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Bimestral I dezembro 2016 / fevereiro 2017
/// A FUNDO
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Teste: Canyon Inflite Treino: Aprenda a ser o melhor Entrevista: Ruben Guerreiro Dicas: Alimentação História: Boavista Reportagem: Festival Bike Truques: Evite o frio
TODA A VERDADE
DOPING
SEGUNDA PARTE
Entrevista exclusiva
NACER BOUHANNI
TREK DOMANE SL6 DISC
ISBN 5601753002225 00048
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601753 002225
PVP 3,95€ (continente)
TUDO SOBRE O DESPORTO MAIS DURO DO MUNDO
Acompanhe-nos no
A FUNDO Diretor
CARLOS ALMEIDA PINTO
(cpinto@motorpress.pt)
Jornalistas: Fernando Lebre e Magda Ribeiro Colaborações: Luís Lourenço, Sérgio Marques, Rodrigo Baltazar, Ricardo Gouveia, Luis Duarte, Mário Fonseca, Sérgio Paulinho, Bruno Saraiva e Vanessa Pereira Redação ciclismoafundo@gmail.com Rua Policarpo Anjos, nº 4 1495-742 CRUZ QUEBRADA/DAFUNDO Tel: 214 154 500 – Fax: 214 154 501 Arte Coordenador: Miguel Félix Joana Prudêncio (projeto gráfico), Cristina Cruz, Filipa Fonseca, Miguel Ferreira, Teresa Cohen Fotografia: João Carlos Oliveira, Pedro Lopes e Rui Botas
Carlos Pinto
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E
screvo estas linhas ao mesmo tempo que olho para o calendário competitivo de 2017. Não posso deixar de ficar triste com o reduzido número de provas – em todos os escalões – algo aliás que tem sido hábito nos últimos anos. Em tempos de crise, pouco se colhe e será necessário esperar pelo retorno da dinâmica da economia para que o panorama se inverta. Aqui ao lado, em Espanha, o cenário não é muito diferente, daí levantar-se uma questão: não será mais benéfico as duas federações – portuguesa e espanhola – ponderarem fazer um NÃO SERIA BENÉFICO calendário único com uma classifiAS FEDERAÇÕES cação ibérica, mas assegurando que existe também uma classificação PORTUGUESA nacional? Já não é a primeira vez E ESPANHOLA que abordo este tema, mas torna-se PONDERAREM CRIAR UM preocupante a escassez de provas, o que faz com que patrocinadores CALENDÁRIO IBÉRICO? e comunicação social generalista fiquem alheados do meio. Ao existir um Campeonato Ibérico, potenciam-se áreas geográficas, gera-se mais retorno financeiro, maior mediatismo, o que poderá levar a que mais patrocinadores apareçam e que olhem para o ciclismo com bons olhos. E custa-me dizer isto, mas atualmente é pouco ou nada atrativo aos nossos melhores ciclistas permanecerem em solo luso. Ou se altera este estado de coisas, enquanto é tempo, ou o ciclismo continuará a viver um momento que não se coaduna com a sua real dimensão. Aproveito também esta oportunidade para vos dar duas notícias. A primeira é que, como podem ver nas próximas páginas, renovámos por completo o grafismo da revista Ciclismo a fundo. Está agora mais moderno, atraente e dinâmico. A segunda notícia diz respeito à periodicidade da revista. Iremos continuar com o conceito bimestral, mas a revista sairá em 2017 nos meses de março, maio, julho, setembro, novembro, etc. Deste modo estaremos presentes nos meses mais importantes e com conteúdos exclusivos. Estamos a preparar muitas novidades – algumas delas provêm de sugestões dos nossos leitores – pelo que vai valer a pena a espera. Entretanto, espero que goste das alterações que fizemos (algumas delas já são visíveis nesta edição), pelo que o seu feedback é importante. Estou à sua disposição através do e-mail cpinto@motorpress.pt. Boas pedaladas e vemo-nos na estrada.
Edição escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico Membro
[fotografia de capa] Pedro Lopes
www.facebook.com/Ciclismoafundo 3
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NACER
Bouhanni
sumário
ED.48
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HISTÓRIA
DEZ/FEV
entrevista 40 RUBEN GUERREIRO REFORÇO DA TREK/SEGAFREDO
MAIS... NESTA EDIÇÃO
22 TESTE
Canyon Inflite AL SLX 9.0 Race 4 Ciclismo a Fundo
03 Staff 06 Noticiário 18 Teste Trek Domane SL 6 Disc 22 Teste Canyon Inflite AL SLX 9.0 Race 26 Minitestes 29 Reportagem: Festival Bike 40 Entrevista: Ruben Guerreiro 46 Conheça os efeitos do frio no organismo 50 Toda a verdade: Doping – parte 2 56 Conselhos de alimentação 60 Como utilizar o rolo Grid – parte 2 64 História 68 Segredos para se ser um bom ciclista 72 Entrevista: Nacer Bouhanni 76 9.º Mega Passeio Lisboa/Santarém 78 Competição
OS EFEITOS DO FRIO NO ORGANISMO
FRIO a quanto obrigas! ANTES DE IRMOS PEDALAR, DEVEMOS CONHECER OS EFEITOS QUE O FRIO PODE PROVOCAR NO ORGANISMO, TANTO A NÍVEL FISIOLÓGICO COMO ESTRUTURAL. [texto] Dani Rodriguez [imagem] Gore e Cycleops
46 Ciclismo a Fundo
Frio, neve, vento, estradas escorregadias… Se não nos precavermos, o nosso corpo pode “desligar”
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e há algo que considero importante, é compreender em primeiro lugar o “porquê” das coisas, em vez de cumprir as indicações às cegas. Isto permite-nos tomar decisões no futuro, sem necessidade de que exista um treinador que nos resolva uma qualquer equação perante uma possível dúvida. Eu, por exemplo, em vez de lhe dizer quando é que deve tomar um batido de proteínas, começaria por explicar as suas propriedades, efeitos e funções principais. Com isto tenho a certeza de que o resto descobrirá por si próprio. A respeito do tema de que aqui lhe falo, se estivermos conscientes do que vamos sentir se decidimos colocar o capacete e sair para a estrada para fazer o treino invernal, seremos capazes de decidir se vale a pena pedalar na rua ou se tiramos o capacete e vamos para o rolo. Perante atividades desportivas de certa exigência muscular e fisiológica, realizadas a baixas temperaturas, submetemos
o organismo a uma situação de stress por frio, pondo à prova o nosso equilíbrio homeostático, que pode fazer o corpo reagir de diferentes maneiras. Comecemos por descrevê-las brevemente: TREMORES
Se, por alguma razão, o hipotálamo deteta que a temperatura baixa bruscamente, o nosso corpo treme para produzir calor. Isto pode acontecer quando se desce depressa ou quando se repara um furo ao vento e ao frio. VASOCONSTRIÇÃO PERIFÉRICA
Os músculos que rodeiam os vasos sanguíneos da pele veem-se especialmente estimulados com o fim de produzir calor sobre a mesma, o que reduz o fluxo sanguíneo até à periferia do corpo e, portanto, dos músculos mais usados na pedalada, diminuindo a sua força de contração e logo, o nosso rendimento. www.facebook.com/Ciclismoafundo 47
TODA A VERDADE SOBRE O DOPING – PARTE 2
CONTROLO
RÍGIDO
DEPOIS DE TER ABORDADO NA EDIÇÃO ANTERIOR O QUE É O DOPING, COMO ESTÁ A SITUAÇÃO EM PORTUGAL NO QUE DIZ RESPEITO A CONTROLOS, QUEM FORNECE E QUAIS OS MALEFÍCIOS DA TOMA DESTES PRODUTOS, CHEGOU A ALTURA DE APROFUNDAR MAIS OUTROS TEMAS. [texto] Carlos Pinto [imagem] Fotolia e arquivo
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epois de a Federação Portuguesa de Ciclismo e a Autoridade Antidopagem de Portugal terem unido esforços com vista a aprofundar mais o tema, é certo que cada vez mais há informação disponível acerca dos controlos antidoping feitos nas diferentes modalidades, com especial destaque no ciclismo, e a introdução do Passaporte Biológico, pioneiro na nossa modalidade, veio colocar mais pressão sobre os eventuais prevaricadores. SUBSTÂNCIAS PROIBIDAS
Segundo o Código Mundial Antidopagem, datado de 1 de janeiro de 2016, “qualquer substância farmacológica que (…) não tenha sido objeto de aprovação por qualquer autoridade reguladora governamental de saúde pública para uso terapêutico em humanos (e.g. substâncias sob desenvolvimento pré-clínico ou clínico, ou que foram descontinuadas, drogas de síntese, medicamentos aprovados apenas para uso veterinário) é proibida em competição e fora de competição”. E aqui reside o problema. Há quem refira que algumas empresas da indústria farmacêutica para continuarem a desenvolver a sua atividade (devido aos constantes cortes sofridos tanto na área da investigação como nas bolsas de estudo propriamente ditas) poderão estar a entrar no mercado negro fornecendo substâncias que ainda estão em fase de estudo, mas que aparentemente potenciam o rendimento desportivo ou, pelo menos, ajudam a evitar um desgaste grande provocado pelos treinos ou por provas por etapas. Os agentes anabolizantes também são proibidos, tal como os 50 Ciclismo a Fundo
esteroides androgénicos anabolisantes exógenos e os endógenos (se forem aplicados exogenamente). As hormonas, os fatores de crescimento, os Beta 2 agonistas e os moduladores metabólicos engrossam a lista de substâncias, mas também alguns diuréticos e agentes mascarantes. Recentemente foi introduzida na listagem a manipulação do sangue e de componentes do próprio sangue, e neste campo salientamos a manipulação química e física e a dopagem genética. Obviamente, os estimulantes, os narcóticos, os canabinóides e os glucocorticoides são proibidos. FUGA AOS CONTROLOS
Recentemente estive em Espanha onde um conceituado jornalista me confidenciou que muitos ciclistas suspensos por controlos antidoping positivos estavam agora a optar por participar em Granfondos ou Clássicas semi-amadoras onde não existe qualquer controlo. Na sua essência, os Granfondos não são provas competitivas, mas sim passeios de massas onde cada um tenta fazer o percurso no melhor tempo possível. Em Itália e Espanha a “bolha“ rebentou quando um conjunto de participantes se mostrou indignado com a participação – e respetiva vitória – de alguns ciclistas claramente marcados por casos de doping. Este é um tema também debatido em Portugal, assegura-nos uma fonte que solicitou anonimato. Para além disso, como referiu a nossa fonte, em Espanha, por exemplo, já há participantes a boicotar provas onde há inscritos que tenham o seu nome sujo. Perguntámos a Rogério Jóia, Presidente da Agência Antidopagem de
“Combatemos o doping onde suspeitamos que ele existe”
www.facebook.com/Ciclismoafundo 51
CONSELHOS ALIMENTARES
ALIMENTA versus SUCESSO
TREINAR BEM E COMER AINDA MELHOR. INDISCUTIVELMENTE, UMA BOA ALIMENTAÇÃO É FUNDAMENTAL PARA O SUCESSO DE UM CICLISTA E POR ISSO SÃO DIVERSOS OS CUIDADOS QUE DEVE TER ANTES, DURANTE E APÓS O EXERCÍCIO FÍSICO. ANOTE ALGUNS DAQUELES QUE DEVERÃO SER HÁBITOS ESSENCIAIS NO SEU DIA A DIA. [texto] Magda Ribeiro [imagem] Arquivo, Agnelo Quelhas e Fotolia
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certo e sabido que todos devemos ter cuidados com a alimentação, praticando ou não desporto. Afinal de contas, somos realmente aquilo que comemos. Ainda assim, a prática regular de exercício físico - com o desgaste que o mesmo acarreta - faz com que seja particularmente importante termos cuidado com aquilo que ingerimos, selecionando (com algum critério) o que devemos, ou não, comer. Se as escolhas forem sensatas, é meio caminho andado para o sucesso! O COMBUSTÍVEL PARA A PROVA
O pequeno-almoço que antecede um evento deverá ser composto por tudo aquilo que habitualmente entra na sua mesa em dias de treino. Por mais que pensemos que determinado alimento poderá fornecer energia extra, o certo é que corremos o risco de que ele caia mal no estômago. Deste modo, se 56 Ciclismo a Fundo
ÇÃO
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ENTREVISTA
HERÓI
REBELDE
NACER BOUHANNI JÁ BRILHOU NO GIRO E DEIXOU BEM IMPRESSA A SUA MARCA NA VUELTA. ANSEIA AGORA ARREBATAR TRIUNFOS NO TOUR E FESTEJAR A CONQUISTA DO TÍTULO MUNDIAL. NA ARTE DO SPRINT POUCOS SÃO AQUELES QUE COM ELE CONSEGUEM CONCORRER, E O FRANCÊS PARECE DAR-SE BEM COM O PAPEL DE HERÓI REBELDE. [texto] Fernando Lebre e Magda Ribeiro [imagem] Rui Botas e Cofidis
A
estrela da Cofidis Nacer Bouhanni passou por Lisboa e aceitou “abrir o livro” com a Ciclismo a fundo. Não esconde a frustração por ter sido ausência notada na mais recente edição do Tour, mas as 11 vitórias que somou em 2016 são motivo suficiente para o fazer sorrir. Com a ambição que o caracteriza, aponta já baterias para uma temporada de 2017 de grande nível onde espera reconquistar o título gaulês e fazer ecoar bem alto o seu nome na “Grand Boucle”. Não se revê na afirmação de 72 Ciclismo a Fundo
ter mau feitio, mas responde com um sorriso cúmplice quando fazemos alusão à sua irreverência, “quiçá” motivada pelo ADN singular que, por norma, ostentam com orgulho os sprinters de eleição. Que balanço fazes da temporada de 2016? Penso que globalmente tive um ano positivo, pois consegui conquistar 11 vitórias para a minha equipa, quatro delas em competições do World Tour. Desse modo, parece-me que se justifica ter uma perspetiva positiva da temporada que passou.
“SONHO GANHAR UMA ETAPA NO TOUR” Foi muito doloroso não teres podido participar na mais recente edição do Tour? Foi bastante duro e uma deceção, pois é a competição mais importante do Mundo e na qual todos os ciclistas querem participar. Contudo não me deixei abater por essa situação e nos meses seguintes ao Tour ainda consegui somar vitórias, algo que foi bastante importante para mim. Tens somado tantas vitórias, nomeadamente no Giro e na Vuelta, mas ainda não o conseguiste no Tour. Ganhar uma jornada da Volta a França é um dos teus maiores objetivos? Claro que sim (risos)! Já ganhei três etapas na Volta a Itália e duas na Vuelta, mas sonho muito em ganhar uma etapa no Tour, pois sei da relevância que tem para a carreira de um ciclista ganhar na Volta a França. Tenho noção do quão importante seria essa conquista também para a minha equipa. Quais são as grandes metas que traças para a próxima época? Quero apresentar-me no meu melhor momento de forma na Volta a França, de maneira a finalmente conseguir ganhar no Tour. Para além disso, no próximo ano quero tentar discutir a vitória na MilãoSão Remo e em etapas do Paris-Nice. Outro dos meus grandes objetivos para a nova temporada será tentar alcançar novamente o título de Campeão de França. Irás estar presente na Volta ao Algarve? www.facebook.com/Ciclismoafundo 73