Especial Inverno - Bike Magazine

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FAÇA CHUVA

OU FAÇA SOL

PORTUGAL TEM O PRIVILÉGIO DE SER UM PAÍS ONDE SE PODE PEDALAR TODO O ANO. MAS O INVERNO PODE SER INCLEMENTE E CONVÉM ESTAR PREPARADO. SEGUE OS NOSSOS CONSELHOS E VAIS CURTIR O FRIO E A CHUVA COMO MANDA A LEI. [texto] Pedro Pires [imagem] Luis Duarte, Scott, Scott Markewitz, João da Franca, Pedro Pires, arquivo

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VESTUÁRIO O frio chegou e o pó deu lugar à lama, por isso não podes andar por aí a pedalar de manga curta. A escolha do vestuário adequado pode fazer a diferença entre passar um bom bocado nos trilhos ou sofrer tormentos e só querer voltar para casa o mais depressa possível. A zona do corpo que deve estar mais protegida é o tronco, mas não é por isso que deves descurar as extremidades. Perde-se muito calor pelas mãos, pés e cabeça por isso deves estar bem acautelado no que diz respeito a luvas, calçado e capacete. Começando de cima para baixo, falemos da cabeça. O capacete permite alguma retenção de calor, mas se não ostentas uma farta cabeleira, não será má ideia cobrir o escalpe caso vás rolar rápido ou as temperaturas estejam perto do ponto de congelação. Existem proteções especialmente pensadas para o ciclismo (tanto para usar por cima como por baixo do capacete) e numa volta longa este pode ser um dos melhores conselhos que te damos. Os ouvidos devem ser alvo de especial atenção, porque para além de se perder calor pelas orelhas, o frio pode provocar inflamações no aparelho auditivo. Um “Buff” é uma peça interessante, já que podes cobrir apenas o pescoço ou puxá-lo até ao nariz e orelhas, o que dá jeito nas descidas rápidas, mas se estiver a chover pode não 22

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ser a melhor ideia. Nesse caso opta por uma capa impermeável para o capacete ou por uma touca com material impermeável. O tórax é a zona que deve ser mantida mais aconchegada. Um nariz frio é incómodo, mas se o teu peito já não consegue armazenar calor, o desconforto pode tornar-se num risco para a saúde. Usa uma primeira camada justa, pode até ser de manga curta, e por cima um casaco corta vento. A espessura destas peças dependerá do frio, mas escolhe roupas com fecho para arejares o tronco nas subidas. Dependendo da temperatura e pluviosidade, podes optar por um colete. É sempre mais ventilado, fácil de despir e em dias mais amenos não vais querer ter os braços sobreaquecidos. Em caso de chuva, o colarinho, punhos e cintura devem estar bem justos. As pernas vão estar em movimento, logo não deverão estar abafadas. Preocupa-te em manter os joelhos tapados e lembra-te de que se usares calções largos, deverão ser de uma fibra que seque rápido, caso

contrário o conforto vai literalmente por água abaixo. Existem calções largos impermeáveis, que são úteis sobretudo na hora de manter o traseiro seco. Se vais passar muito tempo à chuva podem ser uma boa ideia, porque para a maior parte das pessoas, o patamar em que a diversão se torna em martírio chega quando a almofada dos calções se transforma em saquinho de chá. Usa luvas de inverno grossas apenas se estiverem temperaturas muito baixas e não fores pedalar em trilhos técnicos. As mãos são o ponto de contacto com a bicicleta mais sensível e um tecido um pouco mais espesso que o habitual vai causar sensações de condução diferentes. Há várias opções intermédias e para dias frios chuvosos, o neopreno pode ser uma boa escolha. Os pés molhados começam a queixar-se mais quando o frio aperta. Numa volta curta e em clima ameno até podes prescindir de meias impermeáveis e capas para os sapatos, mas lembra-te de levar o calçado bem justo, para não andares a chapinhar lá dentro caso chova. As meias de lã merino são uma boa


solução contra o frio. Se tiveres de enfrentar uma longa intempérie ou vais rolar a alta velocidade, o melhor é usares capas para sapatos. As meias de neopreno são uma opção caso esteja muito frio e saibas que vais ficar encharcado. Acima de tudo, tens de estar preparado para o frio e chuva, mas sem esquecer que poderá haver momentos em que tenhas calor (nas subidas, por exemplo), sendo por isso importante ter peças de roupa com fechos e que se possam vestir e despir com facilidade. Em voltas longas e com paragens, deverás ter uma peça quente seca guardada na mochila, dentro de um saco de plástico. O tipo de roupa não depende apenas do tempo, mas do tipo de volta que vais dar. Se tens uma maratona pela frente e aspiras aos primeiros lugares, vais estar quente quase todo o tempo e terás de usar roupa justa. Já estás ali para sofrer, por isso um pouco de frio no arranque ou nas descidas rápidas vai fazer parte do dia. Também numa volta curta e intensa ou em trilhos técnicos vais estar quente a maior parte do tempo, por isso não vale a pena ires demasiado abafado. Mais vale ires com mais camadas do que passar frio, mas acima de tudo confia nas tuas sensações: sai para o monte bem agasalhado, mas com peças que possas despir e armazenar facilmente. Com a experiência vais aprender a preparar-te com aquilo de que realmente necessitas.

BERG LONGSLEEVE SERRA E CALÇAS SERRA GEL Casaco

44,99 € (CASACO) e 69.99 € (CALÇAS) www.bergcycles.com

Os dias mais frios requerem roupa adequada. Deve ser térmica, mantendo a temperatura corporal, mas ao mesmo tempo de permitir a respiração para não acumularmos o suor no interior. Este casaco Berg é muito leve e o seu interior contempla tecido polar para aquecimento. Por sua vez, as calças Berg Serra Gel têm carneira em gel da Drpad e um tecido ligeiramente cardado para conforto e aquecimento. São fabricadas em Portugal.

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PNEUS Os pneus são o principal meio de amortecimento de uma bicicleta e são eles que te mantêm na trajetória certa e em contacto com o solo. Existe um sem número de modelos com diâmetros, larguras e desenhos diferentes e para cada situação e tipo de utilização tens muitas escolhas. Regra geral, os pneus para piso molhado têm tacos mais espaçados para não acumular lama e mais salientes para se cravarem melhor nas superfícies moles. Podem também ser mais estreitos, para não haver depósito de lama enatre os pneus e as escoras da bicicleta. São fabricados em compostos de borracha mais flexíveis, o que proporciona maior aderência, mas também os torna mais propícios a desgaste e mais lentos em pisos compactos. Estes pneus são uma mais valia em terrenos lamacentos, turfa molhada, pedras e raízes, e se pedalas com frequência neste tipo de pisos, vale a pena investir. O tipo de pedra da zona por onde pedalas também pode ditar a necessidade da troca de pneus. O calcário que abunda no centro de Portugal (e que muitas vezes é intercalado por barro 24

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vermelho) torna-se bastante escorregadio, assim como o xisto, que também se encontra com frequência. Já as lajes de granito costumam oferecer uma boa aderência, mesmo quando molhadas, e se juntares um saibro pelo meio, até vais preferir pedalar quando chove, por isso o recurso a pneus mais cardados não é essencial. Um pneu mais largo poderá funcionar bem por cima de pedras e raízes molhadas, mas quando pedalas no barro, o melhor será ter um “calçado” mais estreito, para não acumular tantos detritos. A terra molhada e compacta torna-se mais “pesada”, por isso às vezes até é preferível ter um pneu com pouco cardado e largura, para que não se cole tanto ao chão a subir e a rolar. Nem todos os trilhos ficam mais complicados com a chuva. Os pisos arenosos tornam-se mais aderentes e compactos – a maior parte dos estradões em Portugal possuem estas características - e por vezes não vale a pena apostar nuns pneus específicos para o inverno se não vais apanhar muita lama, pedras e raízes pelo caminho.


Mas para extraíres mais tração dos teus pneus atuais podes usar um processo simples e sem custos: retirar alguma pressão de ar. Antes de saíres para o mato esvazia ligeiramente os pneus, mas tem cuidado para a pressão não ser tão baixa que faça o pneu deformar-se e perder estabilidade ou furar com facilidade. Com o piso molhado os furos são menos frequentes (anda-se mais devagar, as superfícies ficam menos duras) mas isto não quer dizer que não andes preparado. O tubeless é a melhor opção para a maior parte das situações, mas se tens um furo é melhor ter uma câmara-de-ar do que remendos, que dão mais trabalho e são difíceis de colar à chuva. Uma dica para aqueles que se debatem com trilhos em que a lama abunda e gosta de se colar a tudo quanto é superfície: é preferível pedalar num dia de chuva intensa do que na calma depois da tempestade. A lama mais líquida até pode ser escorregadia, mas se esperares um par de horas solarengas para ir pedalar, aquela argila acaba por tornar-se tão consistente que vais levar para casa matéria prima suficiente para reproduzir toda a obra do grande José Franco.

Pneu

HUTCHINSON TORO XC ENDURO (SECÇÃO PNEUS) 56 € (29´´) www.hutchinsontires.com

Ideal para terrenos húmidos e com lama, o pneu Toro poderá ser a opção ideal, já que os seus tacos centrais mais baixos afastam a lama rapidamente, mantendo assim a tração. Por sua vez, os tacos laterais mais elevados mantêm posicionado o pneu nas mais diversas condições. O Toro tem bandas laterais reforçadas com tecnologia Hardskin, mantendo o baixo peso e a rápida sua capacidade a rolar. Opções: Tubeless Ready / Câmara de ar Hardskin / Standard 26 / 27,5 / 29” 2,10 2,15/2,25.

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MOCHILAS E ACESSÓRIOS Um dos principais inimigos do material é a chuva. Para além de atacar os componentes da bicicleta (podendo levar à oxidação dos mesmos), pode danificar dispositivos eletrónicos como telemóveis ou máquinas fotográficas. Tens de garantir que estes objetos estão acondicionados em bolsas ou caixas estanques e o mesmo se deve passar com documentos e dinheiro. As notas têm uma grande resistência à água, mas é preferível mantê-las secas, não vás ser acusado de lavagem de dinheiro quando fores pagar o almoço aos teus companheiros de pedalada! Caso molhes o telemóvel ou outro aparelho eletrónico, há um truque que pode salvá-lo: não o ligues, 26

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coloca-o numa caixa com arroz cru durante uns dias e pode ser que tenhas sorte. O arroz absorve a água lentamente e se tudo correr bem podes ligar de novo o aparelho sem problemas. As temperaturas negativas não são boas para as baterias dos dispositivos eletrónicos. Se as temperaturas estiverem abaixo de zero, transporta o telemóvel junto ao corpo se te quiseres manter sempre contactável. As mochilas de hidratação específicas para BTT costumam ter uma capa impermeável integrada, que fica armazenada numa bolsa na parte inferior. Este acessório permite manter a mochila seca e limpa, mas não oferece uma proteção total em caso de chuva extrema, por isso deverá ser complementado com bolsas estanques ou sacos de plástico bem fechados a envolver o conteúdo. Ferramentas, câmaras de ar e remendos também não devem andar encharcados: podem oxidar-se (no caso das câmaras-de-ar falamos

das válvulas) ou ficar inutilizados. Géis e barras vêm acondicionados em embalagens herméticas, mas se gostas de comer uns bolos ou sandes faz-te valer também de uns sacos estanques. Ninguém morre por comer ensopado de presunto, mas é desagradável. Uma coisa que deves ter em atenção é o funcionamento dos fechos de correr das mochilas, bolsas e vestuário. As bolsas de selim são especialmente atreitas a acumular lama e às vezes os fechos ficam perros, o que torna a tarefa de abrilos com os dedos frios numa missão à altura do Tom Cruise. Uma gotinha de óleo antes da volta não é de desdenhar. Quando os óculos estão demasiado molhados ou o nevoeiro é intenso, é difícil limpar e desembaciar completamente as lentes. Os tecidos sintéticos são muitas vezes pouco úteis nesta tarefa, mas o papel higiénico nunca te vai deixar mal. Compra uma bolsa impermeável. Evitará que o material que estiver lá dentro se danifique. Caso leves algo nos bolsos traseiros, opta por colocar em sacos estanques


Mochila S1000X H2O e botas XM9 EXPLORER Mochila 69,95 € (2 LITROS) Botas 229,00 € www.shimano-lifestylegear.com

ou, se não tiveres, um simples saco de plástico enrolado várias vezes serve perfeitamente. Antes de saíres para os trilhos confirma que a tampa de carregamento do teu GPS ou ciclocomputador está devidamente fechada. Muitos destes aparelhos estragam-se por entrar humidade nestas extremidades. Caso tenhas de usar alguma ferramenta, minibomba ou outro acessório com parte metálica à chuva, nunca te esqueças de, quando chegares a casa, secar bem o produto e colocar algumas gotas de óleo, para evitar que a ferrugem apareça.

Esta mochila é compatível com sistema de hidratação, traz um bolso forrado a feltro onde podemos guardar os objetos de maior valor, incluindo o capacete e tem um impermeável à prova de água que fica arrumado num bolso especifico quando não é necessário. O painel traseiro tem acolchoamento Air Mesh para dissipar rapidamente o calor e a zona interior contempla diversas opções de arrumação ajustáveis. Está disponível em 2L, 6L, 10L e 14 L e em cores diferentes. Por sua vez, as botas foram especialmente desenvolvidas para todos aqueles que gostam de se aventurar a explorar a natureza. A cobertura é em pele, têm proteção na biqueira em borracha reforçada, sola exterior em Vibram, tecnologia Gore-Tex e sistema de aperto com correia de ajuste e ilhó. Tamanhos: 40 a 46.

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DEPOIS DA VOLTA Caso comeces a pedalar em casa e tenhas de guardar a bicicleta no interior, tenta incluir no final do teu itinerário um ponto de lavagem. Leva uma moedinha no bolso e dá uma mangueirada rápida numa estação de serviço, com cuidado para não apontares jatos de alta pressão para componentes selados tais como cubos, retentores das suspensões, rolamentos, eixo pedaleiro e caixa de direção. Um vizinho simpático com jardim ou um café que costumes frequentar e que tenha uma mangueira no exterior também podem ser bons aliados, se pedires com jeitinho não deve haver problema. Às vezes até um balde e uma escova podem safar-te de encher a casa de lama. É preciso é imaginação e iniciativa, ou então vais ter de arrastar 4kg de barro pelos tapetes de Arraiolos. Se estiveste exposto a muito frio e chuva e acabaste exausto e enregelado, lembra-te de que a tua saúde é a prioridade. Num par de 28

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horas limpas o que sujaste, mas uma constipação pode demorar uma semana a curar, por isso não te demores a lavar a bicicleta caso estejas desconfortável. Caso vás de carro para os trilhos e tenhas de transportar a bicicleta no interior, arranja uns lençóis ou plásticos para o proteger da sujidade, a não ser que a volta acabe convenientemente perto de um ponto de lavagem. Naqueles dias terríveis de frio e chuva dá jeito ter um saco grande, ventilado e resistente para colocar o equipamento sujo antes de entrares no carro. Assim, mal chegues, dás logo à chave para ligar o aquecimento, fazes uma cena de nu integral rápida, passas uma toalha húmida no corpo e enfias-te num fato de treino ou naqueles ponchos atoalhados que os surfistas gostam de usar. Assim ficas logo quentinho e não sujas o carro. Convém ter à mão meias quentes e sapatos confortáveis e rápidos

de calçar. E aqui o princípio é o mesmo: começa pelas extremidades, calçando umas meias bem quentes e colocando um gorro na cabeça. Em casa, com mais calma e já quente podes pegar no saco do equipamento e fazer a triagem: sapatos para um lado, meias para o outro, embalagem de gel para o lixo, etc, etc… Se os sapatos tiverem muita sujidade, agarra num balde, detergente para a roupa e um piaçaba (de preferência que não tenha sido usado!) e vai para a garagem ou porta do prédio e lavaos. Nunca os coloques na máquina de lavar e nem penses em pô-los na banheira. A sujidade pode entupir o ralo, a água quente pode deformar os sapatos e o mais certo é a tua “Maria” colocar-te as malas à porta! Caso a roupa tenha muita lama, não a coloques imediatamente na máquina de lavar. Deixa-a num balde com água e um pouco de detergente durante uma hora mais ou menos, agita um pouco e depois


deita essa água na sanita. Antes de colocares a roupa a lavar passa-a por água na banheira para eliminar restos de lama ou detergente. A ideia de que apanhar frio e chuva por si só provoca gripes e constipações é um mito. O estado de fraqueza associado à exposição a baixas temperaturas pode tornar o corpo mais acessível aos vírus que outras pessoas nos possam transmitir, mas se nos mantivermos bem agasalhados, alimentados, hidratados e em boa forma não vamos dar parte de fracos perante essa bicharada (referimo-nos aos vírus, claro). Devemos ter os cuidados habituais para evitar uma gripe, mas não é preciso prescindir daquelas belas voltinhas ao frio e chuva. Bebe algo quente depois do banho. Com o frio e chuva temos tendência a beber poucos líquidos durante a volta, o que é um erro, por isso é normal estarmos desidratados. A reposição de líquidos ajuda a hidratar o organismo e fará com que ajudes o sistema imunitário a fazer o seu papel.

Capas para sapatos

S1000X H2O

39,99 € www.shimano-lifestylegear.com

Para construir estas capas foram selecionados os melhores materiais de modo a oferecer o melhor desempenho e conforto. Todos os tecidos do conceito Fusion são mais leves e finos para uma melhor adaptação e maior elasticidade. As capas de sapato desenhadas especificamente para montanha, foram contruídas com um forro fino e elástico, um revestimento duradouro em poliuretano para garantir uma proteção fiável contra a chuva. Possuem também elementos refletores para visibilidade em pouca luz e biqueira e laterais reforçadas. Tamanhos: S a XXL. Cores: amarelo ou preto.

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BICICLETA Uma das coisas a ter em conta quando se pedala em condições húmidas é a lubrificação. A transmissão é um dos grupos mais fustigados pela água e lama, por isso escolhe um lubrificante adequado. Um lubrificante para tempo húmido é mais espesso e aguenta-se mais tempo na corrente, ao contrário dos lubrificantes para tempo seco, que formam uma camada mais fina e são pensados para repelir o pó. A desvantagem dos lubrificantes mais espessos é que acumulam mais detritos, por isso convém limpar bem a corrente depois da volta. Quando sujeitas a condições adversas, as partes móveis da bicicleta podem ser invadidas pela lama e areia. Fica atento ao funcionamento de rolamentos, suspensões, cubos das rodas, eixo pedaleiro e caixa de direção e se houver ruídos ou atritos recorre a uma oficina para os abrir e limpar, caso não possuas conhecimentos suficientes. Em princípio a maior parte destes 30

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componentes são estanques, mas os rigores do inverno podem provocar a entrada de água e lama em tudo quando é sítio, por isso fica atento e verifica regularmente todas as peças. Quando pedalas com os calções empapados em lama, a fricção no quadro pode provocar riscos no quadro, por isso não é má ideia forrar as partes mais sensíveis com películas específicas para esse efeito. Existem também sprays que repelem a água e que podem dar bastante jeito. Nos parafusos aplica massa na rosca e lubrificante na parte superior. Isto fará com que os parafusos não oxidem imediatamente após uma volta com humidade. Se costumas pedalar em zonas perto do mar, cuidado com a salitre e com a humidade existente pois pode corroer todas as peças metálicas. Para além de teres de as manter sempre lubrificadas e limpas (com frequência), a falta de utilização (sobretudo na corrente, cassete e cabos) pode levar a uma

degradação três vezes mais rápido do que num clima ameno. Faz questão de verificar se os teus punhos não rodam com a humidade. Enrolar punho é coisa do motociclismo, não do BTT. Punhos com aperto de parafuso são os ideais, mas há modelos de silicone que se colam muito bem ao guiador. Depois da volta, o ideal é lavar a bicicleta o mais rapidamente possível recorrendo a uma escova macia e um balde com detergente específico. Dá umas pedaladas a seguir para ver se existem atritos ou ruídos e renova a camada de lubrificante na transmissão. Evita os jatos de alta pressão, porque podem fazer com que água e detritos penetrem em componentes móveis e estanques e ainda danificar logotipos. Verifica o estado das pastilhas de travão. Não vais querer ficar sem travões a meio de uma maratona, pois não? As pastilhas com compostos metálicos são mais duráveis e fiáveis


em condições húmidas, mas fazem mais barulho e demoram mais a acamar. As pastilhas orgânicas oferecem uma travagem melhor, mas com a ação da água e lama desgastam-se muito facilmente. Caso tenhas uma bicicleta com transmissão eletrónica, evita as lavagens com máquinas de alta pressão. Não só pode danificar o sistema como a zona de contacto entre a bateria e a cablagem pode ganhar verdete ou oxidar. Em condições de muito frio, os travões podem não funcionar à primeira. Apesar de a maioria dos travões de disco hidráulicos trazerem óleo que suporta temperaturas baixas, a verdade é que tal já nos aconteceu. O melhor a fazer se tal suceder é entrar num espaço fechado, aguardar um pouco (até a temperatura subir ligeiramente) e fazer atuar as manetes de travão várias vezes. Isto fará com que o sistema de travagem volte a funcionar. E damos-te outro conselho: borrifa os discos com água para melhorar a travagem.

Bicicleta

CANYON INFLITE AL SLX 9.0 PRO RACE 2.999 € www.canyon.com

No Inverno, o ciclocrosse é bastante popular. Não só permite um ritmo explosivo em cima da bicicleta como alia a corrida para ultrapassar obstáculos. É um dos desportos mais em voga nesta altura. Para além disso, quem é que não gosta de passear nos bosques enlameados? A Canyon Inflite AL SLX 9.0 Pro Race é uma boa opção, com o seu quadro em alumínio, travões de disco hidráulicos, rodas em carbono Reynolds Assault, transmissão Sram Force 1x11 e espigão VCLS que dissipa as vibrações do terreno. Estamos a testá-la na nossa revista Ciclismo a fundo que estará nas S bancas em meados de Dezembro, portanto fica atento ao nosso veredito e ÕE T descobre todas as potencialidades desta máquina. ES UG S S SA S bikemagazine 31 NO S A


METEOROLOGIA Um betetista que se preze está sempre atento ao boletim meteorológico. Dois sites que recomendamos são o windguru. cz e o meteoblue.com, mas existem muitas outras opções. Pluviosidade, humidade do ar, cobertura de nuvens, temperatura e vento (com respetiva velocidade e direção) são fatores que podes ter em conta na hora de sair para o mato, tanto na escolha dos dias, horas, roupa ou do percurso. Estes sites oferecem dados sobre o tempo a cada hora, por isso podes antecipar ou atrasar a partida de acordo com aquilo que mais te convém. Num dia de sol depois de uma chuvada, os caminhos mais descampados podem secar melhor, e isto pode ditar a tua escolha para o percurso. A temperatura, exposição solar e o grau de humidade também ajudam a perceber quão depressa aquele trilho espetacular cheio de raízes 32

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vai secar para o conseguires descer sem correr risco de vida, ou se aquele estradão em que gostas de rolar a 40km/h vai estar compacto ou enlameado. Em dias ventosos pode não ser boa ideia sair para uma volta rolante em campo aberto, mas se este fenómeno meteorológico for muito forte terás também de estar atento à queda de árvores.

Para além disso, o vento torna a sensação térmica mais baixa, por isso convém escolher roupa adequada. Às vezes um sol radioso pode parecer espetacular a partir da janela, mas um vento forte e frio pode tornar-se massacrante. Por outro lado, um dia de temperatura mais amena, chuvoso mas sem vento pode revelar-se épico, por isso às vezes a escolha não é óbvia.


LUZES As luzes servem para veres e ser visto. Se as tuas voltas noturnas incluem troços de asfalto, faz questão de te munir de uma boa luz traseira, de cor vermelha como manda a lei. As opções são inúmeras, com diversas potências e lá está, quanto mais melhor! Complementadas com as devidas roupas refletoras, podem salvar-te a vida, portanto não poupes neste aspeto. Para a dianteira, a potência mínima das luzes para BTT deverá rondar os 1500 lumens, de preferência debitados por um foco instalado no capacete. Com uma luz destas já podes percorrer singletracks técnicos a uma velocidade moderada. Menos que isto vais sentir-te limitado, o que não quer dizer que não desfrutes das pedaladas. Uns 500 lumens de potência são suficientes se apenas necessitares de iluminação no regresso a casa por asfalto. Carrega sempre a bateria no dia da volta e afere a autonomia real, pois muitas vezes as marcas inflacionam a duração do foco. Delineia a tua volta em função do tempo de luz disponível e opta por rotas que já conheces. Também não vale a pena tentar bater tempos do Strava à noite. Mesmo a subir, a visibilidade mais baixa reduz a perceção e a velocidade e não convém andar exausto. À noite há que pedalar com atenção redobrada e se fores fazer BTT a sério, aquele com singletracks e subidas técnicas, não vale a pena tentar ir tão depressa como de dia, e o mesmo se passa na estrada. Desfruta da noite sem pressas e guarda os treinos para o rolo!

Luzes

OZONE USB OZ-300 e OZ-1312 52 € (OZ-300) e 99 € (OZ1312) www.ozone-cycling.com

No Inverno os dias ficam mais pequenos. Por isso, ter um set de luzes pode ser a salvação entre uma volta em segurança ou não. A luz Ozone USB OZ-300 tem 300 lumens e possui uma bateria de 3.7V (com 900mAh). Tem três níveis de luminosidade que influenciam a autónima: o nível 1 dura 100 minutos, o nível 2 aguenta 180 minutos e o nível 3 chega aos 480 minutos. O kit vem de origem com uma bolsa de transporte, suporte para o capacete, cabo USB para carregamento e quatro lentes de substituição. Por sua vez, a luz OZ-1312 tem 1000 lumens de potência, tendo o Led 50.000 horas de duração. Tem três S modos de funcionamento e é fabricada em alumínio. Traz de origem uma bolsa ÕE T de transporte, bateria, acessório para capacete, dois o-rings e carregador. ES UG S S SA S bikemagazine 33 NO S A


CONDUÇÃO Em muitos trilhos em Portugal, no verão as partes de terra e areia são mais escorregadias e as raízes e pedras têm mais tração, por isso é possível travar em cima destas últimas. Já no inverno, esta situação inverte-se. No inverno as chuvas tornam a maior parte dos trilhos onde pedalamos mais escorregadios (à exceção das zonas muitos secas, em que a terra e a areia se tornam mais compactas e aderentes) por isso há que conduzir a bicicleta de maneira diferente. Se tens pela frente uma secção escorregadia, tenta travar antes e passar a rolar sobre os obstáculos mais instáveis. Se tiveres de usar os travões, dá preferência ao traseiro. Lembra-te de que os pneus escorregam menos se estiverem a rolar, quando a roda bloqueia há mais probabilidades de perda de tração. Deverás escolher linhas que tenham mais terra do que pedras

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e raízes e se te deparares com uma ponte de madeira (há muitos trilhos com essas obras de engenharia) lembra-te de abrandar antes de entrares, para quando as rodas tocarem na superfície escorregadia não teres de travar muito. Se as pedras apresentam uma cor esverdeada, o melhor é teres cuidado, este verde costuma ser extremamente escorregadio. Em descidas muito lamacentas, terás muitas vezes de adotar uma postura de emergência: corpo para trás, pouca travagem à frente e até o pé que costumas levar atrás fora dos pedais. Não é o ideal, mas vale mais do que cair… A subir zonas escorregadias usa mudanças leves e mantém uma pedalada regular, mantendo o peso na traseira. Tal como a subir, a direito aproveita as zonas com tração (normalmente terra e areia compacta) para acelerar, rolando ou pedalando com menos intensidade sobre as superfícies com menos

aderência. Lembra-te de que uma queda a subir pode ser tão dolorosa como uma descer, por isso pedala com atenção e dentro dos teus limites. Em zonas muito lamacentas, pode ser mais eficaz subir a pé. Assim, a lama acumula-se apenas nos sapatos em vez de se enrolar pelos pneus e acumular-se pela transmissão e escoras da bicicleta. Como já mencionámos antes, podes baixar um pouco a pressão dos pneus, para se moldarem melhor às irregularidades do terreno. Evita passar uma zona arenosa depois de rolares através de água: a areia acumula-se na transmissão, provocando danos a longo ou mesmo curto prazo. Quando te deparas com uma poça grande ou um ribeiro não muito fundo, privilegia a aceleração antes


de entrares na água, mas se não souberes a profundidade ou a água for turva não arisques, mais vale sondar primeiro. Muitas vezes, o caminho de menor resistência é a água. Perante uma poça, é muitas vezes melhor passar mesmo pelo meio, onde a lama está mais líquida e previsível, do que passar nas zonas mais barrentas das margens, mais escorregadias e pegajosas. Nos dias em que está tão frio que a humidade do solo congela, podes contar com grande aderência, pois os pequenos cristais de gelo formam uma fina cama que ao ser quebrada pelas rodas se torna como lixa. Este fenómeno não é muito frequente, mas alguns

betetistas do Norte têm este privilégio de vez em quando. Mas cuidado com as placas de gelo. São extremamente escorregadias e se cobrirem uma poça, ao quebrarem, podem fazer-te dar um banho forçado, e dos frios! A neve fresca e pouco profunda também é uma superfície espetacular para se pedalar, mas à medida que acama torna-se demasiado escorregadia e mais vale evitá-la. Alguns riders de Downhill e Enduro optam por usar pedais de plataforma quando os trilhos estão molhados. Para além de não ser preciso lidar com encaixes cheios de lama que não funcionam, podem tirar o pé mais rápido em caso de imprevistos. Vais perder aquela

estabilidade e rendimento que os pedais de encaixe proporcionam, mas em casos extremos pode ser a melhor solução, como já foi provado por alguns atletas do circuito mundial. As curvas são, em regra, o calcanhar de Aquiles dos betetistas quando o piso está molhado. Joga pelo seguro: analisa a trajetória, vê o que tens pela frente e adota uma condução preventiva entrando na curva com uma velocidade controlada. Aproveita! O inverno muda a paisagem, os trilhos ficam diferentes e nem sempre para pior. Aliás, na BIKE Magazine temos um ditado: (o trilho) está molhado? Trilho abençoado!

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