Poesia j 20

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Disciplina de Português

“Poder”

Professora: Elisabete Miguel Trabalho realizado por: Marta Henriques n.º20, 10.º J Ano lectivo 2014/2015


Índice

- Introdução - Poemas: Ser diferente - Agostinho da Silva Vive o Dia de Hoje!- Vergílio Ferreira Mãe- Miguel Torga Passado, Presente, Futuro- José Saramago Um Segredo- Pedro Homem de Melo Poema á Mãe – Eugénio de Andrade Terror de te Amar – Sophia de Mello Breyner Andresen Amo te muito, meu amor e tanto- José de Sena Elegia do amor – Teixeira de Pascoaes Não posso Adiar o Amor- António Ramos Rosa Ternura – David Mourão-Ferreira Todas as noites me sinto- Orlando Neves Todos os dias- Saúl Dias Minha vida!- Judith Teixeira Alma Serena- Fernando de Castro O amor é o amor- Alexandre O’Neill Sono- Carlos de Oliveira Retrato de Amigo- Ary dos Santos Já foste rico e forte e soberano- Saúl Dias - Ilustração do poema e explicação - Conclusão - Bibliografia


Introdução

No âmbito da disciplina de português, foi nos proposto a realização de um trabalho resultante da pesquisa de 20 poemas, de diferentes poetas da 2.ª metade do século XX .Deveríamos depois escolher, de entre esses textos, um e fazer a respetiva ilustração, que, seguidamente, deveríamos explicar. Nas páginas seguintes poderão acompanhar o meu itinerário na elaboração desta minha pequena antologia. Oxalá gostem!


Ser Diferente

A única salvação do que é diferente é ser diferente até o fim, com todo o valor, todo o vigor e toda a rija impassibilidade; tomar as atitudes que ninguém toma e usar os meios de que ninguém usa; não ceder a pressões, nem aos afagos, nem às ternuras, nem aos rancores; ser ele; não quebrar as leis eternas, as não-escritas, ante a lei passageira ou os caprichos do momento; no fim de todas as batalhas — batalhas para os outros, não para ele, que as percebe — há-de provocar o respeito e dominar as lembranças; teve a coragem de ser cão entre as ovelhas; nunca baliu; e elas um dia hão-de reconhecer que foi ele o mais forte e as soube em qualquer tempo defender dos ataques dos lobos.

Agostinho da Silva, in Diário de Alcestes


Vive o Dia de Hoje!

Não penses para amanhã. Não lembres o que foi de ontem. A memória teve o seu tempo quando foi tempo de alguma coisa durar. Mas tudo hoje é tão efémero. Mesmo o que se pensa para amanhã é para já ter sido, que é o que desejamos que seja logo que for. É o tempo de Deus que não tem futuro nem passado. Foi o que dele nós escolhemos no sonho do nosso absoluto. Não penses para amanhã na urgência de seres agora. Mesmo logo à tarde é muito tarde. Tudo o que és em ti para seres, vê se o és neste instante. Porque antes e depois tudo é morte e insensatez. Não esperes, sê agora. Lê os jornais. O futuro é o embrulho que fizeres com eles ou o papel urgente da retrete quando não houver outro.

Vergílio Ferreira, in Escrever


Mãe

Mãe: Que desgraça na vida aconteceu, Que ficaste insensível e gelada? Que todo o teu perfil se endureceu Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa Cansada de palavras e ternura, Assim tu me pareces no teu leito. Presença cinzelada em pedra dura, Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes. Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio. Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes Por detrás do terror deste vazio.

Mãe: Abre os olhos ao menos, diz que sim! Diz que me vês ainda, que me queres. Que és a eterna mulher entre as mulheres. Que nem a morte te afastou de mim!

Miguel Torga, in Diário IV


Passado, Presente, Futuro

Eu fui. Mas o que fui já me não lembra: Mil camadas de pó disfarçam, véus, Estes quarenta rostos desiguais. Tão marcados de tempo e macaréus.

Eu sou. Mas o que sou tão pouco é: Rã fugida do charco, que saltou, E no salto que deu, quanto podia, O ar dum outro mundo a rebentou.

Falta ver, se é que falta, o que serei: Um rosto recomposto antes do fim, Um canto de batráquio, mesmo rouco, Uma vida que corra assim-assim.

José Saramago, in Os Poemas Possíveis


Um Segredo Meu pai tinha sandálias de vento só agora o sei. Tinha sandálias de vento e isto nem sequer é uma maneira de dizer andava por longe os olhos fugidos a expressão em nenhures com as miraculosas instantaneidades que nos fazem estar em todos os sítios. Andava por longe meu pai sonhando errando vadiando mas toda a sua ausência era o malogro de o ser só agora o sei. Andava por longe ou sentíamo-lo longe vem dar no mesmo e no entanto víamo-lo sempre ali plantado de imobilidade absorta no cepo de carvalho raiado de negro a que o caruncho comera o miolo como as lagartas esvaziam as maçãs estranhamente quieto murcho resignado no seu estranho vadiar os olhos aguados numa tristeza que hoje me dói como um apelo perdido uma coragem abortada. Ausência era tão de mágoa urdida tão de fracasso tingida ausência era altiva e desolada altiva e triste sobretudo triste tristeza sim tristeza solene e irremediada só agora o sei.


Às vezes parecia-me uma águia que atravessa os ares sulco azul que nada distingue do azul onde foi sulcado e por isso nem é águia nem ao menos o que do seu voo resta para que o sonho se faça real. Meu pai era um homem com as nostalgias do que nunca acontecera e isso minava-o víscera a víscera como as tais lagartas esfarelam as maçãs e então sei-o agora calçava as ágeis sandálias miraculosamente leves soltas imaginosas indo de acaso em acaso de astro em astro eram de vento as suas sandálias fabulosas levando-o aonde mais ninguém poderia chegar.

Os outros não o sabiam nem eu o sabia só o víamos sentado no cepo velho raiado de negro como uma estrela fossilizada por isso tudo era para ele mais irremediável e triste sei-o agora tarde de mais tarde de mais é uma dor de remorso que me consome víscera a víscera como as tais lagartas esfarelam as maçãs. Mas de qualquer maneira existe um segredo de que ambos partilhamos ciosamente avaramente indecifradamente como os astutos conspiradores


que fazem do seu segredo um mรกgico tesouro inviolado.

Um segredo simples: o que sentiste pai sinto-o eu agora por ambos sinto-o por ti sinto-o por mim.

Ainda que por ele devorados.

Fernando Namora, in Nome Para Uma Casa


Amizade

Ser-se amigo é ser-se pai ( — Ou mais do que pai talvez...) É pôr-se a boca onde cai A nódoa que nos desfez.

É dar sem receber nada, Consciente da prisão, Onde os nossos passos vão Em linha por nós traçada...

É saber que nos consome A sede, e sentirmos bem O Céu, por na Terra, alguém Rir, cantar e não ter fome.

É aceitar a mentira E achá-la formosa e humana Só porque a gente respira O ar de quem nos engana.

Pedro Homem de Mello, in Miserere


Poema à Mãe No mais fundo de ti, eu sei que traí, mãe

Tudo porque já não sou o retrato adormecido no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras que há leitos onde o frio não se demora e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo são duras, mãe, e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas que apertava junto ao coração no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas, talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa; esqueceste que as minhas pernas cresceram, que todo o meu corpo cresceu, e até o meu coração


ficou enorme, mãe!

Olha — queres ouvir-me? — às vezes ainda sou o menino que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração rosas tão brancas como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz: Era uma vez uma princesa no meio de um laranjal...

Mas — tu sabes — a noite é enorme, e todo o meu corpo cresceu. Eu saí da moldura, dei às aves os meus olhos a beber,

Não me esqueci de nada, mãe. Guardo a tua voz dentro de mim. E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade, in Os Amantes Sem Dinheiro


Terror de Te Amar

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição Onde tudo nos quebra e emudece Onde tudo nos mente e nos separa.

Que nenhuma estrela queime o teu perfil Que nenhum deus se lembre do teu nome Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti eu criarei um dia puro Livre como o vento e repetido Como o florir das ondas ordenadas.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Obra Poética


Amo-te Muito, Meu Amor, e Tanto

Amo-te muito, meu amor, e tanto que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda depois de ter-te, meu amor. Não finda com o próprio amor o amor do teu encanto.

Que encanto é o teu? Se continua enquanto sofro a traição dos que, viscosos, prendem, por uma paz da guerra a que se vendem, a pura liberdade do meu canto,

um cântico da terra e do seu povo, nesta invenção da humanidade inteira que a cada instante há que inventar de novo,

tão quase é coisa ou sucessão que passa... Que encanto é o teu? Deitado à tua beira, sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.

Jorge de Sena, in Poesia, Vol. I


Elegia do Amor Lembras-te, meu amor, Das tardes outonais, Em que íamos os dois, Sozinhos, passear, Para fora do povo Alegre e dos casais, Onde só Deus pudesse Ouvir-nos conversar? Tu levavas, na mão, Um lírio enamorado, E davas-me o teu braço; E eu, triste, meditava Na vida, em Deus, em ti... E, além, o sol doirado Morria, conhecendo A noite que deixava. Harmonias astrais Beijavam teus ouvidos; Um crepúsculo terno E doce diluía, Na sombra, o teu perfil E os montes doloridos... Erravam, pelo Azul, Canções do fim do dia. Canções que, de tão longe, O vento vagabundo


Trazia, na memória... Assim o que partiu Em frágil caravela, E andou por todo o mundo, Traz, no seu coração, A imagem do que viu.

Olhavas para mim, Às vezes, distraída, Como quem olha o mar, À tarde, dos rochedos... E eu ficava a sonhar, Qual névoa adormecida, Quando o vento também Dorme nos arvoredos. Olhavas para mim... Meu corpo rude e bruto Vibrava, como a onda A alar-se em nevoeiro. Olhavas, descuidada E triste... Ainda hoje escuto A música ideal Do teu olhar primeiro! Ouço bem tua voz, Vejo melhor teu rosto No silêncio sem fim, Na escuridão completa!


Ouço-te em minha dor. Ouço-te em meu desgosto E na minha esperança Eterna de poeta! O sol morria, ao longe; E a sombra da tristeza Velava, com amor, Nossas doridas frontes. Hora em que a flor medita E a pedra chora e reza, E desmaiam de mágoa As cristalinas fontes. Hora santa e perfeita, Em que íamos, sozinhos, Felizes, através Da aldeia muda e calma,

Mãos dadas, a sonhar, Ao longo dos caminhos... Tudo, em volta de nós, Tinha um aspecto de alma. Tudo era sentimento, Amor e piedade. A folha que tombava Era alma que subia... E, sob os nossos pés, A terra era saudade,


A pedra comoção E o pó melancolia. Falavas duma estrela E deste bosque em flor; Dos ceguinhos sem pão, Dos pobres sem um manto. Em cada tua palavra, Havia etérea dor; Por isso, a tua voz Me impressionava tanto! E punha-me a cismar Que eras tão boa e pura, Que, muito em breve — sim! Te chamaria o céu! E soluçava, ao ver-te Alguma sombra escura, Na fronte, que o luar Cobria, como um véu. A tua palidez Que medo me causava! Teu corpo era tão fino E leve (oh meu desgosto!) Que eu tremia, ao sentir O vento que passava! Caía-me, na alma, A neve do teu rosto.


Como eu ficava mudo E triste, sobre a terra! E uma vez, quando a noite amortalhava a aldeia, Tu gritaste, de susto, Olhando para a serra: — Que incêndio! — E eu, a rir, Disse-te — É a lua cheia!... E sorriste também Do teu engano. A lua Ergueu a branca fronte, Acima dos pinhais, Tão ébria de esplendor, Tão casta e irmã da tua, Que eu beijei sem querer, Seus raios virginais. E a lua, para nós, Os braços estendeu. Uniu-nos num abraço, Espiritual, profundo, E levou-nos assim, Com ela, até ao céu Mas, ai, tu não voltaste E eu regressei ao mundo. Teixeira

Teixeira de Pascoaes, in Prosa e Poesia

de

Pascoaes,

pseudónimo

literário

de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, (Amarante, 8

de

novembro de 18771 —

Amarante, Gatão, 14 de dezembro de 1952) [http://pt.wikipedia.org/wiki/Teixeira_de_Pascoaes – consultado em 11.3.2015.]


Não Posso Adiar o Amor

Não posso adiar o amor para outro século não posso ainda que o grito sufoque na garganta ainda que o ódio estale e crepite e arda sob montanhas cinzentas e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço que é uma arma de dois gumes amor e ódio

Não posso adiar ainda que a noite pese séculos sobre as costas e a aurora indecisa demore não posso adiar para outro século a minha vida nem o rneu amor nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração

António Ramos Rosa, in Viagem Através de uma Nebulosa


Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol, que é feito de ternura amarrotada, da frescura que vem depois do sol, quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade! Há restos de ternura pelo meio, como vultos perdidos na cidade onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente, e é ternura também que vou vestindo, para enfrentar lá fora aquela gente que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira, in Infinito Pessoal


Todas as Noites me Sinto

Todas as noites me sinto igual aos desconhecidos. Sou a criança que sou, só quando o tempo pára.

Fico em mim, fora dos músculos.

Por que se movem os deuses quando o sol cresta as formigas? Lendas da luz da noite secam todo o movimento.

Seguro a vida por desespero.

Orlando Neves, in Trovas da Infância na Aldeia


Todos os Dias Todos os dias nascem pequeninas nuvens, róseas umas, aniladas outras, nacaradas espumas...

Todos os dias nascem rosas, também róseas ou cor de chá, de veludo...

Todos os dias nascem violetas, as eleitas dos pobres corações...

Todos os dias nascem risos, canções...

Todos os dias os pássaros acordam nos seus ninhos de lãs...

Todos os dias nascem novos dias, nascem novas manhãs... Saúl Dias, in Essência


Minha Vida! Tu estás doente meu amor, porquê? Falta-te o sol, a luz, o meu sabor? Ou queres tu, que ainda eu te dê, nos meus braços, mais ânsia, mais calor?

Se és tu o sol, a graça, essa mercê divina que Deus trouxe à minha dor, exige tudo, a minha vida e crê que ta darei com alegria, amor!

Se perdes a alegria, minha vida, perco-me eu a procurar a causa: minha alegria é também perdida!

Beijemo-nos, meu bem, ardentemente... que venha a morte numa doce pausa e que nos leve se não és contente!

Judith Teixeira, in Antologia Poética

Judite

dos

Reis

Ramos

Teixeira ou Judith

Teixeira (Viseu, 25 de Janeiro de 1880 - Lisboa, 17 de Maio de 1959).

http://pt.wikipedia.org/wiki/Judite_Teixeira [consultado em 11.3.2015]


Alma Serena Alma serena, a consciência pura, assim eu quero a vida que me resta. Saudade não é dor nem amargura, dilui-se ao longe a derradeira festa.

Não me tentam as rotas da aventura, agora sei que a minha estrada é esta: difícil de subir, áspera e dura, mas branca a urze, de oiro puro a giesta.

Assim meu canto fácil de entender, como chuva a cair, planta a nascer, como raiz na terra, água corrente.

Tão fácil o difícil verso obscuro! Eu não canto, porém, atrás dum muro, eu canto ao sol e para toda a gente.

Fernanda de Castro, in Ronda das Horas Lentas


O Amor é o Amor O amor é o amor — e depois?! Vamos ficar os dois a imaginar, a imaginar?...

O meu peito contra o teu peito, cortando o mar, cortando o ar. Num leito há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos sem destino, sem medo, sem pudor e trocamos — somos um? somos dois? espírito e calor!

O amor é o amor — e depois?

Alexandre O'Neill, in Abandono Vigiado


Sono Dormir mas o sonho repassa duma insistente dor a lembrança da vida água outra vez bebida na pobreza da noite: e assim perdido o sono o olvido bates, coração, repetes sem querer o dia.

Carlos de Oliveira, in Cantata


Retrato de Amigo Por ti falo. E ninguém sabe. Mas eu digo meu irmão

minha amêndoa

meu tropel de ternura meu jardim de carência

meu amigo

minha casa minha asa.

Por ti morro e ninguém pensa. Mas eu sigo um caminho de nardos empestados uma intensa e terrífica ternura rodeado de cardos por muitíssimos lados.

Meu perfume de tudo minha essência meu lume

minha lava

meu labéu

como é possível não chegar ao cume de tão lavado céu?

Ary dos Santos, in Fotosgrafias


Já Foste Rico e Forte e Soberano

Já foste rico e forte e soberano, Já deste leis a mundos e nações, Heróico Portugal, que o gram Camões Cantou, como o não pôde um ser humano!

Zombando do furor do mar insano, Os teus nautas, em fracos galeões, Descobriram longínquas regiões, Perdidas na amplidão do vasto oceano.

Hoje vejo-te triste e abatido, E quem sabe se choras, ou então, Relembras com saudade o tempo ido?

Mas a queda fatal não temas, não. Porque o teu povo, outrora tão temido, Ainda tem ardor no coração.

Saúl Dias, in Dispersos (Primeiros Poemas)


Poema escolhido

Passado, Presente, Futuro Eu fui. Mas o que fui já me não lembra: Mil camadas de pó disfarçam, véus, Estes quarenta rostos desiguais. Tão marcados de tempo e macaréus.

Eu sou. Mas o que sou tão pouco é: Rã fugida do charco, que saltou, E no salto que deu, quanto podia, O ar dum outro mundo a rebentou.

Falta ver, se é que falta, o que serei: Um rosto recomposto antes do fim, Um canto de batráquio, mesmo rouco, Uma vida que corra assim-assim.

José Saramago, in Os Poemas Possíveis



O esquisso representa a visualização da minha leitura do poema “Passado, Presente, Futuro”, de José Saramago que, de entre os vinte, elegi. Esta composição poética divide-se em 3 estrofes, cada uma representa uma fase da vida. A 1.ª representa o passado, o sujeito poético diz que já está tão longe que não se lembra do passado, para além disso, é como se camada de pó e de véus disfarcem cada ano como se de vidas diferentes se tratassem, de tão marcadas que estão pelo tempo e pelas tempestades da vida. Na 2. ª estrofe, fala do presente, tem-se em pouca conta, o «eu» vê-se tal como a rã que, ao pular, inchasse e tivesse rebentado. Na 3.ª e última estrofe, os tempos vindouros. O sujeito poético não é otimista em relação ao seu porvir e considera que, no máximo, vai ter um futuro e uma vida “assim-assim”.


Conclusão

Para mim este trabalho foi difícil, pois tinha muitas escolhas de poemas, foi um desafio embora tenha tido muito prazer em realizá-lo.


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