Escola Artística António Arroio
Fado
Disciplina: Língua Portuguesa Professora: Elisabete Miguel Trabalho de: Ângela Serra Nº 4 / 10º ano – Turma J Ano letivo de 2014/2015
Índice •
Sophia de Mello Breyner Andersen
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Fernando Echevarría
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Nuno Júdice
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Miguel Torga
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Alexandre O'Neill
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Vasco Graça Moura
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Mia Couto
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Carlos de Oliveira
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Fernando Namora
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Pedro Tamen
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António Ramos Rosa
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Natália Correia
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Joaquim Pessoa
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José Gomes Ferreira
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José Luís Peixoto
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António Gedeão
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David Mourão-Ferreira
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Manuel António Pina
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José Saramago
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Eugénio de Andrade
Introdução
No âmbito da disciplina de português foi proposto aos alunos a realização de um dossiê com vinte poemas contemporâneos de diferentes poetas portugueses. De seguida, teríamos de, entre os vinte poemas, escolher um para ilustrar, tendo depois de justificar a respetiva ilustração. Para a escolha das obras não quis escolher um tema específico, mas sim rodear tudo aquilo com o qual o Homem se confronta durante o seu percurso de vida, como por exemplo o amor e a saudade. Dos vinte poemas, o escolhido por mim para ilustrar foi “Conquista”, de Miguel Torga.
Esta Gente Esta gente cujo rosto Às vezes luminoso E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto De luta e de combate Contra o abutre e a cobra O porco e o milhafre
Pois a gente que tem O rosto desenhado Por paciência e fome É a gente em quem Um país ocupado Escreve o seu nome
E em frente desta gente Ignorada e pisada Como a pedra do chão E mais do que a pedra Humilhada e calcada
Meu canto se renova E recomeço a busca De um paĂs liberto De uma vida limpa E de um tempo justo
Sophia de Mello Breyner Andresen, in Geografia
Amor à Vista Entras como um punhal até à minha vida. Rasgas de estrelas e de sal a carne da ferida.
Instala-te nas minas. Dinamita e devora. Porque quem assassinas é um monstro de lágrimas que adora.
Dá-me um beijo ou a morte. Anda. Avança. Deixa lá a esperança para quem a suporte.
Mas o mar e os montes... isso, sim. Não te amedrontes. Atira-os sobre mim.
Atira-os de espada. Porque ficas vencida ou desta minha vida não fica nada.
Mar e montes teus beijos, meu amor, sobre os meus férreos dentes. Mar e montes esperados com terror de que te ausentes.
Mar e montes teus beijos, meu amor!... Fernando Echevarría, in Poesia 1956-1979
A Voz que Nos Rasgou por Dentro De onde vem - a voz que nos rasgou por dentro, que trouxe consigo a chuva negra do outono, que fugiu por entre névoas e campos devorados pela erva?
Esteve aqui — aqui dentro de nós, como se sempre aqui tivesse estado; e não a ouvimos, como se não nos falasse desde sempre, aqui, dentro de nós.
E agora que a queremos ouvir, como se a tivéssemos reconhecido outrora, onde está? A voz que dança de noite, no inverno, sem luz nem eco, enquanto segura pela mão o fio obscuro do horizonte.
Diz: "Não chores o que te espera, nem desças já pela margem do rio derradeiro. Respira, numa breve inspiração, o cheiro da resina, nos bosques, e o sopro húmido dos versos."
Como se a ouvíssemos.
Nuno Júdice, in Meditação sobre Ruínas
Conquista Livre não sou, que nem a própria vida Mo consente. Mas a minha aguerrida Teimosia É quebrar dia a dia Um grilhão da corrente.
Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino. E vão lá desdizer o sonho do menino Que se afogou e flutua Entre nenúfares de serenidade Depois de ter a lua!
Miguel Torga, in Cântico do Homem
Há Palavras que Nos Beijam Há palavras que nos beijam Como se tivessem boca. Palavras de amor, de esperança, De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas Quando a noite perde o rosto; Palavras que se recusam Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas Entre palavras sem cor, Esperadas inesperadas Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama Letra a letra revelado No mármore distraído No papel abandonado)
Palavras que nos transportam Aonde a noite é mais forte, Ao silêncio dos amantes Abraçados contra a morte.
Alexandre O'Neill, in No Reino da Dinamarca
Soneto do Amor e da Morte Quando eu morrer murmura esta canção que escrevo para ti. quando eu morrer fica junto de mim, não queiras ver as aves pardas do anoitecer a revoar na minha solidão.
Quando eu morrer segura a minha mão, põe os olhos nos meus se puder ser, se inda neles a luz esmorecer, e diz do nosso amor como se não
tivesse de acabar, sempre a doer, sempre a doer de tanta perfeição que ao deixar de bater-me o coração fique por nós o teu inda a bater, quando eu morrer segura a minha mão.
Vasco Graça Moura, in Antologia dos Sessenta Anos
Amei-te sem Saberes No avesso das palavras na contrária face da minha solidão eu te amei e acariciei o teu impercetível crescer como carne da lua nos noturnos lábios entreabertos
E amei-te sem saberes amei-te sem o saber amando de te procurar amando de te inventar
No contorno do fogo desenhei o teu rosto e para te reconhecer mudei de corpo troquei de noites juntei crepúsculo e alvorada
Para me acostumar à tua intermitente ausência ensinei às timbilas a espera do silêncio
Mia Couto, in Raiz de Orvalho
Mia Couto – poeta de língua de expressão portuguesa. Nasceu
na Beira, Moçambique.
Infância Sonhos enormes como cedros que Ê preciso trazer de longe aos ombros para achar no inverno da memória este rumor de lume: o teu perfume, lenha da melancolia.
Carlos de Oliveira, in Cantata
Clandestinidade Secreto me acho e secreto me sentes quando secreto me julgas, Impuro me reconheço quando o nosso silêncio são vozes turbas. Dúbio é o desejo quando não é transparente a água em que se deita precavidamente. Clandestinos somos quando o que somos teme a face que pesquisa. Os olhos são claros quando a superfície do espelho é lisa.
Fernando Namora, in Marketing
Troco-me por Ti Troco-me por ti Na brasa da fogueira mal ardida renovo o fogo que perdi, acendo, ascendo, ao lume, ao leme, à vida.
E só trocado, parece, por não ser na verdade conjugo o velho verbo e sou, remido esquartejado, o retrato perfeito em que exacerbo os passos recolhidos pelo tempo andado.
Pedro Tamen, in Rua de Nenhures
Não Posso Adiar o Amor Não posso adiar o amor para outro século não posso ainda que o grito sufoque na garganta ainda que o ódio estale e crepite e arda sob montanhas cinzentas e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço que é uma arma de dois gumes amor e ódio
Não posso adiar ainda que a noite pese séculos sobre as costas e a aurora indecisa demore não posso adiar para outro século a minha vida nem o meu amor nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
António Ramos Rosa, in Viagem Através de uma Nebulosa
Paz Irreprimível natureza exacta medida do sem-fim não atinjas outras distâncias que existem dentro de mim.
Que os meus outros rostos não sejam o instável pretexto da minha essência. Possam meus rios confluir para o mar duma só consciência.
Quero que suba à minha fronte a serenidade desta condição: harmonia exterior à estátua que sabe que não tem coração.
Natália Correia, in Poemas (1955)
Morrer de Amor é Assim Quem morre de tempo certo ao cabo de um certo tempo é a rosa do deserto que tem raízes no vento.
Qual a medida de um verso que fale do meu amor? Não me chega o universo porque o meu verso é maior.
Morrer de amor é assim como uma causa perdida. Eu sei, e falo por mim, vou morrer cheio de vida.
Digo-te adeus, vou-me embora, que os versos que eu te escrever nunca os lerás, sei agora que nunca aprendeste a ler.
Neste dia que se enquadra no tempo que vai passar, termino mais esta quadra feita ao gosto popular.
Joaquim Pessoa, in Ano Comum
Dá-me a tua mão Dá-me a tua mão.
Deixa que a minha solidão prolongue mais a tua — para aqui os dois de mãos dadas nas noites estreladas, a ver os fantasmas a dançar na lua.
Dá-me a tua mão, companheira, até o Abismo da Ternura Derradeira.
José Gomes Ferreira, in Poeta Militante I
Explicação da Eternidade devagar, o tempo transforma tudo em tempo. o ódio transforma-se em tempo, o amor transforma-se em tempo, a dor transforma-se em tempo.
os assuntos que julgámos mais profundos, mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis, transformam-se devagar em tempo.
por si só, o tempo não é nada. a idade de nada é nada. a eternidade não existe. no entanto, a eternidade existe.
os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos. os instantes do teu sorriso eram eternos. os instantes do teu corpo de luz eram eternos.
foste eterna até ao fim.
José Luís Peixoto, in A Casa na Escuridão
Poema da Morte na Estrada Na berma da estrada, nuns quinhentos metros, estão quinhentos mortos com os olhos abertos.
A morte, num sopro, colheu-os aos molhos. Nem tiveram tempo para fechar os olhos.
Eles bem sabiam dos bancos da escola como os homens dignos sucumbem na guerra. Lá saber, sabiam. A mão firme empunhando a espada ou a pistola, morrendo sem ceder nem um palmo de terra.
Pois é. Mas veio de lá a bomba, fulgurante como mil sóis, não lhes deu tempo para serem heróis.
Eles bem sabiam que o último pensamento devia estar reservado para a pátria amada. Lá saber, sabiam. Mas veio de lá a bomba e destruiu tudo num só momento. Não lhes deu tempo para pensar em nada.
Agora, na berma da estrada, nuns quinhentos metros, são quinhentos mortos com os olhos abertos.
António Gedeão, in Linhas de Força
E por Vezes E por vezes as noites duram meses E por vezes os meses oceanos E por vezes os braços que apertamos nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses o que a noite nos fez em muitos anos E por vezes fingimos que lembramos E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos só o sarro das noite não dos meses lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos E por vezes por vezes ah por vezes num segundo se evolam tantos anos
David Mourão-Ferreira, in Matura Idade
O Lado de Fora Eu não procuro nada em ti, nem a mim próprio, é algo em ti que procura algo em ti no labirinto dos meus pensamentos.
Eu estou entre ti e ti, a minha vida, os meus sentidos (principalmente os meus sentidos) toldam de sombras o teu rosto.
O meu rosto não reflecte a tua imagem o meu silêncio não te deixa falar, o meu corpo não deixa que se juntem as partes dispersas de ti em mim.
Eu sou talvez aquele que procuras, e as minhas dúvidas a tua voz chamando do fundo do meu coração.
Manuel António Pina, in O Caminho de Casa
Demissão Este mundo não presta, venha outro. Já por tempo de mais aqui andamos A fingir de razões suficientes. Sejamos cães do cão: sabemos tudo De morder os mais fracos, se mandamos, E de lamber as mãos, se dependentes.
José Saramago, in Os Poemas Possíveis
Último Poema É Natal, nunca estive tão só. Nem sequer neva como nos versos do Pessoa ou nos bosques da Nova Inglaterra. Deixo os olhos correr entre o fulgor dos cravos e os dióspiros ardendo na sombra. Quem assim tem o verão dentro de casa não devia queixar-se de estar só, não devia.
Eugénio de Andrade, in Rente ao Dizer
Poema Escolhido
Conquista Livre não sou, que nem a própria vida Mo consente. Mas a minha aguerrida Teimosia É quebrar dia a dia Um grilhão da corrente.
Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino. E vão lá desdizer o sonho do menino Que se afogou e flutua Entre nenúfares de serenidade Depois de ter a lua!
Miguel Torga, in Cântico do Homem
Explicação da Ilustração
Na ilustração, podemos observar logo de início uma silhueta humana, o sujeito poético. A figura tem asas, assume-se então que representa a liberdade, que é seguidamente anulada pela corrente com a bola que o «eu» leva no tornozelo, pois como o poema diz, ele está condenado pela vida a não ser livre. De seguida, no canto direito do desenho, há sóis e luas, seguidos de uma corrente partida, “Mas a minha aguerrida / Teimosia / É quebrar dia a dia / Um grilhão da corrente.”. Após a explicação da primeira parte do desenho, passo a clarificar os restantes elementos da ilustração, identificando-os com os próximos versos. O poeta afirma “Livre não sou, mas quero a liberdade. / Trago-a dentro de mim como um destino.”, embora não tivesse querido interpretar literalmente, também não me quis afastar muito. Desenhei então umas asas – já referidas supra – para constatar o facto de o «eu» trazer a liberdade dentro de si, ainda que não fosse livre. Observando a silhueta em pormenor, é possível observar que a sombra se encontra a pairar sobre a água. Assim li os versos “E vão lá desdizer o sonho do menino / Que se afogou e flutua / Entre nenúfares de serenidade”. Para concluir, pintei o fundo de uma bela noite de céu limpo, com uma grande lua cheia a minha leitura transfigurada de “E vão lá desdizer o sonho do menino / Que se afogou e flutua / Entre nenúfares de serenidade / Depois de ter a lua!”. Quis ainda projetar no desenho um forte impacto de a sombra estar a pairar sobre as águas, pois o “Sonho” e o “Menino” ter-se-iam afogado e estariam agora a flutuar com tranquilidade. O fundo está representado com um enorme luar refletido no mar “Depois de ter a lua!”.
Conclusão
Com este trabalho passei a conhecer mais sobre grandes poetas e sobre as suas obras. Comecei a apreciar bastante mais a poesia. Levei algum tempo a preparar o trabalho, devido ao facto de não me querer focar apenas num tema, como o “Amor”, o “Ódio” etc.. mas sim tentar viajar por tudo um pouco, e, assim escolher entre os mais variados temas. Voltaria a repetir o projeto, porém, desta vez, de forma bastante mais aplicada.
Webgrafia
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Disciplina: Língua Portuguesa Professora: Elisabete Miguel Trabalho de: Ângela Serra Nº 4 / 10º ano – Turma J Ano letivo de 2014/2015