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Escola Artística António Arroio Disciplina: Língua Portuguesa Ana Coelho nº2 10ºE Ano Lectivo: 2012/2013 Professora Eli

Poesia Silente


Indice: Introdução “Porque” “Meditação” “Vegetal e só” “Não posso adiar o amor” “Mãe” Ilustração “Há palavras que nos beijam” “Um homem de veludo” “O fim da noite” “Poema de amor” “Soneto do amor e da morte” Explicação da ilustração Conclusão Sitografia Anexos

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Introdução No âmbito da disciplina de Lingua Portuguesa, foi proposta à turma a realização de um trabalho que consistia em recolher dez poemas de poetas portugueses (de expressão portuguesa) contemporâneos e ilustrar um deles. Foquei-me em poemas relacionados com o amor e com a morte. Escolhi como tema o amor uma vez que é um sentimento muito intimo e os poetas que o utilizam são muito expressivos ao abordá-lo, “O amor é a invenção de tudo, uma originalidade inesgotável. Fundamentalmente, uma inocência.” Fernando Namora. A morte é uma assunto muito intrigante para mim. É algo que temo, tanto a minha como a dos que me rodeiam, por isso, soube logo de inicio que seria um tema que iria escolher. Neste trabalho encontram-se os seguintes poemas: “Porque”, “Meditação”, “Vegetal e só”, “Não posso adiar o amor”, “Mãe” ( o poema que ilustrei), “Há palavras que nos beijam”, “Um homem de veludo”, “O fim da noite”, “Poema de Amor” e “Soneto do Amor e da Morte”. Coloquei ainda um texto em anexo que achei relevante, e que tem muito significado para mim.


Porque Porque os outros se mascaram mas tu não Porque os outros usam a virtude Para comprar o que não tem perdão Porque os outros têm medo mas tu não Porque os outros são os túmulos caiados Onde germina calada a podridão. Porque os outros se calam mas tu não. Porque os outros se compram e se vendem E os seus gestos dão sempre dividendo. Porque os outros são hábeis mas tu não. Porque os outros vão à sombra dos abrigos E tu vais de mãos dadas com os perigos. Porque os outros calculam mas tu não. Sophia de Mello Breyner Andresen


Meditação Às vezes, quando a noite vem caindo, Tranquilamente, sossegadamente, Encosto-me à janela e vou seguindo A curva melancólica do Poente. Não quero a luz acesa. Na penumbra, Pensa-se mais e pensa-se melhor. A luz magoa os olhos e deslumbra, E eu quero ver em mim, ó meu amor! Para fazer exame de consciência Quero silêncio, paz, recolhimento Pois só assim, durante a tua ausência, Consigo libertar o pensamento. Procuro então aniquilar em mim, A nefasta influência que domina Os meus nervos cansados; mas por fim, Reconheço que amar-te é minha sina. Longe de ti atrevo-me a pensar Nesse estranho rigor que me acorrenta: E tenho a sensação do alto mar, Numa noite selvagem de tormenta. Tens no olhar magias de profeta Que sabe ler no céu, no mar, nas brasas... Adivinhas... Serei a borboleta Que vendo a luz deixa queimar as asas. No entanto — vê lá tu!— Eu não lamento Esta vontade que se impõe à minha... Nem me revolto... cedo ao encantamento... — Escrava que não soube ser Rainha! Fernanda de castro, Antemanhã.


Vegetal e só É outono, desprende-te de mim. Solta-me os cabelos, potros indomáveis sem nenhuma melancolia, sem encontros marcados, sem cartas a responder. Deixa-me o braço direito, o mais ardente dos meus braços, o mais azul, o mais feito para voar. Devolve-me o rosto de um verão sem a febre de tantos lábios, sem nenhum rumor de lágrimas nas pálpebras acesas. Deixa-me só, vegetal e só, correndo como rio de folhas para a noite onde a mais bela aventura se escreve exactamente sem nenhuma letra. Eugénio de Andrade, As palavras interditas.


Não posso adiar o amor Não posso adiar o amor para outro século não posso ainda que o grito sufoque na garganta ainda que o ódio estale e crepite e arda sob as montanhas cinzentas e montanhas cinzentas Não posso adiar este braço que é uma arma de dois gumes amor e ódio Não posso adiar ainda que a noite pese séculos sobre as costas e a aurora indecisa demore não posso adiar para outro século a minha vida nem o meu amor nem o meu grito de libertação Não posso adiar o coração. António Ramos Rosa, Viagem Através de uma Nebulosa.


Mãe Mãe: Que desgraça na vida aconteceu, Que ficaste insensível e gelada? Que todo o teu perfil se endureceu Numa linha severa e desenhada? Como as estátuas, que são gente nossa Cansada de palavras e ternura, Assim tu me pareces no teu leito. Presença cinzelada em pedra dura, que não tem coração dentro do peito. Chamo aos gritos por ti - não me respondes. Beijo-te as mãos e o rosto - sinto frio. Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes Por detrás do terror deste vazio. Mãe: Abre os olhos ao menos, diz que sim! Diz que me vês ainda, que me queres. Que és a eterna mulher entre as mulheres. Que nem a morte te afastou de mim! Miguel torga, Diário IV.


Ilustração:


Há Palavras que Nos Beijam Há palavras que nos beijam Como se tivessem boca. Palavras de amor, de esperança, De imenso amor, de esperança louca. Palavras nuas que beijas Quando a noite perde o rosto; Palavras que se recusam Aos muros do teu desgosto. De repente coloridas Entre palavras sem cor, Esperadas inesperadas Como a poesia ou o amor. (O nome de quem se ama Letra a letra revelado No mármore distraído No papel abandonado) Palavras que nos transportam Aonde a noite é mais forte, Ao silêncio dos amantes Abraçados contra a morte. Alexandre O'Neill, No Reino da Dinamarca.


Um homem de veludo Um homem de veludo atravessa a estrada. Com ele leva a leveza do ser, sustenta-a, com dificuldade. Pára, sucedendo-lhe a brandura, o costume de parar, seguido do ímpeto de continuar. Sorri ao passeio, ao calcário, ao ornamento. O homem de veludo necessita de se encontrar. Regressa à estrada, deita-se cuidadosamente numa faixa branca, criteriosamente escolhida para descansar. O homem de veludo quer descansar. A travessia é amorfa, demorada, silente. Ao deitar-se cruza os braços, fecha os olhos, e sente o cheiro das madeiras. O homem de veludo é agora tolhido de movimento, caem-lhe lágrimas familiares no rosto, e não pode fazer nada. Nuno Travanca


O fim da noite A nossa história é simples: somos neste momento todo o amor na terra e nada mais importa, senão o que sou, verdade em ti, o que és, verdade em mim. Por isso este poema talvez não seja mais que um silêncio pela noite, nem verso, nem prosa, só uma oração ao deus desconhecido. Não é talvez senão o teu olhar, e tua esquiva mágoa, o teu riso e tuas lágrimas. E o apelo dentro de mim ao milagre de nos querermos, com a mágoa e com o riso, - e teu olhar que vê em mim. Não sei pedir, sei só esperar. Mas já houve o milagre. Estava agora comigo ao longo das ruas, que antes eram só casas de pálpebras cerradas. Estava no silêncio, que antes era mortal. E tu, sem eu saber, estavas comigo. E sem eu saber de súbito na treva buliram asas e sem eu saber era já dia. Adolfo Casais Monteiro, Poesias Completas.


Poema de Amor Se te pedirem, amor, se te pedirem que contes a velha história da nau que partiu e se perdeu, não contes, amor, não contes que o mar és tu e a nau sou eu. E se pedirem, amor, e se pedirem que contes a velha fábula do lobo que matou o cordeiro e lhe roeu as entranhas, não contes, amor, não contes que o lobo é a minha carne e o cordeiro a minha estrela que sempre tu conheceste e te guiou — mal ou bem. Depois, sabes, estou enjoado desta farsa. Histórias, fábulas, amores tudo me corre os ouvidos a fugir. Sou o guerreiro sem forças para erguer a sua espada, sou o piloto do barco que a tempestade afundou. Não contes, amor, não contes que eu tenho a alma sem luz. ...Quero-me só, a sofrer e arrastar a minha cruz. Fernando Namora, Relevos.


Soneto do Amor e da Morte Quando eu morrer murmura esta canção que escrevo para ti. quando eu morrer fica junto de mim, não queiras ver as aves pardas do anoitecer a revoar na minha solidão. quando eu morrer segura a minha mão, põe os olhos nos meus se puder ser, se inda neles a luz esmorecer, e diz do nosso amor como se não tivesse de acabar, sempre a doer, sempre a doer de tanta perfeição que ao deixar de bater-me o coração fique por nós o teu inda a bater, quando eu morrer segura a minha mão. Vasco Graça Moura, Antologia dos Sessenta Anos.


Expliacação da ilustração: Na minha ilustração do poema “Mãe” de Miguel Torga, desenhei uma moldura com uma figura feminina. Coloquei a imagem desta mulher ( que assume o papel de mãe do eu lírico) emoldurada. Desta forma ascossia-se mais facilmente às memórias e às recordações. No vidro fiz uma fenda para demonstrar que aquela pessoa já não está presente, e que com esse acontecimento muita tristeza surgiu. Nesta ilustração utilizaei em grande maioria o preto, o branco e o cinzento, pintando com cores mais vivas apenas os olhos e a rosa. A rosa, porque tem a cor do amor, e é uma flor que associo ao luto. Os olhos, porque são “o espelho da alma”, e guardam muitas memórias neles.


Conclusão: Após a realização deste trabalho, julgo que fiquei a perceber muito melhor o propósito da poesia. Esta é uma forma de expressão, um conjunto de sentimentos. Fiquei contente com a minha seleção e com os temas que escolhi, no entanto, senti a necessidade de colocar um anexo. Trata-se de um texto escrito por uma senhora que luta diariamente para dar os melhores cuidados possiveis ao seu filho deficiente. Esta tem vindo a escrever desde o nascimento da criança, de modo a poder expressar os seus sentimentos. Para mim, as suas palavras são uma verdadeira prova de amor e devo confessar até que ainda não o consegui ler uma única vez sem chorar, talvez por conhecer as pessoas em questão. Do que mais gostei na realização deste trabalho foi ter tido a oportunidade de conhecer mais poetas portugueses e repetivos trabalhos. Gosto de ler, no entanto não é um hábito meu, assim acabei por estar a fazer um trabalho e por a minha leitura em dia. Intitulei o meu trabalho de “Poesia Silente”, visto que a poesia deve ser lida em silêncio, para que o leitor possa compreender bem as mensagens dos poemas e os verdadeiros significados de alguns versos escondidos do leitor desatento. Ao longo da realização deste trabalho, o meu maior obstáculo foi encontrar os dez poemas, pois para mim não basta que o poema se relacione com os temas que escolhi, mas sim que me “diga ou me faça sentir” alguma coisa de diferente. No geral, considero o meu trabalho bom. Justifiquei bem a minha escolha de temas, empenhei-me e mantive um trebalho com uma estrutura limpa de modo a que a anteção fosse para o seu conteudo em si.


Sitografia:  “Porque”: http://www.astormentas.com/andresen.htm

 “Meditação”: http://poemas-poestas.blogspot.pt/search/label/Fernanda%20de%20Castro%20-%20Poemas 

“Vegetal e só”:

http://saldalingua.wordpress.com/category/poesia/as-palavras-interditas-1951/

 “Não posso adiar o amor”: http://www.astormentas.com/ramosrosa.htm

 “Mãe”: http://www.astormentas.com/PT/poema/2174/M%C3%A3e

 “Há palavras que nos beijam”: http://www.citador.pt/poemas/ha-palavras-que-nos-beijam-alexandre-oneill

 “Um homem de veludo”: http://poesiaseprosas.no.sapo.pt/nuno_travanca/poetas_nunotravanca_umhomemde01.htm 

“O fim da noite”:

http://ler-e-escrever.blogspot.pt/2008/04/disponibilidade-e-outros-poemas-de.html

 “Poema de Amor”: http://geopedrados.blogspot.pt/2009/01/poesia-de-fernando-namora.html

 “Soneto do Amor e da Morte”: http://olhaioliriodocampo.blogspot.pt/2008/11/soneto-do-amor-e-da-morte.html


Anexo: “Mãe, Durante longos meses esperaste pela minha chegada. Nos teus sonhos imaginaste como seria o teu primeiro filho. Nos teus pensamentos já me acompanhas até à escola, à universidade, ao altar. No que eu me iria tornar? Uma honra para os meus? Mas Deus tinha outros planos para mim… Existe algo que não funciona na minha cabeça. Serei para sempre o filho de Deus. Não posso falar, mas faço-me compreender e compreendo a ternura, o calor, o afeto, o amor. Às vezes rio, às vezes choro… Sou feliz! Gosto de toda a gente e algumas pessoas gostam de mim. O que posso pedir mais? Claro, nunca irei para a universidade, nunca me casarei. Mas não fiques triste! Deus fez-me especial… Não posso fazer mal a ninguém, apenas posso amar. Sei que és meiga e carinhosa, Mas no mundo nunca serei ninguém… Posso então prometer-te algo que pouca gente pode… Como apenas conheço o amor, a bondade, a inocência: A eternidade pertence-nos! E sabes? Talvez Deus precise de pessoas como eu, que só sabem amar…

Ricardo.” Cláudia Dores


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