Poesia j 21

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Escola Secundária Artística António Arroio

O amor de hoje em dia

Rafaela Alexandra Martins Gaspar Nº21, 10º ano, Turma J Português Profª Elisabete Miguel 2014/15


Índice Introdução........................................................................................................................3 Poemas 

Sophia de Mello Breyner Andresen………………………………………...……..……………….4

Vasco Graça Moura…………………………………………………………………………………………5

António Ramos Rosa…………………………………………..…………………………….…………….6

Vítor Matos e Sá…………………………………………………………………………………..……......7

Eugénio de Andrade………………………………………………………………………………………..8

Joaquim Pessoa……………………………………………………………………………………………….9

Ary dos Santos……………………………………………………………………………………………….10

Manuel António Pina……………………………………………………………………..……………..11

Natália Correia………………………………………………………………….....………………….…..12

Nuno Júdice…………………………………………………………………………………………………..13

José Luís Peixoto …………………………………………………………………………………….…….14

José Jorge Letria………………………………………………………………………….………..………15

Jorge de Sena………………………………………………………………………………….……..……..16

Pedro Tamen…………………………………………………………………………………………………17

Rosa Lobato Faria………………………………………………………………………………………….18

José Saramago………………………………………………………….………………………………..…19

António Gedeão.................................................................................................20

Miguel Torga…………………………………………………………………………………………………21

José Gomes Ferreira……………………………………………………………………………………..22

David Mourão-Ferreira………………………………………………………………………………….23

Ilustração………………………………………………………………………………………………………………….24 Explicação………………………………………………………………………………………………………..……….25 Conclusão…………………………………………………………………......…………………………………………26 Webgrafia…………………….……………………………………………………………………………………………27


Introdução

Na disciplina de Português, foi proposta a realização de um dossiê com um conjunto de vinte poemas contemporâneos de diferentes autores portugueses. Depois de seleccionados todos os poemas, foi, também, proposta uma ilustração de um deles. Esta ilustração corresponde à interpretação do poema escolhido, devendo ser explicitada a ligação ao mesmo. Para estre trabalho, foram escolhidos poemas relacionados apenas com o tema do amor, dado que é um dos tópicos mais comuns na Poesia.

Considero, ainda,

interessante o facto de haver inúmeras formas de representar este tema.


Terror de te amar Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição Onde tudo nos quebra e emudece Onde tudo nos mente e nos separa.

Que nenhuma estrela queime o teu perfil Que nenhum deus se lembre do teu nome Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti eu criarei um dia puro Livre como o vento e repetido Como o florir das ondas ordenadas.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Obra Poética


Lamento por diotima O que vamos fazer amanhã Neste caso de amor desesperado? Ouvir música romântica Ou trepar pelas paredes acima?

Amarfanhar-nos numa cadeira Ou ficar fixamente diante De um copo de vinho ou de uma ravina? O que vamos fazer amanhã

Que não seja um ajuste de contas? O que vamos fazer amanhã Do que mais se sonhou ou morreu? Numa esquina talvez te atropelem,

Num relvado talvez me fusilem O teu corpo talvez seja meu, Mas que vamos fazer amanhã Entre as árvores e a solidão?

Vasco Graça Moura, in O Concerto Campestre


Não Posso Adiar o Amor Não posso adiar o amor para outro século Não posso Ainda que o grito sufoque na garganta Ainda que o ódio estale e crepite e arda Sob montanhas cinzentas E montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço Que é uma arma de dois gumes Amor e ódio

Não posso adiar Ainda que a noite pese séculos sobre as costas E a aurora indecisa demore Não posso adiar para outro século a minha vida Nem o meu amor Nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração

António Ramos Rosa, in Viagem Através de uma Nebulosa


Poesia É a visita do tempo nos teus olhos, É o beijo do mundo nas palavras Por onde passa o rio do teu nome; É a secreta distância em que tocas O princípio leve dos meus versos; É o amor debruçado no silêncio Que te cerca e que te esconde: Como num bosque, lento, ouvimos O coração de uma fonte não sei onde...

Vítor Matos e Sá, in Esparsos


Coroava-te de Rosas Se pudesse, coroava-te de rosas Neste dia — De rosas brancas e de folhas verdes, Tão jovens como tu, minha alegria.

Terra onde os versos vão abrindo, Meu coração, não tem rosas para dar; Olhos meus, onde as águas vão subindo, Cerrai-vos, deixai de chorar.

Eugénio de Andrade, in As Mãos e os Frutos


Houve uma Ilha em ti Houve uma ilha em ti que eu conquistei. Uma ilha num mar de solidão. Tinha um nome a ilha onde morei. Chamava-se essa ilha Coração.

Que saudades do tempo que passei. Nenhum desses momentos foi em vão. Do teu corpo, de ti, já nada sei. Também não sei da ilha, não sei, não.

Só sei de mim, coberto de raízes. Enterrei os momentos mais felizes. Vivo agora na sombra a recordar.

A ilha que eu amei já não existe. Agora amo o céu quando estou triste por não saber do coração do mar.

Joaquim Pessoa, in Ano Comum


Soneto de Mal Amar Invento-te recordo-te distorço A tua imagem mal e bem amada Sou apenas a forja em que me forço A fazer das palavras tudo ou nada.

A palavra desejo incendiada Lambendo a trave mestra do teu corpo A palavra ciúme atormentada A provar-me que ainda não estou morto.

E as coisas que eu não disse? Que não digo: Meu terraço de ausência meu castigo Meu pântano de rosas afogadas.

Por ti me reconheço e contradigo Chão das palavras mágoa joio e trigo Apenas por ternura levedadas.

Ary dos Santos, in O Sangue das Palavras


Completas A meu favor tenho o teu olhar Testemunhando por mim Perante juízes terríveis: A morte, os amigos, os inimigos.

E aqueles que me assaltam À noite na solidão do quarto Refugiam-se em fundos sítios dentro de mim Quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.

Protege-me com ele, com o teu olhar, Dos demónios da noite e das aflições do dia, Fala em voz alta, não deixes que adormeça, Afasta de mim o pecado da infelicidade.

Manuel António Pina, in Algo Parecido Com Isto, da Mesma Substância


De Amor nada Mais Resta que um Outubro De amor nada mais resta que um Outubro E quanto mais amada mais desisto: Quanto mais tu me despes mais me cubro E quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro Porque se mais me ofusco mais existo. Por dentro me ilumino, sol oculto, Por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse Dos teus beijos. Etérea, a minha espécie Nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço Mais de terra e de fogo é o abraço Com que na carne queres reter-me jovem.

Natália Correia, in Poesia Completa


Princípios Podíamos saber um pouco mais Da morte. Mas não seria isso que nos faria Ter vontade de morrer mais Depressa.

Podíamos saber um pouco mais Da vida. Talvez não precisássemos de viver Tanto, quando só o que é preciso é saber Que temos de viver.

Podíamos saber um pouco mais Do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar De amar ao saber exactamente o que é o amor, ou Amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada Sabemos do amor.

Nuno Júdice, in Pedro, Lembrando Inês


Amor O teu rosto à minha espera, o teu rosto A sorrir para os meus olhos, existe um Trovão de céu sobre a montanha.

As tuas mãos são finas e claras, vês-me Sorrir, brisas incendeiam o mundo, Respiro a luz sobre as folhas da olaia.

Entro nos corredores de outubro para Encontrar um abraço nos teus olhos, Este dia será sempre hoje na memória.

Hoje compreendo os rios. a idade das Rochas diz-me palavras profundas, Hoje tenho o teu rosto dentro de mim.

José Luís Peixoto, in A Casa, A Escuridão


Não Precisas de me Procurar Aqui não precisas de me procurar Para me encontrares, que eu estou, Omnipresente, em todo o chão que pisas, Duplicando a tua sombra, Deixando um rasto de brisa, Um aroma de urze na marca dos teus passos. Com esta roupa visitaremos os pátios, Os átrios de dança e do encantamento. As nuvens aninhadas atrás da lua, Na olorosa paz da madrugada, São o mapa das errâncias da fala Enquanto o coração, indefeso, capitula.

José Jorge Letria, in Capela dos Ócios


Amo-te Muito, Meu Amor, e Tanto Amo-te muito, meu amor, e tanto Que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda Depois de ter-te, meu amor. Não finda Com o próprio amor o amor do teu encanto.

Que encanto é o teu? Se continua enquanto Sofro a traição dos que, viscosos, prendem, Por uma paz da guerra a que se vendem, A pura liberdade do meu canto,

Um cântico da terra e do seu povo, Nesta invenção da humanidade inteira Que a cada instante há que inventar de novo,

Tão quase é coisa ou sucessão que passa... Que encanto é o teu? Deitado à tua beira, Sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.

Jorge de Sena, in Poesia, Vol. I


Quero-te de Branco, Meu Amor Quero-te de branco, Ou antes, modelada Nas roupas que cosesses Das bonecas, nos saltos, Nos baloiços, nos degraus De uma porta qualquer donde saísses. Quero-te de branco e intocada, Carregada porém dos anos buliçosos E das vidas ausentes. De branco, meu amor, E de tão branco Que me desses o mundo em luz de sol.

Pedro Tamen, in Rua de Nenhures


Beijo a Beijo E de novo a armadilha dos abraços. E de novo o enredo das delícias. O rouco da garganta, os pés descalços A pele alucinada de carícias. As preces, os segredos, as risadas No altar esplendoroso das ofertas. De novo beijo a beijo as madrugadas De novo seio a seio as descobertas. Alcandorada no teu corpo imenso Teço um colar de gritos e silêncios A ecoar no som dos precipícios. E tudo o que me dás eu te devolvo. E fazemos de novo, sempre novo O amor total dos deuses e dos bichos.

Rosa Lobato Faria, in Dispersos


Aprendamos, Amor Aprendamos, amor, com estes montes Que, tão longe do mar, sabem o jeito De banhar no azul dos horizontes.

Façamos o que é certo e de direito: Dos desejos ocultos outras fontes E desçamos ao mar do nosso leito.

José Saramago, in Os Poemas Possíveis


Soneto Não pode Amor por mais que as falas mude Exprimir quanto pesa ou quanto mede. Se acaso a comoção falar concede É tão mesquinho o tom que o desilude.

Busca no rosto a cor que mais o ajude, Magoado parecer aos olhos pede, Pois quando a fala a tudo o mais excede Não pode ser Amor com tal virtude.

Também eu das palavras me arreceio, Também sofro do mal sem saber onde Busque a expressão maior do meu anseio.

E acaso perde, o Amor que a fala esconde, Em verdade, em beleza, em doce enleio? Olha bem os meus olhos, e responde.

António Gedeão, in Poesias Completas


Esperança Tantas formas revestes, e nenhuma Me satisfaz! Vens às vezes no amor, e quase te acredito. Mas todo o amor é um grito Desesperado Que apenas ouve o eco... Peco Por absurdo humano: Quero não sei que cálice profano Cheio de um vinho herético e sagrado.

Miguel Torga, in Penas do Purgatório


Dá-me a tua mão Dá-me a tua mão.

Deixa que a minha solidão Prolongue mais a tua — para aqui os dois de mãos dadas Nas noites estreladas, A ver os fantasmas a dançar na lua.

Dá-me a tua mão, companheira, Até o Abismo da Ternura Derradeira.

José Gomes Ferreira, in Poeta Militante I


Labirinto ou não Foi Nada Talvez houvesse uma flor

Tens agora a mão fechada;

Aberta na tua mão.

No rosto, nenhum fulgor.

Podia ter sido amor,

Não foi nada, não foi nada:

E foi apenas traição.

Podia ter sido amor.

É tão negro o labirinto

David Mourão-Ferreira, in À Guitarra e à Viola

Que vai dar à tua rua ... Ai de mim, que nem pressinto A cor dos ombros da Lua!

Talvez houvesse a passagem De uma estrela no teu rosto. Era quase uma viagem: Foi apenas um desgosto.

É tão negro o labirinto Que vai dar à tua rua... Só o fantasma do instinto Na cinza do céu flutua.


Ilustra巽達o

Labirinto ou n達o foi nada, de David Mour達o-Ferreira


Explicação O poema “Labirinto ou não foi nada” de David Mourão-Ferreira, foi o escolhido para ser interpretado por uma ilustração. Foi desenhado um labirinto preto (“É tão negro o labirinto//Que vai dar à tua rua ...”), onde a difícil saída vai dar a uma possível mulher (a amada do sujeito poético) que se apresenta de rosto fechado (“No rosto, nenhum fulgor…”) e a segurar uma rosa coberta de picos, que representam o amor impossível e a traição/desgosto, respetivamente. Tendo também sido feita referência à noite e à escuridão constante, o cenário apresenta-se numa noite, com um céu carregado e sem estrelas, pois o poema fala da infelicidade.


Conclusão Para a realização deste trabalho foram escolhidos os vinte poemas atrás apresentados, tendo como principal tema o Amor, supondo que este é um dos que melhor representa a Poesia. Este foi sempre um dos tópicos mais comuns e aprofundados, e, também, um dos mais interessantes, pelo grande número de diferentes formas de descrever o Amor. Este poema foi o escolhido para a ilustração, pois foi aquele que captou mais a minha atenção. Representa a tentativa falhada de chegar até um amor duro, difícil e, talvez, inalcançável. Uma das características interessantes foi a repetição de alguns versos ao longo do poema, como que para dar ênfase à dificuldade descrita. É também de referir, a atitute quase passiva da figura amada do sujeito poético. Embora tenham existido algumas dificuldade na organização de todos os poemas, a realização do trabalho foi interessante. Não só foi possível conhecer vários poetas, como também permitiu que passasse a existir um maior gosto por obras poéticas.


Webgrafia http://www.citador.pt/poemas/terror-de-te-amar-sophia-de-mello-breyner-andresen visitado em 15/02/2015 http://www.citador.pt/poemas/lamento-por-diotima-vasco-graca-moura visitado em 15/02/2015 http://www.citador.pt/poemas/nao-posso-adiar-o-amor-antonio-ramos-rosa visitado em 15/02/2015 http://www.citador.pt/poemas/labirinto-ou-nao-foi-nada-david-mouraoferreira visitado em

15/02/2015 http://oolhareover.blogspot.pt/2009/10/blog-post_14.html visitado em 15/02/2015

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