Poesia_H_6

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ODE AO MAR

Dez Poemas Dez Poetas Portugueses Contemporâneos

Trabalho realizado no âmbito de Língua Portuguesa Lecionado pela professora Elisabete Miguel

Diogo Miguel n.º6 10.ºH Janeiro 2013


Índice

1. Introdução ……………………………………………………………………… 3 2. Poemas 2.1 “Mar português” de Fernando Pessoa ………………………………… 4 2.2 “Passei o dia ouvindo o que o mar dizia” de António Botto ………… 5 2.3 “Mar!” de Miguel Torga ………………………………………………….. 6 2.4 “Fundo do mar” de Sophia de Mello Breyner Andresen ……….……. 7 2.5 “A rosa e o mar” de Eugénio de Andrade ……………………..……… 8 2.6 “O Mar” de António Ramos Rosa ……………………………………… 9 2.7 “Este Mar” de José Bento ……………………………………………… 10 2.8 “Viver na beira-mar” de Fiama Hasse Pais Brandão …………….…. 12 2.9 “O castelo de areia” de Luísa Ducla Soares ……………………….… 13 2.10 “Oceano” de Nuno Júdice …………………………………...…….… 14 3. Ilustração do poema “Mar português” de Fernando Pessoa ……….…… 15 4. Explicação da ilustração do poema “Mar português” de Fernando Pessoa ………………………………………………….….…. 16 5. Conclusão …………………………………………………………………….. 17 6. Bibliografia e Webgrafia ……………………………………………………. 18

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1. Introdução

Este trabalho, proposto na aula de Língua Portuguesa, tem como objetivo a recolha de dez poemas de dez autores contemporâneos. Na recolha dos poemas optei por fazer uma antologia, sendo o Mar o tema de referência, pois é uma temática que me fascina pelos muitos mistérios que nele existem e que sempre fizeram parte do meu imaginário, pela sua “força indomável” e beleza em constante modificação e a sua ligação com o povo luso, que tão marcante foi na nossa história. “Ode ao Mar” é então uma homenagem ao mar do ponto de vista de cada poeta português que eu selecionei. Devido à liberdade oferecida pela professora quanto à apresentação do trabalho, decidi colocar o “B.I” de cada poeta português (nome, data e local de nascimento e, sendo o caso, de falecimento). Recolhi a maioria dos poemas na internet, “citador” e blogs que encontrei, e num livro de poesia, “Pedro, lembrando Inês”. Tal como sugerido, selecionei um dos poemas e ilustrei-o. O poema escolhido foi o “Mar Português” de Fernando Pessoa. Espero que goste da minha seleção de poemas e ilustração.

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2. Poemas 2.1 “Mar português” de Fernando Pessoa

Fernando Pessoa Lisboa, 13 de junho de 1888 – Lisboa, 30 de novembro de 1935

MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.

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2.2 “Passei o dia ouvindo o que o mar dizia” de António Botto

António Botto Concavada, Abrantes, 17 de agosto de 1897 – Rio de Janeiro, 16 de março de 1959

PASSEI O DIA OUVINDO O QUE O MAR DIZIA

Eu ontem passei o dia

Ele afastou-se calado;

Ouvindo o que o mar dizia. Eu afastei-me mais triste, Chorámos, rimos, cantámos.

Mais doente, mais cansado...

Falou-me do seu destino, Do seu fado...

Ao longe o Sol na agonia De roxo as águas tingia.

Depois, para se alegrar, Ergueu-se, e bailando, e rindo, Pôs-se a cantar Um canto molhado e lindo.

«Voz do mar, misteriosa; Voz do amor e da verdade! - Ó voz moribunda e doce Da minha grande Saudade!

O seu hálito perfuma, E o seu perfume faz mal!

Voz amarga de quem fica, Trémula voz de quem parte...» ................

Deserto de águas sem fim. E os poetas a cantar Ó sepultura da minha raça

São echos da voz do mar!

Quando me guardas a mim? ...

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2.3 “Mar!” de Miguel Torga

Miguel Torga (pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha) São Martinho de Anta, 12 de agosto de 1907 – Coimbra, 17 de janeiro de 1995

MAR!

Mar! Tinhas um nome que ninguém temia: Era um campo macio de lavrar Ou qualquer sugestão que apetecia... Mar! Tinhas um choro de quem sofre tanto Que não pode calar-se, nem gritar, Nem aumentar nem sufocar o pranto...

Mar! Enganosa sereia rouca e triste! Foste tu quem nos veio namorar, E foste tu depois que nos traíste! Mar! E quando terá fim o sofrimento! E quando deixará de nos tentar O teu encantamento!

Mar! Fomos então a ti cheios de amor! E o fingido lameiro, a soluçar, Afogava o arado e o lavrador!

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2.4 “Fundo do mar” de Sophia de Mello Breyner Andresen

Sophia de Mello Breyner Andresen Porto, 9 de novembro de 1919 – Lisboa, 2 de junho de 2004

FUNDO DO MAR

No fundo do mar há brancos pavores, Onde as plantas são animais E os animais são flores. Mundo silencioso que não atinge A agitação das ondas. Abrem-se rindo conchas redondas, Baloiça o cavalo-marinho. Um polvo avança No desalinho Dos seus mil braços, Uma flor dança, Sem ruído vibram os espaços. Sobre a areia o tempo poisa Leve como um lenço. Mas por mais bela que seja cada coisa Tem um monstro em si suspenso.

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2.5 “A rosa e o mar” de Eugénio de Andrade

Eugénio de Andrade (pseudónimo de José Fontinhas) Póvoa de Atalaia, 19 de janeiro de 1923 – Porto, 13 de junho de 2005

A ROSA E O MAR

Eu gostaria ainda de falar da rosa brava e do mar. A rosa é tão delicada, o mar tão impetuoso, que não sei como os juntar e convidar para um chá na casa breve do poema. O melhor é não falar: sorrir-lhes só da janela.

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2.5 “O mar” de António Ramos Rosa

António Ramos Rosa Faro, 17 de outubro de 1924

O MAR

Ondas que descansam no seu gesto nupcial abrem-se caem amorosamente sobre os próprios lábios e a areia ancas verdes violetas na violência viva rumor do ilimite na gravidez da água sussurros gritos minerais inércia magnífica volúpia de agonia movimentos de amor morte em cada onda sublevação inaugural abre-se o corpo que ama na consciência nua e o corpo é o instante nunca mais e sempre ó seios e nuvens que na areia se despenham ó vento anterior ao vento ó cabeças espumosas ó silêncio sobre o estrépito de amorosas explosões ó eternidade do mar ensimesmado unânime em amor e desamor de anónimos amplexos múltiplo e uno nas suas baixelas cintilantes ó mar ó presença ondulada do infinito ó retorno incessante da paixão frigidíssima ó violenta indolência sempre longínqua sempre ausente ó catedral profunda que desmoronando-se permanece!

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2.6 “Este Mar” de José Bento

José Bento Pardilhó, Estarreja, 17 de novembro de 1932

ESTE MAR

Este mar me detém, mas nunca saberei quem desvaneceu a escrita aqui abandonada num desígnio antiquíssimo: as pegadas tenras das gaivotas, folhas tranquilas a denunciar os ramos adejantes que copiam a espuma Escrevo gaivotas , simplifico: acaso estes signos sejam também de alcatrazes, alciões: mas ao soletrar o seu ditado errante decifro mensagens num livro tão precário que a brisa o arrebata. Isso não importaria: eu iria olhando no chão o negativo de meus pés, nada teria para o comparar, prosseguiria. Até onde? Prosseguiria sempre: jamais findam as praias, nem quando a luz se rende. Assim, terei de retornar ao poema: nomear o desconhecido, reconstituir no mineral ou na face que o tempo feriu para delir depois a pressão de umas pulsações, de uma cabeça vencida pelo cansaço [ou o desejo. E recomeçar é sangrento se o ímpeto se finca apenas em palavras, em matéria que não se possui. As palavras nunca podem guardar-se; quando poupadas, decompõem-se na sua própria usura.

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Há que procurar o texto alado: rente às algas exaustas, sob a turquesa estilhaçada que neva e tumultua, iremos desvendá-lo. Sem um indício? Uma cor, um odor vão conduzir-nos: os que no azebre de um rosto em nós sepulto distanciam as feições do interior de onde despontam, como o verbo se corrompe desde que as sílabas se juntam e ameaçam: os sinais que gravamos propõem uma totalidade até que uns olhos neles se jogam e os afastam do sangue de onde nascem. Esse é o exemplo das asas: lassas, arqueiam-se suplicando o sol, rasam a areia, prolongam a nervura das pegadas, enfunam-se num arrepio inverniço - prenúncio de rajadas e marés e disparam para incendiar-se onde a sombra as não humilhe. Recomeço, pois. Como recuperar o início? os cirros como lanhos veementes a exaurir as tardes? os areais rebeldes aos barcos, a expulsar o seu domínio? Onde os dias a transbordar de conchas cálidas? Estou aqui e é evidente que a ausência de sinais sobre este chão, estas mãos, esta fronte que não sustenho porque estão em outro lugar numa hora longínqua é a única legenda que me pode ser dada. Só resta transcrevê-la e extingui-la sem a ter compreendido. Pousam estas letras como aves: desconhecem a morte, para elas todo o espaço é este azul e o tempo o momento em que seu vulto avança e é peso a impor um sentido que será denunciado apenas a quem a seguir até à própria consumação: a salsugem, o vento ávido de cumprir-se na sua fuga ao silêncio, as vagas ou o esquecimento indiferentes ao destruir o que ignoram, mesmo se a espuma é no meio-dia um peito em floração e na noite a alva naufragada prestes a cobrir o corpo desejado. 11


2.7 “Viver na beira-mar” de Fiama Hasse Pais Brandão

Fiama Hasse Pais Brandão Lisboa, 15 de agosto de 1938 – Lisboa, 19 de janeiro de 2007

VIVER NA BEIRA-MAR

Nunca o mar foi tão ávido Quanto a minha boca. Era eu Quem o bebia. Quando o mar no horizonte desaparecia e a areia férvida Não tinha fim sob as passadas, e o caos se harmonizava enfim Com a ordem, eu Havia convulsamente E tão serena bebido o mar.

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2.8 “O castelo de areia” de Luísa Ducla Soares

Luísa Ducla Soares

Lisboa, 20 de julho de 1939

O CASTELO DE AREIA

Fiz um castelo de areia Mesmo à beirinha do mar À espera que uma sereia Ali quisesse morar. Ó mar, Ó mar… Mas foi só um caranguejo Que ali me foi visitar. Ó mar, Ó mar… Mas foi só uma gaivota Que ali me foi visitar. E levou o meu castelo, O meu castelo de areia Para no mar morar nele A minha linda sereia.

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2.9 “Oceano” de Nuno Júdice

Nuno Júdice Mexilhoeira Grande, 29 de abril de 1949

OCEANO

Ventos estáveis, gaivota sobre Os molhes. A rebentação fixa-se No ouvido. O som da água Nas fissuras das rochas, os gritos Que se perdem nas praias.

Barcos ancorados Na floresta

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3. Ilustração do poema “Mar português” de Fernando Pessoa

4.

Aguarelas sobre papel 15


4. Explicação da ilustração do poema “Mar português” de Fernando Pessoa

O poema que eu escolhi foi o “Mar Português”, de Fernando Pessoa. Este poema está relacionado com o tempo dos descobrimentos e das viagens portuguesas por mares desconhecidos. O mar que levava a novos mundos e descobertas era o mesmo que separava famílias, amigos e amantes, “Por te cruzarmos, quantas mães choraram,/Quantos filhos em vão rezaram!/Quantas noivas ficaram por casar/Para que fosses nosso, ó mar!”. Era também o que trazia riqueza e bens, mas por outro lado mortes e naufrágios, “Ó mar salgado, quanto do teu sal/São lágrimas de Portugal!”. Na minha ilustração eu simbolizei a morte dos muitos homens que morreram nos descobrimentos, através do barco que naufragou, do fogo e do fumo criados pelo incêndio. Utilizei cores escuras, como o cinzento, o preto e o azul para simbolizar a tragédia expressa no poema, “Quem quere passar além do Bojador/ Tem que passar além da dor.”. Ao mesmo tempo, utilizei cores claras no horizonte, como o azul e o branco, para simbolizar a esperança na descoberta de novos mundos, “Deus ao mar o perigo e o abismo deu,/Mas nele é que espelhou o céu.” e para dar a entender que as mortes não eram em vão: “Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena”.

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5. Conclusão

À partida, quando me falavam de poesia, era algo que não me atraía muito, por isso nunca tinha sido uma área muito explorada por mim. Assim, no início não foi um trabalho que me despertou grande entusiasmo, mas à medida que o fui elaborando comecei a gostar mais do que estava a fazer e acabei por mudar de ideias em relação à poesia. Este trabalho fez-me olhar para a ela com outros olhos. Foi bastante gratificante pois deu-me a conhecer um mundo muito diversificado de poetas e poemas que desconhecia. Tive algumas dificuldades com a procura de poemas de poetas contemporâneos portugueses, pois neste trabalho restringi-os a um único tema, o mar, o que fez com que alguns dos poetas que inseri neste trabalho tenham nascido ainda no século XIX. Penso que o trabalho está bem conseguido e que vai ao encontro dos objetivos propostos. Desejo que tenha gostado.

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6. Bibliografia e Webgrafia

Júdice, Nuno, Pedro, Lembrando Inês, Lisboa: Editora Dom Quixote, 2001.

http://pt.scribd.com/doc/42757792/Poemas-Do-Mar (12/01/2013) http://www.palavrarte.com/poesia_mundo/poepelomun_portugal_contemporanea. htm#poeta11 (25/01/2013)

Citador http://www.citador.pt/poemas/t/mar (12/01/2013) http://www.citador.pt/poemas/passei-o-dia-ouvindo-o-que-o-mar-dizia-antoniohttp://www.citador.pt/poemas/viver-na-beiramar-fiama-hasse-pais-brandao

Wikipedia http://pt.wikipedia.org/wiki/Mar_Portugu%C3%AAs (12/01/2013) http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa (12/01/2013) http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Botto (19/01/2013) http://pt.wikipedia.org/wiki/Miguel_Torga (12/01/2013) http://pt.wikipedia.org/wiki/Sofia_de_Melo_Breyner_Andresen (12/01/2013) http://pt.wikipedia.org/wiki/Eug%C3%A9nio_de_Andrade (19/01/2013) http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Ramos_Rosa (25/01/2013) http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Bento_(poeta) (25/01/2013) http://pt.wikipedia.org/wiki/Fiama_Hasse_Pais_Brand%C3%A3o (19/01/2013) http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADsa_Ducla_Soares (19/01/2013)

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