a porta do quar-

para esta reportagem demonstram isso. Calça botas do tailan-

to onde os dois estavam estudando no exato momento em

dês Phillip Lim, veste blusa de seda da brasileira Andrea Marques,

que o vovô, em meio à leitura de uma história infantil, dizia

jeans dos estilistas ingleses Marcus Wainwright e David Neville

para a menina:

(da grife americana Rag and Bone), mais o blazer poderoso de

“Juju, você entendeu então o que é agonal?”.

Balmain. Um figurino de luxo perfeito para quem quer descansar

Amora ficou sem saber de que capítulo da literatura da es-

da dura vida real dos estúdios de uma telenovela. No lugar do cra-

cola primária saiu aquela palavra – segundo os dicionários, uma 46

SEM CRACHÁ, COM CARTIER

Mit revista

junho 2016

chá, Amora Mautner está usando joias Cartier.


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Mit revista

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Mit revista

junho 2016

latinstock

O Ronnie Scott’s, no Soho londrino; e um grafite original de Keith Haring, no seu êmulo de NY


creative commons

3 vezes Soho

O primeiro surgiu em Londres. Depois, vieram os de Nova York e de Buenos Aires. Todos com os mesmos componentes: boemia, juventude e vanguarda por sergio crusco

junho 2016

Mit revista

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mundo urbano viagem

N

ão se sabe, ao certo, qual a origem da palavra. A

E o que dizer do Palermo Soho de Buenos Aires? Cópia de

história mais contada, portanto bem-aceita, é a de

quem? Dos americanos ou dos ingleses? Também há Sohos em

que “so ho!” seria um grito de caça ao coelho. As-

Málaga, Pequim e Hong Kong. O espírito que une todos esses bair-

sim como “tally ho!” é, ainda hoje, o brado dos que

ros é um só: boemia, boa oferta de restaurantes e bares, lojas mo-

caçam raposas na Inglaterra. Também não se sabe

dernas e hotéis mais charmosos, justamente por estarem afasta-

se essas caças aconteciam exatamente na região denominada

Gente jovem e cheia de ideias prafentex também não pode fal-

vez num manuscrito de 1307, e, olhando o mapa de Londres da

tar na lista de ingredientes de uma vizinhança que mereça o apeli-

época, é de se imaginar que a área onde hoje fica o Soho poderia

do. De maneira geral, os Sohos do mundo eram lugares esquecidos

estar infestada de bichinhos saltitantes – era inabitada.

antes dessas turmas animadas chegarem, atraídas por aluguéis

A proliferação cunicular (sim, a palavra designa tudo o que é

baratos. Transformaram tudo com arte, música, letra e dança – in-

relativo a coelhos) com que bairros apelidados de Soho pipoca-

clusive o valor do metro quadrado em áreas onde, há pouco, quase

ram pelo mundo é mais engraçada do que qualquer hipótese. Há

ninguém queria colocar os pés.

o SoHo de Nova York, com esse “h” maiúsculo no meio porque eles

Embora cada Soho tenha sua história, nem todas tão vibrantes

garantem que não se trata de imitação do nome londrino, e sim de

quanto a do original, existe sempre algum para chamar de seu. Em

uma área reurbanizada no fim dos anos 1960 e assim apelidada

Londres, Nova York ou Buenos Aires há muito o que curtir, ver, pro-

por estar ao sul da Houston Street (South of Houston). Morou?

var, conhecer e comprar nesses lugares fervilhantes.

expressão Swinging London, lavrada pela

barulhentas. Para quem quer tradição,

jornalista de moda Diana Vreeland. Estava

o pub The French House (Dean St., 49)

siderada com o inesperado comprimento

virou referência. Foi aberto em 1891 e era

da minissaia, a onda beat e as invenções

o preferido do estadista Charles De Gaulle,

ão importa o que o tenha levado

pop da estilista Mary Quant, que tinha loja

dos pintores Francis Bacon e Lucian Freud

ao Soho londrino. É quase certo de

no bairro. Ali era onde tudo acontecia nos

e do poeta Dylan Thomas.

Londres

N

que você fará uma parada no Bar Italia

anos 1960, onde Rolling Stones, Beatles e,

Quando se fala em gastronomia, o

(Frith St., 22) a qualquer hora do dia ou da

mais tarde, Queen e Sex Pistols gravaram

Soho revela muita do caráter cosmopo-

madrugada para um café, uma refeição

sucessos no Trident Studios ou soltaram

lita londrino, com restaurantes de várias

ou uma garrafa de champanhe – ele

os primeiros acordes no Marquee Club.

nacionalidades e outros que apostam na

fica aberto das 7h às 5h. “O café é bem

Há muito as redondezas perderam o

mistureba de tendências – ou melhor, fusion food. Como o 10 Greek Street (tão

pequeno, mas o que acontece aqui dentro

ar de novidade. Novos bairros, antes deca-

é tão grande quanto o mundo”, disse o

dentes, foram desbravados e remixados

cool que tem o endereço como nome). A

guitarrista Dave Stewart, a outra metade

por jovens em busca de abrigo a preço de

casa trabalha com o conceito sazonal e,

do Eurythmics, ao prometer, em 2010,

banana, como Hoxton e Brixton. O velho

portanto, seu cardápio vive em mutação.

uma peça musical sobre o local, fundado

Soho, porém, não perde em pose e char-

Se é o caso de surfar na onda peruana

em 1949 e até hoje dirigido pela mesma

me. Sobretudo para quem quer agitar,

que lambe o planeta, o Ceviche Soho

família. O Italia é o ponto ideal para a

comer e beber. Não demora muito para

(Frith St., 17) é dos bem cotados. Para

conversa fiada no Soho e há quem diga

descobrir onde fica o Ronnie Scott’s,

tapas à espanhola, o Copita (D’Arblay

que o melhor sanduíche de milanesa da

lendário bar de jazz aberto em 1959, que

St., 27) ganha em comentários efusivos

cidade é o deles.

funcionou na Gerrard Street e hoje está

dos clientes, com especial reverência à

na Frith, número 47, quase em frente ao

bochecha de porco.

A Frith Street costuma ser o começo do caminho do turista que, a esmo, tem

Italia. Da inauguração até hoje, o Ronnie’s

a bela ideia de desviar da aglomeração

é o “quem é quem” do jazz em Londres e

da Charing Cross Road ou da sufocante

no mundo – Miles Davis, Ella Fitzgerald,

Oxford Street e descobre que, a pou-

Stan Getz, Buddy Rich, Nina Simone e Jeff

cos passos da multidão, há uma praça

Beck são apenas alguns dos que grava-

charmosa – a Soho Square – e um

ram discos ao vivo no boteco.

emaranhado labiríntico de ruazinhas a

50

dos dos distritões turísticos clássicos.

Soho, no West End londrino. A expressão apareceu pela primeira

Se a sede é de bons drinques, pode-se

Nova York

N

a metade do século 19, o SoHo nova-iorquino, antes de ter esse

desvendar. Bares, muitos bares. Restau-

optar entre certos endereços notáveis

nome, foi um vívido reduto de pequenas

rantes, lojas, teatros, cafés. Abrigado por

pela coquetelaria, como o Bar Termini

manufaturas, editoras de livros, comér-

quatro grandes vias (Charing, Oxford,

(Old Compton St., 7), com sua carta de

cio, teatros, hotéis e animação (incluindo

Regent Street e Shaftesbury Avenue),

Negronis, e o Milk & Honey (Poland St.,

a venda de favores sexuais, nas ruas

o Soho, sempre sacudido, deu origem à

61), onde não se admitem conversas

secundárias).

Mit revista

junho 2016


creative commons

O SoHo de NY tem H maiúsculo. O de Buenos Aires, hotéis como o Mine

No Soho londrino, o seu bar-símbolo: o Italia

junho 2016

Mit revista

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divulgação

mundo urbano viagem

Muita animação e danças típicas no restaurante ucraniano Korchma Taras Bulba, no centro do agito nova-iorquino

the Americas. Ocuparam lofts gigantescos

tico e de preço justo em que se destacam

estabeleceram marcas como Tiffanys,

em que tinham espaço, luz natural e plena

massas e coisas do mar – o polvo grelhado

Lord & Taylor e a finada Arnold Constable,

liberdade de movimentos para pincelar,

é uma perdição. O Korchma Taras Bulba

a primeira loja de departamentos dos

esculpir, gravar e até rodopiar um Lago

(West Broadway, 357), de comida ucrania-

Estados Unidos. Quem buscava sossego

dos cisnes, se bem entendessem. O SoHo

na, é também famoso pela coquetelaria,

foi se deslocando para o norte da cidade,

começava a (quase) equiparar-se em

à base de vodca, naturalmente, e pelos

assim como as grandes marcas – a

charme e simpatia ao Greenwich Village,

raviólis siberianos de carne. Simplezinho,

Tiffanys se mandou para a Quinta Avenida

bairro vizinho que viu praticamente tudo

o bistrô Parigot (Grand Street, 155) é um

e lá está até hoje. A atividade fabril, sobre-

acontecer em matéria de vanguarda, de

dos preferido dos locais. Quem quer sentir

tudo têxtil, tomou conta da área, mas foi

Isadora Duncan a Miles Davis.

o sabor da modernidade pode escolher

Era bacana dar banda por ali, onde se

depauperada pelas crises da Guerra Civil e da primeira Grande Depressão, em 1873.

a fusion food do David Burke Kitchen,

cio de moda e a farta oferta de restauran-

cuja carta de vinhos ganhou chancela de

tes. A Broadway Ave., naquele pedaço, é

excelência da revista Wine Spectator. O

com a mudança do setor têxtil para o sul

lar de grandes marcas populares e lojas

restaurante do premiado chef Burke, um

do país, essa área ao sul de Manhattan

de departamento. As moças diferentonas

dos inventores da moderna cozinha ame-

ficou desolada e conhecida como Hell’s

preferem se esgueirar pelas alamedas ao

ricana, fica dentro do James Hotel (Grand

Depois da Segunda Guerra Mundial,

Hundred Acres (Casa do Diabo Descabela-

encontro de opções mais exclusivas como

St., 27), boa dica, por sinal, de hospeda-

do, em tradução bem livre). Sobraram fa-

a clássica Céline (Wooster St., 67), as

gem no SoHo. Se visitá-lo na primavera ou

briquetas de meia tigela, lojas mequetrefes

finas lingeries da marca inglesa Wolford

no verão, faça uma reserva no jardim.

e os imponentes edifícios com estrutura

(Greene St., 122) ou as criações fluidas e

de ferro fundido, a grande moda arquitetô-

minimalistas da Tibi (Wooster, 120). Em

nica do século 19, muitos deles abandona-

tempos bicudos, vale dar uma espiada na

dos. À noite, poucos se aventuravam a um

Fillmore & 5th (Broome St., 398), que

rolê pela vizinhança.

vende roupas de segunda mão, porém em

Foram os artistas, sempre eles, que apoiaram a revitalização do bairro, agora batizado como SoHo e delimitado pelas ruas Houston, Crosby, Canal e Avenue of 52

Quem dá cara ao SoHo hoje é o comér-

Mit revista

junho 2016

perfeito estado, de grifes poderosas como Chanel, Prada, Gucci. Para comer bem, o Aurora Soho (Broome St., 510) é um italianinho simpá-

Buenos Aires

É

meio complicado – talvez como aprender a dançar tango – decifrar a intrin-

cada nomenclatura não oficial com que os portenhos batizaram cada pedacinho do


getty images

De dia ou de noite, o coração do Soho de Buenos Aires é a Plaza Serrano, próxima de onde nasceu Jorge Luis Borges

grande bairro de Palermo, ao norte da cida-

praça e ali mesmo toma os primeiros

surpreendentes. Modernos dão um pulo

de. Há o Palermo Chico, o Nuevo, o Norte, o

tragos, no Macondo Bar (Jorge Luis

na De Vanguardia (Malabia, 1.782), loja

Alto, o Botânico, o Hollywood e até o Freud.

Borges, 1.610) ou no Querido Gonzáles

meio bagunçada que reúne roupas e

Há quem prefira, e com razão, hospedar-se

(Honduras, 4.999), simpático casarão

acessórios dos novos estilistas de street

em Palermo Soho, bem longe do Obelisco,

de esquina. Os que querem música alta e

wear de Buenos Aires. Camisetas com

onde se concentram multidões e grande

decoração estilosa vão ao Sheldon (Hon-

estampas diferentes estão na Gimme

parte da rede hoteleira tradicional. Não que

duras, 4.969), famoso pela boa comida. O

Gimme Store (Pasaje Santa Rosa, 4.985).

não haja muvuca no Soho argentino, mas

nome da Bodega Cervecera (El Salvador,

E a Bokura (El Salvador, 4.677), só para

ela é formada por gente mais relaxada,

5.100) é autoexplicativo: aqui você prova as

meninos, é uma das muitas grifes ousa-

que lota a Plaza Serrano, informalmente

melhores cervejas artesanais produzidas

das que nasceu em Palermo Soho.

conhecida como Plazoleta Cortázar.

na Argentina, na pressão ou engarrafadas.

Para se hospedar com exclusividade,

Haverá dezenas de outros bares chiques e

o pequeno Mine Hotel Boutique (Gorriti,

ral, Palermo ficou ao largo do processo

alguns chinfrins, que guardam a tradição

4.770), com apenas 20 quartos, foi um

de reurbanização da cidade. O pedaço,

bairrista de Palermo. Basta se embrenhar.

dos ganhadores do prêmio Traveller’s

No final do século 19, zona semiru-

destinado a habitações proletárias, já era barra-pesada na época em que Jorge

Moda e design também pululam no

Choice 2016 do Tripadvisor. Os de alma

Soho sul-americano. O passeio de compras

clássica vão gostar do Duque Hotel Bou-

Luis Borges, nascido na Serrano, próximo

para casa pode começar na Agnes (Uriar-

tique (Guatemala, 4.634), que impres-

à Plazoleta, observava o que narraria

te, 1.971), que restaura e vende móveis e

siona pela fachada em estilo art noveau e

na vida adulta: “Havia gente de fraca

objetos de diferentes décadas, o que eles

conta com spa. Outro charme é o também

qualidade, juntamente com gente pouco

chamam de “barroco urbano”. A chique

diminuto, porém requintado, o Legado

agradável; rufiões e compadritos, que se

Patrón (Malabia, 1.644) reúne trabalhos de

Mítico (Gurruchaga, 1.848). Os 11 quartos

caracterizavam por lutas e facadas”.

vários designers e artistas argentinos, da

levam o nome de mitos argentinos como

moda à decoração, com mostras especiais

Victoria Ocampo, Evita, Carlos Gardel e

na galeria do subsolo.

Martín Fierro e Mafalda.

O clima que se respira hoje em Palermo Soho, enfim, é bem mais ameno e colorido. Quem chega ao centro do quadrilátero

Rapazes e moças também podem

compreendido entre as ruas Coronel

fazer a rota fashion no bairro, a partir da

PS – Seja qual for a cidade escolhida,

Niceto Vega, Godoy Cruz, Guatemala e

Koshkil (Uriarte, 1.327), que vende finas

se avistar um coelho pulando pelas redon-

Malabia é recebido pelo clima festivo da

peças de lã merino em cores e formas

dezas, já sabe: grite “so ho!”. junho 2016

Mit revista

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mundo urbano tecnologia

the top ten

Todo dia aparece um novo produto conectado à web. E tudo para facilitar a sua vida. Acompanhe aqui a seleção dos dez melhores por paulo mancha d’amaro

Q

uem gosta de cinema certamente se lembra

“A internet das coisas é uma tendência muito forte”, diz o

da cena: o policial John Anderton, personagem

engenheiro Rodrigo Calili. “Algo que pode ajudar também na

de Tom Cruise em Minority Report: A Nova

gestão de consumo e na sustentabilidade.” Pesquisador e pro-

Lei, percorre os corredores de um shopping

fessor do Centro Técnico Científico da PUC-RJ, Calili é um dos

center. Ali, é assediado por cartazes de

embaixadores do projeto N.O.V.A. (Nós Vivemos o Amanhã).

pro­paganda 3-D que o reconhecem e o chamam

Trata-se de uma ação colaborativa que está construindo uma

pelo nome, convidando-o a comprar cerveja, perfume, roupas. A história se passa em 2054, mas, a julgar pelo avanço da tecnologia, isso deve acontecer bem mais cedo.

espécie de casa do futuro, em Niterói (RJ). Não pense que é devaneio de cientista maluco. A coisa é bem séria: um estudo da Cisco, empresa de TI, indica que 50 bilhões (!) de dispositivos estarão conectados à internet até 2020. Só o governo britânico liberou recentemente 45

uma miríade de gadgets, usados no dia a dia, ligados à rede

milhões de libras para pesquisar a internet das coisas. Gerin-

mundial de computadores, todos se comunicando entre si:

gonças tidas como “futuristas” alguns anos atrás, já podem

eletrodomésticos, carros, smartphones. Tudo para facilitar e

ser compradas. Ou estão prontas para entrar no mercado. Se-

melhorar nossas vidas (ou perturbar, como no filme).

lecionamos dez das mais bacanas. Divirta-se.

fotos: divulgação

O fenômeno que nos liga eletronicamente a tudo e a todos já está em curso e tem até nome: internet das coisas. Ou seja,

54

Mit revista

junho 2016

O lençol que embala o sono e faz café n Luna Smart Mattress Cover Parece um simples revestimento para colchão, mas o Luna Smart Mattress Cover é um intrincado sistema de sensores ligados à internet que só falta falar. Para começar, ele permite que você determine a temperatura ideal da cama e, ao longo da noite, aquece ou esfria automaticamente. Além disso, registra seus batimentos cardíacos, a respiração e até as posições em que você dorme – e tudo isso vira um relatório na internet, que pode ser usado até pelo seu médico. Ah, o lençol inteligente também pode apagar a luz e a TV tão logo perceber que você dormiu. E, se você tiver uma cafeteira ligada a ele por bluetooth ou wi-fi, ele dará as ordens para que o café seja feito assim que você se levantar. US$ 300, eightsleep.com


A geladeira dos apressadinhos n Samsung Smart Fridge + Smarter Mat Nunca mais fazer uma lista de compras! Já pensou? Pois é o que promete – e cumpre – a Samsung Smart Fridge, à venda a partir de agosto. Ela tem um tablet acoplado que toca música, tira e envia fotos, mostra receitas e o mais importante: faz compras em diversos sites, bastando aproximar o cartão de crédito (por enquanto, só MasterCard). Ah, também tem câmeras internas que mostram na tela de 21,5 polegadas o que há lá dentro, evitando aquele abre e fecha da porta (e as broncas por conta disso). A geladeira fica mais bacana ainda quando usada em conjunto com o Smart Mat (que não é da Samsung). Trata-se de um sensor em forma de tapete que você coloca embaixo do produto que desejar (leite, refrigerante, pote de manteiga). Quando estiver acabando, o tapete manda um aviso para o seu celular. Geladeira, preço a definir samsung.com Smarter Mat, US$ 100, smarter.am

Conectado pra cachorro n Scout 5000 Quer saber onde anda seu cachorro? Por onde ele passeou? O que ele viu? Como está a saúde do bichinho? Pergunte à coleira Scout 5000. Fabricada pela Motorola, a engenhoca tem GPS, câmera e monitores de batimentos cardíacos e de temperatura. Tudo enviado para o armazenamento em seu celular ou computador. Esses dados podem ser utilizados até pelo veterinário. A coleira é tinhosa: filma em alta resolução e faz streaming via internet. Ou seja, você acompanha em tempo real o que o seu totó está aprontando. Deu saudade? Fique sussa: um alto-falante minúsculo permite que você converse com o bichinho, via celular. US$ 200, binatoneglobal.com

esqueça chave à vontade n Genie Smart Lock Todo mundo já passou pela situação: chegar em casa, revirar os bolsos ou a bolsa e nada de encontrar as chaves. Pois bem, isso acabou. A Genie Smart Lock abre automaticamente a porta quando você se aproxima, graças à comunicação com o seu smartphone. E, quando você sai, a porta se tranca sozinha assim que a comunicação com o celular é cortada. Ela ainda registra quem entrou e saiu, com os horários. Mais: manda todos os dados via bluetooth ou wi-fi para o seu smartphone, tablet ou computador. Acabou aquela história de filho mentir para os pais sobre a hora em que chegou da balada. US$ 249, geniesmartlock.com

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mundo urbano tecnologia

esta dá pedal fotos: divulgação

n MoDe:Me Bike Bicicleta boa, mas boa mesmo, é aquela que anda sozinha quando você se cansa. A MoDe:Me, apesar do nome esquisito, vem equipada com um sensor de batimentos cardíacos. E não é que o aparelhinho, veja só, aciona o motor automaticamente quando você começa a botar os bofes pra fora? O sensor também registra e envia para o seu celular relatórios que vão fazer a alegria do seu médico. Mais serviços? O GPS indica rotas com menos subidas. E ainda avisa quando um carro se aproxima. Tá bom ou quer mais? Preço a definir electricbikereport.com

para o banho do cascão n Hydrao 2.0 Ainda é um protótipo, mas os franceses acabam de inventar um modo de economizar água no banho (sem piadinhas, é sério!). O Hydrao 2.0 ilumina a água com diferentes cores, conforme o consumo. Nos primeiros 10 litros, ela sai verde; de 10 a 49, azul; e acima disso, vermelha. O sistema envia para o computador ou celular um relatório de todos os banhos. E ainda calcula o gasto individual em dinheiro. Sabe aquele desconto na mesada com que você sempre ameaçou seus filhos? Pois é... Preço a definir hydrao.fr/en

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Mala com alça... e rastreador n Bluesmart Carryon Nada pior do que ficar uma eternidade em frente à esteira de bagagens e, no fim, não ver a sua mala aparecer. Isso, claro, para quem ainda não tem a Bluesmart Carryon. Pra lá de futurista, ela sai de fábrica com um chip 3G ativado via roaming. Ou seja: você pode rastreá-la do Atacama à Zululândia, via celular, tablet ou computador. Mais: a trava de segurança é ativada pelo smartphone. Inteligente que ela só, ainda destrava quando o dono se aproxima – ou avisa quando você se afasta dela. Só falta abanar a cauda. US$ 400, bluesmart.com


Apertou... comprou! n Dash Button Há poucas frustrações maiores do que acordar e descobrir que o café acabou. Ou perceber que não tem sabão em pó na hora de ligar a lava-roupas. Pois bem, se depender da Amazon, isso acabou. Ela criou os dash buttons. São aparelhinhos minúsculos, do tamanho de uma unha, que você cola no armário da cozinha, no espelho do banheiro, no escritório, na lavanderia. Cada dash button corresponde a um produto em uso. Antes que ele acabe, você aperta um botão – e encomenda a reposição. Em poucas horas, conforme o artigo, a nova remessa chega à sua casa. A Amazon tem mais de 70 dash buttons à venda, de ração para cachorro a desodorante. US$ 5, amazon.com

Regador de jardim hi-tech n Rachio Smart Sprinkler Sprinklers automáticos, que regam o jardim em horários programados, não são novidade. Mas e se o seu pudesse saber quando é realmente necessário hidratar a grama? A americana Rachio pensou nisso. E inventou um sistema que economiza até 50% da água, baseando-se na previsão do tempo. Conectado à internet, via wi-fi, ele controla os irrigadores e se alimenta de informações sobre meteorologia, umidade relativa do ar e possibilidade de chuva. Ou seja, se o ar estiver muito seco, as torneiras são abertas. Se for chover, o registro fica fechado. E, caso você não confie na previsão do tempo, pode controlar os sprinklers você mesmo, remotamente, via celular. US$ 250, rachio.com

salada feita em casa n Grove Ecosystem Parece coisa de louco. A americana Grove Labs descobriu ser possível montar uma pequena horta acoplada ao aquário doméstico. Como? Ora, os dejetos dos peixes servem como adubo, ao mesmo tempo em que a horta filtra a água. O segredo para o funcionamento de um ecossistema tão delicado é o monitoramento via aplicativo, ativado por sensores instalados na horta. Você digita no smartphone o que plantou. O App busca na internet os dados ideais de temperatura, umidade e quantidade de adubo. E administra tudo. Se você pode monitorar aquário e horta a distância? Claro. Pela tela do smartphone. US$ 4.500, grovelabs.io

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olympia! Uma saga milenar com heróis inesquecíveis por silvio lancellotti

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á mais de 3 mil anos, a humanidade antepunha dois conceitos. Pela posse e pelo cultivo da terra, fazia a guerra. Daí, como alternativa aos conflitos bélicos, criou o esporte, celebração suprema das potencialidades do físico. À época, se dividia o tempo no equivalente ao que se chama hoje de quatro anos – e tal período correspondia a uma Olimpíada. De certa maneira, a Olimpíada era uma pausa obrigatória, um bálsamo entre a loucura de cada guerra. O procedimento nasceu no Peloponeso, na Grécia, um vale fértil e rico. Sempre que ocorria o interregno das lutas armadas e mortais, os cidadãos do Vale, ou de Olímpia, curtiam a memória de seus antepassados e realizavam competições cuidadosamente programadas. Inaugurava-se o cerimonial com o acendimento de uma chama, expunham-se os objetos prediletos dos heróis de cada confronto do passado e se realizavam provas de corrida, de arremessos e de lutas várias. Os Jogos Olímpicos se inauguraram oficialmente em 776 a.C. Atletas de inúmeras plagas, inclusive de fora da Grécia, se inscreviam nas competições. Nada, porém, atraía tantos interessados quanto a maratona. Jura uma lenda que, em 490 a.C., os gregos comemoraram o seu triunfo com uma façanha de antologia: incumbiram Pheidíppi-

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des, o seu melhor fundista, de percorrer um trajeto de 40 mil metros entre a planície de Maratona e Atenas, com as informações sobre a vitória. Consta que Pheidíppides morreu logo ao entrar na cidade. No fim do século 19, o francês Pierre de Fredi (1863-1973), barão de Coubertin, um bilionário apaixonado pelo esporte, diplomado em pedagogia, se empolgou com a descoberta das ruínas de Olímpia. E decidiu estruturar uma campanha internacional para reviver os Jogos. Imaginava o barão, um personagem vaidoso de entonação cativante, que tal ressurreição tornaria o planeta menos belicoso. Espalhou a sua ideia pela Europa e pelos Estados Unidos – apesar de dificuldades de toda ordem. O fato é que entre 16 e 23 de junho de 1894, com a participação de delegados de 13 nações e mais os informais de outras 24, se configurou que haveria, em Paris, uma pré-convenção olímpica. Sucedeu-se uma explosão de ânimos e num prazo recorde de 18 meses se produziram as instalações para os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, a se abrigarem, claro, na eufórica Atenas.


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O grego Spyridon Louis (abaixo) levou o primeiro ouro da história. Já o americano Jesse Owens (à esquerda) brilhou nos Jogos em que Hitler babou por Helen Stephens

ATENAS 1898 Um carteiro deu as cartas O primeiro vencedor do ouro, Spyridon Louis, um carteiro, não tinha sequer roupas apropriadas. Foi acompanhado no percurso todo, 40 mil metros, por Zeus, seu vira-latas. Ocorreu, paralelamente, o doping mecânico do helênico Spyridon Belokas, que encurtou caminho ao pegar carona numa charrete.

PARIS 1900 A campeã de gravatinha Recém-vencedora do templo de Wimbledon, a tenista britânica Charlotte Cooper se tornou a primeira dama a conquistar uma medalha de ouro nos Jogos – de gravatinha, levou os prêmios, então simbólicos, meros certificados, na prova de simples e na de duplas mistas, ao lado do compatriota Reggie Doherty.

ESTOCOLMO 1912 Rebelde e herói Um capitão agressivo e mal-educado de 27 anos, oficial da cavalaria do Exército dos Estados Unidos, arrebatou o quinto posto da prova do pentatlo moderno. Era George Smith Patton Jr. Ele mesmo, futuramente um dos heróis da Segunda Guerra Mundial, um dos comandantes da invasão da Europa pelas tropas aliadas, contra os nazistas.

ANTUÉRPIA 1920 Atiradores desarmados As primeiras medalhas do Brasil (ouro, prata e bronze), todas elas no tiro esportivo, nasceram de armas e de munições emprestadas por rivais americanos – as nossas haviam sido surrupiadas durante o transporte. Ao tenente Guilherme Paraense, ouro no tiro rápido. A Afrânio da Costa, prata na pistola livre. Costa, Paraense, Sebastião Wolf, Dario Bar-

bosa e Fernando Soledade ainda abiscoitaram o bronze na pistola por equipes.

LOS ANGELES 1932 Com calção emprestado O evento foi grotescamente bagunçado pela ridícula postura do Comitê Olímpico Brasileiro, que exigiu que cada um de seus selecionados vendesse 50 mil sacas de café na viagem de navio até os EUA. Incapaz de cumprir a sua tarefa, o estoico Adalberto Cardoso, que nem mesmo fardamento possuía, se obrigou a deixar o navio Itaquicê antes de seu destino. Foi a pé até o estádio, ganhou de presente um par de tênis e um calção, completou o trajeto e se tornou herói da mídia local.

BERLIM 1936 - I A preferida do Führer Não é absolutamente fato que o ditador Adolf Hitler (1889-1945) se recusou a cumprimentar o negro Jesse Owens (1913-1980), ouro nos 100 metros, nos 200 metros, no revezamento de 4 x 100 e no salto em extensão dos Jogos de 1936. Na verdade, na entrega da medalha dos 100 metros, o Führer sumariamente optou por uma outra atividade: flertar com Helen Stephens (1918-1994), a campeã feminina dos 100 metros, e perdeu a hora do pódio.

BERLIM 1936 – II A Stella que era um rapaz Sob a bandeira dos EUA, a refugiada polaca Stanislawa Walasiewicz, ou Stella Walsh (1911-1980), arrasou na prova dos 100 metros para garotas – e só perdeu o ouro para o biju de Hitler, Helen Stephens. Na Segunda Guerra, voluntária, Stella se alistou às tropas dos Aliados e se transformou em enfermeira, em Cleveland, Ohio. Vivia sossegada, como aposentada, aos 69 de idade, quando, no assalto a um supermercado, acabou assassinada. Uma autópsia, obrigatória, constatou que se tratava de um homem.

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O nosso Adhemar Ferreira da Silva e a romena Nadia Comaneci brilharam no ar e no solo

HELSINQUE 1952 – MELBOURNE 1956 Um Adhemar para se orgulhar Charmosíssimo, encantador, poliglota, Adhemar Ferreira da Silva (1927-2001) fazia o seu relaxamento, antes de se alongar e de se aquecer, sempre de violão em punho. Até mesmo aprendeu o idioma local. Suplantou o recorde dos Jogos em quatro tentativas, o recorde do planeta em duas. Repetiu a dose na Austrália, quatro anos depois. Mas, em Roma, em 1960, não passou das eliminatórias. De maneira inédita, o público local exigiu que Adhemar desse várias voltas na pista, com a plateia toda em pé.

ROMA 1960 Duelo de titãs Uma das batalhas mais sensacionais de toda a história. Rafer Johnson (EUA) e Yang Chuan-Kwang (Taipé) eram colegas, amicíssimos, na Universidade de Los Angeles, a UCLA. Coube-lhes o destino de disputar, milímetro a milímetro, o ouro do decatlo em Roma. Mais leve, Yang levava vantagem nas competições de saltos e de velocidade. Rafer, nas de força e de arremessos. Na disputa derradeira, os 1.500 metros, já era quase madrugada. Rafer, 4’49”7, ficou pouco atrás de Yang, 4’48”5. O suficiente para somar 8.392 pontos contra 8.344 e ganhar um dos títulos mais emocionantes dos Jogos.

TÓQUIO 1964 De bandeja Foi uma geração espetacular, a de Amaury, Wlamir, Mosquito & Cia. Chegou a Tóquio depois de vencer dois campeonatos mundiais de basquete. Liderada pelo folclórico 62

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treinador Togo Renan Soares, o Kanela, a equipe do Brasil arrebatou o terceiro bronze em Olimpíadas (havia conquistado outros dois pódios em Londres e Roma). Numa das semifinais, perdeu para o esquadrão quase profissional da então União Soviética por apenas 47x53.

MUNIQUE 1972 a LOS ANGELES 1984 Jogos contaminados Em 12 anos, por quatro patéticas vezes, os Jogos foram contaminados – intolerância religiosa, preconceito racial, rabugice ideológica, reação infantil. Em 1972, a invasão de terroristas palestinos que mataram atletas e agregados de Israel. Em 76, o boicote de 50 países da África, América e Ásia ao evento de Montreal, num torpe e vil protesto ao seu acolhimento a um time de rúgbi da África do Sul. Em 80, uma ridícula represália no certame de Moscou, com a ausência dos americanos e de outras 50 nações. Em 84, a vingança dos comunistas ao certame de Los Angeles. Os cretinos cartolas de plantão não abandonaram seus gabinetes refrigerados. Mas gerações de jovens foram impedidas de se exibir.

MONTREAL 1976 O anjo romeno Quem não visitou o Canadá desperdiçou o privilégio de ver um anjo, uma miniboneca romena, Nadia Comaneci, 14 anos, 1,50 metro, 35 quilos, acumular dez notas dez, uma façanha inaudita nos Jogos. Parecia pairar sobre o solo e sobre os aparelhos. E na sua carreira ainda necessitava brigar com as estupendas soviéticas Olga Korbut e

Nelly Kim. Em 1989, fugiu a pé para os EUA e daí se instalou no Canadá, onde se tornou uma requisitada palestrante de prestígio internacional.

SEUL 1988 Ben dopado Em 24 de setembro, quando desembarcaram na decisão dos esfuziantes 100 metros do atletismo, o americano Carl Lewis e o jamaicano-canadense Ben Johnson já se debatiam numa atroz rivalidade. Quem seria o melhor do universo? Na final da Coreia do Sul, numa arrancada descomunal, Johnson suplantou Lewis por duas jardas. Celebrou com um bolo de chantilly perpetrado pela mãe e com diversas garotas de fama estranha num cabaré. À 1h45 da madrugada do dia 25, no seu hotel, Carol Ann Letheren, a chefe da delegação do Canadá, recebeu uma visita desagradabilíssima. Johnson correra dopado e teve de devolver todos os seus prêmios conspurcados.

BARCELONA 1992 a LONDRES 2012 Zé Roberto, o único Paulista de Quintana, nascido em 1954, José Roberto Lages Guimarães foi levantador da seleção brasileira de vôlei que disputou os jogos de Montreal e, depois, em 1988, assumiu o comando da seleção e abiscoitou o título em Barcelona. Em 2003, se transferiu à equipe feminina, em que permanece até hoje, e pela qual faturou o topo do pódio em Pequim 2008 e em Londres 2012 – o único técnico da história a arrebatar o máximo laurel dos Jogos, na sua modalidade, em ambos os gêneros.


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Duas glórias dos EUA: o Dream Team do basquete e o nadador Mark Spitz

SEUL 1988 a SYDNEY 2000 Ótima maré para a vela Com duas medalhas de bronze, o velejador Lars Schmidt Grael, paulistano de 1964 (Tornado em Seul 88 e em Atlanta 96), se tornou um ídolo de antologia ao lado do primogênito Torben (também paulista, 1960 – bronze na classe Tornado de Seul 88 e de Sydney 2000, prata na Soling de Los Angeles 82 e Ouro na Star de Atlanta 96 e de Atenas 94). Curiosamente, quase sempre escolheram não competir juntos. Ao lado de Paul Elvstrøm, um dinamarquês de 1928, Torben é o iatista com o maior número de pódios nos Jogos.

ATLANTA 1996 e SYDNEY 2000 Xou do Xuxa Catarinense de Florianópolis, asmático na infância, Fernando Scherer, o Xuxa, por causa dos cabelos platinados, aderiu às piscinas para corrigir a sua respiração. E, graças à altura, 1,93 metro, e à envergadura, 1,98 metro, depressa se tornou um campeão. Em Atlanta, depois de abiscoitar o bronze dos 50 metros com 22”29, impactou os jornalistas ao se exibir com unhas que invejariam modelos de esmalte. Ao justificar o tamanho, gargalhou: “A prova dos 50 metros se desenvolve num relâmpago. As unhas bem compridas ajudam você a bater antes na placa do tempo”. Em Sydney, mesmo convalescente de uma lesão de tornozelo, contribuiu para o bronze do revezamento dos 4 x 100 livres.

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ATLANTA 1996, PEQUIM 2008 e LONDRES 2012 As mulheres na frente Jacqueline Silva e Sandra Pires já ostentavam um ouro no vôlei de praia de Atlanta. A seleção das meninas ficou com o topo do pódio no vôlei de quadra de Pequim. Foi a judoca piauiense Sarah Gabrielle Cabral de Meneses, 29 de março de 1990, até 48 quilos, a primeira brasileira a arrebatar o laurel individual depois de cinco triunfos esplendorosos. Soma, ainda, três bronzes no Mundial (Tóquio 2010, Paris 2011 e Rio 2012) e um no Pan de Guadalajara 2011. Cumpre, paralelamente ao esporte, uma carreira militar – e bate continência à bandeira do país.

MUNIQUE 1972 e BARCELONA 1992 A vez do Dream Team No dia 10 de setembro de 1972, graças a um equívoco do árbitro brasileiro Renato Righetto, que não encerrou a decisão no instante justo, os EUA desperdiçaram uma série de sete títulos seguidos no basquete, perderam da URSS por 51 x 50 e detonaram uma invencibilidade de sete títulos olímpicos. Sempre haviam atuado com elencos amadores ou universitários, enquanto os seus rivais, principalmente os ligados à União Soviética, utilizavam atletas que ganharam proventos subrepticiamente. Para Barcelona, porém, o COI aceitou acolher os profissionais dos EUA – que levaram à Catalunha um verdadeiro “Dream Team” com os seus maiores astros e só um universitário, Christian Laettner. Numa expressão, mesmo, “Time dos Sonhos”, oito triunfos, 978 pontos contra 586.

MUNIQUE 1972 A marca do Mark Ele nasceu em Modesto, Califórnia, a 10 de fevereiro de 1950. Individualista e temperamental, inclusive expulso do celebrado Santa Clara Swim Club, era um estudante de odontologia já revelado quatro anos antes nos Jogos da Cidade do México, com duas medalhas de ouro nos revezamentos. Em Munique, porém, Mark Spitz, caracterizado por um corpo esguio, 1,90 metro e 73 quilos, dono de um bigodinho singular, cravou todos os primados individuais da história dos Jogos: sete vezes no topo do pódio. Depois, se tornou um milionário com as ações de publicidade.

SYDNEY 2000 e LONDRES 2004 Deu chabu Tricampeão do planeta de 1998 a 2000, o alazão francês Baloubet de Rouet, pertencente ao bilionário lusitano Diogo Pereira Coutinho e montado pelo ginete brasileiro Rodrigo Pessoa, chegou à Austrália como favoritíssimo da prova de saltos da equitação. Desafortunada e inexplicavelmente, porém, na briga pelo ouro, por três vezes seguidas se recusou a pular um obstáculo simples – e acabou desqualificado. Vingou-se na Inglaterra. Ficou com a prata, mas levou o ouro por causa do doping de Waterford Cristal, montado pelo irlandês Cian O’Connor. Aos 17 anos, Baloubet aposentou-se em 2007 e se tornou um vendedor de sêmen. Uma dose de 0,25 ml, congelada, pode custar R$ 60 mil.

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il signore del vino Angelo Gaja é o mais respeitado produtor de vinhos da itália. Saiba como o soberano do Piemonte se tornou também o mandachuva da Toscana por mauro marcelo alves

D

-se gaia) resolveu enfiar a pá em terras

e o Brunello di Montalcino. Ou seja: confirmou não ser

da rival Toscana. Naturalmente, foi recebido com des-

apenas The undisputed King of Barbaresco, como afir-

crença por muitos toscanos. Diziam: “Magari, magari”.

mou o jornal Los Angeles Times.

esafio é com ele mesmo. Conhecedor

teve o mesmo número de vinhos premiados com o 5

profundo do chão do Piemonte, norte da

Grappoli: Piero Antinori.

Itália, onde brotam as uvas de seus mira-

O interessante na lista é justamente Angelo ter em-

culosos vinhos, Angelo Gaja (pronuncia-

placado dois vinhos toscanos, o Bolgheri Ca’Marcanda

Na boca de um italiano, um “talvez” bem irônico, ainda mais com o gesto típico de mão com os dedos juntos. Gaja foi, estudou as terras tão diferentes das suas,

lo Gaja, entre tantas, é a sua elegância, tanto no vestir quanto nos modos. Pude descobrir isso em um domin-

passou corajosamente a elaborar Brunello di Montal-

go, quando, depois de serpentear pelas lindas colinas

cino em Maremma e plantou uvas de procedência

do Piemonte, cheguei a Barbaresco pela manhã. Iria

francesa para, de novo, encantar o mundo com

entrevistá-lo, mas hesitei antes de ligar, por causa

grandes vinhos. O que os desconfiados toscanos

do clássico dia de descanso. No entanto, os con-

esqueceram é que ele já havia desafiado o pró-

tatos prévios feitos no Brasil me autorizavam a

prio pai. Sim, certa feita mandou o velho viajar.

isso. Gaja atendeu o telefone e perguntou onde

Na volta, Giovanni Gaja viu, horrorizado, que o

eu estava. Dali a 20 minutos estacionou em

filho havia arrancado um vinhedo da sua ama-

frente ao hotel. Fiquei constrangido ao saber

da casta Nebbiolo e plantado no lugar uma

que havia chegado do Japão naquela madru-

uva “invasora”, a Cabernet Sauvignon.

gada, mas seu jeito caloroso de falar me deixou à vontade.

O velho balançava a cabeça e dizia: “Darmagi, darmagi” – que pena, que pena. O que

Fomos para a vinícola, bem no coração

fez Angelo? Batizou o novo rebento de Dar-

da velha cidade. Ele me mostrou as instala-

magi, hoje um dos mais consagrados tintos

ções onde alguns de seus tesouros descan-

de seu portfólio.

savam nos barris e, no pátio, apontou-me

Este é Angelo Gaja, também chama-

as pilhas do carvalho deixado ao relento

do de pontífice do vinho italiano pela aura

até ficar perfeitamente seco. Do pátio, me

que o cerca, várias vezes eleito Homem

mostrou sua casa, na colina em frente.

do Ano por revistas especializadas. Aos 76

Conversamos mais um pouco (antes, me

anos, ele continua firme à frente de suas

perguntou se eu preferia italiano, inglês

vinícolas. Uma prova disso? No recente

ou francês) e, quando me preparava para

guia Bibenda 2016, da Fondazione Italiana

me despedir, fez um convite: almoçar em

Sommelier, despontou como recordista da

sua casa. Fiquei surpreso e muito conten-

premiação máxima, 5 Grappoli, com seis

te, claro, ainda mais porque era meu pri-

rótulos: Barbaresco 2012, Langhe Char-

meiro encontro pessoal com ele. Subimos

donnay Gaja & Rey 2013, Langhe Nebbio-

entre os vinhedos até o alto da colina. Lá,

lo Conteisa 2011, Langhe Nebbiolo Sperss

a família nos esperava: a mulher, Lucia; as

2011, Bolgheri Rosso Ca’Marcanda 2012 e

filhas, Gaia e Rossana; e o caçula, Giovanni.

Brunello di Montalcino Sugarille Pieve San-

A saga dos Gaja começou em 1859, em

ta Restituta 2010. Apenas outro produtor

Barbaresco, com o bisavô Giovanni. Deste divulgação

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Uma das características mais marcantes de Ange-

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divulgação alamy stock photo

O embaixador do vinho italiano (com destaque para o Barbaresco) e a filha, Gaia

Angelo e seu Barbaresco: duas lendas vivas

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Angelo continua morando com a família no Piemonte. Mas viaja constantemente para administrar seus vinhedos na Toscana

passou ao avô Angelo e seguiu com o pai, Giovanni até chegar a Angelo (adivinhem qual o nome do atual herdeiro? Giovanni, claro). Até Giovanni-pai a atuação da vinícola era essencialmente local e o próprio vinho Barbaresco não tinha uma imagem tão favorável. Era muito rascan-

Ele se define como um “artesão do vinho”. No Piemonte, seu prestígio é tamanho que se costuma perguntar: “Você já ouviu falar desse cara chamado Deus, andando por aí fingindo ser Angelo Gaja?”

paixão é como o limpador de parabrisas do carro – ele não para a chuva, mas permite que você continue em frente”. Ao romper com a tradição enológica da família, Angelo começou por abandonar as grandes barricas de carvalho da velha Iugoslávia, usadas

te. Ao assumir a cantina familiar com

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negócio. Haverá maus momentos e a

apenas 21 anos, em 1961, Angelo não só iniciou uma revolução

ano após ano, e passou a utilizar barris menores (os bordale-

no modo de vinificar. Transformou-se principalmente em um

ses, de 225 litros), importados da França. Mas logo intuiu que

embaixador, responsável por elevar às alturas o prestígio do

era melhor comprar o carvalho francês da floresta de Tronçais,

vinho italiano no mundo. Para isso, usou seu indiscutível caris-

deixar as ripas secando por 36 meses ao ar livre e ele mes-

ma. E uma energia que espanta quem o conhece de perto.

mo administrar a fabricação em uma tanoaria local. Com isso,

Angelo nasceu em Alba, terra da trufa branca do Piemonte,

conseguiu abrandar os duros taninos da Nebbiolo, equilibran-

cursou enologia em sua cidade natal e fez pós-graduação em

do essa força com a rara elegância que seus vinhos passaram

economia, na Universidade de Turim. Suas vinícolas, que hoje

a exibir.

dirige junto com a filha mais velha, a linda Gaia Gaja, têm cer-

Para a darmagi do pai e o escândalo dos mais velhos, ainda

ca de 100 hectares de vinhedos, o equivalente a 1 quilômetro

foi além: tornou-se o primeiro na região a plantar as uvas fran-

quadrado. Angelo sempre fez questão de não comprar um só

cesas Cabernet Sauvignon (que, se dizia por lá, jamais dariam

bago de uva de viticultores vizinhos, prática comum entre as

certo naquele solo e clima), Chardonnay e Sauvignon Blanc,

grandes corporações do ramo. É reconhecido como o homem

ignorando a tradicional rivalidade com o país vizinho. Como

que contribuiu decisivamente para elevar os vinhos do Pie-

se não bastasse, esnobou regras da denominação de origem

monte, em especial Barbaresco e Barolo, ao panteão dos tintos

controlada (DOCG) para Barolo e Barbaresco, que impunham

do planeta. E como fez isso? “Gosto de dizer que sou um arte-

o uso de 100% da Nebbiolo, adicionando-lhes partes de outra

são do vinho”, diz. “Usei o coração e a alma.” E acrescenta bem

uva local, a Barbera. E para todos os vinhos imprimiu ainda

ao seu estilo: “Meu papel é o de proteger a paixão por trás do

rigorosas práticas de colheita, fermentação e guarda.

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Sobre a decisão de plantar a robusta Cabernet

outros. E, na Toscana, os já citados Ca’Marcanda Bol-

Sauvignon, Angelo apela para uma analogia cinemato-

gheri e Brunello di Montalcino Sugarille da Pieve S. Res-

gráfica. “Ela é como John Wayne, previsível na forma

tituta.

como domina a situação em que se envolve”, afirma. “A

São rótulos caros (ainda mais no Brasil, com os im-

Nebbiolo é como Marcello Mastroianni no filme Fellini

postos indecentes). Mas Angelo Gaja tem a elegância de

8 ½: conquista as mulheres de maneira tranquila, mis-

falar bem dos produtos do Novo Mundo, mais baratos.

teriosa, sensual.”

Em uma conversa, há alguns anos, me disse que são

Quando visitei Angelo, a primeira impressão ficou bem gravada na memória: ele abriu seu belo Chardonnay Ros-

consumidos por 80% da população do planeta e, por isso, têm suma importância para a iniciação ao vinho –

sj-Bass e, enquanto eu imaginava que seria servido, ele o despejou inteiro em uma peça de porcelana

que ele sempre diz ser “a bebida mais importante, depois da água”. E repetiu um de seus bordões:

cheia de lindos morangos. Prendi a respiração.

“Quem sabe beber, sabe viver”.

Os vermelhinhos iriam se impregnar daqueles

Importantes, mesmo, são os vinhos que

aromas e sabores excepcionais até a hora da

ele faz. Intensos, plenos de aromas e com fino

sobremesa. Tive inveja deles.

equilíbrio entre taninos, acidez e tudo o mais

A garrafa seguinte veio à taça, e com ela

que uma criação fora do comum pode propor-

o início de uma jornada alegre, em que seus

cionar. Podem não ser perfeitos, mas costu-

melhores vinhos eram abertos para o almoço

mam ser divinos. Ao escrever essa frase, sorrio

preparado pela própria família: antepastos, a

ao lembrar algo espirituoso que se costuma

salada, a massa ao molho de cogumelos, o as-

dizer no Piemonte: “Você já ouviu falar desse

sado de cordeiro. Angelo e Lucia iam e vinham

cara chamado Deus, andando por aí fingindo

da cozinha, as filhas ajudando a tirar os pratos

ser Angelo Gaja?”.

– não havia uma só empregada por perto. Os

Se eu já estava nas alturas naquela colina

pratos salgados chegaram gloriosamente ao

piemontesa, me surpreendi outra vez ao ver

fim. E então, os morangos, embriagados pelo

toda a família rumo à cozinha: hora de lavar pa-

Chardonnay, foram servidos. Inesquecíveis.

nelas, pratos e talheres. Ofereci ajuda. Angelo

No Piemonte, além de Barbaresco, os vi-

foi novamente um príncipe: disse que estava

nhedos se situam na vizinha Treiso e em Ser-

em sua casa e que eu deveria ficar tranquilo

ralunga Alba e La Morra, na região do Barolo.

tomando, àquela altura, o seu espetacular Sorì

Deles, saem uvas para os vinhos que correm

San Lorenzo. Continuei não acreditando: o mais

o mundo por sua excelência, como Barolo Da-

incensado homem do vinho italiano esfregando

gromis, Alteni di Brassica Langhe Sauvignon

facas e garfos.

Blanc, Sperss Nebbiolo, Conteisa Nebbiolo,

Ao sair, contemplei Barbaresco e acenei

Sorì San Lorenzo, Rossj-Bass Chardonnay-

para a família Gaja. Feliz como um morango

-Sauvignon Blanc, Sito Moresco, Sorì Tildìn e

bêbado.

Os Gaja entre nós

fotos: divulgação

O importador Ciro Lilla revela que tinha um sonho particular: trazer os vinhos de Angelo Gaja para seu portfólio. Disse conhecer produtores de várias regiões do mundo, mas que Gaja é único: “Não só por seus vinhos, mas pela energia, pela elegância e pelo conhecimento”. Eis alguns rótulos à venda na sua importadora Mistral. n Sito Moresco Langhe 2012 (US$ 120) n Barolo Dagromis 2009 (US$ 180) n Barolo Dagromis 2009 (garrafa magnum, 1,5 litro, US$ 454) n Rossj-Bass Langhe Chardonnay-Sauvignon Blanc 2011 (US$ 170) n Alteni di Brassica Langhe Sauvignon Blanc

2009 (US$ 198) n Alteni di Brassica Langhe Sauvignon Blanc 2010 (US$ 196) n Alteni di Brassica Langhe Sauvignon Blanc 2012 (US$ 196) n Barbaresco 2011 (US$ 470) n Sorì Tildìn Langhe Nebbiolo 2010 (US$ 1.000) n Sorì San Lorenzo Langhe Nebbiolo 2010 (US$ 1.070) n Darmagi Langhe Cabernet Sauvignon 2010 (US$ 580) n Sperss Langhe Nebbiolo 2007 (US$ 600) n Gaia & Rey Langhe Chardonnay 2010 (US$ 390) mistral.com.br

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Mit revista

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mundo sem fronteiras viagem

Latitude com atitude Não é apenas a posição geográfica da Serra Gaúcha que favorece a produção de vinhos e o aconchego. Tudo na região contribui para um passeio inebriante por luciana lancellotti, do rio grande do sul fotos andrea d’amato 70

Mit revista

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O Vale dos Vinhedos e o hotel Saint Andrews: beleza e muito conforto

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Mit revista

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mundo sem fronteiras viagem

G

ramado, Canela e Vale dos Vinhedos. Quando

para a mata atlântica. Lá embaixo, a todo vapor, intercalam-se as

o destino é a Serra Gaúcha, o desembarque no

etapas de produção da cervejaria, no mesmo andar em que funcio-

aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, ganha

nam um bar e um Bier Garten, irrigados com chope tipo Stout, ESB,

uma dose generosa de estímulo. Pela frente, há

Weiss e Pilsen.

2 horas de estrada, a maior parte pela BR-116,

Se a ideia for experimentar o melhor da produção cervejeira em

estrada inacreditavelmente bela em território

um só lugar, estique até o centro da cidade. O despojado Empório

gaúcho, pontuada por curvas, cidadezinhas de colonização alemã

Canela (rua Felizberto Soares, 258) oferece quase 90 rótulos, com

e paisagens idílicas. O percurso integra a chamada Rota Romântica,

predominância sulista, em um ambiente que combina bar, bistrô,

que segue da planície do Vale dos Sinos ao Planalto da Serra Gaú-

antiquário, livraria e loja de artesanato. Dica: na carta, a Extra Fancy

cha, passando por 14 municípios, de São Leopoldo a São Francisco

IPA e a Polimango Double IPA, ambas da marca porto-alegrense Tu-

de Paula.

piniquim, faturaram a medalha de ouro na South Beer Cup, único

Quando chega Nova Petrópolis – 1 hora e meia de estrada depois –, é a vez de rumar pelos contornos da RS-235 por mais 35 quilô-

campeonato sul-americano de cervejarias artesanais em âmbito profissional.

metros, até chegar a Gramado. A cidade, que anualmente sedia o principal festival de cinema do Brasil, costuma ser considerada ex-

CAMINHOS DIONÍSIACOS

cessivamente turística. Ainda assim, há muito o que descobrir fora

Retomando o itinerário sinuoso da RS-235, chega-se, 2 horas

do roteiro previsível que percorre casas de

depois, ao Vale dos Vinhedos, a única De-

café colonial e parques temáticos.

nominação de Origem de vinhos no Brasil,

A começar por um dos hotéis mais exclusivos do país, o Saint Andrews (saintandrews.com.br), membro da rede Relais & Châteaux. A localização é inusitada, dentro de um condomínio residencial, e o clima paira intimista – são apenas 11 suítes muito confortáveis, várias com vista debruçada para o vale do rio Quilombo. A ordem é dispensar o máximo de atenção aos hóspedes: quem chega de carro já avista parte da equipe a postos na entrada

Quem vem até aqui em busca de ótimos vinhos terá sua expectativa atendida. A surpresa: na região de Gramado e Canela novos produtores de cerveja já atingiram a excelência

principal, com toda a fidalguia. No restaurante, cintilam apenas cinco mesas, em um

que abrange parte das cidades de Bento Gonçalves (60%), Garibaldi (33%) e Monte Belo do Sul (7%), desenhando uma área de 81 quilômetros quadrados. Os percursos pela região são traçados a partir de duas vias principais – Estrada do Vinho e Via Trento – e suas respectivas ramificações. Por esses lados, a influência vem dos imigrantes italianos. Um deles, o viticultor Giuseppe Miolo, fundou, em seu lote de terra, no fim do século 19, uma vinícola com seu sobrenome, hoje a gigante Miolo (miolo.com.br). As variedades cultivadas nessa

ambiente decorado com tons sóbrios e lustres de cristal tcheco. Já

mesma área, Merlot e Cabernet Sauvignon, entram na elaboração

o café da manhã é servido em um gazebo, em etapas, como em um

de um dos vinhos ícones do Vale dos Vinhedos, o Lote 43. Lançado

menu-degustação. E, ao fim da estada, lá estará o staff, de novo à

em 1999, esse tinto foi produzido em apenas sete edições – a últi-

porta, acenando, sorridente, e desejando um retorno em breve.

ma, com a colheita de 2012, chegou ao mercado em maio deste ano. “Nosso grande limitador é a Cabernet Sauvignon, que tem maior di-

LÚPULO

ficuldade de maturação e pede um ano seco”, explica Adriano Miolo,

Tanto em Gramado como na vizinha Canela, a qualidade da

superintendente do Miolo Wine Group. “Se a safra não for excepcio-

produção de cervejas artesanais é crescente. Vale visitar ao menos

72

nal, simplesmente não produzimos.”

duas, uma em cada cidade. A gramadense Gram Bier (grambier.

Em frente à vinícola, o Hotel e Spa do Vinho, da rede hoteleira

com.br), em atividade desde 2014, é a caçula a fermentar no seg-

Marriott (marriott.com.br), impõe-se do alto de uma colina, com

mento, mas já tem rótulos premiados, como a Pecado, uma Blond

seus 128 apartamentos. O foco, aqui, não é o luxo, mas a localização

Ale cremosa e complexa, com aroma frutado e sabor levemente

e as atividades voltadas ao vinho, caso dos jantares harmonizados

adocicado. O lugar conta com um pub onde não se servem petiscos,

– além, claro, dos tratamentos terapêuticos à base de elementos

apenas chope e cervejas.

da viticultura, como óleos, extratos e sementes de uva. No restau-

Já em Canela, a Cervejaria Farol (cervejariafarol.com.br), fun-

rante interno, o Leopoldina, é praticada a cozinha de terroir, criada

dada em 2003, foi assim designada graças à torre local, com 32

para harmonizar com mais de 700 rótulos listados na maior carta

metros de altura, réplica de um farol da Alemanha. Quem sobe ao

de vinhos do Vale dos Vinhedos. O hotel também conta com um

mirante pelos aparentemente intermináveis 137 degraus é recom-

condomínio vitivinícola para a produção rateada de vinho, em um

pensado a contento: a vista panorâmica de 360 graus descortinada

processo acompanhado por enólogos.

Mit revista

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Casas de pedra e os doces francesess da Holic, de Canela, tornam tudo ainda mais europeu

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mundo sem fronteiras viagem DE TAÇA EM TAÇA

tor-geral Flavio Pizzato. O destaque do passeio: sob agendamento,

Como acontece com as microcervejarias, os passeios pelas viní-

são organizadas degustações verticais, que comparam a evolução

colas seguem um roteiro básico: visita às instalações, degustação

de um mesmo rótulo produzido em safras diferentes.

de alguns rótulos e possibilidade de compras. Na Casa Valduga VINÍCOLA DE GARAGEM

(casavalduga.com.br), mais uma gigante do setor, o ponto alto do tour é a cave de espumantes, com capacidade para 6 milhões de

Para conhecer um dos produtores mais intrigantes da região é

garrafas. “É a maior da América Latina pertencente a uma única fa-

preciso agendar a visita por telefone (54 3462-6807) – e não estra-

mília”, conta João Valduga, enólogo e proprietário. “Sessenta e cinco

nhe se o horário marcado for próximo à meia-noite. O engenheiro

por cento de nossa produção é voltada para os espumantes.”

mecânico Vilmar Bettù, 73 anos, é considerado temperamental.

Com instalações bem mais

Mas não se deixe enganar: trata-

com­­pactas, o prédio de linhas mo-

-se de uma grande figura, cheia de

dernas da Almaúnica (almaunica.

histórias pra contar. Bettù produz

com.br), em Bento Gonçalves, é

vinhos de maneira singular, em um

acessado por uma via que abre

ambiente anexo à própria casa,

caminho entre 3 hectares de vinhe-

encravada em uma estrada entre

dos. A vinícola-boutique foca na ela-

Bento Gonçalves e Garibaldi. Dada

boração de nove rótulos, entre eles

a qualidade de seus exemplares,

um surpreendente Syrah, potente e

já foi chamado por jornalistas e

complexo, envelhecido por 20 me-

blogueiros de “mago dos vinhos”,

ses em carvalho. “É a nossa menina

alcunha que ele rejeita. “Faço ape-

dos olhos”, suspira Magda Brandelli,

nas um bom vinho, com dedica-

que em 2008 fundou a vinícola

ção”, pondera. A pequena produção, de 5 mil

vestimos tecnologia na elaboração

exemplares anuais, inclui cortes e

luiz martini

com o irmão, Márcio Brandelli. “Inde uma variedade que ninguém oferecia na região”, explica. Como o

varietais de múltiplas castas, além do espumante, xodó do produtor, que ele não vende, não adianta

lugar trabalha sem intermediários, a dica é garantir a aquisição de várias garrafas in loco.

insistir. “Porque tem pouco e é muito bom”, afirma. Mas há uma

Outra pequena grande vinícola, a Pizzato (pizzato.net) está ins-

chance de provar tais borbulhas durante as degustações organiza-

talada quase na divisa com Monte Belo do Sul, em uma casa bran-

das em uma antessala da cave: ao longo de 3 horas, é servida uma

ca que, de tão discreta, pode passar despercebida. A exemplo da

sequência de dez rótulos – o espumante abre os trabalhos, seguido

Almaúnica, a visita é breve, mas reserva boas descobertas, como

por brancos, tintos e um fortificado. “No fim, ofereço queijo grana

o DNA99, um Merlot que, ao lado do Lote 43, da Miolo, representa

padano e, conforme a turma, um pouco de grapa ou licor.” Quem

o que de melhor é produzido pela viticultura do Vale dos Vinhedos.

participa costuma gostar bastante, não só dos vinhos como da pro-

“A Merlot ganhou aqui expressão vivaz, tânica, e hoje é a variedade

sa. “Às vezes, tenho que pedir para sair”, dispara Bettù, com uma

campeã em resultados na Serra Gaúcha”, observa o enólogo e dire-

sonora gargalhada.

LICENÇA POÉTICA

A vinícola que encantou Jancis Robinson Ironicamente, a visita à região só está completa quando se rompem os limites do Vale dos Vinhedos. A 20 minutos do centro de Bento Gonçalves, o distrito de Pinto Bandeira sedia a Cave Geisse (cavegeisse.com.br), reconhecida pelo alto padrão de seus espumantes. Durante um passeio batizado de Geisse Experience, veículos 4x4 percorrem os vinhedos de Pinot Noir e Chardonnay. É a oportunidade de explorar a mata nativa a caminho de uma cachoeira, com degustação no deque de madeira, e, com sorte, apreciar um belo pôr do sol. A partir desse terroir, elaboram-se exemplares com incrível capacidade de 74

Mit revista

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preservar estrutura e personalidade após um longo período de envelhecimento – a característica, rara entre os espumantes, tem conquistado críticos internacionais como a britânica Jancis Robinson. A mais respeitada avaliadora de vinhos da atualidade cravou 18,5 pontos (em uma escala até 20), no Cave Geisse Brut 1998. Detalhe: mesmo na tradicionalíssima região francesa de Champagne, poucos produtores conseguem ultrapassar os 18 pontos de Jancis. “Ganhamos dela 200 anos de presente”, brinca, orgulhoso, Daniel Geisse, diretor de marketing e filho de Mario Geisse, o fundador da vinícola em 1979.


Em sentido horário: das parreiras às rolhas, uma produção bem cuidada – com espaço para o frescor das cervejas Gram Bier e os doces aliciantes do Saint Andrews. Nesse amplo universo, há lugar, claro, para os produtores pequenos (como o lendário Vilmar Bettù), médios (como o Almaúnica) e gigantes (como o Miolo). Além dos tratamentos de beleza do Spa do Vinho

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Mit revista

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mundo 4x4 perfil

felipemaluhy ofazendeiroveloz Ele trocou o asfalto das pistas pela terra da fazenda. Seguiu o caminho vitorioso do pai, que também foi piloto de corridas por fernando paiva

retratos marcelo spatafora

É

incrível o que pode acontecer ao volante de um

O pai, Carlos Maluhy, havia desaparecido menos de seis

carro de corrida. Principalmente numa prova

meses antes, aos 63 anos de idade. Outro apaixonado por

de Stock Car. Ali está você, com as rédeas de

carros velozes, também piloto como o filho, ele sofreu um

550 cavalos nas mãos, escoiceando forte num

acidente no início da noite de 28 de dezembro de 2009,

motorzão V8 de 5,7 litros e controlados por um

vindo do interior, na rodovia Castello Branco, altura do KM

câmbio XTrac inglês de seis marchas sequenciais. O veículo

45,5. Naquela segunda-feira, ele perdeu a direção, passou

chega brincando aos 270 quilômetros por hora (na pista; fora

pelo canteiro central e se chocou com dois outros veículos

dela o recorde é de 345).

que vinham no sentido

E aí você pensa na vida.

oposto. Morreu na hora. “Ele estava em Por-

Foi justamente esse

to Feliz, no condomí-

o momento mais in-

nio Fazenda Boa Vista,

tenso que o piloto Feli-

terminando a casa re-

pe Maluhy, que tem no

cém-construída, onde

cur­ rículo mais de uma

pretendia passar o ré-

centena de corridas de

veillon”, explica o filho.

Stock Car, já viveu num

“Voltava a São Paulo

cockpit. Aconteceu num

para buscar a empreAUGUSTO CARVALHO

Pensa no seu pai. E chora.

domingo, 23 de maio de 2010, no autódromo de Jacarepaguá, Rio de Janeiro. “Foi uma corrida

na limpeza final.” Com a tragédia, Felipe não apenas perdeu o chão. Sua vida mudou. Teve

especial, pela maneira

76

gada, que iria ajudá-lo

como venci”, ele relembra, na ampla e iluminada sala de seu

de trocar o asfalto pela terra. Assumiu a direção do grupo

apartamento nos Jardins, em São Paulo, decorada com livros,

Madeiral, cuja joia mais preciosa é a fazenda homônima em

quadros e objetos ligados às pistas. “Larguei em terceiro e dis-

Presidente Venceslau, interior paulista, quase na divisa com

putei até o fim”, conta, enquanto acaricia a cabeça de Nina, uma

Mato Grosso do Sul. O capacete, as luvas e o macacão anti-

alegre mestiça de labrador com golden retriever. Felipe, que em

chama passaram para segundo plano. O banco-concha deu

julho completa 39 anos, conta que nunca teve a oportunidade

lugar à sela da égua Boneca. “Uma cruza de quarto de milha

de falar sobre o fato – mas fez a última volta aos prantos, tal a

com manga-larga”, esclarece. “E tem um passo macio que faz

emoção. “Chorei com vontade e dediquei a vitória ao meu pai.”

toda a diferença no fim do dia.”

Mit revista

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divulgação

O embaixador do vinho italiano (com destaque para o Barbaresco) e a filha, Gaia

Aos 39 anos: campeão no agronegócio

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Mit revista

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mundo 4x4 perfil

No braço esquerdo, a tatuagem com a marca do seu plantel. Criador de bonsmara com paixão à flor da pele

A Madeiral é uma marca respeitada no competitivo mer-

décadas depois. Saía de São Paulo de trem, enfrentava 700

cado da genética brasileira. Se celebrizou pela qualidade do

quilômetros, tomava um 4x4 e, dois dias após ter embarcado

sêmen, dos embriões e dos touros da raça bonsmara. Pro-

na estação da Sorocabana, hoje Sala São Paulo, chegava

priedade antiga, está nas mãos da família desde 1941, quan-

finalmente à sede. Ali se enfurnava por meses. “Era tudo

do Carlos Klinkert (1902-1985), bisavô de Felipe, chegou à

pecuária extensiva”, conta Felipe. As invernadas tinham 250

região. Homem empreendedor, dinâmico e visionário, o velho

hectares, a água era de córrego. Hoje têm 20 hectares, todas

Klinkert encontrou nas matas e nos campos da divisa entre

com bebedouro.

Presidente Venceslau e Caiuá o lugar perfeito para criar seu

Ao mesmo tempo, Carlos adorava automóvel. Tanto que

gado. Originalmente conhecida como Coroados (nome da tri-

chegou a montar uma equipe de competição. “Ele era da

bo local) ou Perobal (graças à enorme quantidade de madeira de lei), a região foi uma das últimas a serem abertas no interior de São Paulo. “Aquilo era sertão bruto quando meu bisavô chegou”, conta Felipe. “Ele comprou uns 7 mil hectares – hoje são 3.500 – e batizou a fazenda de Santo Antônio da Madeiral,

A fazenda Madeiral está nas mãos da família desde 1941, quando o bisavô de Felipe desbravou a região. Hoje, a missão do bisneto é outra: aprimorar cada vez mais a raça bonsmara no Brasil

nome de uma serraria que havia lá.” O empreendimento seguiu a fórmula clássica da formação das fazendas brasileiras no século passado: sai madeira,

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turma de Wilsinho Fittipaldi, Lian Duarte,

Ronaldo

Ferreira,

José

Pedro Chateaubriand; correu as Mil Milhas Brasileiras em Interlagos.” No começo da década de 1970, casouse com a americana Candace Claire Brown – inspiradora e sócia da grife paulistana Candy Brown – e dessa união nasceram a arquiteta Carolina

Maluhy e Felipe. Em 1981, com o avô já velhinho, Carlos abriu a fazenda Santa Rita do Pardo, em Xavantes (MS). Com 2.500 hectares, ela também integra o grupo Madeiral.

cresce pasto, entra boi. “Meu bisavô começou com guzerá

“Meu bisavô percebeu logo que o único caminho para ser

e depois passou para o nelore, no fim da década de 1950”,

eficiente na pecuária era a genética”, prossegue Felipe. “E meu

afirma. “E, por volta de 1963, meu pai passou a ajudá-lo.”

pai entrou de cabeça: pegou gosto e fez a vida dele nessa

Carlos Maluhy tinha então 16 anos. Deixou a escola para

área.” Carlos tomou contato com o bonsmara ao produzir no

fazer o que gostava, sem o saber, dando o exemplo ao filho,

Brasil o montana – um composto genético do qual a raça sul-

Mit revista

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africana fazia parte. “Ele se entusiasmou com a qualidade da carne”, afirma. “E, no fim da década de 1990, viajou à Pretória, na África do Sul, para conhecer os animais e estudar como trazer os primeiros embriões congelados para o Brasil.” Em 2000 surgia a ABCB – Associação Brasileira dos Criadores de Bonsmara, da qual foi um dos fundadores e presidente. Pisando fundo no kart E aqui vale contar uma historinha interessante. Em 1937, os sul-africanos chegaram a uma triste conclusão: as raças europeias de gado de corte não conseguiam sobreviver em condições satisfatórias no clima quente do país. Sim, havia a afrikaner nativa. Mas, apesar de resistente ao calor e da carne saborosa, tinha produtividade baixa. Foi quando o governo propôs a um jovem geneticista, Jan Bonsma, nascido em 1905, criar o boi ideal – um bicho com boa produtividade e parrudo o suficiente para aguentar sem sofrer o clima dos trópicos. Bonsma passou a cruzar o afrikaner com variedades locais de origem europeia. Após inúmeros testes, chegou à fórmula mágica: 5/8 afrikaner + 3/16 hereford + 3/16 shorthorn, duas raças britânicas. Nascia assim o bonsmara, homenagem ao professor Bonsma e à estação experimental de Mara, lugar das experiências. Hoje, mais de 8 milhões de reses, ou 60% do rebanho sul-africano, trazem no sangue um pouco da raça, que, segundo seus criadores, é dócil, fértil, fácil de se adaptar e com excelente qualidade de carne. Este último predicado é fácil de ser comprovado: basta se sentar à mesa de res­ taurantes como o Bonsmara Grill, em Presidente Prudente, do criador Cacau Miranda. “Ele foi uma das pessoas que meu pai trouxe para a raça e está dando continuidade ao sonho.” Sonho que prossegue pelas mãos de gente como o ci­ rur­gião-dentista Hélio Ramalho Rocha, 48 anos. Pecuarista desde os 17, ele cria em sua fazenda Rubi, em Xinguara, no Pará, 200 fêmeas e quatro touros da raça, que, veja só, descobriu por meio de um inesquecível bife de chorizo na churrascaria Vento Haragano, em São Paulo. Curioso por natureza, depois da experiência gastronômica, Hélio se

fotos: arquivo pessoal

enfurnou na internet e só saiu depois de esgotar o assunto.

Carlos Maluhy, pai de Felipe, em três momentos: com o primeiro bonsmara brasileiro, tocando o rebanho e correndo de Fórmula Vê

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Mit revista

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mundo 4x4 perfil “Acabei chegando ao Felipe, que foi de uma gentileza enorme”, conta. “Sem me conhecer, permitiu que eu escolhesse pessoalmente os animais.” As primeiras cabeças, compradas em 2012, fizeram de Hélio um fã da raça. “Ainda crio caracu em outra fazenda, mas pretendo transformar todo o meu rebanho em bonsmara”, promete. “Foi o melhor investimento que já fiz em pecuária.” Uma década antes de vender seus touros e suas vacas para Hélio, Felipe esteve na África do Sul pela primeira vez. Era 2002, e ele vivia um período de frustração como piloto. Já havia deixado o Graded, a Escola Graduada de São Paulo, para correr de kart, aos 16 anos. Campeão paulista, passou a disputar corridas de monopostos (carros de um só lugar). Competia na Inglaterra quando foi obrigado, muito a contragosto, a voltar para casa devido à desvalorização do real após a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. “Eu trabalhava de dia na central de distribuição da rede de lanchonetes America, da qual meu tio Paulo Maluhy é sócio, e à noite cursava propaganda e marketing na Fiam”, recordase. “Enquanto isso, meu pai me pressionava para que eu fosse trabalhar na fazenda.” Na verdade, Felipe não queria

Na África do Sul, aonde foi em 2002 para conhecer de perto a raça criada pelo geneticista Jan Bonsma, Felipe teve a nítida sensação de estar no cerrado goiano. A diferença: leões, leopardos e muito espinho uma coisa nem outra: queria correr. Naquele ano, no entanto, teve de embarcar representando o pai, acamado por uma hérnia de disco, com cinco outros criadores de bonsmara. Ao desembarcar no sul da África, Felipe encontrou uma realidade bem diversa da que imaginava. “Porque apesar de terem uma genética mais evoluída, o campo lá é muito mais hostil e bruto que no Brasil.” A sensação que se tem é de se estar no velho cerradão goiano. “Só que com leão, leopardo e espinho que não acaba mais.” Tanto que a principal preocupação dos criadores de bonsmara no país era produzir animais que evitem acidentes com plantas rasteiras e arbustos. “Até o comprimento do prepúcio precisa ter o tamanho certo”, exemplifica. “Caso contrário, ele raspa no espinho, aquilo infecciona, cria bicheira, o animal sofre, a produção cai.” Segundo ele, no Brasil, a criação de gado se concentrou no melhoramento da propriedade – solo e pasto. Enquanto preparou primeiro a comida, para depois trazer o bicho que ia comer”, compara. “Eles tiveram de criar um bicho capaz de suportar qualquer ambiente, pois lá o valor agregado sempre foi o rebanho, não a fazenda – e mesmo porque, para eles uma fazenda grande não passa de 250 hectares.”

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Mit revista

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augusto carvalho

os sul-africanos investiam pesado em genética. “A gente

A cavalo na lida com o gado na Madeiral: tocando a vida em frente


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Mit revista

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divulgação

augusto carvalho

mundo 4x4 perfil

Felipe em seus três mundos: na fazenda Madeiral; pilotando o Mitsubishi Lancer V8 da Stock Car; e em casa, ao lado da alegre Nina

Conta que, quando se respeita a terra e se aprende a ex-

A passagem do bastão Felipe ainda era piloto quando entrou na sua vida a em-

trair suas riquezas de maneira equilibrada, ela retribui para

presária Laís Aguiar, com quem se casou há quatro anos,

sempre. “Há seis anos construímos um viveiro de mudas na-

depois de um namoro de seis. “Eu a vi na academia e peguei

tivas para reflorestar as margens dos rios”, diz. “O que come-

o telefone e o e-mail dela com um funcionário”, ri. Laís é a

çou como obrigação acabou virando uma supercurtição.” Ele

primeira neta de um tradicional clã paulistano do ramo de or-

se lembra do dia em que as mudinhas, recém-germinadas,

ganização de festas de casamento – a Decorações Rubens,

chegaram. Plantadas, inúmeras têm mais de 4 metros de al-

na qual trabalha com os avós, o pai, os tios e a irmã. Com

tura. “Por outro lado, penso no tempo que ainda vai demorar

essa expertise, o enlace se deu em alto estilo: religioso na

para atingirem a fase adulta”, conta, já que algumas vão levar

igreja Nossa Senhora do Brasil, nos Jardins, seguido de festa

50 anos ou mais. Mas diz ficar tranquilo quando vê as foto-

para mil convidados em Higienópolis, no palacete de dona

grafias da avó, Maria Lygia, ao lado do pai, o velho Klinkert,

Veridiana Prado – colecionadora de arte, herdeira das maiores fazendas de café do estado e uma das patronesses da Semana de Arte Moderna de 1922. Feitas todas as contas, computados ganhos e perdas, ao que tudo indica, Felipe é hoje um homem realizado. Em paz consigo mesmo.

82

Ele garante: hoje, o prazer que tem trabalhando na fazenda é o mesmo de quando corria nos autódromos. Mas admite que jamais pensou que fosse achar tão rapidamente algo que lhe desse tanta alegria

mais de 60 anos atrás. “E nos mesmos lugares pelos quais passo hoje e em que pretendo passar com meus filhos.” Opa. Filhos? “Essa relação com o campo me fez amadurecer no sentido de perceber que estamos aqui de passagem”, conta. “Daqui uns 40 anos, pretendo passar o bastão”, ri.

“O prazer que tenho trabalhando na fazenda é o mesmo de

E baseia seus cálculos numa premissa palpável. O avô e o

estar dentro de um carro de corrida”, admite. Diz que jamais

pai levavam dois dias de viagem até Madeiral. Quando a mãe,

pensou que fosse achar algo que lhe desse tanta alegria tão

recém-chegada de Nova York no começo dos anos 1970, co-

rapidamente. “Acho que só quem teve algum tipo de experi-

nheceu o lugar, nem energia elétrica havia. “Hoje, venho de

ência com a natureza desde pequeno pode entender a co-

avião em 1 hora, ou de carro, em 5”, garante o fazendeiro ve-

nexão que se pode ter com a terra”, acredita. E conta que

loz. Diz ainda que, na mesma casa de madeira do passado,

foi para a Madeiral pela primeira vez quando tinha apenas

tem tudo o que tem na cidade. O que o leva a refletir que, em

um ano. E passou incontáveis férias no local, se divertindo

40 anos, a floresta replantada estará começando sua fase

no primitivo bebedouro abastecido por água natural, depois

adulta. “E meus netos estarão brincando na mesma piscina

transformado em piscina.

que antes era um bebedouro de gado.”

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pa je ro mundo 4x4 carro

Evolução genética

Com seu DNA revolucionário, o Mitsubishi Pajero rompeu com a ideia de que veículo off-road não podia ser resistente e confortável ao mesmo tempo

por décio costa

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Pajero Full 2016: o mais recente

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mundo 4x4 carro

O Pajero Full é veloz e muito seguro

L

eopardus pajeros, conhece? É o nome científico, utilizado na biolo-

mula final. E o cliente, um novo estilo de levar a vida.

gia, para classificar uma espécie de felino sul-americano que vive

O Pajero nasceu configurado com três portas, teto rígido ou capota

do Peru à Argentina, inclusive no Brasil. Na intimidade, o bicho

de lona, e trazia recursos técnicos inéditos em veículos 4x4 do Japão,

atende por gato-dos-pampas ou gato-palheiro. Isso porque habita áreas

como motor turbodiesel e suspensão dianteira independente, funda-

abertas e montanhosas pouco amistosas, forradas de capim alto, que na

mental para o conforto a bordo. A reprodução da linhagem aconteceu

seca vira palha. Ou paja, em espanhol.

logo nos primeiros anos. Em 1983, surgia a versão longa, de sete lugares.

Ele se parece com o bichano doméstico, mas basta enumerar suas

Na sequência, vieram motores mais potentes – incluindo o V6 –, freios

vocações para afastar qualquer semelhança. Sua tremenda agilidade

a disco, câmbio automático e amortecedores reguláveis. Era a hora de

para caçar e subir em árvores o torna insuperável. Daí ter sido escolhido

aprimorar a genética e cumprir seu destino: conquistar fãs e troféus mundo afora.

pela marca dos três diamantes para batizar o

Naquele 1983, com apenas dois anos de

carro que se tornaria sinônimo de valentia e resistência off-road. O Pajero teve ancestrais ilustres. Antes de criar a sua divisão de carros, a Mitsubishi Motor Company, em 1979, o grupo nipônico, nascido da construção naval, já havia mostrado ao mundo seu pioneirismo no assunto. De uma experiência militar em 1936 surgiu o PX33, o primeiro 4x4 japonês. Terminada a Segunda

O Pajero venceu nada menos do que 12 vezes o Rally Dakar, sendo sete delas consecutivas. Tornou-se o soberano do Saara

rali Paris-Dakar. E bastou a primeira vitória, em 1985, para se tornar o soberano das areias do Saara, o rei do deserto. The car, the legend. Ao longo da história, somou 12 vitórias, sete delas consecutivas, de 2001 a 2007. “O carro não precisa de muitas alterações no projeto de fábrica para as corridas e oferece muita estabili-

Guerra (1939-1945), a empresa construiu mi-

dade, mesmo em alta velocidade”, testemunha

lhares de outros 4x4 a partir de 1953, quando

Hiroshi Masuoka, ex-piloto vencedor do Dakar

assinou acordo com a Willys para fabricar o

por duas vezes seguidas no comando de um

Jeep CJ3 no Japão – operação só encerrada nos anos 1990. Mas foi justamente quando ganhava musculatura na produção de veículos fora-de-estrada que a Mitsubishi percebeu: o consumidor pedia

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idade, o Mitsubishi Pajero fez sua estreia no

Pajero, em filme promocional para o lançamento do modelo 2015. “Os três principais focos de desenvolvimento fizeram dele um carro mais suave, seguro e rápido – sempre mais agradável.”

um modelo mais confortável, civilizado. Melhor ainda, “domesticado” no

Ao mesmo tempo em que subia ao lugar mais alto do pódio nos ralis,

uso diário, sem no entanto alterar o DNA para enfrentar terrenos onde os

o Pajero ganhava as ruas em número cada vez maior. São mais de 3 mi-

fracos não têm vez. O primeiro conceito do Pajero foi mostrado no Salão

lhões de unidades vendidas em mais de 170 países. Ele chegou ao Brasil

de Tóquio de 1973. Cinco anos depois, um segundo protótipo apareceu

no começo dos anos 1990, logo após ser lançada no Japão sua segunda

no mesmo evento. Até que em 1981 os engenheiros encontraram a fór-

geração, que trazia linhas mais arredondadas e novos motores, a diesel

Mit revista

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fotos: divulgação

01 1. O Pajero Full 2016 oferece espaço interno para até sete pessoas; 2. Seus faróis têm controle automático da posição do facho; 3. O câmbio permite troca do modo de tração em até 100 km de velocidade; 4. Muita potência no motor. São 250 cavalos; 5. Não falta tecnologia no controle de temperatura interna; 6. A diversidade de instrumentos impôs leitura fácil; 7. Maior resistência a torções e ainda mais dirigibilidade são resultado da carroceria monocoque; 8. O volante dispõe de minúcias de ajuste ergonômico

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O 3D: versĂŁo compacta

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mundo 4x4 carro

raça apurada Acompanhe a evolução do Pajero desde o seu lançamento 1982

1991

1982 – Lançada a primeira geração no Salão de Tóquio. Nasceu com três opções de motores: 2.0 a gasolina, de 110 cavalos; e 2.3 a diesel, com ou sem turbo, de 93 e 84 cavalos, respectivamente. 1983 – Surgimento da versão longa de cinco portas para sete passageiros, com a inclusão da terceira fileira de assentos. Ano de estreia no rali Paris-Dakar. 1985 – Introdução do câmbio automático opcional. Na primeira vitória do carro no Paris-Dakar, o piloto foi o francês Patrick Zaniroli. 1987 – Lançamento de versão luxuosa com a carroceria pintada em dois tons. 1988 – Estreia do motor DOHC V6 3.0, com injeção eletrônica, de 141 cavalos, e da versão diesel 2.5 turbo, com 103 cavalos. 1991 – Surge a segunda geração, com linhas mais arredondadas e câmbio SuperSelect com quatro modos de uso. 1992 – Os primeiros Pajeros chegam ao Brasil. Na versão cinco portas e nos acabamentos GLX, GLS e GLZ. Os motores eram o V6 3.0 a gasolina (141 cavalos) e o 2.8 turbodiesel (125 cavalos).

1993 – Introdução de novos motores: V6 3.5 a gasolina (208 cavalos) e turbodiesel 2.5, com 125 cavalos. 1996 – Renovação total no desenho da linha. Os carros surgem com novos para-choques, paralamas e grade dianteira. 1998 – Nacionalizado, o Pajero iO ganha o nome de TR4, para não ser confundido com o 1.0. 1999 – Nasce a terceira geração, revelada no Salão de Tóquio. As grandes novidades foram a construção monobloco e a suspensão independente nas quatro rodas. 2000 – Chegam ao Brasil os Pajeros com três ou cinco portas, equipados com motores 3.0 e 3.5 (gasolina) e 2.8 (turbodiesel). 2002 – O TR4 passa a ser produzido em Catalão (GO). 2004 – Lançamento no Salão de Automóvel de São Paulo da versão HPE do Pajero Sport. A suspensão foi recalibrada e o carro ganhou 20 milímetros na altura, com a inclusão de novas molas e amortecedores. 2006 – A linha chega à quarta geração. No Brasil, a Mitsubishi mostra os aperfeiçoamen-

2006

tos que fez no Pajero Sport, com adoção de motor V6 a gasolina (200 cavalos) e mudanças estéticas. 2007 – Décima segunda vitória no Dakar, em sua 20ª participação consecutiva na prova off-road mais exigente do mundo. 2008 – Lançamento do Pajero TR4 Flex, configuração inédita de um modelo Mitsubishi no mundo. O motor 2.0 gerava 133 cavalos quando abastecido com etanol. 2012 – Nos 30 anos do Pajero, cada vez mais conforto. Entre outros detalhes, bancos de couro com ajuste elétrico e assentos dianteiros aquecidos. 2013 – Introdução da central multimídia com sistema de navegação, interface com celular e porta-USB. 2014 – Fim da produção do TR4 em Catalão. Mais de 100 mil deles foram vendidos no Brasil. 2016 – O carro passa a ser oferecido em três versões: Full, Full 3D e Pajero. Os motores são diesel 2.8 e 3.2 (180 e 200 cavalos), flex 3.5 (205 cavalos com etanol) e V6 3.8 a gasolina, com 250 cavalos. 2012

e a gasolina. Isso sem mencionar a introdução do câmbio automático

seu comportamento para as condições urbanas. E logo apareceria o Pa-

SuperSelect. Essa inovação da engenharia adaptou o carro a qualquer

jero iO, origem do bravo Pajero TR4 no Brasil.

situação de rodagem, da simples 4x2 ao 4x4 com reduzida, e capacidade de troca do modo de tração em velocidade de até 100 km/h.

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1996

Os avanços tecnológicos são pontos-chave para enfileirar cada vez mais fãs. O advogado Jesse Velmovitsky, do Rio de Janeiro, encontrou

Os recentes itens de refinamento destacados por Masuoka e perse-

no utilitário esportivo não só o conforto e a segurança que procurava,

guidos pela marca vêm ao encontro dos desejos de quem exige conforto

como o levou ao vício – no melhor sentido. “Minha maluquice é ter Pa-

e segurança, mesmo em situações extremas. No fim dos anos 1990 a

jero”, brinca. Atualmente, Velmovitsky dirige seu 18º Pajero, versão Full,

terceira geração da linha Pajero adotou o conceito de construção mo-

sem ter se desfeito de seu 17º, outro Full. “Me acostumei com o carro,

nobloco e suspensão independente nas quatro rodas. A solução tornou

com os controles”, explica. “É incrível como o desempenho e a suspen-

o modelo menos suscetível às torções da carroceria, além de favorecer

são melhoram a cada ano.”

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marcelo correa

Velmovitsky e seu 18º Pajero

O carro é companheiro de Velmovitsky nos deslocamentos diários na

monitora as condições de rodagem, e, a qualquer mudança no terreno

cidade e protagonista nas viagens semanais para Nova Friburgo, na Serra

ou no modo de dirigir, o sistema atua sobre a estabilidade e a tração. Ele

Fluminense. Ele decidiu pelo modelo depois que sofreu um acidente de

corrige e ajusta o comportamento do veículo.

automóvel. “Procurei aliar segurança e conforto, e num Pajero a chance

Segurança é fundamental. Mas diversão ao volante foi a razão pela

de me machucar é muito menor”, afirma. “E a tração 4x4 dá uma segu-

qual o funcionário público mineiro Afonso Raimundo da Silva, de São

rança a mais em dias de chuva.”

Lourenço, escolhesse o Pajero. Seu gosto por viagens de fim de semana

Hoje, a família Pajero no Brasil parte de três

já o levou mais de dez vezes à concessionária

configurações – Pajero, Pajero Full e Pajero Full

Mitsubishi para trocar de carro. Sempre do

3D. É a mesma encontrada em qualquer concessionária Mitsubishi no planeta. O arranjo do portfólio permite escolhas de acordo com o gosto e o jeito de levar a vida. Na base está o Pajero para cinco lugares, equipado com os motores 3.2 diesel, 180 cavalos ou flex 3.5, de 205 cavalos (quando abastecido com etanol). Depois, as versões Full com carroceria de cinco

O novo Pajero Full tem controle de tração por sensores. Isso corrige e ajusta de modo automático o comportamento do veículo

mesmo modelo. Hoje, ele se diverte com a versão Full 3D, equipada com um V6 a gasolina. “Tomei um susto quando acelerei para sair da loja”, conta. Ele diz que já havia sido fisgado pelo TR4, exemplo da capacidade da engenharia brasileira ao ser o primeiro modelo Mitsubishi no mundo a receber um motor bicombustível.

ou três portas e tracionados com o motor die-

Produzido na fábrica de Catalão (GO), de 2002

sel ou com um V6 3.9 movido a gasolina, que

a dezembro de 2014, o modelo chegou a ser

entrega 250 cavalos. Todos com transmissão automática e caixa de transferência SuperSelect, com possibilidade de até 20 combinações de marcha.

responsável por 60% das vendas de Pajero no país. Foram mais de 100 mil carros vendidos nesse período. Vida que segue. No caso da família Pajero, sempre com o aper-

Na linha 2016, além de alguns refinamentos visuais e no acabamento,

feiçoamento genético de uma linhagem que se tornou célebre – nas

como novas grades, rodas, conjunto ótico e inclusão de detalhes croma-

ruas e nas competições. Mantendo a tradição aliada ao constante

dos, avanços tecnológicos acrescentam mais força. O Pajero Full, por

aperfeiçoamento tecnológico, vale o slogan que a Mitsubishi criou na

exemplo, traz recurso de controle de tração impacto ativo, tecnologia

campanha publicitária do Pajero para a Europa e o Oriente Médio:

exclusiva da Mitsubishi chamada de AWC-R. Um conjunto de sensores

“Nascido selvagem, apurado com elegância”. junho 2016

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especial mitsubishi 25 anos

anos de Brasil Em um quarto de século de atuação no país, a Mitsubishi enche o tanque e se prepara para ganhar cada vez mais terreno

O

fotos luiz maciel

ano de 1991 foi bastante conturbado no Brasil e no mundo. Havia mudança no ar, sentia-se isso, mas ninguém sabia direito para que lado o vento iria soprar. Lá fora, o ano começara com a invasão do Iraque pelos Estados Unidos e terminara com a falência da União Soviética e a queda de Gorbachev. Aqui, a economia se arrastava, depois do tranco monumental levado com o

confisco da poupança pelo governo Fernando Collor. Ao mesmo tempo, pipocavam as primeiras denúncias de corrupção contra o presidente. Elas acabariam levando ao seu impeachment no ano seguinte. Boas notícias mesmo, só na área do esporte: Ayrton Senna levantava o tricampeonato na Fórmula 1 e as meninas do basquete canarinho conseguiam uma vitória inédita. Foi na final contra Cuba, pelo Pan-Americano, bem debaixo das barbas de Fidel Castro. Enquanto isso, o som eletrônico dominava as baladas, planeta afora. Aqui, no entanto, o techno dividia as preferências dos brasileiros com músicas de uma nova geração de sertanejos – “É o amor”, na voz de Zezé di Camargo e Luciano, era a canção mais tocada. No meio desse nevoeiro também havia oportunidades. A recente liberação das importações de automóveis, por exemplo, havia aberto as portas para um mercado reprimido desde 1976, quando o máximo permitido ao consumidor era a customização dos modelos que saíam das linhas de montagem nacionais. O mais comum era converter picapes de série em musculosos veículos 4x4, compensando o design defasado com um pacotão de conforto, robustez e interior caprichado, com bancos de couro e potente equipamento de som. O grupo Souza Ramos, tradicional família de revendedores Ford, era um dos que atuavam nesse nicho. Em 1977, o grupo criou a SR Veículos Especiais, cujos primeiros produtos foram uma versão conversível para o Corcel e uma station wagon feita a partir do Ford Maverick quatro portas. Com isso, a empresa ganhou corpo e mirou um público bem maior. A partir do chassi da Ford F-1000, passou a montar luxuosas cabines duplas e uma sofisticada van de oito lugares, a Ibiza, de grande sucesso. Seu diferencial: atuava de fato como uma montadora, com ênfase na padronização dos processos e no controle de qualidade. A distribuição por meio dos revendedores Ford era outra vantagem da SR, que virou líder do segmento de veículos transformados.

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divulgação

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especial mitsubishi 25 anos

C

om a abertura das importações, tudo mudou. Os veículos customizados perderam o apelo que tinham, e os modelos estrangeiros das grandes marcas internacionais voltaram a ser o objeto de desejo dos consumidores mais exigentes. Diante da nova rea-

lidade, o grupo Souza Ramos decidiu investiu todas as fichas na venda de carros importados. Depois de avaliar as alternativas, decidiu tentar a representação de três marcas: a alemã BMW

e as japonesas Mazda e Mitsubishi. A Mitsubishi mostrou interesse, mas queria conhecer melhor a empresa que estava se candidatando a vender seus veículos do outro lado do mundo. Nenhum problema. Foram juntados relatórios de vendas, fotos da linha de montagem da SR, balanços, comprovantes da saúde financeira da empresa, análises sobre o potencial do mercado no país. Enfim: tudo o que pudesse aplacar as dúvidas dos cautelosos nipônicos. O material foi mandado para Tóquio, onde os brasileiros fizeram uma apresentação para o board da empresa. Os anfitriões gostaram do que viram. Mais até do que estava no dossiê, apreciaram o estilo franco e direto de um grupo empresarial brasileiro com sede de inovação. Fecharam negócio. Em 8 de outubro de 1991, uma terça-feira chuvosa em São Paulo e mais tempestuosa ainda em Brasília – o dia estava agitado com os repetidos ataques do governador Leonel Brizola contra o governo e por causa de um tarifaço de 25% nas ligações telefônicas –, a Mitsubishi Motors do Brasil começou oficialmente a operar. Instalou-se num imóvel antes ocupado por duas residências na avenida Europa, no bairro paulistano dos Jardins. A empresa abria as portas na hora certa e no lugar certo, pois a avenida Europa já se firmava como o grande “corredor de importados” do país. As estrelas em exposição eram as cabines duplas Mitsubishi L200, que os mais bem-informados logo percebiam não serem exatamente as mesmas vendidas no Japão. Tinham a suspensão mais elevada, para enfrentar com mais defotos: divulgação

senvoltura buracos e lombadas. E eram também mais elegantes,

Os executivos da matriz Mitsubishi e as miniaturas pés-quentes trazidas ao Brasil

com rodas cromadas no lugar das de ferro, e bancos revestidos de couro. Os executivos japoneses presentes à inauguração ficaram impressionados. Ergueram vários brindes com saquê e deixaram de lembrança aos novos parceiros bonecos que eram miniaturas do teatro kabuki, típico do seu país, para dar sorte.

A

s miniaturas foram pés-quentes. A Mitsubishi L200, até então pouco conhecida entre nós, caiu no gosto dos consumidores e logo estava vendendo bem mais do que o previsto. O Mitsubishi Pajero e uma versão ainda mais potente da picape, com turbocompres-

sor, foram incorporados ao portfólio da importadora. Em pouco mais de um ano, a Mitsubishi do Brasil já vendia 400 veículos por mês e preparava a sua primeira expansão. Estimulada pelos impostos mais camaradas da Zona Franca, instalou em 1993 uma pequena linha de montagem em Manaus para produzir cem unidades mensais de uma única versão da L200 tropicalizada: cabine dupla e motor diesel. A marca arrebanhava uma legião de fãs, enquanto a empresa tratava de fortalecer os laços com os clientes fiéis por meio de um atendimento de butique. Para aumentar essa interatividade, criou, em 1994, o Mitsubishi Dare Time. O passeio pelas trilhas da serra do Mar, na região de Paranapiacaba, perto de São Paulo, reuniu 70 duplas de Pajero e L200. Encantados, seus donos comprovaram ao vivo do que os carros eram capazes. O périplo terminou em confraternização, com uma animada feijoada no hoje extinto Banana Café, nos Jardins. Estava lançado o embrião para o lançamento, no ano seguinte, do Mitsubishi MotorSports, rali de regularidade que viraria a principal referência desse tipo de competição no país. Para participar, os interessados só precisavam contribuir com alimentos que seriam doados a instituições de caridade das regiões onde se realizariam as provas – sistema adotado até hoje e que já arrecadou milhares de toneladas de mantimentos. Já no rali da economia brasileira, a parada era mais dura. Assim como conseguir a repre94

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marcio scavone junho 2016

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especial mitsubishi 25 anos sentação da Mitsubishi havia sido uma tacada certeira, diante da abertura das importações, a operação amazônica também parecia um movimento seguro, que obedecia às regras do jogo do mercado. Mas no Brasil daqueles turbulentos anos 90, as regras mudavam em ritmo ainda mais alucinante do que hoje, ao sabor de decisões governamentais imprevisíveis. Foi o que aconteceu em 1995, quando o governo, numa penada, estabeleceu um regime de cotas de importação que inviabilizou a produção em Manaus. O jeito foi fechar a montadora e voltar a dar ênfase à importação e à expansão da rede de revendedores.

N

essa gangorra das decisões governamentais, a alíquota para a importação de veículos baixou de 35% para 20%, e logo em seguida deu um salto para 90%, pegando os empresários no contrapé. Foi um aumento tão radical que, no dia seguinte, a taxa

foi reduzida para 70%. Mesmo assim, imposto demais para a retomada dos negócios, já que o percentual incidia até sobre contratos já assinados. Os consumidores adiaram as compras à espera de uma nova redução – que, volta e meia, um ministro deixava escapar que viria em breve. Resultado: os importadores ficaram com o problema na mão. Não conseguiam desovar os estoques nem pagar os credores. Muitos quebraram. Para atravessar a tormenta, a Mitsubishi do Brasil procurou seus principais credores – o Banco Safra e a empresa de logística Coimex – e conseguiu prorrogar os compromissos. Ao mesmo tempo, começou a planejar uma nova operação industrial, com índice de nacionalização bem maior do que a da linha de montagem na Zona Franca, para fugir das sobretaxas. A ideia era obter licença e cessão de tecnologia para a montagem das L200 no Brasil, a partir de chapas estampadas no Japão. Ou seja: criar

A Mitsubishi Motors do Brasil foi a primeira fábrica da marca fora do Japão a produzir veículos com alto índice de nacionalização

uma montadora capaz de armar a carroceria, pintá-la, incorporar as peças (muitas delas fabricadas no Brasil) e dar acabamento de primeira nas picapes. Fora do Japão, seria a única empresa com a marca Mitsubishi autorizada a fazer isso. Faltava apenas combinar com os japoneses. E não é que eles toparam? Catalão, cidadezinha então esquecida no interior de Goiás, foi escolhida para sediar a fábrica. Primeiro, porque ficava numa região estratégica, cujo epicentro era Uberlândia, no Triângulo Mineiro, a 100 quilômetros dali. Era para lá que o mercado consumidor de picapes estava migrando, empurrado pelo agronegócio. E também porque o

empreendimento recebeu do governador na época, Maguito Vilela, a melhor acolhida possível. Luiz Rosenfeld, ex-engenheiro da Ford, comandou a implantação da montadora, que seria a primeira do Brasil com capital 100% nacional. Em 15 de julho de 1998, a primeira Mitsubishi L200 mais brasileira que japonesa saía da linha de montagem de Catalão, que a essa altura já não era mais um lugar tão pequeno nem tão ignorado pelo resto do Brasil. Era, agora, uma cidade orgulhosa da fábrica que empregava 150 moradores locais para produzir, com crachá e uniforme, cinco picapes por dia. E era só alegria. Ao menos ali, ninguém mais pensava na derrota sofrida pelo Brasil no Mundial da França apenas três dias antes – um vergonhoso 3 a 0 na final contra o time da casa.

A

Mitsubishi Motors do Brasil vendeu 9.300 veículos ao longo do ano de 1998, um novo recorde, e logo percebeu que a fábrica de Catalão havia nascido pequena. Em 2000, lançou um projeto de expansão, o Anhanguera, que envolvia investimentos

de R$ 132 milhões na ampliação da área construída de 14 mil para 40 mil metros quadrados e na implantação de novas linhas de montagem. Em 2002, iniciou a produção do Pajero TR4. Em 2003, passou a montar a L200 Sport. Os funcionários, a essa altura, já eram mais de 700, e as vendas se aproximavam dos 13 mil veículos anuais. A tendência era de crescimento acelerado em todo o setor. Ao mesmo tempo em que a unidade industrial se consolidava, a Mitsubishi do Brasil também fortalecia os laços com os consumidores. No ano 2000 criou a Mitsubishi Cup, rali de 96

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especial mitsubishi 25 anos velocidade cross-country que se tornaria o maior e mais tradicional do país nessa modalidade. No ano seguinte, lançava a MIT Revista. Publicação de estilo de vida que tinha como lema a superação de obstáculos, a revista era também um canal direto com os clientes. Informava tudo sobre as novidades da marca dos três diamantes – cada vez mais numerosas – e os resultados das competições.

E

m 2004, a indústria automobilística brasileira produziu mais de 2,3 milhões de veículos, um aumento de 27% sobre o ano anterior – superando pela primeira vez a casa dos 2 milhões –, e todas as montadoras reviram seus planos de expansão. A Mitsubishi

mal havia completado o projeto Anhanguera (assim era chamado pelos indígenas o bandeirante paulista Bartolomeu Bueno da Silva, que desbravou Goiás, como a companhia fazia no momento). Mesmo assim lançou a segunda fase do seu programa de crescimento, que previa investimentos de R$ 207 milhões nos dois anos seguintes. Ao mesmo tempo, reforçou o relacionamento com os clientes ao criar o Mitsubishi Outdoor, rali de aventura inédito no país, que combinava estratégia a atividades esportivas e tarefas culturais. Dois anos depois, em 2006, Marcos Pontes, o primeiro astronauta brasileiro, era lançado ao espaço a bordo na nave russa Soyuz. Enquanto isso, a montadora de Catalão passava a ocupar uma área de 65 mil metros quadrados e elevava o número de funcionários para 1.500. As vendas chegavam a 24 mil unidades por ano, a maioria delas produzidas em Goiás. Em 2007, a L200 Triton, de fabricação nacional e o crossover Mitsubishi Outlander, importado, se incorporariam ao portfólio da marca no Brasil. E era anunciada a terceira fase do Anhanguera, com previsão de investimentos da ordem de R$ 500 milhões até 2009. Antes da virada da década, houve tempo fotos: divulgação

para o lançamento de três versões absoluta-

Na fábrica de Catalão, capacidade para produzir até 300 unidades por dia

mente inovadoras. O Pajero TR4 Flex, o Pajero Sport Flex e a L200 Triton Flex seriam os primeiros utilitários do mundo a rodar com qualquer mistura de gasolina e álcool. Em 2010, a fábrica operava em uma área construída de

93 mil metros quadrados e somava 2,900 empregados. Dos quase 40 mil veículos vendidos por ano, 80% saíam das linhas de montagem de Catalão – que pediam nova expansão. Nesse mesmo ano, a companhia começou a tocar o projeto Anhanguera II, o mais ambicioso de todos, mirando na produção de 100 mil veículos/ano. Na divisão de competições, os planos também estavam acelerados. Foi implantada uma oficina especializada em Mogi Guaçu (SP) para desenvolver e testar veículos antes das provas. Em 2011, a empresa iniciou uma parceria com o autódromo Velo Città nessa mesma cidade. Com um desafiador traçado de 3.493 metros, o circuito é homologado pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e usado em vários eventos da marca, como Lancer Cup, Lancer Evo Day, Fun Day e Lancer Experience. Em 2013, o crossover Mitsubishi ASX, antes importado, passou a ser produzido no Brasil. No ano seguinte foi a vez de o sedã Lancer ser nacionalizado, após três anos de vendas do modelo importado. Hoje, a fábrica que colocou Catalão no mapa tem capacidade para produzir até 300 unidades por dia, incluindo as várias versões da L200 Triton, do Pajero 4x4, do ASX e do Lancer, que representam, juntos, 85% das vendas. São produtos tão campeões quanto o time de atletas que a Mitsubishi patrocina – entre eles, os dois campeões mundiais de surfe Gabriel Medina e Adriano de Souza. Em 25 anos no Brasil, a marca dos três diamantes se orgulha de haver entregue aos clientes nada menos que 630 mil veículos. E não vai parar por aí.

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Acompanhe os principais marcos de uma bela história previsão de investimentos de R$ 207 milhões até 2006. Criação do rali Mitsubishi Outdoor.

2011 – Importação do sedã Lancer. Parceria com o autódromo Velo Città, em Mogi Guaçu, para a realização de testes e eventos. Os veículos produzidos em Catalão já representam 81% das vendas.

1991 – Assinatura de contrato de importação com a Mitsubishi Motors Japan e início das vendas das cabines duplas L200 tropicalizadas. 1993 – Instalação de linha de montagem das L200 em Manaus. 1994 – Criação do Mitsubishi Dare Time. 1995 – Encerramento da linha de montagem em Manaus devido à fixação de cotas de importação pelo governo. Criação do rali Mitsubishi MotorSports.

que compensa a emissão de CO2 pela fábrica com o plantio de árvores – 20 mil já foram plantadas até hoje.

2012 – Lançamento de novas versões da L200 Triton. As vendas atingem 60.600 veículos/ano. A rede de concessionárias se distribui em 55% na região Sudeste, 17% na Sul, 13% na Nordeste, 10% na Centro-Oeste e 5% na Norte. 2006 – Produção do Pajero Sport. A fábrica passa a ter 65 mil metros quadrados e 1.500 funcionários. Vendas chegam a 24 mil veículos/ano. 2007 – Produção da L200 Triton. Lançamento da Fase 3 do Projeto Anhanguera, com previsão de R$ 501 milhões de investimentos até 2009. Comercialização do crossover Outlander. Ampliação da área de soldas. 2009 – A área construída passa a ser de 93 mil metros quadrados. O total de funcionários sobe para 2.890. As vendas atingem 36.800 veículos/ano.

2013 – As vendas de crossovers atingem 138.200 no Brasil. Desde 2008 vem crescendo num ritmo maior do que o mercado automobilístico em geral. Início de fabricação do ASX nacional, que encerra o ano com volume de vendas maior do que os importados (6.500 x 4.700). 2014 – As vendas do ASX nacional chegam a 15.600 unidades no ano. É o veículo mais leve da categoria, com 1.345 quilos, e o de melhor relação peso/potência: 8,4 kg/CV. 2015 – Os veículos produzidos em Catalão (L200 Triton, Pajero 4x4, ASX e Lancer) repre-

1996 – Início da construção da fábrica em Catalão (GO), com investimentos de R$ 44 milhões. 1998 – Começo da produção das L200 nacionais em Catalão (GO), numa fábrica de 14 mil metros quadrados e 150 empregados. As vendas atingem 9.300 veículos no ano. 2000 – Lançamento do projeto Anhanguera I, que previa investimentos de R$ 132 milhões em três anos. 2001 – Lançamento da MIT Revista. O número de estreia circula em março. 2002 – Expansão da fábrica para a produção da Pajero TR4 e instalação de nova linha de pintura. 2003 – Produção da L200 Sport. A área construída da fábrica passa para 40 mil metros quadrados – e o número de funcionários sobe para 727. Vendas somam 12.500 veículos. 2004 – Construção de prédios para veículos especiais e para moldes plásticos e peças. Lançamento da Fase 2 do projeto Anhanguera, com

2010 – Lançamento do Projeto Anhanguera II, com investimentos totais de R$ 1,1 bilhão até 2015. Início da comercialização do crossover Mitsubishi ASX. Instalação da oficina especializada em em competições em Mogi Guaçu (SP). Lançamento do MITproverde, projeto

sentam 85% das vendas da empresa. 2016 – A Mitsubishi completa 25 anos de atividade no Brasil, num total de mais de 630 mil veículos vendidos e uma rede de 190 concessionários.

junho 2016

Mit revista

99


100

Mit revista

junho 2016 ricardo leizer

adriano carrapato

ricardo leizer

tom papp

cadu rolim

tom papp

gustavo epifanio

adriano carrapato

tom papp

marcio machado


universo

mitsubishi No asfalto ou na terra, a marca dos trĂŞs diamantes tem a diversĂŁo certa para vocĂŞ

junho 2016

Mit revista

101


universo mitsubishi

@nacaomitsubishi

@mundomit

mogi guaçu 11/06/2016

www.mitsubishimotors.com.br

fotos: tom papp

Autódromo Velo Città

lancer cup

Milésimos preciosos A abertura da temporada 2016 da Lancer Cup teve disputas acirradas a cada curva do Velo Città por mario ciccone

O

frio de 18 graus em Mogi

puta acirrada contra JP Mauro, estreante

pode fazer uma enorme diferença”, co-

Guaçu (SP) foi um mero

na categoria. “Ano passado venci quase

mentou. Já JP Mauro chegou na segunda

detalhe diante da altíssima

todas as etapas, faltou apenas uma”, disse

posição em ambas as corridas. Detalhe:

temperatura das disputas

ele. “Cheguei animado para este ano.” Já

era sua estreia na categoria. “A disputa

da etapa inicial da Mitsubishi Lancer Cup

Sergio Laganá venceu a primeira prova do

foi muito boa e divertida.” Ricardo Feltre

2016. O Autódromo Velo Città tornou-se

dia na nova categoria Light, para compe-

venceu a segunda disputa do dia na geral,

palco de duas provas que exigiram muito.

tidores que nunca haviam corrido a bordo

liderando de ponta a ponta. “Sei que tem

As provas fizeram parte da programação

de um Lancer RS. “Tenho vários amigos

muitos pilotos bons, o objetivo é ser cam-

do Sette Day. O evento teve um track day

que andam aqui e viviam me convidan-

peão de novo”, vibrou. Na Lancer RS Light,

para proprietários de superesportivos de

do”, revelou. “A pista é gostosa e adorei

Luiz Barcellos emocionou-se com sua pri-

diversas marcas, além de volta rápida no

o carro.” Na categoria Lancer RS Master,

meira vitória. “Nunca vou esquecer. Estou

assento ao lado de Ingo Hoffmann. Isso

para pilotos com mais de 45 anos, Renato

andando mais rápido e mais confiante.”

sem falar nos passeios de balão e outras

Favatti celebrou o lugar mais alto do pódio.

atividades para toda a família.

“Achei o caminho das pedras”, brincou.

Com carros Lancer RS iguais, o pódio

102

Na segunda corrida, realizada no fim

da Lancer Cup é decidido pelo talento dos

do dia, o vencedor na categoria Lancer

pilotos. O mineiro Mauro Neuenschwan-

RS Master foi Elias Azevedo, que exaltou

der venceu a primeira corrida numa dis-

a competitividade da prova. “Um décimo

Mit revista

junho 2016

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junho 2016

Mit revista

tom papp

A prova marcou ótimos “pegas” no Velo Città

103


lancer cup

adriano carrapato

tom papp

universo mitsubishi

tom papp

adriano carrapato

Primeiro, a espera pela largada. Depois, a celebração no pódio. Enquanto isso, amigos e familiares curtem atividades como passeios de balão

104

Mit revista

junho 2016


fotos: adriano carrapato

tom papp

Muita festa e o merecidĂ­ssimo champanhe depois de caprichar ao volante do possante Lancer RS, de 340 cavalos

junho 2016

Mit revista

105


lancer cup

tom papp

universo mitsubishi

tom papp

fotos: adriano carrapato

Pódio da categoria Lancer RS Master na primeira etapa do dia (no alto) e outra celebração da vitória após duas provas emocionantes

106

Mit revista

junho 2016





universo mitsubishi

@nacaomitsubishi

@mundomit

são josé do rio preto 11/06/2016

www.mitsubishimotors.com.br

fotos: cadu rolim

por juliana amato

motorsports

Lama é sempre bem-vinda

Muita animação para a Nação 4x4 em São José do Rio Preto, Tiradentes, Gravatá, Mogi e Joinville

por peu araújo, juliana amato E mario ciccone

M

Guilherme Barbosa e Lisiane Homem

regularidade do Brasil, o

levou o primeiro lugar do pódio. “A trilha

etapas este ano. Os competidores

Mitsubishi Motorsports é

de hoje foi uma de nossas preferidas”,

passaram pelas ruas coloniais com

pura diversão para qual-

comemorou o piloto. Já na disputa de

pedras pés de moleque de Tiradentes

quer fã da vida off-road. Se tiver lama,

Turismo Light os vencedores foram

(MG), além dos desafios de Gravatá, no

então, a competição vira uma aventura.

Reginaldo Rocha Lemos Júnior e José

agreste de Pernambuco, Mogi Gauçu

E a etapa realizada em José do Rio

Barreto Neto. “Tinha muita lama e a

(SP) e Joinville (SC), na abertura da

Preto foi uma das mais disputadas na

prova foi muito pegada”, contou

temporada. Em média, participam entre

temporada. Participam da competição

Lemos Júnior.

200 e 250 carros a cada etapa.

os modelos 4x4 das linhas Pajero, L200

É a terceira vitória da dupla neste

e ASX. Entre os graduados, a dupla ven-

ano. A etapa também marcou a estreia

cedora Paulo Goes e Jhonatan Ardigo

da competição da categoria ASX. A

começa a embolar o campeonato. “A

dupla formada por Marcus Franzotti e

disputa será ainda mais emocionante

Welington Marques terminou a prova

nas próximas etapas”, afirmou Ardigo.

em primeiro lugar. “O ASX é muito

Outra categoria em disputa é a Turismo. Na etapa mais recente, o casal 110

A Motorsports teve outras quatro

ais tradicional rali de

Mit revista

junho 2016

seguro, passa a sensação de que está sempre na mão”, analisou Franzotti.

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NĂŁo hĂĄ lama que pare um piloto da Motorsports

junho 2016

Mit revista

111


motorsports são josé do rio preto 11/06/2016

fotos: cadu rolim

universo mitsubishi

A etapa de São José do Rio Preto submeteu as duplas a terrenos bastante acidentados. Melhor assim. Por fim, muita celebração em família

112

Mit revista

junho 2016


motorsports

tiradentes 21/05/2016

ricardo leizer

fotos: tom papp

universo mitsubishi

O centro histรณrico de Tiradentes (MG) serviu de ponto de partida para a prova

junho 2016

Mit revista

113


motorsports

gravatá 30/04/2016

fotos: tom papp

ricardo leizer

universo mitsubishi

As aventuras em meio ao agreste pernambucano exigiram muita atenção pelo caminho. Para, como sempre, terminar com festa em família

114

Mit revista

junho 2016



motorsports mogi guaçu 09/04/2016

gustavo epifanio

fotos: adriano carrapato

universo mitsubishi

O circuito Velo Cittå serviu de largada e chegada para mais uma etapa disputada no interior paulista. O dia foi de sol — e de muita poeira

116

Mit revista

junho 2016


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motorsports joinville 19/03/2016

tom papp

marcio machado

cadu rolim

tom papp

marcio machado

universo mitsubishi

Na etapa de Joinville, desafios em todos os tipos de terreno. No detalhe, a famĂ­lia toda a bordo

118

Mit revista

junho 2016


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outdoor

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mogi guaçu 09/04/2016 / joinville 19/03/2016 www.mitsubishioutdoor.com.br

fotos: tom papp

universo mitsubishi

A cada parada, um desafio divertido

Aventuras em série

Encontrar o lugar de pouso de um piloto de parapente no interior paulista e incríveis desafios em Santa Catarina. Pura emoção

por juliana amato

A

segunda etapa do Mitsubishi

”O resgate foi espetacular”, exultou

culos. Entre trechos de reflorestamento

Outdoor, em Mogi Guaçu (SP),

Wagner Cipolla, 52 anos, um dos pilotos

e cenários urbanos formados por casas

teve tudo o que a Nação 4x4

da Equiperdida, primeira colocada na

em enxaimel, não faltaram desafios. Um

mais gosta: aventura, desafios,

categoria Fun. Cipolla já se dedicou ao

destaque: o PC cross fit, que reuniu uma

diversão e lindas paisagens. No percurso,

Motosports, mas há oito anos optou pelo

corrida com obstáculos, natação, subida

as equipes aproveitaram a vinícola Casa

Outdoor — e não quer outra vida. A seu

em cabo de navio e até um pneu de trator

Geraldo, em Andradas (MG), e ali conhe-

ver, uma das melhores sensações da mo-

para levantar. Em outros dois PCs, as

ceram como se faz um bom vinho. Mais:

dalidade é constatar que a equipe está se

equipes tiveram de descobrir o melhor

praticaram rapel e trekking, percorreram

entrosando. “No ano passado, não fomos

caminho por meio de um aplicativo QR

trilha em mata fechada, completaram

tão bem e, por isso, desta vez, decidimos

Code. “A navegação foi o diferencial.

três percursos de bicicleta e aprenderam

nos reunir em Campos do Jordão (SP) e

Usamos o mapa virtual o tempo todo”,

a atirar com arco e flecha. De quebra,

treinar para ganhar”, revelou. “E não é que

contou o participante Cássio Moraes.

fizeram uma das atividades mais emo-

ganhamos?”

cionantes já pensadas na modalidade, a Homem Pássaro. Nesse último caso, as equipes tiveram

120

A abertura do calendário 2016 do Mitsubishi Outdoor ocorreu em Joinville (SC). A prova teve de tudo. Atoleiros e

de encontrar o ponto exato de pouso de

erosões em Pontos de Controle (os PCs,

um piloto de parapente e, em seguida,

onde os participantes realizam as tarefas

resgatá-lo e levá-lo até o Pico do Gavião.

à parte) testaram a resistência dos veí-

Mit revista

junho 2016

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Encarar estradas de terra faz parte do programa, claro

junho 2016

Mit revista

121


outdoor fotos: tom papp

universo mitsubishi

Tarefas, navegação, disputas de arco e flecha e corridas de bike. Muita folia para gente de gerações bem diferentes

122

Mit revista

junho 2016


gabriel barbosa gabriel barbosa

gabriel barbosa

Rapel de 15 metros, travessias radicais e bike para driblar terrenos acidentados. Eis aĂ­ os ingredientes de um grande dia de disputas

junho 2016

Mit revista

123


universo mitsubishi

@nacaomitsubishi

jaguariúna 15/05/2016 / mogi guaçu 09/04/2016

@mundomit

www.mitsubishimotors.com.br

Fotos: cadu rolim

por Renato Góes

Cup

Com o pé embaixo Muita areia, lama e cascalho para os pilotos que entraram por São Paulo adentro por peu araújo

Q

uando a Mitsubishi Cup

de 30 quilômetros cada. No segundo, a

viais da região deixaram o nível da corrida

começou, em 2000, o planeta

disputa ocorreu em duas baterias em

lá no alto. Campeão entre as Pajeros TR4

acabara de passar pelas afli-

outro circuito, de 50 quilômetros.

ER – uma das cinco categorias da disputa

ções do bug do milênio.

–, Paulo Theophilo Dias Filho fez sua análise do roteiro no primeiro Mitsubishi Cup

Twister e SNZ eram os fenômenos pop,

RS, comentou: “Que prova! Foi extrema-

do ano. “A prova foi muito bem desenhada

enquanto a cantora Anitta não passava

mente rápida e em todos tipos de piso”. A

e rápida, com bastante areia, barro e

de uma menininha de 7 anos. Pois bem,

disputa foi acompanhada no lounge por

cascalho. Teve de tudo”, disse o piloto,

o mau agouro tecnológico nunca mais

familiares e amigos. Eles viram de cama-

que participa em dupla com o navegador

ocorreu. É coisa do passado. Mas o rali

rote a poeira subindo após a passagem de

Marcelo Bortoluz. “Enfim, uma disputa

continua a mil.

cada bólido.

perfeita”, comentou o piloto, em sua

A segunda etapa da Mitsubishi Cup,

124

Ao final da etapa do primeiro dia, Ricardo Feltre, vencedor na categoria ASX

Na música, Sandy & Junior,

A etapa de abertura, realizada em

em Jaguariúna, teve um fim de semana

Mogi Guaçu, marcou o início da 17ª

perfeito para apaixonados por velocidade.

temporada do maior e mais tradicional

Durante um sábado e um domingo, a nata

torneio de cross-country do país. A larga-

do off-road se reuniu na Fazenda Meia

da no Autódromo Velo Città foi seguida

Lua, em Jaguariúna (SP), para encarar

de um pequeno trecho de asfalto. Depois,

duas etapas distintas. No primeiro dia, os

só terra-pra-que-te-quero. Estradas de

participantes disputaram três baterias,

fazendas e alta velocidade pelos cana-

Mit revista

junho 2016

terceira temporada. n Confira os resultados completos no tablet da MIT Revista ou no site www.mitsubishimotors.com.br

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Levantando poeira (ao pĂŠ da letra)

junho 2016

Mit revista

125


Cup

ricardo leizer

ricardo leizer

fotos: cadu rolim

universo mitsubishi

É puro off-road. É desafio para carros e pilotos. Na premiação de ASX, Ivo Mayer e Ricardo Feltre celebraram vitórias nos dois dias. No pódio, os melhores da categoria TR4 ER Master. Na página ao lado, os vencedores das categorias de ASX

126

Mit revista

junho 2016


junho 2016

Mit revista

127

ricardo leizer

ricardo leizer



D R I V E Y O U R W O R L D

M I T R E V I S T A 6 1 J U N H O 2 0 1 5

LEIA TAMBÉM A MIT NO TABLET

AMORA MAUTNER A grife da Globo

EDIÇÃO 25 • JUNHO 2016 • BONI

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mit

premiação

A sua própria casa em Trancoso Os vencedores do Motorsports/Turismo -NE vão se hospedar no condomínioTerravista jesuíta de 1586. Ao centro, o gramado,

internacional. O vilarejo de

onde todos transitam.

pescadores do sul da Bahia

Antes um destino quase inalcançável,

piscina própria em formato de raia. O serviço também é especial. Cada casa tem sua camareira, que prepara

que se atingia por estrada de barro

um delicioso café da manhã. Ela também

do planeta. Suas belezas naturais e a

precária ou travessia de balsa, Trancoso

deixa tudo limpo e arrumado. Se você,

tranquilidade de sua gente encantam.

tem agora até aeroporto privado. Ele fica

assim como eu, sonhava em ter a sua

Ao contrário do que costuma ocorrer

no condomínio Terravista Vilas, um lugar

própria residência nesse lugar incrível,

em casos assim, Trancoso se preservou.

perfeito para se hospedar.

agora já pode realizá-lo. A casa será sua

reúne gente de todos os cantos

O Quadrado, no centro histórico, é

O Terravista foi instalado sobre uma

pelo período que desejar. Não foi por

a melhor prova disso.Suas casinhas

falésia com vista para o mar esmeralda.

acaso que indicamos o Terravista Vilas

coloridas, antes residências dos nativos,

Ali, casas magníficas estão prontas para

para o Circuito Elegante, associação

deram espaço a pousadas, lojas de

receber. Cada uma tem duas ou quatro

de viajantes que reúne o que há de

grifes e restaurantes. Ao fundo, uma

suítes. São todas amplas, claras, belas,

melhor em hospedagem e gastronomia

igrejinha branca, no alto de uma falésia

confortáveis e decoradas com elegância

do Brasil. (Priscila Bentes – CEO do

e debruçada para o mar, data da aldeia

e estilo. Algumas contam até com

Circuito Elegante)

O café da manhã é preparado por uma camareira

130

Mit revista

JUNHO 2016

divulgação

T

rancoso ganhou fama


terravistavilas.com.br tel.: (73) 3668-2355 circuitoelegante.com.br

Resta escolher entre casas de duas ou quatro suĂ­tes

JUNHO 2016

Mit revista

131


mit

premiação

divulgação

Piscina com bar e praia ao lado. Quem quer outra vida?

Aqui, a seleção alemã ganhou a Copa E os vencedores do Motosports/Graduados-NE ganharão hospedagem no Campo Bahia

M

uito antes de viajar para

volta da equipe germânica para a Europa,

em 14 amplas casas, chamadas de

disputar a Copa do Mundo

foi transformado no hotel Campo Bahia.

villas. Cada uma abriga quatro, cinco ou

de 2014 no Brasil, a

Como seria de se esperar, os cuidados

seis suítes. Elas acomodam de casais

seleção alemã de futebol

com o conforto são germânicos — leia-

a famílias, grupos de amigos e até um

decidiu procurar um lugar ideal para sua

se minuciosos. Por isso mesmo, o hotel

time de vencedores. O serviço impecável

concentração nos trópicos. Pesquisou

ganhou duas chancelas de respeito: a

pode contar inclusive com mordomo

um ponto do país com as melhores

do Circuito Elegante e a do Small Luxury

particular, se o hóspede requisitar.

temperaturas, uma praia linda, uma

Hotels of the World.

população amistosa e muito sossego em

do hotel. Da cozinha comandada pelo

torno. Encontrou Santo André, no sul da

uma área de 15 mil metros quadrados,

chef Thiago Paixão, saem pratos das

Bahia, a 30 quilômetros de Porto Seguro.

de frente para uma praia praticamente

culinárias baiana e internacional, com

deserta. Oferece academia, campo de

toques contemporâneos. O bar, batizado

própria concentração. Treinaram muito,

futebol, piscina, restaurante, espaço

de Copa do Mundo, é perfeito para um

pegaram praia e, claro, comemoraram

de massagem, aulas de ioga e esportes

drinque antes ou depois do jantar e

um bocado o título de campeões. O alto

náuticos. Um spa L’Occitane vem sendo

oferece coquetéis variados. (Renata

astral permaneceu no lugar, que, após a

construído. A hospedagem está dividida

Araujo – editora do You Must Go.)

Ali, os alemães construíram a

132

O Campo Bahia está instalado em

A gastronomia é outro ponto alto

Mit revista

JUNHO 2016


campobahia.com tel.: (73) 33162-4690 circuitoelegante.com.br

O hotel tem todas as comodidades. Fica em Santo AndrĂŠ, no sul da Bahia

JUNHO 2016

Mit revista

133


mit

premiação

divulgação

Descanso com estilo, na altitude

Alta gastronomia na Serra Fluminense O Locanda della Mimosa, em Petrópolis, receberá os campeões da Motosports/Turismo-SE

E

legância e tradição são só

que disputou a Copa do Mundo daquele

aconchego. Duas delas contam com

dois dos muitos adjetivos

ano na vizinha Argentina. Na ocasião,

lareira e hidromassagem. Uma outra é

que definem a Locanda

encantou-se com o Rio de Janeiro, onde

suíte familiar, prontinha para acomodar

della Mimosa, uma das

montou refinados restaurantes. Ao

até quatro pessoas. Todos os quartos

mais exclusivas pousadas na Serra

descobrir os encantos da serra, mudou-

têm acesso à internet e travesseiros com

Fluminense. Ela está encravada no Vale

se para lá com panelas e bagagens.

plumas de ganso.

Florido, entre Itaipava e Petrópolis, no

134

Com padrão internacional e

Para relaxar em meio à natureza,

Rio de Janeiro. Ali ocorrem festas de

considerada uma das mais bem

há dois spas, além de sauna, piscina,

casamento memoráveis, festivais de jazz

equipadas do Brasil, a cozinha da

academia e sala de massagem,

e, claro, grandes eventos gastronômicos.

Locanda é referência mundial. Pães e

com tratamentos realizados por

Pudera, a culinária contemporânea

massas feitos ali, de forma artesanal,

fisioterapeutas. Tudo para você usufruir

da Locanda della Mimosa, comandada

seguindo receitas tradicionais italianas,

a paz e o relaxamento da serra. Para

pelos chefs Danio Braga e Paulo Duarte,

garantem refeições inesquecíveis. Sem

facilitar, a pousada oferece um heliponto,

é um sucesso. Italiano, Danio veio pela

contar a adega com 1.200 rótulos.

além de transfer a partir dos aeroportos

primeira vez ao Brasil em 1978, quando

A pousada oferece 12 espaçosas

era o chef da seleção italiana de futebol,

suítes projetadas para unir conforto e

Mit revista

JUNHO 2016

do Rio. (Flavia Pires – editora do Blog Flavia Pires Explora)


locanda.com.br tel.: (24) 2233-5405 circuitoelegante.com.br

Depois da piscina, vĂŁo bem as iguarias preparadas por dois grandes chefs e acompanhadas pelos melhores rĂłtulos de tintos e brancos

JUNHO 2016

Mit revista

135


mit

premiação

divulgação

Piscina de borda infinita: Bom demais

De cara para o mar numa ilha belíssima O TW Guaimbê, de Ilhabela, será a recompensa para quem levar o Motorports/Graduados-SE

I

lhabela (SP) é perfeita até na

medidas diferentes. Há até uma suíte

O TW Guaimbê acena, ainda, com

localização. Fica a meio caminho

presidencial. Ao hospedar-se em uma

ioga, pilates, personal trainner, parceria

entre as duas maiores cidades do

delas, o visitante tem à disposição muita

com escola de stand up paddle e

país: ergue-se a 210 quilômetros

mordomia. A começar pela convidativa

caiaque. Sem esquecer o room spa, para

de São Paulo e a 240 do Rio de Janeiro.

piscina de borda infinita, para que nada

o hóspede não ter necessidade, muito

Está bem próxima do continente, mas

se interponha entre ele e o horizonte.

menos vontade, de sair da pousada.

suficientemente isolada para cercar-se

Mas claro que as ofertas de passeio em

de sossego. Tem a natureza muito bem

cabana-restaurante e wi-fi gratuito,

uma ilha tão idílica haverá de aliciar até

preservada e nada menos que 42 praias.

servidos por uma equipe sempre pronta

os acomodados. Há veredas belíssimas

Uma das mais bonitas é a Praia do Julião,

para tornar a experiência na casa de

interior adentro, ruas simpáticas no

onde foi instalada uma de suas mais

praia inesquecível. Seja com o preparo

centrinho e um litoral adorável. Nesse

charmosas pousadas da ilha paulista, a

de um jantar romântico ou massagens

caso, a TW Guiambê também assessora

TW Guaimbê.

relaxantes, tudo foi pensado em

com denodo, colocando à disposição

minúcias. É o máximo do conforto em

barcos e jipes. Resta escolher: no mar ou

cara para o mar. Assim foi pensada a

um ambiente de praia ao mesmo tempo

na terra? (Monica Barros – Editora do

TW Guaimbê. São 16 suítes, de cinco

despojado e muito elegante.

Le Touriste Blog)

Imagine um amplo casarão, de

136

A pousada oferece sauna, wine bar,

Mit revista

JUNHO 2016


twguaimbe.com tel.: (12) 3894-9306 circuitoelegante.com.br

Decoração, espaço e gastronomia: Tudo de primeiríssima

JUNHO 2016

Mit revista

137


mit

premiação

No sul da Bahia, com o jeitão de Bali Aos vitoriosos do Suzuki Off-Road caberão dias gloriosos no Balidendê, em Barra Grande O Villa Balidendê tem só 16 suítes,

e corais estão acessíveis até mesmo

até o hotel Villa Balidendê,

o que garante total privacidade.

a pé. Com snorkel e nadadeiras já dá

em Barra Grande, no sul da

Seu nome indica a junção bem-

para se divertir um bocado. Melhor

Bahia. São 150 quilômetros

humorada do tempero baiano – que

ainda, claro, com equipamento de

a partir de Ilhéus. A maneira mais

batiza a Costa do Dendê, onde está

mergulho autônomo.

cômoda é embarcar num táxi aéreo

incrustrada Barra Grande – com a

em Salvador, mas costuma-se

ilha de Bali, na Indonésia. O lugar é

é entre outubro e março. Mas o que

recorrer à estrada. De preferência, a

uma mescla dessas duas influências.

mais influencia o sucesso da viagem

bordo de um veículo 4x4. Afinal, os 30

Os móveis vieram da Indonésia,

é a Lua. Prefira os períodos de lua

quilômetros finais não são asfaltados.

assim como a inspiração do spa. A

cheia ou lua nova, quando as marés

A alternativa é entrar em uma lancha

ambientação, seja como for, é baiana.

se mostram mais secas. A tábua de

na cidade de Camamu, desembarcar

Isso significa ótimo astral, da gostosa

marés, aliás, informa a hora de estar

em Barra Grande e seguir, de

piscina do hotel às adoráveis piscinas

na praia para apreciar as piscinas

jardineira, por meia hora, até a praia

naturais de Taipu de Fora, que se

naturais. (Ana Maria Junqueira –

de Taipu de Fora, onde fica o hotel.

formam bem em frente. Os cardumes

editora do blog Magari Blu)

A época ideal para visitar Taipu

A piscina: Em meio aos coqueiros

138

Mit revista

JUNHO 2016

divulgação

A

emoção já começa na ida


vilabalidende.com.br tel.: (73) 3258-6347 circuitoelegante.com.br

As piscinas naturais: Em frente ao hotel

JUNHO 2016

Mit revista

139


mit parceria

divulgação/josé mário dias

Equipe Mitsubishi Petrobras: gasolina de alta performance

Combustível é coisa séria A inovação da gasolina Petrobras Podium faz a diferença no desempenho e eficiência do seu carro por juliana amato

Q

uem procura por uma

desempenho nas retomadas de

que a composição da gasolina Petrobras

gasolina para motores de

velocidade, aprimorando a dirigibilidade

Podium tem a vantagem de proteger

alto desempenho tem uma

e tornando as ultrapassagens mais

o motor. As válvulas, bicos injetores e

opção clara: Petrobras

seguras. Enfim, aumentando, e muito,

câmara de combustão não sofrem mais

Podium. A mesma, por

a performance, seja em veículos com

com elevados depósitos de sedimentos.

motor flex ou exclusivamente a gasolina.

Também o desgaste das peças é bem

sinal, utilizada nas provas de rali pela

140

menor, graças a componentes que

Equipe Mitsubishi Petrobras. Fabricada

Outra característica da Petrobras

pela empresa desde 2002, a Petrobras

Podium é superar as características das

Podium é o combustível de maior

gasolinas premium, embora esteja nessa

octanagem comercializado no país,

categoria segundo a legislação brasileira,

motores de alta performance é mais

com octanagem IAD = 95 de Índice

graças ao seu baixíssimo teor de

um pioneirismo da Petrobras, que foi a

Antidetonante — enquanto as gasolinas

enxofre, de apenas 30 partes por milhão

primeira em uso de bombas eletrônicas,

comuns têm a partir de 87 IAD. Isso

— o menor do mercado. O menor nível

venda de álcool hidratado e abolição

significa maior capacidade de resistir

de emissões dos veículos abastecidos

de chumbo no combustível. Não é para

a altas pressões e temperaturas na

com o combustível contribui para uma

menos que a empresa se orgulha de

câmara de combustão, sem sofrer

menor concentração de poluentes no

estar sempre no lugar mais alto do pódio

detonação. O resultado: melhor

ar das grandes cidades. Sem esquecer

da inovação.

Mit revista

JUNHO 2016

reduzem o atrito. Produzir a melhor gasolina para



retrovisor

um olhar para o passado

divulgação

por Mario ciccone

MITSUBISHI PX-33

1937

Quem olha para o PX33 pode ter certeza de que está diante de um marco para a Mitsubishi Heavy Industries, que daria origem à Mitsubishi Motors. O veículo é um protótipo entregue ao governo japonês em 1937. Foram produzidas apenas quatro unidades, priorizando o uso militar, numa época em que o Japão havia invadido a Manchúria, na China. O mais importante, porém, é o que o Mitsubishi PX33 trazia para o futuro da marca dos três diamantes — a tecnologia em tração 4x4. O sedã de quatro portas tinha motor a diesel 6,7 litros, de 69 cavalos, com injeção direta. O carro estará no Salão do Automóvel em São Paulo, entre 10 e 20 de novembro de 2016. Uma ótima oportunidade para você conhecê-lo de perto.

142

Mit revista

junho 2016


Sujeito à análise de crédito.

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