contos - em setembro

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Picasso

 Bruna Gonçalves – n.º 3  Sofia Sousa – n.º 4  Duarte Lima – n.º 7  Filipa Rivera – n.º 8  Laura Carreira – n.º 11  Raquel Silveira – n.º 16  Sara Martins – n.º 20


O Lago Mistério

Em um lugar distante havia um homem chamado Bartolomeu, nas redondezas de sua casa havia apenas uma antena que obtinha sinal para ver os seus programas de televisão após um árduo dia de trabalho. Homem solitário e trabalhador procurava

refúgio para a sua

tristeza. Todos os dias, ao amanhecer, ía até a um lago próximo e, silencioso, ficava, por uns instantes, a observar a natureza. Um certo dia, já anoitecendo, Bartolomeu

ouviu um barulho

estranho, diferente. Saiu de casa e foi à procura do local de onde lhe parecia ter vindo aquele som. Um pouco desorientado já, a andar em vagos passos lentos, quando

sentiu uma mão tocar-lhe. Uma doce

mão macia. Lentamente, como se já esperasse o que ia encontrar, virou-se e viu-a com os seus próprios olhos. Uma jovem mulher negra, que, pegando-lhe na mão, o foi levando até ao lago onde Bartolomeu costumava ir.

A jovem foi caminhando, e, sem parar

começou a entrar no lago, levando com ela Bartolomeu. Passaram anos e anos e Bartolomeu nunca mais voltou. O seu amigo de trabalho foi procurá-lo, mas apenas viu, numa letra perfeita, muito bem desenhada, o bilhete que dizia: - E por fim, ele encontrou a janela certa da felicidade.

Bruna – n.º 3


Cheila

A primeira vez que reparei nela, jamais diria que aquela criança influenciaria a minha vida. Era pequena e de pele branca, o cabelo arruivado caia-lhe sob a cara. Parecia extremamente frágil e inocente. - Como te chamas? - perguntei-lhe, mas não obtive resposta. Apenas desviou o cabelo da cara com um gesto brusco, notei que os seus olhos cinzentos me olhavam friamente como se me quisesse magoar ou fazer mal. Estava sentada no corredor, num banco castanho comprido a baloiçar os pés que ficavam a alguns centímetros do chão. A sua roupa estava suja e, ela própria, parecia não se lavar há algum tempo. Apressada, dirigi-me para a sala onde ia dar a minha primeira aula, tinha-me formado há pouco tempo, era uma nova vida a começar para mim, sentia-me muito ansiosa e não pensei mais na miúda. Pouco

depois

de

entrar

na

sala,

ainda

nem

me

havia

apresentado, quando Maria entrou. Maria era uma adolescente com cerca de quinze anos, não mais, alta e esguia, com um sorriso ternurento. Pediu desculpa pelo

atraso e disse-me que havia uma

criança do outro lado da porta e que afirmara estar à minha espera. Intrigada, dirigi-me, de imediato à porta. A pequenina, logo que me viu, esboçou um sorriso e ergueu timidamente os olhos. Observei-a, agora mais de perto. Como estava imunda! Sorri-lhe, encaminhei-a para dentro da sala de aula, sentou-se junto das outras crianças ... Sofia Sousa – n.º 4


A Vida de Alan

Vamos supor que eu conheço uma pessoa, e é dessa pessoa (da vida dessa pessoa, para ser mais específico), que nasce este conto. Esta pessoa pode existir ou não, deixo isso ao vosso critério mas digo-vos que se chama Alan. Podem tentar descobrir a pessoa, mas é possível que tenha dado um nome falso. Alan é americano, e, desde muito novo, teve uma educação muito estrita, por exemplo, sempre lhe ensinaram coisas como: os partidos políticos de direita são sempre os melhores, e ensinaram-lhe teorias homofóbicas e racistas. O rapaz sempre tomou atenção a este tipo de coisas, porque queria que a bandeira do seu pais brilhasse para todo o sempre. Embora, não fosse o rapaz mais giro (nem o mais feio), Alan era extremamente inteligente. Sempre tirou grandes notas na escola, principalmente a ciências, e quando cresceu tirou o curso de psicologia. Apesar de ser um tipo socialmente estranho (pois vivia e preocupava-se com as coisas que lhe interessavam, e uma delas era psicologia), ele sempre teve muito sucesso e com esse sucesso comprou uma casa cara. Ele estava feliz, feliz na sua maneira de ser feliz. Um dia, uma estrangeira está nos EUA a estudar uns anos no mesmo departamento do Alan, e, visto que trabalhavam juntos, ela começou a falar com ele, e depois disso começaram a andar juntos, ano após ano. Alan estava REALMENTE feliz.


Certa vez, ela diz que tem de voltar para o seu pais e Alan decide ir com ela, visto que era a única verdadeira amiga. Alan muda-se para o pais dela (apesar de não saber patavina da língua) abandonando os seus pais, família, “amigos” e inimigos. Ele trabalhou no mesmo departamento e no mesmo que sítio que ela. Ele pediu-a em casamento pela segunda vez. Casam-se. Infelizmente, não conseguem ter filhos, então compram um gato (Alan estava contra a adopção). Após 17 anos de casamento, separam-se: ela já não o conseguia ver à frente. Alan está de rastos, porque ainda a ama, mas assina os papeis porque não a quer ver infeliz. No mesmo dia que assina os papeis descobre que os seus pais morreram num acidente de avião há 7 meses atrás ( a ligação entre eles havia-se quebrado quando Alan os abandonou sem dizer nada; os pais, de tão magoados, nem o consideravam seu filho). Alan fica deprimido. Um dia, a sua ex-mulher volta do Canadá (país que Alan odiava), casada com um canadiano preto (como

Alan era racista a

notícia desta união ainda lhe desagradou mais). Por outro lado, a rapidez do casamento também o deixou

furioso, visto que eles

andaram 3 anos juntos e ela só o aceitou após a segunda tentativa. Alan passou a sentir-se muito mal no trabalho porque ela, com o canadiano,

teve exactamente o mesmo procedimento: trouxe-o

para o seu país para trabalhar com ela. Como ele odiava vê-los juntos! Alan ganhava muito menos do que no seu pais natal, vivia numa casa má, e todos os dias, ao deitar, sono difícil de conciliar, percebia que se tivesse ficado nos EUA teria maior sucesso, teria passado mais tempo com os seus pais e, se calhar, teria uma vida melhor.


Esforçou-se ainda mais para obter uma promoção. Queria mudar de departamento porque, já no seu limite, não suportava vêlos mais . E conseguiu, o canadiano. Final da história: Alan trabalha com a sua ex-mulher, por quem ainda está apaixonado e o seu patrão está casado com a sua exmulher. Ele pensa todos os dia em voltar para os EUA

A vida é aquilo que tu fazes dela. Torna-se mais difícil com as diferentes

escolhas

que

fazes:

pode

ser

melhor

ou

pior

consequentemente as tua escolhas. Tu fazes a tua vida. E é isso o que é a vida. Duarte Lima – n.º 7


Para Além Disso

Um rectângulo pequeno de papel aterra-lhe nas mãos. Que utilidade lhe dar? Terá sequer alguma utilidade? O indicador e o polegar começam a movimentar-se criando um rolo pequeno com o pedaço de papel. É-nos permitido vê-lo, inconsciente dentro do seu mundo, a criar aquela insignificância pois está a falar com as pessoas que a rodeiam. Num espaço de “milímetro” de segundo um clique élhe criado no seu vasto cosmos de neurónios e agora deparamo-nos com ele a estudar o minúsculo rolo que se formou com os seus dedos. Agora encontra-se longe do mundo real. Vê-se na expressão da sua cara que está com imenso prazer a brincar com o papel, levando-o ao nível do olho esquerdo e fechando o direito. Transformou-o na sua lente que o transporta para a realidade. Observa um homem, ao longe, que está sentado; a figura dele encaixa-se perfeitamente dentro do círculo de papel. Estuda-o como se fosse a coisa mais importante do mundo e nesse momento era-o. Mas como há sempre uma luz que se faz na cabeça humana deixou de olhar simplesmente pelo pequeno buraco e viu o que havia à sua volta. Olhou para a mão, com os dois dedos que seguravam o papel,

transformando

o

homem

numa

imagem

secundária

e

desfocada e, passou a observar as pessoas que estavam fora desse círculo e que também eram parte do mundo real. Estando ele tão habituado a ver só o que lhe estava à frente, foi uma surpresa ver que há mais para além disso, que há um mundo a movimentar-se fora da sua zona de conforto. Ele agora olha com olhos de ver tudo. Filipa Croce Rivera – n.º 8


No dia em que ia abrir a porta

Ele tudo via dali, nada mais podia desejar ver. Sentava-se e limitava-se a olhar. Já não lhe fazia diferença o incómodo das horas que passavam, o desconforto da cadeira ou a constante imagem estática que surgia daquele quadrado transparente da parede. Estava habituado. Tinha 18 anos na altura e fazia 18 anos que naquela cadeira se tinha sentado, para, durante 18 anos, nunca mais se levantar. Assistia a vidas que passavam, cumprimentando-o por vezes. Era conhecido por apenas ser visto através da janela e muitos se empoleiravam nela tentando de alguma forma chamar a atenção ou apenas acenar. No fundo queriam mudar-lhe a vida, queriam ter o privilégio de ser a razão para que ele caminhasse até à porta e tocasse no que via pela janela. Incompreendido, ele continua a olhar, recusando-se porém a ver. Ousava tentar não ser visto e apenas olhar. Naquela cidade, onde as pessoas eram chatas (como sempre são), onde as ruas eram sujas (como sempre são) e onde já tudo era adivinhado (como sempre é), ele continuava a crescer, enquanto a cidade pequena mais pequena ia ficando. O senhor da moradia da frente, o mais comum "acenador" mudara-se; a pequena padaria já apenas anunciava o aluguer e os caixotes de lixo já vomitavam o que não conseguiam engolir.


Diz-se que ele se assustou com a ausência de vida a passar e a certo dia se levantou da cadeira e começou a caminhar. Caminhava em direcção à porta e parecia finalmente que ia sair, quando parou. Esperou alguns momentos, deu uns passos para trás, voltou-se e sentou-se na cadeira.

Laura Carreira – n.º 11


Sem título

Estava um menino de cabelos dourados e pele branca como a de um anjo a olhar para a janela. Era uma janela pequena, mas parecia que o vasto tamanho do céu a fazia maior. O Menino todos os dias olhava para o céu estrelado, e cantava com a sua voz angelical e gloriosa. Parecia que o seu cântico o estendia todo de magia e beleza. Mas o menino, dia após dia, ia crescendo, e a sua voz e mentalidade iam amadurecendo, e ele começava a questionar-se sobre as diversas coisas da vida. Uma vez, algo parecia ter interrompido a sua voz angelical e metálica! Durante a noite, ao fundo da rua, o Menino viu

um

assaltante agredindo e roubando um pequeno rapaz. Ao ver que este levava os seus pertences e deixava o rapaz ferido. Rápido, o Menino sai da janela e fecha-a. Tenta falar mas não consegue, parecia que algo lhe pesava e enchia o seu corpo de remorso. Pela primeira vez em anos, ele olhou para as suas mãos que estavam suadas e quentes. Em seguida, olha-se para o espelho assustado e faz uma expressão de extremo ódio e rancor. Parecia que aquele assalto tinha manchado toda a beleza do céu que se via através da janela. Então o menino sai de casa a correr e ajuda o rapaz que tinha sido assaltado. Pergunta-lhe para onde tinha ido o assaltante e corre rapidamente procurando-o.


Encontra-o ao virar de uma esquina, numa rua escura. Agarra-o pelo pescoço e aperta-o fortemente. O assaltante, confuso, dá-lhe uma golpe na barriga. O Menino hesita, mas recupera e aperta com mais força até que o assaltante cai desmaiado no chão. O Menino, então,

tira-lhe os pertences do rapaz e devolve-lhos. O

rapaz, ajoelhado no chão, olha para o Menino. A intensa luz da lua que se reflectia nos cabelos dourados do Menino fazia parecer que ele era um anjo, e que a sua face brilhava. Nessa noite, mesmo na ausência da janela, jamais o céu havia parecido tão lindo para o rapaz.

Raquel Silveira – nº 16


Estela Cadente

Estava eu comprometida a olhar pela janela, numa noite bem estrelada, quando me apercebi que estava um pai com o seu filho a passear no fundo da rua. Não era uma família normal, pelo menos aos meus olhos, era uma relação bem diferente! O filho guiava o pai, quando normalmente são os pais que acompanham o crescimento dos mais novinhos. Era um menino bem pequenino, mas rapidamente me apercebi que no coração daquele pai deveria ser bem maior do que o céu. Aquela criança, que mal acabara ainda de conhecer tudo o que este mundo tinha para lhe dar, tudo o que ainda tinha para aproveitar, estava, agora, a guiar o seu pai que deixara de ver, senão somente a noite, com uma estrela a brilhar dentro dele – o seu filho! Andavam devagarinho, bem devagarinho… mas,

quanto mais

se aproximavam, mais eu crescia, em paralelo com a noite, que se ia expandindo. Tudo graças àquela humilde família. Já estavam perto, bem perto… a uma distância razoável para os conseguir ouvir suficientemente bem. - Como esta noite está magnífica, pai! - Não a consigo ver, mas fico feliz por o sentires, tal como eu. - Consegues, sim! Está bem escuro, mal se vê alguma coisa, mas o céu está repleto de pontinhos brancos, e esses tu consegues sonhá-los bem!


- Agora sim, meu filho, já a consigo imaginar, mas para mim a noite já era suficientemente agradável só por te ter aqui a meu lado. - Sabes, pai, esta noite, este céu…somos nós os dois! - Como assim, meu filho? - Tu és como uma estrela cadente, que acabou de passar! És a estrela mais bonita que por aqui passou, e eu sou a tua cauda que te segue! Sou teu filho e cresço à medida que tu cresces também comigo! - És tão querido, meu filho! Nem imaginas como te admiro! - Sei sim, pai! Tu admiras-me, porque, ao veres-me crescer, olhas para trás e vês uma marca tua, eu! Mas eu também te admiro muito, sabes porquê? - Porquê, meu filho? - Porque eu sou somente um traço teu, apesar de para ti ser magnifico, ao olhar este céu, percebo que sou insignificante, porque tu deste-me o melhor que a vida tem, esta viagem ao mundo. Ao teres-me trazido aqui mostraste-me todas estas estrelas, ao olhar para elas percebo que tenho tanto para ver e para crescer! Tu mostraste-me toda esta beleza, eu somente te fiz brilhar por instantes! Com aquela conversa, cresci tanto, foi inexplicável o quanto me expandi, como se fosse uma estrela… bem dentro de mim

Naquela noite, compreendi

que a vida tem muito mais para me mostrar,

que tenho ainda uma imensa viagem a realizar!

Sara Martins – n.º 20


11.º ano – Turma N António Arroio Setembro 2010


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