Poesia j 26

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Escola Artística António Arroio

A Aprender Recordações Escritas

Disciplina de Português Professora – Elisabete Miguel Aluno – Tiago Chaínho; n.º 26 - turma J – 10.º ano Ano lectivo 2014-2015


Índice 0- Índice 1- Introdução 2- Poemas: - Silêncio, Nostalgia - As palavras que te envio são interditas - Passado, presente, futuro - Para um amigo que tenho sempre - Sobre um Poema - Noite apressada - Só de restos se consagra o tempo - Na poesia - Poema para iludir a vida - PERFILADOS DE MEDO - Morrer de amor é assim - Carta a Ângela - Velho - Motivo - O poema - AMO OS TEUS DEFEITOS - Mãe - Uma mantilha solta… - Falso Diligenciar - Estuário dos tempos 3- Poema Selecionado 4- Ilustração do Poema 5- Explicação da Ilustração e da escolha do poema 6- Conclusão 7- Bibliografia


Introdução

No âmbito da disciplina de Português, foi-nos proposto pela Professora um trabalho com 20 poemas, de 20 poetas contemporâneos, a escolha de um dos vinte textos para ilustrar e a explicação da imagem. As regras formais obrigatórias também nos foram fornecidas pela docente. Em primeiro lugar, escolhi os 20 poemas dos 20 poetas, usando vários sites mas, maioritariamente, usei o ‘Citador’ para me guiar, depois de aqui ter escolhido o texto, procurei em outros sites para estar seguro da sua formatação. Escolhi “Mãe”, de Miguel Torga, para ilustrar e, finalmente, procedi à explicação da minha imagem. As páginas seguintes são o resultado do meu trabalho. Desejo que constituam bons momentos de fruição.


Poemas

1-Silêncio, Nostalgia... Silêncio, nostalgia... Hora morta, desfolhada,

Interminável dia

sem dor, sem alegria,

de indizíveis cansaços,

pelo tempo abandonada.

de funda melancolia. Sem rumo para os meus passos,

Luz de Outono, fria, fria...

para que servem meus braços,

Hora inútil e sombria

nesta hora fria, fria?

de abandono. Não sei se é tédio, sono, silêncio ou nostalgia.

Fernanda de Castro


2-As palavras que te envio são interditas

Estas mãos nocturnas onde aperto As palavras que te envio são interditas

Os meus dias quebrados na cintura.

Até, meu amor, pelo halo das searas; Se alguma regressasse, nem já reconhecia O teu nome nas suas curvas claras.

E a noite cresce apaixonadamente. Nas suas margens nuas, desoladas, Cada homem tem apenas para dar Um horizonte de cidades

Dói-me esta água, este ar que se

bombardeadas.

respira, Dói-me esta solidão de pedra escura,

Eugénio de Andrade


3- Passado, Presente, Futuro E no salto que deu, quanto podia, Eu fui. Mas o que fui já me não lembra:

O ar dum outro mundo a rebentou.

Mil camadas de pó disfarçam, véus, Estes quarenta rostos desiguais.

Falta ver, se é que falta, o que serei:

Tão marcados de tempo e macaréus.

Um rosto recomposto antes do fim, Um canto de batráquio, mesmo rouco,

Eu sou. Mas o que sou tão pouco é:

Uma vida que corra assim-assim.

Rã fugida do charco, que saltou, José Saramago


4-Para um Amigo Tenho Sempre

Para um amigo tenho sempre um relógio esquecido em qualquer fundo de algibeira. Mas esse relógio não marca o tempo inútil. São restos de tabaco e de ternura rápida. É um arco-íris de sombra, quente e trémulo. É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.

António Ramos Rosa


5-Sobre um Poema

Um poema cresce inseguramente na confusão da carne,

E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,

E já nenhum poder destrói o poema.

talvez como sangue

Insustentável, único,

ou sombra de sangue pelos canais do

invade as órbitas, a face amorfa das

ser.

paredes, a miséria dos minutos,

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência

a força sustida das coisas, a redonda e livre harmonia do mundo.

ou os bagos de uva de onde nascem as raízes minúsculas do sol.

- Em baixo o instrumento perplexo

Fora, os corpos genuínos e inalteráveis

ignora

do nosso amor,

a espinha do mistério.

os rios, a grande paz exterior das

- E o poema faz-se contra o tempo e a

coisas,

carne.

as folhas dormindo o silêncio, as sementes à beira do vento, - a hora teatral da posse.

Herberto Helder


6-Noite Apressada

Era uma noite apressada

Era uma haste inclinada

depois de um dia tão lento.

sob o capricho do vento.

Era uma rosa encarnada

Era a minh'alma, dobrada,

aberta nesse momento.

dentro do teu pensamento.

Era uma boca fechada

Era uma igreja assaltada,

sob a mordaça de um lenço.

mas que cheirava a incenso.

Era afinal quase nada,

Era afinal quase nada,

e tudo parecia imenso!

e tudo parecia imenso!

Imensa, a casa perdida

Imensa, a luz proibida

no meio do vendaval;

no centro da catedral;

imensa, a linha da vida

imensa, a voz diluída

no seu desenho mortal;

além do bem e do mal;

imensa, na despedida,

imensa, por toda a vida,

a certeza do final.

uma descrença total!

David Mourão-Ferreira


7- Só de Restos se Consagra o Tempo

Só de restos se consagra o tempo, força

foram gaivotas hirtas no piedoso

cerrada na inutilidade destas

musgos dos rios ou se hão-de ser maçãs

cores campestres, quando o sol em

ou ciência, loendros ou lembrança,

Novembro escurece os sobreiros. Só de restos me espera a cerimónia de viver,

inocentes, lúcidos sonos ou oblata de seda, a deus cedida, em pagamento da paz. Só do que chega ao fim, se

trânsito e transigência do silêncio,

corrompe

ocultado no meu corpo. Só de restos

e apodrece, se imagina o princípio,

o trespassa o tempo, máscara e manto.

a majestade das coisas, o silêncio

Morro

irrevelado que o corpo desconhece.

muito antes da morte, sem saber se os anjos Orlando Neves


8- Na Poesia

Na poesia, natureza variรกvel das palavras, nada se perde ou cria, tudo se transforma: cada poema, no seu perfil incerto e caligrรกfico, jรก sonha outra forma.

Carlos de Oliveira


9-Poema para Iludir a Vida

Tudo na vida está em esquecer o dia que passa. Não importa que hoje seja qualquer coisa triste, um cedro, areias, raízes, ou asa de anjo caída num paul. O navio que passou além da barra já não lembra a barra. Tu o olhas nas estranhas águas que ele há-de sulcar e nas estranhas gentes que o esperam em estranhos portos. Hoje corre-te um rio dos olhos e dos olhos arrancas limos e morcegos. Ah, mas a tua vitória está em saber que não é hoje o fim e que há certezas, firmes e belas, que nem os olhos vesgos podem negar. Hoje é o dia de amanhã.

Fernando Namora


10-PERFILADOS DE MEDO

Perfilados de medo, agradecemos o medo que nos salva da loucura. Decisão e coragem valem menos e a vida sem viver é mais segura. Aventureiros já sem aventura, perfilados de medo combatemos irónicos fantasmas à procura do que não fomos, do que não seremos. Perfilados de medo, sem mais voz, o coração nos dentes oprimido, os loucos, os fantasmas somos nós. Rebanho pelo medo perseguido, já vivemos tão juntos e tão sós que da vida perdemos o sentido...

Alexandre O'Neill


11-Morrer de Amor é Assim

Quem morre de tempo certo

Morrer de amor é assim

ao cabo de um certo tempo

como uma causa perdida.

é a rosa do deserto

Eu sei, e falo por mim,

que tem raízes no vento.

vou morrer cheio de vida.

Qual a medida de um verso

Digo-te adeus, vou-me embora,

que fale do meu amor?

que os versos que eu te escrever

Não me chega o universo

nunca os lerás, sei agora

porque o meu verso é maior.

que nunca aprendeste a ler.

Neste dia que se enquadra no tempo que vai passar, termino mais esta quadra feita ao gosto popular.

Joaquim Pessoa


12-Carta a Ângela

Para ti, meu amor, é cada sonho

Quantas vezes chorando te alcancei

de todas as palavras que escrever,

e em lágrimas de sombra nos

cada imagem de luz e de futuro, cada dia dos dias que viver.

perdemos! As mesmas que contigo regressei ao ritmo da vida que escolhemos!

Os abismos das coisas, quem os nega, se em nós abertos inda em nós

Mais humana da terra dos caminhos

persistem?

e mais certa, dos erros cometidos,

Quantas vezes os versos que te dou

foste de novo, e sempre, a mão da

na água dos teus olhos é que existem!

esperança nos meus versos errantes e perdidos.

Transpondo os versos vieste à minha vida e um rio abriu-se onde era areia e dor. Porque chegaste à hora prometida aqui te deixo tudo, meu amor!

Carlos de Oliveira


13-Velho

Parado e atento à raiva do silêncio de um relógio partido e gasto pelo tempo estava um velho sentado no banco de um jardim a recordar fragmentos do passado

passam os dias e sentes que és um perdedor já não consegues saber o que tem ou não valor o teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim pra dares lugar a outro no teu banco do jardim

na telefonia tocava uma velha canção e um jovem cantor falava da solidão

o olhar triste e cansado procurando

que sabes tu do canto de estar só assim

alguém

só e abandonado como o velho do

e a gente passa ao seu lado a olhá-lo

jardim?

com desdém sabes eu acho que todos fogem de ti

o olhar triste e cansado procurando

pra não ver

alguém

a imagem da solidão que irão viver

e a gente passa ao seu lado a olhá-lo

quando forem como tu

com desdém um resto de tudo o que existiu sabes eu acho que todos fogem de ti pra não ver a imagem da solidão que irão viver

quando forem como tu um velho sentado num jardim

quando forem como tu Mafalda Veiga um velho sentado num jardim


14-Motivo Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.

Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento.

Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, - não sei, não sei. Não sei se fico ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: - mais nada. Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 7

Cecília Meireles

de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira1 . É considerada uma das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua portuguesa. http://pt.wikipedia.org/wiki/Cec%C3%ADlia_Meireles em 12.3.2015]

[consultado


15-O POEMA

O poema não é o canto

Os acontecimentos são pedras

que do grilo para a rosa cresce.

e a poesia transcendê-las

O poema é o grilo

na já longínqua noção

é a rosa

de descrevê-las.

e é aquilo que cresce. E essa própria noção é só É o pensamento que exclui

uma saudade que se desvanece

uma determinação

na poesia. Pura intenção

na fonte donde ele flui

de cantar o que não conhece.

e naquilo que descreve. O poema é o que no homem para lá do homem se atreve.

NATÁLIA CORREIA


16-AMO OS TEUS DEFEITOS

Amo os teus defeitos, e tantos eram, as tuas faltas para comigo e as minhas; essa ênfase de rechaçar por timidez; solidão de fazer trepadeiras, agasalhos para velhos, depois para netos; indulgência de plantar e ver o crescimento da oliveira do paraíso, carregada de flores persistentemente caducas; essa autoridade, irremediável desafio; e a astúcia de termos ambos quase a mesma cara.

ANTÓNIO OSÓRIO


17 -Mãe Mãe: Que desgraça na vida aconteceu,

Chamo aos gritos por ti — não me respondes.

Que ficaste insensível e gelada? Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio. Que todo o teu perfil se endureceu Ou és outra, ou me enganas, ou te Numa linha severa e desenhada?

escondes Por detrás do terror deste vazio.

Como as estátuas, que são gente nossa Cansada de palavras e ternura, Assim tu me pareces no teu leito. Presença cinzelada em pedra dura, Que não tem coração dentro do peito.

Mãe: Abre os olhos ao menos, diz que sim! Diz que me vês ainda, que me queres. Que és a eterna mulher entre as mulheres. Que nem a morte te afastou de mim!

Miguel Torga


18- Uma mantilha solta…

O vento. Um nome. Uma mantilha solta. Sem outra cor…

Apenas a pele. A letra soletrada. A flor estendida. A oferta.

Trepando. E o lago dos olhos. Alagando-se…

Apenas um rubor mal desperto Ainda…

E o carmim do beijo antes dos lábios… E este alvoroço da tar Apenas o gesto. Não a pétala. Nem a rosa profanada…

Apenas brisa em mão aberta. E um raro perfume escondido. E o sonho da montanha.

Em azul aberto. Que de tão ténue Resiste…

Manuel Veiga


19-Falso Diligenciar

No obedecer de um falso diligenciar humano, Apenas por ter a mão no leme… Torna-se castrador aviltante do direito simples Do viver, de humanos injustamente condenados À cegueira, à surdes e à mudez de um tentar ser digno.

No obedecer de um falso diligenciar humano, Ordena-se arrastar pelo esbulho fácil, de sorrisos cínicos A validade de uma esperança vida, A serenidade de uma liberdade coerente… até ao descanso justo -Nem Judas traiu assim…

José Luís Outono


20-Estuário dos tempos

São inocentes os olhos que acordam Na fonte do princípio, Na origem das nascentes.

Maculados os outros, que adormecem Na foz dos invernos.

No estuário dos tempos.

LFM Marques


Seleção do Poema Mãe Mãe:

Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.

Que desgraça na vida aconteceu,

Ou és outra, ou me enganas, ou te

Que ficaste insensível e gelada? Que todo o teu perfil se endureceu

escondes Por detrás do terror deste vazio.

Numa linha severa e desenhada? Mãe:

Como as estátuas, que são gente nossa Cansada de palavras e ternura, Assim tu me pareces no teu leito. Presença cinzelada em pedra dura,

Abre os olhos ao menos, diz que sim! Diz que me vês ainda, que me queres. Que és a eterna mulher entre as mulheres. Que nem a morte te afastou de mim!

Que não tem coração dentro do peito.

Miguel Torga Chamo aos gritos por ti — não me respondes.


Ilustração


Explicação do Poema e da Ilustração O grito angustiado, lancinante do «eu», na recusa da aceitação da morte da Mãe, sensibilizou-me profundamente. Daí resulta a minha opção por desenhar a preto e branco. (Posteriormente, fotografei a imagem para a inserir no trabalho). Decidi por duas personagem com sombras carregadas, que representam a mãe falecida e o filho. Depois esquissei duas personagens, um anjo sem sombras e a mãe que, já «no assento etéreo», ouve, continua a velar e a acompanhar o sujeito poético « Mãe: Abre os olhos ao menos, diz que sim! / Diz que me vês ainda, que me queres. / Que és a eterna mulher entre as mulheres. / Que nem a morte te afastou de mim! »


Conclusão Chegado ao fim do trabalho, revi-o com cuidado e concluo que, embora nem sempre me tenha sido fácil a sua concretização, com perseverança, ultrapassei as dificuldades que me surgiram. Pesquisei poemas, selecionei o número exigido, optei por um para ilustrar. Com o percurso, ganhei mais conhecimentos literários, aprendi a ler mais e melhor poemas e, estou agora ciente que, depois de ter tido a liberdade de escolher autores, alguns pouco conhecidos até do grande público, aprecio mais o texto poético. Fiz a minha ilustração com bastante vontade e prazer. Não saiu perfeita, mas, a meu ver, bastante satisfatória para uma primeira experiência. Em síntese, venham mais propostas de trabalhos como este para que, usufruindo do bom que a internet tem, possamos aumentar os nossos conhecimentos. Espero também que os leitores tenham apreciado, tanto como eu, estes 20 poemas.


Webgrafia

http://www.mensagenscomamor.com/poemas-e-poesias/poemas_miguel_torga.htm (15-2-2015) http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/eugenio.andrade.html [consultado em 15-2- 2015] https://poemasdomundo.wordpress.com/2006/06/01/sisifo/ [15-2-2015] http://www.citador.pt/poemas/pedido-miguel-torga, [15-2-2015] https://lerparacrer.wordpress.com/2007/11/11/depoimento/ [15-2-2015] http://pela-positiva.blogspot.pt/2006/01/miguel-torga-morreu-h-11-anos.html[15-22015] http://www.casadobruxo.com.br/poesia/c/cecilia.htm [15-2-2015] http://www.citador.pt/pensar.php?pensamentos=Mario_Sa_Carneiro&op=7&author= 20043 [15-2-2015] http://www.citador.pt/poemas/a/fernando-namora [4-3-2015] http://www.citador.pt/poemas/morrer-de-amor-e-assim-joaquim-pessoa [4-3-2015] http://www.citador.pt/poemas/carta-a-angela-carlos-de-oliveira [4-3-2015]

 Entregue em 8 de março de 2015, às 13:27


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