Poesia j 12

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Ă?ndice


Introdução: Este trabalho é sobre poetas contemporâneos e suas obras, depois dos anos 50. Tem como objetivo fazer uma seleção de vinte poemas de vinte poetas contemporâneos diferentes de acordo com os gostos pessoais. Está organizado em 8 partes diferentes : capa, introdução, desenvolvimento (vinte poemas), seleção de um poema, ilustração do poema escolhido, explicação da ilustração, conclusão e bibliografia.


Poema final Ó cores virtuais que jazeis subterrâneas, - Fulgurações azuis, vermelhos de hemoptise, Represados clarões, cromáticas vesânias -, No limbo onde esperais a luz que vos batize,

As pálpebras cerrai, ansiosas não veleis.

Abortos que pendeis as frontes cor de cidra, Tão graves de cismar, nos bocais dos museus, E escutando o correr da água na clepsidra, Vagamente sorris, resignados e ateus,

Cessai de cogitar, o abismo não sondeis.

Gemebundo arrulhar dos sonhos não sonhados, Que toda a noite errais, doces almas penando, E as asas lacerais na aresta dos telhados, E no vento expirais em um queixume brando,

Adormecei. Não suspireis. Não respireis.

Camilo Pessanha, Clepsydra

Camilo de Almeida Pessanha (Coimbra, 7 de Setembro de 1867 — Macau, 1 de Março de 1926) http://pt.wikipedia.org/wiki/Camilo_Pessanha [consultado em 11.3.2015]


Tristêza

O sol do outomno, as folhas a cair, A minha voz baixinho soluçando, Os meus olhos, em lagrimas, beijando A terra, e o meu espirito a sorrir...

Eis como a minha vida vae passando Em frente ao seu Phantasma... E fico a ouvir Silencios da minh'alma e o resurgir De mortos que me fôram sepultando...

E fico mudo, extatico, parado E quasi sem sentidos, mergulhando Na minha viva e funda intimidade...

Só a longinqua estrela em mim actua... Sou rocha harmoniosa á luz da lua, Petreficada esphinge de saudade...

Teixeira

de

Pascoaes,

pseudónimo

literário

de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, (Amarante, 8

de

1

novembro de 1877 —

Amarante, Gatão, 14 de dezembro de 1952)

Teixeira de Pascoes, Elegias http://pt.wikipedia.org/wiki/Teixeira_de_Pascoaes [consultado em 11.3.2015]


A queda E eu que sou o rei de toda esta incoerência, Eu próprio turbilhão, anseio por fixá-la E giro até partir... Mas tudo me resvala Em bruma e sonolência.

Se acaso em minhas mãos fica um pedaço de oiro, Volve-se logo falso.., ao longe o arremesso... Eu morro de desdém em frente dum tesoiro, Morro à mingua, de excesso.

Alteio-me na cor à força de quebranto, Estendo os braços de alma- e nem um espasmo venço!... Peneiro-me na sombra - em nada me condenso... Agonias de luz eu vibro ainda entanto.

Não me pude vencer, mas posso-me esmagar, - Vencer às vezes é o mesmo que tombar -

Mário de Sá-Carneiro (Lisboa, 19 de Maio de 1890 — Paris, 26 de Abril de 1916)

E como inda sou luz, num grande retrocesso, Em raivas ideais ascendo até ao fim: Olho do alto o gelo, ao gelo me arremesso... Mário Sá-Carneiro, Dispersão

http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_de_S %C3%A1-Carneiro [consultado em 11.3.2015]


Mentiras

Ai quem me dera uma feliz mentira que fosse uma verdade para mim! J. DANTAS

Tu julgas que eu não sei que tu me mentes Quando o teu doce olhar poisa no meu? Pois julgas que eu não sei o que tu sentes? Qual a imagem que alberga o peito teu?

Ai, se o sei, meu amor! Eu bem distingo O bom sonho da feroz realidade... Não palpita d'amor, um coração Que anda vogando em ondas de saudade!

Embora mintas bem, não te acredito; Perpassa nos teus olhos desleais, O gelo do teu peito de granito...

Mas finjo-me enganada, meu encanto, Que um engano feliz vale bem mais Que um desengano que nos custa tanto!

Florbela Espanca, in A Mensageira das Violetas

Florbela Espanca (Vila Viçosa, 8 de Dezembro de 1894 — Matosinhos, 8 de Dezembro de 1930) http://pt.wikipedia.org/wiki/Florbela_Espanca [consultado em 11.3.2015]


Se eu agora inventasse o mundo

Se eu agora inventasse o mundo criaria a luz da manhã já explicada sem o luto que pesa na sombra dos homens - conspiração da noite com as pedras.

Luz que o cheiro das ervas da madrugada aproxima os mortos do silêncio com esqueletos de asas - conluio com o sol para estarem mais presentes no tacto da pele da manhã, mil mãos a afogarem a paisagem, bafo de flores donde cai o enlace das sementes...

Abro a janela O mundo cheira tão bem a trevos ausentes! Bons dias, mortos. Bons dias, Pai.

José Gomes Ferreira, in Elegia Fria com Lírios Inventados


Sabedoria

Desde que tudo me cansa, Comecei eu a viver. Comecei a viver sem esperança... E venha a morte quando Deus quiser.

Dantes, ou muito ou pouco, Sempre esperara: Às vezes, tanto, que o meu sonho louco Voava das estrelas à mais rara; Outras, tão pouco, Que ninguém mais com tal se conformara.

Hoje, é que nada espero. Para quê, esperar? Sei que já nada é meu senão se o não tiver; Se quero, é só enquanto apenas quero; Só de longe, e secreto, é que inda posso amar. . . E venha a morte quando Deus quiser.

Mas, com isto, que têm as estrelas? Continuam brilhando, altas e belas.

José Régio, in Poemas de Deus e do Diabo


A tempo A tempo entrei no tempo, Sem tempo dele sairei: Homem moderno, Antigo serei. Evito o inferno Contra tempo, eterno À paz que visei. Com mais tempo Terei tempo: No fim dos tempos serei Como quem se salva a tempo. E, entretanto, durei. Vitorino NemÊsio, in O Verbo e a Morte


Conquista Livre não sou, que nem a própria vida Mo consente. Mas a minha aguerrida Teimosia É quebrar dia a dia Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino. E vão lá desdizer o sonho do menino Que se afogou e flutua Entre nenúfares de serenidade Depois de ter a lua!

Miguel Torga, Cântico do Homem


Ode para o Futuro

Falareis de nós como de um sonho. Crepúsculo dourado. Frases calmas. Gestos vagarosos. Música suave. Pensamento arguto. Subtis sorrisos. Paisagens deslizando na distância. Éramos livres. Falávamos, sabíamos, e amávamos serena e docemente.

Uma angústia delida, melancólica, sobre ela sonhareis.

E as tempestades, as desordens, gritos, violência, escárnio, confusão odienta, primaveras morrendo ignoradas nas encostas vizinhas, as prisões, as mortes, o amor vendido, as lágrimas e as lutas, o desespero da vida que nos roubam - apenas uma angústia melancólica, sobre a qual sonhareis a idade de oiro.

E, em segredo, saudosos, enlevados, falareis de nós - de nós! - como de um sonho.

Jorge de Sena, Pedra Filosofal


Um dia branco

Dai-me um dia branco, um mar de beladona Um movimento Inteiro, unido, adormecido Como um só momento.

Eu quero caminhar como quem dorme Entre países sem nome que flutuam.

Imagens tão mudas Que ao olhá-las me pareça Que fechei os olhos. Um dia em que se possa não saber.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Antologia


Sono Dormir mas o sonho repassa duma insistente dor a lembrança da vida água outra vez bebida na pobreza da noite: e assim perdido o sono o olvido bates, coração, repetes sem querer o dia.

Carlos de Oliveira, Cantata


Poema Involuntário Decididamente a palavra quer entrar no poema e dispõe com caligráfica raiva do que o poeta no poema põe.

Entretanto o poema subsiste informal em teus olhos talvez mas perdido se em precisa palavra significas o que vês.

Virtualmente teus cabelos sabem se espalhando avencas no travesseiro que se eu digo prodigiosos cabelos as insólitas flores que se abrem não têm sua cor nem seu cheiro.

Finalmente vejo-te e sei que o mar o pinheiro a nuvem valem a pena e é assim que sem poetizar se faz a si mesmo o poema

Natália Correia, O vinho e a Lira


Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor, e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes. Gastámos tudo menos o silêncio. Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, gastámos as mãos à força de as apertarmos, gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro; era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes. E eu acreditava. Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos, era no tempo em que o teu corpo era um aquário, era no tempo em que os meus olhos eram realmente peixes verdes. Hoje são apenas os meus olhos. É pouco, mas é verdade, uns olhos como todos os outros.


Já gastámos as palavras. Quando agora digo: meu amor, já se não passa absolutamente nada. E no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certeza que todas as coisas estremeciam só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar. Dentro de ti não há nada que me peça água. O passado é inútil como um trapo. E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus. Eugénio de Andrade, Poesia e Prosa


Teoria do Amor Amor é mais do que dizer. Por amor no teu corpo fui além e vi florir a rosa em todo o ser fui anjo e bicho e todos e ninguém.

Como Bernard de Ventadour amei uma princesa ausente em Tripoli amada minha onde fui escravo e rei e vi que o longe estava todo em ti.

Beatriz e Laura e todas e só tu rainha e puta no teu corpo nu o mar de Itália a Líbia o belvedere.

E quanto mais te perco mais te encontro morrendo e renascendo e sempre pronto para em ti me encontrar e me perder.

Manuel Alegre, Obra Poética


A vida

A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua mais que perfeita imprecisão, os dias que contam quando não se espera, o atraso na preocupação dos teus olhos, e as nuvens que caíram mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações a abrir-se para dentro e para fora dos sentidos que nada têm a ver com círculos, quadrados, rectângulos, nas linhas rectas e paralelas que se cruzam com as linhas da mão;

a vida que traz consigo as emoções e os acasos, a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram e dos encontros que sempre se soube que se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo o rosto sonhado numa hesitação de madrugada, sob a luz indecisa que apenas mostra as paredes nuas, de manchas húmidas no gesso da memória;

a vida feita dos seus corpos obscuros e das suas palavras próximas.

Nuno Júdice, in Teoria Geral do Sentimento


Amigo

Mal nos conhecemos Inaugurámos a palavra «amigo».

«Amigo» é um sorriso De boca em boca, Um olhar bem limpo, Uma casa, mesmo modesta, que se oferece, Um coração pronto a pulsar Na nossa mão!

«Amigo» (recordam-se, vocês aí, Escrupulosos detritos?) «Amigo» é o contrário de inimigo!

«Amigo» é o erro corrigido, Não o erro perseguido, explorado, É a verdade partilhada, praticada.

«Amigo» é a solidão derrotada!

«Amigo» é uma grande tarefa, Um trabalho sem fim, Um espaço útil, um tempo fértil, «Amigo» vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O'Neill, in No Reino da Dinamarca


Vertentes

As palavras esperam o sono e a música do sangue sobre as pedras corre a primeira treva surge o primeiro não a primeira quebra A terra em teus braços é grande o teu centro desenvolve-se como um ouvido a noite cresce uma estrela vive uma respiração na sombra o calor das árvores Há um olhar que entra pelas paredes da terra sem lâmpadas cresce esta luz de sombra começo a entender o silêncio sem tempo a torre extática que se alarga A plenitude animal é o interior de uma boca um grande orvalho puro como um olhar Deslizo no teu dorso sou a mão do teu seio sou o teu lábio e a coxa da tua coxa sou nos teus dedos toda a redondez do meu corpo sou a sombra que conhece a luz que a submerge A luz que sobe entre as gargantas agrestes deste cair na treva abre as vertentes onde a água cai sem tempo

António Ramos Rosa, in Matéria de Amor


Elegia do ciúme

A tua morte, que me importa, se o meu desejo não morreu? Sonho contigo, virgem morta, e assim consigo (mas que importa?) possuir em sonho quem morreu.

Sonho contigo em sobressalto, não vás fugir-me, como outrora. E em cada encontro a que não falto inda me turbo e sobressalto à tua mínima demora.

Onde estiveste? Onde? Com quem? — Acordo, lívido, em furor. Súbito, sei: com mais ninguém, ó meu amor!, com mais ninguém repartirás o teu amor.

E se adormeço novamente vou, tão feliz!, sem azedume — agradecer-te, suavemente, a tua morte que consente tranquilidade ao meu ciúme.

David Mourão-Ferreira, Tempestade de Verão


Soneto

Não pode Amor por mais que as falas mude exprimir quanto pesa ou quanto mede. Se acaso a comoção falar concede é tão mesquinho o tom que o desilude.

Busca no rosto a cor que mais o ajude, magoado parecer aos olhos pede, pois quando a fala a tudo o mais excede não pode ser Amor com tal virtude.

Também eu das palavras me arreceio, também sofro do mal sem saber onde busque a expressão maior do meu anseio.

E acaso perde, o Amor que a fala esconde, em verdade, em beleza, em doce enleio? Olha bem os meus olhos, e responde.

António Gedeão, Poesias Completas


Povoamento

No teu amor por mim há uma rua que começa Nem árvores nem casas existiam antes que tu tivesses palavras e todo eu fosse um coração para elas Invento-te e o céu azula-se sobre esta triste condição de ter de receber dos choupos onde cantam os impossíveis pássaros a nova primavera Tocam sinos e levantam voo todos os cuidados Ó meu amor nem minha mãe tinha assim um regaço como este dia tem E eu chego e sento-me ao lado da primavera

Ruy Belo, Aquele Grande Rio Eufrates


Poema selecionado:

Conquista Livre não sou, que nem a própria vida Mo consente. Mas a minha aguerrida Teimosia É quebrar dia a dia Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino. E vão lá desdizer o sonho do menino Que se afogou e flutua Entre nenúfares de serenidade Depois de ter a lua! Miguel Torga


Explicação da ilustração: A ilustração é a minha leitura do que o sujeito poético quer dizer no poema: que não tem liberdade, mas que sonha com ela, e que um dia a vai conseguir ter. Na fotografia tinha como objetivo mostrar que a pessoa que estava sentada estava atada com uma corda, mas que a sair dela estava a mesma pessoa (mas menos nítida) livre. Para tirar a fotografia usei uma lâmpada à frente da pessoa, usei uma corda, e uma máquina, na qual deixei um tempo de exposição ( tempo que a fotografia demora a ser tirada) de dez segundos, e durante esses segundos, a pessoa que estava sentada tinha que largar a corda e abrir os braços, resultando no efeito final.


(foto original)

Depois de ter tirado a foto, usei um programa chamado Lightroom para editar a luz, e usei o photoshop para apagar os puxadores da porta.

(resultado final)


Conclusão: Neste trabalho, selecionei poetas contemporâneos e as suas obras depois dos anos cinquenta. Acho que o trabalho correu bastante bem e que a ilustração foi bastante bem conseguida. Este trabalho fez-me perceber que poesia não é uma coisa chata e que me identifico com muitos dos poemas que li, para além de me ter feito voltar a fotografar. Os meus objetivos foram completos e acho que este trabalho me permitiu aperfeiçoar competências como a organização e a seleção. Fiz este trabalho através de pesquisas na internet.


Webgrafia

http://www.citador.pt/ http://www.citador.pt/poemas/poema-final-camilo-pessanha http://www.citador.pt/poemas/tristeza-teixeira-de-pascoaes http://www.citador.pt/poemas/a-queda-mario-de-sacarneiro http://www.citador.pt/poemas/mentiras-florbela-de-alma-conceicao-espanca http://www.citador.pt/poemas/se-eu-agora-inventasse-o-mundo-jose-gomesferreira http://www.citador.pt/poemas/sabedoria-jose-regio http://www.citador.pt/poemas/a-tempo-vitorino-nemesio http://www.citador.pt/poemas/conquista-miguel-torga http://www.citador.pt/poemas/conquista-miguel-torga http://www.citador.pt/poemas/ode-para-o-futuro-jorge-de-sena http://www.citador.pt/poemas/ode-para-o-futuro-jorge-de-sena http://www.releituras.com/eandrade_adeus.asp http://www.citador.pt/poemas/teoria-do-amor-manuel-de-melo-duarte-alegre http://www.citador.pt/poemas/a-vida-nuno-judice http://www.citador.pt/poemas/amigo-alexandre-oneill


http://www.citador.pt/poemas/vertentes-antonio-ramos-rosa http://www.citador.pt/poemas/elegia-do-ciume-david-mouraoferreira http://www.citador.pt/poemas/soneto-antonio-gedeao http://www.citador.pt/poemas/povoamento-ruy-belo http://www.citador.pt/poemas/sono-carlos-de-oliveira http://www.citador.pt/poemas/poema-involuntario-natalia-correia

http://poesiaseprosas.no.sapo.pt/poetas.htm http://poesiaseprosas.no.sapo.pt/sophia_m_b_andresen/poetas_sophiambandres en_umdiabranco01.htm


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