Ciclismo a fundo 51

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Bimestral I julho / agosto 2017

/// A FUNDO

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Teste: Canyon Aeroad CF SLX DB 8.0 Di2 Teste: Cube Agree C:62 Entrevista: Francisco Campos Técnica: Como sprintar Reportagem: Douro Granfondo Competição: Provas nacionais e World Tour

Entrevista Tudo sobre

VOLTA A FRANÇA VOLTA A PORTUGAL VOLTA A ESPANHA

ALBERTO CONTADOR Novidades SPECIALIZED TREK

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REPORTAGEM

COMO SPRINTAR? NO LIMITE ATÉ À VITÓRIA!

ABORDAR O SPRINT, A UMA VELOCIDADE ALUCINANTE, É UMA CAPACIDADE QUE SÓ ESTÁ AO ALCANCE DE ESPECIALISTAS. UMA DOSE DE LOUCURA E OUTRA DE TALENTO SÃO INGREDIENTES FUNDAMENTAIS PARA LUTAR PELA VITÓRIA, AINDA QUE POR VEZES SOMENTE O “PHOTO FINISH” CONSIGA DESVENDAR QUEM PASSOU EM PRIMEIRO LUGAR. SAIBA O QUE PODERÁ FAZER UM JOVEM SPRINTER PARA APRIMORAR A SUA APTIDÃO. [texto] Magda Ribeiro [imagem] Arquivo

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O

casionalmente, desde cedo conseguimos vislumbrar qual vai ser a especialidade de um ciclista no futuro. Ainda que se possa sempre evoluir - por vezes num sentido oposto –, certo é que há aptidões que nascem desde logo com a pessoa. Assim como um corredor pode ter capacidades natas para ser um trepador, do mesmo modo pode nascer com qualidades inerentes às de um sprinter. No entanto, existe uma máxima intrínseca a qualquer tipo de corredor: jamais será um vencedor se não trabalhar afincadamente. No caso dos sprínters, é muito importante que ingressem cedo numa Escola de Ciclismo, isto porque enquanto jovens vão

aprender, através de exercícios, a ser mais destemidos (ainda que esta seja uma característica que já nasce com a pessoa), mas sobretudo a ganhar destreza e equilíbrio em cima da bicicleta, fatores que irão ser muito importantes anos mais tarde (quantas vezes verificamos, nas abordagens aos metros finais, pequenos “toques” entre corredores que originam desequilíbrios? É imperativo que os ciclistas saibam recompor-se rapidamente para evitar uma queda e/ou ainda lutar pela vitória). Ter firmeza em cima da máquina dá uma grande margem de segurança aos corredores para estarem confiantes na hora de encarar o sprint.

A APRENDIZAGEM Ainda que os treinos se façam regularmente em conjunto, em especial nas camadas mais jovens, há especialidades que podem perfeitamente ser trabalhadas a solo, como por exemplo a melhoria das capacidades de um corredor na alta montanha. Contudo, por vezes não é fácil aperfeiçoar a arte de sprintar, sem existir um ou mais antagonistas que provoquem esse duelo (com adversários o ciclista terá a motivação de os ultrapassar ou então é instado a dar um pouco mais de si para impedir que os outros se superiorizem quando se encontra na frente). Ainda assim, há um local que direta ou indiretamente acaba por ser o responsável pelo nascimento deste tipo de especialistas: a pista. São inúmeros os casos de atletas que começaram na pista e que acabaram por evoluir para o ciclismo de estrada, tornando-se sprínters natos (a Austrália é um bom exemplo de nação em que tal tem acontecido, com muitos atletas a “nascerem” verdadeiros “pistards” e a transformarem-se em sprínters de craveira mundial). O ciclismo de pista é repleto de competições que fazem da velocidade a sua bandeira, tais como as provas de perseguição, o Madison ou o Keirin, e por isso praticar ciclismo de pista poderá auxiliar, sobremaneira, a fazer despontar o talento de um corredor naquela especialidade.

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ALBERTO CONTADOR

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ENTREVISTA

FOCADO A CEM POR CENTO E

stivemos com Alberto Contador na sua terra natal, Pinto, em Madrid. Após vários meses a tentar agendar uma entrevista exclusiva com o espanhol contratado pela TrekSegafredo, foi com grande expetativa que recebemos a resposta positiva por parte do ciclista. A agenda consistia em acompanhar o treino de Contador na parte da manhã e fazer a entrevista da parte da tarde. Como já é hábito neste tipo de eventos com equipas World Tour, a revista Ciclismo a fundo foi o único órgão de comunicação social português convidado, sendo os restantes revistas espanholas e um representante do canal Eurosport do país vizinho. A Trek disponibilizou-nos bicicletas topo de gama para acompanhar o “Pistoleiro” no seu treino matinal e depois de ter pedalado com Contador num estágio em Alicante no início do ano a ritmo médio/alto, confesso que estava algo apreensivo para ver como estava o seu momento de forma desta vez. E comprovei o meu receio: apesar de termos pedalado na primeira hora e meia a um ritmo normal (média provavelmente

ESTAMOS EM CONTAGEM DECRESCENTE PARA A VOLTA A FRANÇA E APROVEITÁMOS PARA ENTREVISTAR UM DOS PRINCIPAIS CANDIDATOS À VITÓRIA: O ESPANHOL ALBERTO CONTADOR. CONHEÇA MELHOR O “PISTOLEIRO” NAS PRÓXIMAS LINHAS, NUMA ENTREVISTA INTIMISTA REALIZADA NA SUA TERRA NATAL. [texto] Carlos Almeida Pinto [imagem] Trek

a rondar os 32 km/h), o ciclista da Trek/Segafredo adotou uma posição ao estilo contrarrelógio e decidiu apertar o ritmo a uma média horária acima dos 39. Que sofrimento tentar seguir àquele ritmo, até que vimos que era impossível. Assim se vê a diferença dos sobredotados como Alberto Contador, para os comuns mortais. Da parte da tarde, e após um retemperador duche, tivemos a oportunidade de o entrevistar numa unidade hoteleira perto de sua casa e podemos já adiantar que foi a conversa mais livre de pressão, aberta e divertida que tivemos com Contador. Já o tínhamos entrevistado em ocasiões diferentes (noutras equipas)

e sentimos, sobretudo, que Contador se sente agora mais feliz. Alberto, mudaste de equipa, de país de residência (da Suíça para Espanha) e de casa (em Pinto, Contador comprou uma vivenda nova). Tantas mudanças poderão prejudicar a tua concentração? (risos) Não. Tudo foi feito no devido tempo de modo a não prejudicar a minha preparação. Para além disso dedico-me a fundo ao treino e descanso, portanto o resto não me afeta. Também mudaste de instrumento de trabalho diário: a bicicleta. Como foi a adaptação à Trek?

Foi excelente. Quando estás no mundo da alta competição os pequenos pormenores fazem toda a diferença. Por exemplo, numa prova de três semanas, se os teus rivais têm uma bicicleta que pesa 6.8kg e tu usas uma com mais 200g, no final de contas estás a “arrastar” mais peso pelas montanhas acima e isso nota-se ao nível do rendimento e a nível psicológico. Por isso, este ano tomei a decisão de mudar de equipa, pois para mim era importante apostar num bom projeto desportivo e não somente económico. Obviamente que as pessoas que estão envolvidas no projeto influem, bem como a possibilidade em termos de abrangência de calendário e ainda o material de que terás à disposição. Se estiver numa equipa em que estou em desigualdade de circunstâncias em relação ao material face aos meus rivais, então tenho de optar por outra solução. Na Trek estou super feliz pois têm bicicletas excelentes e o ciclismo hoje em dia é tão técnico que, independentemente do traçado que enfrentes a marca tem sempre opções de topo à disposição. www.facebook.com/Ciclismoafundo 45


79.ª VOLTA A PORTUGAL EM BICICLETA [texto] Magda Ribeiro [imagem] Podium Events e João

Fonseca

VENHA DE LÁ MAIS UMA! C

hegámos à 79.ª edição, mas completam-se este ano 90 primaveras desde que a Volta a Portugal foi pela primeira vez para a estrada. Corria o ano de 1927 quando um destemido grupo de 42 homens deu início a uma grande aventura pelo nosso território. A 26 de abril era dada a partida simbólica na Praça dos Restauradores, em Lisboa, tendo o pelotão atravessado depois, de barco, o Rio Tejo até chegar a Cacilhas, local onde era oficialmente dada a partida de uma viagem que culminaria em Setúbal. No final de quase dois mil quilómetros, e 18 etapas, Augusto Carvalho (Carcavelos) era coroado o vencedor. Nove décadas volvidas, é precisamente da capital que parte um outro pelotão (agora bem mais numeroso), a fim de participar numa nova edição da Volta a Portugal. A edição de 2017 arranca então de Lisboa com um prólogo, que irá ditar o primeiro camisola amarela. Uma das novidades deste ano passa pelo regresso da prova ao interior do Alentejo. Dois dias após ter sido dado o tiro de partida disputa-se a mais longa das etapas deste ano, que ligará Reguengos de Monsaraz a Castelo Branco (esta é a segunda vez que 62 Ciclismo a Fundo

IRÁ PARA A ESTRADA, DE 4 A 15 DE AGOSTO, MAIS UMA EDIÇÃO DA VOLTA A PORTUGAL. ORGANIZADA PELA PODIUM EVENTS, A PROVA CONTA COM VÁRIAS ETAPAS CAPAZES DE FAZER DIFERENÇAS ENTRE OS CANDIDATOS À VITÓRIA. SAIBA DE SEGUIDA QUAIS IRÃO SER OS PONTOS QUENTES DE UMA CORRIDA QUE TEM O CONDÃO DE FAZER AQUECER AINDA MAIS O VERÃO PORTUGUÊS.

aquela cidade do distrito de Évora acolhe a prova. A estreia ocorreu em 2001, quando foi igualmente local de partida, tendo na altura culminado em Portalegre. O russo Andrei Zintchenko, da LA/Pecol foi na altura o vencedor). Até chegar à meta, a caravana irá visitar os municípios do Redondo, Vila Viçosa, Borba, Estremoz, Monforte, Portalegre, Castelo de Vide e Nisa. OS MOMENTOS-CHAVE À semelhança do que aconteceu em 2016, o alto da Torre será um ponto de passagem e não um local de chegada. Esta que é uma das zonas mais representativas da Volta a Portugal irá ser encontrada na penúltima etapa, que ligará a Lousã (cidade que entra pela primeira vez no calendário da Volta) à Guarda. A jornada duríssima conta com um percurso bastante sinuoso até à chegada ao Alto da Torre (categoria Especial) para depois os ciclistas seguirem por Manteigas em direção à Guarda. Por falarmos em etapas emblemáticas, a Senhora da Graça é um dos palcos decisivos da competição. Surgirá novamente na 4.ª etapa, partindo de Macedo de Cavaleiros. No ano passado Gustavo Veloso


AS ETAPAS 04/08 PRÓLOGO: Lisboa-Lisboa, 5,4 km 05/08 1.ª ETAPA: Vila Franca de Xira-Setúbal, 203 km 06/08 2.ª ETAPA: Reguengos de Monsaraz-Castelo Branco, 214,7 km 07/08 3.ª ETAPA: Figueira de Castelo Rodrigo-Bragança, 162,1 km 08/08 4.ª ETAPA: Macedo de Cavaleiros-Sr.ª Graça, 152,7 km

foi o mais forte no Monte Farinha, tendo chegado isolado à meta. No dia seguinte contaremos com nova subida em alto, ainda que esta seja “somente” de 3.ª categoria. A chegada ao Santuário de Santa Luzia, em Viana do Castelo, tem todos os condimentos necessários para provocar mexidas entre os primeiros classificados. Antes do dia de descanso, tempo há para uma jornada que mesmo não terminando em alto poderá resultar em diferenças, visto que o pelotão terá de superar, a cerca de 50 quilómetros para a meta, uma contagem de 1.ª categoria no Viso.

Em termos de dificuldades montanhosas não podemos finalizar sem referir a 7.ª tirada, que culmina em Santo Tirso, mais propriamente no Santuário de Nossa Senhora da Assunção (2.ª categoria). Se os trepadores já expuseram todos os seus argumentos, os melhores roladores terão a oportunidade para ditar a sua lei na derradeira jornada, um contrarrelógio que comporta cerca de 20 quilómetros na cidade de Viseu. Será na cidade de Viriato que iremos saber quem irá triunfar na Volta a Portugal/Santander Totta e suceder a Rui Vinhas (W52/FC Porto), o vencedor do ano passado.

09/08 5.ª ETAPA: Boticas-Viana do Castelo, 179,6 km 10/08 6.ª ETAPA: Braga-Fafe, 182,7 km 11/08 DESCANSO 12/08 7.ª ETAPA: Lousada-Santo Tirso, 161,9 km 13/08 8.ª ETAPA: Gondomar-Oliveira de Azeméis, 159,8 km 14/08 9.ª ETAPA: Lousã-Guarda, 184,1 km 15/08 10.ª ETAPA: Viseu-Viseu (CRI), 20,1 km

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[texto] Magda Ribeiro [imagem] UVP-FPC, ASO e Arquivo

ÉPOCA

DE CONTRASTES DAS ALEGRIAS AO LUTO; DOS GRANDES RESULTADOS À POLÉMICA. O ÚLTIMO PAR DE MESES FOI PARTICULARMENTE RECHEADO DE ACONTECIMENTOS – UNS MAIS FELIZES DO QUE OUTROS – QUE MARCAM, DESDE JÁ, A TEMPORADA DE 2017. ANTES DE ALGUNS DOS MOMENTOS MAIS ALTOS DO ANO, COMO A VOLTA À FRANÇA OU A NOSSA VOLTA A PORTUGAL, RECORDAMOS O QUE DE MAIS IMPORTANTE ACONTECEU NA ANTECÂMARA DESTAS PROVAS. 76 Ciclismo a Fundo


Antonio Angulo (LA Alumínios/ Metalusa BlackJack) foi o mais forte na Volta à Bairrada

A

alteração de data da Volta ao Alentejo fez com que praticamente durante um mês não ocorressem provas em território nacional. Deste modo, foi apenas no fim-de-semana de 22 e 23 de abril que as bicicletas voltaram a rolar, mais propriamente para competir na Volta à Bairrada, prova que deu o mote à Taça de Portugal de 2017. Composta por duas tiradas, a primeira coincidiu com uma contagem de montanha de 4.ª categoria, favorecendo homens rápidos em detrimento dos sprinters puros. E assim, na chegada a Casal Comba, Jesus Ezquerra (Sporting/Tavira) arrancou na subida final diretamente para o triunfo. O segundo classificado foi o jovem Luís Mendonça (Louletano/Hospital de Loulé) e o terceiro César Fonte (LA Alumínios/ Metalusa BlackJack), ambos com o mesmo tempo do vencedor. No segundo e derradeiro dia, porém, verificou-se uma autêntica “cambalhota” na tabela classificativa. Isto porque uma fuga de 13 elementos, logo aos primeiros quilómetros, acabaria coroada de sucesso. Quem mais beneficiou com esta situação foi a equipa comandada por José Augusto Silva, que apesar de apostar inicialmente

em Fonte, acabou por colocar as “fichas todas” em Antonio Angulo (LA Alumínios/ Metalusa BlackJack), que seguia na dianteira. Em boa hora o fez, na medida em que o corredor espanhol bateu ao sprint dois

especialistas - Samuel Caldeira (W52/FC Porto) e Daniel Mestre (Efapel) – e acabou como vencedor da prova. Fruto deste resultado, Angulo passou a liderar a Taça de Portugal de Elite, evento www.facebook.com/Ciclismoafundo 77


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